Organizadores Érico Colen Luana Drumond Das tempestades: a poesia alemã do Sturm und Drang Edição bilíngue Belo Horizonte FALE/UFMG 2010 Sumário As palavras passam, a poesia fica . 5 Prometheus . 8 Johann Wolfgang Von Goethe Diretor da Faculdade de Letras Luiz Francisco Dias Vice-Diretora Sandra Bianchet Prometeu . 9 Tradução de Paulo Quintela Die Liebe . 12 Matthias Claudius O amor . 13 Comissão editorial Eliana Lourenço de Lima Reis Elisa Amorim Vieira Lucia Castello Branco Maria Cândida Trindade Costa de Seabra Maria Inês de Almeida Sônia Queiroz Capa e projeto gráfico Glória Campos Mangá – Ilustração e Design Gráfico Revisão e normalização Luana Drumond Formatação Luana Drumond Revisão de provas Érico Colen Luana Drumond Endereço para correspondência FALE/UFMG – Setor de Publicações Av. Antônio Carlos, 6627 – sala 2015 A 31270-901 – Belo Horizonte/MG Telefax: (31) 3409-6007 e-mail: [email protected] Tradução de Geir Campos Der Saemann säer den Samen . 14 Matthias Claudius O semeador . 15 Tradução de Olívia de Krahenbuhl Selige Sehnsucht . 16 Johann Wolfgang von Goethe Anelo . 17 Tradução de Manuel Bandeira Lenore . 18 Gottfried August Bürger Leonor . 19 Tradução de Bernardo Taveira Junior Erlkönigs Tochter . 36 Johann Gottfried Herder A filha do rei dos elfos . 37 Tradução de Pedro de Almeida Moura Seufzer eines Ungeliebten . 40 Gottfried August Bürger Suspiros de alguém que não é amado . 41 Tradução de Maria de Nazaré Fonseca Gegenliebe . 42 Gottfried August Bürger Amor correspondido . 43 Tradução de Maria de Nazaré Fonseca Wanderers Sturmlied . 44 Johann Wolfgang von Goethe As palavras passam, a poesia fica Luana Drumond Poesia é a língua materna do gênero humano. Hamann Cançao do viandante sob a tempestade . 45 Tradução de Paulo Quintela Die Schlacht . 52 Johann Friedrich von Schiller Sobre os autores . 55 Sobre os tradutores . 58 Referências . 61 A interpretação de um signo linguístico pode se dar por outro signo de sua mesma língua, por um signo não verbal, ou por um signo correspondente em outra língua, e, dentre essas formas de traduzir, é especialmente da última que há séculos a literatura se utiliza. Émile Benveniste, linguista francês, postulou que o valor de um signo está nas diferenças com relação aos outros signos de sua língua: ele vale por aquilo que representa e os outros não. Difícil seria encontrar na língua de tradução um signo que contivesse exatamente o valor daquele traduzido, ainda mais se consideramos que línguas diferentes possuem conceitos diferentes para cada signo. Como, então, verter um texto de uma língua para outra? Há inúmeros teóricos da tradução, inúmeras correntes, inúmeras formas de traduzir e, sobretudo, diversos tipos de textos a serem traduzidos. Há os que dizem que a tradução mantém seu vínculo mais forte com a linguagem e deve ser, portanto, fidedigna às palavras do original. Entretanto, em se falando de literatura, a tradução, mesmo que possa ser definida como a transposição de um texto de uma língua para outra, é muito mais complexa, pois mais do que palavras soltas, envolve leitura, interpretação. E se a poesia é o lugar do sobre-sentido do texto, ainda mais imbricada é a tradução poética, pois aquilo a que chamam poeticidade não se pode perder. Para Jorge Luís Borges, poeta-leitor-tradutor, traduzir textos literários significa traduzir culturas, tarefa da qual o trabalho “letra por letra”, demasiado preso ao nível linguístico, não daria conta. Não que a tradução, então, não possa ser feita, nem que se possa perder de vista o caráter formal do texto. Há que se buscar apenas outro nível de transposição, um que consiga contemplar forma e sentido – ou que se aproxime disso, se o equilíbrio for mesmo impossível. Ao tradutor de literatura, de certo modo e até certo ponto, permite-se interpretar o texto de partida e, a partir de sua leitura, construir um novo texto. Importa, para Walter Benjamin, que a tradução, pura forma, contenha o essencial do texto, que veicule aquilo que o original contém de mais profundo e intenso, desdobrando-o. Seja feita em qualquer vertente, a tradução representa, de certa forma, o reconhecimento da alteridade, da existência e da importância do outro, que merece ser traduzido e lido em línguas que não a sua. Poesie A literatura alemã compreende toda uma literatura feita em alemão, não só na Alemanha, e teve sua fundação, nesta língua, em uma tradução: a da Bíblia, por Martin Lutero1. Nos idos de 1700, após um humanismo e um barroco na arte, o racionalismo, Aufklaerung, assumiu a cena e ditou uma produção literária baseada na razão e na consciência, em resposta à qual apareceu o Sturm und Drang, o movimento pré-romântico alemão, da mocidade de Goethe e Schiller e da produção sentimental de tantos poetas. Sentimental, talvez seja esta a palavra. O Sturm und Drang pretendia contrapor o sentimento e a poesia à racionalidade, pretendia burlar tantas formalidades e construir uma literatura com originalidade, “genial”. Sturm: tempestade, drang: ímpeto. 1 O mais que se produziu à época do pré-romantismo alemão foi teatro dramático – é de uma peça de Friedrich Maximilian Klinger, inclusive, que proveio o nome do movimento. A influência era de Shakespeare, da poesia escocesa, do romance epistolar inglês, que possibilitou Os sofrimentos do jovem Werther. Na poesia, razão deste florilégio, a produção não foi tão grande e a ela se tem pouco acesso. O Sturm und Drang ficou fora do cânone literário alemão, primeiro porque os estudos em alemão sobre literatura alemã são, em geral, ideológicos, partidários, depois porque o movimento se preocupou pouco, por assim dizer, com os ideais de beleza (forma, estética, etc.) que são valorizados pela instituição canônica. Difícil achar traduzidas para o português poesias alemãs – e aqui não falamos apenas da poesia do Sturm und Drang. Em Portugal há um trabalho de tradução e publicação, que ainda não é grande, mas no Brasil bem pouco se faz ou se encontra nesse sentido; há algumas antologias, alguns livros traduzidos em sua completude, mas ainda é pouco. Matthias Claudius, Bürger, Herder, Goethe, Schiller, tantos outros. Dos que escreveram em outras linhas e épocas, é a poesia dos outros momentos que mais se encontra (lírica de Goethe, baladas de Schiller); dos que ficaram apenas no pré-romantismo, pouco se ouve falar. Propomos, então, esta leitura. É apenas um mergulho raso na poesia impetuosa dos moços, mas que vale pela iniciação. Antes da cristianização, os alemães não tinham literatura escrita. Posteriormente, surgiu uma literatura cristã em latim – língua bastante importante na fundação da cultura alemã, mas só com Lutero e a tradução da Bíblia passou-se a produzir em língua nacional. 6 7 Prometheus1 Prometeu Johann Wolfgang Von Goethe Bedecke deinen Himmel, Zeus, Mit Wolkendunst Und übe, dem Knaben gleich, Der Disteln köpft, An Eichen dich und Bergeshöhn; Mußt mir meine Erde Doch lassen stehn Und meine Hütte, die du nicht gebaut, Und meinen Herd, Um dessen Glut Du mich beneidest. Ich kenne nichts Ärmeres Unter der Sonn als euch, Götter! Ihr nähret kümmerlich Von Opfersteuern Und Gebetshauch Eure Majestät Und darbtet, wären Nicht Kinder und Bettler Hoffnungsvolle Toren. Da ich ein Kind war, Nicht wußte, wo aus noch ein, Kehrt ich mein verirrtes Auge Zur Sonne, als wenn drüber wär Ein Ohr, zu hören meine Klage, Ein Herz wie meins, Sich des Bedrängten zu erbarmen. 1 Tradução de Paulo Quintela Encobre o teu céu, ó Zeus, Com vapores de nuvens, E, qual menino que decepa A flor dos cardos, Exercita-te em robles e cristas de montes; Mas a minha Terra Hás de ma deixar, E a minha cabana, que não construíste, E o meu lar, Cujo braseiro Me invejas. Nada mais pobre conheço Sob o sol do que vós, ó Deuses! Mesquinhamente nutris De tributos de sacrifícios E hálitos de preces A vossa majestade; E morreríeis de fome, se não fossem Crianças e mendigos Loucos cheios de esperança. Quando era menino e não sabia Pra onde havia de virar-me, Voltava os olhos desgarrados Para o sol, como se lá houvesse Ouvido pra o meu queixume, Coração como o meu Que se compadecesse da minha angústia Fragmento. III ato. 8 9 10 Wer half mir Wider der Titanen Übermut? Wer rettete vom Tode mich, Von Sklaverei? Hast du nicht alles selbst vollendet, Heilig glühend Herz? Und glühtest jung und gut, Betrogen, Rettungsdank Dem Schlafenden da droben? Quem me ajudou Contra a insolência dos Titãs? Quem me livrou da morte, Da escravidão? Pois não foste tu que tudo acabaste, Meu coração em fogo sagrado? E jovem e bom – enganado – Ardias ao Deus que lá no céu dormia Tuas graças de salvação?! Ich dich ehren? Wofür? Hast du die Schmerzen gelindert Je des Beladenen? Hast du die Tränen gestillet Je des Geängsteten? Hat nicht mich zum Manne geschmiedet Die allmächtige Zeit Und das ewige Schicksal, Meine Herrn und deine? Eu venerar-te? E por quê? Suavizaste tu jamais as dores Do oprimido? Enxugaste jamais as lágrimas Do angustiado? Pois não me forjaram Homem O Tempo todo-poderoso E o Destino eterno, Meus senhores e teus? Wähntest du etwa, Ich sollte das Leben hassen, In Wüsten fliehen, Weil nicht alle Blütenträume reiften? Pensavas tu talvez Que eu havia de odiar a vida E fugir para os desertos, Lá porque nem todos Os sonhos em flor frutificaram? Hier sitz ich, forme Menschen Nach meinem Bilde, Ein Geschlecht, das mir gleich sei, Zu leiden, zu weinen, Zu genießen und zu freuen sich, Und dein nicht zu achten, Wie ich! Pois aqui estou! Formo Homens À minha imagem, Uma estirpe que a mim se assemelhe: Para sofrer, para chorar, Para gozar e se alegrar, E pra não te respeitar, Como eu! 11 Die Liebe O amor Matthias Claudius Die Liebe hemmet nichts; Sie Kennt nicht Tür noch Riegel, Und dringt durch alles sich; Sie ist ohne Anbeginn. Schlug ewig ihre Flügel Und Schlägt sie ewiglich. 12 Tradução de Geir Campos O Amor, nada o detém; Não tem porta nem trinco, Tudo ele vence e vaza. Sem princípio, bateu E eternamente bates Suas eternas asas. 13 Der Saemann säer den Samen Matthias Claudius 14 O semeador Tradução de Olívia de Krahenbuhl Der Saemann säet den Samen, Die Erd empfängt ihn, und über ein kleines Keimet die Blume herauf. Lança a semente o semeador. Recebe-a a terra; e dentro em pouco Germina, aponta a flor. Du liebtest sie. Was auch dies Leben Sonst für Gewwin hat, war klein dir geachtet, Und sie entschlummerte dir. Tu a amavas; por ela desprezaste Os outros dons que a vida oferecia e sozinho ficaste. Was weinest du neben dem Grabe Und hebst die Hände zur Wolke des Todes Un der Verwesung empor? Chorar próximo à tumba sossegada, Para a nuvem da morte erguer os braços – Que valem gestos ante o nada? Wie Gras auf dem Felde sind Menschen Dahin, wie Blätter! Nur wenige Tage Gehn wir verkleidet einher. Passa o homem qual erva emurchedia, Qual folha de arvoredo; é muito breve A mascarada desta vida. Der Adler besuchet die Erde, Doch säumt nicht, schüttelt vom Flügel den Staub und Kehret zur Sonne zurück. O pouso da águia pouco dura: Logo, a poeira das asas sacudindo, Remonta ao sol na altura... 15 Selige Sehnsucht Anelo Johann Wolfgang von Goethe Tradução de Manuel Bandeira Sagt es niemand, nur den Weisen, Weil die Meng gleich verhöhnet, Das Lebend’ge will ich preisen, Das nach Flammentod sich sehnet. Só aos sábios o reveles Pois o vulgo zomba logo: Quero louvar o vivente Que aspira à morte no fogo. In der Liebesnächte Kühlung, Die dich zeugte, wo du zeugtest, Überfällt dich fremde Fühlung, Wenn die stille Kerze leuchtet. Na noite – em que te geraram, Em que geraste – sentiste, Se calma a luz que alumiava, Um desconforto bem triste. Nicht mehr bleibst du umfangen In der Finsternis Beschattung, Und dich reisset neu Verlangen Auf zu höherer Begattung. Não sofres ficar nas trevas Onde a sombra se condensa. E te fascina o desejo De comunhão mais intensa. Keine Ferne macht dich schwierig, Kommst geflogen und gebannt, Und zuletzt, des Lichts begierig, Bist du, Schmetterling, verbrannt. Não te detêm as distâncias, Ó mariposa! E nas tardes, Ávida de luz e chama, Voa para a luz em que ardes. Und so lang du das nicht hast, Dieses: Stirb und werde! Bist du nur ein trüber Gast Auf der dunklen Erde. “Morre e transmuta-te”: enquanto Não cumpres esse destino, És sobre a terra sombria Qual sombrio peregrino. Como vem da cana o sumo Que os paladares adoça, Flua assim da minha pena, Flua o amor o quanto possa. 16 17 Lenore Leonor Gottfried August Bürger 18 Tradução de Bernardo Taveira Junior Lenore fuhr ums Morgenrot Empor aus schweren Träumen: “Bist untreu, Wilhelm, oder tot? Wie lange willst du säumen?” – Er war mit König Friedrichs Macht Gezogen in die Prager Schlacht Und hatte nicht geschrieben, Ob er gesund geblieben. Ruins sonhos mal surge a aurora A Leonor vêm despertar: “És-me infiel, Guilherme? És morto? Quando pensas tu voltar?” Nas tropas de Frederico Guilherme fôra também, Mas, após bater-se em Praga, Não sabe dêle ninguém. Der König und die Kaiserin, Des langen Haders müde, Erweichten ihren harten Sinn Und machten endlich Friede; Und jedes Heer, mit Sing und Sang, Mit Paukenschlag und Kling und Klang, Geschmückt mit grünen Reisern, Zog heim zu seinen Häusern. Já cansados de contendas E aplacando o ânimo ardente, Os altivos soberanos Tratam da paz, finalmente. De parte a parte as coortes Aos lares volvem cantando; De verdes palmas se adornam; Atabales vêm rufando. Und überall, allüberall, Auf Wegen und auf Stegen, Zog alt und jung dem Jubelschall Der Kommenden entgegen. “Gottlob!” rief Kind und Gattin laut, “Willkommen!” manche frohe Braut; Ach! aber für Lenoren War Gruss und Kuss verloren. Por estradas, por atalhos Vai o môço, vai o ancião, Com exclamações de júbilo Ao encontro delas vão. Filhos, mães e noivas dizem: “Graças! Viva! Adeus!...” Leonor, Só ela, ai! não recebe Saudações, festas de amor. 19 20 Sie frug den Zug wohl auf und ab Und frug nach allen Namen; Doch keine war, der Kundschaft gab Von allen, so da kamen. Als nun das Heer vorüber war, Zerraufte sie ihr Rabenhaar Und warf sich hin zur Erde Mit wütiger Gebärde Ela aos que chegam pergunta Por Guilherme, que não via; Mas nenhum dos que voltavam, Notícias dêle sabia. Depois que todos passaram Leonor ao chão se lança; Delirando enraivecida Espedaça a linda trança. Die Mutter lief wohl hin zu ihr: “Ach! dass sich Gott erbarme! Du trautes Kind! was ist mir dir?” Und schloss sie in die Arme. – “O Mutter, Mutter! hin ist hin! Nun fahre Welt und alles hin! Bei Gott ist kein Erbarmen. O weh, o weh mir Armen!” – Corre a mãe alvoroçada: “Valha-me Deus” - exclamou “Filha, que tens, o que é isso?” E, nos braços, a estreitou. “Mãe, ó mãe! Tudo perdido! Adeus, mundo, e tudo enfim! Deus de mim não tem piedade... Ai, desgraçada de mim!” “Hilf Gott! hilf! Sieh uns gnädig an! Kind, bet ein Vaterunser! Was Gott tut, das ist wohlgetan; Gott, Gott erbarmt sich unser!” – “O Mutter, Mutter! eitler Wahn! Gott hat an mir nicht wohl getan! Was half, was half mein Beten? Nun ists nicht mehr vonnöten!” – “Vem, Senhor, em nosso auxílio! Filha, um padre-nosso reza! O que Deus faz é bem feito, Nunca aos aflitos despreza!” “Mãe, ó mãe! Inútil crença! Deus esquece a quem o implora! Orações, rezas!... que valem, Do que aproveitam agora?” “Hilf Gott! hilf! Wer den Vater kennt, Der weiss, er hilft den Kindern. Das hochgelobte Sakrament Wird deinen Jammer lindern.” – “O Mutter, Mutter, was mich brennt, Das lindert mir kein Sakrament! Kein Sakrament mag Leben Den Toten wiedergeben!” – “Vem, Senhor, em nosso auxílio!... Tem fé, Deus sabe atender; Acolhe-te aos sacramentos, Tua dor hás de vencer”. “Mãe, sacramentos não podem Esta aflição abrandar; Não sei que haja sacramentos Para vida aos mortos dar”. 21 22 “Hör, Kind! Wie, wenn der falsche Mann Im fernen Ungerlande Sich seines Glaubens abgetan Zum neuen Ehebande? Lass fahren, Kind, sein Herz dahin! Er hat es nimmermehr Gewinn! Wann Seel und Leib sich trennen, Wird ihn sein Meineid brennen!” - “Escuta! Quem sabe se ele Não traiu a fé jurada, Se, perjuro, lá na Hungria Não tem outra desposada? Se tal portou-se, deixá-lo! O castigo há de puni-lo; No extremo arranco da vida O remorso há de pungi-lo!” “O Mutter! Mutter! hin ist hin! Verloren ist verloren! Der Tod, der Tod ist mein Gewinn! O wär ich nie geboren! Lisch aus, mein Licht! auf ewig aus! Stirb hin! stirb hin in Nacht und Graus! Bei Gott ist kein Erbarmen; O weh, o weh mir Armen!” - “Mãe, foi-se a minha esperança! Ai! tudo, tudo perdi! Só me resta agora a morte!... Oh! por que, por que nasci! Some-te, ó sol, para sempre Num profundo horror sem fim!... Deus não atende aos aflitos, Ai, desgraçada de mim!” “Hilf Gott! hilf! Geh nicht ins Gericht Mit deinem armen Kinde! Sie weiss nicht, was die Zunge spricht; Behalt ihr nicht die Sünde! Ach Kind, vergiß dein irdisch Leid Und denk an Gott und Seligkeit, So wird doch deiner Seelen Der Bräutigam nicht fehlen!” – “Graças, ó meu Deus! Não julgues Tua filha em tal estado! Do seu crime não te lembres, Tem o juízo transtornado!... Terrenas paixões esquece, Pensa em Deus, no gozo eterno; Só assim tua alma pode Escapar do horrendo inferno”. “O Mutter, was ist Seligkeit? O Mutter, was ist Hölle? Bei ihm, bei ihm ist Seligkeit, Und ohne Wilhelm Hölle! Lisch aus, mein Licht! auf ewig aus! Stirb hin! stirb hin in Nacht und Graus! Ohn ihn mag ich auf Erden, Mag dort nicht selig werden!” – “O que é, mãe, o gozo eterno? E o inferno, que vem a ser?... Ah! sòmente sem Guilherme É que inferno pode haver!... Some-te, ó sol, para sempre Num profundo horror sem fim; Eu sem ele, cá na terra, Com a dor só vivo... sim!” 23 24 So wütete Verzweifelung Ihr in Gehirn und Adern. Sie fuhr mit Gottes Vorsehung Vermessen fort zu hadern, Zerschlug den Busen und zerrang Die Hand bis Sonnenuntergang, Bis auf am Himmelsbogen Die goldnen Sterne zogen. E tal na mente e no sangue Raivosa desesperava; Contra o céu dizia injúrias Und aussen, horch! ging’s trapp, trapp trapp, Als wie von Rosses Hufen, Und klirrend stieg ein Reiter ab An des Geländers Stufen. Und horch! und horch! den Pfortenring Ganz lose, leise, klinglingling! Dann kamen durch die Pforte Vernehmlich diese Worte: Mas silêncio, ouvi... Lá fora Pisa um corcel... O tinir Se ouve da espora e da espada De um cavaleiro a subir... Silêncio! Batem na argola Bem de leve, devagar!... Depois, através das portas, Claro se ouve assim falar: “Holla! Holla! Tu auf, mein Kind! Schläfst, Liebchen, oder wachst du? Wie bist noch gegen mich gesinnt? Und weinest oder lachst du?” – “Ach, Wilhelm! du? – So spät bei Nacht?... Geweinet hab ich und gewacht; Ach! grosses Leid erlitten! Wo kommst du hergeritten?” – “Olá, meu bem, abre a porta!... Que fazes? Dormes ou velas? Ris ou choras? Lembras-te ainda De mim, ó bela das belas?” “Tu Guilherme?!... A tais desoras?... Velado tenho e gemido; O que não sofri! Mas dize, Donde até aqui hás partido?” – “Wir satteln nur um Mitternacht. Weit ritt ich her von Böhmen. Ich habe spät mich aufgemacht Und will dich mit mir nehmen!” – “Ach, Wilhelm! erst herein geschwind! Den Hagedorn durchsaust der Wind Herein, in meinen Armen, Herzliebster, zu erwarmen!” - “Montamos à meia noite, Da Boêmia acabo de vir. Saí tarde, mas comigo Sem demora vais partir”. “Vem cá primeiro! Na selva Zune o vento com furor; Quero-te agora em meus braços, Vem-te aquecer, meu amor!” Contra o Senhor blasfemava. Desde o nascer d’alva aurora Té sumir-se a luz do dia Lacerava o brando seio, Insana as mãos retorcia. 25 26 “Lass sausen durch den Hagedorn, Lass sausen, Kind, lass sausen! Der Rappe scharrt; es klirrt der Sporn. Ich darf allhier nicht hausen. Komm, schürze, spring und schwinge dich Auf meinen Rappen hinter mich! Muss heut noch hundert Meilen Mit dir ins Brautbett eilen.” – “Que importa o vento na selva, Deixá-lo soprar violento! Raspa o corcel, tine a espora... Perder não posso um momento. Colhe as vestes; do murzelo Salta à garupa, é um instante! Nosso leito de noivado Está cem milhas distante”. “Ach! wolltest hundert Meilen noch Mich heut ins Brautbett tragen? Und horch! Es brummt die Glocke noch, Die elf schon angeschlagen.” – “Sieh hin, sieh her! der Mond scheint hell; Wir und die Toten reiten schnell, Ich bringe dich, zur Wette, Noch heut ins Hochzeitsbette.” – “Pois ao tálamo a cem milhas Queres-me inda hoje levar? Escuta! horas dá o relógio, Onze acabam de soar”. “Esplende a lua! Sabemos Nós e os mortos bem correr... Aposto que ainda hoje mesmo Ao tálamo iremos ter!” “Sag an! wo ist dein Kämmerlein? Wo? wie das Hochzeitbettchen?”“Weit, weit von hier!... Still, kühl und klein! Sechs Bretter und zwei Brettchen!” “Hat’s Raum für mich?” – “Für dich und mich! Komm, schürze, spring und schwinge dich! Die Hochzeitsgäste hoffen! Die Kammer steht uns offen.” – “Mas, dize-me, onde é que moras? Como é o leito de noivado?” “Longe!... Quêdo, fresco, estreito; De oito tábuas é formado”. “Para mim?” “Para nós ambos! Vem, não percas um momento! Já lá estão os convidados; Franco está nosso aposento”. Schön Liebchen schürzte, sprang und schwang Sich auf das Ross behende; Wohl um den trauten Reiter schlang Sie ihre Lilienhände; Und hurre, hurre, hop, hopp, hopp! Ging’s fort in sausendem Galopp, Das Ross und Reiter schnoben Und Kies und Funken stoben. E a bela arregaça as vestes, Salta no corcel veloz, E com suas mãos de neve Cinge o cavaleiro após. Começa então a corrida! A rédea solta lá vão! Ginete e guerreiro ofegam! Saltam pedras, faísca o chão! 27 28 Zur rechten und zur linken Hand, Vorbei vor ihren Blicken, Wie flogen Anger, Heid und Land! Wie donnerten die Brücken! – “Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell! Hurra! Die Toten reiten schnell! Graut Liebchen auch vor Toten?” – “Ach nein! – doch lass die Toten!” – Lá vão! À esquerda e à direita Foge o prado, o campo, o monte! Do murzelo sob as patas Longe, atrás, retumba a ponte! “Tens mêdo?... A lua é formosa! Ligeiro correm os mortos... tens medo deles, querida?” “Não tenho! Mas deixa os mortos”. Was klang dort für Gesang und Klang? Was flatterten die Raben?... Horch, Glockenklang! Horch, Totensang! “Lasst uns den Leib begraben!” Und näher zog ein Leichenzug, Der Sarg und Totenbahre trug. Das Lied war zu vergleichen Dem Unkenruf in Teichen. “Que sons, porém, ouço agora? Que anda o corvo a farejar? Geme o sino! Entoam psalmos!... Um morto vão a enterrar!” E lá vinha o saímento Acompanhando o caixão; Qual silvo de serpe aquática Semelhava o cantochão. “Nach Mitternacht begrabt den Leib Mit Klang und Sang und Klage! Jetzt führ ich heim mein junges Weib. Mit, mit zum Brautgelage! Komm, Küster, hier! komm mit dem Chor Und gurgle mir das Brautlied vor! Komm, Pfaff, und sprich den Segen, Eh wir zu Bett uns legen!” – “Psalmeando à meia-noite Despojo levais da morte, Quando às bodas levo a noiva Que vai ser minha consorte!... Vinde, ó sacristão, ó coro, O epitalâmio entoai-nos! Antes de entrarmos no leito, Vinde, ó padre - abençoai-nos!” Still, Klang und Sang… Die Bahre schwand… Gehorsam seinem Rufen, Kam’s hurre! hurre! nachgerannt Hart hinter’s Rappen Hufen. Und immer weiter, hopp, hopp, hopp! Ging’s fort in sausendem Galopp, Das Ross und Reiter schnoben Und kies und Funken stoben Cessa o canto... A tumba some-se... E aquela turba em tropel Obediente corre e vôa Após o forte corcel. E a corrida aumenta sempre! A rédea solta lá vão! Ginete e guerreiro ofegam! Saltam pedras, faísca o chão! 29 30 Wie flogen rechts, wie flogen links Gebirge, Bäum und Hecken! Wie flogen links und rechts und links Die Dörfer, Städt’ und Flecken! – “Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell! Hurra! Die Toten reiten schnell! Graut Liebchen auch vor Toten?” “Ach! Lass sie ruhn, die Toten!” – Como à esquerda e destra somem-se Selvas, montes e valados! Como à esquerda e destra somem-se Cidades, vilas, povoados! “Tens medo? A lua é formosa! Ligeiros correm os mortos! Tens medo deles, querida?” “Ah!... Não te importem os mortos!” Sieh da! sie da! Am Hochgericht Tanzt um des Rades Spindel, Halb sichtbarlich, bei Mondenlicht, Ein luftiges Gesindel. – “Sasa! Gesindel, hier! komm hier! Gesindel komm und folge mir! Tanz uns den Hochzeitreigen, Wann wir zu Bette steigen!” – “Olha! Em torno de uma forca Não vês como ruidosa Turba aérea à luz da lua Gira e dança numerosa? Aqui, birbantes! Chegai-vos! Ó cambada, acompanhai-me! Vinde à dança do noivado, Junto ao leito meu dançai-me!” Und das Gesindel, husch husch husch! Kam hinten nachgeprasselt, Wie Wirbelwind am Haselbusch Durch dürre Blätter rasselt. Und weiter, weiter, hopp hopp hopp! Ging’s fort im sausenden Galopp, Das Ross und Reiter schnoben Und kies und Funken stoben E toda a cambada o segue Com um ruído infernal, Qual vento em seca folhagem Quando passa o vendaval! E a corrida aumenta sempre! A rédea solta lá vão! Ginete e guerreiro ofegam! Soltam pedras, faísca o chão! Wie flog, was rund der Mond beschien, Wie flog es in die Ferne! Wie flogen oben überhin Der Himmel und die Sterne! – “Graut Liebchen auch?... Der Mond scheint hell! “Hurra! die Toten reiten schnell! Graut Liebchen auch vor Toten?” – “O weh! lass ruhn die Toten!” – Quanto em roda alcança a lua Tudo foge, vai fugindo! Céu, estrelas pelo espaço, Tudo atrás se vai sumindo! “Tremes, amor? A lua é bela! Ligeiros correm os mortos! Tens mêdo dêles, querida?” “Que horror!... Ai, esquece os mortos!” 31 “Rapp! Rapp! Mich dünkt, der Hahn schon ruft… Bald wird der Sand verrinnen… Rapp! Rapp! ich wittre Morgenluft… Rapp! tummle dich von hinnen!... – Vollbracht, vollbracht ist unser Lauf! Das Hochzeitsbette tut sich auf; Wir sind, wir sind zur Stelle. – Rasch auf ein eisern Gittertor Ging’s mit verhängtem Zügel. Mit schwanker Gert ein Schlag davor Zersprengte Schloss und Riegel. Die Flügel flogen klirrend auf, Und über Gräber ging der Lauf. Es blinkten Leichensteine Ringsum im Mondenscheine. Ha sieh! Ha sieh! Im Augenblick, Huhu! ein grässlich Wunder! Des Reiters Koller, Stück für Stück, Fiel ab wie mürber Zunder. Zum Schädel ohne Zopf und Schopf, Zum nackten Schädel ward sein Kopf; Sein Körper zum Gerippe Mit Stundenglas und Hippe. 32 “Avante!... Já canta o galo... Não tarda a areia a correr! Avante! O ar sinistro da aurora... Corre! corre a bom correr! É finda a nossa carreira! Aqui o leito nupcial! Ligeiros correm os mortos! Chegamos nós afinal!” A um portão de férreas grades A rédea solta chegaram E ao toque de uma varinha Ferrolho e chave soltaram. Piando as aves fugiram Sobre campas mortuárias. Findava a corrida! Alvejam Frias lousas funerárias. Eis que logo ao cavaleiro... Quadro horrível de se ver! Peça por peça a couraça Começa a se desfazer. Sua cabeça escarnada Em liso crânio tornou-se; Feio esqueleto o seu corpo, Segura ampulheta e foice. 33 34 Hoch bäumte sich, wild schnob der Rapp’ Und sprühte Feuerfunken; Und hui! war’s unter ihr hinab Verschwunden und versunken. Geheul! Geheul aus hoher Luft, Gewinsel kam aus tiefer Gruft. Lenorens Herz mit Beben Rang zwischen Tod und Leben. Chispas lançando, o ginete Ofegante se empinou; A seus pés abriu-se a terra, E logo o abismo o tragou! Uivos perpassam nos ares. Gemidos partem do chão; De Leonor já semi-morta Treme, bate o coração. Nun tanzten wohl bei Mondenglanz Rundum herum im Kreise Die Geister einen Kettentanz Und heulten diese Weise: “Geduld! Geduld! Wenn’s Herz auch bricht! Mit Gott im Himmel hadre nicht! Des Leibes bist du ledig; Gott sei der Seele gnädig!” Ao luar ali andavam Mil fantasmas a dançar, Da dança nos longos giros Tal se ouviam ulular: “Paciência, se isto te aflige! Não sei se vai de encontro aos céus. À terra já não pertences, Tua alma receba Deus!” 35 Erlkönigs Tochter A filha do rei dos elfos Johann Gottfried Herder 36 Tradução de Pedro de Almeida Moura Herr Oluf reitet spät und weit, Zu bieten auf seine Hochzeitleut; A horas mortas, longe de casa Segue a cavalo o senhor Oluf. Da tanzen die Elfen auf grünem Land, Erlkönigs Tochter reicht ihm die Hand. Foi avisar os seus convidados: Que o casamento será amanhã. “Willkomen, Herr Oluf! Was eilst von hier? Tritt her in den Reihen und tanz mit mit.” Mas a caminho, numa campina, inesperado, Bailando encontra um bando de elfos. “Ich darf nicht tanzen, nicht tanzen ich mag, Frühmorgen ist mein Hochzeittag.” E logo a filha do rei dos elfos A mão lhe estende e assim lhe diz: “Hör an, Herr Oluf, tritt tanzen mit mir, Zwei güldne Sporne schenk ich dir. “Vós sois benvindo, senhor Oluf! Que tanta pressa Daqui vos leva? Entrai na roda, dançai comigo...” Ein hemd von Seide so weiss und fein, Meine Mutter bleicht’s mit Mondenschein.” “Dançar não posso, nem dançar quero: Meu casamento será amanhã, de madrugada.” “Ich darf nicht tanzen, nicht tanzen ich mag, Frühmorgen ist mein Hochzeittag.” “Não vem ao acaso, senhor Oluf, dançai comigo. Eu vos darei um par de esporas feitas de ouro, “Hör an, Herr Oluf, tritt tanzen mit mir, Einen Haufen Goldes schenk ich dir.” E uma camisa de seda branca, tão fina e pura, Que minha mãe soube alvejar na luz da lua...” “Einen Haufen Goldes nähm ich wohl; Doch tanzen ich nicht darf noch soll.” “Dançar não posso, nem dançar quero; Meu casamento será amanhã, de madrugada.” “Und willt, Herr Oluf, nicht tanzen mit mir Soll Seuch und Kankheit folgen dir.” “Que importa isso, senhor Oluf? Entrai na roda, Dançai comigo. Eu vos darei um mundo de ouro...” Sie tät einen Schlag ihm auf sein Herz, Noch nimmer fühl er solchen Schmerz. “Um mundo de ouro bem quero eu; Porém dançar, aqui, não posso nem devo mesmo...” 37 Sie hob ihn bleichend auf seine Pferd: “Reit heim nun zu dein’m Fräulein wert.” “Ai! Não quereis dançar comigo? Que vos persigam Doenças e ais, doenças e ais é o que tereis...” Und als er kam vor Hauses Tür, Seine Mutter zitternd stand dafür. Isto dizendo, a ninfa cruel no peito dele desfere um golpe Tão forte e doído como jamais ele sentira em sua vida. “Hör an, mein Sohn, sag an mir gleich, Wie ist deine Farbe blass und bleich?” E suspendendo-o desfigurado, sobre o corcel, Lhe diz: “Pois volta, então depressa, para junto dela!” “Und sollt sie nicht sein blass und bleich, Ich traf in Erlenkönigs Reich.” Chegando a casa vem-lhe ao encontro A mãe aflita, que ao vê-lo assim, pergunta ansiosa: “Hör an, mein Sohn, so lieb und traut, Was sol lich nun sagen deiner Braut?” “Que é isso, filho? Que estranha cor, Que palidez te invade o rosto?” “Sagt ihr, ich sei im Wald zur Stund, Zu proben da mein Pferd und Hund.” “Pálido estou, é certo, sim; porque do reino Dos elfos volto, ai! ai de mim!” Frühmorgen und als es Tag kaum war, Da kam die Braut mit der Hochzeitschar. “E agora, filho, querido filho, Que direi eu, do acontecido, à tua noiva?” Sie schenkten Met, sie schenkten Wien; “Wo ist Herr Oluf, der Bräutigam mein?” “Dirás que ainda estou na mata, Em exercícios de montaria, com a matilha” “Herr Oluf, er ritt in Wald zur Stund, Er probt allda sein Pferd und Hund.” E na manhã do dia seguinte, mal nasce o dia, Chega o cortejo nupcial, todo alegria. Die Braut hob auf den Scharlach rot, Da lag Herr Oluf, und er war tot. Bebem do vinho e erguem brindes, mas eis que a noiva Logo pergunta: “Meu noivo Oluf, que é feito dele?” “Ainda na mata, exercitando A montaria, com a matilha...” Ela porém, abre a cortina, o olhar absorto: É o noivo, Oluf, que ali jaz morto. 38 39 Seufzer eines Ungeliebten Gottfried August Bürger 40 Suspiros de alguém que não é amado Tradução de Maria de Nazaré Fonseca Hast du nicht Liebe zugemessen Dem Leben jeder Krestur? Warum bin ich allein vergessen, Auch meine Mutter, du! Natur? Não atribuíste tu amor À vida de cada criatura? Por que só eu fui esquecido, Não és tu, Natureza, minha mãe também? Wo lebte wohl in Forst und Hürde Und wo in Luft und Meer ein Tier, Das nimmermehr geliebet würde? Geliebt wird alles ausser mir! Florestas e cercas, ares e mares Abrigam um único ser Que jamais conhecerá o amor? Tudo, além de mim, é amado! Wenngleich im Hain, auf Flur und Matten Sich Baum und Staude, Moos und Kraut Durch Liebe und Gegenliebe gatten, Vermählt sich mir doch keine Braut. Embora no arvoredo, no campo e nos prados, Árvore e arbusto, musgo e erva, Se unam através do amor e do amor correspondido Nenhuma noiva se une a mim. Mir wächst vom süssesten der Triebe Nie Honigfrucht zur Lust heran, Denn ach! mir mangelt Gegenliebe, Die eine nur gewähren kann. O mais doce dos impulsos nunca trará Um fruto tão doce para apaziguar o meu desejo. Porque ai! me falta o amor correspondido Que uma só me possa conceder. 41 Gegenliebe Amor correspondido Gottfried August Bürger 42 Tradução de Maria de Nazaré Fonseca Wüsst’ ich, wüsst’ ich, dass du mich Lieb und wert ein bisschen hieltest Und von dem, was ich für dich, Nur ein Hundertteilchen fühltest; Se eu soubesse, se eu soubesse que tu Me amavas e valorizavas um pouco E sentias um centésimo Do que eu sinto por ti; Dass dein Dank hübsch meinem Gruss alben Wegs entgegenkäme Und dein Mund den Wechselkuss Gerne gäb’ und wieder nähme, Que os teus agradecimentos Vinham ao encontro das minhas saudações E a tua boca alegre dava E de novo recebia o beijo da transmutação, Dann, o Himmel, ausser sich Würde ganz mein Herz zerlodern! Leib und Leben könnt’ ich dich Nicht vergebens lassen fodern! Então, o céu, todo o meu coração Em chamas rebentaria! Eu não poderia deixar-te em vão Reclamar o meu corpo e a minha vida! Gegengunst erhöhet Gunst, Liebe nähret Gegenliebe Und entflammt zur Feuersbrunst, Was ein Aschenfünkchen bliebe. O favor correspondido eleva o favor, O amor alimenta o amor correspondido E inflama até à conflagração O que era apenas uma chispa nas cinzas. 43 Wanderers Sturmlied Johann Wolfgang von Goethe 44 Cançao do viandante sob a tempestade Tradução de Paulo Quintela Wen du nicht verlässest, Genius, Nicht der Regen, nicht der Sturm Haucht ihm Schauer übers Herz. Wen du nicht verlässest, Genius, Wird dem Regenwolke, Wird dem Schloßensturm Entgegen singen, Wie die Lerche Du dadroben. Quem não abandonas, Génio, Não há chuva nem tormenta Que lhe abale o coração. Quem não abandonas, Génio, Vai cantando ao encontro Das nuvens da chuva, Da tormenta de saraiva, Como a cotovia, Ó tu lá em cima! Den du nicht verlässest, Genius, Wirst ihn heben übern Schlammpfad Mit den Feuerflügeln. Wandeln wird er Wie mit Blumenfüßen Über Deukalions Flutschlamm, Python tötend, leicht, groß, Pythius Apollo. Quem não abandonas, Génio, Erguê-lo-ás sobre a lama do caminho Com as asas de fogo; E ele passará Como com pés floridos Sobre a lama do dilúvio de Deucalião, Matador do Píton, leve, grandioso, Apolo Pítio. Den du nicht verlässest, Genius, Wirst die wollnen Flügel unterspreiten, Wenn er auf dem Felsen schläft, Wirst mit Hüterfittichen ihn decken In des Haines Mitternacht. Quem não abandonas, Génio, Abres-lhe por baixo as asas de lã Se adormecer sobre a rocha, Cobrí-lo-ás com asas protectoras Na meia-noite do bosque. Wen du nicht verlässest, Genius, Wirst im Schneegestöber Wärmumhüllen. Nach der Wärme ziehn sich Musen, Nach der Wärme Charitinnen. Quem não abandonas, Génio, No meio da tormenta de neve em pó O agasalharás; Ao calor se acolhem as Musas, Ao calor as Cárites. 45 Umschwebt mich, ihr Musen, ihr Charitinnen! Das ist Wasser, das ist Erde Und der Sohn des Wassers und der Erde, Über den ich wandle Göttergleich. Envolvei-me em vosso vôo, ó Musas, Ó Cárites! Isto é água, isto é terra E o lodo filho da água e da terra Sobre que eu marcho Como um deus. Ihr seid rein, wie das Herz der Wasser, Ihr seid rein wie das Mark der Erde, Ihr umschwebt mich, und ich schwebe Über Wasser, über Erde, Göttergleich. Vós sois puras, como o coração das águas, Vós sois puras, como o tutano da terra, Envolveis-me em vosso vôo, e eu pairo Sobre a água, sobre a terra, Como um deus. Soll der zurückkehren, Der kleine, schwarze, feurige Bauer! Soll der zurückkehren, erwartend Nur deine Gaben, Vater Bromius, Und helleuchtend umwärmend Feuer, Der kehren mutig, Und ich, den ihr begleitet, Musen und Charitinnen all, Den alles erwartet, was ihr, Musen und Charitinnen, Umkränzende Seligkeit, Rings ums Leben verherrlicht habt, Soll mutlos kehren? Há-de então voltar atrás O pequeno, negro, fogoso camponês? Há-de então voltar atrás, ele que espera só as tuas dádivas, Pai Brómio, E o fogo claro que o aqueça? Ele, animoso, voltar? Vater Bromius! Du bist Genius, Jahrhunderts Genius. Bist, was innre Glut Pindarn war, Was der Welt Phöbus Apoll ist. 46 E eu, que vós acompanhais, Musas e Cárites todas, Eu, a quem tudo espera o que vós, Musas e Cárites, Como grinaldas de bênçãos Pusestes em volta da fronte da vida, Hei-de eu, sem ânimo, voltar? Pai Brómio! Tu és Génio, O Génio do século, És o que a chama interior Foi para o Píndaro, O que pra o mundo É Febo Apolo! 47 48 Weh! Weh! Innre Wärme, Seelenwärme, Mittelpunkt, Glüh entgegen Phöb Apollen, Kalt wird sonst Sein Fürstenblick Über dich vorübergleiten, Neidgetroffen Auf der Zeder Kraft verweilen, Die zu grünen Sein nicht harrt. Ai! Ai! Calor interior, Calor da alma, Centro do ser! Arde ao encontro De Febo Apolo! Senão friamente Seu olhar de príncipe Passará rápido por sobre ti, Ferido de inveja Irá pousar sobre o cedro robusto Que pra reverdecer Não espera por ele. Warum nennt mein Lied dich zuletzt, Dich, von dem es begann, Dich, in dem es endet, Dich, aus dem es quillt, Jupiter Pluvius! Dich, dich strömt mein Lied, Und Castalischer Quell Rinnt, ein Nebenbach, Rinnet Müßigen, Sterblich Glücklichen Abseits von dir, Der du mich fassend deckst, Jupiter Pluvius! Porque é que o meu hino te nomeia só no fim? A ti, de quem começou, A ti, em quem ele acaba, A ti, donde ele brota, Júpiter Plúvio! Tu, tu és que és a torrente do meu hino, E Fonte Castália Faz correr só um regato humilde Que corre pra os ociosos, Para os felizes mortais Longe de ti, Tu que me cobres abraçando-me, Júpiter Plúvio! Nicht am Ulmenbaum Hast du ihn besucht – Mit dem Taubenpaar In dem zärtlichen Arm, Mit der freundlichen Ros umkränzt, Tändlenden ihn, blumenglücklichen Anakreon, Sturmatmende Gottheit. Não, não foi junto ao olmeiro Que o visitaste, Com o par de pombas Nos braços ternos, Coroado da rosa amigável, O folgazão, feliz com suas flores Anacreonte, Ó Divindade que respiras tempestades! 49 50 Nicht im Pappelwald An des Sybaris Strand, An des Gebürgs Sonnbeglänzter Stirn nicht Faßtest du ihn, Den bienensingenden, Honiglallenden, Freundlichwinkenden Theokrit. Não, não foi no bosque dos choupos Junto às margens do Síbaris, Nem na fonte da montanha Banhada de sol, que tu O surpreendeste, O cantor das flores, O de falas de mel, O de acenos de amigos Teócrito. Wenn die Räder rasselten, Rad an Rad, rasch ums Ziel weg, Hoch flog Siegdurchglühter Jünglinge Peitschenknall, Und sich Staub wälzt’ Wie vom Gebürg herab Kieselwetter ins Tal, Glühte deine Seel Gefahren, Pindar, Mut. – Glühte. – Armes Herz – Dort auf dem Hügel, Himmlische Macht! Nur so viel Glut, Dort meine Hütte, Dorthin zu waten! Quando as rodas estrondeavam Roda contra roda para lá da meta, Voava ao céu O estalar dos chicotes dos jovens Repassados do ardor do triunfo, E o pó se revolvia Como do alto dos montes O granizo pra o vale, É que a tua alma ardia perigosa, Píndaro, Coragem. – Ardia? Pobre coração! Além da colina, Ó poder celeste! Só o ardor bastante - Lá minha cabana – Que me arraste até lá! 51 Die Schlacht2 freier schon athmet die Brust Johann Friedrich von Schiller Schwer und dumpfig, eine Wetterwolke, durch die grüne Ebne schwankt der Marsch Zum wilden eisernen Würfelspiel streckt sich unabsehlich das Gefilde. Blicke kriechen niederwärts, an die Rippen pocht das Männerherz, vorüber an hohlen Todtengesichtern niederjagt die Front der Major: Halt! und Regimenter fesselt das starre Kommando Lautlos steht die Front. Prächtig im glühenden Morgenroth was blitzt dort her vom Gebirge? Seht ihr des Feindes Fahnen wehn? Wir sehn des Feindes Fahnen wehn, Gott mit euch, Weib und Kinder! Lustig! hört ihr den Gesang? Trommelwirbel, Pfeifenklang schmettert durch die Glieder; Wie braust es fort im schönen, wilden Takt! Und braust durch Mark und Bein. Gott befohlen, Brüder! In einer andern Welt wieder! Schon fleucht es fort wie Wetterleucht, dumpf brüllt der Donner schon dort, die Wimper zuckt, hier kracht er laut, die Losung braust von Heer zu Heer – laß brausen in Gottes Namen fort, 2 Da produção de Friedric Schiller do período do Sturm und Drang, nada traduzido foi encontrado – há tradução acessível de suas obras do período classicista. Como um autor tão expressivo não poderia deixar de estar presente nesta seleção, inserimos, portanto, este poema em sua versão original apenas. 52 Der Tod ist los - schon wogt der Kampf, eisern im wolkichten Pulverdampf, eisern fallen die Würfel. Nah umarmen die Heere sich; Fertig! heults von Ploton zu Ploton; auf die Kniee geworfen feuern die vorden, viele stehen nicht mehr auf, Lücken reißt die streifende Kartätsche, auf Vormanns Rumpfe springt der Hintermann, Verwüstung rechts und links und um und um, Bataillone niederwälzt der Tod. Die Sonne löscht aus, heiß brennt die Schlacht, schwarz brütet auf dem Heer die Nacht – Gott befohlen, Brüder! In einer andern Welt wieder! Hoch spritzt an den Nacken das Blut, Lebende wechseln mit Toten, der Fuß strauchelt über den Leichnamen. “Und auch du, Franz?”- “Grüße mein Lottchen, Freund!” Wilder immer wüthet der Streit; “Grüßen will ich” – Gott, Kameraden, seht! Hinter uns wie die Kartätsche springt! – “Grüßen will ich dein Lottchen, Freund!” “Schlummre sanft! wo die Kugelsaat” “Regnet, stürtz ich Verlassner hinein”. Hieher, dorthin schwankt die Schlacht, finstrer brütet auf dem Heer die Nacht – Gott befohlen, Brüder! In einer andern Welt wieder! Horch! Was strampft im Galopp vorbei? Die Adjutanten fliegen, Dragoner rasseln in den Feind, und seine Donner ruhen. Victoria, Brüder! 53 Schrecken reißt die feigen Glieder, und seine Fahne sinkt. – Sobre os autores Entschieden ist die scharfe Schlacht, der Tag blickt siegend durch die Nacht! Horch! Trommelwirbel, Pfeifenklang stimmen schon Triumphgesang! Lebt wohl, ihr gebliebenen Brüder! In einer andern Welt wieder! Gottfried August Bürger (Molmerswende, 1747 – Göttingen, 1794): Tendo nascido em cidade pequena, mudou-se para Göttingen, onde se formou em Direito. Casado com Dorette, apaixonou-se pela irmã dela, Auguste, a quem se referiu em suas poesias como Molly. Em 1784 tornou-se docente da universidade onde estudou, que em 1787 lhe concedeu o título honorário de doutor. Suas obras mais famosas são As aventuras do barão de Münchhausen e o livro de baladas Lenore, do qual extraímos poemas para esta antologia. Johann Christoph Friedrich von Schiller (Marbach am Neckar, 1759 – Weimar, 1805): Poeta, filósofo e historiador, Schiller foi um dos grandes homens de letras da Alemanha do século XVIII. É tido como o mais importante dramaturgo alemão e é representante do Romantismo alemão e do Classicismo de Weimar. Sua amizade com Goethe rendeu uma longa troca de cartas, que se tornou famosa na literatura alemã. Um de seus poemas, “Ode à Alegria” (“An die Freude”), inspirou Ludwig van Beethoven a escrever, em 1823, o quarto movimento de sua nona sinfonia. O contato com Goethe em Weimar, em 1894, lhe valeu a colocação em cena de suas peças. Fez dos personagens portadores de ideias, especialmente do ideal da liberdade; em alguns dramas exprime a rebeldia política e social, em outros, a tragicidade da culpa, a ideia grega do destino, o espírito nacional, os preconceitos aristocráticos, o absolutismo dos reis. Obra poética: Antologia (1782), Os Artistas (1788), Os Deuses 54 da Grécia (1788), Ode à Alegria (1785), O Ideal e a Vida (1795), Xénias (com Goethe) (1797), A Luva (1797), O Canto do Sino (1799), A Canção da Campana(1800). Johann Gottfried von Herder (Mohrungen, 1744 – Weimar, 1803): Poeta, crítico, teólogo, tradutor e filósofo germânico, é figura destacada do movimento literário Sturm und Drang. Estudou filosofia, teologia e literatura (1762-1764) na Universidade de Königsberg, onde foi aluno de Johann Georg Hamann (1730-1788) e Immanuel Kant (1724-1804). Quando esteve na França, conheceu Diderot, Rousseau e d’Alembert. Em Estrasburgo (1770), aproximou-se do poeta Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), sobre quem exerceu influência decisiva. Sua inovação ideológica consistiu em afirmar uma concepção nacional para a arte, expressão do espírito popular, na qual se exaltavam o individualismo e os sentimentos como fontes de inspiração vital. Herder foi também um notável tradutor. Em sua antologia Vozes dos povos em canções estão traduzidas e anotadas, ao lado de lieder alemãs, canções populares inglesas, eslavas, escandinavas e espanholas. Nessa obra, o poeta revela-se capaz de interpretar corretamente as diferentes vozes nacionais de uma Europa até então apenas considerada em conjunto. Por fim, foi o criador do nacionalismo literário; para ele, a poesia era a verdadeira alma do povo, uma obra anônima e coletiva desenvolvida durante séculos. Deixou uma vasta produção literária e filosófica, destacando-se Über die neuere deutsche Literatur: Fragmente (1767), Abhandlung über den Ursprung der Sprache (1772) e Ideen zu einer Philosophie der Geschichte der Menschheit (1784-1791). relações da humanidade com a natureza, a história e a sociedade; seus dramas e suas novelas refletem um profundo conhecimento da individualidade humana. Principais obras: Götz von Berlichingen (1773), Prometheus (1774), Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), Egmont (1775), Ifigênia em Taúrides (1779), Torquato Tasso (1780), Reineke Raposo (1794), Xenien (em conjunto com Friedrich Schiller) (1796), Fausto (1806), Hermann e Dorothea (1798), Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1807), Faust II (1833). Matthias Claudius (Reinfeld-Lübeck, 1740 – Hamburgo, 1815): Poeta luterano de lugar assegurado na literatura alemã. Filho de um padre, estudou Teologia e Direito. De 1764 a 1765 foi secretário do Barão de Holstein. Em 1777 tornou-se escritor independente em Wandsbek, tendo sido amigo de Herder e Klopstock. Fez oposição ao racionalismo iluminista. Obra poética: Abendlied or Der Mond ist aufgegangen, Der Mensch, Christiane, Die Sternseherin Lise, Die Liebe, Der Tod, Ein Wiegenlied bei Mondschein zu singen, Täglich zu singen, Kriegslied, Der Frühling. Am ersten Maimorgen, Der Säemann säet den Samen, Der Tod und das Mädchen, Wir pflügen und wir streuen. Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 1749 – Weimar, 1832): Foi um escritor alemão, pensador e também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu. Liderou, juntamente com Friedrich Schiller, o movimento literário alemão Sturm und Drang. Sua poesia expressa uma nova concepção das 56 57 Sobre os tradutores Bernardo Taveira Junior (Rio Grande, 1836 – Pelotas, 1892): Professor, poeta, teatrólogo e jornalista. Cultor apaixonado da língua alemã, traduziu e divulgou no Rio Grande do Sul importantes obras de Goethe e Schiller, seus autores preferidos. Poliglota, conhecia francês, alemão, espanhol, sueco, dinamarquês, latim, grego, guarani e sânscrito. Traduziu do alemão alguns livros, entre os quais Guilherme Tell, de Schiller, em versos; do francês, traduziu a primeira parte de Memórias de Garibaldi, de Alexandre Dumas, Expiação e Epopéia do Leão, de Vitor Hugo, e a A reconciliação, de Tieck. É patrono da cadeira 5 da Academia Rio-Grandense de Letras. Geir Campos (São José do Calçado, 1924 – Niterói, 1999): Mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1940, começou a escrever contos e poemas e a traduzir. Em 1950, seu primeiro livro de poesias, Rosa dos Rumos, foi publicado. Depois vieram Da profissão do poeta, Canto claro & poemas anteriores, Operário do canto, Cantigas de acordar mulher, Metanáutica e Canto de Peixe, dentre outros. Sua bibliografia inclui também livros de contos, peças teatrais, obras de referência, literatura infanto-juvenil, ensaios e teses. Incluído pela crítica na famosa “Geração 45”, que renovou a poesia brasileira, ao final dos anos 50 já havia publicado nove livros de poesia, tendo recebido, em 1956, o Prêmio Olavo Bilac da Prefeitura do Distrito Federal por Canto Claro & Poemas anteriores. Exímio tradutor, verteu para o português obras de Rilke, Kafka, Brecht, Shakespeare, Herman Hesse, Walt Whitman e Sófocles. O ensaio “Carta aos livreiros do Brasil” obteve menção honrosa no concurso Prêmio Monteiro Lobato, promovido pela Academia Brasileira de Letras. Publicou significativa obra ensaística sobre tradução, que até hoje é fonte de referência para os interessados no assunto. São também de sua autoria o Pequeno Dicionário de arte poética, obra que contém centenas de verbetes e remissões, com farta exemplificação e resenha bibliográfica, e O livro de ouro da poesia alemã, antologia referencial de poesia traduzida do alemão para o português. Manuel Bandeira (Recife, 1886 – Rio de Janeiro, 1968): Poeta da geração de 22 da literatura moderna brasileira, além de crítico literário e professor de literatura, foi também tradutor. Verteu para o português, dentre outros, poemas de Goethe, Gabriela Mistral, Emily Dickinson e Omar Khayyam, Shakespeare, Edgar Allan Poe, além de biografias, romances e peças teatrais. Nessa área, contribuiu para a incorporação ao português brasileiro de grandes obras poéticas estrangeiras. Tradutor-poeta ou poeta-tradutor, na obra de Bandeira não se sabe bem ao certo onde começa um exercício e termina o outro. Traduções principais: Sor Juana Inés de la Cruz, Auto sacramental do divino Narciso (1958), William Shakespeare, Macbeth (1961), Johann C. Friedrich von Schiller, Maria Stuart (1955), Goethe e outros, Poemas traduzidos (1956), Karl Spitteler, Prometeu e Epimeteu (1962), Omar Khayyam, Rubaiyat (1965), entre outras. Paulo Quintela (Bragança, 1905 – Coimbra, 1987): Professor de Filologia Germânica da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi encarregado dos cursos de Literatura Inglesa e Literatura Alemã. Exerceu atividade como tradutor e divulgador de importantes obras literárias em língua alemã. Paulo Quintela gostava de designar a ação notável que desenvolveu ao longo da vida como mediadora entre culturas, particularmente entre as culturas 59 alemã e portuguesa, e essa ação lhe valeu o reconhecimento não só do Instituto Goethe de Munique, o qual lhe atribuiu em 1960 a Medalha de Goethe em prata e, em 1973, a Medalha de Goethe em ouro, mas também da Fundação F.V.S. de Hamburgo, que lhe concedeu em 1985 o Prêmio Europeu de Tradutores. Plenas de rigor e ao mesmo tempo de criatividade poética, as traduções de Quintela deram um impulso decisivo à divulgação em Portugal da literatura e da cultura alemã, contribuindo muito para dinamizar e europeizar o meio literário da época. Menção especial é devida às versões admiráveis que nos deixou de poemas de Goethe, Hölderlin e sobretudo de Rilke, as quais foram objeto de intensa recepção na lírica portuguesa da segunda metade do século XX. Traduções: Rainer Maria Rilke, Poemas (1942), A Balada do Amor e da Morte do Alferes Cristóvão Rilke (1943), Os cadernos de Maute Laurids Brigge (1955), Poemas II: dispersos inéditos de 1906 a 1926 (1967), As elegias de Duíno e Sonetos de Orfeu (1969); Gerhart Hauptmann, A Ascensão de Joaninha, Sonho Dramático em Dois Actos (1944); Friedrich Hölderlin, Poemas (1945); Johann Wolfgang Goethe, Poemas (1949); Friedrich Nietzsche, Poemas (1960); Bertolt Brecht, Poemas e Fragmentos (1962), Poemas e Canções (1975); Nelly Sachs, Poemas (1967); Georg Trakl, Poemas (1981). Pedro de Almeida Moura: sabe-se pouco deste tradutor. Foi professor da Universidade de São Paulo e publicou traduções de poesias alemãs e livros sobre a literatura germânica. Referências CAEIRO, Olívio. Oito séculos de poesia alemã. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983. CAMPOS, Geir. O livro de ouro da poesia alemã. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. CARPEAUX, Otto Maria. A literatura alemã. 2. ed. São Paulo: Cultrix,1994. GOETHE, Johann Wolfgang von. Poemas. Antologia, versão portuguesa, notas e comentários de Paulo Quintela. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1949. QUINTELA, Paulo. Obras completas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 19962001. v. 2. Sites 2 <http://tv1.rtp.pt/canais-radio/antena2/arquivo_cancoes/ANTENA 2 <http://tv 1 .rtp.pt/canais-radio/antena 2 /arquivo_cancoes/beethoven- 1 .html>, acessado em outubro de 2009. ANTENA CENTRO VIRTUAL CAMÕES <http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/pquintela.html>, acessado em setembro de 2009. DITRA - DICIONÁRIO DE TRADUTORES LITERÁRIOS NO BRASIL dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/RubensRodriguesTorresFilho.htm>, novembro de 2009. <http://www. acessado em EDITORA ALCANCE <http://www.editoraalcance.com.br/discursso.htm>, acessado em outubro de 2009. ESTÁCIO DE SÁ <http://www.estacio.br/rededeletras/numero9/schone/barao.asp>, acessado em dezembro de 2009. GARGANTA DA SERPENTE <http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/goethe. php?poema=1>, acessado em setembro de 2009. GOOGLE BOOKS <http://books.google.com.br/books?id=9MIZEhXWJngC&pg=PA117&l pg=PA117&dq#>, acessado em setembro de 2009. SÓ BIOGRAFIAS <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JohaGoHe.html>, acessado em outubro de 2009. INDEX: Sobre as demais tradutoras, Maria de Nazaré Fonseca e Olívia Krahenbuhl, nada foi encontrado. JOAQUIM DE PAULA <http://www.meionorte.com/josefortes,vida-obra-e-morte-degoethe,104064.html>, acessado em novembro de 2009. PROJETO RELEITURAS <http://www.releituras.com/geircampos_menu.asp>, acessado em setembro de 2009. RICARDO ORLANDINI <http://www.ricardoorlandini.net/Content/DetalheConteudo2. asp?cntId=6245>, acessado em outubro de 2009. 60 Edições Viva Voz de interesse para a área de tradução A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin: quatro traduções para o português Walter Benjamin Traduções de Fernando Camacho, Karlheinz Barck e outros, Susana Kampff Lages e João Barrento Poética do traduzir, não tradutologia Henry Meschonnic Traduções Márcio Werberde Faria, Levi F. Araújo e Eduardo Domingues Tradução, literatura e literalidade Octavio Paz Trad. Doralice Alves de Queiroz Glossário de termos de edição e tradução Sônia Queiroz (Org). Da transcriação: poética e semiótica da operação tradutora Haroldo de Campos Os Cadernos Viva Voz estão disponíveis também em versão eletrônica no site: www.letras.ufmg.br/labed Esta publicação é resul tado de trabalho elaborado por alunos da disciplina Estudos Temáticos de Edição, no segundo semestre de 2009.