Fusíveis - tão pequenos e tão importantes
Autor: Leandro S. Bastos e Fernando Antônio Bersan Pinheiro
Quem nunca passou um grande aperto porque o fusível do aparelho queimou e estava sem outro de
reserva? Por outro lado, quem nunca agradeceu porque, na hora em que o transformador da rede elétrica
do local explodiu, ou alguém fechou curto-circuito na rede elétrica, só o fusível queimou, preservando o
aparelho. É incrível o que essas pequenas peças (de alguns poucos centímetros de comprimento) e tão
baratas (custo por volta de R$ 1,00) podem fazer.
É uma “lei” na eletrotécnica: nunca faça um circuito elétrico (tudo que trabalha com eletricidade) sem um
dispositivo de proteção. E dispositivos de proteção existem de vários tipos, como disjuntores, relés e
fusíveis. Existem vários tipos de cada. Como o assunto é bem extenso, vamos focar ao nosso interesse,
equipamentos de áudio, e assim, com os fusíveis, que são o tipo mais utilizado de sistema de proteção de
equipamentos de áudio.
O intuito de todo fusível é proteger o circuito elétrico do equipamento quanto a sobrecargas e curto
circuitos. Ele é o “ponto fraco” do circuito. Sobrecarga acontece se você fizer o equipamento atuar além
da sua capacidade nominal de trabalho. Pode existir também sobrecargas de tensão (os chamados picos
de tensão, quando a tensão da rede excede o seu valor normal). Curto-circuito o próprio nome já diz, mas
se trata de curto dentro do próprio equipamento, em seu circuito elétrico ou suas saídas.
Como você já deve ter visto, os fusíveis encontrados nos equipamentos de áudio são cilindros de vidro
com extremidades metálicas, e dentro dele existe um filamento (um “fiozinho”). Aquele filamento define
duas características do fusível: a tensão de aplicação (Voltagem) e a corrente máxima (Amperagem) que
ele suporta continuamente sem romper.
Ultrapassada a voltagem ou ultrapassada a amperagem, o fusível se rompe. Note o “ou”, ou seja,
qualquer um dos fatores ultrapassados é motivo para o fusível se romper.
Para se familiarizar, retire algum fusível de algum equipamento (mixer, amplificador, equalizador, etc) e
repare nele. Procure na parte metálica a inscrição da tensão e da corrente. Por exemplo, você pode
encontrar um fusível que trabalhe numa tensão máxima de 150V e corrente máxima de 2A. Ou pode
encontrar um fusível de 250V e 1A. Isso depende da tensão da rede de alimentação e do consumo
nominal (nominal = para qual foi projetado) do aparelho.
Quanto encontramos um equipamento que não quer ligar, a primeira coisa a verificar é o fusível. Se o
filamento estiver rompido, parecido com as figuras abaixo,
será necessário substituir o fusível. Mas há alguns detalhes importantes para a realização desta tarefa.
Vamos começar com o que NÃO FAZER:
1.Algumas pessoas ligam com um cabinho (um outro fio ou filamento, cortado de algum cabinho flexível)
as extremidades do fusível. NUNCA FAÇA ISSO, mesmo sabendo que o equipamento está em boas
condições de operação. Seu equipamento estará totalmente desprotegido pondo em risco a integridade
do mesmo, da instalação, e da segurança das pessoas.
2.Trocar o fusível por outro de maior capacidade de corrente nominal. Dessa maneira você pode
desproteger o equipamento, e em uma possível sobrecarga o mesmo não queimará Quando o fusível não
queima, quem é danificado são os componentes internos do aparelho, de conserto muito mais caro.
3.Colocar um fusível por um de tensão (voltagem, V) nominal menor do que a tensão de operação do
aparelho. Você pode ter o inconveniente de ter o fusível queimando durante a operação do mesmo, sendo
que nenhum problema pode ter ocorrido para a queima do fusível.
4.Colocar um fusível de corrente (amperagem, A) nominal bem menor do que a especificada. Idem pelo
motivo acima.
Ao encontrar um fusível queimando, é altamente recomendável fazer, antes mesmo da sua substituição,
uma análise para descobrir o motivo da queima. Pode ter sido um um curto-circuito (curto-circuito na rede
elétrica ou até mesmo curto em cabos de áudio defeituosos. Por exemplo, isso é muito comum de
acontecer nos cabos das saídas de potência de amplificadores) ou uma sobrecarga no sistema.
Apesar de ser algo difícil (antes de substituir o fusível fazer os testes), principalmente se estamos no meio
de um evento, isso é altamente recomendável para a preservação do equipamento. Como existem
aparelhos que custam dois mil reais, vinte mil reais, ou mais de duzentos mil reais, colocar simplesmente
um novo fusível e ligar novamente (sem antes fazer as verificações e testes), e o fusível queimar
novamente, ele protegeu o equipamento contra algo pior, mas nessa nova tentativa de liga-lo pode ter
danificado algum componente interno.
Se o fusível de um equipamento queimou, e um novo fusível for instalado e voltar a queimar, não insista:
deixe o equipamento de lado e leve-o a uma oficina para inspeção completa!
É importante lembrar que surtos de tensão na rede elétrica podem provocar queima de fusíveis. Isso pode
ser evitado se tiver um sistema corretamente aterrado e protegido por filtros e/ou estabilizadores.
Como agir corretamente então na troca de fusíveis?
1.Sempre troque o fusível pelo mesmo especificado pelo fabricante, lembrando da TENSÃO e
CORRENTE projetada para o equipamento. Em muitos equipamentos, tal informação vem escrita na
própria serigrafia, ao lado do fusível, mas em alguns casos, será necessário consultar o manual. Somente
desta forma o aparelho estará protegido quando a problemas internos ou desligamentos indesejáveis.
2.Em situações de emergência é aceitável a utilização de fusíveis de corrente pouco inferior a nominal.
Caso seu amplificador possua um fusível de 2,0A, e por sobrecarga ele queimou, e você está no meio de
um evento, e tem na sua mala um fusível de 1,8A, pode usa-lo para suprir esta emergência, mas sabendo
que uma nova interrupção pode ocorrer se o amplificador em questão for exigido ao limite.
3.A regra mais importante é também a mais difícil de ser cumprida. TENHA FUSÍVEIS SOBRANDO, E OS
MANTENHA POR PERTO! Possua em sua mala de ferramentas fusíveis sobressalentes de cada
equipamento, para em alguma situação emergencial você não ficar sem o que poder fazer.
Uma dica: em equipamentos com alças, prenda alguns fusíveis sobressalentes nelas, com fita crepe. É
uma solução simples e fica sempre fácil de lembrar onde estão os fusíveis.
Em resumo, para ter seus equipamentos devidamente protegidos, sempre troque os fusíveis pelos
mesmos especificados pelo fabricante e na queima de algum, verifique a causa da queima antes da
substituição do fusível.
Tensão (Voltagem) e fusíveis
A maioria dos equipamentos é vendida com tensão selecionável (bi-volt), para 110V ou 220V (em geral há
uma chave para selecionar a tensão desejada). O normal é as fabricas deixarem configurados o aparelho
em 220V, e inclusive o fusível também para 220V.
Só que, pela Lei de Ohm, o fusível de 110V tem o dobro da amperagem do fusível de 220V. Veja:
Potência = Voltagem x Amperagem
Fusível de 4A para 110V = 4 x 110 = 480Watts
Fusível de 2A para 220V = 2 x 220 = 480 Watts
É comum no manual vir preso um fusível a mais, para 110V (já que o fusível de 220V já está no
aparelho), e um alerta para, se operado em 110V, realizar ANTES a troca do fusível.
Só que... ninguém lê manual, ou se lê não presta atenção neste “detalhe”. E usa o aparelho com um
fusível que aguenta a metade da amperagem. Então, quando o aparelho é mais exigido (um mesa de som
com todos os canais funcionando, um amplificador usado até a máxima potência, etc), o fusível queima.
Note bem: o aparelho funciona perfeito até o dia em que é exigido ao máximo e... o fusível (para 220V)
não aguenta. Podemos garantir, por experiência própria, que ocorrer tal situação no meio de um evento
não é nada agradável.
Amplificadores com disjuntores
Muitos fabricantes tem feito amplificadores de potência com disjuntores no lugar dos fusíveis. A função é
a mesma, sendo o disjuntor uma peça que também suporta uma tensão e uma corrente máximas
(Voltagem e Amperagem). A grande vantagem é o fato de que o disjuntor desarma, não queima. Caso
desarme, um simples movimento em uma chave é capaz de armá-lo novamente.
Isso é mais comum em amplificadores monovolt (caso contrário, seria necessário dois disjuntores, um
para 110V e outro para 220V), e de alta potência.
Fusíveis e consertos de equipamentos
Antes de levar o equipamento defeituoso em uma oficina especializada (o que lhe custará um bom
dinheiro), tire a tampa e faça uma inspeção rápida. Alguns projetos contam com vários fusíveis de
proteção, e às vezes é algum destes outros fusíveis que queimou. Alguns exemplos:
As fontes das mesas Ciclotron (VEGA e CMC) contam com um fusível geral (acessível pelo usuário) e
vários fusíveis internos (só acessíveis se desmontarmos a tampa). Cada fusível é responsável por
proteger uma determinada área, e a queima de um deles pode fazer com que o equipamento não opere
totalmente ou apenas uma função (Phantom Power, por exemplo).
Um amigo instalou um amplificador importado de marca sem representação no Brasil (STK, coreana) de
110V em uma tomada 220V. O fusível geral queimou, mas mesmo trocando-o o aparelho não ligava. Ao
desmontá-lo, percebemos que um capacitor estourou, e que antes das placas de circuito, onde ficam os
componentes mais caros, haviam dois fusíveis internos, também queimados. A troca das peças custou
apenas R$ 20,00, graças à proteção dos fusíveis internos à placa, e nem precisamos de diagrama
esquemático. .
Conclusão
Agora que já sabemos tudo sobre fusíveis, que tal ir na igreja, dar uma revisada nos fusíveis de todos os
equipamentos, comprar sobressalentes caso necessário? Ah, anote o tamanho. Há fusíveis de diferentes
tamanhos.
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