17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Ciberespaço: contribuições para a arte contemporânea
Franciele Filipini dos Santos/Universidade Federal de Santa Maria/RS
Nara Cristina Santos/ Universidade Federal de Santa Maria/RS
Resumo
O presente artigo se origina a partir de uma das questões presentes em minha
pesquisa de Mestrado, e tem como objetivo abordar em um primeiro momento as
diversas concepções acerca do conceito de Ciberespaço, com base na reflexão de
alguns autores, tais como: Leão (2004), Lévy (2000), Monteiro (2007), Wertheim
(2001), entre outros. Posteriormente, apresenta as possibilidades do Ciberespaço no
sistema da Arte Contemporânea, trazendo em um último momento, a análise da obra
“Rara Avis” e sua relação com o Ciberespaço e demais questões desencadeadas pela
produção envolvendo a Arte Mídia.
Palavras-chave: Ciberespaço – Arte Contemporânea – Arte Mídia
Abstract
The present paper was written concerning on a frequent issue in my Master's Degree
research; it has as main objective to approach the various conceptions on the
Cyberspace concept, based on reflections by some authors like Leão (2004), Lévy
(2000), Monteiro (2007), Wertheim (2001) among others. Subsequently it shows
possibilities of Cyberspace in the Contemporary Art system. Latter, the analysis of the
work "Rara Avis" and its relationship with the Cyberspace and the following questions
unchained by the production Artmedia-related.
Key-Words: Cyberspace – Contemporary Art - Artmedia
Tomando como ponto de partida o contexto atual, em que a importância
do Ciberespaço nos diversos aspectos de nossas vidas é bastante relevante,
tanto no âmbito pessoal, quanto no âmbito das mais diversas áreas do
conhecimento, percebe-se que a tecnologia é explorada com menor ou maior
intensidade, dependendo do que se busca, do que se pesquisa, do modo como
se explora as possibilidades proporcionadas pelos aparatos tecnológicos,
podendo inclusive resultar no surgimento de questões diferenciadas das já
existentes, ou seja, questões específicas do Ciberespaço. O Ciberespaço, de
acordo com Lévy (2000:13)
(...) é o terreno onde está funcionando a humanidade hoje. É um novo
espaço de interação humana que já tem uma importância profunda
principalmente no plano econômico e científico, e, certamente, esta
importância vai ampliar-se e estender-se a vários outros campos (...).
Lévy (2000) pontua também, que o termo Ciberespaço é de origem
americana e foi empregado pela primeira vez pelo autor de ficção científica
William Gibson, em 1984, no romance “Neuromancer”. O livro trata de um
231
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
universo onde a ação ocorre tanto no mundo físico como no Ciberespaço,
representando um futuro em que a vida humana é fortemente influenciada pela
intervenção tecnológica.
Neste romance, o Ciberespaço foi designado como o universo das redes
digitais, sendo um lugar de encontros, de aventuras, um terreno de conflitos
mundiais, representando uma nova fronteira econômica e cultural. Constitui um
campo vasto e aberto, que tem como características a interconexão e
combinação de todos os dispositivos de criação, gravação, comunicação e
simulação.
Torna-se importante mencionar que as idéias de Gibson presentes em
seus romances ultrapassaram os limites da ficção, atingindo o contexto social,
cultural, artístico, entre outros.
Segundo Monteiro (2007) com referência a Alex Antunes, tradutor de
“Neuromancer” (edição brasileira de 2003), o conceito de Ciberespaço criado
por Gibson refere-se a uma representação física e multidimensional do
universo abstrato da informação. Constitui-se como um lugar onde se vai com a
mente, a partir das novas tecnologias, presentes em todas as circunstâncias da
vida, fundindo-se aos seres humanos, e assumindo o controle das situações.
Ainda conforme Monteiro (2007), o Ciberespaço compartilhado atualmente por
milhões de pessoas de todo o mundo, adquire uma significação cultural,
problematizando as noções de sujeito, de realidade, de tempo e de espaço.
Alguns analistas do ciberespaço têm sugerido, por exemplo, que os
computadores conectados em rede, ao colocar também em conexão
os seus usuários e permitir que cada um deles se distribua dentro
dessa rede, estão afetando profundamente as relações de
intersubjetividade e de sociabilidade dos homens, assim como a
própria natureza do “eu” e da sua relação com o outro. (MACHADO,
2007:35)
Dentro desta mesma linha de pensamento, Couchot (2003) pontua o
surgimento de “uma nova figura do sujeito nos seus intercâmbios entre o real e
o imaginário, nas relações com o individual e o coletivo, o artista e a
sociedade”, onde a subjetividade passa a se estruturar na negociação entre o
sujeito-Eu, que diz respeito à subjetividade individual, e o sujeito-Nós, que se
refere à subjetividade coletiva, impessoal, modelada pela experiência
tecnestésicai.
232
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
É a partir do Ciberespaço, que redefine a noção de sujeito, que se tem
também, a possibilidade de transmissão e acesso à imagens, sons e textos em
tempo quase real a qualquer parte do mundo e de modo simultâneo, pois, de
acordo com Lévy (1999:92), o Ciberespaço pode ser definido como “o espaço
de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das
memórias dos computadores”. Seguindo esta linha de pensamento Lemos
(2001:111) afirma:
(...) o Ciberespaço não está por vir. Ele não é uma utopia (algo que
não tem lugar, ou que é “o” lugar), como muitos insistem, mas uma
topia, ou seja, uma realidade que se desenrola diante de nossos
olhos, configurando a sociedade digital na qual vivemos.
Percebe-se então, que o Ciberespaço não é algo distante da vivência
cotidiana, fazendo-se muito presente no dia-a-dia, em que cada pessoa pode
ser co-autor deste “espaço”. Esta co-autoria deve-se a não existência de um
único centro emissor e uma multiplicidade de receptores, dispositivo
denominado por Lévy (2000) “Um-Todo”, mas, na possibilidade de vários
centros emissores, um dispositivo de comunicação denominado “TodosTodos”. Este último dispositivo possibilita o acesso à informação e
comunicação, permitindo e proporcionando a oportunidade de que o usuáriointerator utilize o que está disponível no Ciberespaço, bem como, disponibilize
outras informações, alimentando-o com novos dados.
No silêncio do pensamento, já percorremos hoje as avenidas
informacionais do Ciberespaço, habitamos as imponderáveis casas
digitais, difundidas por toda parte, que já constituem as subjetividades
dos indivíduos e dos grupos. O Ciberespaço: nômade urbanístico,
gênio informático, pontes e calçadas líquidas do Espaço do saber. Ele
traz consigo maneiras de perceber, sentir, lembrar-se, trabalhar, jogar
e estar junto. É uma arquitetura do interior, um sistema inacabado
dos equipamentos coletivos da inteligência, uma estonteante cidade
de tetos de signos. (Lévy, 1998:104/105)
Torna-se visível de acordo com Lévy (1998), que o Ciberespaço é uma
estrutura
em
constante
mutação,
que
potencializa
a
exploração
da
sensibilidade, da percepção, do pensamento e da imaginação, por vias
diferenciadas, visto o contexto distinto e específico do ambiente virtual, que
redimensiona tais instâncias.
233
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Neste sentido, com base em Cardoso (1997), pode-se perceber que
junto à emergência do Ciberespaço surge uma outra condição, a de um espaço
que não se organiza em termos arquitetônicos, mas a partir de uma lógica
fundada no acesso à informação. Assim sendo, Oliveira & Vidotti (2004)
afirmam que o Ciberespaço apresenta uma nova topografia (virtual) cujas vias
de
locomoção
(conexões)
conduzem
a
diferentes
lugares
(sítios)
informacionais.
Deste modo, Wertheim (2001) refere-se ao Ciberespaço como um
“espaço” de interconexões da rede global de computadores, uma teia labiríntica
que se constitui em uma estrutura rizomática, que se desenvolve a partir de
infinitas ramificações em várias direções. Ainda conforme Wertheim (2001), o
Ciberespaço consiste em uma rede física e uma rede não física, em que a
primeira diz respeito a computadores interligados por cabos telefônicos, fibras
ópticas e satélites de comunicação, enquanto que a segunda refere-se aos
vínculos lógicos/softwares.
Assim como Wertheim, Wanderley (2007) também coloca que o
ciberespaço é composto de elementos concretos e abstratos, acrescentando
que, as relações sociais no ciberespaço são virtuais, mas repercutem ou
concretizam-se no mundo real, produzindo um novo tipo de sociedade,
alterando principalmente a noção de tempo-duração, por tempo-velocidade.
Esta modificação deve-se em grande parte, a estrutura rizomática do
Ciberespaço, que segundo Berardi (1997:122) “(...) conecta virtualmente cada
terminal humano a qualquer outro terminal humano, simultaneamente, através
das tecnologias digitais e na forma de rede”, o que reforça a proposição de
Lévy, quanto ao dispositivo “Todos-Todos”.
Neste sentido, Leão (2004) refere-se ao ciberespaço como um
gigantesco e quase-infinito labirinto de interações da era contemporânea, um
território em constante ebulição, camaleônico, elástico, ubíquo e irreversível.
Para Leão, o Ciberespaço se constitui a partir de três instâncias: as redes de
computadores interligadas (documentos, dados, programas); as pessoas,
grupos, instituições, etc, que participam dessa interconexão; e o espaço
(virtual, informacional, social, cultural e comunitário) que emerge das interrelações homens-documentos-máquinas.
234
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
É com base na proposição de Leão, que se chama a atenção para a
importância de perceber que o Ciberespaço e o ambiente virtual são conceitos
distintos, onde o primeiro tem maior abrangência, podendo ser considerado um
espaço expandido, potencializado pelas redes de computadores e tecnologias
digitais.
De acordo com Venturelliii, que os termos Ciberespaço e ambiente virtual
podem em um primeiro momento até se confundir, mas, é necessário ter o
discernimento de que o Ciberespaço é um conceito mais amplo e envolve os
ambientes virtuais, ou seja, no Ciberespaço existem vários ambientes virtuais
de aprendizagem, como por exemplo, o Moodle.
Para Sogabeiii, os termos Ciberespaço e ambiente virtual embora
também possam parecer sinônimos, possuem diferenças. Sogabe considera o
Ciberespaço como parte do sistema de nosso pensamento, que sempre foi
auxiliado por imagens, palavras e sons registrados numa mídia. A hipermídia e
a comunicação on-line em rede mundial permitiram a construção de um espaço
onde os nossos pensamentos estão conectados. O ambiente virtual é parte
específica nesse Ciberespaço.
Sendo assim, tomando como referência as colocações a respeito do
conceito de Ciberespaço, e tendo em vista a amplitude e potencialidade de tal
concepção, parte-se para as possibilidades do Ciberespaço, aqui pontuadas
tanto como espaço de divulgação/exposição para as produções artísticas,
quanto como sistema de criação para a produção de Arte e Mídia. Na primeira
situação, encontram-se inúmeras instituições artísticas, divulgando suas
programações, informações gerais sobre Mostras, e em alguns casos, imagens
das obras presentes na exposição, como é perceptível em vários sites de
museus, de bienais e de artistas.
Na segunda situação, do Ciberespaço como sistema de criação, têm-se
a produção denominada Arte e Mídia, termo que segundo Machado (2007:7)
refere-se
Stricto sensu (...) as experiências de diálogo, colaboração e
intervenção crítica nos meios de comunicação de massa. Mas, por
extensão, abrange também quaisquer experiências artísticas que
utilizem os recursos tecnológicos recentemente desenvolvidos,
sobretudo nos campos da eletrônica, da informática e da engenharia
biológica.
235
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Esta produção traz questões bastante específicas deste contexto, onde os
artistas e suas equipes utilizam o ambiente virtual para criar proposições
poéticas que só podem ser viabilizadas dentro do âmbito da Arte e suas
articulações com a tecnologia digital.
Das relações do indivíduo com o Ciberespaço surge a cibercultura,
que nas artes culmina com a utilização de meios eletrônicos por parte
dos artistas, o que podemos chamar de Ciber-arte, cujo exemplos são
muitos: a video-arte, arte-robótica, telepresence art, ASCIIart, Tecnobody-art, Web Arte entre outras experiências(...). A Ciber-arte, desde
que surgiu em meados dos anos 70, sempre teve objetivos de
conectar artistas de diferentes partes do globo e dar uma maior
importância ao processo de criação do que ao produto final.
É a partir desta produção artística que envolve o Ciberespaço-ArteMídia, que se constata em diversas obras, como por exemplo: “Rara Avis” de
Eduardo Kac (1996), “Estar” de Maria Beatriz de Medeiros (2005) e “Silépticos
Corpos” de Suzette Venturelli (1999), que várias questões estão sendo
alteradas e reconfiguradas, como por exemplo: a percepção humana, a
experimentação do espaço e do tempo, a noção de sujeito, de subjetividade,
entre outras, introduzindo gradativamente outros modos de ser e perceber.
Deste modo, analisa-se na seqüência deste artigo “Rara Avis” de Kac, a
fim de perceber como o Ciberespaço foi utilizado nesta obra, pontuando
também, algumas das questões acima citadas e que se fazem presentes nesta
proposição poética.
“Rara Avis”
A obra “Rara Avis” constitui-se em uma instalação de telepresença interativa,
desenvolvida por Eduardo Kac e uma equipe de colaboradores, construída em
agosto de 1996. Foi apresentada no Nexus Contemporary Art Center, em
Atlanta, posteriormente em Austin, Texas/janeiro de 1997, em Lisboa/abril de
1997 e na I Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, ocorrida no final do ano de
1997.
236
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Fig. 1 Imagem de um detalhe da instalação interativa “Rara Avis” –
Fonte: Catálogo da 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul (1999)
Esta proposta artística ocorreu tanto no espaço físico da exposição,
quanto no Ciberespaço. O espaço físico foi estruturado da seguinte maneira:
um grande aviário ocupando parte da sala, e em seu interior 30 pássaros
cinzas reais e um grande pássaro colorido, que movimentava apenas a cabeça
e ocasionalmente “falava”. Este último pássaro, a arara-telerobô, é o elemento
central da instalação, onde câmeras de vídeo em miniaturas foram colocadas
no lugar da localização dos olhos da arara robótica, e a partir desta
configuração foi desencadeada grande parte das interações propostas no
espaço in loco e no Ciberespaço, bem como o processo de Cibercepção.
Do lado externo da gaiola, havia dois pedestais, um deles com um
monitor de televisão, que transmitia as imagens captadas pelos olhos da arararobô enquanto que, o outro pedestal oferecia ao público visitante um capacete
de
realidade
virtual.
Esta
interface,
quando
usada
pelo
interator,
desestabilizava instantaneamente a sua percepção, pois, o usuário passava a
enxergar com os olhos da arara-robô, tendo a sensação de deslocamento
corporal sem ter saído do lugar, podendo ainda, visualizar seu próprio corpo do
lado de fora da gaiola.
237
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Fig. 2 Imagem do espaço físico de exposição da instalação interativa “Rara Avis” –
Fonte: http://www.ekac.org/raraavis.html. Acesso: 29/04/08
É válido ressaltar com base em Giannetti (2006), que as interfaces
desempenham um importante papel de extensão do próprio sistema, pois, tanto
a interação com o sistema, quanto à interação com outros sujeitos no contexto
do sistema, são possíveis graças às interfaces. Estas, propiciam o processo
interativo, e a partir da interação desencadeiam outras possibilidades de
percepção e subjetividade. Pode-se afirmar de acordo com Couchot (2003),
que a interatividade ocorrida no momento de utilização do capacete de
realidade virtual, denomina-se exógena, ou seja, há o estabelecimento de um
diálogo interativo entre o espectador [interator] e o sistema.
Já no Ciberespaço, onde a percepção e a subjetividade podem ser
desestabilizadas de modo mais intenso, a instalação de telepresençaiv se deu
por meio de ações e intervenções dos usuários da Web, via teleconferênciav.
Parte do processo disponibilizado na rede, iniciou com o uso do capacete de
realidade virtual, no momento em que o interator movimentava sua cabeça,
fazendo com que a mesma ação fosse executada pela arara-robô
simultaneamente. Neste instante, era acionando mecanismos da Internet
vinculados aos olhos da arara (as duas micro-câmeras) que produzia imagens
distintas disponibilizadas no Ciberespaço.
Fig. 3 Imagem do processo de interação de “Rara Avis”, visualizado pelos interatores
via Web - Fonte: http://www.ekac.org/raraavis.html. Acesso: 29/04/08
238
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Nesses processos, as pessoas com acesso ao MBone (Multicast
Backbone), recebiam em tempo real imagens coloridas, com alta resolução e
alta taxa de atualização dos frames. Para o usuário padrão, estas imagens
eram em branco/preto e atualizadas a cada dez segundosvi. Ainda na Web,
diferentes usuários de diversos lugares podiam compartilhar do corpo da “Rara
Avis”, enviando suas “falas” via rede, e deste modo, coabitar no mesmo corpo
físico, interferindo em maior ou menor grau no comportamento das aves que
habitavam o espaço da Mostra, bem como das pessoas que lá circulavam.
De acordo com Machado (2001), constata-se que “Rara Avis” traz
referências muito fortes em relação à identidade e alteridade, pois, a partir da
experiência proporcionada pelos processos de interatividade, além da
identidade humana, o interator poderia ser tanto pássaro, quanto máquina,
simultaneamente. Particularmente, acredita-se experienciar o prolongamento
das faculdades perceptivas naturais, por meio da articulação de aparatos
tecnológicos, que transcendem suas funções primeiras para a construção de
uma poética contemporânea, onde o Ciberespaço desempenha um papel
fundamental,
introduzindo
novos
meios
de
expressão,
experiências
diferenciadas e o surgimento de novas questões para a arte.
Considerações Finais
Tendo em vista a abordagem realizada no decorrer deste artigo,
acredita-se na relevância de trazer as diversas concepções em relação ao
Ciberespaço, a fim de perceber que, este “espaço” se dá a partir do espaço
virtual criado pelo sistema de computação, mas não se restringe a este último.
Pensa-se o Ciberespaço como um “espaço” dinâmico, que se
caracteriza pela presença das redes de computadores, das pessoas que
participam dessa conexão e de todo e qualquer espaço que possa emergir
dessa inter-conectividade. Considera-se o Ciberespaço como uma topia, de
significante importância no contexto atual, que traz implicações para o cenário
artístico, cultural e social, em que se tem o surgimento de conceitos específicos
relacionados ao mundo virtual e a redefinição de outros conceitos já existentes.
239
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
Neste sentido, é importante ressaltar que, a partir das possibilidades do
Ciberespaço, o sistema da arte atual vê-se desestabilizado, principalmente no
quem diz respeito à crítica de arte e legitimação desta produção.
Percebe-se que, com as possibilidades do Ciberespaço necessitamos
revisar conceitos, pois, o mesmo já adquiriu significativa importância cultural.
Importância que se torna evidente nos projetos artísticos de Arte e Mídia, que
atingem suas propostas em níveis diferenciados, onde muitas obras podem ser
consideradas apenas experimentação, enquanto que outras produções, como
“Rara Avis”, proporcionam maiores implicações e discussões para o Sistema
da Arte.
i
De acordo com Couchot (2003) esta experiência se dá a partir do controle e manipulação de técnicas,
transformando a percepção que se tem do mundo.
ii
Em entrevista realizada pela autora deste artigo, via e-mail, recebida dia 18/nov/2007.
iii
Em entrevista realizada pela autora deste artigo, via e-mail, recebida dia 17/jan/2008.
iv
Segundo Giannetti (2006:209)Representação eletrônica ou digital em um espaço de dados remoto de
um usuário localizado em um espaço real, de forma que origine uma presença virtual do usuário neste ou
em outro espaço virtual.
v
Segundo informações retiradas do site http://www.cap.eca.usp.br. Acesso em 19/07/07.
vi
DONATI, Luisa Paraguai; PRADO, Gilbertto. Utilizações artísticas de imagens em direto na Word Wide
Web. Disponível em: http://www.eca.usp.br/wawrwt/textos/donprado1.html. Acesso em: 19/07/07.
REFERÊNCIAS
BERARDI, Franco. Notas sobre o Conceito de Cibernáutica. In: Lugar Comum,
NEPCOM/UERJ: Rio de Janeiro, 1:117, 1997.
CATÁLOGO da primeira Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Porto Alegre:
Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 1997.
CAUQUELIN, Anne. A arte contemporânea. São Paulo: Martins fontes, 2005.
COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto
Alegre: EDUFRGS, 2003.
FABRIS, Annateresa. A Imagem Técnica: do fotográfico ao virtual. In: FABRIS,
Annateresa; KERN, Maria Lúcia Bastos. Imagem e Conhecimento. São Paulo:
EDUSP, 2006.
GIANNETTI, Claudia. Estética digital: sintopia da arte, a ciência e a tecnologia. Belo
Horizonte: C/Arte, 2006.
240
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
LÉVY, Pierre. A Emergência do Cyberspace e as mutações culturais. In: PELLANDA,
Nize Maria; PELLANDA, Eduardo Campos (org). Ciberespaço: Um Hipertexto com
Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do Ciberespaço. São
Paulo: Edições Loyola, 1998.
LEÃO, Lúcia (org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume,
Senac, 2004.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
MACHADO, Arlindo. Arte e mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
MACHADO, Arlindo. Corpos e mentes em expansão. In: MACHADO, Arlindo. O
quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos,
2001.
PARENTE, André. O Virtual e o Hipertextual. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999.
PLAZA, Julio. Arte e interatividade: autor-obra-recepção. In: REVISTA MESTRADO
EM ARTE E TECNOLOGIA DA IMAGEM. Unb, 2001. v.3, nº. 3, p.29-42.
WERTHEIM, Margaret. Uma História do Espaço de Dante à Internet. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 2001.
REFERÊNCIAS DIGITAIS
CARDOSO, Cláudio. Notas sobre a Geografia do Ciberespaço. In: Pretextos: Jornal
Eletrônico da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em
Comunicação.
Publicação:
18/05/1997.
Disponível
em:
http://www.facom.ufba.br/pretextos/claudio3.html. Acesso em: 12/02/2008.
Eduardo Kac: telepresença problematiza a visão. (1997) Entrevista disponível em:
http://www.cap.eca.usp.br/wawrwt/textos/kac1.html. Acesso em: 19/07/07.
LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo: sobre a interatividade
e
interfaces
digitais.
Publicação:
2001.
Disponível
em:
http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html.
Acesso
em:
23
e
24/junho/2007.
241
17° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
Panorama da Pesquisa em Artes Visuais – 19 a 23 de agosto de 2008 – Florianópolis
MONTEIRO, Silvana Drumond. O Ciberespaço: o termo, a definição e o conceito. In:
REVISTA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. DataGramaZero. Publicação: Junho de
2007. Disponível em: http://www.dgz.org.br/jun07/Art_03.htm. Acesso em:
05/abril/2007.
OLIVEIRA, Walter Clayton de & VIDOTTI, Silvana Gregório. Auto-organização do
Ciberespaço: uma visão holística. In: REVISTA TEXTOS. CiberSociedad, v.4.
Publicação: 2004. Disponível em: http://www.cibersociedad.net. Acesso em:
12/02/2008.
“Rara Avis”. Disponível em: http://www.eca.usp.br/wawrwt/textos/donprado1.html.
Acesso em: 19/07/07.
“Rara Avis”. Disponível em: http://www.ekac.org/raraavis.html. Acesso: 29/04/08.
RUTHSCHILLING, Evelise Anicet. Eduardo Kac: a arte da telepresença na I Bienal de
Artes Visuais do Mercosul. 21/out/1997. Disponível em:
http://www.ekac.org/bienal.html. Acesso em: 19/07/07.
WANDERLEY, Marcelo Solé. Ciberespaço, a ambigüidade do concreto e do
abstrato. Publicação: 23/06/2007. Disponível em:
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geografia/geo17.htm. Acesso em:
12/fevereiro/2008.
Currículo Resumido
Franciele Filipini dos Santos. Mestranda do PPGART/UFSM - Bolsista Capes,
na linha de pesquisa de Arte e Tecnologia, sob a orientação da Profª. Drª. Nara
Cristina Santos. Especialista em Arte e Visualidade/UFSM, 2006. Licenciada/
2006 e Bacharel/2004 no Curso de Desenho e Plástica/UFSM. Integrante do
Grupo de Pesquisa Arte e Tecnologia – CNPq/UFSM.
Nara Cristina Santos. Doutora em Artes Visuais – História, Teoria e Crítica,
pelo PPGAV/IA/UFRGS, 2004. Doutorado Sanduíche na Université Paris VIII,
França, 2001. Professora da UFSM (DAV/CAL). Coordenadora do LABart e
líder do Grupo de Pesquisa de Arte e Tecnologia – CNPq. Coordena o
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - Mestrado/UFSM.
242
Download

Ciberespaço: contribuições para a arte contemporânea