33d ESTUDO DE CASO: METODOLOGIA DE PESQUISA EM CONTABILIDAD Y GESTÃO Liliane Cristina Segura Universidade Presbiteriana Mackenzie Doutoranda em Administração de Empresas – PPGA-UPM Igor de Abreu Universidade Presbiteriana Mackenzie Doutor em Direito – Universidade Gama Filho Sandra Raquel Pinto Alves Doutoranda, Instituto Politécnico de Leiria, Portugal Marici Cristine Gramacho Sakata Professora Dra. Pesquisadora TECSI FEA Universidade de Sao Paulo Edson Luiz Riccio Professor Livre Docente FEA Universidade de Sao Paulo Área Temática: D) Contabilidad y control de gestión 1 ESTUDO DE CASO: METODOLOGIA DE PESQUISA EM CONTABILIDAD Y GESTÃO Resumo O estudo de caso tornou-se, na pesquisa em contabilidade e gestão, um dos tipos de pesquisa qualitativa mais utilizada durante os últimos anos. A literatura revela, como exemplo, que 30% dos trabalhos apresentados em um dos maiores congressos de Gestão (EnANPAD, Brasil), utilizaram os estudos de caso como método de pesquisa. A presente investigação pretende abordar a metodologia do estudo de caso como perspectiva de pesquisa e identificar a forma como este pode apresentar diferentes pressupostos filosóficos, sendo igualmente válidos, para a construção do saber. Palavras-chave: Estudo de Caso, método de pesquisa, pressupostos filosóficos, pesquisa INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO O estudo de caso, segundo Gomm, Hammersley e Foster (2000, p. 3) pode ser utilizado em toda e qualquer pesquisa que trate uma unidade ou um conjunto de unidades em relação aos dados recolhidos e/ou analisados. Segundo Yin (2003, p. 4),o estudo de caso deverá ser utilizado quando o fenômeno estudado não está totalmente distinto de seu contexto, ou seja, ainda há dificuldades, por parte do pesquisador, em definir as linhas em que o estudo se delimita. Para Stake (In Denzin, 2000, p. 443), o estudo de caso não é, necessariamente, um instrumento qualitativo de análise, mas uma escolha do objecto de estudo. Godoy (2006, p. 117) cita Platt (1992) quando afirma que a utilização do estudo de caso tem sido absorvida para pesquisas opostas aos métodos quantitativos, utilizando-se de experiências e vivências pessoais na sua análise. Entendemos que o estudo de caso trata de uma gama ampla de pesquisa que seleciona um ou mais objectos de estudo para utilizar esse deste modelo e interpretar, em maior ou menor grau, baseando-se numa teoria descrita. A contribuição do estudo de caso para a pesquisa qualitativa em administração é fundamental pela profundidade de interpretação e investigação dos fenômenos humanos e sociais dentro das empresas. Além da definição do que é o estudo de caso, algumas informações principais e importantes são bastante comuns aos autores pesquisados: um estudo efectuado com vários casos tende a colher mais informações em comum e efectuar comparações entre os objectos de pesquisa; um estudo com menor número de casos possui a tendência de aumentar a informação individual e particular de cada objecto de pesquisa Goom (2003, p. 6). Na maioria dos casos, de acordo com Gomm (2003) o estudo de caso é intimamente ligado ao tipo de dados que o pesquisador necessita recolher e, principalmente, como estes dados serão analisados em seu estudo. Alguns autores como Stake (2000) e Godoy (2006) argumentam que o estudo de caso deve ser estudado em profundidade, analisando a identificação do objecto como único, sem necessidade de generalização. Outros autores, especialmente Yin (1994) assumem que o estudo de caso pode ser tratado de maneira mais positivista, com estratégias de pesquisa pré-determinadas, assumindo a possibilidade de generalização do (ou dos) caso estudado com a construção da teoria sobre o assunto. Neste caso, ele assume 2 duas correntes distintas de pesquisa: a generalização estatística (feita por pesquisas quantitativas) e a generalização analítica (proposta pelo estudo de caso). A discussão sobre a utilização do estudo de caso não é recente. Autores renomados como Stake, Lincoln, Guba, Donmoyer, Schofield, Gomm, Yin, Eckstein, Mitchel, entre outros já debateram há algum tempo a validade e cientificidade do estudo de caso como instrumento de pesquisa. Antunes (2008) toca na extensa utilização do estudo de caso no campo da Administração e Contabilidade no Brasil para justificar pesquisas efectuadas em apenas um tipo de empresa, sem nenhum arcabouço teórico ou mesmo técnico envolvido neste tipo de pesquisa. Também alerta para o facto de estudos chamados Método de Caso (que deveriam apenas ser utilizados para o ensino de Administração) serem confundidos com o método de pesquisa científico chamado Estudo de Caso. Nesta investigação identificamos duas principais correntes de utilização do estudo de caso que, por definição, caracterizamos, da mesma forma que Godoy (2006) como orientação positivista e orientação interpretativista. Conforme Collis e Hussey (2005), a escolha do paradigma do projecto de pesquisa define a metodologia a ser adoptada, sendo possível que determinadas metodologias possam ser utilizadas, tanto quando na adopção de um paradigma positivista, quanto fenomenológico. Assim, os autores sugerem uma separação de metodologias-chave em relação aos dois paradigmas, informando sobre a possibilidade de movimento daquelas ao longo da série, conforme as suposições do pesquisador, conforme expresso no quadro abaixo: Positivista Abordagem: as ciências sociais Metodologias associadas Estudos de corte transversal Estudos experimentais Estudos longitudinais surveys Fenomenológica Metodologias associadas Pesquisa-acção Estudos de caso Etnografia Perspectiva feminista Teoria fundamentada Hermenêutica Inquirição participante Adaptado de Collis e Hussey (2005) Positivismo Este termo foi usado primeiramente por Saint-Simon para nomear o método exacto das ciências, bem como a sua ampliação para a filosofia (ABBAGNANO, 1998). Appolinário (2006) ensina que foi Augusto Conte (1798-1857), filósofo que viveu no período pós-revolucionário francês, quem desenvolveu um sistema de idéias que compreendeu ciência, religião e filosofia, cuja a síntese foi a busca de uma ordem definitiva e eterna, denominada positivismo. Nessas circunstâncias, o pensador entendia a natureza como sendo composta por fenômenos que seriam ordenados de forma inabalável e não sujeita a mudanças, sendo certo que, para o positivismo, o conhecimento científico era o conhecimento real, i.é, baseado em factos. Assim, tanto o universo natural quanto o social, eram governados por um conjunto de leis imutáveis e eternas, podendo-se afirmar que, à ciência, cabia o dever de desvendá-las por meio de um método único, ou seja, usando procedimentos que tornassem possíveis a descoberta e a descrição destas leis, tendo por base os factos e o uso do raciocínio. O positivismo lógico, também denominado de empirismo lógico, desenvolvido pelos membros do Círculo de Viena, tinha como base o pensamento empírico 3 tradicional, que restringia o conhecimento à ciência, (....), ciência, esta, que levou positivistas importantes a estudar o método científico, explorando a lógica da teoria da confirmação (BUNNIN e TSUI-JAMES, 2007). Fenomenologia É a descrição daquilo que se torna visível ou, mesmo, a ciência cujo fim ou objectivo é a exposição circunstanciada deste fenômeno, tendo sido o termo fenomenologia utilizado por Lambert, como título da 4ª parte, do seu Novo Organon de 1764. Coube ao filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), a preocupação de eliminar a confusão entre psicologia e fenomenologia, esclarecendo a psicologia como ciência de dados de facto e, fenomenologia, uma ciência de essências (eidética), cuja tarefa é expurgar os fenômenos psicológicos de suas características reais ou empíricas, conduzindo-os ao plano de generalidade essencial (ABBAGNANO, 1998). Conforme Stein (2002, p.41) a fenomenologia desenvolveu-se nos centros universitários de Göttingen, Munique, Colônia, Marburgo e Freiburg, locais em que houve o desenvolvimento concreto das análises fenomenológicas por meio da transcrição de textos pelos mestres como um exercício artesanal. Entre os estudiosos, Eugen Fink, Wilhem Szilasi, Ludwig Landgrebe, Martin Heidegger, entre outros, este último, responsável pela fenomenologia hermenêutica em Marburgo, e, posteriormente como substituto de Husserl em Freiburg, era destinatário de especial deferência deste seu predecessor, que, conforme Stein (2002, p.42), repetia: ‘A fenomenologia somos eu e Heidegger, e mais ninguém’. Heidegger (2001, p.57) ensina que a palavra fenomenologia revela uma máxima que pode ser formulada por meio da expressão ‘às coisas em si mesmas!’. Tal formulação é uma oposição àquelas construções “soltas no ar”, às descobertas feitas de forma acidentais, à admissão daqueles conceitos cuja verificabilidade foi realizada apenas de forma aparente, e “por oposição às pseudoquestões” que muitas vezes são apresentadas “como ‘problemas’, ao longo de muitas gerações”. O filósofo afirma, ainda, que “Fenomenologia da presença é hermenêutica no sentido originário da palavra em que se designa o ofício de interpretar” (2001, p. 68). O quadro abaixo, adaptado da obra de Stein (2002, p.221), demonstra a trajectória da fenomenologia a partir de Husserl: 4 GÖTTINGEN FENOMENOLOGIA DESCRITIVA E. HUSSERL F. KAUFMANN A. REINACH H.C. MARTIUS T. CONRAD A. KOYRÉ J. DAUBERT J. HERING H. LEYENDECKER R. INGARDEN K. STAVENHAGEN H. PLESSNER E.W. HOCKING MÜNCHEN FENOMENOLOGIA PSICOLOGIA DESCRITIVA HUSSERL FENOMENOLOGIA FRANÇA BÉLGICA J.P. SARTRE G. MARCEL M. MERLEAU-PONTY E. LEVINAS A. DE WAELHENS J. WAHL FREIBURG FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL E. HUSSERL E. STEIN F. KAUFMANN O. BECKER M. FARBER W. SZILASI TH. LIPPS A. PFÄNDER G. WALTHER D.V. HILDEBRANDT MAGDEBURGO P. TILLICH R. BULTMANN H.G. GADAMER G. KRÜGER GÖTTINGEN FENOMENOLOGIA DESCRITIVA E. HUSSERL F. KAUFMANN A. REINACH H.C. MARTIUS T. CONRAD A. KOYRÉ J. DAUBERT J. HERING H. LEYENDECKER R. INGARDEN K. STAVENHAGEN H. PLESSNER E.W. HOCKING M. HEIDEGGER FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA KÖLN FENOMENOLOGIA DOS VALORES M. SCHELER HG. STRÖCKER H. LÜTZELER PL. LANDSBERG FREIBURG W. BRÖCKER W. WEISCHDEL K.H. VOLKMANN SCHLUCK W. BIEMEL G. MARTIN R. BERLINGEN S. MOSER W. SCHULTZ K. ULMER W. STRUWE M. MÜLLER F. TUGENDHAT Assim, é possível afirmar que o método fenomenológico não tem a pretensão de explicar os fenômenos tomando por base leis, e sim mostrar aquilo que é dado, explicando-o da forma como se apresenta à consciência, não havendo para a fenomenologia uma só realidade, mas tantas quantas forem possíveis a partir das suas interpretações e comunicações (RODRIGUES, 2006). Pesquisa qualitativa Algumas pesquisas com propósitos e abordagens específicas, requerem informações, dados e evidências impossíveis de serem mensurados por meios de técnicas e métodos estatísticos, exigindo interpretações, descrições e análises de informações não passíveis de serem expressas por meio de dados e números, situações essas que requerem do investigador o contacto directo e prolongado com o ambiente no qual o fenômeno está inserido, caracterizando, assim, a pesquisa qualitativa ou naturalística (MARTINS e THEÓPHILO, 2007). Estudo de caso Exemplo de metodologia fenomenológica, o estudo de caso tem por objetivo o exame amplo de determinado fenômeno focado na compreensão da dinâmica existente num só lugar, devendo ser concebido para ser capaz de receber facilmente as sensações do contexto que é considerado (COLLIS e HUSSEY, 2005). 5 Este método deve abordar uma única unidade de análise, seja uma empresa ou grupo de colaboradores, determinado acontecimento, processo ou mesmo um indivíduo, devendo reunir informações de forma detalhada sobre a unidade objecto da análise, requerendo um período de análise longo (COLLIS e HUSSEY, 2005), visto que um conhecimento aprofundado é condição sine qua non para o desenvolvimento do projecto. A orientação Positivista nos Métodos de Estudo de Caso A definição de estudo de caso de Yin (2003, 1994) e Eisenhardt (2000) aponta para a combinação de métodos de recolha de dados como arquivos, entrevistas, observação e questionários. De acordo com estes autores, o estudo de caso pode conter dados qualitativos ou quantitativos ou até mesmo a análise de ambos num mesmo estudo. Eisenhardt (2000:11) afirma que o planeamento da pesquisa é fundamental para a obtenção de resultados e construção da teoria proposta, principalmente a identificação dos construtos importantes para suportar essa teoria. Apesar de não ser possível testar hipóteses num estudo de caso, a teoria, de acordo com Eisenhardt (2000:12) é fundamental para estabelecer estas importantes variáveis e suas relações com o estudo proposto. A construção de uma nova teoria poderá ser feita através deste relacionamento entre variáveis após o estudo de caso estar completo. Os casos estudados, de acordo com Yin (1994:31) não são meras amostras e, nunca dever ser escolhidos como tal. Os casos individuais devem ser seleccionados como um investigador de laboratório que escolhe um novo ensaio. No caso de múltiplos estudos de caso a consideração se dará como múltiplos ensaios de pesquisa. Dentro destas circunstâncias, uma teoria prévia é comparada com os resultados destas pesquisas e então podemos dizer que existe a possibilidade de generalização ou replicação destes resultados. O que não pode ser confundido é que não há, nestes casos, número mínimo de experimentos, ou de casos. Não devemos utilizar a mesma idéia dos estudos quantitativos para definir a amostra de casos, mas tratar cada caso individualmente como um experimento possível de confirmar a teoria estudada ou construir nova teoria. Em termos de análise de um estudo de caso, Yin (1994:33), indica 4 testes que devem ser utilizados para estabelecer a qualidade da pesquisa: Validade do constructo, validade interna, validade externa e confiabilidade. Cesar, Antunes e Vidal (2008:4) corroboram com estes testes aplicando-os na análise dos artigos da Enanpad, identificando como aspectos metodológicos a validade externa como a escolha do caso enquanto unidade de análise; validade interna através do desenvolvimento teórico; confiabilidade como o protocolo de pesquisa e validade do constructo como a triangulação de fontes de evidência. Também identificam mais um item importante na análise do estudo de caso que é a análise de controlo de erros como a consideração de vieses. Toda a discussão envolvida, nos autores acima, assenta na utilização positivista do estudo de caso, que tende a trazer a filosofia de validação e teste de teoria, utilizando-se em seguida da generalização para criar teorias novas. Desta forma, o estudo de caso com esta intenção filosófica possui uma tendência a identificar métodos e aplicar análises baseadas, fundamentalmente, numa teoria já desenvolvida, elaborando um projecto ou framework muito bem delineado para que seja testado durante o estudo proposto. Cesar, Antunes e Vidal (2008:6) utilizaram e criaram um “Modelo Teórico Proposto” para analisar nos trabalhos da Enanpad o rigor metodológico existente nos estudos de caso apresentados. O modelo foi composto pelas questões definidas abaixo e trazem uma contribuição essencial para a visualização do planeamento e apresentação de estudos de caso: Abordagem proposta por César, Antunes e Vidal (2008) 6 1. Os estudos foram feitos em ambientes naturais? 2. Foram analisadas as modificações do fenômeno ao longo do tempo? 3. Os fenômenos estudados configuram-se como situações únicas? 4. Os fenômenos estudados configuram-se como situações raras? 5. Foram apontados os métodos utilizados para recolha de dados? 6. Foi apontado qualquer tipo de triangulação para a confirmação dos dados? 7. Foi indicado o número de respondentes/dados/situações considerados e analisados no estudo? 8. Foi analisada a influência do contexto sobre os respondentes/documentos/situações? 9. Foi analisada a influência do contexto sobre o pesquisador (perceptual framework)? 10. Foram considerados os possíveis vieses na recolha de dados? 11. Foram considerados os possíveis vieses na análise dos resultados? 12. Houve tentativa de refutação do conhecimento gerado? 13. Foram indicados os objectivos perseguidos pelo pesquisador? 14. Houve proposta de retomada do processo considerando o grau de conhecimento gerado pelo estudo? 15. A pesquisa propôs desdobramentos para estudos posteriores? 16. A pesquisa gerou desdobramentos para estudos posteriores? Quadro 1. César, Antunes e Vidal (2008) O quadro acima apresentado elabora as questões principais para a análise da validade de um estudo de caso. A análise proposta acima origina grandes contribuições de Yin e Eisenhardt, trazendo a intenção de avaliar, de forma metodológica positivista os estudos apresentados. A contribuição dos autores é fundamental para que se possa determinar o tipo de estudo que está a ser apresentado e identificar, também, possíveis problemas na apresentação de estudos que não se encaixam no método proposto. A orientação Interpretativista no Método de Estudo de Caso A pesquisa qualitativa na Sociologia tem no trabalho realizado pela “escola de Chicago” nas décadas de 20 e 30 do século XX, o marco determinante da importância deste tipo de estudo da vida de grupos humanos, mesma época em que começaram a ser definidos os contornos do método de trabalho de campo na Antropologia (Denzin e Lincoln, 2006). Este tipo de estudo, considerado como um conjunto de actividades interpretativas, não estabelece prioridades a qualquer prática metodológica, nem sequer possui teoria ou paradigma que lhe caracterize, empregando desde os estudos construtivistas até os culturais. Certo é que corta o feminismo, o marxismo, além de modelos étnicos de estudo, facto demonstrativo do não pertencer a uma única disciplina, conforme Denzin e Lincoln (2006). Além disto, os autores afirmam que os pesquisadores qualitativos lançam mão das análises semióticas, da narrativa, conteúdo, discurso, de arquivos, fonética, 7 estatísticas, tabelas, gráficos e números, aproveitando-se, também, das abordagens, fenomenologia, hermenêutica, rizomáticas, desconstrucionismo, etnografia, entrevistas, psicanálise, estudos culturais, pesquisa baseada em levantamentos e na observação participante, entre outras, todas importantes, facto que veda estabelecer qualquer privilégio entre os métodos e as prácticas. Godoy (2006, p.124-125) refere que o estudo interpretativo deve conter uma completa descrição do fenômeno que se estuda, havendo a necessidade de permitir de se encontrar padrões nos dados recolhidos, além do desenvolvimento de categorias conceptuais hábeis a ilustrar, confirmar ou, ainda, objectar-se a conjecturas teóricas. Entende que cabe ao pesquisador a obtenção de um grande número de informações que o habilite a interpretar ou teorizar sobre o fenômeno, sendo certo que a conceptualização e abstração obtidos terão um nível que pode variar de simples insinuações de relacionamentos entre variáveis, até a construção de teoria. Cabe, ainda, reforçar a posição de Godoy (2006, p.124) sobre o termo teoria utilizado pela autora, como tendo alcance limitado, visto que “tem como meta a organização e o desenvolvimento de um conjunto integrado de conceitos e do relacionamento entre eles, sendo obtida a partir dos dados empíricos, recolhidos no campo e explicitamente identificados”. Os paradigmas interpretativos apontados por Denzin e Lincoln (2006, p.35) são apresentados pelos autores, na forma da tabela abaixo apresentada, que sintetiza os critérios de avaliação da pesquisa, além da forma como uma declaração interpretativa ou teórica geralmente assume em cada paradigma. Tabela 1. Paradigmas interpretativos Paradigma/ Critérios Forma de teoria Tipo de narração Positivista/ validade interna/ embasada na relatório científico pós-positivista externa lógica e na redução Construtivista fidedignidade, Substantivo-formal Teoria estudos de caso credibilidade, interpretativos, transferibilidade, ficção etnográfica confirmabilidade Feminista afrocência, crítica, do ponto de ensaios, histórias, experiência vivida, vista redação diálogo, cuidados, experimental responsabilidade, raça, classe, gênero, reflexividade, práxis, emoção, embasamento concreto Étnica Afro-decendencia, do ponto de vista, ensaios, fábulas, experiência vivida, crítica, histórica dramas 8 diálogo, cuidados, responsabilidade, raça, classe, gênero Marxista teoria crítica, histórica, histórica, emancipatória, econômica económica falsificável. análises dialógica, raça, socioculturais classe, gênero Estudos culturais práticas culturais, crítica social práxis teoria cultural como crítica textos sociais, subjetividades Teoria queer refletividade, crítica social, teoria como crítica, desconstrução análise histórica autobiografia Fonte: Paradigmas interpretativos (DENZIN e LINCOLN, 2006, p. 35) Devidamente instrumentado pelo paradigma, história pessoal, concentrado num problema empírico concreto a ser examinado, resta ao pesquisador traçar uma estratégia de investigação capaz de fornecer meios para a conclusão do desígnio estabelecido à priori. Neste momento, cabe ao pesquisador optar entre o estudo qualitativo de corrente positivista, ou aquele denominado interpretativista, este que, no final, deve ser capaz de preencher os requisitos de análise elaborados por Stake (1995), demonstrados na tabela seguinte: Abordagem proposta por Stake (1995) 1 É de fácil leitura? 2 Cada parágrafo da análise contribui para o total da pesquisa? 3 Possui estrutura conceptual, isto é, temas e assuntos? 4 Os assuntos são desenvolvidos de forma acadêmica? 5 O caso estudado é adequadamente definido? 6 Tem senso de história na apresentação? 7 O leitor é provido de alguma experiência? 8 As citações foram utilizadas eficientemente? 9 Foram utilizados cabeçalhos, figuras, artefactos, apêndices, índices? 10 O estudo foi bem editado e revisto? 11 O estudo dá indícios de que foi interpretado correctamente? 9 12 Foi dada atenção adequada a todos os contextos? 13 Foram apresentados dados originais suficientes? 14 Os dados foram escolhidos em número suficiente? 15 As observações foram trianguladas? 16 O ponto de vista do pesquisador está claramente aparente? 17 Está claro para quem é direccionado o artigo? 18 A empatia é demonstrada por todos os lados? 19 As intenções pessoais são examinadas? 20 É aparente que os indivíduos foram colocados em risco? Quadro 2. Stake (2005) Godoy (2006, p.122) refere que a narrativa esperada de um estudo de caso deve ser realizada por meio de uma ‘descrição densa’, esta que é interpretativa, cabendo aos pesquisadores, apoiados no raciocínio indutivo, “obter as suas informações a partir das percepções dos actores locais, colocando ‘em suspenso’ as suas pré-concepções sobre o tema que está a ser estudado”. Nessas circunstâncias, Godoy (2006) entende que os pesquisadores devem buscar o desenvolvimento de conceitos e a compreensão dos padrões que se manifestam a partir dos dados obtidos, afastando, assim, a verificação de hipóteses, modelos ou teorias que tenham sido concebidas anteriormente, devendo ser a análise dos dados realizada de forma criativa e intuitiva. Salienta, ainda, a importância da sensibilidade do pesquisador “ao aparecimento de pressupostos não estabelecidos e significados ainda não articulados” (p. 123). A pesquisa qualitativa em administração é fundamental pela profundidade de interpretação e investigação dos fenômenos humanos e sociais dentro das empresas. E o estudo de caso é um importante instrumento de pesquisa e método. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABBAGNANO, Nicola. DICIONÁRIO de filosofia. Tradução por Alfredo Bosi. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. BUNNIN, N.; TSUI-JAMES, E. P. (orgs.). Compêndio de filosofia. Tradução por Luiz Paulo Rouanet. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2007. CESAR,A. M. R. V. C.;ANTUNES M. T. P.; VIDAL P. G. A utilização do método do estudo de caso e pesquisas das áreas de Operações, Recursos Humanos e Contabilidade. In: Encontro Nacional da ANPAD – EnANPAD, 31o Anais ..., Rio de Janeiro/ RJ, 2008, 1 CD ROM. COLLIS, J.; HUSSEY, R. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. 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