Indicadores da Desertificação no Semi-Árido Luciano J. de O. Accioly Embrapa/CNPS/UEP Recife. [email protected] Introdução A desertificação como fenômeno de grandes proporções África anos 60 e 70 Definição ONU (1994) - Processo de degradação das regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas resultante de diferentes fatores, entre eles, as variações climáticas e as atividades humanas Tendência dos Estudos Atuais Estudos conjuntos envolvendo: Desertificação Mudanças Climáticas Regionais e Globais Perda de Biodiversidade Segurança alimentar Atividades cujo manejo inadequado conduzem à desertificação Extrativismo Vegetal Mineral Indústria Olarias Panificação Atividades cujo manejo inadequado conduzem à desertificação (Cont.) Pastoreio (superpastoreio) Pastagens nativas 90% dos pastos usam a caatinga Últimos 30 anos população humana aumentou 150%, população do rebanho 50% Capacidade suporte da caatinga 8 a 13 ha/bovino e 1 a 1,5 ha/caprino Pastagens Agricultura Algodão cultivadas Perdas de solo por erosão hídrica de acordo com a cobertura do solo Cobertura Classe de Solo Descoberto PVA Luvissolo Luvissolo Litólico Caatinga Nativa Luvissolo Mandioca PVA Algodão PVA Litólico Milho PVA Litólico Capim Colonião PVA Palma Litólico Mamona Litólico Milho+Feijão Litólico Local Glória de Goitá (PE) Sumé (PB) Sumé (PB) Caruaru Sumé (PB) Glória de Goitá (PE) Glória de Goitá (PE) Caruaru (PE) Glória de Goitá (PE) Caruaru (PE) Glória de Goitá (PE) Caruaru (PE) Caruaru (PE) Caruaru (PE) Perdas de Solo (t/ha/ano) 59,9 61,7 47,7 29,1 0,1 11,0 8,3 10,9 3,0 5,9 0,4 1,9 4,0 4,0 Autor (ano) Margolis & Campos Filho (1981) Albuquerque et al. (2001) Albuquerque et al. (2001) Margolis et al. (1985) Albuquerque et al. (2001) Margolis & Campos Filho (1981) Margolis & Campos Filho (1981) Margolis et al. (1985) Margolis & Campos Filho (1981) Margolis et al. (1985) Margolis & Campos Filho (1981) Margolis et al. (1985) Margolis et al. (1985) Margolis et al. (1985) Indicadores dos processos de desertificação Definição: Qualquer expressão do meio ambiente que proporcione informações quantitativas sobre os recursos ecológicos (Schiller et al., 2001) Indicadores dos processos de desertificação de acordo com a natureza da variável (Reining, 1978) Natureza da Variável Variável Física Solo Água Biológica ou Ligadas agricultura Social Superfície terreno Vegetação Indicadores Profundidade efetiva; Matéria orgânica; Presença de crostas; ocorrência de tempestades de areia; salinidade e alcalinidade Profundidade e qualidade da água subterrânea; Extensão e persistência das águas superficiais; Condições de drenagem (descarga e tubidez) Reflectância do (albedo) Cobertura; Biomassa aérea; Produtividade; Distribuição e freqência de espécies relevantes a Animais Espécies relevantes; População de animais domésticos; Composição do rebanho; Produção Uso da Terra Irrigação; Agricultura dependente de chuvas; Pastoreio; e da água Mineração; Exploração de lenha e madeira; Uso da água; Turismo Modelo Ocupação de recente; Ocupação em expansão; ocupação Sedentarização; Ocupação diversificada; Área em processo de abandono Parâmetros Índices de estrutura e demografia da população; Índices biológicos de saúde pública; Condições nutricionais da população humanos Parâmetros Conflitos; de Migração; Modelo de distribuição das terras; processos Agricultura de mercado versus agricultura de subsistência sociais Indicadores sugeridos pela ONU 1) População vivendo abaixo da linha de pobreza nas áreas secas Nacional, % da população, Indireto (interpretações equivocadas) Pobreza limita investimentos e aumenta degradação 2) Índice Nacional de Precipitação Mensal Desvios média mensal e média histórica Disponibilidade de água, manejo recursos hídricos, planejamento agrícola, análise riscos Longo prazo: mudanças globais - estratégias Indicadores sugeridos pela ONU (cont.) 4) Terras afetadas pela desertificação Severidade e evolução temporal Comparação entre nações 3) Índice de Vegetação derivado de imagens de satélite Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (IVDN ou NDVI) IVDN = (INV - VER) / (INV + VER) AVHRR(NOAA) - 50 km resolução Relacionamento biomassa Estudos de Indicadores no Semi-árido Brasileiro Indicadores usados por diferentes autores na avaliação da desertificação no semi-árido brasileiro Ferreira et al. 1994 EMBRAPA (1994) Densidade demográfica Sistema fundiário Mineração Qualidade da água Salinização Tempo de ocupação Mecanização Estagnação econômica Pecuarização Erosão Perda de Fertilidade Área de Preservação Defensivos agrícolas Área agrícola Bovinocultura Caprinocultura Ovinocultura Evolução demográfica Suscetibilidade à desertificação Precipitação Classe de solo Relevo Sensibilidade à erosão Tempo de ocupação Lemos (1995) Lemos 1995 MMA (1998) Evolução da Cobertura Vegetal Índice de Aridez Evolução da Produtividade Feijão Antropismo Evolução da Produtividade Milho Evolução Capacidade Suporte Pastagens Cobertura Vegetal em 1985 Estado de degradação de municípios do Seridó (RN) segundo diferentes autores Estado de Degradação NE = Não evidente B = Baixo M = Moderado A = Acentuado S = Severo Município do Seridó (RN) Acari Caicó Carnauba dos Dantas Cerro Corá Cruzeta Currais Novos Equador Florânia Ipueira Jardim de Piranhas Jardim do Seridó Jucurutu Lagoa Nova Ouro Branco Parelhas Santana do Seridó São Fernando São João do Sabuji São José do Seridó São Vicente Serra Negra do Norte Timbaúba dos Batistas EMBRAPA (1994) Lemos (1994) S, A, B S A, B B S A, B A, B S S S S, B S, A B S S, A, B A S S S S A S B B A B NE M B B Não Relacionado B M M NE B NE M M M NE M B B Área (km2) e população afetadas pelos processos de desertificação Degradação Muito Grave Grave Moderada Total Parâmetro Área afetada População afetada Ferreira et al. (1994) EMBRAPA (1994) 52.425 247.831 365.285 665.543 118.667 31.616 21.841 172.124 Ferreira et al. (1994) 665.543 15.750.000 MMA (1998) 98.595 81.869 393.897 574.361 Lemos (1995) 159.577 4.000.000 A Desertificação no Semi-Árido l Ocorrência Severo Acentuado Moderado Pouco significante Embrapa, 1994 MMA (2002)1 1 http://www.desert.org.br/sobre_desert/nobrasil/diagnostico.html Primeiras conclusões Fase atual - Conhecimento do Problema - Ênfase em algumas áreas do conhecimento - Uso intensivo de dados secundários - Resultados díspares Principais Caracteristicas dos Núcleos de Desertificação Núcleo Área População (km2) 2.861 91.673 T, RL, S Irauçuba (CE) 4.045 192.324 T, RL, S Gilbués (PI) Cabrobó (PE) 5.739 20.459 L, RQ, P 7.133 71.678 T, RL, S Total 19.778 376.134 Seridó (RN) Solos Vegetação Prec. Causas (mm) Caat. Hiper 500 - Desmatamento - Sobrepastoreio - Agricultura - Mineração Caat. Hiper 700 - Desmatamento - Sobrepastoreio - Agricultura Campo1100 - Mineração cerrado Caat. Hiper 480 - Desmatamento - Sobrepastoreio - Agricultura - Salinização T = LUVISSOLOS L = LATOSSOLOS RL = NEOSSOLOS LITÓLICOS P = ARGISSOLOS S = PLANOSSOLOS Prec. = Precipitação Média anual RQ = NEOSSOLOS QUARTZARÊMICOS Estudos dos Indicadores de Desertificação para a região do Seridó (RN e PB) Fitomassa aérea Uso e Ocupação das Terras Mudanças no Albedo Potencial de Perdas de Solo por Erosão FERRAMENTAS do Geoprocessamento Sensoriamento Remoto ÁREA DE ESTUDO 1 - Mapeamento da Fitomassa pelo Índice de área de Planta (IAP) e NDVI (Costa et al., 2002 Scientia Agricola) Objetivo: Verificação de um método empírico para o mapeamento da fitomassa por meio de imagens do Landsat TM Justificativas Políticas de uso do recurso madeireiro Manejo Florestal Estudos de ciclagem de nutrientes Absorção de CO2, entre outros Metodologia Modelagem da Biomassa ETAPA 1 Inventário de Biomassa Modelos de Biomassa por Espécie Estimativa de Biomassa por Área f (Biometria) ETAPA 2 Medições de IAP por Área Equações de Biomassa em f(IAP) p/Área ETAPA 3 Índices de Vegetação LANDSAT Equações de IAP f (NDVI) p/Área Mapeamento da Biomassa f (NDVI) Resultados 55000 PTtotal = -980 + 11.851*IAP R2 = 76,48 A15 45000 A11 25000 A8 A13 A9 A1 A14 A7 15000 A5 5000 A16 A3 A4 A10 A2 A12 A6 -5000 0 0.6 1.2 IAP 1.8 2.4 3 3.6 4 IAP 3.5 A15 3 A8 A13 2.5 A7 IAP PStotal (kg/ha) 35000 2 A1 1.5 A10 A9 A11 A14 A2 1 IAP = 0,64*exp(2,69*NDVI) R2 = 78,02 A4 0.5 A16 A6 A5 A3 A12 0 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 NDVI NDVI 0.3 0.4 0.5 0.6 Cerca de 60% da área piloto é ocupada por vegetação de Caatinga com a biomassa assim distribuida: a 5 Mg.ha-1 ---> 10,5% da área (7.500 ha) 5 a 10 Mg.ha-1 ---> 25,5% da área (19.125 ha) 10 a 20 Mg.ha-1 ---> 17,0% da área (12.750 ha) > 20 Mg.ha-1 ---> 17,0% da área (5.250 ha) 0,1 Tabela - Estimativas da biomassa da caatinga por classe de solo (em % da área piloto) Classe de Solo Biomassa (Mg/ha) TC S RR RL 0.1 a 5.0 5.0 a 10.0 10.0 a 15.0 15.0 a 20.0 Maior que 20.0 21,5 43,5 4,0 0,2 0,0 11,0 38,0 5,5 0,3 0,0 7,5 43,0 3,0 0,1 0,0 2,5 14,5 25,0 30,5 2,0 TC = LUVISSOLO CRÔMICO RL = NEOSSOLO LITÓLICO S = PLANOSSOLO RR = NEOSSOLO REGOLÍTICO Obs. Biomassa do estrato arbóreo/arbustivo para plantas com diâmetro na base maior ou igual a 1cm Conclusões As variações na biomassa das plantas medidas por métodos destrutivos puderam ser explicadas em 76,5% dos casos pela medição do Índice de Área de Planta (IAP) medidas com o LAI 2000 Por meio do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI) foi possível explicar 78% da variação do IAP. Possíveis aplicações Emprego do LAI 2000 para as avaliações de biomassa da Caatinga Avaliação quantitativa dos estoques de lenha a partir de imagens do Landsat TM em áreas sob processo de desertificação Monitoramento da biomassa de caatinga por meio de imagens do Landsat TM Estabelecer relação entre estoque de lenha e demanda por olarias, panificadoras e consumo doméstico. Estimativas do uso/ocupação por Município do Seridó-RN S.J.Serido C. Dantas Uso/Ocupação Caatinga Densa Caatinga Semi Densa Caatinga Aberta Pastagem Vazante e Vegetação Ribeirinha Açudes Área Urbana Solo Exposto Não Classificados ha 1761 % 9.1 ha % 9585 39.1 J. Serido O. Branco Parelhas S. Luzia S. Seridó S.J.Sabuji ha ha 4982 % ha % % ha % ha % ha % 14.2 2258 10.2 11885 22.2 6312 7597 39.2 5518 22.5 12534 35.7 7552 34.2 10974 20.5 11136 25.3 5894 32.9 4186 18.8 2535 13.1 1115 4.6 6002 17.1 4793 21.7 4194 7.8 4019 9.1 4015 20.7 1552 6.3 3877 11.0 2813 12.8 5723 10.7 7445 16.9 4077 22.7 3576 16.1 1666 8.6 1053 4.3 3824 10.9 1964 8.9 4043 7.5 2868 6.5 2192 12.2 4007 18.0 683 3.5 2418 9.9 1493 4.3 564 2.6 6680 12.5 3080 7.0 371 2.1 1072 4.8 197 1.0 141 0.6 595 1.7 500 2.3 811 1.5 1670 3.8 240 1.3 994 4.5 450 2.3 525 2.1 889 2.5 1015 4.6 1725 3.2 4530 10.3 1106 6.2 1922 8.6 476 2.5 2581 10.5 906 2.6 596 2.7 7517 14.0 2979 6.8 1.4 680 3.1 S.J.Serido = São José do Seridó C. Dantas = Carnaúba dos Dantas J. Serido = Jardim do Seridó O. Branco = Ouro Branco 14.3 1911 10.7 3967 17.8 1884 10.5 1872 257 S. Luzia = Santa Luzia S. Seridó = Santana do Seridó S.J.Sabuji = São José do Sabuji 8.4 Tabela - Estimativas do uso/ocupação por classe de solo (em % da área piloto) Uso/Ocupação Caatinga Lavouras Pastagens Outras Classes Classe de Solo TC ____PlanossoloRegossolo S RR RL TC Litólico 69 12 9 10 TC = LUVISSOLO CRÔMICO RL = NEOSSOLO LITÓLICO 55 21 17 7 53 20 17 10 S = PLANOSSOLO RR = NEOSSOLO REGOLÍTICO Outras Classes: açudes, área urbana, solo exposto e áreas não classificadas 74 2 5 19 Mudanças no Albedo Imagens: LANDSAT TM (1994 e 1999) Tabela: Alterações no Albedo por classe de uso (% da área piloto) Classe de Uso Até 10% 10 a Zona Urbana 2.81 Vegetação Ribeirinha 8.29 Solo Exposto 1.42 Caatinga Densa 6.19 Caatinga Aberta 1.89 Açudes 6.51 Caatinga Semi Densa 4.29 Pastagens 4.98 20% > 20% 1.45 3.58 4.74 5.40 0.59 0.55 2.67 3.20 0.64 0.67 5.37 72.03 1.45 0.74 1.50 0.55 2 - Análise Multicritério para Avaliação dos Riscos de Desertificação Objetivo: Mapear os riscos de desertificação de uma área piloto do Núcleo de desertificação do Seridó Justificativas Planejamento ambiental através do delinemanto de áreas para: Preservação Recuperação Manejo sustentável Metodologia Uso da Equação Universal de Perdas de Solos (EUPS) Pu = R.K.L.S.C.P = perda de solo por unidade de área, t.ha-1; R = erosividade da chuva, MJ.ha-1 mm.h-1; K = erodibilidade do solo, (t.ha-1)/(MJ.ha-1.mm.h-1) L = comprimento de rampa, adimensional; S = declividade do terreno, adimensional; C = fator que considera o uso e o manejo do solo, adimensional; P = fator que considera as práticas conservacionistas adotadas, adimensional. Pu Mapa da Erosividade das chuvas dos postos pluviométricos da Folha de Jardim do Seridó Mapa da Erosividade das Chuvas para a Folha de Jardim do Seridó # Localização Estação Pluviomética Erosividade das Chuvas (MJmm/ha h ano) < 3000 3000 a 4000 4000 a 5000 > 5000 # # # # # # # # Jardim do Seridó # # # N # # # # # # # # # # # 0 # # 30 Kilometers # # # # # # # Área Piloto K = Erodibilidade dos Solos Base: Mapeamento dos Solos, Revisão de Literatura Compensação para pedregosidade (Com base na classificação de fotos digitais) Tabela - Valores médios de K para cada classe de solo Foto Digital Mapa Digital Solo (42 %) Pedra (31 %) Litter (12 %) Sombra (15 %) C = Uso e manejo Classificação supervisionada Landsat TM Classe caatinga ---> Uso da biomassa a partir do NDVI