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P O RR I C A R D OV A R G A S *
queandampor aí
As pessods
ORTUGAL E O PAIS DAS PESSOAS
que "andam por aí'i que "flcam por
aí" ou que "nunca saíram daÍ".As
empresas,os ministérios, os poderes
locais e centrais, as instituições, os
autocarrose as ruas, estão cheios
delas.É praticamente impossÍvel
levar a cabo qualquer projecto numa
empresasem precisar da decisãoou interferência de
aiguém"que ande por aí".
Como é que um país historicamente tão exposto ao
mundo e que lançou vagasde descobridorese conquistadorestem hoje tantas pessoasque simplesmente
"andam por aÍ"?
Por ser um país pequenoe tradicionalista.Nos meios
pequenos e fechados, ainda que apenasmentalmente,
"estar por aí" conta, é um factor relevante. Na falta de
melhores critérios de avaliação,como a qualidade ou
produtividade do trabalho, a dimensão física da presença aparececomo factual,incontornável.É um critério
objectivo. Afinal, se alguêm se mantém tanto tempo
numa dada posição, papel ou circunstância, é porque
certamenteexistem boas razõespara isso. Mesmo que
ninguém as entenda, pensa sempre que outrém as conhecerá,pelo que não se questiona sobre o facto,
Diferentes das pessoasque "chegamaqui'l ou das
pessoasque "partem daqui'l as pessoasque "por aqui
andam" têm o condão de ser muíto visÍveis, de se tornar
boas fontes de referências.Acumulam conhecimento,
tornando-se uma enciclopédiade factos sobre a organizaçãoou comunidade. Isso mesmo é valorizado pelos
outros, os que "querem fazer algo aqlj",jâ que a eÌes
devem recorrerpara conseguirpassaros seusprojectos
e intenções.
Por isso, acabapor ser dadauma importância à sua
presença,que aparecequase desligada das reais qualidadesque possampossuir.Estar presentetorna-se a
sua principal qualidade."Ele jâfaz parte da mobília.""Ele
representao património histórico da empresa,/do
par-
* ConsuÌtor de
Iido/da comunidade,/dainstituição.""Ele é o elo com a
história da organização.""Sabes
há quantos anos ele está
neste negócio?"
Desconfiamosdas pessoasque "chegamaqui".Essas
tendem atÍazeÍ üsões diferentes.maneirasestranhasde
estar,ser ou fazer.E isso acabapor chocar,mais tarde ou
mais cedo,com a maneira como as coisasse fazem"por
aqui'i Claro que a maneira como as coisasse fazem é regida pelas pessoasque "andam por aí".
Partir é morrer um pouco. Não por causada saudade,
como canta o fado, mas porque neste país, a ousadia
de sair, de buscar melhores paragense de se desenvolver, é paga com o esquecimento.Eliminamos da nossa
memória as pessoasque daqui partem. Temos a maior
percentagemde fuga de cérebrosda OCDE. Situamo-nos, nesseindicador, entre a Costa Rica e o Malawi.
Vinte por cento dos nossos licenciados vivem fora do
país. Ao mesmo tempo, temos a menor taxa de licenciados da Europa.E vivemos bem com isso. Brilhante.
Não só deixamos que os cérebrosnos quais investimos
saiam, como não temos uma estratégiapara os trazer
de volta. Não sabemosquem são,onde trabalham,
quais as suas competências,como podem ser utilizadas
pelas empresasportuguesas.Tudo questõesacessórias,
porque eles não "estão por aqui".
Mas não nos preocupamos,porque as pessoasque
"andam por aí"vão continuar a"andar por aí",mantendo
o status quo e tranquilizando-nos.Utilizando sabiamente o seu conhecimentodo passadoparanos provar que
sabem tudo o que o futuro trará.
Estespressupostossó se mantêm, porque nós os mantemos. Em vez de ter critérios clarosde competênciae
mérito para decidir quem merece"trabalhar aqui'i achamos que a antiguidade é um posto. Em vez de procurar
encaixarnos lugaresdisponÍveisas pessoasque melhor
garantemo sucessodas organizações,de onde quer que
venham, damos preferência a quem é conhecido. Em vez
de questionar para obter respostas preferimos deixar
que quem "anda por aÍ" nas empresastome conta delas.
Cestão,fundador da Plan B - Consultoria e Desenvoìümento, partner da TMì PortugaÌ, autor de livros de gestão tVa4af@plaú.1ntg1rlafqaLçqd
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As pessoas que andam por aí