SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL A INTERAÇÃO DO PROFESSOR COM O ALUNO SURDO: ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUMA PROPOSTA BILÍNGÜE Rute Oliveira do Bomfim Doutora: Ana Paula de Almeida de Pereira - UFPR CURITIBA 2009 SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL A INTERAÇÃO DO PROFESSOR COM O ALUNO SURDO: ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NUMA PROPOSTA BILÍNGÜE Rute Oliveira do Bomfim Doutora: Ana Paula de Almeida de Pereira -UFPR CADERNO PEDAGÓGICO Educação Infantil Educação Especial Caderno Pedagógica, apresentado ao final da segunda etapa do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE oferecido pela Secretária da Educação do Paraná voltado aos Professores da Rede Estadual de Ensino que desenvolvem atividades de Formação Continuada, em integração com a Universidade Federal do Paraná – UFPR. CURITIBA 2009 LISTA DE SÍMBOLOS O material didático foi organizado com a preocupação de favorecer o seu contato com o conteúdo. Com este fim foram utilizados alguns símbolos. Na seqüência são apresentados os símbolos utilizados e seus significados. @ Faça as atividades que possibilitam a síntese do estudo. # Complemente o estudo com leituras indicadas, aprofunde o conhecimento. § Realize as atividades que aproximam o conhecimento adquirido ao seu cotidiano pessoal e profissional. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001....................................30 QUADRO 2 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA...........................................................................................31 AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO.........................................................31 QUADRO 3 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA DURANTE INTERAÇÃO PROFESSOR- CRIANÇA, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................31 QUADRO 4 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001....................................34 QUADRO 5 –AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA.....................................................................................34 AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO.........................................................34 QUADRO 6 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................35 QUADRO 7 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001....................................49 QUADRO 8 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA...........................................................................................50 AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO.........................................................50 QUADRO 9 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................50 QUADRO 10 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001....................................68 QUADRO11 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO ..........68 QUADRO12 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................68 QUADRO 13 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001....................................78 QUADRO 14 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO .........78 QUADRO 15 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................78 QUADRO 16 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA (DAVID SASSON, 2001) .................................93 QUADRO 17 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO ................94 QUADRO 18 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA DURANTE INTERAÇÃO PROFESSOR - CRIANÇA, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA ....................................................................................................95 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................7 2 OBJETIVOS...........................................................................................................12 3 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................13 4 METODOLOGIA ....................................................................................................16 UNIDADE 1: ENVOLVENDO O PARTICIPANTE.....................................................17 Que representações temos da surdez, língua, linguagem? ......................................17 Conhecendo alguns aspectos da Libras ...................................................................26 Nomes e Mais Nomes ...............................................................................................32 UNIDADE 2: EXPLORANDO O CONHECIMENTO .................................................36 Práticas educacionais em surdez..............................................................................36 Conhecendo sobre a educação do surdo..................................................................36 Identificação de suas singularidades.........................................................................47 UNIDADE 3: BUSCANDO EXPLICAÇÕES..............................................................51 Para melhorar o desenvolvimento do surdo: o bilinguismo .......................................51 Libras: dos sinais da Libras para uma comunicação efetiva .....................................52 UNIDADE 4: APROFUNDANDO CONHECIMENTOS .............................................69 Proposta educacional para Crianças Surdas ............................................................69 Fundamentos da Educação de Surdos (2006) ..........................................................76 Identidade e Diversidade..........................................................................................77 UNIDADE 5: AMPLIANDO PERSPECTIVAS NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM .....................................................................................................79 Análise da prática do professor a partir dos princípios da EAM e aquisição de linguagem e Bilinguismo ...........................................................................................79 Atividade Professora de LIBRAS...............................................................................80 Atividade Professora Língua Portuguesa ..................................................................85 REFERÊNCIAS.........................................................................................................96 7 1 INTRODUÇÃO São muitas as questões que envolvem o campo da surdez, a dificuldade de acesso à leitura e escrita, filosofias que permeiam a prática educativa (oralismo, bilingüismo), atraso na escolaridade, dificuldade de comunicação e relacionamento interpessoal, preocupação em investigar a forma de comunicação, a língua, a cultura, a aquisição da língua gestual ou oral, o processo educacional, sendo que, os estudos a maior parte das vezes, volta-se a crianças maiores, adolescentes e adultos. No entanto, sabe-se que a grande maioria da população surda, nasce em lares de pais “ouvintes”, os quais nunca tiveram contato com surdo antes, o que poderá trazer conseqüências ao desenvolvimento global dessas crianças, e muito provavelmente dificultará acesso à língua e a linguagem e a todos os recursos que advêm destas capacidades. A compreensão de que a criança surda em sua maioria convive em duas culturas a surda e a ouvinte, e pesquisas que demonstram que a exposição precoce, regular e contínua a mais de uma língua favorece o desenvolvimento bilíngüe, e que a primeira língua deve ser a de sinais e a segunda o português. Pesquisas em neurociência e neuropsicologia têm demonstrado a importância de um atendimento para todas as crianças, no “tempo correto”, ou seja, sem atrasos, o que permite se beneficiar da plasticidade cerebral que é mais abrangente, nos primeiros anos de vida. No contexto brasileiro, o atendimento a esse grupo de pessoas, se dá em instituições educacionais, Escolas Especiais ou Centros de Reabilitação, desde a detecção da surdez, que nos últimos anos tem ocorrido logo após o nascimento. Tais fatores justificam a preocupação do presente estudo, ao voltar-se ao atendimento educacional da criança surda, em seus primeiros anos de vida, o qual é o alicerce para todo desenvolvimento posterior do ser humano, e ainda a questão da inclusão escolar que tem provocado muita polêmica. 8 Para este fim é importante considerar as Políticas Nacionais que no momento instituem as diretrizes norteadoras voltadas a Educação Infantil e Educação Especial. Tendo como referência à educação infantil, é importante destacar que historicamente as políticas públicas voltadas a este grupo, caracterizavam-se segundo Lanter (1999, p. 140) por ações assistencialistas, de voluntariado, passou posteriormente a ter “propósitos educacionais, com objetivo de preparação para o 1º grau”. Refere ainda que, tais políticas não apresentavam projetos de valorização dos profissionais dessa área. A década de 90 indica um novo pensamento quanto ao significado “da infância e da educação infantil”, no contexto social, principalmente ao educador que atua com crianças de 0 a 6 anos e a sua formação. Pesquisa realizada no município de São Paulo em 1999 revelou a situação das creches: de um total de 6066 profissionais apenas 1,3% (80), tinham formação superior. Em torno de 63% ainda estava no ensino fundamental, completo ou incompleto. Somente nos anos de 1980 e 1990 se estabelecem leis voltadas a Educação Infantil no Brasil, na Constituição de 1988 há referência ao direito à educação das crianças de 0 a 6 anos de idade e o dever do Estado de oferecer creches e préescolas, o que foi reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente ECA de 1990 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 LDB. Kramer (2006) observa que no Brasil há pouco mais de vinte anos teve início à preocupação com políticas de caráter educativo voltados às crianças da Educação Infantil, e com maior freqüência às de 4 a 6 anos. Em 1981 o Ministério de Educação MEC implantou ações de expansão ao atendimento educacional infantil, a baixo custo e desvinculado da escola de 1º grau. Foram grandes as manifestações de desagrado, frente às propostas do MEC, por parte de universidades, centros de pesquisa, movimentos organizados, os quais requeriam educação de qualidade para crianças de 0 a 6 anos. Do debate sobre a criança desta faixa etária surge a necessidade de formular política de formação de profissionais e estabelecer 9 alternativas curriculares para a educação infantil. As Diretrizes da Política Nacional de Educação Infantil 2006, em suas diretrizes considera entre outros aspectos, que a educação de crianças com necessidades educacionais especiais deve ocorrer no ensino comum, junto com as demais crianças, garantindo-lhes o atendimento educacional especializado mediante avaliação e interação com a família e a comunidade. E, também, que o processo pedagógico deve considerar as crianças em sua totalidade, observando suas especificidades, as diferenças entre elas e sua forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar. A LDB, Lei Nº 9394/1996 delibera em seu Artigo 4º § III e IV ser dever do Estado o atendimento especializado aos educandos com necessidades especiais e atendimento às crianças de 0 a 6 anos de idade. Portanto insere a educação infantil na educação básica, como sendo sua primeira etapa, considerando que a educação começa nos primeiros anos de vida e é essencial para o cumprimento de sua finalidade, afirmada na Sessão II do Capítulo II no Artigo 29 nos seguintes termos: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem com finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Em 2007 é instituído o Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007, o qual dispõe sobre o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, visando a mobilização social pela melhora na qualidade da educação básica, estabelecendo que a União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e com a participação das famílias e comunidade viabilizará programas e ações de assistência técnica e financeira para este fim. Tais fatos demonstram as defasagens relativas a Educação Infantil no contexto do ensino comum, o que dificulta ainda mais a compreensão do contexto das crianças com necessidades educativas especiais. Mas, para que se possa compreender a criança surda e suas necessidades 10 educacionais, torna-se importante refletir sobre a sua realidade e favorecer uma análise sobre a mesma, buscando referências para elaboração de um projeto com vistas a um programa educacional voltado ao atendimento da mesma. Em 2002 foi sancionada a Lei Nº 10.436/02 que torna oficial a Língua Brasileira de Sinais Libras, regulamentada pelo Decreto Nº 5.626/05, que em seu Artigo 2º considera como pessoa surda, aquela que pela perda auditiva, interage com o mundo por meio de experiência visual e manifesta sua cultura principalmente pela Libras. Em seu § único considera como deficiente auditiva à pessoa que apresenta perda auditiva bilateral, parcial ou total de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, através de audiograma nas freqüências de 500 Hz, 1.000Hz, 2.000 Hz e 3000 Hz. No Art. 5º deste Decreto determina que a formação de docentes para o ensino da Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, deve ser realizado em curso de Pedagogia ou curso normal superior, no qual a Libras e a Língua Portuguesa escrita constituam língua de instrução, possibilitando formação bilíngüe. No § 1º admite-se formação mínima de segundo grau para estas etapas de ensino, sendo que no § 2º há a colocação de que a pessoa surda terá prioridade nos cursos de formação. No ano de 2008 se estabelece a Instrução nº 002/2008 da Superintendência da Educação e Secretária de Estado de Educação, ambas do Paraná, atendendo a LDB, ao Decreto Federal que regulamenta a Lei da Libras, a Resolução Nº 02/01 e o Parecer Nº 17/01 ambos do Conselho Nacional de Educação, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial e Educação Básica “estabelece critérios para o funcionamento do Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez – CAES, serviço de apoio especializado no ensino regular”, de Educação Básica, com oferta de Ensino Fundamental nas redes: estadual, municipal e particular de ensino. O alunado que poderá freqüentar o CAES, é em primeiro lugar, aquele que apresentam surdez, na faixa etária de 0 a 5 anos, preferencialmente matriculados na Educação Infantil. 11 Portanto políticas públicas voltadas ao atendimento das crianças surdas, no Brasil, são muito recentes, o que indica que se deve pesquisar e criar recursos que possibilitem avanços nesse contexto educacional. O presente trabalho foi elaborado com o olhar voltado para o professor que atua com surdos no ensino fundamental, tanto em Escola Comum como na Escola Especial, sendo a intenção do programa a elaboração de uma proposta educacional para a criança surda, objetivando ampliar o conhecimento destes profissionais quanto a varias questões que envolvem a surdez de forma que ao vivenciar e refletir sobre algumas situações relacionadas à aquisição de língua(gem), aprendizagem, educação bilíngüe, história da educação do surdo e proposta de atendimento educacional, língua de sinais e outras. 12 2 OBJETIVOS - Ampliar as informações, relacionadas ao contexto da surdez, nos professores que atuam com crianças na Educação Infantil e séries iniciais; - Construir um material de apoio ao trabalho pedagógico para ser utilizado com crianças surdas e não surdas, na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental; - Facilitar o ingresso da criança surda no Ensino Comum na fase da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental de nove (9) anos, respeitando as características infantis desta faixa etária; - Promover a interação entre criança e o objeto do conhecimento, através da mediação sistemática do professor, oferecendo um ensino de qualidade, de forma não fragmentada. 13 3 REFERENCIAL TEÓRICO A proposta de intervenção pedagógica terá como base cinco princípios de mediação, a partir da teoria desenvolvida por Reuven Feuerstein conhecida como Experiência de Aprendizagem Mediada – EAM, a qual visa uma forma de interação em que o mediador busca produzir no indivíduo “as disposições, orientação, conhecimento básico, e as funções mentais apropriadas para a elaboração dos fatos percebidos, registrados e experimentados”, na busca de sua estruturação como ferramenta para as aprendizagens que virão depois e favorecem a modificabilidade cognitiva estrutural do indivíduo (FEUERSTEIN, 1997b, p. 15). Ao abordar EAM, Feuerstein (1997a) focaliza sua atenção no mediador, ou professor, no estilo e na qualidade da mediação, as quais facilitam a aquisição e o entendimento do estímulo. A aprendizagem mediada baseia-se no modelo S–H–O– H–R: o “S” refere-se ao estímulo, o “O” ao organismo a ser mediado, o “R” a resposta e o “H” representa um mediador humano, a pessoa que se interpõe intencionalmente entre o estímulo e o organismo, e o organismo e a resposta. Ao caracterizar a EAM, Feuerstein (1997a) afirma que não é fundamentalmente a linguagem ou o conteúdo que a distingue de outras formas de interação, mas sim, os onze princípios, atributos ou parâmetros que podem descrever as interações denominadas por EAM, ou seja, a atitude do mediador frente ao mediado ao selecionar, programar e organizar os estímulos, princípios, os quais não considera como únicos ou definitivos. No presente trabalho serão focalizados cinco destes princípios. Os três parâmetros universalmente necessários para criar as condições para a modificabilidade ou aprendizagem: intencionalidade e reciprocidade; transcendência; e mediação do significado. E dois parâmetros específicos, situacionais ou dependentes de condições, de estimulação ou atividade: mediação do sentimento de competência; e mediação para regulação e controle do comportamento. Estes cinco parâmetros, se referem à amostra de alguns comportamentos na 14 interação Professor–Criança refletindo vários aspectos da Experiência de Aprendizagem Mediada, formulados através de perguntas, organizadas por Sasson (2001)1, os quais serão apresentados em cada uma das unidades, a serem desenvolvidas. Quanto à aquisição de linguagem e bilinguismo serão focalizados os princípios propostos por Bonfim (2002), baseado em Albano (1990), que afirma haver presença de um esquema sensório-motor, áudio-vocal ou viso-manual para construir condutas necessárias à organização da linguagem. E ainda, motivação subjetiva, presença de ao menos uma língua, minimamente auto-referenciada. Portanto, pode-se prever nessas afirmações, que a interação com pessoas significativas, a oferta de uma língua - seja LIBRAS, Português, ou qualquer outra língua e a presença de uma organização cognitiva do sujeito, são fatores importantes na aquisição da linguagem, seja em ouvintes ou em surdos. A visão interacionista possibilita identificar a inserção da linguagem em rotinas significativas, um dos princípios mais importantes no processo de aquisição de uma língua. (ALBANO 1990; BAKHTIN 1997). De Lemos (1999) ao abordar sobre aquisição de linguagem e De Houwer (1997) e Genesee (2002) quanto ao bilingüismo, referem outros princípios a serem focalizados, são eles: a) A linguagem é adquirida em rotinas significativas, com pessoas significativas; b) A língua não pode ser tratada como um elenco de vocabulário. Ela é, ao mesmo tempo, um sistema de regras, embora imperfeito, e uma manifestação cultural. Assim, a língua está sujeita a uma dialética entre o individual e o coletivo; c) Não é possível ter um controle sobre o vocabulário inicial de nenhuma criança, seja ouvinte ou surda, pois em uma oferta de campo semântico 1 O trabalho do Prof.º David Sasson encontrava-se no período de elaboração do presente trabalho. O autor cedeu, gentilmente, o texto digitado em inglês, o qual foi traduzido pela autora. 15 cada criança pode selecionar vocábulos distintos; d) O brinquedo e a experiência concreta são o suporte material mais adequado para uma atividade lingüística com crianças em fase inicial de aquisição da linguagem; e) O aprendizado de qualquer língua depende da inserção na comunidade de usuários e da dinâmica das relações sociais. Há necessidade de sustentação do potencial de uso ativo da língua; f) Ocorre a Aquisição Bilíngüe da Primeira Língua quando há a exposição precoce simultânea, regular e contínua a uma segunda língua desde o nascimento até os cinco anos; g) Para que a criança se desenvolva bilíngüe precisa de exposição adequada e “natural” na segunda língua, o que leva ao alcance de proficiência análoga à língua nativa; h) O uso da língua na rede social e individual da criança é que determina o padrão do input e não a dominância lingüística do grupo no qual a família viva; i) Expectativas e conhecimentos dos pais (professores) sobre o desenvolvimento da linguagem da criança pode afetar positiva ou negativamente o processo de aquisição; j) Adultos e crianças maiores adaptam sua comunicação às crianças menores. Para organização do trabalho será utilizada adaptação do modelo instrucional, denominada Ciclo 5E de Aprendizagem2, sendo que, cada etapa do ciclo refere-se a uma Unidade do Programa a ser implementado: Engage (Envolvimento), Explore (Exploração), Explain (Explicação), Elaborate or Extend (Elaboração ou Aprofundamento) e Evaluate (Avaliação), a partir de Llewellyn (2002) apud Gioppo (2006, p. 8). 2 LLEWELLYN, D. Inquire within; implementinginquiry-based science standards. New Delhi: Corwin Press, 2002. 16 4 METODOLOGIA Encontram-se, entre as atividades propostas no caderno, diferentes modalidades organizadas. Assim cada uma das Cinco Unidades possui: atividades permanentes voltadas aos professores/alunos, como por exemplo, leitura compartilhada de textos diversos sobre surdez, linguagem, educação do surdo; análise da prática a partir de questões norteadoras relacionadas a princípios da EAM e aquisição de linguagem e bilingüismo; indicação de seqüências de atividades a serem introduzidas na prática com o grupo de crianças com que trabalha, onde será proposta a articulação de diferentes áreas do conhecimento em torno de um tema gerador, tendo como objetivo favorecer a utilização dos princípios abordados em cada Unidade; e na Quinta Unidade, será apresentada uma seqüência de análise e avaliação dessa prática a luz dos princípios propostos em cada unidade. 17 UNIDADE 1: ENVOLVENDO O PARTICIPANTE Que representações temos da surdez, língua, linguagem? Comecemos esta unidade com alguns questionamentos: - Como você compreende a situação da surdez quanto à comunicação e interação no ambiente social? - Descreva em poucas palavras como você “vê”, a questão do processo ensino-aprendizagem do surdo? - Como se dá o desenvolvimento da linguagem na criança surda? Se você comparar a compreensão da surdez com seus colegas, certamente encontrará uma diversidade de interpretações. Esse fato se dá porque são muitas as interpretações relacionadas à situação dos grupos de surdos. Esse fato ocorre porque as representações que temos envolvem inúmeros fatores, tais como a convivência ou não com a pessoa surda, a informação que temos a respeito, os conceitos e preconceitos vinculados a este grupo de pessoas. Esta atividade tem dois momentos: no primeiro, sugerimos que você vivencie a experiência de colocar-se no papel de um surdo que não tem a oralidade, nem Libras, e precisa comunicar um fato ao amigo (dividam-se em duplas, tirem par ou impar, a pessoa que ganhar vai sortear uma notícia) a mesma virá por escrito e deverá ser comunicado através de expressões corporais, gesto, mímicas, menos a fala, ao colega o qual deverá registrar em uma folha o que entendeu da notícia, após o colega terminar, novo sorteio, faz-se à troca de papéis. Comparação dos textos originais com o que o colega escreveu. 18 a) Observe com atenção como seu colega vai lhe transmitir a notícia e depois registre o que você entendeu da mesma; b) Responda: - Você conseguiu traduzir totalmente a notícia? - Como você se sentiu colocando-se no lugar do surdo? - Que elementos foi mais difícil representar? Por quê? - Qual foi mais fácil? Por quê? - Na sua opinião o que poderia facilitar a compreensão da notícia? Por quê? Ao final da atividade você deverá: - reconhecer que existem outros canais de expressão além da fala;relacionar as funções da língua e linguagem no processo de comunicação; - relacionar os diferentes recursos de comunicação utilizados; - identificar as possíveis conseqüências das diferentes concepções de linguagem no processo de aquisição da língua(gem) na criança surda. - refletir sobre os princípios de aprendizagem e aquisição de linguagem e bilingüismo que envolve sua prática; É importante conhecer o que alguns teóricos afirmam sobre a função da língua e da linguagem.3 Existem várias correntes, principalmente de origem lingüística e psicológica, que têm influenciado as concepções educacionais na surdez. Cabe, portanto, relembrá-las procurando identificá-las nas pesquisas em surdez. Goldfeld (1997) e Souza (1997) identificam, entre as principais correntes lingüísticas que influenciaram as abordagens da surdez, o estruturalismo de Saussure, o behaviorismo de Bloomfield e o gerativismo de Chomsky e o sócio3 O estudo é um recorte do trabalho de dissertação da autora. 19 interacionismo de Bakhtin. A abordagem concebida por Saussure, no início do século XX, conhecida como objetivismo abstrato, considera que a linguagem é formada pela língua e pela fala. A língua (aspecto social da linguagem) é vista como um sistema de regras abstratas, que prioriza o estudo dos elementos constituídos por suas formas normativas, supõe-se que a língua seja um produto que o sujeito registra passivamente. O fator normativo e estável (linear) prevalece sobre o caráter mutável da língua, vista como um produto acabado, transmitido através das gerações (GOLDFELD, 1997). Na década de cinqüenta, Bloomfield construiu seu método de investigação nos moldes do behaviorismo, definindo seu objeto de estudo a partir dos aspectos mais evidentes da linguagem - som e frase, tendo a face sonora do signo um lugar destacado em seus estudos. Enfatizou o que denominou "distribuição de fonemas", os quais seriam unidades sonoras da língua, podendo ser caracterizados pela posição que ocupariam na oração, uma em relação à outra. A técnica de análise pressupõe a linearidade não permite explicar o conjunto de enunciados, pois se limita à frase (SOUZA, 1997). Pode-se imaginar que a conseqüência desse tipo de visão foi à estruturação de estímulos lingüísticos, em moldes behavioristas, na educação dos surdos. Sons e demais estruturas passaram a ser treinados em ordem crescente de complexidade. Vygotsky (1991) faz críticas à forma que os behavioristas entendem linguagem, visto compreender que a unidade do pensamento verbal está no significado das palavras, ou seja, que existe uma mistura entre pensamento e linguagem. Argumenta, ainda, que naquela concepção, o desenvolvimento do significado das palavras reduz-se às transformações nas conexões associativas entre palavras e objetos isolados; isto é, as transformações são vistas apenas do ponto de vista externo e quantitativo dos elos entre palavra e significado, não considerando as mudanças pelas quais passaria o significado, como se a cada conexão o significado estivesse completo. Observa, ainda, que não explicam as 20 mudanças estruturais e psicológicas fundamentais que ocorrem no desenvolvimento lingüístico das crianças. Isso leva a uma forma instrucional que não leva em conta o papel "do brincar" e "do jogo", no processo interativo, fator importante no desenvolvimento da criança de forma geral. Uma linha teórica de aquisição de linguagem, que surge como reação aos trabalhos comportamentalistas de Skinner, foi desencadeada por Chomsky (1987) o qual divide o conhecimento lingüístico em competência e desempenho e baseia sua teoria no conhecimento do falante-ouvinte ideal. Para este autor, a linguagem é um sistema autônomo ou módulo, um aspecto inato da capacidade cognitiva humana. Quanto à aquisição da linguagem, o papel da criança é construir uma gramática de uma língua particular, à qual ela é exposta, e que é o input para ativar princípios universais. Estes princípios organizam-se na Gramática Universal (GU), a qual anteriormente denominava Dispositivo Inato de Aquisição. A língua da criança também denominada língua materna L1 - estabelece parâmetros para os princípios que serão adquiridos no processo de maturação, aos quais a exposição ao input é indispensável. De Lemos (1999, p. 47) afirma que apesar de o gerativismo ter surgido como uma reação ao behaviorismo, na tentativa de responder sobre o que se define como contingente no processo de aquisição de linguagem na criança, faz surgir o que ela denomina "a criança da teoria de aprendizagem nitidamente comportamentalista". A qual, no início do processo de aquisição, apresenta-se como "Sujeito Nulo" e parte de estruturas mais simples para as mais complexas, e do que é observável para o que não seja. A teoria gerativa de Chomsky, segundo Quadros (1997, p.17), permite afirmar que todo ser humano, independente da modalidade oral ou gestual, é dotado da faculdade da linguagem; portanto, os surdos dotados dessa capacidade expressamna através da língua de sinais. E ainda, os estudos sobre GU (Gramática Universal) fornecem subsídios para o entendimento do processo de aquisição da linguagem, considerando a L1 (língua materna) e a L2 (língua estrangeira), que possibilitam 21 estudos da aquisição de segunda língua. No século XX, a educação da criança surda foi baseada na perspectiva da aquisição da linguagem oral, como fundamental para sua integração na sociedade ouvinte. Essa abordagem, conhecida como oralismo, referia-se ao uso exclusivo de linguagem oral para compreensão e expressão, sendo a sua aquisição diretriz essencial para o desenvolvimento lingüístico e cognitivo do surdo, assim como para sua integração à sociedade. Os profissionais que atuam com surdos, ao assumirem esse paradigma têm como objetivo reabilitar o surdo. Nesse contexto, sejam quais forem as orientações metodológicas educacionais, estará firmemente baseada em concepções de linguagem behaviorista ou inatista (GOLDFELD, 1997; SOUZA, 1997). Goldfeld (1997) analisa que tal abordagem leva os profissionais oralistas a terem grande preocupação quanto à inferência das regras gramaticais. Segundo ela, a criança ouvinte não tem dificuldade de inferir; no entanto a criança surda precisa de ajuda especial, que pode durar de oito a doze anos, visando a que esta domine estas regras e possa obter o mesmo sucesso que as crianças ouvintes na aquisição da linguagem. Trenche (1995) destaca, que muitos estudiosos da linguagem e aprendizagem criticam as idéias inatistas, pela grande preocupação com a sintaxe em detrimento do conteúdo, objeto de estudo da semântica e buscam na teoria de Piaget, sobre desenvolvimento cognitivo, base para suas concepções teóricas conhecido como visão cognitivista e pragmática Gerber (1996) constata que a teoria cognitivista concebe a linguagem como dependente da cognição e surgindo dela. Constata que muitos dos seguidores dessa abordagem adotam a teoria piagetiana do desenvolvimento cognitivo, a qual não considera a necessidade de um dispositivo de aquisição de linguagem inato, para explicá-la. Acredita que a linguagem aparece em decorrência da estruturação de operações e estruturas cognitivas, por meio de suas interações sensório-motoras iniciais com o mundo. Proveniente do surgimento da pragmática na lingüística surge 22 à teoria sócio-interacionista de aquisição de linguagem, a qual concebe que tal aquisição surge no processo interativo entre a criança e as pessoas que a cuidam (RAMOS, 1998). Vygotsky (1991) traz um novo olhar da psicologia para a linguagem e grande contribuição ao propor a tese da mediação semiótica, a qual deixa de ser vista apenas como instrumento de comunicação, e sim, como constitutiva do sujeito, tendo como referências às análises que apresenta, em sua obra, sobre pensamento e linguagem. Góes (1999, p.33) salienta da obra de Vygotsky que “a palavra não é uma possibilidade a mais na realização semiótica, é a possibilidade central”. Na visão de Vygotsky (1991, p. 104), o significado da palavra constitui a unidade do pensamento verbal, o qual “representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério de palavra, seu componente indispensável”. Uma teoria lingüística que pode ser articulada à teoria sócio-interacionista foi desenvolvida por Bakhtin (1997). O que, contrapondo-se às idéias vigentes em sua época, favorece algumas reflexões no que diz respeito à lingüística e à subjetividade. Bakhtin (1997), lingüista russo, defende a historicidade constitutiva da linguagem, assim como a simultaneidade inerente ao processo de significação. Coloca a linguagem no plano histórico e dinâmico, no qual os sujeitos são constituídos por ela, ao mesmo tempo em que a constituem. Concebe que a língua separada de seu conteúdo ideológico converte-se em um conjunto de sinais, em matéria morta. Bakhtin (1997) observa que a significação é um fator muito importante da língua, salientando que a enunciação (o que é dito), só terá sentido no contexto social em que se insere. Concebe a língua em situação de diálogo permanente e considera que toda enunciação tem relação anterior e posterior a ela. Ao criticar a concepção que se preocupa apenas com o aspecto lingüístico normativo igual e 23 comum a todos os falantes, considera não ser suficiente para explicar o diálogo, e acrescenta o aspecto contextual e social para o estudo do enunciado. Para o autor, o falante de uma língua não a vê como sistema de normas abstratas (gramática, fonética, sintaxe, entre outros), mas como um conjunto de significações que ocorrem em contexto, inseparáveis do fluxo da comunicação verbal (ou gestual), constituindose continuamente neste fluxo. Segundo o autor, a "verdadeira substância" da língua não se encontra no universo lexical ou no vocabulário, nos fonemas, morfemas, flexões, ou seja, na forma lingüística, nem no psiquismo individual, nem no ato psicofisiológico que a produz nem mesmo na enunciação monológica (estática); a "verdadeira substância" é constituída "pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou enunciações. A interação verbal constitui assim, a realidade fundamental da língua", é o núcleo constitutivo da linguagem, o ato dialógico em seu acontecimento concreto, portanto, contextual (BAKTHIN, 1997, p. 123). Goldfeld (1997, p.18), ao analisar Bakhtin, refere que a consciência precisa da ideologia para se desenvolver, e esta é criada a partir das relações entre os indivíduos, sendo a língua (o diálogo), o instrumento que permite à pessoa receber a ideologia de sua comunidade e, ainda, de atuar nesta interagindo e expondo suas idéias. Ao criticar as teorias em voga na sua época, Bakhtin (1997, p. 127) define cinco proposições em relação à língua e indica que: a) o sistema estável normativo é apenas uma abstração científica, não dá conta da realidade concreta da língua; b) a língua integra um processo de evolução contínuo que se realiza na interação dos interlocutores; c) as leis da evolução lingüística não são as leis da psicologia individual, são leis sociológicas; d) a criatividade da língua não pode ser compreendida independentemente dos conteúdos e dos valores ideológicos que a ela se ligam; 24 e) a estrutura da enunciação é uma estrutura basicamente social, só se efetiva entre os falantes. O ato de fala individual (no sentido estrito do termo individual) é um contra-senso. Portanto, a concepção de Bakhtin (1997) materializa-se na área da linguagem e na Educação, através do surgimento da visão interacionista na qual se pode identificar a inserção da linguagem em rotinas significativas, um dos princípios mais importantes no processo de aquisição de uma língua. Albano (1990) aborda esta questão juntamente com outros três requisitos para que alguém possa falar: a) Presença de um esquema sensório-motor, áudio-vocal ou viso-manual para construir condutas necessárias à organização da linguagem; b) Motivação subjetiva (querer interagir, comunicar); c) Presença de ao menos uma língua, minimamente auto-referenciada (língua comum entre os que se comunicam). Portanto, pode-se prever nessas afirmações, que a interação com pessoas significativas, a oferta de uma língua - seja Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou Português - e a presença de uma organização cognitiva do sujeito, como fatores importantes na aquisição da linguagem, seja em ouvintes ou em surdos. Se essas condições não são satisfeitas, uma série de dificuldades pode interferir no desenvolvimento lingüístico de uma criança. Goldfeld (1997) observa que as conseqüências da surdez não estão limitadas às dificuldades auditivas, mas que se estende aos aspectos lingüísticos, emocionais, educacionais, sociais e culturais. a) Elabore um quadro comparativo focalizando as 04 correntes teóricas de linguagem, quanto à visão que tem de linguagem, como se desenvolve. # Existem ainda outros elementos presentes na situação de interação, entre ouvinte e surdo, que requerem ser pensadas 25 b) Assista, a seguir, ao filme onde são dadas algumas notícias, o Telelibras. “O Telelibras é o primeiro telejornal inclusivo da Internet brasileira. Os repórteres são pessoas com deficiência, que toda semana dão dicas de Cultura, Educação e Cidadania.” No filme são transmitidas notícias sobre inclusão, em língua de sinais e fala. É importante que você retire o som. Acesse o endereço abaixo: Filme Tele Libras (escolha 2 dos programas e assista) – http://www.vezdavoz.com.br/videos/, duração 3 minutos aproximadamente. Após assistir os filmes, escreva o que entendeu das notícias que assistiu: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Depois da escrita, passe novamente o filme, agora com som. c) Responda: - Você conseguiu identificar o tema das notícias? Cite as notícias que conseguiu. - Mencione quais foram as maiores dificuldades encontradas quanto a tradução da Libras (Língua Brasileira de Sinais)? - Você fez tentativa de ler os lábios? Se sim, quanto lhe ajudou? - Indique algumas diferenças entre a comunicação feita pelo colega, da notícia sorteada, e a que você viu no vídeo. - Que detalhes mais chamaram sua atenção ao observar as notícias em Libras? Por quê? 26 Conhecendo alguns aspectos da Libras4 Como você pode notar, a Libras é a língua oficial da comunidade de pessoas surdas brasileiras. É uma língua de modalidade viso-espacial, e para que haja comunicação nesta língua, não é suficiente conhecer os sinais. Para que se estabeleça comunicação efetiva é necessário conhecer a sua estrutura, a forma como se organiza uma frase, sua gramática. A educação dos surdos na Antiguidade se dava de forma individual, havia preceptores, os quais usavam a escrita, e recurso gestual para ensinar, só no século XVIII, na França o Abade de Lepèe criou a primeira escola pública para surdos, utilizando-se da comunicação gestual e escrita do francês. Houve grandes avanços na educação dos surdos, nessa época até início do século XX, os quais através do estudo tornaram-se doutores, professores, sobressaindo-se em todas as áreas (SACKS, 1990). No final do Século XIX, em 1880, acontece um Congresso em Milão, cujo principal tema foi a discussão sobre o melhor método de ensino para o surdo, gestual ou oral, sendo que prevaleceu o segundo, o que levou a maioria dos países a instituir o ensino da língua oral, para a educação dos surdos, proibindo o uso dos gestos, que consideravam interferir negativamente no acesso a oralidade. Muitos pesquisadores constatam que tal fato trouxe um retrocesso na educação das pessoas surdas, a maior parte dos surdos, não avançava em escolaridade, tinham muita dificuldade no ingresso ao Mercado de Trabalho, segundo Fernandes (1998) seqüela do oralismo. Outro aspecto importante a ressaltar, é que embora o gestualismo, comunicação gestual, tenha feito parte da educação do surdo desde a antiguidade só em 1960, o lingüista americano Stokoe, estudando a língua de sinais americana pode constatar que como qualquer língua a ASL (American Sign Language) é uma língua com todas as características das línguas orais, chegando a um status de um 4 Texto elaborado por Rute de Oliveira Bomfim. 27 sistema completo de linguagem, demonstrando a gramaticidade dos sinais e o isomorfismo estrutural entre sinal e fala. Considera ainda que a língua de sinais e as línguas orais teriam como matriz os gestos, contrariando todas as teorias em voga. Behares (1987) observa que há uma confusão persistente na compreensão de linguagem e língua com o conceito de fala, o que gera a falsa concepção de que a aprendizagem de uma língua e o desenvolvimento da habilidade de linguagem só ocorrem se os mecanismos fonológicos da pessoa forem ativados. Na medida em que se adota esta concepção, a língua de sinais não pode chegar ao status de língua, por não utilizar o sistema fonológico como canal de expressão do pensamento. No entanto, ao partir-se do pressuposto de Behares (1987) no qual a linguagem é vista como capacidade humana de elaborar seqüências que transmitam significados, a língua como um conjunto convenções que permitem a estruturação de um sistema interpessoal de signos e a fala por sua vez, como uma modalidade da linguagem. É possível conceber a língua de sinais como sistema lingüístico que apresenta um conjunto de elementos de linguagem que diferem da expressividade corporal e da gestualização, o autor observa que o sinal é uma unidade convencional integrado a um sistema lingüístico articulado, e o gesto não. Tais descobertas levaram a uma nova visão sobre a Língua de Sinais e possibilitou que no Brasil ela fosse reconhecida como a Língua oficial da comunidade surda brasileira, a partir da aprovação da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que oficializa a Libras como um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do país, a qual foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. ATIVIDADES: a) Tendo como referência as suas respostas, explicite seu entendimento a respeito do significado da Língua de Sinais no contexto da comunidade surda. 28 # Para saber mais sobre a história do surdo e da língua de sinais, leia: SACKS, O. Vendo vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Tradução: Alfredo B. P. de Lemos. Rio de Janeiro: Imago, 1990. @ A proposta para avaliação deste módulo será a criação de um portfólio pelos participantes do curso onde organizarão as reflexões, resumos, resenhas, relatórios elaborados individualmente ou pelo grupo, durante as etapas do curso, acompanhados de comentários feitos pelo próprio participante e/ou pelo mediador do grupo, a respeito de cada atividade, visando o acompanhamento de seu desenvolvimento a respeito da compreensão da realidade educacional da comunidade dos surdos e suas necessidades. Para que possamos conhecer o grupo de crianças que você atende, é importante saber algumas informações sobre eles. Faça uma avaliação5 dos seguintes aspectos e registre no Portifólio: Onde você trabalha como professor?____________________________________ Qual a faixa etária das crianças que você atende? _________________________ Você tem alunos surdos? Sim ( ) Não ( ). Quantos_________________________ Seus alunos surdos usam Libras? Fluente( ); Pouco( ); Sinais próprios ( ); Nada( ) Se você atende em escola comum, a criança tem interprete?Sim ( ) Não ( ). Ele(s) faz muitas perguntas? Sim( ); Não( ). Como?________________________ Ele(s) sabe(m) dizer o nome dos seus pais?______________________________ Ele(s) sabe(m) dizer quantos irmãos tem? _____E seus nomes ou sinais? ______ Ele(s) sinaliza ou fala o nome de cinco animais domésticos? Sim( ) Não( ) Quais? ___________________________________________________________ Ele fala ou sinaliza o nome de cinco materiais de escola? Sim( ) Não( ) Quais?____________________________________________________________ Ele fala ou sinaliza o nome de cinco brinquedos? Sim( ) Não( ) Quais?____________________________________________________________ Faça um pequeno relato de como percebe cada um de seus alunos quanto à comunicação com você e os colegas. 5 Esta avaliação pode ser feita através de jogos e brincadeiras, nas quais haja interação significativa, entre todos os componentes do grupo, utilizando álbum de fotografias da família, animais de brinquedo, material escolar. O professor deve ser um observador atento aos recursos de comunicação que as crianças utilizam. 29 Diante do exposto até aqui, faz-se necessário refletir sobre os princípios que permeiam a prática pedagógica no que se refere a “intencionalidade X reciprocidade” e aquisição de linguagem e bilingüismo. Façamos uma análise de cada questão apresentada nos Quadros 1 e 2 que se seguem, e depois vamos responder a cada uma delas segundo a escala. Para o encaminhamento do trabalho, vamos conhecer cinco dos princípios da EAM que segundo Feuerstein (1997) são essenciais para ocorra aprendizagem significativa, bem como, princípios de aquisição de linguagem e bilingüismo com base em Albano (1990) Bakhtin (1997). Reflita sobre sua prática e responda as seguintes questões, marcando um X na alternativa que corresponde ao como você percebe sua interação com seus alunos, utilizando a escala ao lado dos princípios. Para a análise de freqüência dos parâmetros da EAM, de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo e Alguns Comportamentos da criança na Interação Professor/Aluno, use a escala: sempre, às vezes e esporádico, sendo que: - Sempre: considera que o princípio aparece com freqüência razoável em sua prática, o que permite identificá-lo como algo ativo na interação dos sujeitos; - Às vezes: em algumas situações encontra-se ativo na interação professor aluno, em outras não ativo; - Esporádico: não ocorre de forma suficiente, para que este princípio possa ter uma funcionalidade na interação professor aluno. 30 QUADRO 1 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001 I – Intencionalidade e Reciprocidade Despertando curiosidade: Você apresenta a atividade procurando deixar os alunos curiosos, motivados e na expectativa? Criando desequilíbrio: Você cria intencionalmente desequilíbrio (pela introdução de um absurdo, de uma contradição e incompatibilidade de dados) atraindo atenção dos alunos e os ajuda a criar necessidade para aprender? Propiciando exposição repetida: Você expõe o aluno diante dos mesmos estímulos repetidamente e dessa forma facilita a formação de hábitos? Sempre Às Vezes Esporádico II –Mediação do Significado Designando significado: Você tende a designar significados e valores para diferentes objetos, experiências e fenômenos além da significância inerente, intrínseca deles? Atribuindo significados afetivos: Você partilha com o aluno atitudes e sentimentos pessoais, frente a vários aspectos da vivência partilhada? Encorajando a busca de significado: Você encoraja o aluno a procurar significado, e pergunta a proposta e os valores de cada experiência dele? III – Transcendência Extraindo e generalizando princípios: Você ajuda o aluno a extrair elementos essenciais da atividade, e formula regras e princípios generalizados? Conectando circunstâncias futuras: Você indica como certos elementos da atividade podem servir em atividades futuras? Promovendo antecipação: Você expõe freqüentemente o seu aluno a situações que requerem antecipação e os ajuda a formular hipóteses? IV – Mediação do Sentimento de Competência Selecionando tarefas graduadas: Você assegura um equilíbrio ótimo entre familiaridade e novidade nas atividades e tarefas selecionadas para seus alunos? Analisando o processo mental: Você ajuda o aluno a analisar o processo mental, enfatizando comportamentos apropriados e execução bem sucedida ou vitoriosa? Atribuindo valor e significado ao sucesso: Você proporciona interpretação e designa significado para execução competente da criança? V – Mediação para regulação e controle do comportamento Providenciando pré-requisitos: Você assegura a seus alunos que estejam adequadamente equipados para executar tarefas, bem sucedidas? Controlando a impulsividade: Você tem adiado a resposta dos alunos quando antecipam uma reação impulsiva prematura? Preparando a resposta da criança: Você encoraja a criança a responder, quando está realizando algo, e está pronta, e é capaz de realizar a tarefa com todos os seus requerimentos, ou como um todo? Sempre Às Vezes Esporádico Sempre Às Vezes Esporádico Sempre Às Vezes Esporádico Sempre Às Vezes Esporádico 31 Responda algumas questões que se referem aos princípios de aquisição de linguagem e bilingüismo: QUADRO 2 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Princípios de Aquisição de Linguagem Sempre Às Vezes Esporádico Em sua prática, você vê a língua como uma manifestação dialética? Em sua prática, você utiliza o brinquedo e experiência concreta para desenvolver atividades lingüísticas com a criança? Em sua prática, você expõe de forma adequada e natural a criança à língua oral ou gestual? Em sua prática, você possibilita inserção da língua em rotina significativa? Em sua prática, você respeita a escolha do campo semântico pela criança evitando controle sobre vocabulário? Em sua prática, você garante que o padrão de input, no contexto escolar, propicie o uso da língua na rede social e individual da criança e não a dominância lingüística na qual a família viva? Em sua prática, você adapta sua comunicação a da criança e propicia interação dialógica? Em sua prática, você vê a linguagem como um processo em evolução contínua que se estabelece na interação? Em sua prática, você procura desenvolver motivação subjetiva no encaminhamento da atividade? Em sua prática, você garante presença de ao menos uma língua nitidamente auto-referenciada? Em sua prática, você possibilita processo de interação criançaprofessor e criança-criança? Responda algumas questões que se referem aos comportamentos de interação das crianças que você atende: QUADRO 3 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA DURANTE INTERAÇÃO PROFESSOR- CRIANÇA, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamentos da Criança Seus alunos mostram-se curiosos, fazem perguntas relacionadas ao tema abordado? Seus alunos não precisam que constantemente lhe chamem para prestar atenção no que está sendo trabalhado? Seus alunos demonstram necessidade em aprender, o que esta sendo trabalhado em sala? A criança conta fatos vivenciados em casa? A criança mantém conversação com o(s) colega(s)? A criança demonstra satisfação frente ao êxito em uma atividade proposta? A criança procura saber o nome das coisas ou pessoas que sejam novidade? A criança traz retorno do que é pedido para fazer em casa? Seus alunos demonstram dúvidas em algumas situações? Seus alunos levantam hipóteses pertinentes diante de mudanças no ambiente? Seus alunos procuram se fazer entender, quando alguém não compreende o que eles dizem? Seus alunos utilizam a linguagem de forma eficiente para sua idade? Sempre Às Vezes Esporádico 32 § Nesta parte do Caderno Pedagógico passamos a oferecer algumas propostas de atividades, a serem desenvolvidas com o grupo de crianças, que o professor atende, levando em conta os princípios da EAM – INTENCIONALIDADE X RECIPROCIDADE e os três primeiros de AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E BILINGUISMO (em itálico e sublinhado nos Quadros 3 e 4), na interação com o grupo. Em sua prática é importante que tenha em mente, que o papel do educador atento, organiza, cria ambientes e situações que contribuem de forma efetiva para que seus alunos exercitem sua inteligência, seus afetos e sentimentos, alcançando conhecimentos e valores, vivendo e convivendo de forma ativa, ou seja se desenvolvam física, social e psicologicamente. Cada participante do grupo, deverá desenvolver atividades com seus alunos, procurando contemplar estes princípios. Para este fim utilizaremos como referência “Nomes e mais Nomes” sempre considerando a faixa etária do grupo a ser trabalhado. Nomes e Mais Nomes Segundo Ferreiro e Teberosky (1991) a primeira unidade escrita, rica em significado para a criança, é o seu próprio nome, iniciaremos o trabalho partindo do nome dos alunos. É importante que os alunos surdos apresente-se utilizando o sinal pelo qual são identificados na comunidade surda, e que “batize” com um sinal os colegas da turma, e também que possam ensinar os colegas como escrever seus nomes utilizando o alfabeto dactilológico. # FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. O trabalho terá inicio a partir da apresentação dos crachás das crianças, com escrita não convencional (fotos, caricaturas, cores, sinais, entre outros.) 33 acompanhada da convencional, nome de todos os componentes do grupo, diferentes atividades serão propostas, para que o aluno reflita sobre: representações gráficas em geral, a escrita como registro, a construção do número (contando quantas letras compõe seu nome e o dos colegas, fazer comparações entre o número de letras do nome e o tamanho dos colegas, quantos colegas vieram, quantos faltaram), a leitura de diferentes materiais impressos (com mediação do professor), a construção de brinquedos de sucata, nomeação dos elementos que compõe a sala, relações parentais, diferenciação entre seres vivos e não vivos. Pode-se preparar as crianças para entrevistar os pais e descobrir, o porque e o como foi escolhido seu nome, os pais devem responder para a criança em casa e também registrar na “cardeneta de contato” o que respondeu para a criança, na roda de conversa cada uma das crianças contará o que descobriu do seu nome, com mediação da professora. Ter na sala um calendário do ano, em tamanho grande, no qual com a participação do grupo, identificara a data de aniversário de todos que o compõe com seus nomes e/ou fotos, focalizando o tempo passado e futuro relacionando muito e pouco tempo. Etiquetar todo o mobiliário (mesa, cadeira, armário, colchão, etc.), objetos de uso da criança (sabonete, saboneteira, pasta de dente, toalheiro, toalha), e espaços da sala de aula (janela, porta, os diferentes caminhos) com o nome e sinal, incentivando as crianças a nomeá-los, e a conhecerem o nome/sinal em Libras, desenvolvendo assim a necessidade de que a criança surda procure conhecer e nomear os elementos que a cercam. Programar uma atividade externa com as crianças, na qual elas vão coletar elementos que estejam no chão (pedras, folhas, flores, sementes, gravetos), ao retornar para a sala deverão separar, nomear , contar, ou seja explorar através de conversação tudo que observaram no espaço que conheceram e registrar, sendo o professor o escriba. Construir um jogo utilizando duas bolas feitas de meia e latas de refrigerante 34 as quais serão encapadas com papel dobradura e cada lata terá em relevo a primeira letra do nome das crianças do grupo, as latas serão dispostas em pirâmide e as crianças dispostas em fila e uma de cada vez tentara derrubar a lata com a inicial de seu nome, quando conseguir derrubar a lata com sua inicial a professora diz o seu nome em voz alta e todos os colegas repetem. No caso da criança surda, pode-se utilizar o alfabeto dactilológico, e quando acertar a inicial do seu nome todos podem expressar digitalizando o nome de forma expressiva. @ Avaliação da intervenção será feita de forma sistemática, após desenvolver trabalho com o grupo, responda às questões dos Quadros 4, 5 e 6 a seguir, nos quais encontram-se os princípios da EAM e Aquisição de Linguagem e Biliguismo referentes a esta unidade. Em seguida, compare suas respostas atuais com as respostas dadas nos Quadros 1, 2 e 3. QUADRO 4 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001 I – Intencionalidade e Reciprocidade Sempre Às Vezes Esporádico Despertando curiosidade: Em sua prática você apresenta a atividade procurando deixar os alunos curiosos, motivados e na expectativa? Criando desequilíbrio: Você cria intencionalmente desequilíbrio (pela introdução de um absurdo, de uma contradição e incompatibilidade de dados) atraindo atenção dos alunos e os ajuda a criar necessidade para aprender? Propiciando exposição repetida: Você expõe o aluno diante dos mesmos estímulos repetidamente (de diferentes maneiras) e dessa forma facilita a formação de hábitos? Responda algumas questões que se referem aos princípios de aquisição de linguagem e bilingüismo: QUADRO 5 –AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Princípios de Aquisição de Linguagem Em sua prática, você vê a língua como uma manifestação dialética? Em sua prática, você utiliza o brinquedo e a experiência concreta para desenvolver atividades lingüísticas com a criança? Em sua prática, você expõe de forma adequada e natural a criança à língua oral ou gestual? Sempre Às Vezes Esporádico 35 Houve mudanças em sua prática? Caso a resposta seja sim enumere pelo menos cinco fatores que possam ter interferido nesta mudança. Responda as perguntas abaixo, segundo a escala proposta e estabelecendo comparação com as respostas do Quadro 3. QUADRO 6 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamento dos alunos Sempre Às Vezes Esporádico Seus alunos mostram-se curiosos, fazem perguntas relacionadas ao tema abordado? Seus alunos não precisam que constantemente lhe chamem para prestar atenção no que está sendo trabalhado? Seus alunos demonstram necessidade em aprender, o que esta sendo trabalhado em sala? Você observou algum tipo de mudança na sua interação com as crianças, se houve relacione pelo menos três fatores de mudança que voce considerou positivos. 36 UNIDADE 2: EXPLORANDO O CONHECIMENTO Práticas educacionais em surdez Na primeira unidade utilizamos vivências para discutir as representações individuais do que concerne a língua, linguagem e surdez. Nesta unidade focalizaremos como se deu a evolução das práticas educacionais no atendimento ao surdo. Conhecendo sobre a educação do surdo Nessa atividade os participantes terão contato com um mesmo texto em três línguas diferentes, e irão refletir sobre as estratégias que poderiam favorecer acesso a informação veiculada nos textos. Ao final da atividade os participantes deverão: - Comparar as diferentes abordagens educacionais voltadas ao atendimento ao surdo, estabelecendo vantagens e desvantagens de cada uma delas; - Refletir sobre os princípios de aprendizagem e aquisição de linguagem e bilingüismo que envolve sua prática. Esta atividade tem quatro momentos, distintos. a) Leia com atenção o texto abaixo e depois registre o que você entendeu do mesmo. Geschichte der Ausbildung der tauben Leute in Brasilien6 In Brasilien, in 1857, mit der Unterstützung des Kaisers D. Pedro II., wurde der National Institute of Education of Deaf-Mudos (jetzt bekannt als das Nationale Institut für Bildung der Gehörlosen - INES), in Rio de Janeiro, unter der Leitung von Professor Ernest Huet taub Französisch, mit der Sprache, in ihre Methoden von Signalen, Schrift, das Alphabet dactilológico und bot ein pädagogisches Programm, in dem die Themen waren die gleichen wie für reguläre Schulen und fügte hinzu 6 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. 37 Articulada Sprache und Literatur auf den Lippen. Abrigava Studenten aus ganz Brasilien, in ein Internat, und beteiligte sich aktiv Ausbildung der Fachlehrer, so dass die Tauben hatten gute Ergebnisse Lehre (GOLDFELD, 1997; Fernandes, 1998). Es konnte beobachtet werden in Brasilien die gleichen Trend weltweit, da nach dem Kongress von Mailand, von 1911, wurden absorbiert die grundlegenden Konzepte der gab den Praktiken der ganzen Welt verwendet, und oralismo etablierte sich als offizielle Methodik des Unterrichts der Gehörlosen. Die Erklärung wurde offiziell verboten, jedoch nach wie vor zur verborgenen durch die Studierenden (Rocha, 1997). Es wurde deutlich, nach etwas mehr als ein Jahrhundert der Bildung oralista, dass die Ergebnisse enttäuschend erwiesen. Zwar erfüllt mit guten Absichten, dieser Vorschlag hat sich nicht erfüllt mit der Erziehung ihrer Ziele zur Beseitigung von Ungleichheiten zwischen Gehörlosen und Hören. Die zufügen die Mittel zu Lasten der mündlichen Form der Kommunikation für Gehörlose-visuellen Zeichen, eingeschränkte Fähigkeit der Linguistik und als Ergebnis, Spuren der sozialen, wodurch die Integration wünschen übrig. Was ist nicht möglich, dass die Bildung des gehörlosen Kindes auf das Niveau erreichen, dass es angeblich auch erreichen kann. REFERÊNCIAS FERNANDES, S. F. Taubheit und Sprachen: es möglich ist, den Dialog zwischen der Unterschiede? Curitiba, 1998.216 F. Dissertation (Masters in Literatur) - Human Sciences-Branche von Briefen und Kunst, Federal University of Parana. GÓES, M. C. R. Sprache, Taubheit und Bildung. 2. Ed. Campinas: Autoren Benutzer / UNICAMP, 1999. GOLDFELD, M. Das gehörlose Kind: Sprache und Kognition in einem soziointeracionista. Sao Paulo: Plexus, 1997. ROCHA, S. Geschichte der INES. AREA - Wissenschaftlich-technischen Information der INES. Ed Festschrift 140 Jahre. Belo Horizonte: Littera, 1997. Responda: - O que você entendeu da leitura? Registre alguns elementos do texto, os quais tem certeza da mensagem que veiculam. - Qual o tema central apresentado no texto? O que te levou a essa conclusão? - Como você se sentiu diante deste texto? Por quê? - Qual a língua em que o texto foi escrito? Em que se baseou para chegar a 38 esta resposta? - Quais as condições necessárias para que você pudesse entender a mensagem deste texto? - Que aspectos a língua em que foi escrito este texto, tem semelhança com a nossa língua escrita? Vamos conhecer alguns aspectos do oralismo na educação de surdos7 No século XIX, aumenta a oposição entre o método gestual (francês) e o oral (alemão), culminando que, no II Congresso Internacional de Ensino de Surdos Mudos, que ocorreu em Milão (Itália) em 1880, o método oral foi proclamado como a melhor possibilidade para o atendimento à criança surda, sem que os surdos tivessem direitos a voto. As decisões tomadas no Congresso de Milão, basearam-se em um conjunto de fatores políticos, lingüísticos, filosóficos, religiosos e tecnológicos mas não puramente educativos. E a partir da análise dos documentos da época observa que os políticos aprovaram o método oral porque facilitava o projeto geral de alfabetização do país, eliminando um fator de desvio lingüístico - a língua de sinais - em um território que buscava incessantemente sua unidade nacional e, portanto, lingüística (SKLIAR, 1997, p. 50). Ao expor sobre a metodologia oralista, Skliar (1997) menciona que esta tem como suporte uma concepção comportamentalista de aprendizagem, a qual acredita que se pode ensinar a linguagem e também a pensar. Neste contexto, a criança surda é vista como deficiente, dependente dos programas e da visão clínicoterapêutica do adulto ouvinte, os quais deduzem que só a aprendizagem da língua oral possibilitará à criança surda alcançar os conteúdos curriculares. Sabe-se que a concepção de linguagem vinculada ao oralismo refletia o pensamento da sociedade, que tinha dificuldade em lidar com um mundo imperfeito, levando o meio social, a tratar os fatos da linguagem como se fossem harmônicos, 7 Texto elaborado por Rute de Oliveira Bomfim. 39 onde a língua é vista como um código (conjunto de signos que se combinam entre si, segundo regras) estruturado e fechado passível de ser ensinado ao surdo, partindo do aprendizado da fala (SOUZA, 1998). Ao focarem o ensino da língua, na fala, eles desconsideraram que a aquisição da língua é um fato social que permeia a vida das pessoas, desde o nascimento, e é construída por interlocutores em situações reais de uso e não de forma artificial, como ocorre freqüentemente no ensino de surdos. Em geral, não se deixa muito espaço para que a língua tenha uma função ativa na vida da criança, ou adolescente, ou mesmo adulto surdo (GOLDFELD, 1997). Houve uma grande reviravolta, na educação do surdo, do século dezoito, quando sociedade e surdos perceberam a potencialidade desses através do uso da língua de sinais. Nessa, nova etapa, acreditava-se que os surdos poderiam desenvolver-se como os ouvintes, aprendendo a língua oral, passando a ser este o maior objetivo dos educadores de surdos (SKLIAR, 1997). A necessidade de oralizar o surdo espalhou-se à maioria das instituições que os atendiam, em todo o mundo. Para que pudessem dominar a língua oral, relegou a segundo plano, o ensino das disciplinas escolares, uma das possíveis causas da queda do nível de sua escolarização (GOLDFELD, 1997). Fernandes (1998) constata que, até o século XIX, a surdez foi discutida tendo como enfoque concepções sociais e pedagógicas; passando no século XX a ser concebida dentro de um modelo clínico-terapêutico que se baseia na ideologia de que a surdez relaciona-se estritamente à patologia e déficit biológico, precisando de métodos reabilitadores e tratamento terapêutico, o que pedagogicamente torna-se prática, de tendência reparadora e corretiva (SKLIAR, 1997). Estes fatores levaram à proibição de os alunos surdos usarem sua língua natural, sendo obrigados a aprenderem a falar, independentemente de suas possibilidades. Diante deste fato, não havia mais espaço para os professores surdos, pois nessa nova visão, o modelo ideal para os surdos eram os ouvintes. Diminuiu sensivelmente a proporção de professores surdos nas escolas, que era em 40 torno de 50% (cinqüenta por cento) do corpo docente; em 1850, caiu para 25% (vinte e cinco por cento), na passagem do século; e para 12% (doze por cento), em 1960 (SACKS, 1990). Lane (1989) relata que a diminuição do número de professores surdos ocorreu sem que houvesse necessidade de impedimento legal, visto que, pela redução intelectual conseguida com o regime oralista, esses foram impedidos efetivamente de aspirar a esta carreira. Alguns estudiosos constatam que práticas pedagógicas marcadas pelo uso da linguagem filtrada com ênfase em regras gramaticais, baseadas em concepções estruturalistas, bem como pouco investimento na modificação destas - as quais utilizam-se dos mesmos métodos com pequenas alterações - diante de novos paradigmas, alcançam poucos resultados efetivos (FERNANDES, 1990; GESSUELLI, 1998; SOUZA, 1998; GÓES, 1999). Observa-se também a compreensão de que a prática pedagógica possa estar dissociada, ou ser independente do uso efetivo da língua(gem), o que leva os educadores a ignorarem fatores importantes sobre desenvolvimento da comunicação em crianças pré-escolares e a não assumir o papel de fortalecer o desenvolvimento da linguagem através de interações recíprocas e contingentes entre os adultos e crianças. Wood (1992) observa ainda, que de forma contrária, a demanda dos adultos é para que a criança preste atenção e busque objetivos estabelecidos por eles, tendo que fazer com que seus pensamentos sejam contingentes aos deles (WOOD, 1992; SOUZA, 1998). Skliar (1999, p. 7) enfatiza que as concepções baseadas em uma dimensão política da educação definida como ouvintista, a qual sugere “uma forma particular e específica, de colonização dos ouvintes sobre os surdos”, sendo que as representações práticas de significações e dispositivos pedagógicos são engendrados de forma que os surdos sejam vistos como sujeitos inferiores, primitivos, incompletos. Souza (1998), em concordância com a visão anterior, destaca que a relação 41 entre educadores ouvintes e criança surda esta caracterizada por um papel central e ativo do ouvinte, o qual como num jogo, inicia a partida, decide a jogada adequada e finaliza cada lance, através de condicionamento, cabendo ao surdo dar a resposta, dentro de um esquema de ação lingüístico imposto. E o não acesso da criança à aprendizagem é atribuído a sua surdez, o que gera um círculo vicioso que dificulta mudanças. O que, segundo Skliar (1997), pode levar o educador a sofrer influência de um círculo de “baixas expectativas pedagógicas”, ou seja, a compreensão de que o educando tem uma limitação natural para aprender, o que faz com que se programe abaixo deste limite, alcançando resultados que confirmam suas hipóteses e relacionam o mau êxito ao fato do surdo ”não poder vencer, nem modificar sua própria natureza.” (SKLIAR, 1997, p. 8). a) Formem grupos de quatro (4) pessoas e a partir da leitura, tendo como referência o fato de a escrita ser uma forma de linguagem: ´ - Procure relacionar alguns aspectos dessa vivência, com a de uma pessoa surda, atendida educacionalmente dentro de uma concepção “oralista”. b) Leia com atenção o texto a seguir: Histoire de l'éducation des sourds au Brésil8 Au Brésil, en 1857, avec le sourd de l'empereur D. Pedro II, a été fondé l'Institut national de l'éducation des sourds-muets (maintenant connu sous le nom de l'Institut national de l'éducation des sourds - INES), à Rio de Janeiro, sous la direction du professeur sourd français Ernest Huet, en utilisant leurs méthodes dans la langue de signaux, d'écrits et de l'alphabet dactylology offre un programme éducatif dans lequel les sujets sont les mêmes pour les écoles ordinaires, d'ajouter la langue et de lecture des articles sur les lèvres. Abrité des étudiants (masculins) de tout le Brésil, dans une école, et a participé activement à la formation d'enseignants spécialisés, permettant aux personnes sourdes ont de bons résultats de l'enseignement (GOLDFELD, 1997; FERNANDES, 1998). 8 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. 42 Il a été observé qu'au Brésil, la tendance mondiale, puisque après le Congrès de Milan, de 1911, sont les concepts qui ont absorbé les pratiques de base utilisé dans le monde, et s'impose comme oralis officielles méthodologie de l'enseignement des sourds. La gestuelle de la communication a été officiellement interdite, cependant, ont continué à être utilisé par les étudiants de se cacher (ROCHA, 1997). Il est apparu clairement, après un peu plus d'un siècle de l'enseignement oral, que les résultats se sont révélés décevants. Même si empreint de bonnes intentions, cette proposition ne remplit pas les objectifs de l'éducation, d'éliminer l'inégalité entre sourds et entendants. Le infliger les moyens plutôt que par voie orale sous forme de communication visuelle et gestuelle pour les sourds, la capacité linguistique restreinte et, par conséquent, retrace la vie sociale, ce qui entrave l'intégration souhaitée. Ce qui n'est pas possible que l'éducation de l'enfant sourd atteint les niveaux qu'il pouvait atteindre. REFERÊNCIAS FERNANDES, S. F. Surdité et les langues: il est possible le dialogue entre les différences? Curitiba, 1998.216 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Division des sciences sociales de la littérature et des arts, Université fédérale du Paraná. GOLDFELD, M. L'enfant sourd: la langue et de la cognition dans une perspective socio-interactionnistes. São Paulo: Plexus, 1997. ROCHA, S. Histoire de l'INES. AREA - Information scientifique et technique de l'INES. Ed. Commémoration de 140 ans. Belo Horizonte: Littera, 1997. c) Responda: - Quais as idéias princípais do texto lido? - Como foi a leitura deste texto quando comparado à leitura do anterior? Por quê? - Quais as dificuldades encontradas durante a leitura deste texto? - Que estratégias você utilizou para compreeder o conteúdo lido? - Qual a língua em que o texto foi escrito? Em que se baseou para chegar a esta resposta? - Quais as condições necessárias para que você pudesse entender a mensagem deste texto? - Em que aspectos a língua em que foi escrito este texto, tem semelhança com a nossa língua escrita? 43 Vejamos o que vem a ser “comunicação total”9 As pesquisas sobre línguas de sinais e o descontentamento com o oralismo originaram novas propostas pedagógico-educacionais voltadas à educação da pessoa surda, na década de sessenta, nos EUA, Dorothy Schifflet, professora e mãe de surdo, começa a utilizar-se de uma combinação de recursos, língua de sinais em adição à língua oral, leitura labial, treino auditivo e alfabeto manual, ao que denominou de "Total Approach", o qual serviu de base a Roy Holcomb que, em 1968, o adotou, denominando-o de "Total Communication". Isso deu origem à filosofia Comunicação Total, que privilegia a comunicação e não a língua. Esta tendência que ganhou impulso nos anos 70, Stewart (1993, p.118) refere que “A Comunicação Total é a prática de usar sinais, leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital para fornecer inputs lingüísticos para estudantes surdos, ao passo que eles podem expressar-se nas modalidades preferidas”. O objetivo da Comunicação Total é possibilitar à criança desenvolver uma comunicação real com seus familiares, professores e seus iguais, visando construir seu mundo interno. A oralização não é o objetivo principal da comunicação total, mas uma das áreas trabalhadas para possibilitar a integração social do indivíduo surdo. Neste contexto pode-se utilizar tanto sinais retirados da língua de sinais, quanto criar sinais gramaticais modificados e marcadores para elementos presentes na língua falada, que não são utilizados na língua de sinais. Dessa forma, tudo o que é falado pode ser acompanhado por elementos visuais que o representam, o que facilitaria a aquisição da língua oral e posteriormente da leitura e da escrita (MOURA 1993). Entretanto, a maneira como foi implementada a comunicação total mostra-se de diversas formas; constata-se que muitas foram às maneiras de atuar nessa proposta que envolve sinais, fala e outros recursos, muitos estudos foram realizados para verificar sua eficácia. Nesses estudos detectou-se que, quando comparado ao 9 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. 44 oralismo, houve melhora em alguns aspectos do trabalho educativo. Favorecendo que os surdos, ao final do processo escolar, conseguem compreender e se comunicar melhor. No entanto, segundo essas análises, apresentam ainda dificuldades significativas para expressar sentimentos, idéias e comunicar-se em contextos extra-escolares (SÁ, 1999). Quanto à escrita, observa-se que houve poucos avanços pois nem sempre alcançam autonomia nessa modalidade de linguagem. A grande maioria dos surdos não consegue atingir níveis acadêmicos satisfatórios à sua faixa etária. Quanto à aquisição dos sinais, constata-se que ocupam um lugar meramente acessório de auxiliar da fala, não favorecendo sua ampliação. Desta forma, em muitas situações, os surdos atendidos educacionalmente a partir desta filosofia, comunicam-se precariamente embora tenha acesso aos sinais, em decorrência de não favorecer compreensão dos sinais como componente de uma língua, o que dificulta um efetivo desenvolvimento lingüístico. Desta forma os sinais têm a função de apoio para a língua oral (SÁ, 1999). Esta prática educacional possibilitou o contato com sinais, o que era proibido no contexto oralista, o que favoreceu mudanças significativas na história dos surdos. O uso do português sinalizado que caracteriza esta proposta educacional, interfere na estrutura da Língua de Sinais e dificulta a aprendizagem de ambas as línguas , diante das incoerências que a mensagem fica exposta. Porém, está nova prática possibilitou melhora na dimensão emocional pela aceitação das diferenças e uso de outros recursos na comunicação, também, nas relações familiares que foram libertas da condição de usar exclusivamente a oralidade, o que trazia tensões nas relações. No entanto, na dimensão educacional, seu uso deve ser rejeitado “pelos prejuízos causados à aquisição de uma língua e o aprendizado de outra” (SÁ, 1999) @ – Pode-se comparar a vivência da leitura do texto em francês, com a abordagem de comunicação total, na educação do surdo? Por quê? 45 d) Leia este texto com atenção: História da Educação dos Surdos no Brasil10 No Brasil, em 1857, com o apoio do imperador D. Pedro II, foi fundado o Instituto Nacional de Educação de Surdos-Mudos (atualmente conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES), no Rio de Janeiro, sob a orientação do professor surdo francês Ernest Huet, que utilizava em seus métodos a língua de sinais , a escrita, o alfabeto dactilológico e oferecia um programa educacional no qual as disciplinas eram as mesmas das escolas regulares, acrescentando Linguagem Articulada e Leitura sobre os Lábios. Abrigava alunos (sexo masculino) de todo o Brasil, em regime de internato, e participava ativamente da formação de professores especializados, possibilitando que os surdos tivessem bons resultados pedagógicos (GOLDFELD, 1997; FERNANDES, 1998). Observou-se no Brasil a mesma tendência mundial, visto que após o Congresso de Milão, a partir de 1911 foram absorvidas as concepções que deram base às práticas utilizadas mundialmente e o oralismo, estabeleceu-se como metodologia oficial de ensino aos surdos. A comunicação gestual foi oficialmente proibida, no entanto, continuou a ser utilizada às escondidas pelos alunos (ROCHA, 1997). Tornou-se evidente, após pouco mais de um século de educação oralista, que os resultados mostraram-se desanimadores. Embora impregnada de boas intenções, esta proposta de ensino não cumpriu seus objetivos de eliminar a desigualdade entre surdos e ouvintes. O infligir o meio oral em detrimento da forma de comunicação gestual-visual ao surdo, restringiu a capacidade lingüística e como resultado, os traços sociais deste, dificultando desta forma a integração pretendida. O que não possibilitou que a educação da criança surda atingisse os níveis que supostamente ela poderia alcançar. As conseqüências de várias gerações de surdos tendo acesso à educação puramente oralista são vistas por Fernandes (1998) como desanimadoras, e focaliza que no Paraná, há um grande número de pessoas surdas, que além de não possuírem uma forma de comunicação sistematizada (oral, gestual ou escrita), “apresentam ‘seqüelas’ da filosofia oralista, tais como problemas de identidade cultural, desenvolvimento cognitivo e intelectual não compatíveis com sua idade cronológica, bem como, sub-escolarização” (FERNANDES, 1998, p.25). Observa, ainda, que a maioria dos surdos não conclui os quatro primeiros anos da Educação Básica. Quanto aos que avançam na escolaridade, há suspeitas da real apropriação dos conhecimentos correspondentes aos conteúdos trabalhados. Quadro este também constatado por pesquisadores como Wood (1992), Goldfeld (1997), Góes (1996) e outros. Só nos anos setenta chegou ao Brasil a Comunicação Total, seguida do Bilinguismo no final dos anos oitenta quando a 10 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. 46 professora lingüista Lucinda Ferreira Brito desenvolveu pesquisa sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Revisar a retrospectiva histórica favorece a reflexão sobre as concepções e práticas voltadas à linguagem e educação, que envolvem o atendimento ao surdo na atualidade, requer do profissional que o atende clareza sobre o modo como se adquire linguagem e se processa a aprendizagem. REFERÊNCIAS FERNANDES, S. F. Surdez e linguagens: é possível o diálogo entre as diferenças? Curitiba, 1998.216 f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná. GÓES, M. C. R. Linguagem, surdez e educação. 2. ed. Campinas: Autores Associados/Unicamp, 1999. GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997. ROCHA, S. Histórico do INES. ESPAÇO – Informativo Técnico Científico do INES. Ed. Comemorativa 140 anos. Belo Horizonte: Littera, 1997. WOOD, D. Teaching and talking with deaf children. Great Britain: John Willey e Sons, 92. 3. ed. East Kilbraide: Printed and Bound by Counrier International, 1992. @ Responda: - A leitura do texto em alemão e francês, deu a você alguma pista para compreensão da leitura do mesmo em portugês? Justifique. - Houve necessidade de alguma estratégia especial para compreensão desta leitura? Justifique sua resposta. @ Em um texto de pelo menos 10 linhas faça comentários sobre a seguinte observação: É fundamental ter uma língua estruturada e auto-referenciada para entender a mensagem veiculada, independente da modalidade lingüística. Você deverá fazer referência à necessidade de ter uma língua, sua importância para o desenvolvimento do surdo, as consequências de não desenvolvê-la e sugerir meios para que ele possa ter acesso a ela. § Nesta unidade vamos focar a atuação nos princípios de Mediação de 47 Significado e uma das questões relativas a Mediação do Sentimento de Competência propostas nas questões do Quadro (5) e em três dos Princípios de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo do Quadro (6) a seguir, e sua importância no desenvolvimento das funções cognitivas da criança. Os participantes do grupo, deverão desenvolver atividades com o grupo de crianças em que trabalha, tendo como ponto de partida as questões relacionadas a cada principio, para este fim utilizaremos como referência “Identificação de suas Singularidades”, considerando sempre o conhecimento prévio de cada criança e sua faixa etária. Identificação de suas singularidades Para que a criança tenha as condições para o seu desenvolvimento, requer entre outros aspectos, aceitação e acolhimento, que suas necessidades básicas sejam atendidas, que o processo de maturação psiconeurológica seja respeitado pois dele advém o desenvolvimento de suas capacidades motoras, intelectuais, sociais, afetivas e morais, requer ainda, ter oportunidades de vivências físicas, psicológicas e sociais para que possa exercitar plenamente suas potencialidades e receber estimulo de acordo com a etapa de desenvolvimento em que se encontra, tendo ela necessidades especiais ou não. Piaget (1974) afirma que a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento total do organismo, portanto independente de a criança apresentar ou não a ausência de um dos sentidos, ela deverá ser estimulada de forma a ter acesso as atividades propostas. Na elaboração do planejamento deve-se ter em mente os eixos de trabalho propostos no Referencial Curricular Nacional (BRASIL, 1998): Movimento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita ( importante lembrar a língua de sinais), Natureza e sociedade, Matemática. Os quais constituem “uma parcela significativa da produção cultural humana que amplia e enriquece as condições de inserção das 48 crianças na sociedade” (p. 46, vol.1).11 A fim de que elas possam identificar suas singularidades sugere-se atividades nas quais familiarizem-se com seu corpo, desenvolvam conceitos básicos do esquema corporal, conheça suas funções, sentidos, perceba suas características pessoais, compare semelhanças e diferenças entre si e seus colegas, desenvolva hábitos de autocuidado, através de jogos, desenho, construção de bonecos, leitura de obras de arte, fotos, caricaturas, brincadeiras. Abordar na prática diária, de forma natural os temas relacionados a diversidade, estimulando o respeito a diferença. Deve-se sempre ter em mente, ao planejar a atividade para cada uma das Unidades, que a proposta de trabalho deve ser organizada para todas as crianças, independente de estar sendo realizadas em uma classe comum, com uma criança de inclusão ou uma classe em escola especializada onde todos apresentem surdez. O professor ou mediador inicialmente desenvolverá atividades nas quais explorara com o grupo diferentes movimentos (pular, correr sem sair do lugar, pular num pé só, saltar, ajoelhar, deitar, levantar, abraçar, dançar, ficar tenso relaxar...), o nome e sinal, utilizando espelho de corpo inteiro, as crianças deverão se observar, explorar as diferentes formas de movimento frente ao espelho, depois sob o comando de um dos colegas deverão imitar os movimentos do colega é dada à oportunidade para todas as crianças criarem novos movimentos, para que o grupo copie, procurando nomear cada movimento, através da fala e dos sinais. Na continuidade poderá oferecer papel bobina, onde as crianças terão o contorno de seus corpos desenhados, pelo professor e pelos colegas que demonstrarem habilidade para desenvolver essa atividade. Após o professor identificará todos os contornos colocando uma foto da criança e seu nome ao lado do contorno, em seguida colara cada contorno nas paredes da sala, neste contorno cada crianças deverá desenhar ou colar as partes do corpo que faltam, o professor 11 # Acessar http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf para saber mais sobre os componentes curriculares, pg. 47 a 61. 49 deverá incentivar a comunicação entre as crianças mediando a conversação. Outra possibilidade de atividade que pode ser desenvolvida, é a construção de bonecos em E.V.A. de diferentes cores (branco, cor da pele, marrom, ocre) as quais deverão ser identificadas pelo nome e pelo sinal. Roupinhas recortadas do tamanho do boneco, olhos para serem colados, lã (preta, marrom claro e escuro, vermelha, amarela) botões. Propõem-se as crianças que escolham o boneco, as roupas e acessórios para representar sua imagem. Na seqüência pode-se propor na roda de conversas, que cada criança apresente seu boneco para a turma, dizendo porque o fez daquela maneira.12 Corpo e Movimento ou como Transformar Pulgas em Bichos-preguiça – Dulce Cornetet dos Santos.13 @ Após desenvolver trabalho com o grupo, responda às questões dos Quadros 7, 8 e 9 a seguir, nos quais encontram-se os princípios da EAM e Aquisição de Linguagem e Biliguismo referentes a esta unidade, bem como alguns comportamentos da criança na interação. Em seguida, compare suas respostas atuais com as respostas dadas nos Quadros 1, 2 e 3. QUADRO 7 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001 II –Mediação do Significado Designando significado: Você tende a designar significados e valores para diferentes objetos, experiências e fenômenos além da significância inerente, intrínseca deles? Atribuindo significados afetivos: Você partilha com o aluno atitudes e sentimentos pessoais, frente a vários aspectos da vivência partilhada? Encorajando a busca de significado: Você encoraja o aluno a procurar significado, e pergunta a proposta e os valores de cada experiência dele? IV – Mediação do Sentimento de Competência Selecionando tarefas graduadas: Você assegura um equilíbrio ótimo entre familiaridade e novidade nas atividades e tarefas selecionadas para seus alunos 12 Sempre Às Vezes Esporádico # Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001384/138429por.pdf . Acesso em: 15 jan. 2009. 13 # Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume2.pdf. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 50 Responda as perguntas abaixo, segundo a escala proposta e estabeleça comparação com as respostas do Quadro 2. QUADRO 8 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Princípios de Aquisição de Linguagem Em sua prática, você possibilita inserção da língua em rotina significativa? Em sua prática, você respeita a escolha do campo semântico escolhido pela criança evitando controle sobre vocabulário? Em sua prática, você garante que o padrão de input, no contexto escolar, propicie o uso da língua na rede social e individual da criança e não a dominância lingüística na qual a família viva? Sempre Às Vezes Esporádico Houve mudanças em sua prática? Caso a resposta seja sim enumere pelo menos cinco fatores que possam ter interferido nesta mudança. Responda as perguntas abaixo, segundo a escala proposta e estabeleça comparação com as respostas do Quadro 3. QUADRO 9 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamento das crianças Sempre Às Vezes Esporádico A criança conta fatos vivenciados em casa? A criança mantém conversação com o(s) colega(s)? A criança demonstra satisfação frente ao êxito em uma atividade proposta? A criança procura saber o nome das coisas ou pessoas que sejam novidade? A criança traz retorno do que é pedido para fazer em casa? Você observou algum tipo de mudança na sua interação com as crianças, se houve relacione pelo menos três fatores de mudança que voce considerou positivos. 51 UNIDADE 3: BUSCANDO EXPLICAÇÕES Para melhorar o desenvolvimento do surdo: o bilinguismo Retomemos algumas idéias já apresentadas. - Existem diferentes formas de expressão além da fala. - Através de gestos posso transmitir e receber mensagens - Preciso ter acesso ao código para compreender a mensagem. - As vias de recepção não são suficientes para que haja compreensão. - A Lingua Brasileira de Sinais é uma língua, que se desenvolve na comunidade de surdos. - O oralismo não deu conta de integrar o surdo nos diferentes contextos de vida. - A comunicação total embora tenha melhorado a comunicação do surdo com o ouvinte, devido ao portugues sinalizado dificulta a aquisição da lingua de sinais e a aprendizagem do português seja escrito ou falado. Porque destacamos essas idéias? Porque abrem caminho para discutirmos, nesta unidade o bilinguismo na educação da criança surda, “utilização simultânea de duas ou mais línguas por uma pessoa ou por um grupo, com idêntica fluência ou com proeminência de uma delas”. Mas, antes de nos referirmos à questão do bilinguismo na educação da criança surda, é necessário conhecer o que existe de pesquisas relacionadas ao bilinguismo de forma geral, visão que se tem sobre o bilinguismo no contexto educacional, melhor momento de exposição a segunda língua, estratégias de interação numa proposta bilingue. Esta etapa tem a seguintes finalidades: - orientar os participantes relacionar fatos relativos a educação do surdo e aquisição de língua e linguagem do surdo e as questões do bilinguismo; 52 - auxiliar os participantes a ampliar seus conceitos relacionados as informações coletadas favorecendo a compreesão sobre a cultura surda e o bilinguismo; - orientar os participantes a relacionar seus conhecimentos sobre surdez e expressar suas idéias de forma mais precisa, visando facilitar a comunicação. Nessa etapa, como o nome indica a partir das experiências e conhecimentos dos participantes anteriormente identificados, tentar trazer a tona outras concepções, para ampliar as explicações e abordagens dos assuntos estudados nas duas etapas anteriores. Libras: dos sinais da Libras para uma comunicação efetiva Acesse, a seguir, o LIBRAS - Dicionário da Língua Brasileira de Sinais, um dicionário on-line para surdos (http://www.acessobrasil.org.br/libras/) que visa complementar os recursos de acessibilidade dos mesmos: - Clik no link Ordem, em seguida Por assunto. Acesse as palavras sublinhadas, clik sobre elas e terá acesso ao sinal correspondente, reproduza o sinal. - Agora observe o item EXEMPLO abaixo do quadro PALAVRA encontrara algumas frases, passe essas informaões aos colegas procurando usar Libras. - Na sequência observe ao lado do quadro EXEMPLO o quadro EXEMPLO Libras, agora veja como é a estrutura em Libras. - Ontem, um colega de trabalho teve acidente de carro. (Assunto – Higiene e saúde) COLEGA TRABALHO CARRO ACIDENTE ONTEM. - Ele tem uma caderneta de poupança no banco e nenhum dinheiro. 53 (Assunto - Numeral/dinheiro) BANCO EL@ POUPANÇA DINHEIRO COLOCAR NADA. - Comer banana é importante para a saúde. (Assunto – Fruta) BANANA COMER IMPORTANTE SAÚDE BO@. - Mamãe hoje comprou frutas na feira. (Assunto – Fruta) MÃE HOJE FEIRA COMPRAR MAÇÃ^VÁRI@. - Minha família é surda.(Assunto – Família) FAMÍLIA ME@ SURDA - As regiões do Brasil apresentam culturas diversas. (Assunto – País/Estado/Cidade) BRASIL AQUI REGIÃO+ CULTURA VARIAD@. a) Responda - Observa-se que a estrutura da frase em Libras não é a mesma que em português. Em que isso interfere quando tenho que passar uma mensagem para um surdo? - O vocábulário isolado não dá conta de transmitir uma idéia que envolve vários elementos? Por quê? - A compreensão de como se dá a estruturação da linguagem pelo surdo indicam necessidade de utilizção de estratégias próprias ao processo educacional dos mesmos? Justifique. # Para conhecer mais sobre aquisição de linguagem pelo surdo acesse: http://www.virtual.udesc.br/Midiateca/Publicacoes_Educacao_de_Surdos/artig o08.htm Texto: O Contexto Escolar do Aluno Surdo e o Papel das Línguas de Ronice Müller de Quadros. Diante de tais evidências faz-se necessário conhecer alguns estudos referentes à aquisição bilíngüe para desenvolver estratégias educacionais que favoreçam aprendizagem bilíngüe da criança. 54 Leia com atenção o texto a seguir, observando os aspectos grifados que servirão de referencia para a atividade proposta ao final da leitura: A Aquisição Bilíngüe Em Crianças Pequenas14 Nos últimos tempos, tem-se desenvolvido cada vez mais o interesse no estudo do desenvolvimento da linguagem em crianças bilíngües pequenas, provavelmente pela conscientização da importância do bilingüismo no mundo atual e o estudo deste na aquisição da linguagem em geral; o que tem despertado, em muitos profissionais desta área, empenho em pesquisar sobre a aquisição precoce de linguagem em crianças bilíngües. Muitos destes estudos estão voltados a investigar a prática de se educar crianças em ambiente bilíngüe (De HOUWER, 1997; GENESEE, 2002). Para a instauração bilíngüe, faz-se necessária à exposição muito precoce, simultânea, regular e contínua a mais de uma língua, e as pesquisas têm demonstrado que a ignorância sobre o desenvolvimento bilíngüe precoce pode levar os pais a fracassar ao criar seus filhos em mais de uma língua. De Houwer (1997) sugere, que o estudo da linguagem em crianças bilíngües pode favorecer a ampliação do conhecimento teórico do potencial de aprendizagem, da linguagem na fase inicial da infância, como forma de descobrir os limites, dentro dos quais o processo de aquisição da criança deve acontecer (De HOUWER, 1997). Genesee (2002) relata que é de compreensão geral que crianças, que aprendem uma segunda língua quando a aquisição tem início durante o desenvolvimento da linguagem primária (L 1), têm posteriormente níveis mais altos de proficiência, a longo prazo, do que alunos que começaram o aprendizado em época mais tardia. Ressalta, ainda, que alcançam igualdade de proficiência análoga aos nativos, caso haja exposição adequada e "natural"15 na segunda língua, e a 14 15 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. Natural: neste contexto refere-se a exposição a linguagem, em contexto não escolar. 55 justificativa para tal advém de um período crítico de base neurofisiológica para a aprendizagem da linguagem. São muitas as evidências de que a experiência bilíngüe precoce amplia a consciência sobre linguagem, e favorece a criança a desenvolver capacidade de analisar propriedades estruturais da língua, de adquirir construções gramaticais mais rápido e, em conseqüência, compreender as regras de cada língua. Há indicação da relevância em estudar o bilingüismo precoce, uma vez que muitos estudiosos observam existir preconceito, em relação ao mesmo, por parte de profissionais da linguagem que consideram prejudicial à mistura de línguas, aconselhando aos pais, que são muitos os efeitos negativos de tais práticas, contrariando as evidências encontradas nas pesquisas relacionadas ao tema (De HOUWER, 1997; GENESEE, 2002). Genesee (2002), designa como desenvolvimento bilíngüe à aquisição simultânea de mais de uma língua durante o período de desenvolvimento da linguagem primária, durante os cinco primeiros anos de vida. O autor ressalta que há muitas razões psicolingüísticas para que se faça distinção entre criança pré-escolar versus crianças mais velhas no acesso a segunda língua, em função de desacordos quanto a: (1) aptidão de aquisição da linguagem; (2) capacidade cognitiva e conhecimento geral do mundo; e (3) saber lingüístico prévio. Pode-se extrair alguns critérios relacionados ao input (estímulo de entrada) que tem papel central na aquisição bilíngüe. De Houwer (1997) os relacionou, a partir de inúmeras pesquisas (que requerem maior comprovação), dentre os quais se destacam: o que determina o padrão do input é o uso da língua na rede social individual da criança e não a dominância lingüística na qual a família vive; o grau de separação ideal entre línguas no input - tradicionalmente há a tendência em considerar a condição “uma pessoa uma língua” como melhor - a quantidade de input é mais importante que a qualidade; necessidade de que as duas línguas de uma criança bilíngüe sejam separadas no input, para que aconteça o desenvolvimento separado de dois sistemas gramaticais; e uso contínuo em meio 56 comunicativo natural. De Houwer (1997), ao interpretar os resultados de pesquisas que comparavam crianças monolíngües com crianças bilíngües desde o nascimento, observa que são encontradas semelhanças, em cada uma das línguas de que a criança faz uso, e que estas cometem o mesmo tipo de “erros” cometidos por crianças monolíngües, bem como fazem uso de estruturas semelhantes em períodos de desenvolvimento semelhantes. Embora sejam observadas falhas metodológicas no desenvolvimento destas pesquisas, Genesee (2002), da mesma forma, indica que a aquisição bilíngüe a partir de muitas evidências não tem diferenças significativas em relação as monolíngües. Durante o processo de aquisição da L1 e L2, quando prestam muita atenção ao input que recebem, notam que um input difere - dependendo de quem fala ou onde, em que situação está conversando - e buscam falar com as pessoas que as cercam. No entanto, difere da criança monolíngüe porque, desde cedo, a criança bilíngüe faz escolhas lingüísticas sensíveis ao contexto. Ela toma por base dois sistemas lingüísticos separados e desde cedo são falantes muito hábeis, alternando facilmente as diferentes linguagens, dependendo do interlocutor. Há referências quanto à criança bilíngüe, que faz mudança sistemática entre as línguas em decorrência dos elementos da conversa, do ambiente, do destino da mensagem, da forma e, em menos intensidade, do tema da interação Genesee (2002). O autor também indica que pesquisadores têm comprovado que, no processo inicial de aquisição, crianças monolíngües utilizam qualquer vocabulário adquirido (super-extensão) e, assim que seu vocabulário aumenta, tendem a usar palavras de extensão menos exagerada. O que também parece forma razoável de explicar a super-extensão bilíngüe, ao misturar menos palavras à proporção que a eficiência nas duas línguas aumenta. De Houwer (1997) constata que há pesquisas sobre a aquisição bilíngüe que indicam que quando a criança não conhece palavras o suficiente em uma das duas línguas prefere inserir itens lexicais da outra língua em suas frases, ao invés de 57 produzir frases incompletas ou estruturas nucleares. Quanto às estratégias de discurso, utilizadas pelos pais, observa que muitos pesquisadores têm proposto que o estado interacional desses possa interferir no processo de aquisição. Aceita a hipótese de que os estilos de comunicação dos pais, que podem facilitar o desenvolvimento monolíngüe, também podem ser determinantes em uma educação bilíngüe. Aceita, ainda, que as estratégias de intervenção e interação educador/criança, além de serem influenciadas pelo estilo, também o são pelos padrões de relação, pela consistência e pelo input metalingüístico. Aceita, também, a posição de Deuchar16, o qual considera importante que a criança bilíngüe receba input “sócio-lingüisticamente autêntico”, devendo a interação ser natural - evitando situações artificiais - e sugerindo que as expectativas e conhecimentos dos pais sobre o desenvolvimento da linguagem das crianças e o que esperam da situação bilíngüe podem afetar positiva ou negativamente o processo de aquisição (De HOUWER, 1997a, p. 193). Schiff-Myers (2002), ao analisar crianças ouvintes filhas de pais surdos, conclui que essas apresentam desenvolvimento normal da fala e linguagem, sob a condição de que o convívio familiar seja normal nos demais aspectos e que o convívio com pessoas ouvintes de fala normal ocorra por, aproximadamente, cinco a dez horas semanais. Referência que talvez possa ser transferida a filhos surdos de pais ouvintes quanto a uma abordagem educacional bilíngüe, onde as crianças surdas possam ter convívio com adultos surdos na mesma proporção (BONFIM, 2002). Como observa De Houwer (1997, p. 187): “Se a ignorância sobre o bilingüismo precoce pode causar problemas ao desenvolvimento bilíngüe normal, imagine o que pode causar no caso de crianças bilíngües com deficiência de linguagem”, o que poderia ser ampliado para aquelas com atraso na aquisição de linguagem, como é o caso da grande maioria das crianças surdas. 16 DEUCHAR, M. Review of Raising Children Bilingually: The pre-school years by Leonore Amberg. Journal of Child Language. 15, 459-68, 1988. 58 Há críticas, no que se refere à hipótese de sistema único inicial de aquisição, destacando-se que há evidências de que essas crianças, de fato, desenvolvem dois sistemas fonológicos separados desde cedo, e que o output ajuda a identificar as palavras como pertencentes a um léxico, ou a outro (GENESEE, 2002). Sabe-se pouco sobre como a criança bilíngüe é socializada quanto à alternância de código (uso de uma ou outra língua na interação). Os motivos para o pouco conhecimento a este respeito são que só recentemente se deu atenção ao contexto em que a criança bilíngüe cresce e que, nos estudos de produção de fala da criança bilíngüe, não há referência à condição sócio-lingüística em que esta ocorre, impossibilitando análise quanto à alternância (De HOUWER, 1998; GENESEE, 2002). Desta forma, De Houwer (1997) explica não ser suficiente conhecer a língua que cada pessoa usou ou usa com a criança, em situação bilíngüe, sendo fundamental investigar aproximadamente quanto tempo os principais elementos portadores do input passam com a criança. Se esse elemento teve pouca oportunidade de convívio, mesmo que seja muito importante na relação, isso não garante que a criança tenha ouvido ou visto regularmente as duas línguas, aspecto este que se observa em relação à criança surda, uma vez que os familiares utilizam a oralidade ao se relacionar com ela, e as mesmas, têm pouca oportunidade de convívio com surdos fluentes em Libras. Ao analisar o desenvolvimento do comportamento de alternância de códigos, constata que, antes dos dois anos de idade, crianças bilíngües mostram-se sensíveis às normas para escolha do código determinado por seus interlocutores, a partir do conhecimento da capacidade lingüística destes. Tem-se observado ainda, repetidamente, que a criança bilíngüe não se utiliza enunciados mistos ao falar com monolíngües (De HOUWER, 1997). Genesee (2002) argumenta que a causa da diminuição de mesclas de vocabulário não se deve à separação das Línguas, mas porque as crianças estão em fase de adquirir repertório lingüístico mais amplo, não precisando mais buscar 59 “palavras emprestadas ou exageradamente extensas entre as Línguas” (p.89). Ao pesquisar sobre os padrões de comunicação nas interações dos falantes de crianças em fase pré-escolar e crianças pertencentes a grupos étnicos - Lindholm (1986) destaca que a variável que mais interfere nestes padrões, é a idade da criança receptora da conversação, visto que em cada nível estudado (18-30 meses), tanto pais como crianças maiores adaptaram sua comunicação às crianças menores. Pesquisas voltadas à mudança, nas condições de input, têm demonstrado a necessidade de que haja qualidade e quantidade mínima de input em uma determinada língua, para que ocorra sustentação do potencial de uso ativo desta, seja em crianças monolígües ou bilíngües. Há constatação de que o uso ativo em uma das línguas diminui, em conseqüência da falta temporária ou diminuição do input das mesmas ou, em contrapartida, que o uso ativo e o nível destas mesmas línguas aumentam em função do aumento do input em uma das línguas mencionadas (GENESEE, 2002). @ Tendo como referência o texto lido será proposto aos participantes que se dividam em grupos de quatro pessoas e procurem relacionar os aspectos (15) que se apresentam grifados, no texto, ao contexto educacional da criança surda. (Cada grupo ficará responsável por cinco dos itens grifados, o que será determinado por sorteio. Após discussão em grupo, serão colocados em plenária os aspectos levantados em cada um dos grupos). a) Elaborar um texto Sobre Bilingüismo relacionando os conhecimentos obtidos na discussão do texto aos conhecimentos até aqui investigados sobre a educação do surdo. No texto deve constar: - conseqüências do preconceito ao bilingüismo no desenvolvimento lingüístico da criança; - melhor época para exposição a L2; 60 - periodicidade e forma de exposição às duas línguas; - que benefício trará ao seu desenvolvimento; - o grau de separação ideal entre línguas no input; - o que deve determinar o padrão do input; - qualidade e quantidade mínima de input. A avaliação se dará através da observação das atitudes dos participantes dos grupos. Leia com atenção o texto a seguir, observando os aspectos grifados, os quais servirão de base para realizar a atividade proposta ao final do mesmo: A Aquisição Bilíngüe em Crianças Surdas17 Pesquisas desenvolvidas na Suécia e Inglaterra, a partir da década de setenta, apontaram para o uso dos sinais independentemente da língua oral, surgindo daí a filosofia Bilíngüe. Esta vem ganhando adeptos de forma progressiva, o que ocorreu mais efetivamente na década de noventa (GOLDFELD, 1997). Bellugi et al (2002) e Behares (1993) focalizam, em suas pesquisas sobre aquisição de linguagem, que a gestualidade faz parte do processo natural de aquisição tanto de crianças surdas como ouvintes. Nas crianças surdas, entretanto, filhas de pais surdos, os gestos se convertem em produção combinatória de símbolos, em decorrência da experiência com a linguagem de sinais. Processo de aquisição equivalente ao que ocorre com a fala na criança ouvinte. Tendo como referência os achados de Stokoe (1960), lingüista americano, o qual deu o início aos estudos sobre a Língua Americana de Sinais, destaca-se que muitas foram às pesquisas que demonstraram que os sinais são regidos por regras estabelecidas socialmente (BEHARES, 1993; BRITO, 1993). Tal constatação revela que não se trata de mímica ou gesto natural e, como qualquer língua, o aprendizado 17 Texto elaborado por Rute Oliveira do Bomfim. 61 depende da inserção na comunidade de usuários e da dinâmica das relações sociais. Grosjean (2000) focaliza que para o surdo o bilingüismo refere-se à condição de utilizar recursos de duas línguas, mesmo que não de forma plena em cada uma, podendo ser usada de forma tanto seqüencial quanto simultânea. Ao surdo, não se tem atribuído a condição de ser bilíngüe, devido a não se atribuir à língua de sinais à mesma condição das línguas faladas, as quais são denominadas de forma imprópria como mímica ou linguagem dos gestos. Ao abordar sobre bilingüismo e educação bilíngüe, Skliar (1997) salienta que a criança surda filha de pais surdos pertence a uma comunidade lingüística de modo real, e apenas de forma potencial quando relacionada a filhos surdos de pais ouvintes, visto que esta comunidade é minoritária quando comparada à ouvinte, possuindo uma linguagem específica e modo de funcionamento sócio-cultural e cognitivos diferentes. Na visão de Goldfeld (1997) e Skliar (2000), os surdos adultos têm papel fundamental na educação bilíngüe, considerando serem eles o modelo lingüístico oportuno para a aquisição da língua de sinais. Quadros (1997, p. 27), conceitua bilingüismo como “uma proposta de ensino utilizada por escolas que se propõem tornar acessível à criança surda duas línguas no contexto escolar.” Observando que Skliar et al (2000) referem-se a um conceito mais geral de bilingüismo, baseado no reconhecimento da língua de sinais que é garantido pela identificação dos surdos enquanto pessoas surdas e sua comunidade lingüística. Atualmente, busca-se a independência da língua de sinais e a organização de um projeto educacional que amplie a experiência psico-social e lingüística da criança surda, respeitando-a em sua diferença. Tendo em mente que a aquisição de uma língua natural, como mostram Skliar (1997), Skliar (2000), Quadros (1997), é uma necessidade psicolingüística, e sendo a língua de sinais adquirida de forma natural pelo surdo em contato com pessoas que fazem uso dela, e que a língua oral requer 62 uma sistematização de ensino, compreende-se que os surdos têm direito de serem instruídos em Língua de Sinais. Quadros (1997), ao argumentar sobre a necessidade psicolingüística de um projeto bilíngüe, baseia-se na concepção da Gramática Universal de Chomsky (1987), que considera haver uma faculdade inata da linguagem, composta por propriedades lingüísticas universais, encontradas em todos os seres humanos. É acionada por experiência lingüística positiva visível a criança. Assim a criança surda precisa ter acesso à língua de sinais o mais precoce possível, a fim de ativar naturalmente este dispositivo. Afirmando ainda, que não é a língua oral a forma natural de ativar este dispositivo tendo em vista a alteração auditiva da criança. Outro aspecto destacado por Quadros (1997), quanto ao bilingüismo na proposta educacional, diz respeito à necessidade de se atentar às duas culturas em que a criança surda está inserida - cultura ouvinte e cultura surda - e sugere ser impossível que a proposta seja simplesmente bilíngüe, devendo também ser bicultural, buscando favorecer acesso rápido e natural à comunidade ouvinte e identificação com a parte da comunidade surda. Góes (1999, p. 38) ressalta a importância de levar em conta o aspecto psicosocial ao afirmar que: “a criança (surda) nasce imersa em relações sociais que se dão na linguagem. O modo e as possibilidades dessa imersão são cruciais na surdez.” Salienta que o acesso à linguagem oral está sujeito aos recursos auditivos, principalmente na surdez congênita ou prematura, que limitam o acesso à linguagem falada. A criança surda, portanto, requer acesso à língua de sinais visando circunstâncias mais favoráveis à ampliação das inter-relações pessoais que organizam o funcionamento cognitivo e afetivo e criam as bases da subjetividade. Tal afirmação indica a necessidade de se buscarem estratégias de interação que possibilitem o acesso satisfatório a ambas-língua de sinais e oral. Quadros (1997), observa que, embora existam escolas que façam uso da língua de sinais, estas não garantem que deixe de haver dificuldade em relação ao acesso a língua oral, ou seja, embora o domínio da L1 (língua de sinais) seja indispensável à 63 aprendizagem da L2 (língua oral), isto não garante que a aquisição de L2 se estabeleça. Mais do que isto, Gesueli (1998), coloca a dificuldade de se consolidar a condição bilíngüe das crianças surdas, pois a grande maioria dos professores ouvintes não faz uso efetivo da LIBRAS, que possibilita a existência de uma língua partilhada. E os instrutores surdos,18 por não elaborarem sobre questões lingüísticas e educativas, e ainda, sofrerem influência de uma concepção estruturalista da linguagem, pela qual passaram todos envolvidos com a educação do surdo transferem aos alunos o modelo de ensino de língua , baseado na proposta oralista. Souza e Góes19, citados em Gesueli (1998, p. 145), constatam em seus estudos que “o discurso dos instrutores surdos contém vários ecos da abordagem oralista, o que poderia ser interpretado como impedimento importante para uma proposta bilíngüe”. Porém, há indicadores de que a introdução destes em “nova ordem discursiva” pode realizar-se na interlocução com ouvintes. Gesueli (1998) relaciona alguns aspectos que são enfatizados pelo instrutor surdo na interação com a criança surda, entre os quais: focar o ensino de itens lexicais em sinais, relacionando-os a palavras do português ou a gravuras, o que equipara a compreensão lingüística à identificação de significados; preocupar-se com o ensino do português; e ainda, preocupar-se com a ampliação e o uso correto do vocabulário. Têm como referência que essas aprendizagens sejam pré-requisitos para que ocorra a interlocução. Ressalta ainda, que ao instrutor tem sido atribuído papel contraditório: “de ser ‘professor’ da Língua de Sinais, porém sem assumir uma ‘abordagem professoral’ e propiciando uma ‘vivência natural’ do uso dessa língua” (GESUELI, 1998, p. 147). Brito (1993, p. 57) afirma que o Bilingüismo vai favorecer ao surdo uma opção 18 Instrutor surdo, denominação dada ao adulto surdo que atua na instituição especializada de atendimento ao surdo, ou escola especial. 19 SOUZA, R.M. e GÓES, M.C.R. O instrutor surdo e seu objeto de trabalho: construções discursivas no interjogo surdo-ouvinte. In: Para além do silêncio. Revista da Associação Portuguesa de Professores e Técnicos de Reabilitação de crianças e jovens surdos. Ano IV, n. 5 e 6 p. 4-8, Lisboa, 1996. 64 eficaz para "representação lingüística interna", visto que a aprendizagem da língua de sinais é mais rápida para ele do que a linguagem oral. Citando Conrad20 o qual afirma que a obstinação exclusiva na aprendizagem da linguagem oral, em idade precoce, pode ter como conseqüência à falta do desenvolvimento de input lingüístico, fato que pode trazer risco neurológico à criança surda. Brito (1993, p. 68), ao abordar sobre a necessidade da linguagem de sinais para os surdos, analisa que a aquisição de uma língua gestual-visual, tem para a criança surda à mesma função para o desenvolvimento quanto a aquisição da língua falada pela criança ouvinte desde a mais tenra idade, já que funciona como "suporte do pensamento como meio de comunicação e é através dela que o surdo pode fazer ‘a leitura do mundo’ nos termos de Paulo Freire (1991)." Brito (1993) e Goldfeld (1997) afirmam que, para que uma criança tenha desenvolvimento cognitivo normal, precisa ter um suporte lingüístico para o pensamento. Isso depende, necessariamente, da aprendizagem de uma língua natural, na mais tenra idade, sendo natural, também, a aquisição da língua de sinais pela criança surda a qual pode ter total domínio. Torna-se indispensável que a criança surda tenha acesso a esta língua, na primeira fase de sua vida. Brito (1993) argumenta que a tendência mais atual para a integração psicosocial e educacional do surdo têm sido o Bilingüismo, através do uso de Linguagem de Sinais e oral em suas especificidades, em situações diferentes, como sendo condição indispensável ao seu desenvolvimento. Constata, também, que a L1 do surdo brasileiro é a LIBRAS e a L2, é o Português, mesmo que ele tenha sido primeiramente exposto ao Português falado e, ao terem acesso a LIBRAS, acabam por dominá-la melhor que o Português. Sugere que a criança surda deve ser exposta a LIBRAS o mais precoce possível, e que pais ouvintes de filhos surdos devem aprender Língua de Sinais bem cedo, assim como os responsáveis pelo processo educacional. 20 CONRAD, R. The Deaf School Child. Londres: Harper and Row, 1979. 65 @ Após leitura relacione os aspectos a serem observados na educação bilíngüe do surdo, tendo como referência os aspectos grifados no texto e na seqüência elabore um novo texto que sintetize as idéias principais dos dois textos lidos, estabelecendo relação entre aspectos comuns aos dois textos e sua importância para implementação de educação bilíngüe para a criança surda. Para avaliação deste texto será elaborada Rubrica na qual se verificará: Entendimento conceitual; Pensamento crítico e; Habilidades de comunicação. a) Será planejado com os participantes visita a uma Associação de Surdos, na qual deverão entrevistar cinco pessoas surdas adultas, para colher dados sobre bilingüismo e situação educacional do surdo. (Não esquecer de colher dados quanto à idade, escolaridade, profissão, língua dominante, e outros fatores a serem elaborados a partir do “Organizador Gráfico KWL”. Será disponibilizado interprete caso o surdo só se comunique em sinais). Antes da visita os participantes deverão preencher o “Organizador Gráfico KWL” Organizador Gráfico KWL O que eu já sei sobre o bilingüismo e educação voltado ao surdo? O que eu quero/preciso saber sobre o bilingüismo e educação no atendimento ao surdo na atualidade? O que aprendi após as atividades? - Após preenchimento das duas primeiras colunas analisar, com a turma, as 66 informações obtidas com o preenchimento das duas colunas; - Elaboração do roteiro de entrevista, para ampliar conhecimento a respeito da visão do surdo sobre o bilingüismo; - Orientações sobre o encaminhamento da entrevista. Após a visita as informações coletadas serão analisadas em grupo e organizadas na forma de um resumo coletivo e será introduzida a nova unidade, a partir das necessidades verificadas até aqui. § Nesta unidade o grupo de professores deverá focar e refletir sobre o principio da EAM referente à Transcendência no Quadro (7) e os Princípios de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo relacionados no Quadro (8) a seguir. As atividades a serem desenvolvida com o grupo de crianças em que o professor atua referem-se as “Relações: Espacial e Temporal”. Tendo em vista que a falta de conceitos e sistemas de referência espaço temporais levam a deficiências na representação, projeção e conceitualização do modo em que os objetos e eventos se relacionam entre si, quanto a sua direção, ordem, seqüência e proximidade e que a utilização destes conceitos transcende a identificação e o reconhecimento de objetos e eventos como fenômenos isolados e únicos no “aqui e agora”, segundo Feuerstein (s/d). O trabalho a ser desenvolvido com o grupo de alunos tem como objetivo ampliar seus conceitos de espaço e tempo, a partir de situações significativas, em atividades com calendário, linha do tempo, agenda, plantas baixas, comparação de espaços através de imagens, maquetes, mapas, estados do tempo, orientação no espaço próximo e distante, organização de diferentes espaços, contação de histórias, programação de eventos, notícias. Sempre levando em consideração a idade e conhecimento das crianças participantes. Ao desenvolver atividade relativa ao espaço temporal é importante que o 67 professor possibilite a criança informações que correspondam ao seu nível de desenvolvimento, no entanto que não restrinja os meios de acesso a essas informações. Por exemplo, ao trabalhar noção de antes e depois, parta das situações de sala de aula, da própria organização das atividades, amplie para as vivências do dia-a-dia da criança e utilize o relógio, que deve estar na sala de aula, possibilitando modelo de referência de qual é o instrumento no qual o adulto busca as informações relacionadas ao tempo. Da mesma forma, ao trabalhar conceitos relacionados à ontem, hoje e amanhã, semana, mês e ano, é importante ter presente o calendário completo, ao qual a criança tenha acesso, no qual sejam registradas junto com o grupo, informações sobre as datas importantes, datas de aniversário de todos, programação da semana ou do mês, utilizando a linguagem de forma contextualizada e não restritiva. No caso de alunos surdos é importante expressar em Libras as informações utilizando os conceitos generalizadores. Programar com o grupo de crianças uma visita à quadra e as dependências da escola e depois fazer uma maquete da escola com sucatas, nomeando cada espaço através da escrita. Ao programar uma visita ao zoológico, trabalhar antecipadamente cada etapa da atividade com o grupo, referindo-se a localização do zoológico na cidade, meio de transporte para ida, lanche e horário que vai ser servido, horário de saída, e horário de chegada, brincar com miniaturas de animais que provavelmente vão conhecer. Localizar no mapa da cidade (providenciar um mapa da cidade bem grande) o bairro onde fica o zoológico e onde fica a escola e a casa de cada uma das crianças. @ Após desenvolver trabalho com o grupo, responda às questões dos Quadros 10, 11 e 12 a seguir, nos quais se encontram os princípios da EAM e Aquisição de Linguagem e Biliguismo referentes a esta unidade. Em seguida, compare suas respostas atuais com as respostas dadas nos quadros 1, 2 e 3. 68 QUADRO 10 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001 III – Transcendência Extraindo e generalizando princípios: Você ajuda o aluno a extrair elementos essenciais da atividade, e formula regras e princípios generalizados? Conectando circunstâncias futuras: Você indica como certos elementos da atividade podem servir em atividades futuras? Promovendo antecipação: Você expõe freqüentemente o seu aluno a situações que requerem antecipação e os ajuda a formular hipóteses? IV – Mediação do Sentimento de Competência Analisando o processo mental: Você ajuda o aluno a analisar o processo mental, enfatizando comportamentos apropriados e execução bem sucedida ou vitoriosa? Sempre Às Vezes Esporádico Responda algumas questões que se referem aos princípios de aquisição de linguagem e bilingüismo: QUADRO11 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Princípios de Aquisição de Linguagem Em sua prática, você adapta sua comunicação a da criança e propicia interação dialógica? Em sua prática, você vê a linguagem como um processo em evolução contínua que se estabelece na interação? Em sua prática, você procura desenvolver motivação subjetiva no encaminhamento da atividade? Sempre Às Vezes Esporádico Houve mudanças em sua prática? Caso a resposta seja sim enumere pelo menos cinco fatores que possam ter interferido nesta mudança. Responda algumas questões que se referem aos comportamentos da criança em interação: QUADRO12 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamento das crianças Sempre Às Vezes Esporádico Seus alunos demonstram dúvidas em algumas situações? Seus alunos levantam hipóteses pertinentes diante de mudanças no ambiente? Seus alunos procuram se fazer entender, quando alguém não compreende o que eles dizem? Seus alunos utilizam a linguagem de forma eficiente para sua idade? Você observou algum tipo de mudança no comportamento das crianças, após intervenção? Se houve relacione pelo menos três fatores de mudança que voce considerou positivos, por que? 69 UNIDADE 4: APROFUNDANDO CONHECIMENTOS Proposta educacional para Crianças Surdas Como foi visto até aqui, são muitas as questões que envolvem o campo da surdez, filosofias que permeiam a prática educativa (oralismo, bilingüismo), a dificuldade de comunicação e relacionamento interpessoal, preocupação em investigar a forma de comunicação, a língua, a cultura, a aquisição da língua oral ou gestual, o bilingüismo, o processo educacional, dificuldade de acesso à leitura e escrita, o atraso na escolaridade, sendo que, os estudos a maior parte das vezes volta-se a crianças maiores, adolescentes e adultos. Constatou-se que a grande maioria da população surda, nasce em lares de pais “ouvintes”, os quais nunca tiveram contato com surdo antes, o que traz conseqüências ao desenvolvimento global dessas crianças, e dificulta acesso à língua e a linguagem e a todos os recursos que advêm destas capacidades. Verificou-se que o desenvolvimento de uma língua natural, no “período próprio”, ou seja, na mais tenra idade, é fundamental ao desenvolvimento cognitivo normal da criança, pois é suporte para o pensamento. No caso da criança surda, a aquisição da Língua de Sinais a qual pode ter total domínio, desde que tenha convivência com sinalizadores fluentes. A compreensão de que a criança surda em sua maioria convive em duas culturas a surda e a ouvinte, e pesquisas que demonstram que a exposição precoce, regular e contínua a mais de uma língua favorece o desenvolvimento bilíngüe, e que a primeira língua deve ser a de sinais e a segunda o português. São evidentes os avanços da Neuropsicologia ao demonstrar a importância do período critico no desenvolvimento infantil e a alta plasticidade cerebral nos primeiros anos de vida, o que indica os benefícios que as crianças alcançam ao serem atendidas no “tempo correto”, ou seja, sem atrasos, o que garante o melhor aproveitamento de sua potencialidade. 70 Mas, para que se possam compreender as necessidades educacionais do surdo, tornam-se importante buscar diferentes pesquisas relacionadas ao tema e desenvolver uma análise sobre as mesmas, buscando referências para uma proposta baseada em evidências. Para que isto ocorra, vamos acessar alguns textos relacionados à educação do surdo. Com este fim vamos acessar o artigo “Educação e surdez: o papel do ensino na visão de professores” de Ana Dorziat, o qual é um recorte de sua tese de doutorado21: Introdução Leia o texto a seguir: Dorziat (2008) constata as imensas dificuldades que as escolas que atendem alunos surdos encontram para tornar-se espaço no qual se priorize o ensino e a aprendizagem. Tal fato decorre de uma visão “clínico-reabilitadora”, na qual considera-se o surdo como portador de uma patologia, o qual para ter alguma possibilidade de participação na sociedade deveria desenvolver a oralidade. Diante de tal fato, não eram consideradas discussões que focassem aspectos pedagógicos relacionados às questões “para quem ensinar; onde ensinar; o que ensinar; como ensinar; quando ensinar; para que ensinar”. A autora refere-se ainda, a sua experiência profissional com alunos surdos, centrada nesta concepção, a qual é conhecida hoje, como oralista, que durante muito tempo ao trabalhar com crianças surdas e ao ministrar aulas nos cursos de formação de professores de surdos tinha como referencia esta concepção. Embora considerasse a proposta mais adequada para o surdo, ao deparar-se com a prática “experimentava um constante sentimento de insatisfação”, em decorrência do baixo desempenho acadêmico dos alunos “em noções básicas como ler, escrever e contar, sem falar no desenvolvimento da habilidade mais exigida: falar oralmente”. 21 Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2154/1806. 71 Dorziat (2008) observa que com a chegada da Comunicação Total, abre-se novas possibilidades de avanços na escolaridade dos surdos. Embora constatasse evolução satisfatória na comunicação, como outros pesquisadores, observava poucos avanços quanto à aquisição da leitura e da escrita, constatava-se cada vez mais que a prática baseada nesta concepção não passava de “uma forma travestida de Oralismo”. Diante das críticas a Comunicação Total, surge a concepção bilíngüe que sugeria, na essência, “o uso da língua de sinais na sua forma genuína, como primeira língua, e a aprendizagem da língua majoritária ou oficial (no caso do Brasil, a língua portuguesa), como segunda língua”. Inicialmente priorizou-se o aspecto lingüístico ao se explicar sobre a importância do Bilingüismo. Com o passar do tempo constatou-se que mudar de uma “metodologia/filosofia oralista para uma visão bilíngüe não constitui tarefa simples. Subjacente ao uso da língua de sinais, há um novo modo de conceber a surdez e suas implicações sociais”. Na concepção Bilíngüe, deixa de ser dado ênfase à necessidade de “urgência em prover o surdo da expressão oral e/ou gestos artificiais (Português Sinalizado), como critério básico para seu desenvolvimento cognitivo”. O que não indicava diminuição da importância da linguagem. Ao contrário, ela deixa de ser vista somente como articulação oral e/ou gestual mecânica, “para ser considerada meio de apreensão e expressão, por meio do qual as pessoas apropriam-se do mundo tal qual ele se lhes apresenta” (DORZIAT, 2008). A autora conclui ser necessário considerar as implicações educacionais da surdez, “superando o momento atual, em que a atenção de muitos profissionais envolvidos no ensino de surdos, numa perspectiva bilíngüe, tem ficado restrita aos componentes lingüísticos de forma isolada”. Não considerando a totalidade do fenômeno, o que tem determinado o uso de posturas pedagógicas diversas que acabam ocorrendo no processo pedagógico, de forma não crítica, “reproduzindo no cotidiano de sala de aula estratégias consideradas eficazes no ensino de pessoas ouvintes ou mesmo práticas adaptadas aos surdos, sem uma base epistemológica 72 que dê sentido às ações” (DORZIAT, 2008). @ Agora responda: - Quais abordagens educacionais a autora vivenciou? Justifique. - Que aspectos devem mudar para que o processo educacional atenda as expectativas da autora? O texto que segue refere-se ao artigo elaborado pela professora Shirley Vilhalva, que é surda, e aborda aspectos relacionados a “Pedagogia Surda”.22 VILHALVA (2008) considera que se deve considerar as características do surdo entender o mundo ao se relacionar com ele: A transmissão da mensagem deve ressaltar ao fundamento sem se perder nos particulares. O aluno Surdo não está treinado a elucubrar, isto é, ele não exprime idéia de: lugar onde está; tempo que algo sucedeu ou em que faz alguma coisa; modo de ser; estado; sentido ou sentimento, o destino ou o fim de uma ação quando o professor está falando como na percepção racionalizada pelo professor, mas sim intuir (deduzir ou concluir por intuição, ato de ver, perceber, discernir, percepção clara e imediata, pressentimento pelas ações que capta do professor). Por isso a mensagem deve acontecer através da apresentação de um fato conhecido. A autora refere ainda que é importante conhecer e compreender a forma de pensar “em uma visão abstrata”. E ainda pontua ser fundamental o cuidado ao se comunicar uma mensagem, “evitando impor ou forçar a consciência de ouvinte com um surdo” (VILHALVA, 2008). Ressalta também, a importância de que o professor evite ocupar todo o tempo da aula explicando aos alunos, “não dando tempo para o aluno elaborar, construir o que esta sendo exposto. É preciso entender que a mesma quantidade de tempo que o professor expõe sua aula deverá ser alternado com a participação dos alunos, colocando-se assim num plano de igualdade e respeito”. 22 # Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br/pdf/artigo8.pdf. 73 Leia o texto na integra, no endereço citado acima, e em seguida reflita sobre alguns aspectos: @ Responda: - O que é imprescindível ao professor que trabalha com surdo? Por quê? - O que a autora quer dizer no último parágrafo acima quanto ao , “não dar tempo de o aluno elaborar”? - Destaque dois aspectos que você percebeu como relevante no texto lido, justifique a escolha. Neste artigo Patrícia Farias Fantinel e Elaine Maria Rampelotto elaboram um artigo, no qual abordam sobre as “Contribuições de Fatores Sócio Interacionistas na Escrita de Surdos”23 Em seus estudos Fatinel & Rampelotto (2008) refere-se a oito fatores sóciointeracionistas que devem estar presentes em sala de aula, são eles: 1) A língua de sinais, visto que em um contexto sócio-interacionista, considera-se que para se ter domínio eficaz de uma segunda língua, no caso da escrita da língua portuguesa, é fundamental a aquisição normal de uma primeira, que no caso do surdo é a língua de sinais e que através das duas, ocorrerá um “desenvolvimento normal da linguagem”. 2) Outro aspecto sócio-interacionista importante no contexto de sala de aula é “conhecimento sistêmico, ou seja, é a interpretação semântica, ou seja, o leitor interpreta o significado das palavras diretamente da forma escrita (MOITA LOPES 1996: 140)”. Segundo as autoras Fatinel & Rampelotto (2008), quando da leitura ou produção de um texto o aluno precisa ter conhecimento anterior da língua estudada, para que o mesmo possa compreender ou criar “um texto de melhor qualidade pois ao, dominar este tipo de conhecimento, as pessoas são capazes, por um lado, de 23 # Disponível em: http://coralx.ufsm.br/revce/ceesp/2000/01/a4.htm. 74 construir seus textos orais ou escritos, a partir de escolhas gramaticalmente adequadas e, por outro lado, de compreender enunciados se apoiando no nível sistêmico da língua (FREIRE, 1998: 48)”. O que não quer dizer que o aluno precisa ter “o domínio metalingüístico da língua portuguesa. Segundo Numam apud Quadros, “a gramática existe para que os indivíduos sejam capazes de comunicar as idéias, através da linguagem de forma mais elaborada e complexa” (1997: 89)”. 3) Um terceiro fator importante na prática sócio-interacionista é “o conhecimento de organização textual”. “Esse conhecimento de organização textual é definido como "a organização de diferentes tipos de textos, sejam eles escritos ou orais (narrativas, descrições, entrevistas, cartas, etc.)" (LOPES apud FREIRE, 1998: 48)”. 4) Outro fator é “o conhecimento de mundo (o conhecimento convencional que as pessoas têm sobre as coisas do mundo de aprendizagem armazenado na memória, em blocos de informação” (MOITA LOPES apud FREIRE, 1998: 48))”. O que o aluno conhece em relação ao mundo auxilia na compreensão e interpretação quando da produção ou leitura de um texto, na medida em que, “o significado constrói-se pelo esforço de interpretação do leitor ou escritor, a partir não só do que está escrito, mas da soma de todas as suas vivências anteriores” (FATINEL & RAMPELOTTO, 2008). 5) Fatinel & Rampelotto (2008) referem ainda um quinto fator, as práticas sociais, uma vez que na atualidade, muitos autores consideram que, ao se propor atividades relacionadas ao meio social “em uma prática de aprendizagem de segunda língua”, a mesma servirá como base de referência para ampliar “o conhecimento letrado do aluno, principalmente para o aluno surdo, pois "é bastante difícil conversar com crianças surdas em português sobre assuntos não relacionados diretamente ao ambiente que a criança e o interlocutor se encontram" (GOLDEFELD, 1996: 67)”. 6) Consideram ainda, o “instrutor de língua de sinais”, como sendo fator que 75 contribui “com a aprendizagem da língua portuguesa na modalidade escrita”. Fatinel & Rampelotto (2008) observam que no que se refere a língua de sinais, o instrutor exerce função essencial como modelo lingüístico. O que é fundamental quando os alunos surdos “provêm de famílias ouvintes, onde não tem acesso a língua de sinais junto com adultos usuários experientes nesta língua. E nesse caso, muito provavelmente, o instrutor será a única referência”. 7) Fazem referencia também ao “professor e/ ou educador especial”, pois consideram que nas práticas educativas que envolvem alunos surdos, estes são fundamentais, para que alunos surdos desenvolvam aprendizagem da língua portuguesa na modalidade escrita “desde que ele tenha, além da formação pedagógica, a formação para tornar-se bilíngüe (LIBRAS e língua portuguesa)" (QUADROS, 1997: 117)”. Além de conhecer a língua de sinais, este professor especial “deve ter claro que a escrita é uma segunda língua para o aluno surdo, a fim de que não caia no erro, como a maioria dos profissionais, de dizer que os textos escritos, por exemplo, de um aprendiz de segunda língua, são errados e confusos” (FATINEL & RAMPELOTTO, 2008). 8) Colocam como último fator, “os recursos visuais”, devido à pessoa surda acessar informações em geral através da visão. Turra (1982) apud Fatinel & Rampelotto (2008) considera vantajoso a presença de recursos visuais na sala de aula pois: “Trazem o valor da vida real à aprendizagem que se realiza na escola; reduzem o nível de abstração, indicam o trabalho funcional da escola; abrem dupla via de comunicação entre a escola e a comunidade; ajudam o aluno a avaliar o que o mundo espera dele, constituem nova e ricas fontes de motivação (TURRA, 1982: 164)”. Fatinel & Rampelotto (2008) observam ainda que quanto aos alunos surdos, “os recursos visuais que lhe são oferecidos servem para, além de fixar os conteúdos e os vocábulos novos, trazerem, através da visão, um maior contato com o mundo desconhecido; conseqüentemente, este sujeito pode ampliar o seu conhecimento de 76 mundo”. @ Responda: - Dos oito princípios apresentados, destaque três que no seu entender são indispensáveis no processo educacional do surdo. Por quê? a) Elabore um texto de no mínimo 15 linhas, focalizando os pontos principais dos textos de Dorziat, Vilhalva e Fantinel & Rampelotto, inclua referência ao bilingüismo, semelhanças e diferenças entre as colocações das autoras. # Para mais informações relativas à educação do surdo acesse ainda: http://www.libras.ufsc.br/hiperlab/avalibras/moodle/prelogin/adl/fb/logs/Arq uivos/texto/fundamentos/Fundamentos%20da%20Educa%E7%E3o%20d e%20Surdos_Texto-Base.pdf. Fundamentos da Educação de Surdos (2006)24 § Nesta unidade vamos focar e refletir sobre os princípios de Mediação de Sentimento de Competência do Quadro (9) e em dois dos princípios de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo do Quadro (10) e sua importância no desenvolvimento das funções cognitivas da criança. Os participantes do grupo, deverão desenvolver atividades com o grupo de crianças em que trabalha, tendo como referência às questões relacionadas a cada principio, para este fim, utilizaremos como fio condutor aspectos relativos a “Identidade e Diversidade”, considerando sempre o conhecimento prévio de cada criança e sua faixa etária. 24 Gladis Perlin e Karin Strobel / ISBN: 85-60522-02-6. 77 Identidade e Diversidade A identidade se estabelece através das relações da criança com o meio social em que vive. Na escola de Educação Infantil a criança tem acesso a um contexto social novo, o que possibilita novas interações, aumentando seus conhecimentos em relação a si e aos outros. Na medida em que ela constrói sua auto-imagem através das interações que estabelece nos grupos que convive, é importante que tenha acesso a um meio rico em interações, que fomente as particularidades de cada componente, que favoreça o reconhecimento das diferenças, aceitando-as e respeitando-as, o que contribui para a harmonia do grupo, possibilita a estruturação da identidade e também uma boa percepção de si. Como focalizado na Unidade 1, as questões relativas à diversidade permeiam todo processo do trabalho pedagógico do professor no dia-dia, o que se pretende na presente Unidade é favorecer momentos de reflexão relacionados a características pessoais que nos faz indivíduos únicos. Nesta Unidade a criança terá a oportunidade de ampliar os conhecimentos propostos para a Unidade 1, refletindo sobre os aspectos que constituem sua identidade a partir de fotos, desenhos, identificação entre si próprio e os colegas, cuidado de si e do outro, desenvolver atividade cooperativa, desenvolver brincadeiras que envolvam imitação, conhecer sobre diversidade étnica da cultura brasileira através de filmes, histórias, entrevistas, interação com crianças com diferentes tipos de necessidades especiais, entrevistas, diversidade na composição de suas famílias, descendência, entre outros. @ Após desenvolver trabalho com o grupo, responda às questões dos Quadros 13, 14 e 15 a seguir, nos quais se encontram os princípios da EAM e Aquisição de Linguagem e Biliguismo referentes a esta unidade. Em seguida, compare suas respostas atuais com as respostas dadas nos quadros 1, 2 e 3. 78 QUADRO 13 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA DAVID SASSON, 2001 IV – Mediação para regulação e controle do comportamento Providenciando pré-requisitos: Você assegura a seus alunos que estejam adequadamente equipados para executar tarefas, bem sucedidas? Controlando a impulsividade: Você tem adiado a resposta dos alunos quando antecipam uma reação impulsiva prematura? Preparando a resposta da criança: Você encoraja a criança a responder, quando está realizando algo, e está pronta, e é capaz de realizar a tarefa com todos os seus requerimentos, ou como um todo? IV – Mediação do Sentimento de Competência Atribuindo valor e significado ao sucesso: Você proporciona interpretação e designa significado para execução competente da criança? Sempre Às Vezes Esporádico Responda algumas questões que se referem aos princípios de aquisição de linguagem e bilingüismo: QUADRO 14 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA NA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Em sua prática, você garante presença de ao menos uma língua nitidamente auto-referenciada? Em sua prática, você possibilita processo de interação criança-professor e criança-criança? Responda algumas questões que se referem aos comportamentos da criança em interação: QUADRO 15 - AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamentos da Criança Seus alunos costumam fazer perguntas? Seus alunos esperam a resposta estabelecendo uma relação dialógica? Seus alunos demonstram entende o que você lhes diz? Sempre Às Vezes Esporádico 79 UNIDADE 5: AMPLIANDO PERSPECTIVAS NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM Análise da prática do professor a partir dos princípios da EAM e aquisição de linguagem e Bilinguismo Nesta Unidade focalizaremos a análise de alguns fragmentos de duas aulas, uma ministrada por uma professora surda (Prof. L), responsável pelo ensino de Libras e a outra por uma professora ouvinte (Prof. PB), a qual era responsável por trabalhar com vistas ao desenvolvimento da fala e compreensão e desenvolvimento da língua portuguesa, com um grupo de crianças surdas com faixa etária entre quatro e cinco anos de idade, em um Centro de Reabilitação para surdos, na cidade de Curitiba. Para desenvolver essas aulas, as professoras tiveram como referencial teórico os princípios da EAM, baseados em Feuerstein e os de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo numa perspectiva Interacionista, após um período de estudos sistemáticos, propostos para verificar como os critérios de mediação da EAM e de aquisição da linguagem, podem interferir nas práticas educacionais em surdez, considerando a língua(gem) como foco de aprendizagem/aquisição25. Trata-se de um recorte da dissertação de mestrado da autora do presente trabalho, considerando-se que esta exposição refere-se ao segundo momento de sua pesquisa, na qual se estabeleceu uma análise comparativa entre a prática das professoras antes e depois de terem conhecimento sobre os princípios da EAM e de Aquisição de Linguagem e Bilinguismo (BOMFIM, 2002). Focalizaremos num primeiro momento uma aula de Libras, na qual a professora conta uma história “O Gato Agricultor”, para o grupo de crianças, 25 A partir do que consta na literatura de aquisição de linguagem, na qual há uma distinção entre aprendizagem e aquisição. No primeiro caso, haveria uma programação e estruturação mais formal e no segundo, ocorreria o surgimento ou maturação de habilidades lingüísticas de modo naturalístico (QUADROS, 1997). 80 inicialmente apresenta o livro, referindo-se aos personagens, solicitando delas informações sobre as atividades que desenvolviam, procurando relacionar algumas situações à vivência delas. Nesta aula, observou-se uma nova idéia quanto à forma como se adquire a linguagem, visto que a Prof. L desenvolveu conversação com as crianças sobre os elementos apresentados, e o vocabulário surgiu a partir de situações contextualizadas, como veremos a seguir, o que não ocorria ao início da pesquisa. Observou-se que a Prof. L desenvolveu a atividade, tendo em mente observar alguns parâmetros da EAM, discutidos no decorrer da pesquisa. As estratégias de intervenção favoreceram situações dialógicas. Isso foi apresentado através de análise de várias interações comunicativas vistas a seguir. Atividade Professora de LIBRAS Os números apresentados nas seqüências de interações e troca de turnos das crianças com suas professoras respeitarão a numeração que se apresenta no referido trabalho, para facilitar o acesso às mesmas, caso se busque o original (BOMFIM, 2002). Na seqüência 26 a professora conta à história em Libras, a partir do livro, o grupo de crianças esta sentado no chão em semicírculo a sua frente, todos atentos a ela. Seqüência 26 (254)26 – Prof. L. para Aron: 27 VOCÊ VIU, GATO DORMINDO, ACORDOU, SE ARRUMOU, FOI ANDANDO, ANDANDO, VIU VACA. PEGOU BALDE, COLOCOU, TIROU LEITE, TIROU LEITE. PEGOU BALDE, LEVOU, PÔS LEITE COPO, BEBEU LEITE. VOCÊ GOSTA DE 26 27 Números entre parênteses se referem a troca de turnos. Letra maiúscula no texto se refere à expressão em sinais, Libras. 81 LEITE, BEBER? (255) – Aron e Lia: (Prestam atenção a Prof.)28 (256) – Júlia: (Olha o livro.) (257) – Aron para Prof. L.: SIM (com a cabeça) (258) – Prof. L. para Lia: VOCÊ GOSTA BEBER LEITE GOSTA, CASA LÁ. LEITE BEBER. (259) – Lia: SIM (com a cabeça). (260) – Aron para Prof. L.: TIRAR LEITE, VACA EU CASA TEM. (261) – Prof. L.: VOCÊ CASA. VOCÊ PÕE NO COPO, MEXE TOMA LEITE. (262) – Aron: SIM (com a cabeça). (263) – Prof. L. para Júlia: VOCÊ, LEITE CASA BEBE LEITE. (264) – Júlia: (Olha Prof. L.) SIM (com a cabeça). (265) – Prof. L.: VOCÊS TRÊS, SIM. Observa-se no turno 254, que a Prof. L contou a história, retomando elementos introduzidos no decorrer da atividade e obteve reciprocidade por parte do grupo. As crianças foram inseridas, no contexto, quando a professora introduziu, “VOCÊ VIU”, ao iniciar a história, o que possibilitou que surgisse um contexto em que a narrativa da história foi feita sem a preocupação de “filtrar a linguagem” colocando as crianças no processo discursivo, evitando situação de controle e possibilitando o surgimento de estrutura frasal (turno 260) o que indicou no contexto da pesquisa, que estava ocorrendo explosão de vocabulário. Observa-se também, o indício do uso de pronomes para referente não presente, o que confirma o que Góes (1990) observa, aspectos como inflexibilidade conceitual–semântica e restrição de vocabulário, não são intrínsecos à surdez. A professora utilizou-se de diferentes estruturas frasais para questionar e estabelecer relação dialógica, o que possibilitou acesso a uma língua estruturada e o remeter-se a situações passadas. 28 Texto entre parênteses, comportamentos apresentados durante atividade. 82 No que se refere a EAM, pode-se observar que a professora transcende a situação de sala de aula referindo-se a situações que ocorrem em casa o que possibilitou com que uma das crianças pudesse informar algo relacionado a sua casa, turno (260). Observou-se ainda que a professora propiciou diferentes formas para referirse a situação da história o que possibilitou a inserção da língua em rotina significativa. Na seqüência 29, a Prof. L. continuou a desenvolver atividade com o livro de história e explorou os elementos e situações presentes na história. Seqüência 29 (215) – Aron: (Olha para Lia, toca o livro.) (216) – Lia: (Olha Aron.) (217) – Aron: ESSE VIRE. (218) – Prof. L.: (Chama a atenção de Lia.) (219) – Lia: (Olha.) (220) – Prof. L.: (Aponta no livro.) O QUÊ? (221) – Lia: (Olha para o livro, olha para a Prof. L.) O QUÊ? (222) – Aron: (Estende a mão até Lia.) ROUPA ABOTOAR (na roupa de Lia.) (223) – Prof. L.: ROUPA ABOTOAR. SIM (confirmando para Aron). (224) – Aron: ROUPA ABOTOAR. (Em si mesmo.) (225) – Prof. L.: (Dirige-se à Lia, aponta outra figura.) O QUE? (226) – Aron: (Olha para a Prof. L.) OVO? (227) – Prof. L.: (para Aron) OVO SIM. (228) – Aron: (Quer virar a página.) (229) – Lia: ESPERA, ESPERA. (230) – Prof. L.: (Aponta a figura no livro.) O QUE? POR QUE? (231) – Lia: (Olha Prof. L. expressão de dúvida.) NÃO SEI. (Volta-se para o livro.) 83 (232) – Prof. L.: O QUÊ? (233) – Lia: (Aponta o livro, vira a página.) (234) – Prof. L.: DESPEJANDO, VACA TIRA LEITE, COPO BEBENDO29. Nos turnos 215-219, Aron usou estratégia de tocar no livro para chamar a atenção da colega e estabelecer comunicação ao que foi atendido, tal recurso de comunicação já fora utilizado pela professora em outras situações, o que indica que a criança continua usando estratégias próprias da língua de sinais já utilizadas em seqüência anterior. Nos turnos 220, 225 e 230, a Prof. L. questionou Lia sobre os elementos da história; e Lia no turno 221 espelha a pergunta da professora; no turno 229, demonstrou que estava curiosa quanto à continuidade da interação ao pedir que Aron esperasse e no turno 231, Lia, expressou o fato de não saber a resposta; ao que, no turno 234 a Prof. L. explicitou a resposta. Pode-se perceber nessa seqüência, parâmetros de mediação relativos à regulação e controle do comportamento, no que se refere ao providenciar pré-requisitos; bem como, nos turnos 226 e 236, quando Aron se antecipou em responder, o professor atribuiu valor e sucesso pela execução da criança, favorecendo ampliação do sentimento de competência. Neste momento, foi constatado ainda, o uso da língua de forma a desenvolver motivação subjetiva no encaminhamento da atividade, uma vez que ocorre interação entre as crianças, turnos 215 a 217, e também da criança com o professor turnos 226 e 227. Outro aspecto observado nesta situação se refere à utilização, pela professora, de diferentes estruturas frasais para questionar e estabelecer relação dialógica, o que possibilitou ao grupo acesso a uma língua estruturada, turno 225 e 230, e também, o remeter-se a situações passadas, o que foi verificado na continuidade da atividade. 29 Traduzindo para o português “Coloca o leite no copo, e bebe”. 84 Na seqüência 27 observa-se uma situação no final da aula na qual a professora introduziu alguns animais domésticos e objetos presentes na história. Seqüência 27 (317) – Prof. L.: (Chama a atenção de Aron.) DÊ ELA VER. (318) – Lia: (Pega brinquedo) VER (sorrindo, observa pintinho). (319) – Prof. L.: (Aponta a mão Lia.) OVO, ABRE. (320) – Lia: (Abre o ovo.) (321) – Prof. L.: (Expressão de surpresa) PINTINHO. (322) – Júlia: (Dirige-se para o objeto na mão de Aron.) (323) – Aron: (Afasta-se.) (324) – Júlia: (Dirige-se para Lia.) DÊ. EU. (325) – Lia: (Afasta Júlia.) (326) – Júlia: (Olha a Prof. L. com expressão de choro, aponta Lia.) ELA (327) – Lia: (Continua a olhar ovo com pintinho.) (328) – Júlia: (Estende a mão para pegar.) (329) – Prof. L.: (Chama a atenção Lia, subindo e descendo a mão a sua frente) (330) – Lia: (Olha Prof. L.) (331) – Júlia: (Olha Prof. L.) (332) – Prof. L.: DÊ VER ELA. (333) – Júlia: (Olha Lia.) (334) – Aron: (Olha pintinho amarelo.) (335) – Prof. L. para Júlia: ESPERE ELA VER, ESPERE. (336) – Aron (dirigindo-se a Lia, usando mesma estratégia da professora para chamar atenção): DÊ ELA (aponta Júlia). (337) – Lia olha Aron: (Entrega o ovo com o pintinho para Júlia.) (338) – Júlia: (Pega o ovo, olha, abre, pega o pintinho.) (339) – Prof. L.: (Chama a atenção. Lia e Aron olham.) OVO GALINHA (pega 85 a galinha, aponta para o ovo) CHOCA (dramatiza) NASCE PINTINHO. (340) – Aron: (Pega o pintinho, mostra Prof. L.) (341) – Júlia: (Mostra o pintinho para Prof. L. Sorri.) (342) – Prof. L.: GALINHA, MÃE (aponta a galinha em sua mão). (343) – Aron: (Pega a galinha, dirige-se a Júlia, pede o ovo) DÊ. Constata-se que nos turnos 317–343, houve uma seqüência de interações nas quais ocorreram trocas dialógicas entre todos os elementos envolvidos na situação professor–criança e criança–criança. O que indicou que a aprendizagem foi vista como construção ativa e cooperativa entre os envolvidos. No que se referiu à aquisição de linguagem, ficou evidenciado que as crianças adquirem regras de comunicação na interação e colocam-nas em redes de relações nas quais podem assumir a posição de intérprete de si mesmo e do outro. Quanto aos critérios de mediação, constatou-se, nesta seqüência, que o professor criou situações que despertaram curiosidade do grupo, em relação ao ovo, turno 317, 219 e 321. Na seqüência deu significado ao objeto, vinculando-o à situação de reprodução, turnos 339 a 342, levando a uma atitude de reciprocidade do grupo como um todo, o que indicou presença de princípios da EAM relacionados à mediação da intencionalidade e reciprocidade, bem como do significado. Atividade Professora Língua Portuguesa Na continuidade verificaremos a atividade desenvolvida pela professora de português, a qual introduz através do brincar, conceitos relacionados aos animais selvagens, situação que antecedeu visita ao Zoológico pelo grupo de crianças. Estavam presentes, na situação, quatro crianças, as quais estavam sentadas no tapete em torno da Prof. PB, os materiais utilizados durante a atividade foram miniaturas de animais selvagens e de bonecos de adultos e crianças, e algumas 86 cercados. A aula foi desenvolvida em três momentos distintos, antes do recreio a Prof. PB conversou com as crianças sobre a atividade a ser desenvolvida quando retornassem do recreio; quando retornam a sala, no segundo momento, desenvolvese uma atividade na qual, professora e crianças colocam os animais em diferentes espaços, jaulas, classificando-os; e no terceiro momento, foram introduzidos bonecos em miniatura (mãe, pai, bebê, menino, menina e vovó) visitando o zoológico. A seguir, procurou-se analisar alguns momentos da atividade, buscando discutir os parâmetros de mediação da aprendizagem e de aquisição de linguagem, que estavam presentes na prática da Prof. PB. Na seqüência 31, a Prof. PB introduziu a atividade a ser desenvolvida após o recreio, dando a compreender já haver conversado com o grupo, em situação anterior, sobre as etapas a serem desenvolvidas naquele dia. Seqüência 31 (1) – Prof. PB.: (apontando para foto)30 [o que é isso aqui?] (2) – Aron: BRINCAR. (3) – Prof. PB.: (apontando para outra foto) [brincar acabar?] (4) – Aron: ZOO. (5) – Júlia: ZOO. (6) – Prof. PB.: [o zoo] ZOO (afirma com a cabeça) (7) – Aron: (diz) NÃO (para Júlia) (8) – Lia: (pega no queixo de Júlia e traz para si e sinaliza) OO (parte do sinal) (9) – Júlia: ZOOOO (o z apresentou alteração na configuração e articulação do movimento) Nos turnos 1 e 3 a Prof. PB preparou o grupo para atividades subseqüentes, ao apontar fotos dispostas no quadro, referentes ao encaminhamento das atividades 30 Fotos organizadas de forma a indicar as atividades a serem desenvolvidas no dia, antes e após o recreio. 87 a serem realizadas no dia. Depreende-se que havia intenção de inserir as crianças em um contexto interativo, visto que o grupo demonstrou ter conhecimento antecipado das atividades futuras. Isso denota inserções da língua em rotina significativa, o que possibilitou transcendência. Percebe-se que o grupo interage com a professora e, entre si, de forma dinâmica, observando-se, nos turnos 7 a 9, interação entre as crianças quanto à expressão correta do sinal referente ao zoológico, demonstrando estar levantando hipóteses relacionadas ao padrão correto de expressar, iniciando o processo de analisar propriedades da língua de sinais, embora a atividade estejas voltada para o ensino do português a prof. possibilita que o grupo interaja em sua própria língua, o que garante que o padrão de input garanta o uso da língua na rede social e individual da criança. Nas seqüências 32–34, observou-se situação na qual a professora demonstrou intenção de despertar a curiosidade do grupo. Seqüência 32 (61) – Prof. PB.: [põe o macaco lá] MACACO LÁ (aponta lugar) (62) – Aron: (pega uma peça, um leãozinho, sinaliza) DORMINDO SILÊNCIO. (63) – Prof. PB.: [dormindo olha!] (Pega a peça) (64) – Lia: (olha na mão da Prof. PB, sinaliza) SILÊNCIO (pega a peça mostra para Júlia) (65) – Júlia: (olha) DORMINDO. (66) – Lia: (com o leãozinho na mão, sinaliza) SILÊNCIO (faz carinho, coloca junto com outros leões) (67) – Lia: (volta-se para Prof. PB) SILÊNCIO. (68) – Prof. PB: [e a mamãe dele ...] MAMÃE (a mamãe cadê?] ONDE? (69) – Crianças procuram. (70) – Lia: (para Júlia) MAMÃE. 88 Nos turnos 61 – 70, a Prof. PB deu início à organização de um zoológico com as crianças, o que indicou a intenção do professor em inserir a língua em rotina significativa, respeitando a escolha do vocabulário pela criança no jogo interativo, uma vez que as emissões surgiram do grupo de forma espontânea. Quem introduziu esta seqüência foi uma das crianças, ao fazer comentário sobre um elemento encontrado por ele (turno 62) o que foi aproveitado pela professora, que cria uma situação de desequilíbrio pela expressão de admiração ao utilizar-se de recursos não-verbais; e, na continuidade, busca um novo elemento (turno 68), desencadeando atitude de reciprocidade no grupo que responde de forma contextualizada. Neste contexto estabeleceu-se relação dialógica, onde a língua surgiu como processo comunicativo e cognitivo no qual a criança opera (turnos 62, 64, 65, 67 e 70). Nesta seqüência, ainda foi criada pela professora a necessidade de que as crianças encontrassem a mãe do filhote de leão, o que só foi retomado no turno 154. Na seqüência 40, observou-se a condição de a professora conter sua impulsividade em dar respostas prontas, como ocorreu na sessão anterior aos estudos sobre EAM e Aquisição de Linguagem. Isso favoreceu ao professor selecionar, programar e organizar os estímulos, de forma que a criança alcance modificabilidade, o que se busca através dos princípios da EAM. Observa-se que a situação foi introduzida por Aron, que trouxe um elemento novo ao contexto e fez comentário sobre ele (turno 62). Na seqüência, a Prof. PB denotou a intenção de provocar a curiosidade do grupo a partir da expressão de admiração, levando o grupo a ter uma atitude de reciprocidade desencadeando emissões em LIBRAS vinculadas ao contexto (turnos 64-67). Na seqüência 36, a Prof. PB colocou ao grupo qual sua intenção de dar continuidade à sessão e sugeriu que os bonecos fossem passear no zoológico organizado por eles. 89 Seqüência 36 (527) – Prof. PB.: [agora eles vão passear no zôo]31 PASSEAR ZÔO. IGUAL VOCÊS SEXTA-FEIRA [igual a vocês na sexta-feira]. [Lia ó] (chama atenção frente ao rosto). [sexta-feira a gente vai passear no zôo] SEXTA-FEIRA ZÔO. IGUAL, [vamos passear?] (dirige-se a Lia) [você quer levar a mamãe?] (entrega a peça) (528) – Lia: (pega a boneca mãe) (529) – Prof. PB: (pega o bebê que estava perto de Lia) [vamos ver, vou passear com o bebê, vamos?] (põe o bebê no carrinho) (530) – Lia: (tenta reagir, parece querer o bebê) (531) – Prof. PB: (passeia com o bebê) [olha bebê o leão] LEÃO. (532) – Prof. PB: (dirige-se a Aron) [leva, leva passear]. (533) – Prof. PB: (pega o boneco e ameaça coloca-lo dentro da jaula dos leões) [pode entrar lá dentro?]. (534) – Lia: (olha, diz) NÃO (com a cabeça). (535) – Aron: NÃO (com veemência) (536) – Lia: NÃO. (537) – Aron: (tira a mão da Prof. de dentro da jaula) (538) – Lia: (pega o carrinho de bebê) (539) – Prof. PB.: POR QUE NÃO? [por que não?]. (540) – Aron toca Prof.: NÃO, LEÃO. (541) – Prof. PB.: [porque o leão morde o bebê, não pode] LEÃO MORDE, NÃO PODE. Neste momento (turno 527), a Prof. PB referiu-se ao passeio que iria ocorrer, o que demonstrou a intenção de transcender à situação presente, remetendo a uma situação futura, aspecto relacionado à transcendência. Na continuidade, houve uma situação em que a Prof. PB criou desequilíbrio 31 Texto entre colchetes se refere à fala, expressão oral. 90 ao levar o bebê até a jaula do leão ao que, as crianças reagiram imediatamente dizendo que não (turnos 523 – 537). Pode-se identificar que a professora fez uso do recurso da complementariedade ao perguntar "por que não?", a que uma das crianças responde, fazendo uso de dois sinais, (turno 540), evidenciando avanços na aquisição de linguagem, estágios de duas combinações. Na continuidade, a professora complementou expressando a frase como um todo, em Português e em LIBRAS. Na análise desta seqüência, pôde-se detectar ainda, presença de critérios da EAM e da aquisição da linguagem ocorrendo simultaneamente. Neste contexto observa-se que a professora expõe a criança à língua gestual e oral de forma natural, respeitando a forma de expressão das crianças, o que favorece interação dialógica. Na seqüência 40 a Prof. PB favoreceu situação em que foram introduzidos novos elementos, a partir do interesse das crianças, e providenciou pré-requisitos visando que as mesmas estivessem equipadas para alcançar o sucesso. Seqüência 40 (170) – Prof. PB: (aponta para a mão de Lia) (171) – Lia: (passa mão no chifre, distinguindo o rinoceronte) (172) – Prof. PB: [quem sabe qual é?] (173) – Júlia: (movimento de pinça em frente ao nariz) “RINOCERONTE” (um gesto natural). (174) – Prof. PB: [Aron sabe qual é esse aqui?] (175) – Aron: (olha, demonstra dúvida, faz movimento de pinça em frente ao nariz, igual a Julia, e imediatamente) RINOCERONTE (sinal próprio de Libras)32. (176) – Prof. PB: RINOCERONTE, [ah, Rinoceronte]. (177) – Júlia: RINOCERONTE. (178) – Lia: (com o rinoceronte na mão, faz menção de colocar com os leões, 32 O sinal próprio para Rinoceronte é: Mão em Y com a ponta do polegar tocando o nariz. 91 olha para a Prof. PB, pedindo aprovação, emite som) /ã/ (179) – Prof. PB: [junto leão não, o leão come ele] NÃO, LEÃO COME RINOCERONTE. Observa-se que nos turnos 170 e 172, a Prof. PB provocou uma situação de desequilíbrio, buscando nas crianças respostas sobre a identificação do animal que Lia tinha nas mãos (rinoceronte). Júlia respondeu, usando inicialmente sinal natural, no entanto, demonstrou estar em busca da forma correta de sinalizar, própria daquele animal, não se utilizando mais de supergeneralização, adaptando sua comunicação a da criança propiciando interação dialógica. Ao constatar a resposta de Júlia, a Prof. PB não atuou no sentido de desconsiderar sua resposta, mas voltou-se para Aron questionando, com intuito de confirmar a resposta. Aron iniciou a sinalização de forma semelhante à apresentada por Júlia, evidenciando expressão de dúvida e imediatamente utilizou sinal convencional, o que indica que foi favorecida situação para que o mesmo pudesse levantar hipótese sobre o sinal apropriado em Libras. Imediatamente a Prof. PB atribuiu valor e significado para a execução competente, favorecendo sentimento de competência, ao repetir o sinal e nomeá-lo oralmente. Nesse contexto, partiu-se do princípio de que a aprendizagem é uma construção cooperativa, que se construiu junto com a criança, e o Prof. PB teve o papel de facilitador, sendo a participação do outro, parte comum do processo de conhecimento. Nesta atividade constata-se que a professora encoraja os alunos a buscar significado, não da a resposta pronta e possibilita ao grupo levantar hipóteses. Na seqüência 43, no final da sessão observou-se uma interação dialógica entre Júlia e Lia, que brincavam. Seqüência 43 (587) – Prof. PB: (olha Lia e Júlia) 92 (588) – Júlia: (olha Lia) (589) – Lia: (dá tchau para o bebê, olha para Júlia) (590) – Júlia: DÁ EU DÁ. (591) – Lia: (leva carrinho com o bebê até Júlia e entrega a ela) TCHAU, TCHAU. (592) – Júlia: (pega carrinho, olha, coloca no chão) (593) – Aron: (continua a passear com o seu boneco) (594) – Lia: (acompanha o que Júlia faz) (595) – Rui: (olha Júlia) (596) – Júlia: (pega o carrinho com o bebê) TCHAU (entrega para Lia) Nesta seqüência, pode-se observar relação dialógica criança-criança, havendo reciprocidade, visto que as crianças iniciaram enunciados por conta própria, o que indica que o professor em sua prática propiciou o uso da língua na rede social e individual da criança. Observou-se nos turnos 587 a 596, que a Prof. PB passou a observar a interação do grupo, sem fazer interferências. Lia e Júlia desenvolveram uma brincadeira, na qual o imaginário estava presente. Pôde-se observar interação dialógica entre Lia e Julia, que através do brincar, expressaram de forma espontânea vários enunciados, o que indica que através do brincar surge a linguagem viva. Foi possível, também, inferir que, no contexto geral de interação, a professora procurou considerar princípios de Aquisição de Linguagem e da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM) e favoreceu a ampliação do quadro lingüístico das crianças. O que confirma a visão de Batkthin (1997) ao afirmar, que a enunciação só terá sentido no contexto social em que se insere. Bem como, a visão de Feuerstein (2002), ao salientar que, se o objetivo é desenvolver crianças hábeis a ter benefícios dos estímulos aos quais são expostas, tem-se que preparar o uso apropriado da mediação, de acordo com as condições destas, bem como atender a diversidade de 93 suas necessidades. @ Agora é a sua vez: Ao preencher estes quadros teremos um mapeamento dos aspectos que evoluíram, e daqueles que requerem ser observados quanto a cada aspecto focalizado. Preencha os Quadros abaixo, tendo como referência os resultados obtidos no decorrer dos estudos, para ter uma visão mais abrangente das mudanças que ocorreram ou não em sua prática QUADRO 16 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA REFLETINDO VÁRIOS ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM MEDIADA (DAVID SASSON, 2001) I – Intencionalidade e Reciprocidade Sempre Às Vezes Esporádico Despertando curiosidade: Você apresenta a atividade procurando deixar os alunos curiosos, motivados e na expectativa? Criando desequilíbrio: Você cria intencionalmente desequilíbrio (pela introdução de um absurdo, de uma contradição e incompatibilidade de dados) atraindo atenção dos alunos e os ajuda a criar necessidade para aprender? Propiciando exposição repetida: Você expõe o aluno diante dos mesmos estímulos repetidamente e dessa forma facilita a formação de hábitos? II –Mediação do Significado Sempre Às Vezes Esporádico Designando significado: Você tende a designar significados e valores para diferentes objetos, experiências e fenômenos além da significância inerente, intrínseca deles? Atribuindo significados afetivos: Você partilha com o aluno atitudes e sentimentos pessoais, frente a vários aspectos da vivência partilhada? Encorajando a busca de significado: Você encoraja o aluno a procurar significado, e pergunta a proposta e os valores de cada experiência dele? III – Transcendência Sempre Às Vezes Esporádico Extraindo e generalizando princípios: Você ajuda o aluno a extrair elementos essenciais da atividade, e formula regras e princípios generalizados? Conectando circunstâncias futuras: Você indica como certos elementos da atividade podem servir em atividades futuras? Promovendo antecipação: Você expõe freqüentemente o seu aluno a situações que requerem antecipação e os ajuda a formular hipóteses? IV – Mediação do Sentimento de Competência Sempre Às Vezes Esporádico Selecionando tarefas graduadas: Você assegura um equilíbrio ótimo entre familiaridade e novidade nas atividades e tarefas selecionadas para seus alunos? Analisando o processo mental: Você ajuda o aluno a analisar o processo mental, enfatizando comportamentos apropriados e execução bem sucedida ou vitoriosa? Atribuindo valor e significado ao sucesso: Você proporciona interpretação e designa significado para execução competente da criança? V – Mediação para regulação e controle do comportamento Sempre Às Vezes Esporádico Providenciando pré-requisitos: Você assegura a seus alunos que estejam adequadamente equipados para executar tarefas, bem sucedidas? Controlando a impulsividade: Você tem adiado a resposta dos alunos quando antecipam uma reação impulsiva prematura? Preparando a resposta da criança: Você encoraja a criança a responder, quando está realizando algo, e está pronta, e é capaz de realizar a tarefa com todos os seus requerimentos, ou como um todo? 94 1) Que princípios da EAM passaram a ocorrer com mais freqüência? 2) Quais princípios foram mais difíceis de estabelecer? Justifique. 3) Relate pelo menos três situações em que você pode perceber mudança em sua atitude frente ao aluno. Que conseqüências trouxeram? Verifiquemos como esta nossa visão sobre o processo de Aquisição de Linguagem e Bilingüismo, marcando em que aspectos houve ou não mudanças em sua prática. QUADRO 17 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS NA INTERAÇÃO PROFESSOR-CRIANÇA AQUISIÇÃO DE LINGAGEM E BILINGUISMO Princípios de Aquisição de Linguagem Sempre Às Vezes Esporádico Em sua prática, você vê a língua como uma manifestação dialética? Em sua prática, você utiliza o brinquedo e experiência concreta para desenvolver atividades lingüísticas com a criança? Em sua prática, você expõe de forma adequada e natural a criança à língua oral ou gestual? Em sua prática, você possibilita inserção da língua em rotina significativa? Em sua prática, você respeita a escolha do campo semântico pela criança evitando controle sobre vocabulário? Em sua prática, você garante que o padrão de input, no contexto escolar, propicie o uso da língua na rede social e individual da criança e não a dominância lingüística na qual a família viva? Em sua prática, você adapta sua comunicação a da criança e propicia interação dialógica? Em sua prática, você vê a linguagem como um processo em evolução contínua que se estabelece na interação? Em sua prática, você procura desenvolver motivação subjetiva no encaminhamento da atividade? Em sua prática, você garante presença de ao menos uma língua nitidamente auto-referenciada? Em sua prática, você possibilita processo de interação criançaprofessor e criança-criança? 1) Que princípios da Aquisição da Linguagem e Bilinguismo passaram a ocorrer com mais frequência em sua prática? 2) Quais princípios foram mais difíceis de estabelecer? Justifique. 3) Relate pelo menos três situações em que você pode perceber mudança em sua atitude frente ao aluno no aspecto aqui focalizado. Que conseqüências trouxeram? 95 Verifiquemos se houve mudança no comportamento de seus alunos. QUADRO 18 – AMOSTRA DE ALGUNS COMPORTAMENTOS ESPERADOS NA CRIANÇA DURANTE INTERAÇÃO PROFESSOR - CRIANÇA, NUMA PROPOSTA INTERACIONISTA Comportamentos da Criança Seus alunos mostram-se curiosos, fazem perguntas relacionadas ao tema abordado? Seus alunos não precisam que constantemente lhe chamem para prestar atenção no que está sendo trabalhado? Seus alunos demonstram necessidade em aprender, o que esta sendo trabalhado em sala? A criança conta fatos vivenciados em casa? A criança mantém conversação com o(s) colega(s)? A criança demonstra satisfação frente ao êxito em uma atividade proposta? A criança procura saber o nome das coisas ou pessoas que sejam novidade? A criança traz retorno do que é pedido para fazer em casa? Seus alunos demonstram dúvidas em algumas situações? Seus alunos levantam hipóteses pertinentes diante de mudanças no ambiente? Seus alunos procuram se fazer entender, quando alguém não compreende o que eles dizem? Sempre Às Vezes Esporádico Seus alunos utilizam a linguagem de forma eficiente para sua idade? 1) Que comportamentos passaram a ocorrer com mais freqüência? 2) Quais comportamentos foram mais difíceis de estabelecer? Justifique. 3) Relate pelo menos três situações em que você pode perceber mudança no comportamento de seu aluno. Que conseqüências trouxeram? 96 REFERÊNCIAS ALBANO, E. C. Da fala à linguagem... Tocando de ouvido. São Paulo: Martins Fontes, 1990. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução: Michel Lahual e Yara Frateschi Vieira. 8. ed. São Paulo: HUCITEC, 1997. BEHARES, L. E. Implicações neuropsicológicas dos recentes descobrimentos na aquisição de linguagem pela criança surda. In: MOURA, M. C. et col. Série Neuropsicológica, vol. 3., SBNOP, 1993, p. 41-55. BELLUGI, K. Et al. A aquisição de sintaxe e espaço nos surdos jovens que utilizam mímica e linguagem de sinais. In: BISHOP, D; MOGFORD, K. Desenvolvimento de linguagem em circunstancias excepcionais. 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