Circe Mary Silva da Silva Vânia Maria Santos-Wagner Ozirlei Teresa Marcilino Erineu Foerste METODOLOGIA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO Povos Territórios Movimentos Sociais Saberes da Terra Sustentabilidade Ministério da Educação Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo Programa de Pós-Graduação em Educação\UFES Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade André Lázaro Educação do Campo da SECAD/MEC Coordenador Geral Wanessa Zavarese Sechim Universidade Aberta do Brasil Coordenador Geral Celso Costa Universidade Federal do Espírito Santo Reitor Rubens Sérgio Rasseli Coordenação da UAB/UFES Maria José Campos Rodrigues Centro de Educação/UFES Diretora Maria Aparecida Santos Correia Barreto Programa de Pós-Graduação em Educação/UFES Coordenadora Denise Meyrelles de Jesus Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) M593 Metodologia da pesquisa em educação do campo : povos, territórios, movimentos sociais, saberes da terra, sustentabilidade / Circe Mary Silva da Silva ... [et al.] ; pesquisadores colaboradores, Antonio Faundez ... [et al.]. - Vitória, ES : UFES, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2009. 90 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN:978-85-60050-17-8 1. Educação rural - Metodologia. 2. Movimentos sociais. 3. Pesquisa - Metodologia. I. Foerste, Erineu. CDU: 37.018.51 Os autores são responsáveis pelas opiniões expressas nos respectivos textos, que não são necessariamente as do Ministério da Educação. METODOLOGIA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO Povos Territórios Movimentos Sociais Saberes da Terra Sustentabilidade Circe Mary Silva da Silva Vânia Maria Santos-Wagner Ozirlei Teresa Marcilino Erineu Foerste Pesquisadores Colaboradores: Antonio Faundez Alexandro Braga Vieira Circe Mary Silva da Silva Cláudio David Cari Conceição Paludo Denise Meyrelles de Jesus Dóris Reis de Magalhães Edivanda Mugrabi Elida Maria Fiorot Costalonga Erineu Foerste Flavio Moreira Gerlinde Merklein Weber Gustavo Henrique Araújo Forde Inês Martins Ramos de Oliveira Johannes Doll Josimara Pezzin Juçara Luzia Leite Kalna Mareto Teao Luciene Perini Maria das Graças Cota Mariângela Lima de Almeida Marli André Ozirlei Teresa Marcilino Patrícia Gomes Rufino Andrade Vânia Maria Santos-Wagner. Vitória\ES - 2009 © 2009. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC) Universidades parceiras Universidade Federal de Alagoas – UFAL Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Universidade de Montes Claros - UNIMONTES Universidade Estadual do Maranhão – UEMA Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS Universidade Federal do Paraná – UFPR Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Coordenação Editorial – SECAD/MEC Maria Adelaide Santana Chamusca Conselho Editorial de Educação do Campo – SECAD/MEC Cezar Nonato Bezerra Candeias - UFAL Edmílson Cezar Paglia – UFPR Erineu Foerste – UFES Icléia A. de Vargas – UFMS Equipe de Apoio – SECAD/MEC Divina Lúcia Bastos Eliete Ávila Wolff Equipe de Apoio – UFES Adriana Vieira Guedes Hartwig Andressa Dias Koehler Arlete Maria Pinheiro Schubert Aryaednyr Polmartney Lima Ferreira Borges Macêdo Christiano Athayde de Oliveira Cláudio David Cari Janinha Gerke de Jesus Jorcy F. Jacob Josimara Pezzin Maria Peres Marli da Penha Vieira Gomes dos Santos Ozirlei Teresa Marcilino Rachel Curto Machado Moreira Rogério Omar Calliari Revisão Elida Maria Fiorot Costalonga Projeto Gráfico e Diagramação Leandro Macêdo SUMÁRIO UNIDADE 1: PESQUISA CIENTÍFICA 1.1 OBJETIVOS DA UNIDADE................................................................................................................................................................................13 1.2 O QUE É METODOLOGIA DE PESQUISA?...................................................................................................................................................14 1.3 TEMA DE INVESTIGAÇÃO................................................................................................................................................................................16 1.4 PESQUISAS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS.........................................................................................................................................18 UNIDADE 2: AS ETAPAS DA PESQUISA 2.1 OBJETIVOS DA UNIDADE................................................................................................................................................................................23 2.2 ELABORAÇÃO DO PROJETO..........................................................................................................................................................................23 2.3 COLETA DE DADOS...........................................................................................................................................................................................26 2.4 ANÁLISE DE DADOS..........................................................................................................................................................................................29 2.5 EXEMPLO DE PROJETO DE PESQUISA........................................................................................................................................................30 2.6 A ÉTICA NA PESQUISA.....................................................................................................................................................................................35 UNIDADE 3: A ESCRITA DA MONOGRAFIA 3.1 OBJETIVOS DA UNIDADE................................................................................................................................................................................39 3.2 TEXTO ACADÊMICO..........................................................................................................................................................................................39 3.3 RESUMO................................................................................................................................................................................................................40 3.4 CITAÇÕES..............................................................................................................................................................................................................41 3.5 ANEXOS E APÊNDICES.....................................................................................................................................................................................43 3.6 REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................................................................43 Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas......................................................................................................................................................................................49 ANEXOS ANEXO A - Texto 1: SILVA, C.M.S. da. SANTOS-WAGNER, V.M. Considerações para os iniciantes em pesquisas em Educação Matemática e Educação do Campo.......................................................................................................................................53 ANEXO B – Texto 4: ANDRÉ, M. Estudo de Caso, uma alternativa de pesquisa em educação.....................................................65 ANEXO C - Texto 12: FAUNDEZ, A. La cultura en la educación y la educación en la cultura..........................................................75 APÊNDICES APÊNDICE A – Modelo de termo de consentimento livre e esclarecido..............................................................................................87 APÊNDICE B – Avaliação da temática Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo e auto-avaliação.........................88 Prezado (a) cursista! Convidamos você a uma iniciação em um processo compartilhado de pesquisa, com muita curiosidade por compreender um pouco mais “esse nosso mundo campesino”, com entusiasmo e vontade de aprender, ensinar e partilhar idéias e conhecimentos. Este Caderno objetiva pesquisa compartilhada, repleta de entusiasmo e vontade de ensinar, aprender e partilhar idéias de sujeitos como você. Objetiva orientar os estudos de todos os cursistas participantes na Temática II do Eixo Específico I: Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo. Ele deverá ser lido, discutido e principalmente compreendido como um auxiliar no desenvolvimento dos trabalhos, imprescindíveis para a prática da pesquisa acadêmica. Nele você encontrará uma sistematização da temática, com indicações de objetivos, sugestões de leituras, atividades, avaliação e bibliografias. O presente Caderno está organizado em três Unidades: (1) Pesquisa Científica; (2) As etapas da pesquisa; (3) A escrita da monografia. Os estudos propostos para cada Unidade se apóiam em 20 textos (vinte) produzidos por pesquisadores da área de Educação e se propõem discutir a temática em foco. Dentre eles, você encontra também um exemplo de projeto de pesquisa desenvolvido por uma mestranda, o qual poderá servir-lhe de referência na construção do seu trabalho teórico-prático, de pesquisa. Além desses textos destinados aos estudos de cada Unidade, o presente documento traz, ainda, outros textos (cf. sumário Anexo A, Anexo B e Anexo C) igualmente importantes para o processo de formação teóricoprática que estamos juntos desenvolvendo. A leitura de todo esse material é indispensável para qualificar a sua participação nas reflexões sobre Metodologia da Pesquisa em Educação do Campo e o desenvolvimento das atividades aqui propostas, bem como para o seu bom desempenho no uso dos recursos didáticos de aprendizagem (chats, fóruns, etc) oferecidos pela plataforma moodle – ferramenta relevante para o êxito de todos ao longo do curso. Lembramos que os referidos 20 (vinte) textos, inclusive o que apresenta um exemplo de projeto de pesquisa, estão, também, disponibilizados no CD–Rom que acompanha este Caderno. Lá e aqui, vocês os encontrarão distribuídos em três grandes temas, como segue: TEMA I - INTRODUÇÃO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO Texto 1: Considerações para os iniciantes em pesquisas em educação matemática e educação do campo Autoras: Circe Mary Silva da Silva; Vânia Maria Santos-Wagner Texto 2: Algunas notas con vistas a la elaboración de un cuadro de referencia para la Evaluación Pedagógica Autores: Antonio Faundez; Edivanda Mugrabi Texto 3: O ato de pesquisar e a responsabilidade do pesquisador: signalizações à pesquisa em educação do campo Autora: Elida Maria Fiorot Costalonga Texto 4: Estudo de Caso, uma alternativa de pesquisa em educação Autora: Marli André Texto 5: Pesquisa-ação colaborativo-crítica: contribuições para a formação do (a) educador (a) Autores: Denise Meyrelles de Jesus; Mariangela Lima de Almeida; Ines Martins Ramos de Oliveira; Alexandro Braga Vieira Texto 6: Considerações sobre a produção de monografia Autora: Juçara Leite Texto 7: Resumo de Trabalho Acadêmico Autora: Dóris Reis de Magalhães TEMA II – PESQUISAS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO Texto 8: Fazer-se professor(a) sem terra Autores: Josimara Pezzin; Erineu Foerste Texto 9: Pesquisa e Formação de educadores nos Movimentos Sociais do Campo Autores: Conceição Paludo; Johannes Doll Texto 10: Formação e praxis dos professores em escolas comunitárias rurais: por uma Pedagogia da Alternância Autor: Flavio Moreira Texto 11: A linguagem do aluno do campo e a cultura escolar: um estudo sobre a cultura e o campesinato na Escola Básica [um exemplo de Projeto de pesquisa] Autora: Luciene Perini TEMA III – PESQUISAS EM COMUNIDADES INDÍGENAS, POMERANAS E QUILOMBOLAS Texto 12: La cultura en la educación y la educación en la cultura Autor: Antonio Faundez Texto 13: O processo de escolarização dos Guarani do Espírito Santo Autora: Maria das Graças Cota Texto 14: Ensino e aprendizagem na educação indígena do Espírito Santo: a busca de um diálogo com a Etnomatemática Autora: Ozirlei Teresa Marcilino Texto 15: Concepções, crenças e atitudes dos educadores Tupinikim frente à matemática Autora: Dóris Reis de Magalhães Texto 16: Os Guarani Mbya e a escola na aldeia Autora: Kalna Mareto Teao Texto 17: O diálogo e a pesquisa Autor: Claudio David Cari Texto 18: A escolarização entre descendentes pomeranos em Domingos Martins Autora: Gerlinde Merklein Weber Texto 19: Metodologia afrodescendente e a problemática raciológica nas pesquisas educacionais Autor: Gustavo Henrique Araújo Forde Texto 20: Discutindo inclusão nas perspectivas da Educação das Relações Étnico- Raciais (ERER) afro-brasileiras Autora: Patrícia Gomes Rufino Andrade Como já mencionamos este material objetiva orientar os seus estudos como cursista participante na Temática II do Eixo Específico I: Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo. Acabamos de apresentar as três unidades que formam este Caderno e os vinte textos associados. Queremos lembrar que seu aprendizado exige dedicação, leituras, e estudos sistemáticos. Esperamos que utilize no mínimo uma semana de estudos para cada uma das unidades. Colocamos adiante em linhas gerais as idéias sobre a avaliação. A avaliação será feita pelo tutor presencial, pelo tutor a distância e pelo professor- pesquisador responsável por esta temática. O cursista também completará uma auto-avaliação, onde vai relatar sobre seus estudos, sua participação nos encontros presenciais, seu empenho e envolvimento no estudo dos textos e na realização das atividades propostas, sua aprendizagem e seus questionamentos. Ao final deste relato de auto-avaliação cada cursista vai atribuir a si mesmo uma nota. A avaliação estará abrangendo o cumprimento das atividades sugeridas neste Caderno, a pontualidade em entregar as atividades, o envolvimento no estudo dos textos e a participação nos encontros presenciais, e os questionamentos que forem encaminhados sobre os textos e atividades aos tutores presencial e a distância e ao professor-pesquisador. Cada cursista receberá uma nota de seu tutor presencial e uma nota de seu tutor a distância, além de sua própria nota ao final de seu relato de auto-avaliação. A média destas notas vai ser apreciada pelo professor-pesquisador que vai atribuir a média final de cada cursista. Para ser aprovado na temática cada cursista deve ter no mínimo a nota sete. Na primeira unidade procuramos esclarecer o objeto dessa temática, pois objetivamos entender os objetivos da unidade, o que é metodologia de pesquisa, tema de investigação e pesquisas quantitativas e qualitativas. Na segunda unidade abordamos as etapas da pesquisa, desde o planejamento do projeto, identificação do problema, justificativa, revisão de bibliografia (podendo chegar a ser uma revisão mais abrangente e profunda da literatura existente para que se aproxime de fato de ser um estado da arte), bases teóricas e metodológicas e instrumentos de coleta e análise de dados. Discutimos também sobre a ética na pesquisa. A terceira unidade visa à elaboração da monografia e, portanto, compreende as questões de escrita, formatação e normas da ABNT. Nossa intenção com este material é de acompanhá-lo desde o início do processo de entendimento sobre o que é uma pesquisa até o momento de defesa de sua proposta. Desse modo, contamos com sua dedicação e esperamos dialogar produtivamente para que alcancemos nossos objetivos. Desejamos a você uma boa leitura e para todos nós, um bom trabalho. Unidade 1: A pesquisa científica “Curiosidade, criatividade, disciplina e especialmente paixão são exigências para o desenvolvimento de um trabalho criterioso, baseado no confronto permanente entre o desejo e a realidade” Miriam Goldenberg (2005) Pesquisa Científica 12 Unidade 1: Pesquisa Científica Pesquisa Científica Unidade 1: A pesquisa científica 1.1 Objetivos da Unidade • Conceituar a metodologia de pesquisa e identificar as razões de realizarmos investigações na educação do campo • Introduzir o processo de escolha e definição do problema de pesquisa e seus objetivos • Classificar as pesquisas quanto à sua natureza, abordagem do problema, finalidades e métodos Iniciaremos com uma reflexão da professora Costalonga (2009, p. 2) 1 sobre “o ato de pesquisar e a responsabilidade do pesquisador”, notadamente, na condição de iniciante-aprendiz no contexto específico do mundo acadêmico. Nesse sentido lembra a professora que, a partir de uma perspectiva bakhtiniana, a situação social imediata determina a forma e o conteúdo da enunciação. Assim, o fato de estarmos numa pós-graduação já significa, isto é, imprime certo sentido e não outro, ao nosso texto científico, que passa a se constituir nas páginas abertas da academia, mas, ao mesmo tempo, por essa delimitado. Mais adiante, destaca a autora: 1 Ver no presente Caderno o texto na íntegra. Costalonga, Elida M.F. O ato de pesquisar e a responsabilidade do pesquisador: signalizações à pesquisa em educação do campo. In Tema I - Introdução à Pesquisa em Educação – texto 3, 2009. É possível que para alguns, um curso de especialização signifique a oportunidade de iniciação à pesquisa propriamente dita. Sabemos, todavia, que a história do nosso pensar sobre a pesquisa na educação (1) antecede a nossa chegada numa determinada “especialização”, (2) por vezes, tende a escapar à vigilância da academia, como um mecanismo de singularização e tentativa de outras escolhas e de novos modos de ser e de estar na Escola e na Academia - nesses mundos científicos, instituídos/instituindo-se, portanto, também não-científicos (COSTALONGA, 2009, p. 3). Ainda, nessa mesma linha de raciocínio, diz a professora: ...Se por um lado, um curso de especialização nos inicia na práxis da pesquisa, propriamente dita; por outro, será a partir de nossa experiência no ensino, como professora e formadora de professores (sem o abandono da condição de aprendiz permanente) que estaremos nos inspirando para, em confronto com as novas leituras e o que temos meditado sobre elas, rever nossas concepções e formular/reformulando nossas idéias e conceitos (por vezes, preconceitos) sobre nossos objetos de pesquisa (p. 4). Unidade 1: Pesquisa Científica 13 Pesquisa Científica 1.2. O que é Metodologia de Pesquisa? O termo “metodologia” vem do grego: méthodos + logos. Método significa organização e logia significa estudo, pesquisa. Segundo Goldenberg (2005, p. 105) “metodologia significa, etimologicamente, o estudo dos caminhos a serem seguidos, dos instrumentos a serem utilizados para se fazer ciência”. Leitura Sugerida: Goldenberg, Miriam. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 2005. A metodologia de pesquisa é um processo que se utiliza para planejar, organizar, implementar e relatar a atividade de pesquisa, ou seja, que auxilia a comunicar os resultados da investigação. Mas não deve ser considerado como um processo fechado, que seja totalmente controlável e previsível. Pois ao entrarmos no campo da pesquisa, mesmo seguindo uma metodologia previamente definida, podem aparecer outros questionamentos e podem ocorrer diversos caminhos e possibilidades que nos levem a rever ou alterar etapas da metodologia de pesquisa. Assim, ao adotarmos uma metodologia de investigação não estamos presos em uma camisa de força, mas devemos ser flexíveis a mudanças durante o próprio caminhar da pesquisa. Um esquema simplificado do ponto de partida deste processo pode ser o ilustrado a seguir. A pergunta orientadora da pesquisa pode e deve ser inspirada pelas situações vividas no contexto da educação do campo ou em qualquer contexto onde o pesquisador inicial esteja inserido. O pesquisador iniciante deve se perguntar sobre o que tem observado no contexto educacional que o intriga e que gostaria de obter mais informações. Neste ponto deveria também se preocupar em verificar e buscar o que já existe de conhecimento acumulado sobre as suas indagações e os seus questionamentos que foram gerados a partir 14 Unidade 1: Pesquisa Científica Pesquisa Científica do contexto onde se encontra. Mas o questionamento que o investigador busca responder e procura investigar pode ou não ser considerado científico, isto nós do mundo acadêmico é que formalizamos assim, mas existem outras possibilidades e desdobramentos. Importante é ter sistematicidade na busca de respostas a este questionamento, ou seja, pensar em um método que possibilite coletar informações que possam responder a esta pergunta central, orientadora e norteadora da investigação. Como afirma Goldenberg (2005, p. 14) “[...] só se escolhe o caminho quando se sabe aonde se quer chegar”. Segundo Paludo e Doll (2009, p. 1), no texto 9, pesquisa-se para procurar entender uma realidade. No nosso caso, o foco é a educação do campo. Para esses autores, a pesquisa é necessária na formação de educadores: Pesquisa é um elemento necessário para formar educadores? Durante muito tempo não se viu esta necessidade, e alguns autores ainda defendem a idéia de que o trabalho do educador não tem nada a ver com pesquisa e que, portanto, não seria necessária para a sua formação. Por outro lado, especialmente no contexto da Didática, cresceu nos últimos anos a literatura que destaca a pesquisa como um dos eixos da formação do educador. [...] Quando o trabalho do professor era visto como uma passagem de conteúdos pré-estabelecidos de forma metodologicamente correta, realmente não havia necessidade disso. Mas, a partir de olhares novos sobre o processo de ensino-aprendizagem cresceu, nos últimos anos, a literatura que destaca a capacidade de pesquisar como uma das bases para o trabalho educativo. Atividade 1: Procure no texto 9 [Tema II] a explicação que os autores apresentam para a mudança de paradigma que torna a pesquisa uma base para o trabalho educativo. Atividade 2: Leia todo o texto 1 [TEMA I]. Procure compreender as diferenças entre pesquisar e dar aulas e resolva a primeira atividade proposta neste texto. Atividade 3: Leia o texto 3 [TEMA I] e reflita sobre as considerações que a autora apresenta no item: “Ensino e Pesquisa: algumas aproximações”. O que a autora afirma sobre o papel do pesquisador e professor ao abordar os conhecimentos científicos? Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Unidade 1: Pesquisa Científica 15 Pesquisa Científica 1.3 Tema de investigação Como escolher um tema para investigar? Essa questão aparentemente simples é motivo de grandes preocupações por parte dos investigadores principiantes. O que irei pesquisar? Buscando apoio nos teóricos sobre a metodologia de pesquisa, elegemos Umberto Eco como um bom interlocutor. Ele apresenta quatro regras básicas para a escolha do tema: • “Que o tema responda aos interesses do candidato (ligado tanto ao tipo de exame quanto às suas leituras, sua atitude política, cultural ou religiosa); • Que as fontes de consulta sejam acessíveis, isto é, estejam ao alcance do candidato; • Que as fontes de consulta sejam manejáveis, ou seja, estejam ao alcance cultural do candidato; • Que o quadro metodológico da pesquisa esteja ao alcance da experiência do candidato” (ECO, 2006, p. 6). Mas, se não está claro para você o que é um tema de pesquisa, sugerimos a leitura do texto de Álvaro Bianchi (2002/2003), intitulado Temas e projetos de pesquisa, que pode ser encontrado no site: http://www.fclar.unesp.br/soc/revista/artigos_pdf_res/1314/04-bianchi.pdf. Transcrevemos aqui um fragmento desse texto para motivar a sua leitura: Sugestão - Grupo de estudo Dissemos, anteriormente, que um tópico (ou tema) de pesquisa é “específico o bastante para servir de base a uma pesquisa”. A tendência dos jovens pesquisadores é formular temas incrivelmente amplos, geralmente resumidos em alguns poucos vocábulos: A escravidão, A Internet, A televisão, A Música Popular Brasileira, Os meios de comunicação, são alguns exemplos. É preciso pensar muito bem antes de seguir esse caminho. O pesquisador inexperiente que enveredar por ele terá grandes chances de produzir um estudo superficial, recheado de lugares comuns. O conselho dado por Umberto Eco permanece de extrema importância: “quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais segurança se trabalha” (ECO, 1999, 10). Delimitando claramente o tópico de pesquisa será mais fácil reconhecer os problemas, lacunas ou inconsistências presentes e, portanto, mais simples será formular, a partir dele, um problema de pesquisa não só relevante como exequível (BIANCHI, 2002/2003, p. 79). Atividade 4: Leia o texto 10 [TEMA II] e o texto 13 [TEMA III]. Identifique o tema investigação que cada investigador escolheu para pesquisar. 16 Unidade 1: Pesquisa Científica Pesquisa Científica Atividade 5: (a) Descreva alguma experiência de sua prática escolar em que acredite possa extrair um tema de investigação. Apresente por escrito ao tutor presencial o tema que identificou bem como os objetivos que estão relacionados a esse tema. (b) O que podemos pensar e imaginar para limitar um possível tema de investigação se pensarmos em educação do campo e Internet. Liste pelo menos três possibilidades, Agora pense em subtemas em cada uma dessas possibilidades para podermos ir pensando e articulando com o contexto escolar e o contexto da comunidade onde o cursista está inserido e trabalhando. Liste pelo menos três caminhos possíveis como subtemas de investigação. Procure na biblioteca de sua cidade ou do seu pólo e busque também na Internet textos, livros, ou trabalhos defendidos como monografias, dissertações ou teses. Liste pelo menos três recursos bibliográficos sobre os possíveis temas que conseguiu afunilar. Apresente por escrito ao tutor estes temas identificados e os objetivos que poderiam estar relacionados aos mesmos. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Os objetivos da pesquisa precisam estar claros e ser bem delimitados. É preciso formular objetivos que sejam viáveis de serem alcançados. Objetivos muito amplos não auxiliam o investigador na pesquisa, uma vez que podem desviar o foco e dificultar o encaminhamento da metodologia. Auxilia bastante se o pesquisador iniciante procurar formular para cada objetivo um questionamento vinculado ao mesmo ou se puder formular questionamentos auxiliares da pergunta central ou diretora da investigação e pensar em objetivos associados a estes questionamentos. A metodologia de pesquisa fica mais ajustada e clara para o pesquisador quando ele consegue estabelecer este tipo de elo entre os objetivos pretendidos na investigação e os questionamentos associados aos mesmos. Isto pode auxiliar o pesquisador a ir procurando estratégias que o ajudem a atingir estes objetivos, respondendo aos questionamentos associados e consequentemente coletando informações que respondam a pergunta orientadora central da pesquisa, caso exista apenas uma pergunta central. Atividade 6: No texto 8 [Tema II], identifique o objetivo da pesquisa. Discuta como a autora delimitou o objetivo proposto e qual a metodologia que escolheu para responder a essa questão. Atividade 7: No texto 11 [Tema II], a autora considera a “escola como um espaço de cruzamento de culturas”. Explique a partir da leitura do texto o que entendeu sobre esse espaço. Leia o texto 12 [Tema III] e identifique a concepção de cultura desse autor. Há semelhanças ou diferenças entre as concepções de cultura de ambos os autores. Sugestão - Grupo de estudo Unidade 1: Pesquisa Científica 17 Pesquisa Científica 1.4. Pesquisas Quantitativas e Qualitativas A pesquisa quantitativa é um método de pesquisa social que utiliza técnicas estatísticas. Em alguns casos implica a construção de inquéritos por questionário. Exemplos de pesquisas de natureza quantitativa seriam as pesquisas de opinião sobre algum tema, como as realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo IBOPE. Outros exemplos surgem em pesquisas avaliativas como as provas realizadas pelo Sistema de Avaliação de Educação Básica (SAEB) conduzidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Até os anos 80 do século XX pesquisas empíricas de natureza quantitativa eram frequentemente usadas em educação. Exemplos deste tipo de pesquisa são os estudos com classes experimentais e classes de controle, onde o pesquisador procurava testar alguma hipótese, e procurava seguir procedimentos objetivos e usava exaustivamente procedimentos quantitativos como porcentagem e estatística em suas análises e procurava verificar se as suas hipóteses foram comprovadas ou refutadas. Uma distinção acentuada entre a pesquisa quantitativa e qualitativa refere-se ao tipo de interação entre o pesquisador e o objeto de estudo. Na pesquisa quantitativa dificilmente se escuta o sujeito após a coleta de dados, pois se está mais interessado em dados quantitativos, enquanto que na qualitativa, há mais reflexão e interação com o sujeito participante da pesquisa. Além disso, na pesquisa qualitativa o pesquisador assume que existem fatores subjetivos envolvidos na investigação, que o pesquisador não é um ator neutro e objetivo nas diferentes etapas da pesquisa, como era considerado anteriormente nos modelos de pesquisa quantitativa. A pesquisa quantitativa está geralmente interessada em grandes tendências e em investigar o que acontece ou ocorre com uma população que possa ser selecionada segundo algum procedimento estatístico e que possa ser também analisada usando procedimentos estatísticos. As pesquisas realizadas pelo INEP, como as avaliações da Educação Básica, o exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), e outros tipos de exames são também pesquisas de tipo quantitativo e os itens elaborados envolvem diversas teorias, destacando-se as teorias estatísticas, e o uso de vários procedimentos quantitativos de coleta e análise de dados. Leituras sugeridas - Consulte os sites: www.ibge.gov.br www.inep.gov.br Já na pesquisa qualitativa existem outros focos de interesse e outras teorias norteadoras para implementar os procedimentos para coletar, organizar e analisar os dados. Além disso, o pesquisador está mais interessado em compreender o ambiente de pesquisa, em des- 18 Unidade 1: Pesquisa Científica Pesquisa Científica crever em detalhes o mesmo, em procurar indícios e evidências nos dados coletados no campo da pesquisa, e está interessado em escutar, em dar voz aos sujeitos participantes na pesquisa. E precisamos lembrar que a pesquisa qualitativa pode ser uma pesquisa também feita em paralelo com pesquisas quantitativas. Por exemplo, existem várias pesquisas de caráter qualitativo realizadas em paralelo aos estudos realizados de modo quantitativo como as realizadas pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos). Nos tempos atuais a metodologia de pesquisa qualitativa é uma das mais empregadas na área de Educação, por isso daremos mais relevo a esta metodologia. Para Flick (2004, p. 21), na pesquisa qualitativa “precisa-se planejar métodos tão abertos que façam justiça à complexidade do objeto em estudo. Os objetos não são reduzidos a variáveis únicas, mas são estudados em sua complexidade e totalidade em seu contexto diário”. Este autor ressalta a variedade de abordagens e métodos que podem ser usados na pesquisa qualitativa. Aqui vamos destacar dentre eles: • Estudo de caso • Pesquisa-ação colaborativo-crítica • Pesquisa documental • História Oral Leitura sugerida: Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004. No texto 4 [TEMA I], intitulado Estudo de caso, uma alternativa de pesquisa em educação, a autora afirma: Estudos de Caso podem ser usados em avaliação ou pesquisa educacional para descrever e analisar uma unidade social, considerando suas múltiplas dimensões e sua dinâmica natural. Na perspectiva das abordagens qualitativas e no contexto das situações escolares, os estudos de caso que utilizam técnicas etnográficas de observação participante e de entrevistas intensivas possibilitam reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar diária” (André, 2009, p. 1). Sugestão - Grupo de estudo Atividade 8: Leia atentamente o texto 4 [TEMA I] e identifique as características de uma metodologia do tipo “estudo de caso”. Atividade 9: No texto 13 [Tema III], identifique os pressupostos teóricos e metodológicos da autora. Pontue os instrumentos de coleta de dados e aqueles que a investigadora acredita serem importantes quando a pesquisa envolve grupos sociais como indígenas, quilombolas e comunidades rurais. Unidade 1: Pesquisa Científica 19 Atividade 10: Nos textos 13, 14, 15 e 16 [Tema III], identifique os pressupostos teóricos assumidos pelos autores. Atividade 11: Identifique, no texto 18 [Tema III], a metodologia utilizada na pesquisa sobre a escolarização entre descendentes pomeranos em Domingos Martins. Atividade 12: (a) No texto 5 [Tema I], identifique o que os autores denominam pesquisa colaborativa. (b) Quais são as justificativas apontadas pelos autores deste texto para optarem pela pesquisa-ação como metodologia investigativa. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Unidade 2: As etapas da pesquisa “As reflexões dos pesquisadores sobre as suas ações e observações de campo, suas impressões, irritações, sentimentos, e assim por diante, tornam-se dados em si mesmos, constituindo parte da interpretação, sendo documentadas em diários de pesquisa ou em protocolos de contexto” (Flick, 2004, p. 22). As etapas da Pesquisa 22 Unidade 2: As Etapas da Pesquisa Unidade 2: As etapas da pesquisa 2.1 Objetivos da Unidade As etapas da Pesquisa • Conhecer as etapas necessárias para a elaboração de um projeto de pesquisa • Conhecer as normas acadêmicas de redação de um projeto • Refletir sobre a ética na pesquisa 2.2 Elaboração do Projeto Elaborar um projeto de pesquisa é uma ação formal, que requer uma sistematização de idéias e clareza quanto ao que se deseja investigar. Para Goldenberg (2005) não é possível se prever todos as etapas da pesquisa, mas um planejamento é essencial e assim como não existe um único modelo de pesquisa, não existe também um único caminho para o planejamento.Todavia, a primeira etapa diz respeito a pergunta que se quer investigar. Ninguém começa uma investigação sem ter alguma questão que deseja ver respondida. É como planejar a construção de uma casa, antes de iniciar o planejamento deve estar claro que desejo construir uma casa e o tipo de casa que desejo. Mesmo que a pergunta inicial não esteja completamente definida e que possa no decorrer da pesquisa ser um pouco alterada, precisamos dela como ponto de partida. A redação de um texto é tarefa que exige sistematização e dedicação. O que é necessário para iniciar a redação de um projeto? O pesquisador iniciante pode começar esta redação com algumas perguntas que o inquietam sobre o tema que deseja investigar. Alguns preferem começar com um esquema ou mesmo um mapa conceitual. O importante é começar, mesmo que inicialmente sejam apenas palavras soltas colocadas no papel. Um projeto começa, de modo geral, por uma questão inicial ou fundadora, uma espécie de incômodo ou curiosidade que sentimos diante de algum aspecto da realidade que vivemos. Essa primeira intenção de pesquisa nasce, assim, de nossa história vivida (Texto 6, Leite, 2009, p. 2). Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Atividade 13: Leia com atenção o texto 6 [Tema I]. Identifique a temática do texto e as principais idéias sobre a redação do projeto. Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 23 Reproduzimos, abaixo, informações relevantes do esquema do texto 6 sobre as etapas básicas de um projeto de pesquisa. As etapas da Pesquisa 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Introdução Delimitação temática Exposição do problema Justificativa Objetivos Revisão de literatura Bases teóricas e metodológicas Fontes Conceitos e categorias de análise Cronograma Podemos acrescentar nessas etapas outro item, que ajudará no planejamento da investigação – o cronograma. Quanto tempo você pretende utilizar em cada uma destas etapas? Um bom cronograma auxilia enormemente o pesquisador, mas ele não é rígido. Deve estar sempre sendo atualizado, caso não consiga seguir rigorosamente como planejou. No entanto, procure ser realista e pense no tempo real que precisa e usa para ler, para resumir idéias, para preparar atividades, para aplicar atividades de coleta de dados, para transcrever informações que foram gravadas. Procure se acostumar a registrar o tempo que usa para realizar alguns de seus estudos e atividades neste manual e isto já vai auxiliar no momento de pensar em organizar um cronograma que seja realista, viável e exequível no tempo que dispõe para planejar, implementar e relatar a sua investigação. É bom incluir no seu projeto um resumo. Resumir é uma atividade que precisa ser desenvolvida. Atividade 14: Leia o texto 7 [TEMA I] que trata sobre a redação de resumos e resolva a atividade proposta. Atividade 15: Elabore um resumo para o texto 20 [TEMA III] e acrescente as palavras chave. Flick (2004, p. 64) apresenta um esquema que descreve as questões de pesquisa no processo de investigação. O quadro está reproduzido conforme o autor, mas é possível simplificá-lo um pouco. Basicamente podemos dizer que partindo de uma questão, estudamos o que existe sobre o tema, definimos uma metodologia de trabalho, coletamos dados, analisamos os dados coletados e divulgamos os resultados. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. 24 Importante! Flick (2004, p. 63) lembrando do trabalho de Südmersen (1983) destaca que: “quanto menos clareza houver na formulação de uma questão de pesquisa, maior será o risco de os pesquisadores acabarem impotentes diante da tentativa de interpretar montanhas de dados”. Unidade 2: As Etapas da Pesquisa As etapas da Pesquisa Figura 5.1 Questões de pesquisa no processo de pesquisa (Flick, 2004, p. 64). Leitura sugerida: Flick, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artes Médicas, 2004. Atividade 16: Leia o texto 6 [TEMA I] e identifique as etapas básicas de um projeto de pesquisa. Comente sobre as semelhanças e diferenças em relação ao quadro proposto por Flick. Atividade 17: Leia os textos 15 e 16 [Tema III]. Identifique em cada texto a questão de investigação apresentada pela pesquisadora. Atividade 18: Identifique, no texto 13 [Tema III], quais foram os instrumentos que a investigadora utilizou para a coleta de dados da pesquisa. Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 25 Atividade 19: No texto 10 [Tema II], identifique as motivações e objetivos da pesquisa e enuncie as conclusões a que o investigador chegou. Atividade 20: A partir da leitura dos textos 18, 19 e 20 [Tema III], identifique os pressupostos teóricos escolhidos pelos pesquisadores. As etapas da Pesquisa Atividade 21: No texto 2 [Tema I], os autores afirmam que na análise de dados, o princípio metodológico de triangulação é fundamental. A partir da leitura deste texto, explique o que é triangulação e os tipos de triangulação apresentados pelos autores. 2.3 Coleta de dados Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. As técnicas e instrumentos de coleta de dados são variados e dependem muito do tema e área de investigação. Segundo Chizzotti (1991, p. 51), “as técnicas e os instrumentos decorrem, pois, de decisões que são tomadas no início da pesquisa, com a formulação do problema a ser investigado”. No desenvolvimento de uma pesquisa são vários os instrumentos utilizados. No entanto, nas ciências humanas e sociais as técnicas mais usadas são: a) observação, b) entrevista, c) questionário e d) diário de bordo. a) Observação Na observação, o pesquisador acompanha os diferentes comportamentos, registra como ocorreram (tempo, freqüência) para depois selecionar os eventos mais importantes. Para auxiliar a observação, é importante que seja feito um roteiro prévio, a partir dos objetivos da pesquisa. Importante que o pesquisador procure registrar o que aconteceu e viu, e que possa complementar e confrontar estes dados com o que gravou e/ou filmou. Pois nem sempre anotamos o que aconteceu e algumas vezes registramos o que pensamos ter visto ou ouvido. Por isto é importante ter os dados também gravados e/ou filmados para poder complementar e/ou confrontar com os registros do que foi observado. Além disso, em pesquisas de cunho qualitativo se reconhece e se aceita que o pesquisador é um ser humano que traz para o ambiente de pesquisa sua história de vida pessoal e profissional e que percebemos o mundo segundo nossas experiências e olhares de mundo. 26 Unidade 2: As Etapas da Pesquisa Segundo Mugrabi e Doxsey (2003, p. 51), As etapas da Pesquisa As observações têm sido muito empregadas em pesquisas educacionais. Muitas investigações envolvem diversas técnicas de registro da sala de aula – para observar a conduta de professores/as e alunos/as. Na sua grande maioria, tais observações procuram focalizar um aspecto específico do processo educacional ou descrever o clima estabelecido no cotidiano da sala de aula ou da escola como um todo. Atividade 22: No texto 17 [Tema III], identifique como o investigador utilizou a técnica de observação, e informe que instrumentos utilizou. Atividade 23: No texto 14 [Tema III], identifique os sujeitos que foram observados na pesquisa relatada. b) Entrevista A entrevista torna-se importante nos casos em que outros instrumentos de coleta de dados são insuficientes para o desenvolvimento de determinado tipo de pesquisa. Segundo Mugrabi e Doxsey, (2003, p. 52) “através da entrevista, o sujeito se torna testemunho, informante e fonte de si mesmo”. Embora em algumas entrevistas já tenhamos as questões formuladas previamente não significa que devemos seguir isso à risca. Algumas questões podem surgir durante o diálogo com o sujeito entrevistado e serem aproveitadas para a pesquisa. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. A entrevista como técnica de investigação é considerada adequada para obter informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca de suas explicações ou razões a respeito das coisas (Selltiz et. Al.,1967, p. 273). Laville e Dionne (1999, p. 183) classificam a entrevista enquanto recurso destinado a explorar e colher depoimentos de pessoas que detêm certas informações ou conhecimentos acerca de algo; ela também serve para coletar suas representações, crenças, valores, opiniões, sentimentos... projetos (MUGRABI; DOXSEY, 2003, p. 52). Podemos ter entrevistas estruturadas, entrevistas semi-estruturadas e entrevistas abertas. Nas entrevistas semi-estruturadas, o pesquisador traz alguns questionamentos já elaborados e pode propor Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 27 outros questionamentos diretamente no momento da entrevista, durante o diálogo com os participantes da pesquisa Nas entrevistas abertas, o pesquisador tem apenas alguns tópicos ou assuntos a abordar e deixa para propor os questionamentos no momento em que interage com os sujeitos. c) Questionário As etapas da Pesquisa Constitui-se por um conjunto de perguntas organizadas que devem ser respondidas livremente. Para o uso de questionário algumas práticas são importantes: período de devolução ou previsão de tempo para responder; limite em extensão; linguagem acessível; objetividade. Mugrabi e Doxsey (2003, p. 53) afirmam que, O questionário pode ser aplicado através de entrevista individual, ou seja, com o/a entrevistador/a registrando as respostas. Também, pode ser auto-preenchido, acompanhado com instruções escritas para cada item ou bateria de perguntas. [...] Laville e Dionne (1999) classificam os questionários em três categorias: instrumentos com perguntas fechadas, com perguntas abertas e os que combinam os dois tipos de perguntas. [...] Como instrumento de pesquisa o questionário tem limitações, vantagens e desvantagens. Compete a nós os pesquisadores/as construir os melhores meios de coletar os dados. Atividade 24: Leia o texto 4 [Tema I] e assinale o que a autora discute sobre as técnicas acima comentadas. d) Diário de Bordo O “caderno” ou diário de bordo é uma ferramenta que permite ao pesquisador registrar suas observações diárias, suas reflexões e todos os acontecimentos importantes relacionados com a pesquisa. Que anotar no diário de bordo? Para Morin (2004): notas de observação (os fatos pertinentes relativos ao problema); notas metodológicas (os passos metodológicos de ação e de reflexão: atitudes, medos, esforços, abordagem, técnicas); notas teóricas e práticas (hipóteses, pistas de soluções, explicações e maneiras de equacionar o problema ou de resolvê-lo). Sugestão - Grupo de estudo 28 É preciso tomarmos o cuidado para não nos desviarmos da nossa questão, registrando sobre tudo, fotografando ou gravando tudo, pois podemos estar nos afastando de nosso propósito e dificultando a tarefa de análise de dados. Portanto, é preciso Unidade 2: As Etapas da Pesquisa registrar apenas aquilo que seja necessário para responder a questão central (ou questionamentos norteadores) da pesquisa e que esteja diretamente relacionado à mesma (ou aos mesmos). Evidentemente, esse diário é um auxiliar, não significa que o texto final será aquele do diário, mas sem dúvida será um grande aliado do pesquisador. Conforme Flick (2004): Um método de documentação consiste no uso de diários de pesquisa atualizados continuamente [...] Estes devem documentar o processo de aproximação a um campo e as experiências e problemas no contato com o campo, com os entrevistados, bem como na aplicação dos métodos (p. 183). As etapas da Pesquisa Leitura sugerida: Para aprofundar seus conhecimentos sobre essas técnicas leia o que Goldenberg (2005) afirma sobre as vantagens e desvantagens das entrevistas e questionários (p. 85 a p. 91). Dados em excesso podem ser mais dificultadores do que facilitadores de uma pesquisa, pois o pesquisador iniciante ficará um pouco perdido nesta quantidade imensa de dados e ficará se perguntando como decidir que informações usar para analisar. É necessário evitar a dispersão, mas precisa ter uma dose de tolerância e compreender que às vezes isto possa estar ocorrendo. Pesquisadores mais experientes sugerem que ao mesmo tempo em que se colete os dados que se inicie a organizar os mesmos, e que se inicie a questionar se todos são necessários, relevantes e relacionados com a investigação em desenvolvimento. Este procedimento pode auxiliar o pesquisador a verificar se estes dados coletados estão diretamente relacionados com a questão da pesquisa e seu objetivo ou com os questionamentos norteadores e objetivos associados aos mesmos. 2.4. Análise de dados Após coletar os dados é necessário organizá-los, quantificá-los (se for o caso), sistematizá-los, agrupá-los em categorias antes de começar a análise propriamente dita. Este é um momento que exige articulação da teoria com a prática observada. Segundo Araújo (2009, p. 53) exige do pesquisador “sistematização e organização das informações coletadas, identificação dos pontos de convergência ou divergência, conformidade com o problema elaborado e com os procedimentos previamente escolhidos”. Imediatamente após a coleta, comece o tratamento dos dados. Não perca tempo! Segundo Flick (2004, p. 102) Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 29 imediatamente após o término da entrevista, o entrevistador deve anotar suas impressões a respeito da comunicação, do entrevistado enquanto pessoa, dele mesmo e do seu comportamento na situação, das influências externas, da sala na qual a entrevista ocorreu. As etapas da Pesquisa Também, para Mugrabi e Doxsey (2003) a etapa da análise de dados é muito importante: Após ter coletado seu material com todo o rigor necessário, o/a pesquisador/a vai efetuar uma nova tarefa que conduzirá seu trabalho ao nível da cientificidade. Trata-se nesse momento de buscar compreender e explicar as atividades humanas e os motivos que as desencadearam, ou então produzir uma explicação das representações dos atores em relação com as estruturas objetivas do espaço social nos quais essas representações são construídas. [...] A etapa da organização dos dados é um momento de síntese. É necessário transformar as informações, às vezes agrupando-as, enumerando-as ou reduzindo-as de modo a facilitar a sua análise sintética (p. 54). Atividade 25: O que diz a professora Marli André, no texto 4 [Tema I], sobre a análise de dados de uma pesquisa. Elabore uma síntese das idéias da autora. 2.5. Exemplo de Projeto de Pesquisa Apresentamos a seguir um exemplo de projeto de pesquisa, apoiado na proposta de Goldenberg (2005, p. 76-77). Naturalmente, trata-se de um modelo, que pode ser copiado ou modificado de acordo com a experiência de cada um. No CD-ROM encontra-se o Projeto de Pesquisa de Mestrado “A linguagem do aluno do campo e a cultura escolar: um estudo sobre a cultura e o campesinato na Escola Básica” de Luciene Perini. •CAPA 1. Instituição 2. Titulo 3. Nome do Pesquisador 4. Local e Data Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. 30 •Introdução 1. Objeto da investigação (o quê? quem será investigado? onde?) 2. Justificativa 3. Objetivos (geral e específicos) 4. Hipótese (quando houver, de acordo com a metodologia de pesquisa) Unidade 2: As Etapas da Pesquisa •Pressupostos teóricos e/ou da prática Contextualizar o tema segundo o debate teórico e/ou prático existente, principais autores, estudos precedentes. •Cronograma (tempo de execução estimado) Sugestão de organização para a pesquisa: 1a Etapa: Revisão da bibliografia 2a Etapa: Definição dos instrumentos de pesquisa 3a Etapa: Coleta de dados e estudos de revisão da bibliografia 4a Etapa: Análise dos dados e estudos de revisão da bibliografia 5a Etapa: Redação final do trabalho 6a Etapa: Revisão do texto final 1º Mês 2º Mês 3º Mês 4º Mês 5º Mês 6º Mês 7º Mês 8º Mês 9º Mês 10º Mês 11º Mês 12º Mês As etapas da Pesquisa •Metodologia Descrição dos caminhos possíveis, como será feita a coleta de dados, quais os instrumentos que serão utilizados, como será feita a análise. 1ª Etapa 2ª Etapa 3ª Etapa 4ª Etapa 5ª Etapa 6ª Etapa x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x •Referências (livros e artigos citados) •Anexos e/ou apêndices Um outro modelo de estrutura geral semelhante a este apresentado anteriormente e incluindo todos estes detalhes e alguns outros pode ser encontrado nos capítulos 5 e 8 do livro Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos de Dario Fiorentini e Sergio Lorenzato (2006). Além de pensarmos em um projeto de pesquisa como mencionado anteriormente, podemos pensar também em elaborar um projeto de pesquisa do tipo intervenção em sala de aula ou experimento de ensino em sala de aula. Quando pensamos em um projeto Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 31 As etapas da Pesquisa de natureza qualitativa para ser planejado e implementado diretamente em sala de aula, precisamos pensar em algumas estratégias para desenvolver o mesmo. Geralmente os professores consultam livros didáticos, sites da Internet e outros materiais quando pensam e planejam suas aulas, e muitas vezes registram brevemente alguns pensamentos ou elaboram mentalmente as etapas que pretendem seguir em suas aulas posteriormente. Quando um professor pensa em usar a sua própria sala de aula como ambiente para implementar um experimento de ensino ou um projeto de intervenção e pretende que esta atividade seja uma atividade científica de pesquisa, onde se produza conhecimento e se articule prática e teoria e ao mesmo tempo teoria e prática, outros encaminhamentos devem ser seguidos. Leitura sugerida: As contribuições da pesquisa de intervenção para a prática pedagógica de CRISTIENE SILVA RUFINO e MARIA IRENE MIRANDA. http://www.horizontecientifico.propp.ufu.br/include/getdoc. php?id=281&article=96&mode=pdf Segundo Santos (2000, 2001a, 2001b) algumas especificidades do trabalho de pesquisa em sala de aula foram identificadas no Projeto Pró-Ciências desenvolvido pela Universidade Federal de São Carlos. Neste trabalho com professores de ensino médio de matemática e ciências, procurou-se desenvolver planejamentos e roteiros de aulas inéditas, assim como fichas de avaliação das aulas implementadas por estes professores. Para desenvolver um projeto de pesquisa do tipo intervenção ou experimento de ensino o professor-pesquisador precisa pensar nas etapas de: planejamento, implementação e registro, leitura do planejamento e do registro, análise e reflexão das etapas anteriores, relato crítico-reflexivo dos processos. Usando as idéias de Santos (2000, 2001a, 2001b) colocamos algumas estratégias que os professores podem seguir para desenvolverem projetos de experimento de ensino ou projetos de intervenção em suas salas de aula. I) Memória do projeto desenvolvido Colocar sempre as datas em que realizar todas as tarefas de planejamento, implementação, leitura e análise, relato crítico-reflexivo. II) Planejamento do projeto de intervenção ou projeto de experimento de ensino Razões e motivação do trabalho: Por que escolheu este assunto? Por que resolveu pesquisar este assunto? Por que resolveu utilizar estes procedimentos de ensino ou procedimentos de aprendizagem ou procedimentos de avaliação? Que questionamentos ou indagações sobre sala de aula pretende investigar? Materiais consultados, bibliografia e referências: O que pesquisaram, leram, consultaram sobre o tema e assunto para preparar a 32 Unidade 2: As Etapas da Pesquisa As etapas da Pesquisa aula ou bloco de aulas? Que livros, sites de Internet e outros materiais foram consultados? Que autores e estudos de pesquisa foram estudados e utilizados? Como usaram estes materiais consultados no planejamento do experimento de ensino? Planejamento e organização da aula ou bloco de aulas: Tempo previsto para a aula ou bloco de aulas. Que objetivos e conteúdos (conceitos, atitudes e procedimentos) você pretende atingir com esta aula ou bloco de aulas? Que metodologia, tipo de interação professor/aluno e aluno/aluno, tipo de ações e tipo de conexões dentro da temática trabalhada e com outros assuntos escolares e de outras áreas pretende implementar durante a aula (ou bloco de aulas)? Exemplos de critérios e instrumentos de avaliação previstos tanto para a apreciação de aprendizagem dos alunos quanto para a apreciação pedagógica do trabalho do professor. Cronograma do projeto: Serve para orientar todas as etapas de planejamento e desenvolvimento do projeto de intervenção ou projeto de experimento de ensino. Pode e deve incluir etapas semelhantes ao que colocamos no cronograma do projeto de pesquisa anterior. Importante destacar neste cronograma de um projeto de intervenção o tempo pensado para planejamento, registros, organização dos dados e materiais coletados em aula ao longo do projeto, interpretações e análises das informações e dados, elaboração de relatos parciais e do relato final do projeto desenvolvido. III) Regitro do que ocorreu em aula e de alguns episódios de aula durante a aula ou relato posterior sobre o que ocorreu em aula (Fazer registros e gravar em aúdio a aula.) • Os professores precisam registrar o máximo de informações sobre a aula ou aulas. Podem também gravar em áudio as aulas, ouvir as mesmas e transcrever trechos destas. Podem solicitar também aos seus alunos para auxiliarem a fazer os registros de comentários, explicações, diálogos ou discussão entre eles. • Os professores que aplicarem questionários ou outros instrumentos específicos durante as aulas precisam fazer comentários sobre as perguntas e o tipo de respostas dos alunos ou dúvidas que ocorreram no momento de aplicação dos mesmos. Porque são estes questionamentos e respostas dos alunos que podem mostrar como eles pensam, como ocorre a evolução de raciocínio deles, as dúvidas, etc. • Os professores precisam pensar em como vão abordar estes questionamentos e dúvidas e registrar após a aula pelo menos os episódios que tiverem sido mais críticos e instigantes tanto para os alunos como para eles (professores) ou os episódios que provocaram mais curiosidade, dúvidas e dificuldades aos alunos. Aqui é importante que os professores caracterizem porque estes episódios foram considerados como críticos: foram complicados para os alunos entenderem ou responderem a questionamentos, ou foram complicados para eles (professores/professoras) fazerem perguntas e responderem aos questionamentos dos alunos durante a aula, ou outros Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 33 As etapas da Pesquisa aspectos. • Os professores precisam registrar durante a aula (ou bloco de aulas) ou imediatamente após a mesma, o impacto, as impressões que esta(s) aula(s) causou (causaram) ao professor e aos alunos. Por exemplo, mencionar se a(s) aula(s) foi (foram) interessante(s), agradável (agradavéis), ou desinteressante(s), desagradável (desagradavéis) e informar sempre em que aspectos. • Os professores precisam registrar os critérios e formas de corrigir, analisar e categorizar as respostas e soluções dos alunos aos trabalhos e tarefas propostos na aula ou blocos de aulas. Precisam também justificar as razões da escolha de alguns exemplos de tarefas dos alunos que irão incluir na seção de resultados e discussão no relatório final (Por exemplo, foram selecionados os melhores trabalhos dos alunos, ou foram selecionados os trabalhos em que ocorreram mais dificuldades e erros, ou outras razões.). IV) Relato crítico-reflexivo • O relato deve contemplar o contexto geral, características da escola, da turma, etc., as reflexões, questionamentos e apreciação crítica do próprio professor comentando por escrito as emoções que sentiu enquanto planejava, implementava e ao final da aula; • Relato crítico do ponto de vista de conteúdo de temática que o professor tinha como objetivos e conteúdos para explorar nesta aula; • O que pensa que alcançou em termos de objetivos e de aprendizagem nesta atividade inédita e que tipo de evidências tem para acreditar que atingiu os objetivos da aula; • O que pensa que não funcionou na atividade inédita e quais objetivos e conteúdos não foram possíveis de atingir explicando as possíveis causas; • Comentar também sobre o tempo planejado para a atividade e o tempo de fato necessário para a mesma, a metodologia que usou na aula, as reações dos alunos, o que aprendeu enquanto professor e o que acredita que os alunos aprenderam com esta(s) aula(s) inédita(s), o que funcionou e o que foi problemático ou impossível de fazer neste momento; • Fazer uma apreciação crítica do tipo auto-avaliação de todo este processo de planejar, implementar, registrar, refletir, apreciar e redigir um relatório final sobre a(s) aula(s) inédita(s). Incluir sugestões de melhoria do roteiro para elaborar a aula inédita e o relatório final; • Fazer uma apreciação crítica sobre os aspectos positivos e negativos em que o estudo nesta temática de Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo auxiliou o trabalho realizado neste projeto de intervenção em sala de aula ou projeto de experimento de ensino. V) Relato final do projeto • O relatório final deve contemplar os seguintes aspectos: Título do projeto de intervenção ou projeto de experimento de ensino, 34 Unidade 2: As Etapas da Pesquisa Atividade 26: Elabore um pré-projeto de investigação. Apresente-o aos colegas e tutores em encontro presencial para que façam comentários. Após discussões e sugestões, reescreva-o e o entregue como tarefa final da disciplina. As etapas da Pesquisa monografia, autor, orientador, resumo, abstract, sumário, introdução, justificativa, objetivos, materiais e métodos, análise e discussão de resultados, conclusão ou considerações finais (incluindo reflexões, aprendizagens e dificuldades do professor-pesquisador), referências, anexos. • O relatório final deverá ser apresentado no formato padrão Word, seguindo as normas de ABNT para monografia de curso de especialização. O texto deve ser redigido de forma coesa e clara, fazendo uso apropriado da língua portuguesa. 2.6 A ética na pesquisa Em pesquisa qualitativa, o gravador, a máquina fotográfica e o vídeo são recursos muito utilizados. Portanto, é necessário não expor a privacidade dos sujeitos pesquisados exigindo um cuidado do pesquisador com as questões éticas. No texto 1, as autoras levantaram considerações relativas a essa problemática: Não podemos esquecer que toda pesquisa na área de educação envolve seres humanos que precisam ser respeitados em todos os seus direitos. Assim, o pesquisador precisa tomar cuidados éticos que envolvem consentimento para participação na pesquisa, a permissão para o uso de imagens e vozes dos investigados ou participantes e conhecimento do objetivo da pesquisa. Além disso, é dever do pesquisador ao longo de toda a investigação estar dando retorno continuamente aos participantes de seus registros e interpretações dos dados coletado, O relato final da pesquisa não pode ser divulgado sem a observância desses princípios éticos e humanos (SILVA e WAGNER-SANTOS, 2009, Texto 1, p. 11). Sendo assim, sugere-se que antes de coletar os dados, o pesquisador consulte a instituição e/ou os sujeitos da pesquisa e apresente formalmente as intenções de sua pesquisa. Para isso, também é importante elaborar um termo de livre consentimento, no caso de necessidade de divulgação de imagens e/ou filmagens da pesquisa. Um exemplo de termo você encontra no APÊNDICE A. Mugrabi e Doxsey (2003), no fascículo Introdução à Pesquisa Educacional, acentuaram de forma pertinente as preocupações que os pesquisadores devem ter com a ética na investigação. Eles chamam a atenção para a elaboração de um Protocolo de Pesquisa: Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 35 As etapas da Pesquisa Este documento descreve o estudo, identifica os sujeitos a serem pesquisados, detalhando os procedimentos para cumprir com o consentimento esclarecido do sujeito responsável. O protocolo, também conhecido como Protocolo Humano, deve indicar potenciais perigos e benefícios para os participantes, devendo também detalhar como será o sigilo e a proteção dos direitos dos sujeitos (p. 85). Ainda segundo os pesquisadores Mugrabi e Doxsey (2003, p. 85-86), quando se envolve crianças e adolescentes nas pesquisas, é preciso esclarecer no protocolo a justificativa da escolha desses sujeitos: ... em pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, portadores de perturbação ou doença mental e sujeitos em situação de substancial diminuição em suas capacidades de consentimento, deverá haver justificação clara da escolha dos sujeitos da pesquisam especificada no protocolo, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa e cumprir as exigências de consentimento livre e esclarecido, através de representantes legais dos referidos sujeitos. Leitura sugerida: MUGRABI, Edivanda; DOXSEY, Jaime. Introdução à Pesquisa educacional. Fascículo 1. NE@AD, UFES, 2003. Sobre a fraude nas pesquisas, há uma discussão muito interessante no texto do professor José Roberto Goldim no site recomendado: http://www.ufrgs.br/bioetica/fraude.htm Para ampliar suas leituras sobre o tema, sugerimos o texto de Saul Goldenberg, intitulado Publicação do trabalho científico: compromisso ético: http://www.metodologia.org/saul_etica.PDF 36 Unidade 2: As Etapas da Pesquisa As etapas da Pesquisa Unidade 3: A escrita da monografia “O texto não representa apenas um instrumento para documentar os dados e uma base para a interpretação – portanto, um instrumento epistemológico –, mas também, e sobretudo, um instrumento para mediar e comunicar as descobertas e o conhecimento” (Flick, 2004, p. 247). Unidade 2: As Etapas da Pesquisa 37 A Escrita da Monografia 38 Unidade 3: A Escrita da Monografia Unidade 3: A escrita da monografia 3.1 Objetivos da Unidade • Expor (ou apresentar) alguns detalhamentos da escrita acadêmica • Conhecer as normas acadêmicas de redação de uma monografia 3.2 Texto Acadêmico Um texto acadêmico necessita basicamente dos seguintes tópicos: A Escrita da Monografia • Titulo • Resumo • Introdução do tema • Desenvolvimento do tema • Conclusões • Referências bibliográficas Segundo as normas da ABNT: (http://www.firb.br/abntmonograf.htm), os textos possuem três grandes partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Introdução: deve constar a delimitação do assunto tratado, objetivos da pesquisa e demais elementos necessários para situar o tema. Desenvolvimento: parte principal contém a exposição ordenada e pormenorizada dos assuntos, divide-se em seções e subseções. Varia em função da abordagem do tema e método. Conclusão: parte final, apresentam conclusões correspondentes aos objetivos ou hipóteses. Atividade 27: Leia com atenção o texto 6 [Tema I]. Identifique a temática do texto e as principais idéias sobre a produção de monografia. Atividade 28: Leia o texto 7 [Tema I] e resolva a atividade proposta. Atividade 29: Releia o texto 6 [Tema I]. O que a autora afirma sobre a redação das conclusões? A redação de um texto é tarefa árdua, mas pode ser amenizada se você estiver atento à clareza de sua produção. Um texto precisa ser claro e fidedigno. Conforme Flick (2004, p. 251): Unidade 3: A Escrita da Monografia Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. 39 Tornar o seu trabalho mais claro envolve considerações a respeito da audiência. A quem deve ficar mais claro? Quem vai ler o que você escreve? O que eles precisam saber para que não façam uma interpretação errada ou achem o que foi dito obscuro ou ininteligível? Portanto, fazer pesquisa não é apenas estabelecer uma relação entre o pesquisador e o objeto pesquisado, mas inclui também a interação entre o pesquisador e seus futuros leitores – para aqueles que ele está produzindo o texto. Atividade 30: Leia os textos 14, 15, 16 e 17 [Tema III]. Identifique em cada texto quais os sujeitos pesquisados, qual o problema de investigação e as conclusões de cada autor. A Escrita da Monografia Segundo Flick (2004), o investigador não é um observador objetivo, impositivo e politicamente neutro, que está acima do texto, ao contrário, a medida que escreve ele acaba se posicionando e seus valores e subjetividades tornam-se visíveis. Como já comentamos antes, aqui reside uma das principais diferenças entre a postura do investigador quando conduz uma pesquisa de natureza qualitativa. O investigador precisa ter coragem de assumir e aceitar que seu texto final vai ser subjetivo e carregado de seus valores, de seu modo de enxergar e conceber a realidade da pesquisa que desenvolveu, e de interpretar e usar os autores consultados na literatura. Atividade 31: Leia os textos 14 e 16 [Tema III] e analise como os pesquisadores relatam suas pesquisas e se revelam ou não sua postura ideológica. 3.3 Resumo É um elemento obrigatório. O resumo de um trabalho deve explicitar claramente uma compreensão global do texto, que recupera de forma concisa o conteúdo numa espécie de equivalência informativa. Segundo Magalhães (2009, p. 2): Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. ... devemos ter muito cuidado no momento de redigirmos um Resumo, de forma que ele seja completo, interessante e informativo, dispensando a consulta ao restante do texto. É importante que a partir da leitura do Resumo o leitor tenha a idéia do que trata o trabalho, ao mesmo tempo em que se sinta estimulado em ler o texto completo. Dentre os vários objetivos de um resumo, destaca-se o de estimular a leitura minuciosa do texto completo, possibilitando que o leitor consiga uma assimilação completa de seu conteúdo. A melhor maneira para fazer um resumo é seguir o critério do desenvolvimento de um texto: 40 Unidade 3: A Escrita da Monografia introdução, desenvolvimento e conclusão. Segundo as normas da ABNT: O resumo na língua vernácula (obrigatório) deve ser um texto claro e conciso, não apenas tópicos. Precisa ser objetivo para não passar de 500 palavras no máximo. E, logo em seguida, apresentar as palavras mais representativas do conteúdo do texto, ou seja as palavras-chave (http://www.firb.br/abntmonograf.htm). Segundo a NBR 10520:2001, citação é a “menção no texto, de uma informação extraída de outra fonte” (p. 01). É recomendável não abusar de citações e usá-las quando forem absolutamente necessárias. Um texto com elevado número de citações fica sem identidade, pois o autor quase não se revela. O pesquisador iniciante pode usar a fala de outros autores entre os seus argumentos, ou seja, o investigador na hora que está redigindo o seu texto sobre a pesquisa precisa ir “costurando” as idéias que tem, junto com os argumentos e pensamentos de outros autores lidos, estudados, consultados. E é preciso ter no texto acadêmico escrito de uma monografia ou dissertação ou tese também o posicionamento claro do investigador. Pouco vai auxiliar os leitores a leitura de um texto acadêmico apenas repleto de citações sem a costura crítica de quem está produzindo este texto. A Escrita da Monografia 3.4 As citações Algumas regras gerais úteis para as citações em um trabalho de monografia, como segue: 1. Quando o(s) autor(es) citado(s) estiver no corpo do texto a grafia do nome do autor deve ser em minúsculo, após ter iniciado o nome com a letra inicial maiúscula. E quando o(s) autor(es) estiver entre parênteses no final do trecho deve vir escrito o nome do autor em maiúsculo. 2. Devem ser especificadas, o ano de publicação, volume, tomo ou seção, se houver e a(s) página(s). Existem três tipos mais comuns de citações: 3.4.1. Citação direta Quando é feita a transcrição literal de palavras ou trechos de autores. Seguem alguns casos e exemplos: • A citação de até 03 linhas acompanha o corpo do texto e se destaca com dupla aspas ou em itálico. Exemplos: a) Barbour (1971, v. 21, p. 35) descreve "o estudo da morfologia dos terrenos" b) "Não se mova, faça de conta que está morta" (CLARAC; BON- Unidade 3: A Escrita da Monografia 41 NIN, 1985, p. 72). c) Segundo Flick (2004) “no que diz respeito aos critérios de avaliação do procedimento e dos resultados da pesquisa qualitativa, a literatura sobre o assunto traz uma discussão sobre ... alternativas” (p. 230). A Escrita da Monografia • Para as citações com mais de 03 linhas, deve-se fazer um recuo de 4,0 cm da margem esquerda, diminuindo a fonte (tamanho 10) e sem as aspas, e usando espaço simples. Exemplo: Devemos ser claros quanto ao fato de que toda conduta eticamente apropriada pode ser guiada por uma de duas máximas fundamentalmente e irreconciliavelmente diferentes: a conduta pode ser orientada para uma "ética das últimas finalidades", ou para uma "ética da responsabilidade". Isso não é dizer que uma ética das últimas finalidades seja idêntica à irresponsabilidade, ou que a ética de responsabilidade seja idêntica ao oportunismo sem princípios (WEBER, 1982, p. 144). • Para citações do mesmo autor com publicações em datas diferentes, e na mesma seqüência, deve-se separar as datas por vírgula. Exemplo: (CRUZ, 1998, 1999, 2000) 3.4.2. Citação indireta – ou paráfrase Deve-se manter fiel às idéias do autor, no entanto, não pode ser cópia. 3.4.3. Citação da citação Quando não se tem acesso à fonte original do texto. • Nas citações que aparecerem na seqüência do texto podem ser referenciadas de maneira abreviada, em notas: • apud - citado por, conforme, segundo; • idem ou id - mesmo autor; • ibidem ou ibid - na mesma obra; • opus citatum, opere citato ou op. cit. - obra citada; • passim - aqui e ali (quando foram retirados de intervalos); • loco citato ou loc. Cit. - no lugar citado; • cf. - confira, confronte; • sequentia ou et seq. - seguinte ou que se segue. Somente a expressão apud pode ser usada no decorrer do texto. Todas as outras expressões latinas são usadas apenas em notas de rodapé. Para maiores informações sugerimos o site: http://www.firb. br/abntmonograf.htm 42 Unidade 3: A Escrita da Monografia 3.5 Anexos e Apêndices Segundo as normas da ABNT (http://www.firb.br/abntmonograf.htm), um anexo é um “texto ou documento não elaborado pelo autor para comprovar ou ilustrar. São identificados por letras maiúsculas e travessão, seguido do título”, como segue: a) ANEXO A - Representação gráfica de contagem de células. Apêndice é o material elaborado pelo próprio autor do trabalho. A indicação é feita como nos anexos, letra maiúscula, travessão e título. 3.6 Referências Referências é elemento obrigatório e imprescindível da monografia. “Entende-se por referências o conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de documentos, de forma a permitir sua identificação individual” (http://www.monografia.net/abnt/index. A Escrita da Monografia Lembrete: ao redigir sua monografia não esqueça de incluir nos apêndices as autorizações dos sujeitos pesquisados para a sua investigação. htm). Como regra geral, o alinhamento das referências é apenas na margem esquerda e podem ser ordenadas numérica e/ou alfabeticamente. O espaçamento entre linhas é simples e separadas entre si por um espaçamento maior. As referências são constituídas de elementos essenciais, indispensáveis à identificação do documento. Em linhas gerais são: AUTOR, Nome. Título. Edição. Local: Editora, data. Ainda, as referências podem ser acrescidas de elementos complementares como subtítulo, indicação de tradutor, paginação, ilustrações, séries, notas explicativas, ISBN, entre outras. a) Livro Com um autor: FOERSTE, Erineu. Parceria na formação de professores. São Paulo: Cortez, 2005. Com dois autores: TOMAZ, V. S. & DAVID, M. M. M. S. Interdisciplinaridade e aprendizagem da Matemática em sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. 143 p. (Coleção Tendências em Educação Matemática). ISBN 978-85-7526-353-2. Unidade 3: A Escrita da Monografia 43 LINDQUIST, M. M.; SHULTE, A. P. (org.). Aprendendo e ensinando geometria. Tradução de Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1994, 308 p. Com três autores: SILVA, C. M. S.da; LOURENÇO, S. T.; CÔGO, A. M. O ensino-aprendizagem da matemática e a pedagogia do texto. Brasília: Plano Editora, 2004. 167 p. A Escrita da Monografia PEIXOTO, Jurema Lindote; SANTANA, Eurivalda Ribeiro dos Santos e CAZORLA, Irene Mauricio. SOROBAN: uma ferramenta para compreensão das quatro operações. Série Alfabetização Matemática, Estatística e Científica. Itabuna: Via Litterarum, 2006. Com mais de 03 autores pode ser usado nestes casos, o acréscimo da expressão et al, após o primeiro autor: PONTE; J. P. da; OLIVEIRA, H.; CUNHA, M. H.; SEGURADO, M. I. Histórias de investigações matemáticas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1998. Ou poderia vir escrito assim: PONTE; J. P. da et al. Histórias de investigações matemáticas. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1998. JAGUARIBE, H. et al. Brasil, sociedade democrática. Rio de Janeiro: J.Olympio, 1985. b) Capítulo de livro BICUDO, M. A. V. (org.). O professor de Matemática nas escolas de 1.° e 2.° graus. In: _______. Educação Matemática. 2.ed. São Paulo: Centauro, 2005. Cap. 2, p. 45-58. Ou poderia vir escrito assim: BICUDO, M. A. V. (org.). O professor de Matemática nas escolas de 1.° e 2.° graus. In: BICUDO, M. A. V. (org.). Educação Matemática. 2.ed. São Paulo: Centauro, 2005. Cap. 2, p. 45-58. c) Monografias, Dissertações e Teses MARCILINO, O. T. Ensino e aprendizagem na educação indígenas do Espírito Santo: a busca de um diálogo com a Etnomatemática. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2005. COTA, M. das G. História da Educação Escolar Indígena no Brasil. Doutorado em Educação. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007. 44 Unidade 3: A Escrita da Monografia d) Artigos de periódicos SANTOS-WAGNER, V. M. Resolução de problemas em matemática: uma abordagem no processo educativo. Boletim GEPEM, Rio de Janeiro, n. 53, p. 43-74, jul./dez. 2008. FIORENTINI; D. Memória e análise da pesquisa acadêmica em educação matemática no Brasil. Zetetiké, Campinas, CEMPEM, v. 1, n.1, p. 55-94, mar. 1993. f) Congressos, simpósios, encontros ou similares: Deve-se incluir a designação do evento em caixa alta, numeração (se houver), ano e local de realização do evento, título da publicação, local, editora e ano. SEMINÁRIO DE 30 ANOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, 2009, Vitória. Anais... Vitória: UFES, Biblioteca Universitária, 2009. 1 CD-ROM. A Escrita da Monografia e) Documentos legislativos BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. g) Obras sem autores especificos (entidade coletiva e publicações governamentais) Deve-se incluir a entidade, em caixa alta, título da obra, cidade da publicação, órgão responsável pela publicação, ano da publicação, número de páginas. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997, 142 p. h) Informações retiradas da Internet AUTOR(es).//Título:/subtítulo da parte ou do todo.//Edição.// Local:/Editora, /Data.//Descrição física do meio ou suporte. i)Documentos online Apresentar a URL entre os sinais<> precedido da expressão "Disponível em:" finalizando com a data de acesso como mostra o exemplo abaixo. ENCICLOPÉDIA da música brasileira. São Paulo, 1998. Disponível em: <http://www.uol.com.br/encmusical/>. Acesso em: 16 ago. 2001. Unidade 3: A Escrita da Monografia 45 j)Publicação periódica TÍTULO.//Local de publicação:/Editora,/Data de início da coleção e encerramento (quando houver).//Periodicidade.//ISSN. REVISTA BRASILEIRA DE ECONOMIA. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1947 - Trimestral. ISSN 0034-7140 Observação: O recurso tipográfico (negrito, grifo ou itálico) utilizado para destacar o elemento título deve ser uniforme em todas as referências de um mesmo documento. Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas 48 Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas 1. ARAÚJO, V. C de. Introdução à Metodologia Científica. Vitória: UFES/NE@AD, 2009. 65 p. 2. BIANCHI, Álvaro. Temas e problemas nos projetos de pesquisa. Estudos de Sociologia, Araraquara, 13/14, p. 75-91, 2002/2003. Disponível em: <http://www.fclar.unesp.br/soc/revista/artigos_pdf_ res/13-14/04-bianchi.pdf> Acesso em: 05 jul. 2009. 3. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciênias humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. 4. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 2006. 5. FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. 7. GOLDENBERG, Míriam. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 2005. 8. MORIN, André. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropopedagogia renovada.Rio de Janeiro> DP&A Editora, 2004. 9. MUGRABI, Edivanda; DOXSEY, Jaime. Introdução à Pesquisa educacional. Fascículo 1. UFES/NE@AD, 2003. Referências Bibliográficas 6. FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Sandra Netz e revisão técnica da edição de de Teniza da Silveira. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. (Obra publicada originalmente em língua alemã em 2002 com o título Qualitative sozailforschung.). 10. SANTOS-WAGNER, Vânia Maria Pereira dos. Tipos de registros e relatos de aulas e de experimentos de ensino. Projeto Pró-Ciências Universidade Federal de São Carlos, Maio de 2000. 11. _______. Ficha E: roteiro para a avaliação do experimento de ensino inédito. Projeto Pró-Ciências Universidade Federal de São Carlos, Abril de 2001, 2001a. 12. _______. Sugestão de roteiro para a elaboração de aula inédita e do relatório final. Projeto Pró-Ciências Universidade Federal de São Carlos, Julho de 2001, 2001b. Referências Bibliográficas 49 Anexos Anexos 52 Anexos ANEXO A Texto 1 Considerações para os iniciantes em pesquisas em educação matemática e educação do campo Circe Mary Silva da Silva 2 Vânia Maria Santos-Wagner 3 Este texto é uma adaptação e atualização do artigo “O que um iniciante deve saber sobre a pesquisa em educação matemática?”publicado em 1999, no Caderno de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES, n. 10, p. 10-23. Nosso objetivo é apontar alguns caminhos a serem seguidos por um investigador iniciante em educação do campo, que o auxiliem na tarefa de organizar o seu tema de pesquisa, trazendo alguns exemplos e sugestões na área. Consideramos que muitas das idéias apresentadas no texto de 1999 ainda são atuais e podem ser aproveitadas para outras pesquisas em Educação. Apresentamos algumas definições sobre o que é pesquisa, ensino, aprendizagem, avaliação e currículo. Iniciamos com um retrospecto do artigo, publicado em 1999, O que um iniciante deve saber sobre a pesquisa em educação matemática? Naquele texto, discutimos sobre o objeto específico dos estudos em educação matemática, sobre os objetivos das investigações em educação matemática, e sobre as perguntas específicas da pesquisa ou as problemáticas da mesma em educação matemática. Falamos também sobre resultados das pesquisas e sobre critérios que deveriam ser usados para avaliar os resultados de investigação em educação matemática. No presente ensaio, incluímos novos questionamentos e completamos outros tópicos com intuito de poder auxiliar um professor a tornar-se um investigador iniciante. A primeira questão que desejamos explorar é a diferença entre ministrar aulas e pesquisar. Em nossas experiências como orientadoras na pós-graduação, percebemos que para muitos de nossos orientandos as sutis diferenças entre esses dois processos não ficaram claras. O quadro I apresenta sucintamente possíveis passos para ministrar aula e para pesquisar, além de apontar as principais características de ambas ações. Anexos 2 Circe Mary Silva da Silva– Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo; e-mail: [email protected] 3 Vânia Maria Pereira dos SantosWagner – Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo e professora aposentada da UFRJ; e-mail: santoswagner. [email protected] Anexos Resumo 53 Ministrar aulas Pesquisar Definir o tema: introduzir novo assunto, explorar, conceituar e sistematizar, exercitar, revisar, sintetizar e avaliar. Planejar e registrar de modo sistemático, organizado e disciplinado todas as etapas do processo de pesquisa (elaborar diário de campo) Planejar: plano mental e/ou com Definir o tema de pesquisa: grande área, foco, perguntas e objetivos registros Ler livro didático Planejar por escrito Rever materiais didáticos seus ou Ler livros didáticos, artigos, disserde colegas tações, teses e livros sobre pesquisas Prever situações de ensino e aprenRever periodicamente as etapas andizagem que possam acontecer teriores ampliando, simplificando, Apreciar e avaliar o seu plano complementando ou reformulando Características: mais flexibilidade, Prever e imaginar situações que pomenor sistematização, busca de dem ocorrer no campo da pesquisa uma apreciação geral Coletar dados e informações: selecionar, organizar e analisar Apreciar e avaliar constantemente as etapas Redigir o relato final: trabalho de conclusão de curso, monografia, dissertação, tese ou relatório de pesquisa Anexos Características: menor flexibilidade, maior sistematização, busca evidencias que respondam a seus questionamentos Quadro I: Quadro comparativo entre ações que envolvem os processos de ministrar aulas e realizar pesquisas Sugestão de leitura Autores: Dario Fiorentini e Sergio Lorenzato Editora Autores Associados, Campinas, 2006 Título: Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos Capítulo 4: Apresentando a investigação científica. 54 Anexos Atividade 1: Ler atentamente o Quadro I e apontar as diferenças e semelhanças que identifiquem os dois processos de ministrar aulas e realizar pesquisas. Como um professor do ensino fundamental pode tornar-se um investigador ou professor-pesquisador de sua prática? Tem sido muito difícil para o professor que atua na escola do ensino fundamental, médio e mesmo superior tornar-se um professor-pesquisador. Para aqueles que aspiram a ingressar num curso de pós-graduação, quer seja stricto sensu ou lato-sensu, não se constitui numa tarefa fácil elaborar um projeto de pesquisa nem tornar-se um investigador. Discute-se muito sobre as dificuldades do ensino e sobre as necessidades de sua melhoria. As revistas divulgam artigos cada vez mais especializados, com termos desconhecidos para a maioria dos professores e comentam resultados interessantes que parecem que dão certo. Porém, esses estudos ficam cada vez mais distantes da prática de sala de aula e não oferecem ao professor idéias concretas. Esse professor também aspira a um ensino mais eficaz e atraente, mas sente-se muitas vezes impotente por não compreender nem perceber a relação dessas pesquisas com a sua prática docente. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Se olharmos para nossa própria formação profissional e prática, percebemos que foi necessário um longo tempo para o aprendizado na pesquisa. O olhar do professor e do pesquisador não são exatamente o mesmo. Enquanto professor, procurávamos entender e tentar resolver os dilemas diretamente ligados ao processo de ensino e aprendizagem de matemática. As tentativas de resolução dos problemas de sala de aula baseavam-se principalmente na intuição e experiência prática. Não possuíamos uma sistematização e não dispúnhamos de metodologia de trabalho adequada, quer seja para registrar, quer seja para analisar e entender o fenômeno de ensino. Com esse olhar intuitivo e sem sistematização do que observávamos em aula, perdemos muitas oportunidades de aprender com nossa prática. Anexos Anexos Como aproximar esses dois mundos tão distantes da teoria e da prática? Como aproximar o pesquisador do professor em sala de aula? Essas questões não são nada simples e não acreditamos ter um caminho pronto e definitivo no momento. Todavia, estamos conscientes como pesquisadores que é nosso dever fornecer ao professor informações básicas para que ele possa dar os primeiros passos na direção da pesquisa em educação matemática. É possível preparar um professor-investigador de sua prática docente que articule as informações da teoria com a sua prática. 55 Reflexão para o professor da educação do campo: O que já tenho colecionado, o que já tenho registrado e pensado sobre a minha prática como professor(a): pautas, diários, fotos, provas elaboradas, cadernos de alunos, mensagem dos pais, bilhetes de alunos, atas de reuniões? Será que posso utilizar esse material para minha pesquisa? Por que decidi coletar e preservar alguns desses materiais? Em que aspectos dos processos de ensinar, aprender e avaliar os questionamentos anteriores poderiam me ajudar? Se não tenho o hábito de registrar a minha prática, é necessário que a partir de agora o foco de minha atenção seja o olhar e registro de minha prática como educador(a). Começamos a concordar que a sistematização de nossas ações e o desejo de fazer uma introspecção sobre o nosso trabalho como professores é essencial para iniciarmos nossa investigação. A partir das reflexões e tentativas de respostas aos questionamentos acima, precisamos nos perguntar se o que mais nos inquieta, motiva ou nos leva a procurar outros caminhos no processo educativo são questões ligadas ao ensino, à aprendizagem, à avaliação ou ao currículo. Precisamos decidir, entre os quatro grandes eixos antes mencionados, qual deles chama mais nossa atenção nesta fase inicial. Anexos Como é suado, complicado, árduo e complexo o processo de aprendizagem de um pesquisador iniciante! É preciso pensar em uma problemática de pesquisa, descrever e identificar um problema para ser pesquisado que tenha algum elo com a experiência profissional anterior do professor e que o motive. Além disso, o investigador iniciante necessita perceber como este problema ou problemática de pesquisa pode ser contextualizado com outras pesquisas e estudos já desenvolvidos. A importância dessas leituras iniciais é também para conscientizá-lo de que essas inquietações não ocorrem apenas em sua realidade escolar, mas que outros pesquisadores já se depararam com situações semelhantes e realizaram pesquisas que podem ser uma referência para o investigador iniciante. Uma primeira ação é conhecermos o que os pesquisadores da área já investigaram, como investigaram e que resultados alcançaram. Denominamos essa etapa de “revisão de bibliografia”. Qual é o ponto de partida? Os estudos de pós-graduação nos forneceram os meios necessários para repensar e analisar nossa prática docente e nos apontaram caminhos novos para o mundo da investigação. Pairam no ar ainda algumas perguntas: que questões podem ajudar ao iniciante a refletir sobre o que é a educação matemática? O que envolve a pesquisa nesse campo de saber? Que conhecimentos iniciais sobre a área de educação matemática no Brasil e no mundo precisam ter um investigador iniciante? Como e em quanto tempo preparar um professor para começar a fazer investigações em educação matemática? (SANTOS, 1997). 56 Anexos Acreditamos que um passo inicial pode ser dado, se olharmos o que pesquisadores da área estão pensando sobre o assunto. Esses questionamentos e outros têm preocupado a comunidade científica nas últimas décadas. Escolhemos as perguntas discutidas na Conferência de Estudos do ICMI (International Commission on Mathematical Instruction) em Washington, em 1994, como norteadoras da presente reflexão (SIERPINSKA; KILPATRICK, 1998). As questões são: 1. Qual é o objeto específico de estudo em educação matemática? 2. Quais são os propósitos (os objetivos) da pesquisa em educação matemática? 3. Quais são as perguntas específicas de pesquisa ou quais são as problemáticas de pesquisa em educação matemática? 4. Quais são os resultados de pesquisa em educação matemática? 5. Quais são os critérios que devem ser usados para avaliar (apreciar) os resultados de pesquisa em educação matemática? Se nosso foco de investigação não é exatamente a educação matemática, podemos reformular as questões acima substituindo pelo termo educação do campo e perceberemos que as preocupações são as mesmas. Na publicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) 4 intitulada Panorama da Educação do Campo (2007), os autores apresentam uma concepção do que seja educação do campo. A literatura recente sobre o tema mostra a emergência do conceito de educação do campo, que se contrapõe à visão tradicional de educação rural. A expressão “do campo” é utilizada para designar um espaço geográfico e social que possui vida em si e necessidades próprias, como “parte do mundo e não aquilo que sobra além das cidades”. O campo é concebido enquanto espaço social com vida, identidade cultural própria e práticas compartilhadas, socializadas por aqueles que ali vivem (INEP, 2007; p. 8). 4 Artigo disponível em http:// portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaodocampo/ panorama.pdf e em http://www. publicacoes.inep.gov.br/detalhes. asp?pub=4181) Anexos 1. Qual é o objeto específico de estudo em educação do campo? 2. Quais são os propósitos (os objetivos) da pesquisa em educação do campo? 3. Quais são as perguntas específicas de pesquisa ou quais são as problemáticas de pesquisa em educação do campo? 4. Quais são os resultados de pesquisa em educação do campo? 5. Quais são os critérios que devem ser usados para avaliar (apreciar) os resultados de pesquisa em educação do campo? Como a educação do campo e a educação de jovens e adultos são áreas de investigação ainda em construção, nos limitaremos a trazer mais reflexões e exemplos da área de educação matemática, Anexos 57 com a qual trabalhamos desde a década de 1990 e que já se encontra enquanto área científica, mais consolidada no Brasil e no mundo. Qual é o objeto específico dos estudos em educação matemática? O que é educação matemática? Percebe-se mundialmente que o foco de interesse da educação matemática dirige-se ao estudo: • do ensino da matemática; • da aprendizagem da matemática; • das situações de ensino-aprendizagem da matemática; • das situações didáticas; • das relações entre o ensino, a aprendizagem e o conhecimento matemático; • da avaliação em matemática; • da realidade das aulas de matemática; • das visões de matemática da sociedade; • do currículo de matemática escolar; • dos sistemas educacionais; • das concepções e atitudes de professores e alunos; • da história da matemática; • das novas tecnologias; • da educação de jovens e adultos; • da educação de alunos com necessidades especiais; • da educação infantil; • da formação inicial e continuada de professores. Claramente, além de ampliarmos nossos conhecimentos, o objetivo último da pesquisa é a melhoria da aprendizagem de matemática. Muitas das questões investigadas em educação matemática são pertinentes a educação do campo. Anexos Quais são as perguntas específicas da pesquisa ou as problemáticas da pesquisa em educação matemática? Educação matemática está entre os cruzamentos de várias áreas de domínios científicos bem estabelecidos, tais como: Matemática, Psicologia, Pedagogia, Sociologia, Epistemologia, Antropologia, Ciência Política, Ciência da Cognição, Semiótica, e Economia, e pode estar preocupada com problemas que são provenientes desses domínios. Existem dois tipos distintos de questões: aquelas diretamente ligadas à prática de ensino e aquelas geradas pela pesquisa. Em relação à primeira questão, listaremos dois exemplos: • Como motivar os estudantes a aprender um determinado tópico de matemática? • Como identificar as dificuldades de aprendizagem dos alunos? 58 Anexos Em relação ao segundo tipo, temos como exemplos: a questão de classificar dificuldades tentando ver qual seria a sua abrangência, ou a questão de localizar suas origens ou construir um esquema teórico para analisar as dificuldades. Uma forma de articular a teoria com a prática seria refletirmos sobre a natureza de dois tipos de conhecimento: o conhecimento teórico da comunidade de pesquisadores e o conhecimento prático útil para professores e alunos. Precisamos pensar e refletir sobre as relações existentes entre eles e procurar, se possível, um corpo de conhecimento que articule ambos. Reflexão para o professor da educação do campo: As questões referentes à motivação e dificuldades de aprendizagem dos alunos não são específicas da matemática e podem ser investigadas de um modo geral. Essa temática é interessante para mim? Poderia dar alguma contribuição que aponte para uma semelhança ou diferença entre educação urbana e educação do campo? Antes mesmo de iniciarmos a elaboração de um projeto de pesquisa, já deveríamos nos preocupar com as questões de validade, de relevância, de objetividade e/ou subjetividade, entre outras. O pesquisador deve começar a levantar os seus próprios critérios de validade e de apreciação do estudo que pretende implementar. Deixar que o estudo seja apreciado e julgado a posteriori pela comunidade científica é um passo tardio nessa jornada. Por outro lado, enquanto comunidade, precisamos estabelecer algumas normas para a apreciação de nossa pesquisa. Alguns pesquisadores já procuraram estabelecer alguns critérios para discutir a qualidade e a relevância da investigação na área. Kilpatrick (1996) comenta que, em 1993, Sierpinska e ele próprio listaram oito critérios comuns: relevância, validade, objetividade, originalidade, rigor e precisão, prognóstico, reprodutibilidade e relacionamento. Esses critérios eram freqüentemente aplicados em ciências naturais, mas precisamos pensar sobre a relevância ou não dos mesmos para a área educacional. Assim sendo, sugerimos a leitura dos textos já relacionados desses autores nas referências, para um maior aprofundamento e compreensão dos critérios e das reformulações. Anexos Que critérios deveriam ser usados para avaliar os resultados de pesquisa em educação matemática? Ou que critérios deveriam ser usados para avaliar os resultados de pesquisa em educação do campo? Antes de continuarmos com nossos argumentos sobre os passos que um iniciante deve seguir, apresentamos algumas perguntas que podem auxiliar no processo de planejamento de uma investigação. Em cursos de licenciatura, de especialização para professores e Anexos 59 Anexos pós-graduação, Santos (1994, 1997) tem feito com os iniciantes em trabalhos de investigação questionamentos do tipo: • O que de fato queremos investigar? • Por que é relevante e importante fazer esta investigação? • O que eu já sei sobre este tema a partir de minha experiência como aluno e/ou como professor? • Que motivação eu tenho para fazer esta investigação? • O que já lemos, ouvimos e sabemos pelo bom senso ou experiência profissional sobre este tema? • O que já foi investigado sobre este tema? • O que os documentos oficiais de políticas públicas, em termos de Parâmetros Curriculares Nacionais [PCN] (BRASIL, 1998) ou diretrizes curriculares do município ou estado trazem de informações sobre o tema? • Que evidências, argumentos ou informações posso usar em minha pesquisa a partir de outros estudos? • Como foram desenvolvidas estas investigações? Existem aspectos desses trabalhos com os quais eu concordo? Quais aspectos são esses e por que eu concordo com eles? Existem aspectos dos estudos já realizados com os quais eu discordo? Quais são esses aspectos e por que isso ocorre? • Afinal, o que eu quero investigar e que hipóteses e/ou idéias eu já tenho sobre a investigação a ser realizada? O que eu quero de fato explorar, compreender, identificar, conhecer, verificar, investigar? • Que referencial teórico eu vou utilizar? O porquê dessa escolha? • Que metodologia será útil para desenvolver o estudo? Essa metodologia poderá auxiliar a responder às questões da investigação? O referencial teórico do estudo e a metodologia planejada são compatíveis? Como está sendo planejada a coleta e análise de dados no trabalho? Que critérios estão sendo pensados pelo investigador para validar as análises e interpretações que serão feitas e verificar se as mesmas poderiam ser reproduzidas em outros estudos? • Como posso verificar se de fato respondi às perguntas da pesquisa? • Que implicações esta investigação poderá ter para a sala de aula de matemática? • Que implicações poderá ter para a área de educação matemática? Ou Que implicações poderá ter para a área de educação do campo? As respostas iniciais a essas questões e o seu refinamento ao longo da investigação permitem ao investigador obter algumas evidências sobre a validade, a relevância, a reprodutibilidade e as implicações do trabalho desenvolvido, dentre outras. Os iniciantes precisam pensar sobre essas questões e outras que os auxiliem a elaborar o projeto de investigação. 60 Anexos Atividade 2: Quais entre as perguntas acima elencadas já estão claras para a minha pesquisa? Quais são as minhas perguntas? Quais os objetivos relacionados com cada pergunta? Discutir com os colegas sobre as perguntas que pretendo responder irão me auxiliar a ter mais clareza sobre as mesmas. O que posso aproveitar dos registros de minha prática para a investigação que pretendo realizar? É necessário também que os docentes envolvidos no processo de orientação de trabalhos de investigação conversem e discutam com seus orientandos sobre essas questões, as respostas que estão sendo propostas e as possíveis dificuldades que podem surgir durante o processo de implementação da pesquisa. Ao mesmo tempo, os investigadores iniciantes precisam estar cientes de que os critérios de apreciação do trabalho que irão elaborar estarão diretamente vinculados com o projeto que eles criarem. Se o projeto estiver claro, se o problema de investigação estiver bem delimitado, se a metodologia escolhida estiver bem fundamentada e adequada, se o plano de ação for viável, se a fundamentação teórica de fato oferecer o suporte necessário para a problemática a ser investigada e para a análise das informações obtidas, pode-se dizer que uma grande parte do caminho foi percorrido e a pesquisa está bem encaminhada. Sugestão - Grupo de estudo: formar grupos de até quatro componentes para trabalhar os textos e realizar atividades propostas. Este grupo prepara discussões para os encontros coletivos. Não podemos nos esquecer da importância da divulgação dos estudos realizados tanto na comunidade científica como na comunidade escolar. Se as investigações ficarem encadernadas e confinadas em prateleiras de bibliotecas, pouco teremos contribuído para o processo de melhoria e de compreensão do processo de ensinoaprendizagem de matemática. É necessário e urgente socializar o conhecimento produzido na área de Educação matemática. Anexos Não podemos oferecer um manual nem uma bíblia para os que quiserem ingressar neste campo da pesquisa, mas procuramos lançar algumas luzes nesse túnel às vezes escuro, longo e cheio de obstáculos. É o olhar de curiosidade e indagação do investigador acompanhado de sistematicidade, planejamento, avaliação contínua ao longo do processo de pesquisa, coerência no interpretar, analisar e categorizar de dados à luz dos questionamentos da pesquisa que permitem que o processo seja árduo, intenso e muito interessante. Ao encerrarmos uma pesquisa, precisamos estar levantando questões para uma próxima investigação. Precisamos mostrar as potencialidades bem como as limitações do estudo. Esse caráter de pesquisador possibilitará que o professor passe a atuar em sala de aula com um olhar mais crítico, mais indagador e mais reflexivo. No Brasil, Fiorentini (1993) publicou um levantamento das pesquisas produzidas na área. Para facilitar a consulta desse material, o autor classificou a pesquisa acadêmica brasileira em educação matemática em treze focos temáticos: currículo; materiais didáticos e meios de ensino; erros, problemas e dificuldades do ensino e da Anexos 61 aprendizagem; cotidiano escolar; etnomatemática e educação de adultos; relação da Matemática com outras disciplinas; formação do professor de Matemática; prática docente; psicocognição e aprendizagem; fundamentos histórico-filosóficos e epistemológicos; ideologia e/ou concepções e significados; história do ensino da matemática; e políticas oficiais sobre o ensino da matemática (Fiorentini, 1993, p. 67). Infelizmente, o autor constatou que a pesquisa brasileira ainda se mantém dispersa, desconhecida e inacessível para a maioria dos professores. E como fica a sala de aula de matemática? Comparando a produção acadêmica nas últimas décadas, Fiorentini e Sader (1999) concluíram que a maioria dos estudos da década de 80 priorizaram aspectos político-pedagógicos muito amplos e gerais do ensino da matemática, enquanto, a partir da década de 90, houve um esforço mais sistemático de investigar aspectos mais pontuais e cognitivos do processo de ensino-aprendizagem em sala de aula (Fiorentini e Sader, 1999, p. 14). Anexos Não basta apenas conhecer o que está sendo produzido em educação matemática, mas é preciso avaliar essas produções. Essa é uma tarefa primordial para os pesquisadores que já atuam na área e também para os novos investigadores. É necessário que existam fóruns de discussão desse saber envolvendo pesquisadores, professores de sala de aula e gerenciadores das políticas educacionais. Só assim é possível alcançarmos algum êxito para superarmos a dicotomia entre teoria e prática. Assim estaremos de fato contribuindo na construção de conhecimento. 62 Uma forma eficaz de socializar os resultados dessas pesquisas é introduzir disciplinas e/ou seminários de educação matemática nos cursos de formação inicial e continuada de professores de matemática. “Os currículos não podem continuar fechados, restritos às disciplinas tradicionais de conteúdos, mas devem possibilitar espaço para que os recentes resultados de pesquisa cheguem até os futuros professores” (Silva, 1998, p. 59). Os professores regentes precisam de tempo e de grupos suporte em suas escolas e nos locais de formação continuada. Só assim, os professores podem questionar sua prática e podem experimentar mudanças na mesma se o desejarem. Podem aprender a conduzir investigações em sua sala de aula e sentir prazer e desejo de divulgar suas experiências, descobertas e frustrações entre seus pares (Santos-Wagner, 1999). Ou seja, os professores precisam sentir que o processo de tornarem-se professores-pesquisadores é possível e que é fundamental socializar o conhecimento produzido nessa caminhada. Anexos Sugestões de leitura: Autores: BORBA, Marcelo de Carvalho e ARAÚJO, Jussara Loiola (orgs.) Título: Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Autor: FLICK, Uwe Título: Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004. Recordamos que a educação matemática necessita de conhecimentos oriundos de vários campos científicos como a matemática, psicologia, educação, antropologia, sociologia, política, epistemologia, ciência da cognição, semiótica e economia. De maneira similar a educação do campo precisa de conhecimentos de diversos campos científicos como a educação, geografia humana, agricultura, psicologia, antropologia, sociologia, política, epistemologia, ciência da cognição, semiótica, economia e ecologia. Portanto, investigações nessas áreas de conhecimento são complexas e requerem que o pesquisador tenha curiosidade de adquirir informações dos vários campos que permeiam essas áreas. O cuidado de estar constantemente lendo, refletindo, registrando, buscando responder seus questionamentos a partir de uma análise cuidadosa, disciplinada, sistemática e rigorosa dos dados e informações obtidas ao longo da pesquisa é essencial para que a pesquisa tenha credibilidade, confiabilidade e validade. O relato final da investigação torna-se mais completo quando o investigador além de apresentar seus resultados, apresenta suas reflexões sobre suas aprendizagens, desdobramentos da pesquisa, dificuldades e limitações da mesma. Ao mesmo tempo que a realização de uma investigação requer tempo, interesse, esforço e portanto caracteriza-se como um trabalho árduo, o relato final, para divulgar e socializar os resultados obtidos, fornece ao investigador uma sensação de satisfação pelo seu aprendizado pessoal e por ter produzido conhecimento. Anexos Anexos Não podemos esquecer que toda pesquisa na área de educação envolve seres humanos que precisam ser respeitados em todos os seus direitos. Assim o pesquisador precisa tomar cuidados éticos que envolvem consentimento para participação na pesquisa, a permissão para o uso de imagens e vozes dos investigados ou participantes e conhecimento do objetivo da pesquisa. Além disso, é dever do pesquisador ao longo de toda a investigação estar dando retorno continuadamente aos participantes de seus registros e interpretações dos dados coletados. O relato final da pesquisa não pode ser divulgado sem a observância desses princípios éticos e humanos. 63 Referências Bibliográficas BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BORBA, M. de C. ; ARAÚJO, J. L. (org.) Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. FIORENTINI, D. Memória e análise da pesquisa acadêmica em educação matemática no Brasil: o banco de teses do CEMPEM/FE-UNICAMP. Zetetiké, Campinas, v. 1, n. 1, p. 55-76, mar. 1993. FIORENTINI, D. e SADER, P. M. A. Tendências da pesquisa brasileira sobre a prática pedagógica em matemática: um estudo descritivo. Palestra apresentada na ANPED e publicada no CD da Reunião da ANPED de 1999. FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos. Campinas: Editora Autores Associados, 2006. FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Sandra Netz. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. INEP. Panorama da educação do campo. Brasília, DF: INEP, 2007. KILPATRICK, J. Fincando estacas: uma tentativa de demarcar a educação matemática como campo profissional e científico. Zetetiké, Campinas, v. 4, n. 5, p. 99-120, jan./jun. 1996. SANTOS, V. M. Notas de aula de seminário sobre elaboração de monografia de final de curso de Especialização de Professores de Matemática. Rio de Janeiro: UFRJ, 1994. Anexos ____. Roteiro de estudos para alunos graduandos e pós-graduandos para a elaboração de um projeto de pesquisa em educação matemática. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. SANTOS-WAGNER, V. The development of teachers’ awareness of the process of change: Brazilian experiences with practising teachers. In: Ellerton, N. (ed.). Mathematics teacher development: international perspectives. West Perth, Australia, 1999. p. 217-256. SIERPINSKA, A. KILPATRICK, J. (ed.) Mathematics education as a research domain: a search for identity. An ICMI study. Book 1 & Book 2. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1998. SILVA, C.M. A formação de professores de matemática: preocupações recentes e antigas. Caderno de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES, Vitória. n. 7, fev. 1998, p. 54-61, fev. 1998. SILVA, C. M. S; SANTOS-WAGNER, V. M. P. dos. O que um iniciante deve saber sobre a pesquisa em educação matemática? Caderno de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFES, Vitória, n. 10, p. 10-23, 1999. 64 Anexos ANEXO B Texto 4 Estudo de Caso, uma alternativa de pesquisa em educação Marli André, PUC SP Introdução Estudos de Caso podem ser usados em avaliação ou pesquisa educacional para descrever e analisar uma unidade social, considerando suas múltiplas dimensões e sua dinâmica natural. Na perspectiva das abordagens qualitativas e no contexto das situações escolares, os estudos de caso que utilizam técnicas etnográficas de observação participante e de entrevistas intensivas possibilitam reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar diária. Se o interesse é investigar fenômenos educacionais no contexto natural em que ocorrem, os estudos de caso podem ser instrumentos valiosos, pois o contato direto e prolongado do pesquisador com os eventos e situações investigadas possibilita descrever ações e comportamentos, captar significados, analisar interações, compreender e interpretar linguagens, estudar representações, sem desvinculá-los do contexto e das circunstâncias especiais em que se manifestam. Assim, permitem compreender não só como surgem e se desenvolvem esses fenômenos, mas também como evoluem num dado período de tempo. Estudos de Caso- Conceito e Fundamentos Anexos O presente texto discute inicialmente o conceito e os fundamentos do estudo de caso. Em seguida, apresenta as formas de conduzi-lo, tomando como exemplo uma pesquisa avaliativa de um Programa de Formação de Professores em Exercício- PROFORMAÇÃO. Estudos de caso vêm sendo usados há muito tempo em diferentes áreas de conhecimento, tais como: sociologia, antropologia, medicina, psicologia, serviço social, direito, administração, com métodos e finalidades variadas. A origem dos estudos de caso na sociologia e antropologia remonta ao final do século 19 e início do século 20, com Frédéric Le Play, na França e Bronislaw Malinowski e membros da Escola de Chicago, nos Estados Unidos da América. O principal propósito desses estudos era realçar as características e atributos da vida social (Hamel, 1993). Anexos 65 Na medicina, na psicanálise, na psicologia e no serviço social os estudos de caso tinham inicialmente uma finalidade clínica: diagnosticar um problema apresentado por um sujeito e acompanhar o seu tratamento. Em direito, administração e medicina foram e ainda são usados como recurso didático, seja com a finalidade de ilustrar o uso de um procedimento, seja para estimular, em situação de ensino, o debate de um tema. Muito popular atualmente é o método de “cases” na área de administração, que visa mostrar, por meio de um caso exemplar, como uma empresa ou organização pode se estruturar, resolver problemas, vencer. Em educação, os estudos de caso aparecem em manuais de metodologia de pesquisa das décadas de 1960 e 1970, mas com um sentido muito limitado: estudo descritivo de uma unidade, seja ela uma escola, um professor, um grupo de alunos, uma sala de aula. Essa visão provocou alguns mal entendidos e a emergência de estudos com recortes muito pontuais e análises superficiais. Já nos anos 1980, no contexto das abordagens qualitativas, o estudo de caso ressurge na pesquisa educacional com um sentido mais abrangente: o de focalizar um fenômeno particular, levando em conta seu contexto e sua múltiplas dimensões. Valoriza-se o aspecto unitário, mas ressalta-se a necessidade da análise situada e em profundidade. Anexos Peres e Santos (2005, p. 114-115) destacam três pressupostos básicos que devem ser levados em conta na execução dos estudos de caso: 1) o conhecimento está em constante processo de construção; 2) o caso envolve uma multiplicidade de dimensões; e 3) a realidade pode ser compreendida sob diversas óticas. 66 O primeiro pressuposto implica uma atitude aberta e flexível por parte do pesquisador, que não se fixa rigidamente no seu referencial teórico de apoio, mas fica atento a aspectos novos que podem se mostrar relevantes no decorrer do trabalho. O segundo pressuposto requer o uso deliberado de diferentes enfoques, o uso de várias fontes de dados e uma variedade de instrumentos e procedimentos de coleta para contemplar as múltiplas dimensões do fenômeno investigado e evitar interpretações unilaterais ou superficiais. O terceiro pressuposto exige uma postura ética do pesquisador, que deve fornecer ao leitor as evidências que utilizou para fazer suas análises, ou seja, descrever de forma acurada os eventos, pessoas e situações observadas, transcrever depoimentos, extratos de documentos e opiniões dos sujeitos, buscar intencionalmente fontes com opiniões divergentes. Com esses elementos, o leitor pode confirmar –ou não- as interpretações do pesquisador, além de empreender generalizações e interpretações próprias. Anexos Stake (1994, p. 236) explica que o que carcteriza o estudo de caso qualitativo, não é um método específico, mas um tipo de conhecimento: “Estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do objeto a ser estudado”, diz ele. O conhecimento gerado pelo estudo de caso é diferente do de outros tipos de pesquisa porque é mais concreto, mais contextualizado e mais voltado para a interpretação do leitor. A Prática do Estudo de Caso As abordagens qualitativas de pesquisa se fundamentam numa perspectiva que concebe o conhecimento como um processo socialmente construído pelos sujeitos nas suas interações cotidianas, enquanto atuam na realidade, transformando-a e sendo por ela transformados. Assim, o mundo do sujeito, os significados que atribui às suas experiências cotidianas, sua linguagem, suas produções culturais e suas formas de interações sociais constituem os núcleos centrais de preocupação dos pesquisadores. Se a visão de realidade é construída pelos sujeitos, nas interações sociais vivenciadas em seu ambiente de trabalho, de lazer, na família, torna-se fundamental uma aproximação do pesquisador a essas situações. Nisbett e Watts (citados por André, 2005) indicam que o desenvolvimento dos estudos de caso seguem, em geral, três fases: exploratória ou de definição dos focos de estudo; fase de coleta dos dados ou de delimitação do estudo; e fase de análise sistemática dos dados. São definidas como três fases, mas são de fato, referências para a condução dos estudos de caso, pois a pesquisa é uma atividade criativa e como tal pode requerer conjugação de duas ou mais fases em determinados momentos, ênfase maior em uma delas em outros, e superposição em muitos outros. A fase exploratória é o momento de definir a(s) unidade(s) de análise - o caso, confirmar ou não as questões inicias, estabelecer os contatos iniciais para entrada em campo, localizar os participantes e estabelecer mais precisamente os procedimentos e instrumentos de coleta de dados. Anexos Fase exploratória O estudo de caso começa com um plano muito aberto, que vai se delineando mais claramente à medida que o estudo avança. A pesquisa tem como ponto inicial uma problemática, que pode ser traduzida em uma série de questões, em pontos críticos ou em hipóteses provisórias. A problemática pode ter origem na literatura relacionada ao tema, ou pode ser uma indagação decorrente da prática profissional do pesquisador, ou pode ser a continuidade de pesqui- Anexos 67 sas anteriores, ou ainda pode nascer de uma demanda externa, como a pesquisa avaliativa. As questões ou pontos críticos iniciais tendem a se modificar, conforme o estudo caminha: alguns se firmam, mostrando-se realmente relevantes para aquela situação, outros terão que ser descartados pela sua pouca pertinência ao caso e aspectos não previstos podem vir a ser incorporados ao estudo. Tomemos um exemplo concreto de pesquisa com estudos de caso, a qual focalizou um Programa de Formação de Professores em Serviço – PROFORMAÇÂO, para ilustrar como foram conduzidos os estudos de caso. Anexos Para fins de melhor entendimento, far-se-á uma breve descrição do programa de formação docente. Operando na modalidade de educação a distância, com dois anos de duração, o Proformação é um curso de nível médio, destinado à formação de professores leigos que atuam nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, pré escolar e classes de alfabetização, das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. O Proformação compõe-se de material autoinstrucional (32 Guias de Estudo, 32 vídeos e 32 Cadernos de Verificação da Aprendizagem) reunidos em 4 eixos específicos, semestrais. Cada eixo específico engloba: a) uma fase intensiva de 10 dias com atividades presenciais para o professor cursista (PC), realizadas em janeiro e julho, nas Agências Formadoras (AGF), sob a coordenação de professores formadores (PF); b) uma fase continuada distribuída por todo o semestre, abrangendo atividades auto-instrucionais de estudo individual dos Guias de Estudo, elaboração de memorial, provas bimestrais e atividades coletivas quinzenais, com a supervisão de um tutor, o qual também visita as salas de aula dos cursistas. Como se desenvolveu a pesquisa avaliativa sobre o Proformação? Após contato com os gestores do Programa e com o material escrito disponível, definiu-se que o objetivo dos estudos de caso era investigar, em profundidade, o processo de implementação do Proformação. As questões iniciais eram as seguintes: Qual a inserção dos cursistas na comunidade? Houve mudança nas práticas de sala de aula dos cursistas? Houve mudança nas concepções dos cursistas sobre ensino e aprendizagem? Qual o papel do memorial na constituição da identidade dos cursistas? O Programa afetou o desempenho e auto estima dos alunos dos cursistas? Alguns aspectos novos surgiram no decorrer do estudo e foram incorporados aos questionamentos iniciais: destacou-se como importante a mudança na concepção de avaliação dos cursistas e na escrita dos memoriais. Destacou-se ainda como um importante fator relacionado ao Proformação, a mudança nas políticas locais e nas condições materiais das escolas. 68 Anexos Para definição das unidades de análise (os casos) levou-se em conta: os recursos financeiros disponíveis para contratar pesquisadores de campo, o tempo total de duração da pesquisa, a abrangência regional do Programa (regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil) e os interesses dos gestores do Programa. A escolha dos locais foi pautada nos seguintes critérios: dois estados –Acre e Ceará- do primeiro grupo que iniciou o Programa e dois estados –Bahia e Tocantins – do segundo grupo. Em cada estado foram escolhidas duas Agências Formadoras, uma do norte e uma do sul do estado. Os contatos iniciais foram fundamentais para definir quais as escolas e professores que seriam acompanhados, em que momento seria feita a coleta dos dados e que instrumentos seriam usados. As observações tiveram que ficar concentradas em uma escola de cada região pelas dificuldades de acesso (cinco delas ficavam em área rural) e pela necessidade de permanência do pesquisador em tempo integral no local. Quanto aos momentos de coleta de dados, definiuse que haveria um período no início e outro no final do ano letivo, já que se pretendia verificar mudanças em práticas dos docentes e em desempenho de alunos. Quanto aos instrumentos, decidiu-se elaborar roteiros de observação e de entrevista, além de testes de simulação didática para os cursistas e testes de desempenho para os alunos. Nessa fase ocorreu o preparo dos pesquisadores de campo. Depois da leitura do material escrito sobre o Proformação, houve um treinamento realizado pela coordenadora da pesquisa com os seis pesquisadores, durante oito horas, para discussão dos objetivos da pesquisa e do conceito de estudo de caso em educação, para elaborar os instrumentos de coleta de dados, definir as tarefas e montar um cronograma de trabalho. Após cada visita ao campo foram feitas reuniões com os seis pesquisadores, para discussão coletiva dos dados e para preparação dos relatórios parciais e finais. Uma vez identificados os elementos-chave e os contornos aproximados do estudo, o pesquisador pode proceder à coleta sistemática de dados, utilizando fontes variadas, instrumentos - mais ou menos- estruturados, em diferentes momentos e em situações diversificadas. Anexos Fase de Delimitação do Estudo e de Coleta dos Dados A importância de delimitar os focos da investigação decorre do fato de que não é possível explorar todos os ângulos do fenômeno num tempo razoavelmente limitado. A seleção de aspectos mais relevantes e a determinação do recorte é, pois, crucial para atingir os propósitos do estudo e uma compreensão da situação investigada. Anexos 69 Bassey (2003, p. 81-83) considera que há três grandes métodos de coleta de dados nos estudos de caso: fazer perguntas (e ouvir atentamente), observar eventos (e prestar atenção no que acontece) e ler documentos. O autor lembra que há um grande número de manuais indicando como elaborar questionários, como conduzir entrevistas, como elaborar roteiros de observação, mas o que vai guiar uma ou outra escolha, sem dúvida, é o problema de pesquisa e o que se quer conhecer. Anexos No estudo de caso do tipo etnográfico, que objetiva revelar os significados atribuídos pelos participantes ao caso investigado, a entrevista se impõe como uma das vias principais. Stake (1995, p. 6466) fornece boas sugestões sobre como conduzir a entrevista. Antes de tudo ele alerta que se a entrevista não for muito bem planejada de antemão pode não atingir seu objetivo. Fazer perguntas e ouvir é muito fácil, afirma Stake, mas fazer uma boa entrevista não é nada fácil. Segundo ele, o pesquisador deve elaborar um roteiro, baseado nas questões ou pontos críticos, que podem ser mostradas ao respondente, acompanhadas do esclarecimento de que não se busca resposta do tipo sim e não, mas posicionamentos pessoais, julgamentos, explicações. Pré testar a entrevista numa situação similar à real, deve ser uma rotina. No desenrolar da entrevista o pesquisador tem que se preocupar em ouvir, talvez tomar notas, mas sobretudo manter o controle da situação, centrando-se nas questões básicas, pedindo esclarecimentos, sempre que necessário. É importante que o pesquisador faça o relato da entrevista o mais próximo possível de sua ocorrência para que não perca detalhes importantes. O bom entrevistador consegue não só refazer os depoimentos, mas submete o seu relato ao respondente, acrescenta Stake. As observações, segundo Stake (1995, p. 60) dirigem o pesquisador para a compreensão do caso. É preciso fazer um registro muito detalhado e claro dos eventos de modo a fornecer uma descrição incontestável que sirva para futuras análises e para o relatório final. Na observação de campo deve ser dada atenção especial ao contexto, pois segundo Stake, para proporcionar experiências vicárias ao leitor, para “dar a sensação de ter estado lá” as circunstâncias em que ocorrem as situações precisam ser muito bem descritas. A observação deve incluir plantas, mapas, desenhos, fotos. Não só o contexto físico deve ser descrito, mas o familiar, o econômico, o cultural, o social, o político, todos aqueles que ajudam a entender o caso, adverte Stake. O pesquisador fornece elementos que permitam apreender qual é a estória, a situação, o problema. Algumas vezes pode parecer que não há uma estória a ser contada, que não há o que aprofundar, comenta Stake, porque a estória só começa a tomar forma durante as observações e geralmente só emerge na fase final do relatório. Quase todos os estudos incluem análise de documentos, sejam eles pessoais, legais, administrativos, formais ou informais. Como nas 70 Anexos situações de entrevista e de observação, o pesquisador deve ter um plano para seleção e análise de documentos, mas ao mesmo tempo tem que estar atento a elementos importantes que emergem na coleta de dados. É possível, também, como afirma Stake (1995, p. 68) que o documento possa substituir o registro de um evento que o pesquisador não pode observar diretamente. Documentos são muito úteis nos estudos de caso porque complementam informações obtidas por outras fontes e fornecem base para triangulação dos dados. Embora se tenha dado destaque às entrevistas, à observação e à análise documental como principais métodos de coleta de dados no desenvolvimento dos estudos de caso, há outras formas que podem ser associadas a essas, como por exemplo, questionários, testes, mapas conceituais, dados estatísticos ou outros. O importante é não perder de vista os pressupostos que orientam o estudo de caso qualitativo. • registros escritos de observação da prática pedagógica dos professores cursistas nas escolas, em que foram explorados os seguintes núcleos temáticos: planejamento, uso do espaço e de gestão de sala de aula, uso de materiais concretos, relação professor-aluno e articulação entre os conteúdos e as experiências culturais dos alunos; • registros de observação dos encontros quinzenais em que os professores cursistas se reuniam com os tutores para esclarecer as dúvidas sobre o material autoinstrucional, para entregar seus exercícios e discutir questões de sua prática pedagógica; • registros de observação das reuniões com todos os cursistas em julho e janeiro; • entrevistas com professores cursistas, tutores, professores formadores, gestores locais, regionais e nacionais, buscando verificar suas expectativas e opiniões sobre o Programa; • aplicação de testes de simulação didática aos professores cursistas para verificar seu conhecimento de ensino de português, matemática e didática, tanto no início quanto ao final de um ano de participação no Programa; • análise de memoriais elaborados pelos professores cursistas; • aplicação de testes de desempenho aos alunos, em português e matemática, no início e ao final de um ano letivo. Anexos Na pesquisa avaliativa do Proformação foram utilizados como métodos de coleta de dados: Foram feitas duas visitas em cada escola, com duração aproximada de 10 dias (os pesquisadores ficaram residindo no local), o que resultou num mínimo de 80 horas de observação em cada local pesquisado. Em uma das escolas foi realizada uma terceira visita para devolutiva dos dados aos participantes e discussão conjunta. Um ano após a conclusão do Programa foi feita nova visita à sala de aula de todos os cursistas para avaliar o que permaneceu - ou não - em sua prática docente. Anexos 71 Fase de Análise Sistemática dos Dados e de Elaboração do Relatório A análise está presente nas várias fases da pesquisa, tornandose mais sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados. Desde o início do estudo, no entanto, são usados procedimentos analíticos, quando se procura verificar a pertinência das questões selecionadas frente às características específicas da situação estudada e são tomadas decisões sobre áreas a serem mais exploradas, aspectos que merecem mais atenção e outros que podem ser descartados. Essas escolhas decorrem de um confronto entre os fundamentos do estudo e o que vai sendo “aprendido” no desenrolar da pesquisa, num movimento constante que perdura até o final do relatório. Anexos Já na fase exploratória surge a necessidade de juntar o material, analisar previamente as informações e torná-la disponível aos participantes para que manifestem suas reações sobre a relevância e acuidade do que foi registrado. Esses “rascunhos” de relatório podem ser apresentados aos interessados, por escrito ou sob outras formas. Na avaliação do Proformação, os dados preliminares dos estudos de caso foram divulgados basicamente por meio de fotos e de reprodução de depoimentos, a todas as Agências Formadoras em uma teleconferência. Os participantes puderam fazer questões ao vivo e dar suas opiniões sobre o que lhes foi apresentado. As reações, observações e críticas foram levadas em conta na continuidade do estudo. A fase mais formal de análise tem lugar quando a coleta de dados está praticamente concluída. O primeiro passo é organizar todo o material coletado, separando-o em diferentes arquivos, segundo o tipo de instrumento ou a fonte de coleta ou arrumando-o em ordem cronológica. O passo seguinte é a leitura e releitura de todo o material para identificar os pontos relevantes e iniciar o processo de construção das categorias analíticas. Nessa tarefa, o pesquisador pode utilizar alguma forma de codificação, como letras ou outro código, pode usar canetas de diferentes cores para distinguir temas significativos ou pode recorrer aos recursos de computador e até usar um software que destaque palavras ou expressões significativas. Esse trabalho deverá resultar num conjunto inicial de categorias que serão reexaminadas e modificadas num momento subseqüente, em que aspectos comuns serão reunidos, pontos de destaque separados e realizadas novas combinações ou desmembramentos. A categorização por si só não esgota a análise. É preciso que o pesquisador vá além, ultrapasse a mera descrição, buscando realmente acrescentar algo ao que já se conhece sobre o assunto. Para isso terá que recorrer aos fundamentos teóricos do estudo e às pesquisas correlacionadas, estabelecer conexões e relações que lhe permitam apontar as descobertas, os achados do estudo. 72 Anexos De um ponto de vista bastante prático é preciso reservar um longo período de tempo para a análise dos dados, para que seja possível ler e reler inúmeras vezes o material, voltar ao referencial teórico, elaborar relatórios preliminares, refaze-los, submete-los à crítica de um colega ou dos participantes e reestruturá-los novamente até chegar a uma reprodução do caso em sua complexidade e em seu dinamismo próprio. A elaboração do relatório final é um grande desafio na condução do estudo de caso, pois exige certa habilidade de escrita por parte do pesquisador. Os relatos de caso apresentam geralmente um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, vinhetas narrativas, exemplos e ilustrações. A preocupação é com a transmissão direta, clara e bem articulada do caso, num estilo que se aproxime da experiência pessoal do leitor. Nos estudos de caso do Proformação, os dados foram originalmente organizados por Agência Formadora e cada caso (a unidade era a escola) foi relatado individualmente segundo quatro eixos analíticos: o contexto das escolas; a inserção da professora na comunidade; o uso do espaço e estratégias de gestão da sala de aula; e a articulação dos conhecimentos com as experiências culturais dos alunos. Dessa análise preliminar passou-se a uma fase mais elaborada em que os dados dos seis estudos de caso foram reunidos em torno das categorias e apresentados de forma agregada. Os aspectos destacados no relatório final foram: mudanças na prática pedagógica dos cursistas, mudanças em suas concepções de ensino, aprendizagem e avaliação, mudanças na auto estima, mudanças no desempenho dos cursistas e mudanças na escrita dos memoriais. Foram ainda destacados no relatório as mudanças nos locais e nas políticas locais e o impacto social do Programa. Vários cartazes decoram as paredes. Cartazes realizados pelas crianças, com temas sobre animais domésticos e selvagens. Um grande mural sobre a família tem figuras retiradas de revistas, mas são arrumados como se fossem fotos das famílias das crianças. Soube, depois que este mural foi realizado em conjunto com pais e mães, numa atividade coletiva realizada na escola. A sala da cursista tem agora um cantinho de leitura e dois varais com jornais e livros de historinhas. Há também um grande painel com uma árvore e o nome de todos os alunos. Em outro cantinho há fantoches e um quadro com a Declaração dos Direitos da Criança. (Diário de campo de Quixadá, CE, primeira série) Anexos Anexos Um extrato do relatório de um dos estudos de caso mostra mudanças na configuração do espaço de sala de aula: 73 Referências Bibliográficas ANDRÉ, M. E. D. A. Estudo de caso em pesquisa e avaliação educacional. Brasília: Liberlivro, 2005. BASSEY, M. Case study research in educational settings. Maidenhead, Ph: Open University Press, 2003. HAMEL, J. Case Study Methods. Newbury Park: Sage Publications, 1993 (Com a colaboração de Stéphane Dufour e Dominic Fortin, n. 32 da Série “ Qualitative Research Methods”). PERES, R. S.; SANTOS, M. A. Considerações gerais e orientações práticas acerca do emprego de estudos de caso na pesquisa científica em Psicologia. Interações, vol. X, nº 20, jul-dez 2005, p. 109-126. STAKE, R. E. Case Studies. In: Denzin, N. K.; Lincoln, Y. S. (ed.) Handbook of qualitative research. Newbury Park: SAGE Publications, 1994: 236-247. Anexos STAKE, R. E. The art of case study research. Newbury Park: SAGE Publications, 1995. 74 Anexos ANEXO C Texto 12 LA CULTURA EN LA EDUCACIÓN Y LA EDUCACIÓN EN LA CULTURA 5 5 Articulo publicado en la Revista Universidad de Medellin, Vol.42, p. 11-19 – ISSN0120-5692 – Enero/junio de 2007/122 p. Medellín, Colombia Por: Antonio Faundez Director del Instituto para el Desarrollo y la Educación de Adultos, Ginebra-Suiza RESUMEN El autor delimita en el artículo los conceptos de cultura y educación, las posibles relaciones entre ambos conceptos y las prácticas que los operan. Sin embargo, el concepto de civilización hace más complejo el debate y exige matizar las relaciones, ahora entre cultura/civilización/educación, pues si es verdad que las culturas forman el pensamiento, también lo es que el pensamiento forma las culturas y las civilizaciones. A partir de la dialéctica planteada, el autor propone un enfoque pedagógico innovador que busca superar las rupturas contemporáneas ocurridas entre humanismo y cientificismo en educación así como acercar operativamente los deber ser de la educación con los cómos que puedan hacerlos realidad. Ese enfoque recibe el nombre de Pedagogía del Texto y dos de sus principios esenciales son: el desarrollo de la autonomía y de la crítica en los educandos/ as durante el propio proceso de aprendizaje, para que luego puedan transferir esas capacidades a todas las otras esferas de la vida social. Vamos a intentar reflexionar sobre la relación entre los conceptos de cultura y educación cuya extensión y comprensión son propiedades tan amplias que dificultan establecer los límites de una y otra. Las palabras, y sin duda también los conceptos, en las disciplinas de las ciencias humanas varían a menudo y, evidentemente, los significados y sentidos siguen el pensamiento que los anima y utiliza. Levy-Strauss dice que las palabras son instrumentos que cada uno de nosotros puede usar para conseguir lo que desea. Trataremos de establecer una línea de reflexión a la vez diacrónica y sincrónica para, primero, comprender los dos conceptos y, segundo, para establecer sus relaciones que seguramente se mostrarán contradictorias. Anexos Anexos Palabras claves: Educación, Cultura, Civilización, Humanismo, Cientificismo, Pedagogía del Texto. 75 EL CONCEPTO DE CULTURA En las lenguas latinas la palabra cultura designa la acción de cultivar la tierra y, en sentido figurado, la acción de educar el espíritu, de venerar. Esta última definición esta ligada a cultus, sobre todo utilizado en un sentido moral y en el lenguaje religioso. El concepto de cultura en sentido de venerar no se usa más a partir del siglo XVI y es remplazado por el término culto. Rousseau ve con claridad la relación y distinción entre cultivar y educar cuando escribe “On façonne les plantes par la culture, et les hommes par l’Education”. Es a partir del siglo XVI cuando, según el diccionario Le Robert, el concepto de cultura retoma el sentido moral de “desarrollo de las facultades intelectuales para ejercicios apropiados”, sentido que es empleado hasta el siglo XVII. A finales del siglo XVIII la traducción del término alemán Kultur, en Kant, introduce el sentido de “civilización, tomada en sus caracteres intelectuales”, la cual va a entrar en competición con la palabra cultura. El concepto de civilización está muy marcado por su sentido originario de “acción de civilizar” que implica una jerarquía entre culturas. Anexos En el siglo XX, por influencia del alemán y del inglés, la palabra cultura toma una nueva significación propuesta por los etnólogos norteamericanos como Malinowsky y Mead. Ésta es definida de una manera general como “el conjunto de representaciones y de comportamientos adquiridos por el hombre en cuanto ser social” y, de una manera más específica, conjunto histórica y geográficamente definido de instituciones características de una sociedad dada, que designa “no solamente las tradiciones artísticas, científicas, religiosas y filosóficas de una sociedad, sino también sus técnicas propias, sus costumbres políticas y los miles de usos que caracterizan la vida cotidiana”. Poco a poco, el término cultura pasa a designar el proceso dinámico de socialización por el cual todos esos hechos culturales se trasmiten y se imponen en una sociedad particular por la imitación y la educación. En ese último sentido, es el modo de vida de una población, es decir, el conjunto de reglas y comportamientos por los cuales las instituciones toman un sentido para los agentes y se encarnan en las conductas más o menos codificadas. Vemos en estas diferentes definiciones la relación estrecha entre la cultura y la educación. Volveremos más tarde sobre la misma, después de estudiar los conceptos de civilización y de educación. 76 Anexos EL CONCEPTO DE CIVILIZACIÓN La palabra civilización deriva de la palabra latina civilis (1290) relativa al ciudadano, a sus derechos y a su existencia, entonces, miembro libre de una sociedad. En el siglo XVI tiene el sentido de hacer civil, o sea, más apto a la vida social. Siempre según el diccionario Le Robert, civilizar significa “hacer pasar a una colectividad humana a un estado del más alto desarrollo material, intelectual y social”. Esta definición está ligada al sentido moderno de civilización, sentido que se inscribe en la evolución del pensamiento antropológico del siglo XVIII, evidentemente ligado a un pensamiento etnocéntrico que acompaña y se afirma en el período de la colonización, ésta última caracterizada como una acción civilizadora en relación con los pueblos “no civilizados”. Braudel, en su libro Grammaire des civilizations traducido en castellano como Las civilizaciones actuales, estudio de historia económica y social, analiza bien los cambios semánticos de las definiciones de cultura y civilización a lo largo de la historia en algunas lenguas. Incluso si en algunas lenguas los dos conceptos son considerados sinónimos, nos parece interesante conservar los dos conceptos separados, aunque con relaciones evidentemente necesarias. Esta actitud nos permitiría comprender mejor la emergencia y el desarrollo de las civilizaciones que van a imponerse sobre algunas culturas o van a influenciar a las mismas, con su consentimiento o no, y a las sociedades históricas concretas. Las civilizaciones y las culturas no son un río tranquilo. En ellas coexisten varias contradicciones que van a permanecer y a transformarse en el proceso de desarrollo histórico de una cultura /civilización dada. Anexos La expresión moderna del término “civilización” viene de la pluma de Turgot, en 1752, que preparaba una obra sobre la historia universal, pero que no la publicó. La entrada oficial de la palabra impresa aparece con la publicación del Traité de la population de Mirabeau, padre del tribuno revolucionario. Sin embargo, Voltaire, que no usó la palabra civilización, fue el primero en definirla en su Essai sur les moeurs et sur l’Esprit des Nations (1756) cuya traducción al castellano es Ensayo sobre las costumbres y el Espíritu de las Naciones. Voltaire fue el primero en proponer un esquema de una historia general de la civilización. Podemos, así, afirmar que el desarrollo de la humanidad es el desarrollo y coexistencia de las culturas, lo que plantea un problema esencial para la educación. ¿Cómo considerar, en el proceso educativo, las culturas que coexisten en una sociedad histórica dada? Si consideramos que la educación debe tomar en consideración la socialización específica de las otras culturas, deberíamos aceptar que toda educación es una acción intercultural o multicultural. Parafrase- Anexos 77 ando a Goethe que sostiene que aprender una lengua extranjera nos ayuda a comprender nuestra propia lengua, diríamos que el estudio de otras culturas nos ayudaría a comprender nuestra propia cultura. Esta orientación pedagógica tal vez pueda contribuir a desarrollar en nosotros capacidades para criticar nuestra propia cultura y, por consecuencia, las otras culturas. Volveremos también sobre este punto. Aparte de la aceptación (consciente o inconsciente) o la resistencia a ciertas determinaciones de las culturas, existen igualmente determinaciones que pueden ser caracterizadas como negativas o positivas, según la mirada crítica del otro o de ellas mismas. La toma de conciencia de esas contradicciones puede llevar a una cultura/civilización a criticar las otras, pero, también, puede permitir una mirada crítica de ella misma, una auto-evaluación permanente que puede ayudar a su desarrollo consciente y a la aceptación para aprender de las determinaciones positivas de las otras culturas/civilizaciones. Pensamos que este sentido crítico consciente debería ser propuesto y desarrollado por la educación como una determinación esencial del proceso educativo. Volveremos más tarde sobre este punto, después de haber estudiado el concepto de educación. EL CONCEPTO DE EDUCACIÓN Anexos Educación viene del participo pasado del verbo latino educare (nutrir, instruir), pero está también el verbo educere (esta vez no se trata de nutrir sino de “conducir fuera de”, o mejor, “conducir fuera de sí mimo”, de ahí conducir, deducir, introducir, derivado de dux, ducis (jefe). El autor latino Cátulo utiliza el verbo educere por “hacer nacer, abrirse, emerger” y, posteriormente, Virgilio le da el sentido de “educar a un niño”. Pensamos que los dos orígenes del concepto educación no son incompatibles. En términos actuales podríamos decir que el hecho de nutrir sería la acción de proponer contenidos diversos para la socialización y conducir fuera sería la acción de que el educando construya formas específicas de apropiarse teórica y prácticamente de estos conceptos/acciones a través de innumerables mediaciones, todas de carácter social. 6 Hegel sostenía que en esa época el Espíritu absoluto se expresaba por el arte. 78 Al igual que el concepto de cultura, el concepto de educación ha adquirido históricamente múltiples significaciones en las naciones occidentales. Según Durkheim cada sociedad tiene un concepto de hombre y de ella misma, y son estos conceptos los que se convierten en los objetivos del proceso educativo. El concepto de los griegos sobre la sociedad y el hombre (que también conoce diferencias en las ciudades griegas) es diferente al de los romanos. Mientras que el ideal del hombre en Grecia (especialmente en Atenas) era formar por la Educación “espíritus delicados, sutiles, apasionados por la medida y la armonía, capaces de sentir y apreciar la belleza” 6 , Roma cultivaba el ideal del “hombre de acción, apasionado por la gloria militar”. Anexos En la Edad Media, la educación era ante todo cristiana 7. En las dos épocas los hombres eran la imagen de los dioses o de Dios. A partir del Renacimiento, la educación tiene un carácter más laico, más literario (el humanismo). Pero en esa misma época comienzan a emerger las ciencias naturales (hoy ciencias de la vida y de la tierra). Nace entonces lo que podríamos llamar el cientificismo, que se opone a una educación humanista ya que la educación empieza a poner el acento en la enseñanza aprendizaje de las ciencias modernas. El advenimiento de la Revolución Francesa traerá una nueva concepción de la sociedad y del hombre que tiene por consecuencia el nacimiento de nuevos conceptos de educación. 7 Según Hegel el Espíritu absoluto se expresa, en la Edad Media, a través de la religión y, en la Edad Moderna, a través la filosofía (ciencia) En la época contemporánea, filósofos, educadores, psicólogos han planteado diferentes conceptos de educación. Entre otros, Kant, Durkheim, Dewey, Piaget. Todos esos conceptos apuntan a un conjunto de actividades con el fin de socializar a los educandos, proponiéndoles los conocimientos desarrollados por sus culturas (y a menudo por otras cultura), sean ellos de carácter moral, estético, científico, político, económico, etc. Lo que a nuestro modo de ver es un problema esencial para la educación contemporánea es la ruptura entre una educación humanista y una educación cientificista. Las dos concepciones de la educación no nos parecen contrarias sino más bien complementarias. Ninguna de las dos debería tener la pretensión de ser absoluta. La multiplicidad de las ciencias, tanto de la vida y de la tierra como las ciencias sociales, debería tener como guía conductora la interdisciplinaridad para permitirnos comprender y actuar en el mundo. La unilateralidad conduce a una ceguera intelectual que niega una de las características esenciales del conocimiento racional de las ciencias, que es siempre incompleto, por esencia, y que tiene sus límites históricos. La conciencia de los límites del conocimiento humano, cualquiera sea su naturaleza, debería permitir comprender mejor tanto las posibilidades y los límites de un conocimiento particular como del conocimiento humano en general. Esta conciencia tal vez evitaría la formación de seres humanos robotizados, tal vez técnicos eficientes pero susceptibles de ser manipulados por poderes políticos que imponen políticas económicas contrarias a la propia humanidad. Recordemos el pensamiento de Hegel participando en el debate siempre recurrente sobre la instrucción y la educación: “La conducta consiste en guiar la aplicación de lo que enseñamos. De ahí viene la diferencia entre un preceptor que no es sino un profesor y el pedagogo que es un guía. El primero educa en vista de las exigencia de la escuela, el segundo en vista de la vida”. Anexos Anexos RUPTURA ENTRE EL HUMANISMO Y EL CIENTIFICISMO EN LA EDUCACIÓN 79 Nuestro enfoque “Pedagogía del Texto” propone una educación multi/interdisciplinar, como también una educación multi/intercultural, como una forma de plantear una educación integral e integradora, dimensión esencial para proponer una educación de calidad. CULTURA, CIVILIZACIONES Y EDUCACIÓN Es evidente entonces que la educación hace parte de la cultura (¡de todas las culturas!) y es un instrumento para la socialización de la misma. Además, la cultura necesita un proceso educativo que depende de las características propias de cada una de ellas. Es verdad que la cultura forma el pensamiento, pero a su vez el pensamiento forma las culturas. El pensamiento es un pensamiento que actúa y que, actuando, se crea. Anexos Las culturas y sus procesos educacionales (como determinación esencial y como instrumento de su reproducción) pueden estar o no insertas en una civilización, comprendida esta última en su sentido amplio, es decir, como la define Braudel (1993, p. 23-42): Las civilizaciones son espacios (tierras, relieves, climas, vegetaciones, especies animales, etc.), son un área cultural (un interior en donde se encuentra dominante la asociación de ciertos rasgos culturales), son fronteras fijas y permeables (para que los bienes culturales partan y entren), son sociedades (los dos conceptos se refieren a la misma realidad), son una red de ciudades (en oposición a la sociedad del campo), son economías (los hombres las han construido con la fuerza de sus brazos y de sus manos y el desarrollo de sus capacidades intelectuales a través del trabajo), son mentalidades colectivas (unas representaciones del mundo, y de la sociedad en donde la religión es un rasgo predominante), son continuidades (que se expresan en el tiempo histórico construyéndose en permanencia como estructuras, en una larga duración), etc. 80 EL ADJETIVO CULTURAL El adjetivo cultural fue inventado en Alemania alrededor de 1850. El mismo designa el conjunto de contenidos que recubren al mismo tiempo la civilización y la cultura. En esas condiciones se dirá de una civilización, o de una cultura, que ella es un conjunto de bienes culturales, su historia es una historia cultural; que los préstamos de una civilización a otra son transferencias culturales en relación con los bienes materiales y espirituales. Como puede verse, el uso de este adjetivo es cómodo ya que olvida eventuales complicaciones conceptuales pues la poca precisión del término no da cuenta de matices esenciales. Muchos autores lo utilizan exageradamente olvidando o escondiendo todos los problemas conceptuales que implica hablar de una cultura o civilización, con un enfoque metodológico Anexos que pone más el acento en una concepción estática que dinámica (Durkheim), o más sincrónica que diacrónica (Saussure). La crítica de las culturas podría permitir la prevención de catástrofes humanas o ambientales como lo estamos constatando ahora en la civilización occidental. Destrucción del planeta, destrucción del ser humano. Consecuencia tal vez del resultado de una concepción de la sociedad, de la naturaleza y del poder ilimitado del hombre sobre esta última. El capitalismo y el socialismo, conocidos hasta hoy han apostado a un progreso técnico sin fin, sin prever las consecuencias que hoy está viviendo la humanidad entera con secuelas irreversibles ya para los años más inmediatos. Tenía razón Moravia, un excelente escritor italiano, que fue invitado a un congreso sobre los derechos humanos en París y, después de conocer la destrucción de Hiroshima, expresó: “¿Para qué hablar de los derechos humanos si estamos prontos a destruir a todos los humanos?”. Anexos ¿Cuál es el papel de la educación en la construcción de la cultura/civilización? ¿La educación es sólo un componente esencial de la cultura y un instrumento de la reproducción de ella misma? ¿Cuál es el papel de la educación para contribuir a la construcción de la cultura/civilización? Las respuestas a estas preguntas estarán dadas por la concepción que la sociedad tiene de sí misma y del rol que ella atribuye a la educación. Si el papel de toda la sociedad es el de construir conscientemente la sociedad/cultura/civilización, la educación debe cumplir su papel de socialización de los individuos y de la colectividad desde una perspectiva crítica, con un enfoque sincrónico/ diacrónico, cultural/intercultural/multicultural. Pensamos que toda socialización consciente de los bienes culturales llevada a cabo por la educación debería estar acompañada de una crítica de los propios bienes culturales, desde sus bases teóricas y prácticas, desde sus mitos hasta las acciones y consecuencias de sus acciones. Siendo que la socialización consciente de los bienes culturales se realiza en un proceso histórico específico, la apropiación crítica de las mediaciones debería igualmente seguir una progresión determinada. En ese sentido la enseñanza-apropiación de los conocimientos y la crítica de esos conocimientos teórico-prácticos deberían proponer el estudio, también crítico, de otras culturas/civilizaciones, para obtener un conocimiento más profundo y crítico de la cultura propia, como lo hemos manifestado parafraseando a Goethe. Sería una de las pistas a seguir, existiendo sin duda otras. Tal vez otra sería estudiar las consecuencias de la acción de la cultura sobre la sociedad y el ambiente, para corregir o cambiar las premisas, los conceptos, los mitos, etc., que sustentan formas de acciones que atentan contra la destrucción de las culturas. Es verdad que esta educación crítica no puede escapar a las luchas encarnadas de los grupos sociales y las culturas/civilizaciones por sus ideas, sus poderes, sus estatus sociales, sus privilegios, pero Anexos 81 ¿para qué todo eso si la sociedad injusta y desigual está destruyéndose ella mima? EL “DEBER SER” Y EL “CÓMO LLEGAR A SER” Los organismos que deciden sobre las orientaciones de la educación, tanto los internacionales como los nacionales, incluyendo a muchas ONG, toman posiciones firmes para definir el deber ser del ser del que participa en la socialización educativa. Como lo hemos dicho, el proceso educativo tiene como referencia primera el concepto de sociedad y el concepto de ser humano, conceptos que se confunden, sobre todo en la civilización occidental. En el Occidente, el concepto de sociedad y, por ende, el concepto de ser humano parten de la concepción de la sociedad tecnológica industrial en permanente expansión, imponiendo esta concepción a todas la sociedades/civilizaciones no occidentales. Anexos Es verdad también que tales valores a-críticos no pueden ser impuestos especialmente a los intelectuales, o al menos a algunos de ellos, ni tampoco puede imponerse una aceptación ciega de esos valores y concepciones. Así, existen voces que se oponen a la concepción dominante sobre el progreso sin fin de la sociedad tecnológica industrial. Estas voces racionales, con argumentos serios, sostienen la necesidad de cuestionar lo que nos conduce a la catástrofe humana, pero chocan con intereses esencialmente económicos que hasta ahora no han podido ser desestabilizados. En ese sentido, pensamos que la universidad, lugar de reflexión y de humanidad, puede contribuir a la tarea de enseñar y criticar los bienes culturales de la civilización occidental, lo que no significa negar todo, pero sí superar elementos negativos que conducen al desastre. Existe una paradoja en las sociedades occidentales: de un lado ponen el acento en la educación del ser humano adaptado a la sociedad tecnológico-industrial, cuya esencia es eminentemente económica, y, de otro lado, en valores que deberían ser objetivos en la formación del ser humano. Los organismos decisorios, sobre todo los que trabajan en educación, proponen que el ser formado debe ser autónomo, democrático, honesto, pacífico, solidario, crítico, etc., esos mismos valores que, desde una perspectiva humanista, son reconocidos como esencialmente humanos. Sin embargo, los organismos que toman las decisiones no tienen una preocupación consecuente para buscar los “cómos” que permitirían alcanzar estas características. Nuestra posición humanista nos ha impulsado a buscar formas prácticas y teóricas que nos permitan transformar estos “deber ser” en prácticas concretas. Así, esta preocupación por “cómo hacer ser” ha sido una constante en nuestro trabajo educativo. Trabajando en y con universidades, ministerios de educación, organizaciones no 82 Anexos gubernamentales, comunidades, sindicatos, teniendo siempre como mira los sectores sociales menos favorecidos, en diferente países y continentes, hemos intentado proponer principios y prácticas pedagógicas que puedan orientar y actuar en la construcción de un ser humano con las características anunciadas más arriba. Estos principios y prácticas pedagógicos hemos intentado sistematizarlos, proponiendo el nombre de “Pedagogía del Texto”. Sin tiempo para hacer una exposición exhaustiva de nuestro enfoque, lo que nos interesa es enunciar dos de esos principios y prácticas que podrían (y de hecho han podido) formar un ser crítico y autónomo en algunas experiencias educativas con socios del Tercer Mundo (cf. Faundez y Mugrabi, 2004; Faundez, Mugrabi y Sánchez, 2006). El desarrollo de la crítica en el proceso de enseñaza-aprendizaje desarrolla también las herramientas para aplicarlas en todas las esferas de la vida social: económica, política, estética, ética, educativa, etc. En una palabra, a todos los dominios de la cultura/civilización en la cual está inserto el educando/a como ente individual y como ente social. Anexos Anexos Los principios de la autonomía y de la crítica se desarrollan unidos, pero en contradicción, formando parte de un todo que Vigotsky (1995) denomina “capacidades psíquicas superiores”. En nuestro abordaje, el dominio de diferentes géneros textuales crea las condiciones para que el educando/a pueda apropiarse de los contenidos diversos, vehiculados por la diversidad de textos, sean ellos de ciencias sociales, de ciencias de la vida y de la tierra, de matemática, literatura, etc. y los diversos metalenguajes de esas diferentes disciplinas. Esta manera de educar, que conduce a la apropiación teórica y práctica de los conocimientos, crea igualmente las condiciones para que el educando/a tome conciencia de su propio proceso de aprendizaje y de los procesos de aprendizaje de los otros educandos/as. Para aprender él o ella, el proceso mismo le exige hacerse cargo de su propio aprendizaje. Sin duda el papel del maestro/a es crucial, pero está desempeñando un papel diferente al tradicional, ya que responsabiliza al educando/a para que sea un ser crítico de su pensamiento y de su acción, y crítico de los pensamientos y acciones de otros participantes en el proceso educativo. Al mismo tiempo, el desarrollo de la crítica le permite al educando/a llegar a ser un ser autónomo en su aprendizaje y en su participación en la vida social. 83 Referências Bibliográficas BRAUDEL, F. Las civilizaciones actuales, estudio de historia económica y social. Madrid: Tecnos, 1993. BRUNER, J. Car la culture forme à l’Esprit : de la révolution cognitive à la psychologie culturelle. Paris: Georg Eshel, 1991. COROMINAS, J. Breve diccionario etimológico de la lengua castellana. Madrid: Gredos, 2006. DURKHEIM, E. Education et sociologie. Paris: PUF, 1995. FAUNDEZ, A. y MUGRABI, E. Ruptures et continuités en éducation: aspects théoriques et pratiques. Ouagadougou: Presses Universitaires, 2004. FAUNDEZ, A., MUGRABI, E. y SÁNCHEZ, A. Desarollo de la educación y educación para el desarrollo integral. Contribuciones desde la Pedagogía del Texto. Medellín: Universidad de Medellín, IDEA, CLEBA, 2006. JACQUARD, A. L’héritage de la liberté. De l’animalité à l’humanitude. Paris: Seuil, 1991. LEVI-STRAUSS, C. El pensamiento salvaje. Bogotá: Fondo de Cultura Económica, 1997. LEVI-STRAUSS, C. Tristes tropiques. Paris, Plon, 1955. MORFAUX, L.-M. Vocabulaire de la philosophie et des sciences humaines. Paris: Armand Colin, 1999. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Diccionario de la lengua española. Vigésima primera edición. Madrid, 1992. REY, A. (sous la direction de). LE ROBERT, Dictionnaire historique de la langue française. Paris: Dictionnaires Le Robert, 2000. Anexos VYGOTSKI, L. Obras escogidas. Vol. III. Madrid: Visor, 1995. 84 VYGOTSKI, L. Pensamiento y lenguaje. En: Obras escogidas. Vol II. Madrid: Visor 1993. Anexos Apêndices Apêndices Apêndices 85 Apêndices 86 Apêndices APÊNDICE A Termo de consentimento livre e esclarecido Eu,__________________________________________, aluno/a do curso de Especialização em Educação do Campo do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, solicito autorização desta Instituição ou de_____________________________________________________ ____________________________________________ para realizar coleta de dados necessários ao desenvolvimento do Trabalho de Monografia, cujo título é ____________________________________ As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos a privacidade dos sujeitos pesquisados. Desde já nos comprometemos em devolver a esta instituição os resultados finais desta pesquisa. Local e data. Atenciosamente, ____________________________________ Assinatura do Pesquisador Assinatura do representante da Instituição e/ou pesquisados (ou responsáveis) Apêndices Apêndices ____________________________________ 87 APÊNDICE B Avaliação da Temática Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo e Auto-Avaliação Nome: __________________________________________________ Data:___________________________________________________ Preencha o quadro abaixo, manifestando sua apreciação quanto ao Caderno de Metodologia de Pesquisa em Educação do Campo. Use as expressões ou abreviações: concordo plenamente (CP), concordo em parte (C), discordo (D) Conteúdos apresenLinguagem tados importantes e clara necessários Atividades acessíveis e compatíveis com os conteúdos Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3 Apêndices Comente em linhas gerais o que achou da linguagem, dos conteúdos e das atividades apresentadas em cada unidade que você tenha apreciado com C (concordo) ou CP (concordo plenamente). 88 ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Apêndices Caso tenha apreciado alguma das unidades colocando D para discordo, coloque abaixo as suas explicações. ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Auto-Avaliação Considerando o conjunto das atividades didáticas (leituras, estudos, trabalhos, etc.) da temática metodologia de pesquisa em educação do campo, informe em que e como essa experiência de formação contribuiu para a sua iniciação e/ou prática de pesquisa? ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Explique abaixo seus motivos e razões para ter atribuído esta nota na disciplina cursada. ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ ________________________________________________________ Apêndices Apêndices Qual a nota que você se atribui?_________________________ 89