Projeto da UFSCar avalia uso de algas para minimizar a quantidade de gás carbônico emitido no
meio ambiente
Os problemas ecológicos são assunto recorrente em discussões das mais variadas áreas do
conhecimento. Entre eles o aumento da temperatura do planeta causado pelo grande acúmulo de
gases de efeito estufa, sobretudo o gás carbônico (CO2), é um dos mais preocupantes, pois gera
tantas outras questões que precisam ser tratadas. Neste âmbito se insere a pesquisa realizada pelo
Departamento de Botânica (DB) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob a
coordenação da professora Ana Teresa Lombardi, do DB. O projeto denominado “Cultivo de
microalgas em fotobiorreator como ferramenta para o sequestro de carbono atmosférico” visa
desenvolver estratégias para a diminuição deste gás na atmosfera, utilizando-se de microalgas que
fazem uso do CO2 em seu processo fotossintético.
A fotossíntese é o processo pelo qual seres clorofilados, como plantas, algumas algas e bactérias, se
alimentam. A clorofila é um componente da célula que permite que água e gás carbônico sejam
transformados em oxigênio, água, glicose e energia, sendo estes dois últimos fundamentais para a
sobrevivência do ser. O processo de transformação envolve reações químicas que são
principalmente ativadas pela presença de luz, o que dá o nome de fotossíntese ao processo (foto =
luz).
Dados da literatura sugerem que as estratégias biológicas são importantes na mitigação do CO2 e
poderiam contrabalançar de 10 a 20% das emissões por combustíveis fósseis até o ano 2050. Para
contribuir com estes dados, a pesquisa cultiva células de Chlorella vulgaris em culturas estanques
em laboratório sob condições controladas, onde são definidas as variáveis pH, concentração dos
nutrientes nitrato e fosfato, de vitaminas e sistema de borbulhamento de CO2. Este controle visa
uma maior taxa de crescimento da biomassa algal. Após definidas as condições ideais, estas são
testadas em laboratório e nos fotobiorreatores instalados no ambiente natural. O balanço de CO2 é
efetuado em cada amostragem, assim como a análise da composição bioquímica da microalga.
Desta forma, ao cultivar as microalgas em um ambiente favorável – com os nutrientes e demais
variáveis em situação ideal – o metabolismo delas usará o gás carbônico do ambiente, diminuindo,
assim, sua quantidade no local em que o fotobiorreator estiver instalado.
Um dos grandes desafios da pesquisa é o desenvolvimento de um fotobiorreator híbrido, semifechado, o qual una as vantagens dos dois tipos existentes – aberto e fechado. O reator fechado
apresenta como vantagem principal o fato de separar a cultura do local que a envolve, não
contaminando a biomassa produzida e possibilitando um maior controle de sua qualidade e
densidade. Entretanto, ao realizar o cultivo em um recipiente fechado, mas que receba luz, o
recipiente aquece resultando na morte da biomassa. Portanto, criando-se um sistema híbrido é
possível controlar a qualidade/densidade da biomassa, sem aquecê-la. Para Lombardi, “o grande
objetivo do projeto é a criação de biomassa com qualidade controlada. Para isso é necessário
realizar todo o processo em um sistema que está sendo criado.” Esse sistema é um processo
patenteável, uma vez que o projeto é 50% da empresa Braskem – financiadora do projeto
juntamente com a Fapesp - e 50% da UFSCar.
O fotobiorreator é um sistema de cultura que precisa garantir que todas as células recebam luz. Para
tanto ele possui um sistema de agitação, que muda as células de lugar fazendo que todas recebam a
mesma quantidade de luz para realizar fotossíntese. Essa agitação, no entanto, tem que ter uma
medida exata, pois com muita agitação as células não crescem e com pouca elas não recebem a luz
suficiente. Além disso é necessário borbulhar CO2, pois uma cultura muito densa necessita de mais
CO2 do que o que é fornecido pela superfície do reator. Quando o CO2 é borbulhado o pH se altera,
sendo necessário equilibrá-lo novamente. Com todo esse sistema artificial são garantidas as
condições que as algas necessitam para que a cultura cresça de forma adequada para, além de
sequestrar o CO2 ambiente, formar-se uma biomassa de qualidade.
A qualidade da biomassa é de fundamental importância para as suas demais utilizações. Está em
teste a possibilidade de seu uso agrícola, sua potencialidade energética e uso como alimento para
zooplanton. Estas aplicações fazem da pesquisa um projeto interdisciplinar, envolvendo outros
grupos de trabalho do DB e do Departamento de Hidrobiologia (DHB) da UFSCar, além do
Departamento de Engenharia Mecânica da USP-São Carlos e colaboradores da Unesp. Em relação à
aplicação agrícola, a alga é usada para cultivo de hortaliças, por meio de soluções hidropônicas, e
também em um subprojeto de peletização de sementes. Este processo proporciona um maior
aproveitamento de semestres de plantas do cerrado a partir da mucilagem higroscópica (capacidade
de absorver água) que a alga possui, fazendo a semente carregar em si uma umidade que aumenta a
germinação nessa região. Para a análise da potencialidade energética o cultivo é feito em cestos de
30 a 60 litros e, posteriormente, a biomassa é separada da parte líquida por centrifugação ou com
filtros. A massa, então, é queimada e é analisado seu comportamento térmico. Com a biomassa
separada da parte líquida também são analisados seus componentes, como quantidade de lipídios,
carboidratos e proteínas, para saber quanto de cada biomolécula há em cada célula, o que
posteriormente é utilizado em outras análises, de acordo com o que se pretende. A análise pode
servir, por exemplo, para se saber quanto de CO2 determinada quantidade de biomassa pode
sequestrar, calculando-se, assim, os créditos de carbono que o usuário do sistema recuperou.
A partir do projeto foram concluídos até o momento uma iniciação científica, um mestrado e um
doutorado e estão em desenvolvimento mais um doutorado, dois mestrados e quatro iniciações.
Cada uma dessas pesquisas aborda um foco dentro do projeto, desde o cultivo da microalga até as
possíveis utilizações da biomassa. Lombardi conta ainda que o reator em desenvolvimento pode
servir para diversas espécies, o que possibilita a criação de uma biomassa controlada, que pode ser
usada para fármacos, antioxidante e outros que necessitam de um produto limpo.
O projeto está em seu último ano, de um total de três, e ainda pretende testar e encontrar outras
utilizações para a biomassa enquanto produto, juntamente com seu objetivo principal de retirar gás
carbônico da atmosfera, auxiliando cada vez mais o meio ambiente.
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anexo 1