XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2013
Fábrica de Negócios - Fortaleza - CE - Brasil
04 a 08 de agosto de 2013
RELAÇÃO ENTRE A FAIXA ETÁRIA DOS OPERADORES DE TRATORES
AGRÍCOLAS COM O TIPO DE ACIDENTE
MOTA, W. A1, MONTEIRO, L. A2, ALBIERO, D.3, DUTRA, J. A. C.4, SANTOS, V. C.5
1
Discente de graduação em Agronomia, Depto. de Engenharia Agrícola,UFC, Fortaleza – CE, Fone: (0xx85)9104-3319,
[email protected]
2
Prof. Doutor Mecanização Agrícola Depto. de Engenharia Agrícola,UFC, Fortaleza – CE
3
Prof. Doutor Mecanização Agrícola, Depto. de Engenharia Agrícola,UFC, Fortaleza – CE
4
Discente de graduação em Agronomia, Depto. de Engenharia Agrícola,UFC, Fortaleza – CE
5
Discente de graduação em Agronomia, Depto. de Engenharia Agrícola,UFC, Fortaleza – CE
Apresentado no
XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2013
04 a 08 de Agosto de 2013 - Fortaleza - CE, Brasil
RESUMO: O uso intensivo de tratores, nos últimos 50 anos, possibilitou o desenvolvimento da
agricultura brasileira, porém inseriu a problemática dos acidentes com máquinas agrícolas. Um dos
fatores que corrobora para o aumento dos acidentes no campo é a operação insegura do trator.
Objetivou-se avaliar a existência de relação entre os tipos de acidentes com tratores agrícolas em
função da faixa etária do operador. Foram avaliados 273 registros de acidentes com tratores
agrícolas extraídos do banco de dados de acidentes pertencente ao LIMA- Laboratório de
Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas. Os dados foram submetidos ao teste de
independência do qui-quadrado a 10% de significância. Dentre os tipos de acidentes, o tombamento
e a colisão representaram os maiores percentuais, 56% e 23% dos acidentes com tratores agrícolas
analisados respectivamente. As faixas etárias que apresentaram maiores ocorrências de acidentes
foram de 40 – 49 e 50 – 59 anos, correspondendo a 22% e 27% respectivamente. Concluiu-se que, a
medida que aumenta a idade do operador aumenta a ocorrência dos acidentes, independente do tipo
de ocorrência dos mesmos.
PALAVRAS-CHAVE: Acidentes, Prevenção de Acidentes, Tratores Agrícolas.
RELATIONSHIP BETWEEN THE AGES OF AGRICULTURAL TRACTORS
OPERATORS WITH THE TYPE OF ACCIDENT
ABSTRACT: The intensive use of tractors in the last 50 years, has enabled the development of
Brazilian agriculture, but entered the issue of accidents with farm machinery. One of the factors
which confirm the increase in accidents in the field is the unsafe operation of the tractor. This study
aimed to evaluate the existence of a relationship between the types of accidents with tractors
depending on the age of the operator. We evaluated 273 records of accidents with tractors taken
from the database of accidents belonging to LIMA-Research Laboratory Accidents Agricultural
Machinery. Data were tested for independence of the chi-square test at 10% significance. Among
the types of accidents, collision and overturning represented the largest percentage, 56% and 23%
of accidents with tractors analyzed respectively. The age groups with the highest occurrences of
accidents were 40-49 and 50-59 years, corresponding to 22% and 27% respectively. It was
concluded that, as the age of the operator enhances the occurrence of accidents also increases,
regardless of the occurrence of accidents.
KEYWORDS: Accidents, Accident Prevention, Agricultural Tractors
INTRODUÇÃO
A partir da década de 60 iniciou-se a modernização da agricultura brasileira, através da
utilização de máquinas e tratores agrícolas. Os primeiros tratores agrícolas que surgiram no
mercado priorizavam o desempenho e o aumento da produtividade agrícola. Entretanto, fatores
como conforto, segurança e saúde do operador acabaram sendo menos valorizados no projeto dessas
máquinas. Esse desenvolvimento teve como consequência a substituição gradativa do trabalho
manual e da tração animal pelo trabalho mecanizado (SCHLOSSER, 2002).
O uso do trator como fonte de potência para a realização das atividades agrícolas impulsionou
o desenvolvimento do setor agrícola no Brasil, entretanto, inseriu a problemática dos acidentes com
máquinas agrícolas no setor. Apesar de realizada com a finalidade de potencializar a produção
agrícola do país, a mecanização nas atividades agrícolas, expõem os operadores a riscos de
acidentes, sejam estes pela falta de condições mínimas de segurança na plataforma de operação, uso
de equipamentos tecnicamente inadequados que não atendem os princípios ergonômicos, condições
de trabalho insalubres expondo o operador a poeira e alta exposição a radiação solar, ausência de
equipamentos de proteção individual ou pelo despreparo dos trabalhadores contratados.
Debiasi (2004) destaca que a grande maioria dos acidentes dos conjuntos tratorizados são
causados por atitudes inseguras tomadas pelo operador. O autor também afirma que a operação do
trator em condições extremas, a perda de controle aclive/declive, o consumo excessivo álcool, a
permissão de carona e a falta de proteção das partes ativas do trator como causas potenciais de
acidentes.
Para Schlosser (2002), há uma tendência para a melhoria das condições de ergonomia e
segurança do operador, com o objetivo de melhorar as condições de trabalho, diminuir o nível de
fadiga ao qual este está exposto, diminuir o risco de acidentes e aumentar a produtividade e
qualidade do trabalho.
Muito embora vários investimentos venham sendo feitos visando a melhoria dos tratores
agrícolas, continuamos com os acidentes com máquinas agrícolas sendo uma realidade cada vez
mais presente dentro da agricultura brasileira.
Monteiro (2012) relata que um fator de grande importância é a falta de informação sobre os
acidentes com máquinas agrícolas, o que torna mais difícil a identificação das causas dos acidentes.
Schlosser et al. (2002), destaca a importância de pesquisa nesta área, uma vez que os transtornos e
prejuízos econômicos provenientes dos acidentes com tratores agrícolas são bastante elevados,
afetando o operador, o empregador e o estado.
Se analisarmos os prejuízos ocasionados diretamente aos operadores, pode-se destacar o dano
à sua integridade física, podendo resultar na perda temporária ou permanente de sua capacidade de
trabalho ou até mesmo em sua morte (DEBIASI, 2002).
Identificar os tipos, causas e condições em que estes acidentes ocorrem é de fundamental
importância para traçar medidas que venham atuar de forma a preveni-los. Com isso, este trabalho
teve como objetivo avaliar a existência de relação entre os tipos de acidentes com tratores agrícolas
em função da faixa etária do operador.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal do
Ceará pelo Laboratório de Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas - LIMA.
Os dados analisados foram obtidos a partir do banco de dados de acidentes com máquinas
agrícolas, obtidos através do levantamento feito na imprensa digital utilizando ferramentas de busca
(Google, Yahoo, Ask, etc) com palavras chaves como acidentes com tratores, colisão com tratores e
morte em acidentes com máquinas agrícolas. Nestas notícias foi possível identificar o local do
acidente, tipo, faixa etária do operador, dia da semana entre outras informações.
Para este trabalho foram selecionados, entre os dados obtidos, os 273 acidentes que
apresentavam informações referentes a faixa etária dos operadores e o tipo de acidente ocorrido.
Foram formuladas duas hipóteses (H0: Não existe relação entre tipo de acidente e a faixa
etária e H1: Existe relação entre tipo de acidente e a faixa etária) e utilizadas às seguintes equações:
X²e = Σ(Fo - Fe)² ÷ Fe
em que,
X2e - valor observado;
Fo - Frequência obtida;
Fe - Frequência esperada.
(1)
δ= (h - 1) . (k - 1)
em que,
δ – graus de liberdade;
h – número de linhas;
k – número de colunas.
(2)
X²t = X² δ,α
em que,
X2t: valor tabelado;
δ: graus de liberdade;
α: probabilidade de erro.
(3)
Se X²e for menor que X²t, então aceita-se H0 e se X²e for maior que X²t, então rejeita-se H0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Existem vários fatores potenciais de risco dentro da atividade de operador de máquinas
agrícolas: falta de conhecimento, falta de atenção, uso de máquinas que não atendem os princípios
ergonômicos e que estão fora das normas de segurança.
A Tabela 1 mostra a matriz do teste do qui-quadrado com valores obtidos (Fo) e valores
esperados (Fe) para a distribuição dos cinco tipos de acidentes com máquinas agrícolas que ocorrem
com maior frequência dentro de determinadas faixas etárias de operadores.
Depois de realizada a análise estatística pelo teste do qui-quadrado a 10% de probabilidade de
erro, aceita-se a hipótese nula, confirmando que não existe relação entre a faixa etária do operador e
o tipo de acidente, ou seja, nenhuma faixa etária possui uma predisposição a determinado acidente.
Tabela 1. Teste do qui-quadrado a 10% de probabilidade de erro, mostrando dos valores de
frequência observada e de frequência esperada de acidentes com máquinas agrícolas de
acordo com faixa etária dos operadores. Chi-square test at 10% level of probability,
showing the values of the observed frequency and expected frequency of accidents
with farm machinery according to the age group of operators.
Atropelamento
FAIXA
ETÁRIA
0 - 19
20 - 29
30 - 39
TIPO DE ACIDENTE
Colisão
Esmagamento
Queda
Tombamento
Fo
Fe
Fo
Fe
Fo
Fe
Fo
Fe
Fo
Fe
0
7
4
1,1
5,7
5,0
1
12
14
2,1
10,6
9,2
0
2
3
0,4
2,0
1,8
0
0
3
0,3
1,7
1,5
8
25
16
5,1
25,9
22,6
TOTAL
9
46
40
40 - 49
50 - 59
≥ 60
TOTAL
10
9
4
7,5
9,2
5,5
34
10
20
6
13,8
17,1
10,2
63
3
3
1
2,6
3,3
1,9
4
1
2
12
2,2
2,7
1,6
33
41
31
10
33,8
41,7
24,8
60
74
44
154
273
Fo: Frequência observada, Fe: Frequência esperada. (Teste de independência: χ²e = 22,59386 < χ²t = 28,412, sendo p < 0,10)
A figura 1 mostra a distribuição dos 273 acidentes analizados, dentro das faixas etárias (0-19,
20-29, 30-39, 40-49, 50-59 e ≥ 60 anos) dos operadores.
Figura 1. Histograma dos acidentes de acordo com a faixa etária do operador de máquinas.
Na tabela 2 é possível visualizar que as faixas etárias de 40-49 e 50-59 anos são as que
apresentaram maiores percentuais de acidentes, correspondendo 21,9 e 27,1% dos casos. Segundo
Monteiro (2012 b), operadores com mais experiência na realização de atividades de mecanização
agrícola, apresentam excesso de confiaça, isso faz com que este operadores realizem a atividade de
forma e condições inseguras ocasionando acidentes.
Tabela 2. Análise de frequência dos acidentes com trator de acordo com a faixa etária do operador.
Analysis of frequency of accidents with tractor according to the age of the operator.
Faixa Etária do Operador
ni
ni(%)
Ni
Ni(%)
0 - 19 anos
9
3,296703297
9
3,296703297
20 - 29 anos
46
16,84981685
55
20,14652015
30 - 39 anos
40
14,65201465
95
34,7985348
40 - 49 anos
60
21,97802198
155
56,77655678
50 - 59 anos
74
27,10622711
229
83,88278388
≥ 60 anos
44
16,11721612
273
100
ni= frequência absoluta, ni(%)= frequência relativa, Ni= frequência acumulada, Ni(%)= frequência relativa acumulada.
Para este trabalho, foram analisados os cinco tipos de acidentes que ocorrem com maior
frequência nas operações com tratores agrícolas. Foram eles: esmagamento de pessoa, queda da
máquina, atropelamento de pessoa, colisão e tombamento. Na figura 2 é possível ver claramente
que o tombamento do trator foi o acidente que mais ocorreu, seguido pela colisão.
Figura 2. Histograma dos acidentes de acordo com o tipo de acidente.
A queda e o atropelamento apresentaram juntos cerca de 16% dos acidentes (Tabela 3).
Segundo Schlosser et al. (2002), em trabalho realizado na região da Depressão Central do estado
do Rio Grande do Sul, mostraram que cerca de 66% dos operadores permitem o transporte de outra
pessoas no trator, essa atitude geralmente acaba resultando em quedas de pessoas com o trator em
movimento podendo até levar ao atropelamento.
Tabela 3. Análise de frequência dos acidentes com trator de acordo com o tipo de acidente.
Frequency analysis of the accident with tractor in accordance with the type of
accident.
Tipos de Acidentes
ni
ni(%)
Ni
Ni(%)
Queda
10
3,663003663
10
3,663003663
Esmagamento
12
4,395604396
22
8,058608059
Atropelamento
34
12,45421245
56
20,51282051
Colisão
63
23,07692308
119
43,58974359
Tombamento
154
56,41025641
273
100
ni= frequência absoluta, ni(%)= frequência relativa, Ni= frequência acumulada, Ni(%)= frequência relativa acumulada.
O histograma (Figura 3) mostra a distribuição dos tipos de acidentes na faixa etária de 0 a 19
anos. Observa-se que nesta faixa etária ocorrem apenas dois tipos de acidentes, tombamento e
colisão. Outro ponto importante que deve ser ressaltado está na faixa etária de 0-19 anos. Entre os
dados coletados observou-se a existência de jovens com 8, 11, 14, 15 e 16 anos, que ainda não
atingiram a maior idade, operando tratores agrícolas.
Segundo Fernandes et al. (2011), em trabalho buscando caracterizar o operador de trator,
máquina agrícola e florestal, também houve a existência de propriedades onde menores de idade
operam tratores agrícolas realizando as diversas atividades diárias. A pouca idade desses jovens
trazem o problema de sua falta de experiência e da possibilidade de maior exposição a acidentes de
trabalho em função da dificuldade de acionamento de alguns comandos ou realização de atividades
que exigem maior esforço. Outro fator que agrava esta prática é a legislação vigente que restringe o
trabalho de menores de idade.
Figura 3. Histograma dos tipo de acidentes na faixa etária de 0-19 anos.
Na faixa etária de 20 a 29 anos, representado pelo histograma da figura 4, é possível
identificar que o tombamento é o tipo de acidente de maior frequência. Para Junior et al. (2004),
conhecer os limites de estabilidade da máquina é muito importante a para evitar o tombamento do
trator. O autor também destaca que o aumento da velocidade de deslocamento ocasiona maior
instabilidade da máquina, o pode levar ao tombamento lateral.
Figura 4. Histograma dos tipo de acidentes na faixa etária de 20-29 anos.
Na figura 5, o histograma do tipo de acidente com máquinas agrícolas na faixa etária de 30 a
39 anos, mostra a ocorrência de todos os tipos de acidentes estudados, contudo, o tombamento e a
colisão continuam sendo os tipos de acidente que ocorrem com maior frequência. A colisão em
especial, é um acidente característico de vias de circulação (ruas, rodovias ou estradas).
O Código de Trânsito Brasileiro faz uma série de recomendações que se obdecidas, poderiam
diminuir estes altos índices de colisão.
Figura 5. Histograma dos tipo de acidentes na faixa etária de 30-39 anos.
Na faixa etária de 40 a 49 anos, a segunda em termos de quantidade de acidentes, a
distribuição dos tipos de acidentes está no histograma da figura 6.
Figura 6. Histograma dos tipo de acidentes na faixa etária de 40-49 anos.
A faixa etária de 50 a 59 anos, embora seja a faixa etária onde os operadores tenham muitos
anos de experiência, é também a que apresenta maior número de acidente. Fernandes et al. (2011),
em trabalho realizado em Minas Gerais, destaca que a média de tempo de trabalho como operador
foi de 24, 9 anos.
Figura 7. Histograma dos tipo de acidentes na faixa etária de 50-59 anos.
Na última faixa etária que corresponde aos acidentes com operadores que tenham 60 anos ou
mais. Entre os dados coletados, o operador de maior idade que veio a sofrer acidente tinha 87 anos.
Figura 8. Histograma dos tipo de acidentes para operadores com idade ≥ a 60anos.
CONCLUSÕES
Os tipos de acidentes mais frequentes com operadores de tratores agrícolas são os
tombamentos e as colisões respectivamente. Os operadores que possuem idade entre 50 e 59 anos
são os que se envolvem no maior número de acidentes, independente do tipo do mesmo. Os
diversos tipos de acidentes ocorrem independentes da faixa etária do operador, confirmando que
não a relação entre a faixa etária do operador e o tipo de acidente.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
DEBIASI, H.; SCHLOSSER, J.F. Acidentes com Tratores. Cultivar Máquinas, v. 12, p. 28-33,
2002.
DEBIASI, H.; SCHLOSSER, J. F.; WILLES, J. A. Acidentes de trabalho envolvendo conjuntos
tratorizados em propriedades rurais do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural, v. 34, n: 3, p. 779784, 2004.
FERNANDES, H. C.; JÚNIOR, M. R. F.; LEITE, D. M. Perfil Preocupante. Cultivar Máquinas,
v. 108, p. 14-17, 2011.
JUNIOR, J. K.l K. et al. Modelagem da estabilidade de tratores agrícolas de pneus. Pesquisa
agropecuária brasileira, v. 39, n. 5, p. 459-468, 2004.
MONTEIRO, L.A. Estatística preocupante. Cultivar Máquinas, v. 117, p. 48-50, 2012.
MONTEIRO, L.A. Segurança na condução de máquinas agrícolas em vias. Artigo técnico, Agri
World. v. 8, p. 85-88, 2012.
SCHLOSSER, J.F. Barulho sobe controle. Cultivar Máquinas, v. 13, p. 20-23, 2002.
SCHLOSSER, J.F.; DEBIASI, H.; PARCIANELLO, G.; RAMBO, L. Caracterização dos acidentes
com tratores agrícolas Ciência Rural, v. 32, n. 6, p.977-981, 2002.
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