222 ARTIGO ________________________________________________________________________________ Atividade motora adaptada e desenvolvimento motor: possibilidades através das artes marciais para deficientes visuais. Maycon Ornelas Almeida Faculdade Adventista de Educação Física- UNASP (IASP) Ms. Rita de Fátima da Silva Faculdade Adventista de Educação Física- UNASP (IASP) Resumo No presente estudo buscamos apresentar uma visão geral dos principais aspectos do desenvolvimento motor, objetivamos também relacioná-lo às artes marciais, além de discutirmos a contribuição do Judô, Karatê, Jiu-Jítsu e Taekwondo ao desenvolvimento motor e global do indivíduo em condição de deficiência visual. Além de discutir alguns aspectos fundamentais da atuação pedagógica junto a esses indivíduos. Palavras-Chave: Desenvolvimento Motor, Artes Marciais, Deficiência Visual. Abstract In the present study we search to present a general vision of the main aspects of the motor development, we also objectify to relate it the martial arts, beyond arguing the contribution of the Judô, Karatê, Jiu-Jítsu and Taekwondo to the motor and global development of the individual in condition of visual impairment. Beyond arguing some basic aspects of the pedagogical performance next to these individuals. Key Words: Motor development, Martial Arts, Visual Impairment. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 223 Introducação Precisamos, para discutirmos acerca do conceito de desenvolvimento motor, estabelecer um modelo ou plano segundo o qual podemos nos orientar sobre as considerações propostas com relação ao mesmo. No presente estudo levaremos em consideração o modelo de Newell (1986) apud Haywood e Getchell (2004), segundo o qual os movimentos surgem das interações do individuo com o ambiente, que é palco dos movimentos, e com a tarefa a ser executada. Podendo então serem visualizados como um triângulo onde um tem influência direta sobre o outro, se uma das resultantes do triângulo muda, conseqüentemente o movimento muda. Sendo então estes três fatores chamados de restrições (“constraints”). Uma restrição é algo como uma limitação- ela limita ou desencoraja, no caso do movimento – mas ao mesmo tempo permite ou encoraja pela canalização do comportamento do movimento. As restrições de movimento dão forma ao movimento. Elas restringem e canalizam o movimento por um determinado período e em um dado local no espaço; isto é, elas dão ao movimento uma forma particular (HAYWOOD & GETCHEL, 2004, p. 20). As restrições são como limitações individuais e ambientais que estão em estreita relação com a meta da tarefa. As principais restrições descritas por Newell (1986) apud Haywood e Getchell (2004) são: Restrições Individuais- São as características físicas e mentais individuais de uma pessoa, tais como: altura, idade, força e motivação. As restrições individuais podem ser estruturais ou funcionais. Um exemplo de restrição individual pode ser dado considerando um praticante de artes marciais que se encontra em condição de deficiência visual, seja esta congênita ou adquirida, a deficiência irá restringir, porém não impedirá este indivíduo de iniciar ou de continuar a praticar artes marciais. *Restrições Estruturais- Estas levam um tempo maior em seu processo de mudança, já que geralmente seguem um ciclo natural de desenvolvimento acompanhando o crescimento e envelhecimento, como exemplo: altura, peso, massa muscular. Visto que esta restrição está ligada à estrutura corporal, devemos considerar que no indivíduo em condição de deficiência essas mudanças a nível estrutural já estão implícitas, devido à restrição dos sistemas, no nosso caso o visual. *Restrições Funcionais- Estas estão em constante modificação, podendo ocorrer severas variações em um curto espaço de tempo, sendo exemplo: motivação e foco de atenção. Portanto são restrições ligadas à função comportamental, estando inclusas aqui todas as interações socioculturais. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 224 Restrições Ambientais: São limitações relacionadas ao mundo que nos envolve, estando fora do corpo, porém exercendo uma influência direta sobre o mesmo. Podem ser físicas (tipos de piso e parede, obstáculos, gravidade, ônibus sem rampa de acesso, etc.) ou socioculturais (por exemplo, o preconceito e as visões deturpadoras da condição de deficiência). Essas restrições são globais e não tem nenhuma relação de especificidade com a atividade. Restrições da Tarefa: São externas ao corpo, podem ser compreendidas como metas, regras e equipamentos que utilizaremos em nossas atividades. Por exemplo, quando se está em um processo de ensino-aprendizagem de Kata para um deficiente visual, ao utilizarmos um tatame em relevo indicando a direção a ser seguida durante a execução do mesmo, estamos nos valendo de uma restrição da tarefa em interação direta com uma restrição individual e estrutural (deficiência visual), permitindo um melhor aproveitamento no desenvolvimento da aprendizagem do Kata. O desenvolvimento motor não deve ser compreendido sob o foco de uma visão unidimensional ou até mesmo bidimensional somente, ele deve ser compreendido como um fenômeno multidimensional, agrupando todas as abordagens que se fazem a respeito dele, porém jamais deverá se limitar a elas (GALLAHUE, 2002). A separação e a classificação distintas de movimentos nem sempre é possível ou desejada. Como seres humanos em movimento e dinâmicos, estamos sempre respondendo a muitos fatores sutis do meio ambiente e às demandas específicas da tarefa de movimento em particular. A classificação arbitrária de movimento deve servir apenas para focar atenção sobre o aspecto específico de movimento sob consideração do professor ou do técnico (GALLAHUE, 2002, p. 107). Partindo desse princípio o autor aponta quais são os principais componentes a se levar em conta para uma compreensão multidimensional do movimento, ressaltando que as distinções são apenas para fim de compreensão, quando pensarmos em desenvolvimento motor devemos levar todos esses aspectos em consideração. Aspectos Musculares de Movimento (tamanho/extensão do movimento): Habilidades de Coordenação Motora Grossa: Utilizam grandes grupos musculares para realizar uma tarefa de movimento (chutar, socar, aplicar uma queda no Judô, movimentação de chão no Jiu-jítsu, correr, saltar, arremessar, agarrar). Habilidades de Coordenação Motora Fina: Utilizam pequenos grupos musculares. Nas artes marciais estas são habilidades pouco utilizadas. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 225 Aspectos temporais de Movimento (série de tempo no qual o movimento ocorre): Habilidades Motoras Discretas: Apresentam início e fim definidos (realizar um Kata ou Poom-Se de forma linear e completa, aplicar uma queda e encaixar uma finalização em seguida, alcançar uma bola arremessada, atirar uma vara). Habilidades Motoras em série: Série de habilidades discretas realizadas em sucessão rápida (realização dos Kihons no Karatê ou dos Kibon Dong Jak no Taekwondo, driblar uma bola de basquete, abrir uma porta). Habilidades Motoras Contínuas: Realizadas repetidamente durante um tempo arbitrário (utilização dos movimentos do Kihon na execução de um Kata ou dos Kibon Dong Jak na execução de um Poom-Se, pedalar uma bicicleta, nadar, tocar um violino). Aspectos de Movimento relacionados ao meio ambiente (contexto no qual o movimento ocorre): Habilidades Motoras Abertas: Ocorrem em um ambiente imprevisível e constantemente mutável (lutas práticas de Judô e Jiu-jítsu, puxar violentamente, agarrar uma bola no ar). Aqui encontramos um aspecto interessante, pois essas habilidades exigem do indivíduo uma plasticidade para que possa ajustar-se as demandas do ambiente ou da tarefa, portanto sendo necessário refletir constantemente sobre a prática, pois a mesma exige um feedback externo ou interno para sua execução com sucesso. Habilidades Motoras Fechadas: Ocorrem em um meio ambiente estável e imutável (Katas, Kihons, Kibon Dong Jak, Poom-Se, arremessar em golfe). É realizada em um ambiente estável ou previsível onde aquele que a executa determina quando iniciará a ação, demanda uma rigidez de desempenho. Depende mais de um feedback cinestésico do que visual ou auditivo da execução da tarefa. A estabilidade do ambiente na execução de habilidades motoras fechadas leva o executante, tentativa após tentativa, a buscar consistência na forma como executa a ação. Naquelas habilidades em que as alterações no ambiente determinam o quando e como a ação deva ser executada, o executante busca adaptar o padrão motor a estas alterações ambientais. Assim, enquanto nas fechadas, a variabilidade no padrão deve ser a menor possível, nas abertas a variabilidade no padrão motor acompanha a variabilidade dos estímulos relevantes para a ação (PELLEGRINI, 2000, p. 30). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 226 Aspectos Funcionais de Movimento (objetivo do movimento): Tarefas de Estabilidade: Ênfase em ganhar ou manter o equilíbrio tanto em situações de movimento estático quanto dinâmico (evitar uma queda, manter o equilíbrio durante as mudanças bruscas de direção na execução das formas ou aplicação das técnicas em qualquer estilo de luta, sentar, ficar de pé, equilibrar-se sobre um pé, andar sobre uma barra estreita). Tarefas Locomotoras: Transportar o corpo de um ponto a outro no espaço (realizar as técnicas de ataque e defesa em movimento, deslocamentos realizados durante a execução das formas [luta imaginária], engatinhar, correr, realizar o salto em altura). Habilidades Manipulativas: Colocar força sobre um objeto ou receber força de um objeto (o ato de segurar no quimono, socar e chutar um alvo direcionado em altura adequada para o deficiente visual, o ato de bater, rebater a bola, escrever, tricotar). E finalmente devemos considerar as fases do desenvolvimento motor, para que compreendamos em qual nível de desenvolvimento o indivíduo se encontra, evitando assim exigir mais do que o mesmo pode oferecer ou subestimar a sua capacidade de responder satisfatoriamente a um novo estímulo ou conhecimento. As principais fases do desenvolvimento motor, descritas por Pellegrini (2000) e por Gallahue (2002) são: Movimento Reflexivo: Fase apresentada principalmente na infância. São fundamentais para que se estabeleça o início do processo do desenvolvimento motor. São controlados subcorticalmente e como resultado, involuntários. Movimento Rudimentar ou Inexperiente: Estes ainda são movimentos típicos da infância, porém em indivíduos em condição de deficiência visual ainda se apresentam fortes resquícios desses movimentos, já que, segundo Souza (2007), tais indivíduos em especial as crianças apresentam desempenhos inferiores nas áreas motoras, cognitivas e sociais. Nessa fase o indivíduo busca a compreensão da tarefa, a visualização de suas invariantes e sua dinâmica estrutural. Por ser algo relativamente desconhecido para o indivíduo, ele se portará de forma descoordenada e com movimentos desnecessários. Movimento Fundamental ou Intermediário: Aqui os principais movimentos, principalmente de coordenação motora grossa, já se encontram internalizados. Nesse estágio o indivíduo já se encontra inteirado da tarefa a ser executada, portanto começa a economizar energia e os movimentos começam a se tornar fluentes e Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 227 harmônicos, os erros vão diminuindo gradativamente ao mesmo tempo em que aumenta sua confiança na execução do movimento, detalhes antes não percebidos agora são bem atendidos e o seu padrão motor começa a se estabilizar. Movimento Especializado ou Avançado: Essa fase compreende os movimentos das fases anteriores em combinação e interação, originando o que também é denominado fase dos movimentos complexos. E compreende a nossa meta ao se aplicar um programa de atividades motoras para indivíduos em condição de deficiência visual, sejam estas atividades adaptadas ou específicas para este público. Se houver alguma mudança brusca não haverá mais alterações graves no movimento, já que ele está internalizado via aprendizagem motora. O que pode ocorrer é uma nova dinâmica dentro de um mesmo movimento, porém essa mudança seria tão brusca para o indivíduo em condição de deficiência que poderíamos classificar a aprendizagem dessa dinâmica como um retorno ao estágio anterior, o estágio intermediário. Discutiremos agora outros aspectos interessantes do desenvolvimento motor, ou melhor, do desenvolvimento perceptomotor. A interação percepção-ação tem sido palco de discussão e controvérsias entre pesquisadores, mais há uma forte tendência a considerá-las indissociáveis. [...] percepção é o processo pelo qual adicionamos significado ao estímulo sensorial. Como os indivíduos interpretam o estímulo sensorial é o tópico fascinante do desenvolvimento perceptivo. Para os indivíduos se moverem ou agirem em um ambiente, precisam percebê-lo. Na realidade, algumas concepções entendem percepção e ação como interativas a ponto de serem inseparáveis (HAYWOOD & GETCHEL, 2004, p. 194). Esse processo interativo nos remete a dois conceitos do desenvolvimento perceptomotor, que são a discriminação e o reconhecimento, o primeiro refere se a habilidade de notar diferenças e semelhanças entre objetos e informações sensoriais, e o segundo está relacionado à habilidade de fornecer uma descrição exata de objetos ou informações sensoriais, destacando sua relevância. Segundo Piaget, isso é o que se denomina processo cognitivo de assimilação e acomodação (MARTIN E BUENO, 2003 apud SOUZA, et.al.,2005.). O termo aprendizagem implica em um processo de assimilação de elementos novos às estruturas anteriores. [...] querer aprender um gesto novo é fazer referência a qualquer coisa já realizada, ou que poderá ser utilizado para a realização do gesto novo. Então aprender é construir uma novidade, apoiando-se em estruturas já construídas, modificando-as sem que para isso sejam destruídas pelo processo de acomodação à situação nova (CARRASCO, 1982 apud ALMEIDA, 1995, p. 24). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 228 Nos indivíduos em condição de deficiência visual, esse processo de assimilação e acomodação, supostamente estaria prejudicado devido as suas restrições, porém os mesmos se utilizam de forma característica de outros canais perceptivos como forma de superar a restrição estrutural referente à visão. Dentre os quais destacamos: Percepção auditiva: Algumas teorias chegaram a supor que em face da deficiência visual, haveria um melhor desenvolvimento dessa habilidade e que haveria uma compensação automática da agudeza auditiva, porém a teoria que melhor explica esse fato é a de que os indivíduos melhor desenvolvem essa habilidade devido aos esforços empreendidos para a superação da restrição estrutural que é a cegueira, sendo assim, se desenvolvem mais rapidamente do que eficazmente (MARTIN & BUENO, 2003 apud SOUZA et. al. 2005; LORA, 2003). [...] a melhora no desempenho dos demais sentidos não é uma dádiva divina e nem pode ser explicada por uma reorganização fisiológica imediata, mas resulta de um processo de construção, em que ganham destaque vetores sociais e culturais, entre os quais se destaca a linguagem (VYGOTSKI, 1997 apud KASTRUP, 2007, p. 70) Essa é a principal forma de comunicação com o deficiente visual, e devemos fornecer o máximo de informações sonoras, porém em alguns momentos a ausência de som pode ser utilizada como mecanismo de aprendizagem, pois conferirá um grau maior de dificuldade, exigindo assim uma resposta mais elaborada. Nas artes marciais devemos explorar a utilização do Kiai (grito objetivando liberação de energia, produzido a partir da respiração abdominal). Percepção Tátil: O tato é considerado o sentido mais apropriado para fornecer as referências necessárias à localização e apreensão do mundo no qual o deficiente visual se encontra inserido, ele é dividido em tato passivo e em tato ativo (ou tato háptico). *Tato Passivo: A informação recebida não é intencional da parte do deficiente visual, podemos citar como exemplo a sensação de calor causada pelo Kimono em contato com a pele, ou um resvalo no adversário durante uma luta. *Tato Ativo: A informação é procurada de forma intencional pelo indivíduo que toca o objeto e procura identificá-lo e interagir com ele. Como exemplo podemos citar a utilização dos pés para localizarem os limites do tatame durante a realização de uma seqüência de formas ou o toque no Kimono para verificar o posicionamento do adversário durante uma luta. Um exemplo clássico é a utilização da bengala de Hoover como uma extensão do dedo para verificar a superfície a ser explorada. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 229 Percepção Cinestésica (Proprioceptividade): Segundo Lora (2007, s/p.), “cinestesia é a sensibilidade para perceber os movimentos musculares ou das articulações e esta percepção nos torna conscientes da posição e do movimento do corpo”. Os principais elementos da percepção cinestésica são: consciência corporal (lateralidade, dominância, equilíbrio), imagem corporal, relação do corpo com os objetos que se encontram relacionados no mesmo espaço que ele. Esta modalidade de consciência está voltada para a percepção de estados do próprio corpo. Ela compartilha os mecanismos neurais da consciência perceptual, porém também envolvendo novos tipos de feedback que suportam a formação da noção de um "eu corporal" autônomo e distinto dos demais seres presentes à percepção. Os mecanismos de feedback envolvem ciclos de reaferência corporal, ligados à geração de sensações corpóreas, sentimentos e emoções (PEREIRA, 2003, p. 124). Compreendidos esses processos fundamentais a se considerar no estudo do desenvolvimento motor, além de serem essenciais ao se elaborar um programa de atividade motora adaptada, iniciaremos agora uma breve discussão acerca dos benefícios propiciados pelas artes marciais, o que justifica a sua adaptação para indivíduos em condição de deficiência visual. Apesar de discutirmos conceitos do desenvolvimento motor que podem ser aplicados a todas as artes marciais e expressões da cultura corporal de movimento, nesse estudo nos limitamos a apresentar as características do Judô, Karatê, Jiu-Jítsu e Taekwondo. O termo artes marciais advém da cultura romana, onde Marte é o deus da guerra, sendo o mesmo irmão de Minerva, a deusa da sabedoria. Porém quando se analisa a fundo a cultura romana, percebe-se que a guerra simbolizada por Marte era a guerra interior, ou seja, a busca quase esotérica pelo crescimento espiritual e, por conseguinte a busca pelo desenvolvimento integral como ser humano. Essa representação espiritual também pode ser encontrada fora do panteão romano, por exemplo, na Índia tal representação era dada ao deus Kartykeya, que era irmão do deus Ganesha, símbolo da sabedoria. Na América pré-colombiana também encontramos uma similar representação através do deus Tezcatlipoca. O que se objetiva discutir é que desde seus primórdios, apesar de haver constantes ligações bélicas, as artes marciais sempre foram utilizadas como ferramenta para que se travasse a maior das lutas e melhor das conquistas: aquela que o homem trava consigo mesmo, objetivando a vitória e a possibilidade de governar-se com sabedoria (SEVERINO, 1983; RATTI & WESTBROOK, 2006). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 230 Portanto percebe-se aqui a intencionalidade de buscar além de uma prática vazia, um significado mais concreto voltado para o desenvolvimento integral, ou podemos compreender como uma busca pela “consciência transitiva crítica”, onde há uma constante busca pela superação e transcendência, de forma a buscar a emancipação tanto pessoal, quanto em termos de interações com a sociedade em geral (FREIRE apud MEDINA, 1996). Essa é uma das principais justificativas do porque termos escolhido as artes marciais como objeto principal na construção de um programa de atividades motoras adaptadas, pois além de proporcionarem ricas experiências motoras, possuem em sua maioria como componentes de seu programa, um sistema filosófico os quais regem a vida do praticante tanto dentro da prática, como em sua vida em sociedade. A utilização do termo filosofia marcial pode ser compreendido como, “um termo de senso comum utilizado para identificar os aspectos da sabedoria e conduta oriental existente nas Artes Marciais”, mas que expressa muito bem os seus objetivos, “já que a Filosofia deve ser entendida como a análise, reflexão, crítica e a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas e indagações” (DRIGO et.al., 2005; CHAUÍ, 1997 apud DRIGO et.al., 2005). Porém, filosofia difere da sabedoria de vida ou modo de viver, que é o conceito proposto e buscado pelas artes marciais em geral, que possuem um quadro filosófico incorporado ao seu programa, pois a sabedoria de vida ou modo de viver seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, sendo esse o propósito máximo que se objetiva encontrar nas artes marciais, quando desligadas das questões esportivistas, que em sua maioria tem denegrido esses aspectos internos das artes marciais, sendo que esses aspectos interno podem agir como auxiliares indispensáveis para agregar conteúdos culturais ao deficiente visual (LAGE & GONÇALVES, 2007). Judô O Judô é uma arte marcial que se preocupa com o ser humano como sendo integral e indivisível, possibilitando o desenvolvimento de técnicas corporais aliadas a um forte componente filosófico, princípio esses que se aplicarão a todas as fases da vida, desafios, combates e contratempos, com os quais o indivíduo em condição de deficiência visual porventura irá se defrontar, auxiliando-o nas suas atividades, quer sejam esportivas, sociais ou profissionais (RUSSO & SANTOS, 2001). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 231 Esses princípios filosóficos são todos baseados naqueles criados por Jigoro Kano, por ocasião da fundação do Kodokan, os quais permanecem até hoje tendo sofrido poucas modificações necessárias. Tais princípios baseiam-se em três pilares norteadores que são:Ju: Suavidade./Seiryoku-Zen-Yo: Máxima eficiência com o mínimo esforço./Jita-Kyoei: Bem estar e benefícios mútuos. Vieira e Souza (2006, pg. 20) nos dizem que devemos “entender o judô como uma prática pedagógico-desportiva de visão global, que se estabelece como estratégia de aprendizagem, em busca do desenvolvimento e da diminuição de defasagens psicomotoras”. E ainda em relação as nossas construções acerca do desenvolvimento motor, encontramos que: Como as situações em uma luta de judô são sempre novas, embora exista semelhança com situações passadas, é possível afirmar que um golpe executado não é um golpe novo nem uma repetição de um golpe já executado, mas um golpe construído, especificado e produzido para aquele dado momento, caracterizando a interação lutadoroponente/ambiente (BARLETT, 1932; MANOEL, 1995 apud FRANCHINI, 1998 p. 35). Em relação as principais características desenvolvidas através da prática sistemática do Judô, podemos citar: Consciência do próprio corpo; Organização do esquema corporal; Domínio do equilíbrio; Orientação de tempo e espaço; Mobilidade segura; Exploração das possibilidades corporais; Eficiência nas coordenações globais e segmentadas (BROUSSE & MATSUMOTO, 1999 apud RUSSO & SANTOS, 2001 e VIEIRA & SOUZA, 2006). O Judô dentro de seu programa técnico-filosófico projeta a possibilidade de promover fatores determinantes para a autodescoberta, além do favorecimento para mobilidade independente e orientação segura, possibilitando aos deficientes visuais vivências além dos esquemas a eles preconizados, desenvolvendo “movimentos e ações que propiciem o princípio da ação e reação sob o aspecto do desequilíbrio surtido em função de uma força” (SEISENBACHER & KERR, 1997 apud VIEIRA & SOUZA, 2006). Carmeni (1998) apud Russo e Santos (2001) cita que o Judô procura determinar quais pontos devem ser estudados e superados através de sua prática, como exemplo: o medo, a angústia, a ansiedade e o nervosismo. Já que o equilíbrio emocional e as capacidades cognitivas são imprescindíveis na prática do Judô, legando dessa forma rico conteúdo ao desenvolvimento do deficiente visual, além de atacar a fundo alguns dos principais problemas relacionados ao cotidiano do deficiente visual. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 232 O Judô ainda tem a capacidade de favorecer o equilíbrio físico e psíquicoafetivo, aperfeiçoando as capacidades de concentração, aplicação, perseverança e abnegação, estimulando e dando confiança aos indecisos, preparando o indivíduo em condição de deficiência visual ou não para vencer os complexos que porventura surgirem, tais como a inibição, superioridade ou inferioridade (MARTINEZ, 1974 e VILLIAUMEY, 1981 apud RUSSO & SANTOS, 2001). Sendo assim podemos dizer que o Judô: [...] se consolida a partir do sucesso na diminuição das defasagens psicomotoras. Destacando-se na melhoria dos comprometimentos psicomotores e na aquisição e desenvolvimento das capacidades coordenativas e condicionantes, inerentes ao desporto (RUSSO & SANTOS, 2001, s/p). Portanto compreendemos o Judô como uma importante ferramenta de atuação no trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, do qual podemos nos valer como sendo um privilégio na atuação junto a esse modelo de docência especial. Taekwondo O Taekwondo em suas origens, provenientes de milenares técnicas de combate coreanas, seguia um rigoroso código de ética, o qual na atual configuração do Taekwondo deu lugar a um código que é expresso nos seguintes preceitos: * Cortesia; Integridade; Perseverança; Espírito indomável. Domínio sobre si mesmo; Sendo que todas as atitudes do praticante de Taekwondo devem ser regidas por esse código, não sendo diferente com o deficiente visual, e sobre o código temos a seguinte citação: [...] é a base do sentido filosófico dos seus praticantes, onde a força da combinação das atitudes intelectuais com as físicas torna uma pessoa em um ser humano justo e familiar, humilde ,determinado e de moral elevada na sociedade, nação e com senso de humanidade (KIM, 2000 apud GOMIDES, 2006, p. 10). Vemos então a preocupação com as questões transversais da conduta humana, compreendendo assim que podemos oferecer ao deficiente visual, além das vivências motoras, um grande subsídio sócio-cultural. Assim sendo cada praticante de Taekwondo vai polindo seu caráter por uma pura filosofia de respeito a preservação da vida e não mais se curvará ante qualquer dificuldade. Por ser uma pessoa preparada física e mentalmente para superar qualquer obstáculo que surgir em sua vida (KIM, 1995, p. 14). E quanto a prática do Taekwondo, encontramos que: Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 233 [...] oferece aos seus praticantes que adquiram noções de seus elementos básicos (defesas, socos, chutes e outros, e que por sua vez, só devem ser explorados após um preparo adequado), a oportunidade de desenvolvê-los em forma de movimentos e em seqüencias, explorando variações de coordenação motora, espacial e temporal, de força, memória motora e algumas outras qualidades específicas deste esporte e, no mínimo gerais aos demais. Damos assim, sentido mais amplo do que um simples ato mecânico, incluindo na formação do indivíduo o preparo psicológico e o desenvolvimento cognitivo entre outros (ALMEIDA, 1995, p. 105). O Taekwondo, segundo seu organizador, deve ter como objetivos principais a busca pelo equilíbrio psicológico/fisiológico e a conseqüente autonomia sobre esse equilíbrio, além de poder auxiliar a criação de seres humanos independentes e fortes, compreendendo o ser humano como sendo uno e impassível de divisões. Sendo assim encontramos: O objetivo do Taekwondo não é só formar campeões nas competições, mas pessoas que vencem cada dia seus problemas sociais, onde estes podem ser tratados, evitados ou minimizados e seus efeitos colaterais sanados e através da prática, melhorar a vida, com uma melhor formação corporal e espiritual (KIM, 2000 apud GOMIDES, 2006, p. 08). Vemos então como o Taekwondo está ligado aos problemas diários vividos pelo indivíduo em condição de deficiência visual, e como ele busca auxiliar a superação dessas dificuldades. E quanto aos seus benefícios no auxílio ao deficiente visual, encontramos que: Estes elementos em movimento criam ao deficiente visual a oportunidade de trabalhar a coordenação motora, espacial. Com o tempo, algumas qualidades físicas são aplicadas com mais ênfase. Também não há a necessidade aqui, com o tempo, de auxílio de percepção tátil, de sons ou materiais auxiliares outros, ou seja, trata-se de uma maneira inabitual de deficientes visuais explorarem a atividade motora (ALMEIDA, 1995, p. 106). Podendo então o Taekwondo ser analisado e visto como mais uma arte rica no auxílio ao deficiente visual, atendendo aos pré-requisitos básicos para o desenvolvimento motor e agregado de elementos que constituem uma rica bagagem cultural/filosófica ao indivíduo em condição de deficiência, atacando a fundo a problemática negativa da condição de deficiência. Karatê O Karatê hoje é divido em três fundamentos, o Kihon, o Kata e o Kumite. Sendo que nos dois primeiros trabalhamos todos os pré-requisitos necessários Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 ao 234 desenvolvimento motor do deficiente visual, os quais já foram discutidos anteriormente, já que em todos utilizamos movimentos que envolvem andar, correr, saltar, agachar, estender, inclinar, girar, puxar, dentre outros. Além de se trabalhar todos os componentes da discriminação cinestésica, capacidades coordenativas, habilidades motoras e capacidades físicas, além de melhoras nas capacidades de percepção, execução e decisão, aumentando a segurança e autoconfiança e conseqüentemente a integração desses indivíduos com outros grupos de pessoas, agregando assim conteúdo motor, cultural e psíquico-social (BARREIRA & MASSIMI, 2002; RAMOS, 2006). Em relação à prática do que deve ser o verdadeiro Karatê, encontramos a seguinte citação: Treinar significa treinar o corpo e o espírito e, acima de tudo, a pessoa deve tratar o adversário com cortesia e a devida etiqueta. Não basta lutar com toda a força pessoal; o verdadeiro objetivo do karate-do é lutar em nome da justiça. Gichin Funakoshi, um grande mestre de karate-do, observou repetidas vezes que o propósito máximo da prática dessa arte é o cultivo de um espírito sublime, de um espírito de humildade. E, ao mesmo tempo, desenvolver uma força capaz de destruir um animal selvagem enfurecido com um único golpe. Só é possível tornar-se um verdadeiro adepto do karate-do quando se atinge a perfeição nesses dois aspectos: o espiritual e o físico. (NAKAYAMA, 1996, p. 09). Vimos então que a prática é apenas um subsídio ou caminho para que se possa compreender mais do que o combate, podendo legar dessa forma ao deficiente visual, uma visão de luta em prol de seus ideais e dos ideais de seus semelhantes, tais como, lutar por uma sociedade onde a deficiência possa ser vista como uma possibilidade que pode alcançar qualquer um e não mais como algo fora do que, erroneamente é tratado como sendo normal. Decidir quem é o vencedor e quem é o vencido não é o seu objetivo principal. O karate-do é uma arte marcial para o desenvolvimento do caráter através do treinamento, para que o karateka possa superar quaisquer obstáculos, palpáveis ou não (NAKAYAMA, 1996, p.11). E segundo Lemos (1998, s/p.) o Karatê: [...] é uma disciplina que eleva o espírito, potencializando o homem desde seu interior com o conhecimento próprio e a utilização adequada de sua própria energia. Falar de Karatê é falar de uma filosofia de vida, de uma maneira de afrontar os problemas diários. Por isto quando se educa uma pessoa segundo os princípios do Karatê, não se ensina somente a técnica, também transmitimos esta mensagem, preparamos para a vida, fundamentados em um respeito e moral voltados para a cidadania. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 235 Compreendemos assim o Karatê como mais uma importante ferramenta a ser utilizada no trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, pois além dos pré-requisitos necessários a um completo desenvolvimento motor, ele possui uma filosofia ou busca pela sabedoria de vida, pautada em valores sólidos e voltada para a cidadania e conseqüentemente à emancipação da pessoa com deficiência Jiu-Jítsu É considerado um esporte intelectualizado, tendo em vista sua complexidade, seus movimentos obedecem a uma ordem crescente de dificuldades e que requerem controle físico, mental, e inteligência para coordenar inúmeras variáveis que vão se apresentando no decorrer de uma luta. Com a prática constante, adquire-se e aprimora as capacidades ou valências físicas básicas como a Força, Velocidade, Resistência, Flexibilidade e Coordenação. Seus movimentos regulam o controle motor, ativando e melhorando não só a psicomotricidade, como, a coragem, autoconfiança e o total controle sobre si mesmo (LUZ, 2000). O Jiu-jítsu adaptado, embora possua em linhas gerais, os mesmos objetivos do Jiu-jítsu comum, utiliza metodologia especial, atendimento diferenciado e recursos humanos especializados. A importância da prática do Jiu-jítsu consiste em utilizar uma aprendizagem significativa, através de uma diretriz educacional, para o desenvolvimento dessas habilidades motoras e funções, propiciando condições para que o deficiente visual organize e elabore as informações do mundo ao seu redor, além de diminuir as defasagens psicomotoras comuns à deficiência visual, proporcionando o desenvolvimento da autoconfiança e formação de novos conceitos através da exploração do ambiente e das situações de aprendizagem (SAUÁIA & SILVA, 2005, p. 84). O Jiu-jítsu enquanto prática desportiva constitui-se numa prática que oferece condições de desenvolvimento pleno das habilidades motoras e funções psicomotoras influenciando ainda a redução da ansiedade promovida pela problemática da deficiência e pelas questões de cunho social, que acabam por causar um reducionismo da problemática da deficiência, além de resultar em segregação. O Jiu-jítsu pode e deve ser adotado como prática corporal, pois o mesmo funciona como instrumento capaz de oferecer ao praticante a oportunidade de superação dos limites da deficiência (SAUÁIA e SILVA, 2005). Luz (2000) ao definir um praticante de Jiu-jítsu diz que o mesmo deve adaptar se ao movimento, e saber quando agir e quando esperar, além de sempre estar em estado mental pacífico e aberto, possuindo um desejo de ajustar-se as circunstâncias Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 236 existentes. Se há dificuldade ele pára, concentra-se, a fim de avaliar a situação e tirar proveito dela, mantendo sempre o equilíbrio do corpo e espírito, assim entendido por ser um ser uno, sentindo-se em paz. O praticante de Jiu-jítsu deve possuir educação, disciplina, paciência e respeito para com seus colegas, adversários e superiores. Para ser um grande campeão, na vida e nos tatames, não basta só treinar e ter boas atitudes, boas vibrações, mas acima de tudo, é preciso ter muito respeito (GRACIE apud LUZ, 2000). Considerações Finais E dentro desse processo de compreensão do desenvolvimento motor dos indivíduos em condição de deficiência visual, devemos entender que nosso papel enquanto educadores é o de buscar a garantia de acesso dos mesmos a todos os ambientes, o que viabiliza a implantação do processo inclusivo. Devemos entender os diferentes aspectos do desenvolvimento humano: biológico (físicos, sensoriais, neurológicos); cognitivo; motor; interação social e afetivo-emocional. Porém sempre atentos a compreensão de que o ser humano é uno e, portanto essas divisões só se dão em nível de compreensão acadêmica, quando se trata de lidar diretamente com o indivíduo ele deve ser visto como um todo indivisível (MENEZES, 2008, s/p.). E devemos estar preparados para responder as demandas necessárias do trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, voltadas para a prática educativa, visando o desenvolvimento global do mesmo. Toda a ação pedagógica deve ser pautada sobre a visão da não fragmentação, isso significa que deve haver uma inter-relação entre o que ensinar, para que ensinar e como ensinar (SILVA et. al., 2008). Devendo portanto, estabelecermos um processo reflexivo frente a essa realidade. [...] o processo reflexivo é representado pela ação na qual o pensamento se volta e investiga a si mesmo, examinando a natureza de sua própria atividade e estabelecendo princípios que a fundamentam. A reflexão, nesta perspectiva, possibilita aos professores a tomada de consciência do próprio conhecimento teórico ou prático, favorecendo a reelaboração e a construção de conhecimentos práticos advindos do contexto onde atua. A atitude reflexiva sobre a própria prática, entendida como instrumento de desenvolvimento do pensamento e da ação, aponta que é na própria prática que os professores poderão encontrar as alternativas para mudá-la (MENEZES, 2008, s/p.). Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 10, n. 14, Jan./jun. 2009– ISSN 1679-8678 237 Sendo assim, para que compreendamos o outro é necessário que compreendamos a nós mesmos e ao mundo que nos cerca, só assim podemos estabelecer uma relação de contribuição com o outro, o que é essencial no desenvolvimento do trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual. O mundo externo que percebemos é sempre um mundo nosso, particular. Nosso corpo contém um "mundo externo particular" que o penetrou no processo de viver. A relação entre nosso corpo e o mundo é tão intricada, tão profunda, que podemos assumir que não existimos isoladamente, ao mesmo tempo que não existe nada igual a nós. O mundo é tão complexo quanto nós mesmos. Nossa ação transformadora do mundo emerge de nossas transformações internas (TAVARES,2003 apud SILVA, ARAÚJO & DUARTE, 2004, s/p.) Referências ALMEIDA, José Julio Gavião de; Estratégias para a aprendizagem esportiva: uma abordagem pedagógica da atividade motora para cegos e deficientes visuais. Campinas, 1995. 176f. Tese (Doutorado)-Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. BARREIRA, Cristiano Roque Antunes; MASSIMI, Marina. A Moralidade e a Atitude Mental no Karate-do no Pensamento de Gichin Funakoshi. Memorandum, 2002, v. 2, p. 39-54. Disponível em www.fafich.ufmg.br ou em http://scholar.google.com.br. Último acesso em 20 de outubro de 2008. 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