Exm.º Dignitário
A consciência moral de JOSÉ ANTÓNIO BORGES DA ROCHA, cidadão
investido de todos os direitos de cidadania consagrados na constituição, residente na
Av.ª Gil Vicente, 635, BA, 4400-166, Vila Nova de Gaia, manda-lhe usar o direito de
petição estatuído no art.º 52.º da constituição da república portuguesa, para
dizer/requerer:
Da narrativa impingida pelos dignitários do poder, e pelos (seus) lacaios
distribuídos pela comunicação social com o objectivo de disseminar a conformidade e
impingir a narrativa da inevitabilidade, sobra a ideia que os vigentes sacrifícios são
estendidos a “todos os portugueses”, sem excepção.
O cadastro de desconfiança plantado na sua consciência levou-o, desde o
início, a desconfiar das virtudes morais dessa narrativa e do plano político “epopeia da
austeridade” a ela indexado. Por isso e em socorro do dano íntimo, reagiu em
conformidade apresentando no ministério público três queixas-crime contra o Governo
e os Deputados (uma, aquando da amputação duma percentagem do vencimento;
outra, aquando do furto de cinquenta por cento do subsídio de natal/2011; e a terceira,
aquando do saque dos subsídios de férias/natal/2012, posteriormente julgados
inconstitucionais e como assim ilegais).
Sustentou a sua íntima reacção em dois caboucos jurídicos: 1., Recusar aceitar
o estatuto de Arguido (culpado da crise); 2., Contraditar a Condenação.
E se, então, na sua consciência pairassem dúvidas sobre a ilegalidade, a
imoralidade, a injustiça das condenações sofridas, o horizonte da realidade e a
factualidade, acabou por esfarelá-las, esboroá-las.
Todavia, sendo como é um patriota (passe a imodéstia e narcisismo moral),
ainda tentou, durante algum tempo, manter um diálogo íntimo com a sua consciência
no sentido de acolher alguma compreensão/resignação moral.
Em resultado desse diálogo, “acordamos” aceitar, sem mais qualquer outra
refrega, o naco de “sacrifício” que nos cabia desde que víssemos cumpridas duas
premissas: 1., Ver os poderes públicos arregaçar as mangas e desatar a perseguir,
com o fito de julgar e condenar, os verdadeiros causadores e culpados pela conjuntura
de danos causados à pátria comum; 2., Ver a realidade provar, sem equívocos, que o
tufão de sacrifícios é equitativamente distribuído por todos os portugueses, sem
excepção.
Nem uma nem outra se confirmaram.
Confirmando a sua mágoa reactiva, a narrativa oficial não passou de um
panfleto, de uma patranha, a ideia da universalidade da distribuição dos sacrifícios
assim como a intenção de os distribuir equitativamente por todos os portugueses sem
excepção não passou daquilo que antecipadamente sabíamos ser, uma artimanha
semântica aspergida para enganar os portugueses.
A realidade provou e comprovou a força da Malfeitoria e o anelídeo poder das
sanguessugas, o interesse privado sobrepôs-se ao direito à vida e ao valor da
dignidade humana.
A comprová-lo está a consagração do “estatuto de excepção” ao corte de
percentagem do vencimento aos funcionários públicos da Caixa Geral de Depósitos e
da TAP, assim como o “estatuto de excepção” conferido aos “pensionistas” da banca
(por nacionalização do fundo de pensões), assim como a impotência (dos potentes
para com os fracos) em estancar a sangria (desregulada, misteriosa e obscura) de
dinheiros públicos empregues na sigla PPP, assim como as ridículas cócegas feitas
nas Fundações e Institutos sorvedouros do erário público, assim como a manutenção
de uma descarada e obesa frota automóvel estatal (30.000 automóveis, ladeados por
um exército de condutores), assim como a imoral angariação de emprego nos
ministérios (miúdos com ordenados excêntricos!), etc.
Arrepia-nos esta conduta imoral que raia a delinquência e a insanidade,
arrepia-nos o faustoso auxílio à dívida privada, demais a mais quando ela advém de
burla, fraude e outras delinquências (como o BPN, o BPP e banca em geral), em
contraste com o desprezo contido no minguado combate à fome e à miséria (RSI).
Perante isto a sua consciência não se pode conter insensível, antes fervilha de
raiva, como não odiar os que tratam bem demais o interesse oculto e maltratam as
pessoas concretas, como não odiar aqueles que decidem, num imoral contraste de
tratamento, injectar de forma obscena uma quantia doze vezes superior de dinheiros
públicos no BPN do que a destinada para combater a fome e a miséria através do RSI.
A sua consciência apela à revolta contra quem toma decisões tão imorais, tão
violentas e ofensivas do respeito pela dignidade humana, que género de homem é
aquele que sorri injectando balúrdios de dinheiro na banca para acudir à fraude e burla
privada e que olha com desconfiança e desprezo para os compatriotas indefesos,
descamisados? Será que deverei ter saudade das Forças Populares 25 de Abril?
Descurar, virar as costas, olhar envergonhadamente para milhões de portugueses que
penam na sargeta do sofrimento, e ao mesmo tempo sorrir para a banca onde não
consta haver desemprego, fome ou sofrimento!
Estes e outros devaneios, levaram a sua consciência a concluir que o princípio
da universalidade está ferido e a ideia da equidade contaminada e como assim não
nos resta senão continuar a denúncia, continuar aos gritos, doar a voz e incitar os
dedos reclamando o estorno de verdade.
Urge corrigir a narrativa falsificada, urge pedir desculpas.
A bem da pátria, a bem da nação, a bem dos valores elementares e na
salvaguarda e restauro da dignidade humana, exigimos que “todos aqueles que
proclamaram a mentira da equidade, assim como todos os que por omissão deram o
seu beneplácito abdicando de erguer a voz e de reagir em conformidade com aqueles
princípios”, venham a terreiro fazer devida correcção.
O Povo está atento, está mais perspicaz e alerta e, tal como nós, exige a
verdade, justiça, moralidade, por isso aguarda que, e de uma vez por todas, aqueles
(uns e outros) falem, e falem a verdade, e digam o que o Povo espera ouvir,
corrigindo: - “Povo Português, humildemente apresentamos as nossas desculpas, na
verdade, era nosso propósito e gostaríamos de aplicar estas, duras e amargas,
medidas de austeridade a todos sem excepção, mas, e dado que somos impotentes
perante a mão invisível que, na sombra, conduz os destinos da nação, reconhecemos
que só as podemos aplicar aos fracos e indefesos”.
Vila Nova de Gaia,
28, de Setembro de 2012
O Signatário
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