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ARTIGO
________________________________________________________________________________
Atividade motora adaptada e desenvolvimento motor: possibilidades
através das artes marciais para deficientes visuais.
Maycon Ornelas Almeida
Faculdade Adventista de Educação Física- UNASP (IASP)
Ms. Rita de Fátima da Silva
Faculdade Adventista de Educação Física- UNASP (IASP)
Resumo
No presente estudo buscamos apresentar uma visão geral dos principais
aspectos do desenvolvimento motor, objetivamos também relacioná-lo às
artes marciais, além de discutirmos a contribuição do Judô, Karatê, Jiu-Jítsu e
Taekwondo ao desenvolvimento motor e global do indivíduo em condição de
deficiência visual. Além de discutir alguns aspectos fundamentais da atuação
pedagógica junto a esses indivíduos.
Palavras-Chave: Desenvolvimento Motor, Artes Marciais, Deficiência Visual.
Abstract
In the present study we search to present a general vision of the main
aspects of the motor development, we also objectify to relate it the martial
arts, beyond arguing the contribution of the Judô, Karatê, Jiu-Jítsu and
Taekwondo to the motor and global development of the individual in condition
of visual impairment. Beyond arguing some basic aspects of the pedagogical
performance next to these individuals.
Key Words: Motor development, Martial Arts, Visual Impairment.
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Introducação
Precisamos, para discutirmos acerca do conceito de desenvolvimento motor,
estabelecer um modelo ou plano segundo o qual podemos nos orientar sobre as
considerações propostas com relação ao mesmo. No presente estudo levaremos em
consideração o modelo de Newell (1986) apud Haywood e Getchell (2004), segundo o
qual os movimentos surgem das interações do individuo com o ambiente, que é palco
dos movimentos, e com a tarefa a ser executada. Podendo então serem visualizados
como um triângulo onde um tem influência direta sobre o outro, se uma das
resultantes do triângulo muda, conseqüentemente o movimento muda. Sendo então
estes três fatores chamados de restrições (“constraints”).
Uma restrição é algo como uma limitação- ela limita ou desencoraja, no
caso do movimento – mas ao mesmo tempo permite ou encoraja pela
canalização do comportamento do movimento. As restrições de
movimento dão forma ao movimento. Elas restringem e canalizam o
movimento por um determinado período e em um dado local no espaço;
isto é, elas dão ao movimento uma forma particular (HAYWOOD &
GETCHEL, 2004, p. 20).
As restrições são como limitações individuais e ambientais que estão em
estreita relação com a meta da tarefa. As principais restrições descritas por Newell
(1986) apud Haywood e Getchell (2004) são:
Restrições Individuais- São as características físicas e mentais individuais de uma
pessoa, tais como: altura, idade, força e motivação. As restrições individuais podem
ser estruturais ou funcionais. Um exemplo de restrição individual pode ser dado
considerando um praticante de artes marciais que se encontra em condição de
deficiência visual, seja esta congênita ou adquirida, a deficiência irá restringir, porém
não impedirá este indivíduo de iniciar ou de continuar a praticar artes marciais.
*Restrições Estruturais- Estas levam um tempo maior em seu processo de mudança,
já que geralmente seguem um ciclo natural de desenvolvimento acompanhando o
crescimento e envelhecimento, como exemplo: altura, peso, massa muscular. Visto
que esta restrição está ligada à estrutura corporal, devemos considerar que no
indivíduo em condição de deficiência essas mudanças a nível estrutural já estão
implícitas, devido à restrição dos sistemas, no nosso caso o visual.
*Restrições Funcionais- Estas estão em constante modificação, podendo ocorrer
severas variações em um curto espaço de tempo, sendo exemplo: motivação e foco
de atenção. Portanto são restrições ligadas à função comportamental, estando
inclusas aqui todas as interações socioculturais.
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Restrições Ambientais: São limitações relacionadas ao mundo que nos envolve,
estando fora do corpo, porém exercendo uma influência direta sobre o mesmo. Podem
ser físicas (tipos de piso e parede, obstáculos, gravidade, ônibus sem rampa de
acesso, etc.) ou socioculturais (por exemplo, o preconceito e as visões deturpadoras
da condição de deficiência). Essas restrições são globais e não tem nenhuma relação
de especificidade com a atividade.
Restrições da Tarefa: São externas ao corpo, podem ser compreendidas como
metas, regras e equipamentos que utilizaremos em nossas atividades. Por exemplo,
quando se está em um processo de ensino-aprendizagem de Kata para um deficiente
visual, ao utilizarmos um tatame em relevo indicando a direção a ser seguida durante
a execução do mesmo, estamos nos valendo de uma restrição da tarefa em interação
direta com uma restrição individual e estrutural (deficiência visual), permitindo um
melhor aproveitamento no desenvolvimento da aprendizagem do Kata.
O desenvolvimento motor não deve ser compreendido sob o foco de uma visão
unidimensional ou até mesmo bidimensional somente, ele deve ser compreendido
como um fenômeno multidimensional, agrupando todas as abordagens que se fazem a
respeito dele, porém jamais deverá se limitar a elas (GALLAHUE, 2002).
A separação e a classificação distintas de movimentos nem sempre é
possível ou desejada. Como seres humanos em movimento e dinâmicos,
estamos sempre respondendo a muitos fatores sutis do meio ambiente e
às demandas específicas da tarefa de movimento em particular. A
classificação arbitrária de movimento deve servir apenas para focar
atenção sobre o aspecto específico de movimento sob consideração do
professor ou do técnico (GALLAHUE, 2002, p. 107).
Partindo desse princípio o autor aponta quais são os principais componentes a
se levar em conta para uma compreensão
multidimensional do movimento,
ressaltando que as distinções são apenas para fim de compreensão, quando
pensarmos em desenvolvimento motor devemos levar todos esses aspectos em
consideração.
Aspectos Musculares de Movimento (tamanho/extensão do movimento):
Habilidades de Coordenação Motora Grossa: Utilizam grandes grupos musculares para
realizar uma tarefa de movimento (chutar, socar, aplicar uma queda no Judô,
movimentação de chão no Jiu-jítsu, correr, saltar, arremessar, agarrar).
Habilidades de Coordenação Motora Fina: Utilizam pequenos grupos musculares. Nas
artes marciais estas são habilidades pouco utilizadas.
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Aspectos temporais de Movimento (série de tempo no qual o movimento
ocorre):
Habilidades Motoras Discretas: Apresentam início e fim definidos (realizar um
Kata ou Poom-Se de forma linear e completa, aplicar uma queda e encaixar uma
finalização em seguida, alcançar uma bola arremessada, atirar uma vara).
Habilidades Motoras em série: Série de habilidades discretas realizadas em sucessão
rápida (realização dos Kihons no Karatê ou dos Kibon Dong Jak no Taekwondo, driblar
uma bola de basquete, abrir uma porta).
Habilidades
Motoras
Contínuas:
Realizadas
repetidamente
durante
um
tempo
arbitrário (utilização dos movimentos do Kihon na execução de um Kata ou dos Kibon
Dong Jak na execução de um Poom-Se, pedalar uma bicicleta, nadar, tocar um
violino).
Aspectos de Movimento relacionados ao meio ambiente (contexto no qual o
movimento ocorre):
Habilidades Motoras Abertas: Ocorrem em um ambiente imprevisível e
constantemente mutável (lutas práticas de Judô e Jiu-jítsu, puxar violentamente,
agarrar uma bola no ar). Aqui encontramos um aspecto interessante, pois essas
habilidades exigem do indivíduo uma plasticidade para que possa ajustar-se as
demandas
do
ambiente
ou
da
tarefa,
portanto
sendo
necessário
refletir
constantemente sobre a prática, pois a mesma exige um feedback externo ou interno
para sua execução com sucesso.
Habilidades Motoras Fechadas: Ocorrem em um meio ambiente estável e imutável
(Katas, Kihons, Kibon Dong Jak, Poom-Se, arremessar em golfe). É realizada em um
ambiente estável ou previsível onde aquele que a executa determina quando iniciará a
ação, demanda uma rigidez de desempenho. Depende mais de um feedback
cinestésico do que visual ou auditivo da execução da tarefa.
A estabilidade do ambiente na execução de habilidades motoras
fechadas leva o executante, tentativa após tentativa, a buscar
consistência na forma como executa a ação. Naquelas habilidades em
que as alterações no ambiente determinam o quando e como a ação
deva ser executada, o executante busca adaptar o padrão motor a estas
alterações ambientais. Assim, enquanto nas fechadas, a variabilidade no
padrão deve ser a menor possível, nas abertas a variabilidade no padrão
motor acompanha a variabilidade dos estímulos relevantes para a ação
(PELLEGRINI, 2000, p. 30).
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Aspectos Funcionais de Movimento (objetivo do movimento):
Tarefas de Estabilidade: Ênfase em ganhar ou manter o equilíbrio tanto em
situações de movimento estático quanto dinâmico (evitar uma queda, manter o
equilíbrio durante as mudanças bruscas de direção na execução das formas ou
aplicação das técnicas em qualquer estilo de luta, sentar, ficar de pé, equilibrar-se
sobre um pé, andar sobre uma barra estreita).
Tarefas Locomotoras: Transportar o corpo de um ponto a outro no espaço (realizar as
técnicas de ataque e defesa em movimento, deslocamentos realizados durante a
execução das formas [luta imaginária], engatinhar, correr, realizar o salto em altura).
Habilidades Manipulativas: Colocar força sobre um objeto ou receber força de um
objeto (o ato de segurar no quimono, socar e chutar um alvo direcionado em altura
adequada para o deficiente visual, o ato de bater, rebater a bola, escrever, tricotar).
E finalmente devemos considerar as fases do desenvolvimento motor, para que
compreendamos em qual nível de desenvolvimento o indivíduo se encontra, evitando
assim exigir mais do que o mesmo pode oferecer ou subestimar a sua capacidade de
responder satisfatoriamente a um novo estímulo ou conhecimento. As principais fases
do desenvolvimento motor, descritas por Pellegrini (2000) e por Gallahue (2002) são:
Movimento
Reflexivo:
Fase
apresentada
principalmente
na
infância.
São
fundamentais para que se estabeleça o início do processo do desenvolvimento motor.
São controlados subcorticalmente e como resultado, involuntários.
Movimento Rudimentar ou Inexperiente: Estes ainda são movimentos típicos da
infância, porém em indivíduos em condição de deficiência visual ainda se apresentam
fortes resquícios desses movimentos, já que, segundo Souza (2007), tais indivíduos
em especial as crianças apresentam desempenhos inferiores nas áreas motoras,
cognitivas e sociais. Nessa fase o indivíduo busca a compreensão da tarefa, a
visualização de suas invariantes e sua dinâmica estrutural. Por ser algo relativamente
desconhecido para o indivíduo, ele se portará de forma descoordenada e com
movimentos desnecessários.
Movimento Fundamental ou Intermediário: Aqui os principais movimentos,
principalmente de coordenação motora grossa, já se encontram internalizados. Nesse
estágio o indivíduo já se encontra inteirado da tarefa a ser executada, portanto
começa a economizar energia e os movimentos começam a se tornar fluentes e
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harmônicos, os erros vão diminuindo gradativamente ao mesmo tempo em que
aumenta sua confiança na execução do movimento, detalhes antes não percebidos
agora são bem atendidos e o seu padrão motor começa a se estabilizar.
Movimento Especializado ou Avançado: Essa fase compreende os movimentos das
fases anteriores em combinação e interação, originando o que também é denominado
fase dos movimentos complexos. E compreende a nossa meta ao se aplicar um
programa de atividades motoras para indivíduos em condição de deficiência visual,
sejam estas atividades adaptadas ou específicas para este público. Se houver alguma
mudança brusca não haverá mais alterações graves no movimento, já que ele está
internalizado via aprendizagem motora. O que pode ocorrer é uma nova dinâmica
dentro de um mesmo movimento, porém essa mudança seria tão brusca para o
indivíduo em condição de deficiência que poderíamos classificar a aprendizagem dessa
dinâmica como um retorno ao estágio anterior, o estágio intermediário.
Discutiremos agora outros aspectos interessantes do desenvolvimento motor,
ou melhor, do desenvolvimento perceptomotor. A interação percepção-ação tem sido
palco de discussão e controvérsias entre pesquisadores, mais há uma forte tendência
a considerá-las indissociáveis.
[...] percepção é o processo pelo qual adicionamos significado ao
estímulo sensorial. Como os indivíduos interpretam o estímulo sensorial
é o tópico fascinante do desenvolvimento perceptivo. Para os indivíduos
se moverem ou agirem em um ambiente, precisam percebê-lo. Na
realidade, algumas concepções entendem percepção e ação como
interativas a ponto de serem inseparáveis (HAYWOOD & GETCHEL,
2004, p. 194).
Esse processo interativo nos remete a dois conceitos do desenvolvimento
perceptomotor, que são a discriminação e o reconhecimento, o primeiro refere se a
habilidade de notar diferenças e semelhanças entre objetos e informações sensoriais,
e o segundo está relacionado à habilidade de fornecer uma descrição exata de objetos
ou informações sensoriais, destacando sua relevância. Segundo Piaget, isso é o que se
denomina processo cognitivo de assimilação e acomodação (MARTIN E BUENO, 2003
apud SOUZA, et.al.,2005.).
O termo aprendizagem implica em um processo de assimilação de
elementos novos às estruturas anteriores. [...] querer aprender um
gesto novo é fazer referência a qualquer coisa já realizada, ou que
poderá ser utilizado para a realização do gesto novo. Então aprender é
construir uma novidade, apoiando-se em estruturas já construídas,
modificando-as sem que para isso sejam destruídas pelo processo de
acomodação à situação nova (CARRASCO, 1982 apud ALMEIDA, 1995,
p. 24).
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Nos indivíduos em condição de deficiência visual, esse processo de assimilação
e acomodação, supostamente estaria prejudicado devido as suas restrições, porém os
mesmos se utilizam de forma característica de outros canais perceptivos como forma
de superar a restrição estrutural referente à visão. Dentre os quais destacamos:
Percepção auditiva: Algumas teorias chegaram a supor que em face da deficiência
visual, haveria um melhor desenvolvimento dessa habilidade e que haveria uma
compensação automática da agudeza auditiva, porém a teoria que melhor explica
esse fato é a de que os indivíduos melhor desenvolvem essa habilidade devido aos
esforços empreendidos para a superação da restrição estrutural que é a cegueira,
sendo assim, se desenvolvem mais rapidamente do que eficazmente (MARTIN &
BUENO, 2003 apud SOUZA et. al. 2005; LORA, 2003).
[...] a melhora no desempenho dos demais sentidos não é uma dádiva
divina e nem pode ser explicada por uma reorganização fisiológica
imediata, mas resulta de um processo de construção, em que ganham
destaque vetores sociais e culturais, entre os quais se destaca a
linguagem (VYGOTSKI, 1997 apud KASTRUP, 2007, p. 70)
Essa é a principal forma de comunicação com o deficiente visual, e devemos
fornecer o máximo de informações sonoras, porém em alguns momentos a ausência
de som pode ser utilizada como mecanismo de aprendizagem, pois conferirá um grau
maior de dificuldade, exigindo assim uma resposta mais elaborada. Nas artes marciais
devemos explorar a utilização do Kiai (grito objetivando liberação de energia,
produzido a partir da respiração abdominal).
Percepção Tátil: O tato é considerado o sentido mais apropriado para fornecer as
referências necessárias à localização e apreensão do mundo no qual o deficiente visual
se encontra inserido, ele é dividido em tato passivo e em tato ativo (ou tato háptico).
*Tato Passivo: A informação recebida não é intencional da parte do deficiente visual,
podemos citar como exemplo a sensação de calor causada pelo Kimono em contato
com a pele, ou um resvalo no adversário durante uma luta.
*Tato Ativo: A informação é procurada de forma intencional pelo indivíduo que toca o
objeto e procura identificá-lo e interagir com ele. Como exemplo podemos citar a
utilização dos pés para localizarem os limites do tatame durante a realização de uma
seqüência de formas ou o toque no Kimono para verificar o posicionamento do
adversário durante uma luta. Um exemplo clássico é a utilização da bengala de
Hoover como uma extensão do dedo para verificar a superfície a ser explorada.
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Percepção
Cinestésica
(Proprioceptividade):
Segundo
Lora
(2007,
s/p.),
“cinestesia é a sensibilidade para perceber os movimentos musculares ou das
articulações e esta percepção nos torna conscientes da posição e do movimento do
corpo”. Os principais elementos da percepção cinestésica são: consciência corporal
(lateralidade, dominância, equilíbrio), imagem corporal, relação do corpo com os
objetos que se encontram relacionados no mesmo espaço que ele.
Esta modalidade de consciência está voltada para a percepção de
estados do próprio corpo. Ela compartilha os mecanismos neurais da
consciência perceptual, porém também envolvendo novos tipos de
feedback que suportam a formação da noção de um "eu corporal"
autônomo e distinto dos demais seres presentes à percepção. Os
mecanismos de feedback envolvem ciclos de reaferência corporal,
ligados à geração de sensações corpóreas, sentimentos e emoções
(PEREIRA, 2003, p. 124).
Compreendidos esses processos fundamentais a se considerar no estudo do
desenvolvimento motor, além de serem essenciais ao se elaborar um programa de
atividade motora adaptada, iniciaremos agora uma breve discussão acerca dos
benefícios propiciados pelas artes marciais, o que justifica a sua adaptação para
indivíduos em condição de deficiência visual. Apesar de discutirmos conceitos do
desenvolvimento motor que podem ser aplicados a todas as artes marciais e
expressões da cultura corporal de movimento, nesse estudo nos limitamos a
apresentar as características do Judô, Karatê, Jiu-Jítsu e Taekwondo.
O termo artes marciais advém da cultura romana, onde Marte é o deus da
guerra, sendo o mesmo irmão de Minerva, a deusa da sabedoria. Porém quando se
analisa a fundo a cultura romana, percebe-se que a guerra simbolizada por Marte era
a guerra interior, ou seja, a busca quase esotérica pelo crescimento espiritual e, por
conseguinte a busca pelo desenvolvimento integral como ser humano. Essa
representação espiritual também pode ser encontrada fora do panteão romano, por
exemplo, na Índia tal representação era dada ao deus Kartykeya, que era irmão do
deus
Ganesha,
símbolo
da
sabedoria.
Na
América
pré-colombiana
também
encontramos uma similar representação através do deus Tezcatlipoca. O que se
objetiva discutir é que desde seus primórdios, apesar de haver constantes ligações
bélicas, as artes marciais sempre foram utilizadas como ferramenta para que se
travasse a maior das lutas e melhor das conquistas: aquela que o homem trava
consigo mesmo, objetivando a vitória e a possibilidade de governar-se com sabedoria
(SEVERINO, 1983; RATTI & WESTBROOK, 2006).
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Portanto percebe-se aqui a intencionalidade de buscar além de uma prática
vazia, um significado mais concreto voltado para o desenvolvimento integral, ou
podemos compreender como uma busca pela “consciência transitiva crítica”, onde há
uma constante busca pela superação e transcendência, de forma a buscar a
emancipação tanto pessoal, quanto em termos de interações com a sociedade em
geral (FREIRE apud MEDINA, 1996).
Essa é uma das principais justificativas do porque termos escolhido as artes
marciais como objeto principal na construção de um programa de atividades motoras
adaptadas, pois além de proporcionarem ricas experiências motoras, possuem em sua
maioria como componentes de seu programa, um sistema filosófico os quais regem a
vida do praticante tanto dentro da prática, como em sua vida em sociedade.
A utilização do termo filosofia marcial pode ser compreendido como, “um
termo de senso comum utilizado para identificar os aspectos da sabedoria e conduta
oriental existente nas Artes Marciais”, mas que expressa muito bem os seus objetivos,
“já que a Filosofia deve ser entendida como a análise, reflexão, crítica e a busca do
fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas e indagações”
(DRIGO et.al., 2005; CHAUÍ, 1997 apud DRIGO et.al., 2005). Porém, filosofia difere
da sabedoria de vida ou modo de viver, que é o conceito proposto e buscado pelas
artes marciais em geral, que possuem um quadro filosófico incorporado ao seu
programa, pois a sabedoria de vida ou modo de viver seria uma contemplação do
mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos
o domínio sobre nós mesmos, sendo esse o propósito máximo que se objetiva
encontrar nas artes marciais, quando desligadas das questões esportivistas, que em
sua maioria tem denegrido esses aspectos internos das artes marciais, sendo que
esses aspectos interno podem agir como auxiliares indispensáveis para agregar
conteúdos culturais ao deficiente visual (LAGE & GONÇALVES, 2007).
Judô
O Judô é uma arte marcial que se preocupa com o ser humano como sendo
integral e indivisível, possibilitando o desenvolvimento de técnicas corporais aliadas a
um forte componente filosófico, princípio esses que se aplicarão a todas as fases da
vida, desafios, combates e contratempos, com os quais o indivíduo em condição de
deficiência visual porventura irá se defrontar, auxiliando-o nas suas atividades, quer
sejam esportivas, sociais ou profissionais (RUSSO & SANTOS, 2001).
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Esses princípios filosóficos são todos baseados naqueles criados por Jigoro
Kano, por ocasião da fundação do Kodokan, os quais permanecem até hoje tendo
sofrido poucas modificações necessárias. Tais princípios baseiam-se em três pilares
norteadores que são:Ju: Suavidade./Seiryoku-Zen-Yo: Máxima eficiência com o
mínimo esforço./Jita-Kyoei: Bem estar e benefícios mútuos.
Vieira e Souza (2006, pg. 20) nos dizem que devemos “entender o judô como
uma prática pedagógico-desportiva de visão global, que se estabelece como estratégia
de aprendizagem, em busca do desenvolvimento e da diminuição de defasagens
psicomotoras”.
E ainda em relação as nossas construções acerca do desenvolvimento motor,
encontramos que:
Como as situações em uma luta de judô são sempre novas, embora
exista semelhança com situações passadas, é possível afirmar que um
golpe executado não é um golpe novo nem uma repetição de um golpe
já executado, mas um golpe construído, especificado e produzido para
aquele
dado
momento,
caracterizando
a
interação
lutadoroponente/ambiente (BARLETT, 1932; MANOEL, 1995 apud FRANCHINI,
1998 p. 35).
Em relação as principais características desenvolvidas através da prática
sistemática do Judô, podemos citar: Consciência do próprio corpo; Organização do
esquema corporal; Domínio do equilíbrio; Orientação de tempo e espaço; Mobilidade
segura; Exploração das possibilidades corporais; Eficiência nas coordenações globais e
segmentadas (BROUSSE & MATSUMOTO, 1999 apud RUSSO & SANTOS, 2001 e
VIEIRA & SOUZA, 2006).
O Judô dentro de seu programa técnico-filosófico projeta a possibilidade de
promover fatores determinantes para a autodescoberta, além do favorecimento para
mobilidade independente e orientação segura, possibilitando aos deficientes visuais
vivências além dos esquemas a eles preconizados, desenvolvendo “movimentos e
ações que propiciem o princípio da ação e reação sob o aspecto do desequilíbrio
surtido em função de uma força” (SEISENBACHER & KERR, 1997 apud VIEIRA &
SOUZA, 2006).
Carmeni (1998) apud Russo e Santos (2001) cita que o Judô procura
determinar quais pontos devem ser estudados e superados através de sua prática,
como exemplo: o medo, a angústia, a ansiedade e o nervosismo. Já que o equilíbrio
emocional e as capacidades cognitivas são imprescindíveis na prática do Judô, legando
dessa forma rico conteúdo ao desenvolvimento do deficiente visual, além de atacar a
fundo alguns dos principais problemas relacionados ao cotidiano do deficiente visual.
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O Judô ainda tem a capacidade de favorecer o equilíbrio físico e psíquicoafetivo, aperfeiçoando as capacidades de concentração, aplicação, perseverança e
abnegação, estimulando e dando confiança aos indecisos, preparando o indivíduo em
condição de deficiência visual ou não para vencer os complexos que porventura
surgirem, tais como a inibição, superioridade ou inferioridade (MARTINEZ, 1974 e
VILLIAUMEY, 1981 apud RUSSO & SANTOS, 2001).
Sendo assim podemos dizer que o Judô:
[...] se consolida a partir do sucesso na diminuição das defasagens
psicomotoras. Destacando-se na melhoria dos comprometimentos
psicomotores e na aquisição e desenvolvimento das capacidades
coordenativas e condicionantes, inerentes ao desporto (RUSSO &
SANTOS, 2001, s/p).
Portanto compreendemos o Judô como uma importante ferramenta de atuação
no trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, do qual podemos nos
valer como sendo um privilégio na atuação junto a esse modelo de docência especial.
Taekwondo
O Taekwondo em suas origens, provenientes de milenares técnicas de combate
coreanas, seguia um rigoroso código de ética, o qual na atual configuração do
Taekwondo deu lugar a um código que é expresso nos seguintes preceitos:
* Cortesia; Integridade; Perseverança; Espírito indomável. Domínio sobre si mesmo;
Sendo que todas as atitudes do praticante de Taekwondo devem ser regidas por
esse código, não sendo diferente com o deficiente visual, e sobre o código temos a
seguinte citação:
[...] é a base do sentido filosófico dos seus praticantes, onde a força da
combinação das atitudes intelectuais com as físicas torna uma pessoa
em um ser humano justo e familiar, humilde ,determinado e de moral
elevada na sociedade, nação e com senso de humanidade (KIM, 2000
apud GOMIDES, 2006, p. 10).
Vemos então a preocupação com as questões transversais da conduta humana,
compreendendo assim que podemos oferecer ao deficiente visual, além das vivências
motoras, um grande subsídio sócio-cultural.
Assim sendo cada praticante de Taekwondo vai polindo seu caráter por
uma pura filosofia de respeito a preservação da vida e não mais se
curvará ante qualquer dificuldade. Por ser uma pessoa preparada física e
mentalmente para superar qualquer obstáculo que surgir em sua vida
(KIM, 1995, p. 14).
E quanto a prática do Taekwondo, encontramos que:
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[...] oferece aos seus praticantes que adquiram noções de seus
elementos básicos (defesas, socos, chutes e outros, e que por sua vez,
só devem ser explorados após um preparo adequado), a oportunidade
de desenvolvê-los em forma de movimentos e em seqüencias,
explorando variações de coordenação motora, espacial e temporal, de
força, memória motora e algumas outras qualidades específicas deste
esporte e, no mínimo gerais aos demais. Damos assim, sentido mais
amplo do que um simples ato mecânico, incluindo na formação do
indivíduo o preparo psicológico e o desenvolvimento cognitivo entre
outros (ALMEIDA, 1995, p. 105).
O Taekwondo, segundo seu organizador, deve ter como objetivos principais a
busca pelo equilíbrio psicológico/fisiológico e a conseqüente autonomia sobre esse
equilíbrio, além de poder auxiliar a criação de seres humanos independentes e fortes,
compreendendo o ser humano como sendo uno e impassível de divisões. Sendo assim
encontramos:
O objetivo do Taekwondo não é só formar campeões nas competições,
mas pessoas que vencem cada dia seus problemas sociais, onde estes
podem ser tratados, evitados ou minimizados e seus efeitos colaterais
sanados e através da prática, melhorar a vida, com uma melhor
formação corporal e espiritual (KIM, 2000 apud GOMIDES, 2006, p. 08).
Vemos então como o Taekwondo está ligado aos problemas diários vividos pelo
indivíduo em condição de deficiência visual, e como ele busca auxiliar a superação
dessas dificuldades. E quanto aos seus benefícios no auxílio ao deficiente visual,
encontramos que:
Estes elementos em movimento criam ao deficiente visual a
oportunidade de trabalhar a coordenação motora, espacial. Com o
tempo, algumas qualidades físicas são aplicadas com mais ênfase.
Também não há a necessidade aqui, com o tempo, de auxílio de
percepção tátil, de sons ou materiais auxiliares outros, ou seja, trata-se
de uma maneira inabitual de deficientes visuais explorarem a atividade
motora (ALMEIDA, 1995, p. 106).
Podendo então o Taekwondo ser analisado e visto como mais uma arte rica no
auxílio
ao
deficiente
visual,
atendendo
aos
pré-requisitos
básicos
para
o
desenvolvimento motor e agregado de elementos que constituem uma rica bagagem
cultural/filosófica ao indivíduo em condição de deficiência, atacando a fundo a
problemática negativa da condição de deficiência.
Karatê
O Karatê hoje é divido em três fundamentos, o Kihon, o Kata e o Kumite. Sendo
que
nos
dois
primeiros
trabalhamos
todos
os
pré-requisitos
necessários
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desenvolvimento
motor
do
deficiente
visual,
os
quais
já
foram
discutidos
anteriormente, já que em todos utilizamos movimentos que envolvem andar, correr,
saltar, agachar, estender, inclinar, girar, puxar, dentre outros. Além de se trabalhar
todos os componentes da discriminação cinestésica, capacidades coordenativas,
habilidades motoras e capacidades físicas, além de melhoras nas capacidades de
percepção, execução e decisão, aumentando a segurança e autoconfiança e
conseqüentemente a integração desses indivíduos com outros grupos de pessoas,
agregando assim conteúdo motor, cultural e psíquico-social (BARREIRA & MASSIMI,
2002; RAMOS, 2006).
Em relação à prática do que deve ser o verdadeiro Karatê, encontramos a
seguinte citação:
Treinar significa treinar o corpo e o espírito e, acima de tudo, a pessoa
deve tratar o adversário com cortesia e a devida etiqueta. Não basta
lutar com toda a força pessoal; o verdadeiro objetivo do karate-do é
lutar em nome da justiça. Gichin Funakoshi, um grande mestre de
karate-do, observou repetidas vezes que o propósito máximo da prática
dessa arte é o cultivo de um espírito sublime, de um espírito de
humildade. E, ao mesmo tempo, desenvolver uma força capaz de
destruir um animal selvagem enfurecido com um único golpe. Só é
possível tornar-se um verdadeiro adepto do karate-do quando se atinge
a perfeição nesses dois aspectos: o espiritual e o físico. (NAKAYAMA,
1996, p. 09).
Vimos então que a prática é apenas um subsídio ou caminho para que se possa
compreender mais do que o combate, podendo legar dessa forma ao deficiente visual,
uma visão de luta em prol de seus ideais e dos ideais de seus semelhantes, tais como,
lutar por uma sociedade onde a deficiência possa ser vista como uma possibilidade
que pode alcançar qualquer um e não mais como algo fora do que, erroneamente é
tratado como sendo normal.
Decidir quem é o vencedor e quem é o vencido não é o seu objetivo
principal. O karate-do é uma arte marcial para o desenvolvimento do
caráter através do treinamento, para que o karateka possa superar
quaisquer obstáculos, palpáveis ou não (NAKAYAMA, 1996, p.11).
E segundo Lemos (1998, s/p.) o Karatê:
[...] é uma disciplina que eleva o espírito, potencializando o homem
desde seu interior com o conhecimento próprio e a utilização adequada
de sua própria energia. Falar de Karatê é falar de uma filosofia de vida,
de uma maneira de afrontar os problemas diários. Por isto quando se
educa uma pessoa segundo os princípios do Karatê, não se ensina
somente a técnica, também transmitimos esta mensagem, preparamos
para a vida, fundamentados em um respeito e moral voltados para a
cidadania.
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Compreendemos assim o Karatê como mais uma importante ferramenta a ser
utilizada no trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, pois além dos
pré-requisitos necessários a um completo desenvolvimento motor, ele possui uma
filosofia ou busca pela sabedoria de vida, pautada em valores sólidos e voltada para a
cidadania e conseqüentemente à emancipação da pessoa com deficiência
Jiu-Jítsu
É considerado um esporte intelectualizado, tendo em vista sua complexidade,
seus movimentos obedecem a uma ordem crescente de dificuldades e que requerem
controle físico, mental, e inteligência para coordenar inúmeras variáveis que vão se
apresentando no decorrer de uma luta. Com a prática constante, adquire-se e
aprimora as capacidades ou valências físicas básicas como a Força, Velocidade,
Resistência, Flexibilidade e Coordenação. Seus movimentos regulam o controle motor,
ativando e melhorando não só a psicomotricidade, como, a coragem, autoconfiança e
o total controle sobre si mesmo (LUZ, 2000).
O Jiu-jítsu adaptado, embora possua em linhas gerais, os mesmos objetivos do
Jiu-jítsu comum, utiliza metodologia especial, atendimento diferenciado e recursos
humanos especializados.
A importância da prática do Jiu-jítsu consiste em utilizar uma
aprendizagem significativa, através de uma diretriz educacional, para o
desenvolvimento dessas habilidades motoras e funções, propiciando
condições para que o deficiente visual organize e elabore as informações
do mundo ao seu redor, além de diminuir as defasagens psicomotoras
comuns à deficiência visual, proporcionando o desenvolvimento da
autoconfiança e formação de novos conceitos através da exploração do
ambiente e das situações de aprendizagem (SAUÁIA & SILVA, 2005, p.
84).
O Jiu-jítsu enquanto prática desportiva constitui-se numa prática que oferece
condições de desenvolvimento pleno das habilidades motoras e funções psicomotoras
influenciando ainda a redução da ansiedade promovida pela problemática da
deficiência e pelas questões de cunho social, que acabam por causar um reducionismo
da problemática da deficiência, além de resultar em segregação. O Jiu-jítsu pode e
deve ser adotado como prática corporal, pois o mesmo funciona como instrumento
capaz de oferecer ao praticante a oportunidade de superação dos limites da
deficiência (SAUÁIA e SILVA, 2005).
Luz (2000) ao definir um praticante de Jiu-jítsu diz que o mesmo deve adaptar
se ao movimento, e saber quando agir e quando esperar, além de sempre estar em
estado mental pacífico e aberto, possuindo um desejo de ajustar-se as circunstâncias
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existentes. Se há dificuldade ele pára, concentra-se, a fim de avaliar a situação e tirar
proveito dela, mantendo sempre o equilíbrio do corpo e espírito, assim entendido por
ser um ser uno, sentindo-se em paz.
O praticante de Jiu-jítsu deve possuir educação, disciplina, paciência e respeito
para com seus colegas, adversários e superiores. Para ser um grande campeão, na
vida e nos tatames, não basta só treinar e ter boas atitudes, boas vibrações, mas
acima de tudo, é preciso ter muito respeito (GRACIE apud LUZ, 2000).
Considerações Finais
E dentro desse processo de compreensão do desenvolvimento motor dos
indivíduos em condição de deficiência visual, devemos entender que nosso papel
enquanto educadores é o de buscar a garantia de acesso dos mesmos a todos os
ambientes, o que viabiliza a implantação do processo inclusivo. Devemos entender os
diferentes aspectos do desenvolvimento humano: biológico (físicos, sensoriais,
neurológicos); cognitivo; motor; interação social e afetivo-emocional. Porém sempre
atentos a compreensão de que o ser humano é uno e, portanto essas divisões só se
dão em nível de compreensão acadêmica, quando se trata de lidar diretamente com o
indivíduo ele deve ser visto como um todo indivisível (MENEZES, 2008, s/p.).
E devemos estar preparados para responder as demandas necessárias do
trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual, voltadas para a prática
educativa, visando o desenvolvimento global do mesmo. Toda a ação pedagógica deve
ser pautada sobre a visão da não fragmentação, isso significa que deve haver uma
inter-relação entre o que ensinar, para que ensinar e como ensinar (SILVA et. al.,
2008).
Devendo portanto, estabelecermos um processo reflexivo frente a essa
realidade.
[...] o processo reflexivo é representado pela ação na qual o
pensamento se volta e investiga a si mesmo, examinando a natureza de
sua própria atividade e estabelecendo princípios que a fundamentam. A
reflexão, nesta perspectiva, possibilita aos professores a tomada de
consciência do próprio conhecimento teórico ou prático, favorecendo a
reelaboração e a construção de conhecimentos práticos advindos do
contexto onde atua. A atitude reflexiva sobre a própria prática,
entendida como instrumento de desenvolvimento do pensamento e da
ação, aponta que é na própria prática que os professores poderão
encontrar as alternativas para mudá-la (MENEZES, 2008, s/p.).
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Sendo
assim,
para
que
compreendamos
o
outro
é
necessário
que
compreendamos a nós mesmos e ao mundo que nos cerca, só assim podemos
estabelecer uma relação de contribuição com o outro, o que é essencial no
desenvolvimento do trabalho com indivíduos em condição de deficiência visual.
O mundo externo que percebemos é sempre um mundo nosso,
particular. Nosso corpo contém um "mundo externo particular" que o
penetrou no processo de viver. A relação entre nosso corpo e o mundo é
tão intricada, tão profunda, que podemos assumir que não existimos
isoladamente, ao mesmo tempo que não existe nada igual a nós. O
mundo é tão complexo quanto nós mesmos. Nossa ação transformadora
do mundo emerge de nossas transformações internas (TAVARES,2003
apud SILVA, ARAÚJO & DUARTE, 2004, s/p.)
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Data de aceite: 19/03/09
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