INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR TÊXTIL Marcia Regina Gabardo da Câmara1 Mirele Cristina Salvador 2 Marcia Gonçalves Pizaia3 Resumo As formas de internacionalização produtiva têm ganhado importância crescente nas estratégias das empresas desse setor. As grandes empresas têm procurado internacionalizar suas funções corporativas em uma estratégia de busca de oportunidades de mercado em todo o mundo. A partir das experiências das empresas internacionais, é possível extrair algumas implicações gerenciais que podem ser úteis para que as empresas brasileiras aumentem sua pequena participação no mercado internacional. Com isso, o objetivo do trabalho é estudar os fatores que determinam a internacionalização das empresas brasileiras de estilismo e moda e sua evolução recente. Para isso, a metodologia adotada é de uma pesquisa empírica baseada na revisão de literatura. O trabalho permitiu verificar que o processo de internacionalização da empresa é gradual e dispendioso, o que torna esse investimento muito arriscado. Por isso, a maioria das empresas desse setor prefere atuar com o processo de exportação ou até mesmo de licenciamento. Outro fator importante das empresas brasileiras de moda e estilismo é a constante melhoria da qualidade e do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo, como uma das estratégias de crescimento adotada por algumas firmas. Palavras-chave: Investimento Direto Externo, Internacionalização, Moda e Estilismo. Abstract The forms of international production have gained increasing importance in the strategies of companies of this sector. Large companies have tried to internationalize their duties in a corporate strategy to seek market opportunities worldwide. From the experience of international business, it is possible to draw some managerial implications that can be useful for the small Brazilian companies increase their participation in the international market. Therefore, the objective of the study is to analyze the factors that determine the internationalization of Brazilian companies of style and fashion and its recent developments. Therefore, the methodology is an empirical research based on literature review. The work has shown that the process of internationalization of the company is progressive and expensive, which makes this investment very risky. Therefore, most companies prefer to work with this sector the export process or even licensing. Another important factor of Brazilian companies of fashion and style is the constant improvement of quality and design as well as the development of unique products that earn consumers demanding and high purchasing power around the world as one of the growth strategies adopted by some firms. Key Words: the supermarket sector, retail, food-purchasing power. Área: Globalização e competitividade regional 1 Doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP), docente do Curso de Mestrado em Economia Regional, Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de Londrina, PR.. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-4255. E-mail: <[email protected] >. 2 Graduada em Economia pela Universidade Estadual de Londrina, PR. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-5880. E-mail: <economia>. 3 Pós-Doutora em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora e Coordenadora do Curso de Mestrado em Economia Regional - Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de Londrina, PR.. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-4255. E-mail: <[email protected]>. 1 1. INTRODUÇÃO As formas de internacionalização produtiva têm ganhado importância crescente nas estratégias das grandes empresas de diversos setores. As grandes empresas têm procurado internacionalizar suas funções corporativas em uma estratégia de busca de oportunidades de mercado em todo o mundo. A partir das experiências das empresas internacionais, é possível extrair algumas implicações gerenciais que podem ser úteis para que as empresas brasileiras aumentem sua pequena participação no mercado internacional. Nesse trabalho será focado o mercado da moda, que vem se ampliando no mercado brasileiro. Uma prova desse crescimento é o evento anual São Paulo Fashion Week (SPFW) que atrai a atenção do país inteiro e até mesmo do mundo para o estado de São Paulo. O evento que esteve no seu 11º ano, em 2006, contou com a participação de 47 grifes e estilistas brasileiros. Ao longo dos 10 anos de SPFW, a qualidade da produção de peças de design e estilismo em moda brasileira melhorou significativamente, com inovações na produção, na qualidade do tecido, no design das peças, no corte diferenciado, na coloração, nos materiais utilizados e até mesmo na publicidade das marcas. O setor vestuário emprega um contingente substantivo de mão-de-obra, mas sua participação na economia tem declinado frente à concorrência de produtos estrangeiros na economia brasileira – produtos populares chineses e indianos, cujo custo de mão-obra é muito mais baixo e grifes internacionais, cuja qualidade e design atraem as classes com maior poder aquisitivo. Uma forma de contornar a concorrência via custo, é investir na qualidade e no design, de maneira a ampliar sua participação no crescimento do produto interno bruto brasileiro via aumento de exportação, o que requer criatividade e competitividade. Esses itens podem ser alcançados através da estratégia empresarial, enfocada principalmente na relação direta entre inovação e desempenho da empresa. O setor vestuário tem enfrentado dificuldades e entraves com a política cambial, taxa de juros altos, enorme carga tributária e trabalhista, problemas de logística e a concorrência desleal chinesa, fatores que atrapalham o crescimento setorial. Em contrapartida, a qualidade de design, a tecnologia das fábricas, o profissionalismo, a responsabilidade com o meio ambiente e com o social, das empresas brasileiras, têm conquistado maior espaço no mercado nacional e internacional. Apesar de todos esses pontos favoráveis e desfavoráveis, a atuação de empresas brasileiras no mercado estrangeiro, do setor de moda e estilismo, tem se tornado crescente ao longo dos anos. O principal passo para a instalação de uma firma brasileira em outro país é a escolha de um mercado em outro país que seja compatível com o tipo de mercado consumidor do produto comercializado pela empresa. A existência de barreiras tarifárias e altas exigências quanto ao país receptor da empresa para a sua instalação são fortes fatores que determinam a instalação e divulgação de marcas brasileiras em outros mercados. A indústria têxtil e de confecção brasileira vem aumentando o seu faturamento total anualmente. A expansão é derivada particularmente de um aumento da exportação; também se verifica a crescente participação de produtos de maior valor agregado, como o setor da moda. A melhoria da qualidade e do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo tem sido uma estratégia de crescimento adotada por algumas firmas. Logo elas têm inovado e criado mercado alternativo e sem as limitações ao crescimento impostas pelas restrições econômicas e por um mercado de menor tamanho e menor poder aquisitivo. Destaca-se que a estratégia tem sido favorável aos produtos e ao negócio da moda nacional, com articulação entre os elos da cadeia têxtil que envolve o aperfeiçoamento da qualidade das fibras e fios, o design, a confecção, a tecnologia, o apelo fashion e até a forma de embalar os produtos. Analisando esses pontos, a investigação reportada neste trabalho segue a seguinte pergunta de pesquisa: Por que, apesar das vantagens competitivas apresentadas pelo setor de design e estilismo em moda, o mercado interno brasileiro não é o grande consumidor dessa produção e as empresas brasileiras buscam o mercado internacional? O objetivo geral é estudar os fatores que determinam a internacionalização das empresas brasileiras de estilismo e moda e sua evolução recente. Os objetivos específicos: 1) Descrever os 2 processos de internacionalização de empresa; 2) Discutir a evolução recente dos indicadores do setor de vestuário: produção, produtividade, consumo, exportação; 3) Identificar as principais empresas brasileiras atuantes no setor da moda e discutir suas estratégias a partir das categorias de análise do referencial teórico; 4) Identificar os países estrangeiros que apresentam franquias ou lojas próprias de empresas brasileiras do setor de design e estilismo em moda e os fatores que condicionaram o opção pelo produto brasileiro a partir da literatura; e 5) Identificar os principais países importadores de produtos brasileiro do setor de moda e discutir os fatores relevantes que condicionaram a adoção desta modalidade de internacionalização. A indústria têxtil e de confecção brasileira vem aumentando o seu faturamento total anualmente. A expansão é derivada particularmente de um aumento da exportação; também se verifica a crescente participação de produtos de maior valor agregado, como o setor de moda. O trabalho procura discutir e comprovar duas hipóteses a partir da revisão de literatura e da análise quantitativa e qualitativa de dados. A primeira hipótese refere-se à melhoria da qualidade e do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo, enquanto uma estratégia de crescimento adotada por algumas firmas. Logo elas têm inovado e criado mercado alternativo e sem as limitações ao crescimento impostas pelas restrições econômicas e por um mercado de menor tamanho e menor poder aquisitivo. A segunda hipótese refere-se à estratégia de internacionalização das firmas, ela é fruto da realização de um investimento em um determinado mercado de destino das exportações para ampliar e fortalecer as vendas nesse mercado. O processo de internacionalização das empresas brasileiras de alta costura ocorre através da implantação de franquias das empresas brasileiras do setor de design e estilismo em moda em países estrangeiros e via a instalação de lojas próprias, inseridas no varejo de auto-luxo. A pesquisa se justifica pelo fato do assunto crescimento econômico no mercado de alta costura ser um tema inovador e intrigante para explicar a preferência e diferença de investimento das empresas brasileiras em mercado internacional. A moda cresce continuamente e nunca irá parar de crescer. Cada estação traz uma alteração nas cores, acessórios, panos, estampas e designes, movimentando cada vez mais a economia com a criação de novos modelos de vestuário. A tradição da alta costura nos países europeus e norte-americanos contagiou os estilistas brasileiros que abusaram da criatividade e da grande variedade de material para se destacarem nos mercados internacionais. A SPFW é um dos principais eventos da moda mundial, considerado até mais importante que os desfiles de Nova York, que já possuem longos anos de tradição. Tudo isso é devido ao desenvolvimento industrial e tecnológico brasileiro que se expandiu rapidamente destacando o mercado de alta costura brasileiro no resto do mundo. O presente trabalho é de natureza bibliográfica, dada a escassez de pesquisas científicas na área. Após realizar a revisão de literatura sobre determinantes do investimento estrangeiro procurase detalhar a cadeia têxtil e o setor de alta costura do mercado brasileiro, pois com isso, torna-se possível entender o motivo do crescente mercado consumidor desse setor. Deve-se destacar a importância dos dois setores - cadeia têxtil e o setor de alta costura - na pauta de exportação brasileira e a crescente participação. O comportamento recente dos dois segmentos sofre a influência de transformações nos segmentos fornecedores de insumos, como o setor químico (responsável pela criação das cartelas de cores e tintas para os tecidos), setor de jóias (responsável pela criação de adereços complementares ao vestuário), o setor de calçados e bolsas, o setor de cosméticos, que seguem as tendências das colorações da moda brasileira e internacional, entre outros. O trabalho consiste num estudo de caráter exploratório, ou seja, uma investigação ou pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de um problema, que tem como finalidade aumentar a familiaridade do assunto estudado. A pesquisa está dividida em cinco partes. Esta introdução apresenta, brevemente, a teoria de internacionalização de firmas, em especial do setor de moda. O tópico um aborda a história da moda e os principais eventos fashion do país. A seção dois traz os modelos de internacionalização das 3 firmas e seus principais autores, abordando o processo de investimento direto externo. O tópico três relata o desenvolvimento tecnológico do segmento têxtil. A parte quatro aborda todo o processo de exportação brasileira do setor de vestuário de auto-luxo. E para finalizar, o tópico cinco traz as considerações finais do estudo do trabalho. 2. MODA: UM BREVE HISTÓRICO A moda é um fenômeno social ou cultural, de caráter mais ou menos coercitivo, que consiste na mudança periódica de estilo e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter uma determinada posição social (DICIONÁRIO AURÉLIO, XX). O termo moda surgiu no final da Idade Média, princípio da Idade Moderna, impondo-se como um importante fator de diferenciação social e de sexo, já que até então homens e mulheres vestiam-se de forma bastante semelhante. O surgimento da moda foi resultado da busca pela individualidade, consagrando a transição dos valores coletivos e anônimos da Idade Média para os valores individuais do Renascimento. A partir desse momento, as mudanças das vestimentas passam a ter caráter sazonal, ou seja, as idéias em vigência têm certo tempo de duração. Antes do aparecimento da moda, as mudanças eram mais lentas e pouco significativas durante longos períodos de tempo. Roupa, independente da moda, é um elemento de diferenciação do consumidor. Ela permite diferenciar e denunciar as camadas da sociedade à qual o portador pertence, a partir da cor, tecido, corte, volume e técnica utilizados na confecção da indumentária. No Brasil, a moda tornou-se mais expressiva no último século. Há anos que se tornaram referência histórica para a moda brasileira, destacando esse setor no mercado nacional e internacional, como em 1935 onde Rosita Libman, uma senhora uruguaia, inaugurou sua maison de capas e peles. A casa acabou transformando-se na grife Madame Rosita, responsável pela introdução do hábito de desfiles de moda no país. Inicialmente, o Brasil tinha a tradição de copiar e importar as principais peças de roupa da Europa ou Estados Unidos. Porém, com a segunda Guerra Mundial veio o bloqueio das importações. O Brasil viu nesse acontecimento a oportunidade para começar a investir na própria indústria têxtil e de confecções. A atividade da costureira entrou em alta, como intérprete dos modismos saídos de figurinos de revistas importadas. No período que sucedeu a segunda grande Guerra, o Brasil acompanhou o boom industrial. O país vivia um período de americanização, promovido pelos Anos JK, e a criatividade estava à solta. As formas das roupas passaram a ser as mais variáveis possíveis. Progresso era a palavrachave para São Paulo, segundo muitos, “a cidade que mais cresce no mundo”. A partir desse momento, a modernidade já não é mais privilégio das elites. A produção de bens em grande escala torna acessíveis objetos de desejo coletivo. A moda começa a abandonar os salões de alta-costura para conviver com a indústria prêt-à-pórter, termo desenvolvido pelos franceses Weil e Lempereur para descrever a roupa feita em série e comprada pronta. Em 1972 foi criado, em São Paulo, o Centro da Moda Brasileira, reunindo empresas da indústria têxtil com o objetivo de coordenar os lançamentos da moda. A moda é contaminada pelas etnias representadas no novo híbrido americano: flower-power, black-power e hippie, traduzindo aspirações folclóricas e artesanais. Em 1986, as marcas paulistas Armazém, Fórum, Zoomp, Tráfico, Nessa César, T. Machione e Giovanna Baby formam o Grupo São Paulo, com o objetivo de lançar suas coleções em desfiles na mesma data. A cooperativa de moda une os profissionais Walter Rodrigues, Jum Nakao, Conrado Segreto, Maira Himmelstein, Maarjorie Gueller, Silvie Leblanc, Taisa Borges e Flávia Fiorilho, com o objetivo de criar um bureau de prestação de serviços para o mercado. Com a abertura do mercado, a indústria local enfrentou a competição internacional. Com informação a tempo real, a moda virou um grande show-bussiness com eventos gerando um enorme retorno de mídia. Na largada da década de 90, uma moeda estável derruba o fantasma da inflação. O Real vale tanto quanto o dólar. O sonho vira realidade e oferece uma jamais vista oportunidade de consumo às classes B, C e D. Com isso, a moda nacional começa a ganhar “roupagem” de vanguarda, pela mão de criadores e da indústria local. 4 A partir de 1995, com a liberação do acesso à Internet para as empresas particulares, cresce o conceito de e-bussiness, ou negócios feitos pela Internet. O e-comerce coloca o consumidor brasileiro em contato com lojas do mundo inteiro, onde é possível enviar as medidas e esperar que a roupa chegue pelo correio especial. Em 1996, é inaugurada a 1ª edição do São Paulo Fashion Week (Calendário Oficial da Moda Brasileira, criado por Paulo Borges, idealizador e diretor artístico do evento), reunindo uma seqüência de desfiles de marcas brasileiras, entre elas, Zoomp, Fórum, M. Officer, Ellus, Fit, G, Beneducci e Sommer; além de estilistas como Reinaldo Lourenço, Walter Rodrigues, Lino Villaventura, Renato Loureiro e Ricardo Almeida. A partir disso, o Brasil se consagrou como um dos principais pólos produtores de moda mundial. Com periodicidade semestral, a SPFW acontece no período da fundação Bienal de São Paulo e mostra as principais coleções brasileiras de prêt-à pórter feminino e masculino e moda praia. Nos últimos anos, consagrou-se como o evento de moda mais importante do país, tornando-se referência no mundo todo. Diretores das consagradas semanas de moda de Londres, Milão, Paris e Nova York já visitaram a sua estrutura (BORGES, Paulo, site oficial da SPFW). O sucesso do setor de design e estilismo em moda fez com que muitos cursos de graduação em moda fossem abertos. Na metade da década de 90 havia apenas oito e atualmente são aproximadamente cem, segundo os dados do Ministério da Educação. Essa procura por especialização na área de design e estilismo em moda e a expansão da quantidade de desfiles de moda realizados a cada ano fez com que novas carreiras surgissem, como produtores de moda, stylists, especialistas em visual merchandise, coordenadores de camarim e diretores de desfiles (CAIXETA, 2002). Uma novidade apresentada na edição de Inverno/2005 foi a venda de ingressos que davam acesso ao prédio da Bienal e à Mostra “Olhares do Brasil”, mas não permitiam a entrada nas salas de desfile, espaço reservado para convidados da marca, lojistas e imprensa. A atitude pioneira em eventos de moda, exclusivos por natureza, foi uma oportunidade de propagar a cultura de moda no país. Explica Graça Cabral, diretora de Comunicação e Relações Corporativas do evento. Todo o crescente desenvolvimento e sucesso do evento fazem com que as peças produzidas pelos estilistas brasileiros sejam desejadas pelo mundo a fora. As marcas e estilistas brasileiros focam uma parte de suas produções na exportação. Porém, apesar de ser rentável e interessante para essas marcas exportar, esse processo possui intermediários, podendo agregar uma barreiras à divulgação das peças em outros paises. Por esse motivo, algumas marcas brasileiras estão começando a adotar uma nova estratégia de expansão através da internacionalização de suas empresas. Ter suas peças sendo vendidas em alguma loja multimarcas é satisfatório, mas ter sua própria filial no país estrangeiro torna a marca mais acessível e confiável. Com essa inserção positiva de brasileiros no mercado de moda, as culturas, produtos e tradições brasileiras estão sendo divulgadas mundo à fora, através das manifestações de exotismo, alegria e sensualidade levadas às passarelas pelos estilistas brasileiros. 2.1. A internacionalização de empresas e o investimento direto O principal evento nacional de moda, o São Paulo Fashion Week (SPFW), comprova essa afirmativa, juntamente com os desfiles do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e outras regiões brasileiras. O evento, SPFW, realizado em duas edições anuais, (em janeiro e em junho) ajudou a consolidar a revolução do setor de moda no país. O SPFW fez com que um grupo de empresários e estilistas talentosos brasileiros colhesse elogios e tivessem suas roupas retratadas nos editoriais da moda das principais revistas do mundo. Marcas e nomes brasileiros como Ellus, Forum, Rosa Chá, Carlos Miele, Tufi Duek e Alexandre Herchcovitch, Ocimar Versolato, Patrícia Viera e Carmem Steffens são mundialmente conhecidos como sinônimos de qualidade. No início da corrida pelo destaque nacional no mundo da moda, os estilistas brasileiros imitavam ou se inspiravam nos lançamentos internacionais. Hoje, esse caminho se inverteu, são os estilistas estrangeiros que recorrem aos artigos indígenas, plumagens, cores tropicais e artesanatos brasileiros. A comercialização da marca pelas confecções já é uma prática bastante comum tendo a modelagem das roupas (design) como um reforço. 5 O setor têxtil, que corresponde a 5% do Produto Interno Bruto do país, está intimamente ligado ao setor de moda e é um dos principais motivos para o apelo fashion estar em ascensão atualmente. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), Paulo Skaf afirma que atrás de um estilista de ponta há toda uma cadeia de fiações, tecelagens, malharias e confecções que caminham juntas. E foi a modernização do setor têxtil que impulsionou o desenvolvimento da cadeia de design e estilismo em moda no Brasil. Todo o processo de expansão do setor de vestuário se inicia a partir da 2ª Grande Guerra, quando o Brasil passou a perder exportações porque os compradores dos produtos têxteis começaram a retomar suas atividades. A saída existente para o país não perder sua posição no mercado mundial era baixar os preços e melhorar a qualidade da produção. Para isso, o Estado teria que facilitar as exportações e principalmente financiar a modernização e a compra de equipamentos das indústrias mais obsoletas e com isso torná-las mais competitivas para o mercado externo. Porém, esses fatores não foram suficientes para manter a produção têxtil brasileira que perdeu sua posição de soberania frente aos demais setores da indústria na economia brasileira e também no mercado mundial. As importantes transformações da economia mundial ao longo dos anos 80 configuraram uma nova e mais avançada etapa de progresso tecnológico e de acumulação financeira de capitais. Com isso, as indústrias têxteis vêm adotando estratégias não só visando vendas como também de inovação tecnológica, o que motivou a expansão do setor na década seguinte tanto em vendas quanto em parque tecnológico. (VALE, 2003) Por volta da metade da década passada, a cadeia têxtil brasileira mergulhou na pior crise de sua história. A abertura das fronteiras comerciais no início dos anos 90 havia abarrotado o mercado brasileiro de produtos estrangeiros baratos – roupas prontas, tecidos, fios, aviamentos. Entre 1990 e 1997, as importações do setor de vestuário no Brasil aumentaram drasticamente. (CAIXETA, 2002) Tornou-se visível a “destruição” da cadeia têxtil, que em 1990 apresentava um patamar de 4.900 empresas e em 1997 somente 3.550, uma queda de 28,5%. Segundo as palavras do consultor da ABIT, Carlos Ferreirinha – “A indústria e as confecções demitiram, quebraram, entraram em concordata, mas o setor acabou crescendo ao perceber que precisava mudar para não desaparecer”. Realmente, a abertura comercial permitiu aos criadores de moda ter acesso à tecnologia e pôr fim a uma série de limitações que atrapalhavam a atividade. O mesmo dólar que facilitou a invasão de importados permitiu a modernização da indústria com trocas de teares obsoletos por equipamentos informatizados de última geração (CAIXETA, 2002). Com a expansão das empresas brasileiras nesse setor, inicia-se uma corrida para a instalação de filiais em mercados externos através de investimentos diretos, que são aqueles dos quais resulta a transferência de parte significativa do poder de decisão gerencial da empresa que emite o ativo a residentes no exterior. Nota-se que o investimento direto engloba muito mais que a compra de imóveis, instalações, máquinas e equipamentos e o simples envio de capital ao exterior. Operações no exterior requerem transferência de tecnologia, gerenciamento de habilidades, implantação de processos de produção, relacionamento e integração com a comunidade local. Por enquanto, os brasileiros têm mostrado que apesar das dificuldades de implementação de suas marcas em outros mercados, são capazes de exercer tal função com empreendedorismo e muita determinação. Todo o processo de internacionalização da empresa focaliza o estabelecimento dos pressupostos básicos de estratégia internacional, inovação industrial, estratégias empresariais de investimento externo direto. As empresas se expandem ao exterior, nas suas variadas modalidades, com o intuito de conquistar fatias de mercados ainda inexplorados, aproveitar oportunidades e garantir sua sobrevivência, em última instância. Tal internacionalização faz com que a empresa tenha uma presença global marcante e ter essa presença no exterior é colocar toda a capacidade da empresa à prova, vinculando a marca o sinônimo de qualidade, competência e confiança. Isso, porque, uma empresa que preza pelo bom relacionamento vai onde o cliente está. A estratégia de internacionalização da empresa tem que ser trabalhada, inicialmente, por meio de representantes comerciais e distribuidores, para depois firmar presença física no país em que pretende se instalar. Essa lenta introdução no mercado exterior ocorre devido ao elevado custo 6 de instalação da empresa no país estrangeiro. São gastos com a prospecção do mercado, preparação da rede de distribuição, armazenamento do produto, logística de transporte e cumprimento de requisitos técnicos ou de demandas específicas do mercado. Um fracasso de uma empresa internacionalizada representa perda significativa de investimento externo. (GARCIA, 2005) Como a decisão de investir em um mercado externo, para facilitar as exportações, é entendida como parte do processo de expansão das vendas externas de uma firma, os investimentos no exterior são realizados com fundos próprios ou com financiamento externo, o que torna mais arriscado tal investimento. Por isso que somente as principais marcas brasileiras de design e estilismo em moda é que se arriscam nesse tipo de investimento, já que têm forte certeza de que seu investimento não será desperdiçado. Basicamente, os determinantes dos investimentos diretos externos (IDE) podem ser relativos às firmas e as características dos países de origem ou a fatores locacionais. Entre os principais determinantes de IDE encontramos fatores como tamanho e ritmo de crescimento do produto, qualificação da mão-de-obra, receptividade em relação ao capital externo, risco do país e desempenho das bolsas de valores. No estudo de Nonnenberg e Mendonça (2004) são descritas as principais teorias de investimento direto externo, que podem ser motivados principalmente pela possibilidade de obtenção de altas taxas de lucro em mercados em crescimento, facilitados pela possibilidade de financiamento a taxas de juros relativamente reduzidas no país de origem. Mas, a empresa só irá preferir atender ao mercado externo por meio de investimentos diretos em vez de exportar se tiver uma das seguintes vantagens: a concorrência imperfeita (dada por diferenciação do produto, acesso a conhecimento patenteado/próprio ou discriminação no acesso a capital); economias de escala internas ou externas; e intervenção governamental. Na concorrência monopolística, é a estrutura do mercado que vai determinar a conduta da empresa que irá internacionalizar sua produção. Existem alguns estágios no processo de internacionalização das empresas. O primeiro estágio é a expansão dos mercados da firma por meio de exportações de caráter eventual e não regular que se configura como uma forma absoluta de internacionalização. Em seguida, o segundo estágio se caracteriza pela expansão mais vultosa das exportações, por meio principalmente da contratação de representantes nos mercados em que a empresa pretende atuar. O terceiro estágio é o estabelecimento de uma subsidiária no exterior, que normalmente tem o papel de coordenar atividades de comercialização e logística de distribuição, mesmo quando essa tarefa é realizada por terceiros. Já o quarto estágio envolve a instalação de unidades de produção no exterior, aliada ou não ao estabelecimento de um centro de desenvolvimento de produtos. Através desses estágios, é possível determinar o grau de internacionalização da empresa. Quando a produção e o controle são no país de origem, a firma exporta; quando a decisão é produção no exterior e controle local, ela licencia; e quando produz e controla no exterior, ocorre o investimento direto externo. Quando a empresa atua através de exportação, o envolvimento indireto significa que a empresa participa ou tem negócios internacionais através de um intermediário e não trata com clientes estrangeiros. Quando atua sob um acordo de licenciamento, a firma permite à outra usar sua propriedade intelectual por uma compensação denominada royalty. A propriedade licenciada pode incluir patentes, marcas, tecnologia, know-how técnico ou habilidades específicas de negócios. Refere-se, portanto, a produtos intangíveis. Por isso, o licenciamento não requer nem capital nem detalhado envolvimento com clientes estrangeiros. Proporciona, apenas, uma oportunidade para o licenciador continuar desenvolvendo as pesquisas necessárias para a atualização do produto. O licenciamento pode também ajudar a evitar leis governamentais existentes para a formação de associações, testar mercados externos sem grande envolvimento de capital ou tempo dos gerentes e ser usado como estratégia para entrar em mercados antes dos concorrentes. O desenvolvimento econômico do país de destino da internacionalização da firma é fundamental para a decisão do empreendedor de investir no país. Porém, se o crescimento econômico pode ser um poderoso estímulo ao ingresso de investimentos diretos, o aumento dos investimentos diretos – na medida em que constitui elevação do estoque de capital existente – também pode ser apontado como um dos fatores responsáveis pelo crescimento econômico. 7 Para Cleto (1996), investimentos diretos são aqueles dos quais resulta a transferência de parte significativa do poder de decisão gerencial da empresa que emite o ativo a residentes no exterior e, por isso, também são denominados de capital de risco. Esse tipo de investimento engloba muito mais que a compra de imóveis, instalações, máquinas e tecnologia, gerenciamento de habilidades, implantação de processos de produção, relacionamento e integração com a comunidade local. E para entender esse processo é necessário conhecer melhor esse tipo de operação, que tem o intuito de orientar a estratégia empresarial, conduzindo os pesquisadores à formulação de modelos que sintetizam as variáveis presentes no ambiente internacional, tanto do ponto de vista nacional que propõe a análise do ambiente internacional das empresas a partir da vantagem competitiva que as nações desenvolvem em determinados setores econômicos, como do ponto de vista da firma individual que analisa como as empresas multinacionais atuais gerenciam as interfaces de Pesquisa e Desenvolvimento, Manufaturas e Marketing em uma base global de operações. A evidência do incremento dos números de filiais em outros países sob forma de fábricas, filiais comerciais, joint-ventures e outras, sinaliza uma integração cada vez maior das economias existentes. E através dessa evidência, a caracterização dos elementos que constituem a globalização pode ser feita sob diversas óticas (CLETO, 1996): a) ótica financeira, com maior volume de recursos transnacionais e aumento da velocidade de circulação dos recursos; b) ótica comercial, se traduzindo em uma semelhança cada vez maior das estruturas de demanda e na crescente homogeneidade da estrutura de oferta nos diversos países; c) ótica produtiva, verificando-se uma convergência das características do processo produtivo nas diversas economias; d) ótica institucional, onde o processo de globalização leva à semelhanças crescentes em relação à configuração dos diversos sistemas nacionais; e e) ótica econômica, onde a globalização ocasiona perda de diversos atributos de soberania econômica e política por parte de um número crescente de países que se interagem. A interação através da globalização torna visível a evolução dos percentuais dos países no destino do investimento direto mundial que evidencia a concentração que a economia mundial vem apresentando desde o início da década de 40, também presente na evidência de alta concentração das exportações e importações mundiais. Os fatores que levam as empresas a se internacionalizarem é a possibilidade de que em estruturas monopolísticas de mercado, elas atinjam vantagens que as permitam operarem lucrativamente no exterior, através dos IDE, ao contrário da exportação e licenciamento. No caso das empresas brasileiras, verifica-se que as que internacionalizaram suas atividades apresentavam elevado padrão tecnológico, posição mercadológica sedimentada, capacidade financeira, tecnologia gerencial, adequação e qualidade dos produtos à realidade internacional. (CLETO, 1996) Iglesias e Veiga (2002) apresentam uma outra visão do investimento direto externo. Eles afirmam que a economia brasileira tem uma baixa relação exportações/PIB, um baixo coeficiente médio de exportação na indústria e uma alta concentração das exportações em um número pequeno de firmas e de produtos. Por isso, quando comparados com empresas coreanas ou de outros países do Sudeste asiático ou com alguns países latino-americanos, os investimentos no exterior das empresas brasileiras são relativamente baixos. A experiência de internacionalização das firmas indica que o investimento para conquistar novos mercados parece ser importante, havendo consenso em que a decisão de investir depende do tipo de produto e das características do mercado. Por isso torna imprescindível entender as razões e motivações que levam uma firma – que exporta através de representantes comerciais externos ou diretamente para certo importador – a abrir escritórios comerciais, armazéns, centros de distribuição e laboratórios ou montar ou finalizar o produto no mercado de destino. A internacionalização da firma é tratada tanto na literatura de administração e de negócios como na análise econômica. Na área de administração, os modelos dominantes são os “comportamentalistas”, que visualizam o processo de internacionalização como sendo gradual ou evolutivo, focando nas razões e características desse gradualismo. Na análise econômica, o paradigma principal é o da teoria eclética da internacionalização, que aplica o conceito de custos de transação às decisões de internacionalização da firma e procura explicar as características das 8 firmas e dos mercados que estimulam a internacionalização da produção de uma firma, diferenciando esse processo em termos das características do produto e dos mercados. Para o modelo comportamentalista, existem outros fatores, além do econômico, que moldam as decisões das firmas em relação à internacionalização. Esses fatores estão relacionados com o ambiente externo da firma, as características da organização e as atitudes psicológicas dos seus administradores. Esse tipo de modelo não explica por que as firmas podem não evoluir da maneira prevista e quais seriam as restrições e as dificuldades para avançar na trajetória esperada de internacionalização. Para isso, utilizamos a teoria eclética da internacionalização da firma. A teoria eclética da internacionalização da firma procura explicar a decisão de produzir ou não em um mercado externo. Determinadas falhas de mercado (custos de informação e transação, oportunismos dos agentes e especificidades de ativos) levariam uma empresa a utilizar o investimento direto, ao invés de licenciamento ou exportação, como modo de entrada em um mercado externo. Segundo a teoria eclética, uma firma vai continuar o seu processo de internacionalização – passando a produzir no mercado de destino – se possuir vantagens proprietárias que torne necessário ou vantajoso internalizar mercados. Ela coloca que para produzir no exterior é necessário ter vantagens de propriedade muito significativas, pois sem elas as falhas de mercado e a existência de custos de transação não justificariam a internacionalização da produção. A percepção existente é que firmas brasileiras com alto grau de internacionalização exportadora têm um baixo nível de investimento no exterior. Iglesias e Veiga (2002) dizem que essa situação pode ser resultado da falta de necessidade para suas estratégias ou resultado de algum tipo de barreira ou restrição. Iglesias e Veiga (2002) apresentam a classificação dos fatores determinantes de investimentos diretos estrangeiros na ótica de Dunning, no Quadro 1. Quadro 1 - Classificação dos investimentos diretos das multinacionais 9 Fonte: Dunning (1988) 3. CONFECÇÕES, ESTILISMO E MODA: O MERCADO INTERNACIONAL 3.1. Características da Cadeia Têxtil-Confecções no Brasil e indicadores de desempenho O complexo têxtil brasileiro é composto por aproximadamente 4.391 indústrias têxteis e 18 mil confecções registradas. O grande número de empresas informais no setor de confecções, de acordo com estimativas extra-oficiais, chega a superar em quantidade as empresas legalmente constituídas. De acordo com o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), o faturamento total do setor é de aproximadamente US$ 24 bilhões (GAZETA MERCANTIL, 2000). No ranking internacional dos maiores exportadores de produtos têxteis o Brasil ocupa o 21º lugar. As exportações brasileiras têm mostrado-se menos dinâmicas que as de outros segmentos da economia e são fortemente encontradas nos mercados da América do Norte e da Comunidade Européia, que absorvem, juntos, cerca de 67% das vendas brasileiras, focando-se nos produtos fios, tecidos e confeccionados de algodão (FEGHALI; DWYER, 2004). De acordo com o IEMI, muito dessa produção vem de empresas têxteis com mais de quinhentos funcionários em seus quadros. Organizações com esse perfil concentram mais de 50% da produção e do emprego e respondem por parcelas crescentes das exportações. Tais empresas situam-se, predominantemente, na Região Sudeste. Mas nos últimos anos, observou-se a transferência de grandes unidades produtoras para a Região Nordeste, principalmente devido aos incentivos fiscais, à disponibilidade e ao menor custo de mão-de-obra nessa região. Feghali e Dwyer (2004), destacam os responsáveis pelas principais áreas de atuação do processo de criação de uma peça de vestuário. A fiação brasileira de fibras naturais tem destaque no Estado do Paraná, onde existe uma tendência à verticalização de cooperativas produtoras de algodão, que estão investindo na implantação de unidades de fiação. O segmento de fibras sintéticas e artificiais é dominado por empresas de médio e grande portes, devido à necessidade de importantes economias de escala. Por sua vez, o segmento de tecelagem comporta desde micro até grandes empresas, onde as grandes usufruem das seguintes vantagens: escala de produção, integração com os demais segmentos e maior capacidade financeira para realizar a atualização tecnológica. No segmento de confecções, há uma grande concentração de empresas no Estado de São Paulo, seguindo-se Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. E por final, o segmento de acabamento que é caracterizado pelo alto custo dos equipamentos e compõe-se de empresas de algum porte que prestam serviços ou de empresas integradas que têm seu próprio acabamento. As grandes empresas de vestuário localizam-se na Região Sudeste com malharias e fábricas de lingerie, na Região Nordeste como grandes produtores de calças jeans e de malhas e na Região Sul, empresas especializadas em produtos de artigos de cama, mesa e banho. O Brasil é considerado um dos maiores produtores e exportadores de jeans. A principal empresa brasileira nesse setor é a Santista Têxtil, que se tornou a primeira multinacional brasileira do setor têxtil após adquirir indústrias na Argentina em 1995 e no Chile em 1999. Com essas aquisições e investimentos realizados nos últimos dez anos, a empresa se tornou uma das três maiores produtoras mundiais de jeans. Por ser uma empresa inovadora nesse setor, a Santista Têxtil exporta para mais de 50 países, atendendo às grandes marcas e cadeias de varejo. Com uma nova fusão realizada em junho de 2006, a empresa passou a ter uma capacidade produtiva de 150 milhões de metros/ano e receita superior a US$ 500 milhões anuais. Por estar sempre em busca de inovação, criação e produtos diferenciados com maior valor agregado, a empresa dispõe do principal Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Têxtil empresarial da América do Sul, que mantém uma equipe própria de técnicos e funcionários, além de um acordo de troca de informações com um dos principais institutos de pesquisa e desenvolvimento da Europa. Outro importante levantamento do IEMI, no segmento jeans, mostra que no Brasil cerca de seiscentas confecções industriais produzem mais de 126 milhões de peças e especula-se que haja um investimento médio de R$ 500 mil por ano para o desenvolvimento de uma nova calça jeans – do tecido à modelagem final. A renovação é constante. 10 As inovações no processo produtivo na indústria têxtil estão relacionadas ao processo tecnológico incorporados aos equipamentos, ao desenvolvimento de novas fibras e ao aprimoramento das já conhecidas. Os diferentes graus de utilização dessas inovações afetam diretamente os custos finais dos produtos e, conseqüentemente, a competitividade industrial. De acordo com o Guia Moda Profissional (1992), com exceção de alguns segmentos malharias, tecidos para cama, mesa e banho e jeans - e de algumas empresas/grupos, que nos últimos anos se preocuparam em atualizar seus parques industriais, o complexo têxtil/confecções brasileiro ainda tem necessidade de se modernizar para ser competitivo internacionalmente ou para fazer face à concorrência dos produtos importados. O investimento em equipamentos atualizados é a questão-chave para tal modernização. Os equipamentos para a indústria têxtil produzidos no Brasil são, na maioria das vezes, tecnologicamente defasados e caros quando comparados com similares importados. A indústria brasileira de máquinas têxteis opera, atualmente, com alto nível de capacidade ociosa e a própria escala de produção reduzida é um dos principais empecilhos à sua modernização. Países como Suíça, Japão, Bélgica, Alemanha e Estados Unidos são os principais fabricantes mundiais e possuidores de máquinas têxteis (FEGHALI ; DWYER, 2004). O Relatório Setorial Têxtil e Confecções (1994) traz a transformação no perfil da indústria têxtil, que passou a ser muito mais intensiva em capital e que somada às dificuldades de financiamento e de mercado no Brasil, resultou no aumento da heterogeneidade da capacidade tecnológica do setor. De forma geral, foram empresas maiores – freqüentemente parte de conglomerados industriais – que conseguiram efetivar investimentos nas novas tecnologias e, conseqüentemente, atingir maiores níveis de desempenho competitivo. Para fazer frente à crescente concorrência dos países em desenvolvimento (com enormes vantagens comparativas em termos de matéria-prima e mão-de-obra), os países desenvolvidos aprofundaram o processo de incorporação de novas tecnologias no setor. Como conseqüência, uma indústria que tinha tecnologia estável e que utilizava a mão-de-obra com relativa intensidade, transformou-se radicalmente. As inovações aconteceram em três segmentos: aprimoramento de matérias-primas, das máquinas e equipamentos e introdução de mecanismos microeletrônicos no processo produtivo (GALÃO, 2006). Galão (2006) apresenta a composição da cadeia têxtil-vestuário e verifica-se a existência de grande diversidade de fases produtivas. Há transformação de matérias-primas, que são naturais e químicas, em fios e tecidos que são utilizados na produção de artigos de confecção. A cadeia têxtil apresenta grande complexidade e variedade de elos. Na sua origem, integra o agronegócio e usa insumos e tecnologias da indústria petroquímica, pois processa um diversificado portfólio de fibras naturais( puras ou mistas) e de matérias primas sintéticas. Segundo Galão (2006), no primeiro segmento há a produção de fibras naturais (algodão, seda, rami/linho, lã e juta) e artificiais (viscose, acetato, nylon, poliéster, lycra e polipropileno). No segundo segmento há a fiação, onde ocorre o processamento industrial das fibras têxteis naturais e químicas. Os avanços da tecnologia na utilização de fibras químicas e na mistura de fibras químicas e naturais têm permitido o lançamento de novos tecidos agregam tecnologia à estética, ao conforto e à praticidade. A Figura 2 apresenta o processo industrial de uma empresa de confecções. 11 Figura 2- Processo industrial de uma empresa de confecções Fonte: Galão (2006), adaptado de Santana e Apolinário (2004) A Figura 3 apresenta o fluxograma da cadeia têxtil-vestuário com destaque para as fibras naturais, artificiais e sintéticas utilizadas pela indústria de confecções, sinalizando a diversidade de materiais utilizados na fiação e na confecção. Figura 3- Fluxograma da Cadeia Têxtil-vestuário Fonte: Galão (2006) a partir de IEL, CNA e SEBRA (2000) A adoção de inovações permitiu aos principais exportadores de produtos têxteis e confecções do mundo, predominam países asiáticos, conquistar forte competitividade internacional. Os asiáticos ofertam produtos diferenciados e de qualidade, com baixo custo da mão-de-obra e com isso ampliaram a participação em redes internacionais de forma a incrementar as exportações nos últimos 20 anos, conforme a Tabela 1 que apresenta a evolução entre 1980 e 2004 dos principais 12 exportadores mundiais de confeccionados (GALÃO, 2006). A Europa que exportava produtos de qualidade tem declinado sua participação no mercado internacional. Tabela 1 – Principais exportadores mundiais de confeccionados - Participação nas exportações mundiais em 1980, 1990, 2000, 2003 e 2004 (%) País ou região União Européia (UE) Outros europeus (excluindo UE) China (a) Turquia México (a,b) Índia (c) Estados Unidos Bangladesh Indonésia Romênia Tailândia (b) Coréia Vietnã (b) Paquistão Fonte: WTO (2004.2005) apud Galão(2006). Notas: (a) Inclui carregamentos significativos através 2003 ao invés de 2004. 1980 42,0 10,4 4,0 0,3 0,0 1,7 3,1 0,0 0,2 0,7 7,3 0,3 1990 37,7 10,5 8.,9 3,1 0,5 2,3 2,4 0,6 1,5 0,3 2,6 7,3 0,9 2000 24,1 7,4 18,3 3,3 4,4 3,1 4,4 2,1 2,4 1,2 1,9 2,5 0,9 1,1 2003 26,5 8,4 23,0 4,4 3,2 2,9 2,5 1,9 1,8 1,8 1,6 1,6 1,6 1,2 2004 29,0 7,4 24,0 4,3 2,8 2,8 2,0 1,7 1,7 1,8 1,6 1,3 1,5 1,2 de zonas em processo; (b) Inclui estimativas das Secretarias; c) Na Tabela 2 estão os principais mercados importadores. A Europa e os EUA são os maiores importadores, embora a participação da China também tenha crescido no período 1980/2004. Tabela 2 – Principais Importadores mundiais de confeccionados - participação nas importações mundiais em 1980, 1990, 2000, 2003 e 2004 (%) País ou região 1980 1990 2000 2003 2004 União Européia 54,3 50,6 38,7 42,9 45,0 Outros europeus (excluindo UE) 23,0 25,2 22,9 25,6 24,4 Estados Unidos 16,4 24,0 32,4 30,2 28,0 Japão 3,6 7,8 9,5 8,3 8,0 Canadá(c) 1,7 2,1 1,8 1,9 1,9 Suíça 3,4 3,1 1,6 1,7 1,6 Rússia (b) 1,3 1,6 1,6 México(a,c) 0,3 0,5 1,7 1,3 1,0 Coréia(b) 0,0 0,1 0,6 1,1 1,0 Austrália(c) 0,8 0,6 0,9 0,9 0,9 Fonte: Galão (2006) a partir de WTO (2004, 2005). Notas: (a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo; (b) Inclui estimativas das Secretarias; (c) Importações valoradas pelo F.O.B.; (d) 2002 ao invés de 2003. A Tabela 3 apresenta os produtores de confeccionados no Brasil e sua evolução, segundo o número de unidades produtivas por segmento, no período 1990 a 2004. Verifica-se que a indústria de confeccionados e têxtil tem ampliado sua competitividade e o número de empresas ofertantes. Já o segmento têxtil que enfrenta a concorrência dos fornecedores asiáticos, mais competitivos, reduziu o número de empresas operantes no período 1990/2004. Tabela 3 – Unidades de produção por segmento: Têxteis e confeccionados – 1990 a 2004 Segmentos Têxteis Fiações Tecelagens Malharias Beneficiamento Confeccionados Vestuários Meias e Acessórios Linha Lar Outros (1) Total 1990 7.244 1.179 1.481 3.766 818 15.368 13.283 731 1.062 292 22.612 1995 5.278 661 984 3.019 614 17.066 13.908 1.235 1.498 425 22.344 2000 4.463 360 434 3.195 474 18.797 15.634 1.235 1.501 427 23.260 2001 4.500 360 425 3.250 465 18.438 15.367 1.290 1.325 456 22.938 2002 4.503 363 431 3.261 448 17.766 14.767 1.256 1.291 452 22.269 2003 4.130 364 437 2.874 455 18.060 15.156 1.189 1.255 460 22.190 2004 3.847 359 448 2.546 494 19.042 16.531 995 1.020 496 22.889 13 Fonte: Galão a partir de IEMI (2005). Nota: (1) artigos técnicos e industriais. A Tabela 4 revela o esforço competitivo das empresas brasileiras do ramo têxtil- confecções, traduzindo-se em incremento paulatino da produção, a despeito da concorrência asiática no mercado interno. Segundo Galão (2006, p.105), o maior investimento foi realizado em máquinas importadas, havendo gastos de US$ 10 bilhões entre 1990 e 2004 de acordo com os dados do IEMI (2005). Foram aplicados US$ 2,9 bilhões no segmento fiação, US$ 1,6 bilhão na tecelagem, US$ 1,6 bilhão na malharia, US$ 1,7 bilhão no beneficiamento e US$ 1,9 bilhão na confecção. Há inovações significativas na indústria têxtil, com destaque para máquinas e novos tecidos, além de design. Investimentos apenas em máquinas não são suficientes. Sem uma força de trabalho treinada para operar as máquinas eficientemente e gerenciar as fábricas, a meta de tornar eficaz o indispensável retorno dos investimentos não será atingida. É importante que as habilidades dos recursos humanos em todos os níveis sejam desenvolvidas para permitir que todas as novas tecnologias sejam denominadas e os produtos corretamente comercializados (GAZETA MERCANTIL, 1999). Tabela 4 – Evolução da produção por segmento em volume - Têxteis e confeccionados – 1990 a 2004 (em mil toneladas) Segmentos 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 Filamentos (1) 168,1 224,1 294,5 280,1 279,4 299,2 318,0 Têxtil (2) 1.309,6 1.291,0 1.738,5 1.576,2 1.505,2 1.472,1 1.574,6 Fios 1.141,5 1.066,9 1.444,0 1.296,1 1.225,8 1.172,9 1.256,6 Tecidos 803,0 845,2 1.084,7 1.232,4 1.219,8 1.179,4 1.313,0 Malhas 319,3 350,8 497,0 490,2 477,4 443,8 453,9 Confeccionados (3) 820,0 1.229,7 1.635,9 1.624,2 1.699,5 1.683,8 1.739,7 Vestuário 467,0 796,0 1.053,3 1.041,5 1.019,7 994,9 1.0200,5 Meias e Acessórios 11,4 20,2 20,4 20,5 22,5 21,9 22,1 Linha Lar 188,3 243,2 367,1 349,9 410,8 411,7 429,0 Outros 153,3 170,3 195,1 215,3 248,5 255,3 266,1 Fonte: IEMI (2005) Notas: (1) produção de filamentos têxteis. Inclui polipropileno/polietileno; (2) a produção total têxtil, por critério, é medida pelo volume de fios + filamentos têxteis; (3) calculada a partir do consumo de suas matérias primas básicas (tecidos planos/malhas/etc.). A Tabela 5 apresenta a evolução das importações de têxteis e confeccionados. Tabela 5 – Importações de Têxteis e Confeccionados no Brasil– 1990/2004 (mil US$) Segmentos 1990 1995 Fibras/Filamentos 262.265 1.026.272 Têxteis 147.962 886.847 Fios/linhas 41.696 136.477 Tecidos 60.906 534.409 Malhas 2.470 43.775 Especialidades 42.890 172.186 Confeccionados 58.639 378.738 Vestuário 43.164 286.359 Meias e Acessórios 3.863 23.510 Linha Lar (1) 7.365 53.797 Outros 4.247 15.072 Total 468.866 2.291.857 Fonte: Galão(2006) a partir de IEMI (2005) Nota (1) inclui tapetes e carpetes 2000 831.505 581.569 78.220 222.970 62.868 217.511 193.007 123.499 17.302 33.400 18.806 1.606.081 2001 512.593 521.275 45.071 239.320 39.790 197.094 198.818 140.632 13.301 28.865 16.020 1.232.686 2002 424.723 467.111 31.267 244.263 15.907 175.674 141.589 100.134 9.552 19.228 12.675 1.033.423 2003 496.696 436.635 32.593 213.531 8.829 181.682 128.391 90.264 9.859 15.979 12.289 1.061.722 2004 669.852 567.880 74.361 262.383 16.243 214.893 184.497 134.547 13.685 18.962 17.303 1.422.229 14 A Tabela 6 apresenta a evolução das exportações no período 1990/2004 das exportações de têxteis e confeccionados, onde se destaca a linha lar, o crescimento das exportações de vestuário apresenta menor ritmo. Tabela 6 – Exportação de Têxteis e Confeccionados –Brasil - 1990/2004 ( mil US$) Segmentos 1990 1995 Fibras/Filamentos 292.180 245.245 Têxteis 524.075 656.639 Fios/linhas 273.134 194.255 Tecidos 156.710 260.316 Malhas 4.961 10.800 Especialidades 89.270 191.268 Confeccionados 426.978 539.606 Vestuário 228.000 273.855 Meias e Acessórios 1.928 7.700 Linha Lar (1) 178.137 227.447 Outros 18.913 30.604 Total 1.243.233 1.441.490 Fonte: Galão (2006) a partir de IEMI (2005) Nota (1) – inclui tapetes e carpetes 2000 133.732 534.148 137.840 214.977 30.278 151.053 554.191 263.573 10.355 247.376 32.887 1.222.071 2001 247.593 500.629 105.850 243.328 27.754 123.697 557.875 266.363 7.158 251.202 33.152 1.306.097 2002 220.023 440.942 111.819 197.144 28.683 103.296 524.521 211.183 3.568 279.547 30.223 1.185.486 2003 372.124 639.425 173.737 277.226 39.441 149.021 644.732 283.216 5.956 324.136 31.424 1.656.281 2004 604.022 736.015 159.717 316.355 53.179 206.764 739.380 333.677 6.710 348.276 50.717 2.079.417 A Tabela 7 apresenta a evolução recente da balança comercial têxtil-confecções e revela a perda de competitividade das empresas brasileiras no período 1993/2001. A abertura econômica dos anos 90, no período Collor, a acirrada concorrência asiática, somada ao câmbio valorizado no período 1994/1998 reduziram ao ganho internacional de empresas brasileiras. Tabela 7 – Balança Comercial Têxtil- Confecções no Brasil– 1990/2004 (US$ milhões) Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Galão(2006), adaptado de Abit (2005) 1.248 Exportações 1.382 1.491 1.382 1.403 1.441 1.292 1.267 1.113 1.010 1.222 1.306 1.185 1.656 2.079 463 Importações 569 535 1.175 1.323 2.286 2.310 2.416 1.923 1.443 1.606 1.233 1.033 1.061 1.422 785 Saldo 813 956 207 80 (845) (1.018) (1.149) (810) (433) (384) 73 152 595 657 Entre as empresas têxteis e de confecções - exportadoras permanentes, que realizaram IDE Artex, Hering, São Paulo Alpargatas e Staroup - o interesse pela operação no exterior associou-se ao interesse de vender produtos de maior valor agregado (IGLESIAS; VEIGA 2002, 398). A Tabela 8 apresenta a evolução do estoque de capital estrangeiro no país e verifica-se um crescimento expressivo após 1995. As privatizações e os movimentos de fusões e aquisições foram responsáveis pela mudança da participação estrangeira no Brasil. Tabela 8 – Estoque de Investimento Direto Estrangeiro – Brasil : 1980 a 2003 Fonte: Unctad apud Queiroz e Carvalho (2005). 15 A Tabela 9 revela que o setor de confecções apresenta uma baixa participação de empresas multinacionais que realizam IDE, frente aos demais segmentos industriais.Há uma participação maior no setor têxtil. A PINTEC – Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE - permite verificar os esforços inovativos nos diferentes segmentos econômicos brasileiros. Verifica-se que a participação estrangeira em têxteis e confeccionados é pequena tanto no número de empresas, quanto no valor adicionado frente aos demais setores econômicos. Tabela 9 – Participação de empresas de capital estrangeiro na base da Pintec (2000) e VTI (valor da Transformação Industrial). Fonte: IBGE (2002). PINTEC (2000) apud Queiroz e Carvalho (2005) Verifica-se pela Tabela 10 que o número de empresas que exportam, segundo a atividade econômica, no ano de 2000, é pequeno em relação ao número de empresas existentes, a partir da base da RAIS. No entanto, as empresas estrangeiras embora tenham pequena participação no número da empresas exportadoras têm um faturamento médio muito maior. 16 Tabela 10 - Faturamento das empresas nacionais e estrangeiras - Brasil 2000 (1) Exportação; (2) Importação Fonte: De Negri (2004) A Tabela 11 apresenta a inserção no comércio exterior e a participação estrangeira no período 1996/2000 e permite verificar o pequeno grau de abertura às exportações e o maior grau de abertura às importações das empresas do setor têxtil e do setor de confecções (DE NEGRI, 2004). Verifica-se que na confecção de artigos de vestuário e acessórios a participação estrangeira é muito pequena, embora tenha quase dobrado entre 1996 e 2000. 17 Tabela 11 – Inserção no comércio externo e participação estrangeira nas divisões de atividade econômica –Brasil – 1996/2000 Fonte: De Negri (2004) A Tabela 12 mostra os coeficientes de abertura de comércio das empresas nacionais e estrangeiras, segundo atividade econômica, no ano de 2000. 18 Tabela 12 – Coeficientes de abertura de comércio das empresas nacionais e estrangeiras, segundo atividade econômica – em 2000. Fonte: De Negri (2004). Através da Tabela 13 é possível observar os gastos com propaganda de empresas nacionais e estrangeiras, segundo divisão de atividade econômica, em percentual no faturamento, em 2000. Tabela 13 - Gastos com propaganda de empresas nacionais e estrangeiras, segundo divisão de atividade econômica ( % no faturamento) - 2000 Os dados das Micro e pequenas empresas (MPE) estão contidos no Gráfico 1 e nas tabelas 14 e 15. Gráfico 1 – Evolução do número de empresas exportadoras segundo o tamanho da firma, no período de 1998 a 2005 (1998=100). 19 A Tabela 14 apresenta Valor médio exportado por MPE a cada ano e valor médio exportado pelas mesmas no ano seguinte, discriminado segundo tamanho. Tabela 14 - Valor médio exportado por MPE a cada ano e valor médio exportado pelas mesmas no ano seguinte, discriminado segundo tamanho. O número de empresas e valor exportado segundo tamanho e faixa de valor exportado pelas firmas, estão na Tabela 15. Tabela 15 - Número de empresas e valor exportado segundo tamanho e faixa de valor exportado pelas firmas, em anos selecionados Segundo a pesquisa do SEBRAE (2006), mais da metade das vendas (equivalentes a US$ 1,49 bilhões) foram realizadas por 956 firmas (15,6% do total das pequenas), efetuando cada uma vendas médias superiores a US$ 1 milhão em 2005. 26% do valor exportado foram realizadas aproximadamente 1.000 firmas, que exportaram entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão. E 20% do 20 valor exportado foram realizadas por mais de 4.000 firmas (67% do total), que realizaram vendas inferiores a US$ 500 mil cada. Os dados do comércio mundial são vistos na Tabela 16, a qual mostra o valor exportado segundo o tamanho da firma e grau de dinamismo do comércio mundial dos produtos exportados, em anos selecionados (período de 1998 a 2005). Tabela 16 - Valor exportado segundo o tamanho da firma e grau de dinamismo do comércio mundial dos produtos exportados, em anos selecionados (período: 1998 a 2005). 21 Pela Tabela 17 visualizam-se o valor exportado, segundo tamanho de firma e principais produtos exportados – em anos selecionados – 1998, 2001, 2004, 2005 – Brasil. Tabela 17 - Valor exportado, segundo tamanho de firma e principais produtos exportados – em anos selecionados – 1998, 2001, 2004, 2005 - Brasil 3.2. Estilismo e moda brasileiros para o mundo De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 20??), os setores têxtil e de vestuário, juntos, empregam diretamente 1,6 milhão de pessoas. Esse dado não inclui a rede de lojistas informais e sacoleiros. É referente ao número de postos de trabalho formais e indica que a especialização no setor é cada vez maior. O desenvolvimento tecnológico e o investimento brasileiro feito no setor vestuário, tornou o Brasil um país capaz de competir internacionalmente no segmento moda e estilismo. Porém, é preciso entender que fatores como o aprimoramento e a especialização da mão-de-obra é que vão criar facilidades para que a indústria brasileira da moda fique em sintonia com os padrões técnicos exigidos pelo mercado e ganhe competitividade em relação a seus concorrentes internacionais, equilibrando gastos e lucros, preço e qualidade. (FEGHALI; DWYER, 2004) Marcas brasileiras como Forum, Osklen, Cia. Marítima, Maria Bonita, Poko Pano, Triton, Ellus, Iódice, Cavalera e Vide Bula são reconhecidas no exterior como marcas de produto de qualidade e luxo. E estilistas como Alexandre Herchcovitch, Tufi Duek, Cecília Prado, Glória Coelho, Lino Villaventura, Reinaldo Lourenço e Carlos Mieli são consagrados e admirados internacionalmente. Essas marcas e estilistas brasileiros vêem adequando seus produtos ao mercado internacional através de realizações de ações de marketing no exterior, que é fundamental para divulgar e consolidar a Marca Brasil. A busca pelo aperfeiçoamento contínuo faz com que a marca cresça cada vez mais. E por isso, crescer ajuda a convencer que a cultura interna é vibrante e envolvente. O motivo por grandes marcas brasileiras resolverem exportar é porque uma empresa exportadora tem a possibilidade de conquistar novos clientes e mercados, torna-se mais 22 independente do mercado interno, aumenta a produção e reduz seus custos, aprimora a qualidade de seus produtos e faz com que seu nome seja mais valorizado. A exportação é uma alternativa estratégica de desenvolvimento de uma empresa. Nunca deve ser vista como uma saída temporária para crises de recessão do mercado interno, pois é preciso estar certo da decisão, consciente dos riscos e preparado para qualquer imprevisto. (APEX – Brasil on line, 2007). Como a internacionalização da empresa de moda e estilismo é um processo de alto investimento financeiro, poucas são as marcas e os estilistas que possuem suas lojas próprias em território estrangeiro, como Alexandre Herchcovitch (Tóquio), Tufi Duek (Nova Yorque), Osklen (Portugal e Itália), Poko Pano (Portugal) e outras poucas. Por isso, a maioria das marcas prefere o processo de exportação – como a marca Poko Pano e Cecília Prado que exportam 40% e 50%, respectivamente, das suas produções anuais - e venda de seus produtos através de lojas de departamentos multimarcas. Os principais países importadores da moda brasileira são: Estados Unidos, França, Japão, Austrália, Portugal, México, Alemanha, Chile, Espanha, Canadá, Nova Zelândia, Itália e outros países com pequeno percentual. Numa época de grandes transformações geradas pela crescente internacionalização decorrente da globalização da economia e dos mercados, as lojas de departamentos multimarcas ampliaram e maximizaram suas áreas para a venda de confecções. Nesses locais, há programação visual diferenciada, valorização e segmentação de produtos por categoria, sexo, faixa etária, etc. Outra forte tendência em crescimento nas grandes organizações é a consolidação de marcas próprias para os produtos que comercializam, o que pode vir a representar uma associação importante e duradoura para os fabricantes de confecção. As principais lojas de departamentos multimarcas que apresentam em suas prateleiras produtos brasileiros são: Bloomingdale’s, JC Penney, Macy’s, Marks et Spencer e Neiman Marcus (ORCIOLI, 1997). Em pouco tempo, o Brasil saiu do anonimato no mundo da moda para situar-se como um lançador e exportador de profissionais e estilos. As consciências e o trabalho produziram o bom momento do país no mercado da moda mundial. Isso fez com que o país sofresse um boom econômico que ultrapassou os amplos limites do mundo da moda. Com o Brasil na moda, toneladas de peças brasileiras vendidas no exterior com etiquetas diferenciadas estampam o made in Brazil e multiplicam o preço de duas a vinte vezes, dependendo do produto. (FEGHALI; DWYER, 2004) Para conquistar o espaço internacional, não adianta somente ser uma marca de sucesso. Às vezes é preciso se adaptar ao mercado que pretende exportar. Nem sempre uma peça de roupa que faça muito sucesso no Brasil terá o mesmo sucesso em outro país por vários motivos como clima, costumes, culturas, religiões, etc. Um exemplo dessa adaptação de mercado é a marca Cecília Prado que foca a sua produção de vestidos mais longos para o mercado do Oriente Médio. Foi discutida anteriormente a fama que o Brasil tem conquistado no mercado externo. Porém, não é só dessa forma que o Brasil é reconhecido em outros países. Os empresários estrangeiros estão perdendo o medo de investir no mercado brasileiro. Marcas estrangeiras estão começando a abrir suas lojas no Brasil. Em São Paulo, temos as lojas que atingem um público seleto como a Chanel, Armani, Versace, entre outras. No Rio de Janeiro, o público que as lojas estrangeiras estão visando não é tão elitizado. Com roupas mais em conta e modelos mais clássicos, a Zara e a MNG, duas marcas concorrentes espanholas, abriram lojas grandes nos shoppings e nas ruas. (JENSEN, 1998) A mudança do fenômeno globalização ocorre velozmente. Com isso, os avanços globais do comércio poderão tornar obsoletas as tarifas protecionistas. Haverá um deslocamento das economias nacionais auto-sustentadas para um sistema mundial de produção. Logo, os limites não serão tão rígidos, as decisões de fornecimento serão baseadas menos nos custos de mão-de-obra e mais no local onde os especialistas estiverem, com maior proximidade do mercado consumidor ou do suprimento de matéria-prima. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa época de grandes transformações geradas pela crescente internacionalização decorrente da globalização da economia e dos mercados, é importante uma análise das condições pelas quais a moda se estrutura e se organiza para atingir seus objetivos de crescimento e expansão. 23 Os avanços tecnológicos, a abertura de mercado e a criação de novos canais de distribuição movimentam os negócios da moda, tornando o segmento atrativo para a economia do país. Independentemente de qualquer época ou lugar, a roupa sempre foi um diferenciador social, uma espécie de retrato de uma comunidade ou classe. A roupa pode revelar o perfil de uma pessoa. Por isso, moda e estilismo sempre foram e sempre serão motivo de constante estudo e aperfeiçoamento. Mas nas últimas décadas, a moda passou a ter um aspecto ainda mais atrativo para um país: desenvolvimento econômico. A moda possibilitou a criação de empregos, criação de cursos especializados e levou o nome de estilistas e marcas brasileiras para o mundo todo. Além do processo de exportação de produtos têxteis brasileiros para o mundo, há o caminho inverso, de importação dos produtos têxteis do resto do mundo para o Brasil. Esse fator é essencial para aumentar a competitividade no setor e aumentar, mais ainda, a qualidade dos produtos e diminuir os preços. O processo de exportação de produtos têxteis brasileiros e a importação de produtos têxteis do resto do mundo para o Brasil é essencial para aumentar a competitividade no setor, aumentar a qualidade dos produtos e diminuir os preços. Através desse processo, nota-se uma mudança considerável na pauta de exportação brasileira transferindo sua atividade de produtos commodities para produtos diferenciados, intensivo em design. Verificou-se, também, uma crescente internacionalização, através da iniciativa de Investimento Direto Externo de empresas brasileiras como a Staroup, Osklen, Poko Pano e outras. Com isso, através do presente trabalho, conclui-se que a moda é um grande reflexo das sociedades em determinados períodos de tempo, o que a torna meio de análise cultural, social e econômica. REFERÊNCIAS ABRAVEST. Associação Brasileira do Vestuário. Disponível em: <http//www.abravest.org.br>. Acessado em: 11 out. 2006. ALEXANDRE HERCHCOVITCH. Disponível em: <http://herchcovitch.uol.com.br/index_pt.html#/carta>. Acessado em: 03 jul. 2007. APEX-BRASIL. Agência de Promoção de Exportações e Investimentos. Disponível em: <www.apexbrasil.com.br>. Acessado em: 23 mar. 2007. ARBEX, Marco Aurélio. 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