OS MOLDES PEDAGÓGICOS INTERNACIONAIS NA CONFIGURAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO BRASILEIRO NOS ANOS SESSENTA: UMA ANÁLISE A PARTIR DA REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS Milena Colazingari da Silva/USP O presente trabalho visa a analisar as características dos modelos pedagógicos internacionais que circularam nos artigos publicados pela Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP) e que acabaram por influenciar a organização do ensino primário brasileiro no período observado. Tal proposta integra a pesquisa de mestrado intitulada Conhecimento pedagógico e escola: um exame a partir da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (1950 – 1971), cujo objetivo é examinar os artigos que veiculem conhecimento científico sobre educação, em busca dos fundamentos teóricos que estabeleceram as bases do modelo da escola de massas (escola obrigatória, escola para todos, etc.), pretendendo-se, dessa maneira, contribuir para a história dos saberes pedagógicos no Brasil. Desse modo, busca-se compreender como se dão as relações entre as proposições gerais e políticas que orientaram a organização do ensino e a geração de conhecimentos propriamente pedagógicos, produzidos por e/ou destinados aos profissionais do campo educacional. Conceitos desenvolvidos por John Meyer e Francisco O. Ramirez na Universidade de Stanford, no que se refere às temáticas do sistema mundial, salientam que o modelo educacional moderno, de origem européia nos séculos XVIII e XIX, ganhou aceitação mundializada particularmente durante a segunda metade do século XX. Indícios da expansão globalizada da educação atestam o desenvolvimento da escola de massas de maneira padronizada no plano mundial, tais como a existência nas legislações e constituições nacionais dos princípios de uma escola básica obrigatória e de sua gratuidade como direito de todos. A organização mundialmente uniforme dos sistemas educativos deve-se à interpenetração de discursos que, por meio das relações globais de intercâmbio, forneceram modelos de estruturação do ensino os quais geraram certas analogias na fisionomia da escola de massas em todo o mundo (MEYER, 2000). O quadro conceitual adotado privilegia, portanto, o exame da interpenetração de discursos filiados a modelizações internacionais, que direcionam formas de pensar e agir em educação resultantes das redes de comunicação e troca estabelecidas mundialmente, procurando conhecer as afinidades teóricas nacionais em relação aos modelos pedagógicos estrangeiros que participaram na constituição de um conhecimento científico educacional. A atenção centra-se na construção e circulação do discurso dos especialistas que intervieram no espaço educativo, produzindo saberes que se tornaram referenciais das práticas e das políticas em educação, representando, por sua vez, as concepções educativas do próprio Estado. A imprensa periódica educacional é tomada como objeto central dessa pesquisa por favorecer a identificação de grupos detentores de autoridade no campo educacional e que se pronunciavam sobre os rumos da política educativa brasileira, com o intuito de interferir na organização do sistema de ensino, procurando inserir o discurso educativo no conjunto dos discursos científicos. A leitura dos artigos publicados na revista permite, assim, que se identifiquem algumas características das relações de preferência e afinidade com outras comunidades científicas disciplinares e organizações, daqueles que se formam como especialistas e dão forma ao saber pedagógico especializado. Diante dos interesses desse estudo, foi escolhida como objeto de pesquisa a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, cuja circulação teve início no ano de 1944, por iniciativa do então ministro da educação Gustavo Capanema, sendo editada pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Seu lançamento foi justificado pelo interesse do Ministério da Educação em colaborar, juntamente com o INEP, com a produção de pesquisas e estudos educacionais, objetivando o aperfeiçoamento escolar brasileiro, “(...) animada do sincero desejo de contribuir para a formação de uma esclarecida mentalidade pública em matéria educacional (...)” (RBEP, jul.1944, p. 6). Procurando descrever e analisar a presença de referentes que expressem as filiações cognitivas e afinidades teóricas no periódico em estudo, uma vez que tal diagnóstico dimensiona a estruturação de um campo científico disciplinar em educação, recorreu-se a um modelo de ficha padronizada, que sistematiza os referentes presentes nos artigos das revistas sob análise, relativos a autores, publicações (periódicos e livros), áreas de conhecimento, organizações, países e comunidades transnacionais. A quantificação das referências presentes na revista torna possível a reconstituição do discurso pedagógico no período em estudo, além de possibilitar que se conheça, segundo a definição de Bendix (1980), quais os modelos educativos de outros países serviam como sugestões positivas a serem reproduzidas na organização do sistema de ensino brasileiro. A identificação do conjunto de referências nos artigos que versavam sobre o ensino primário publicados pela RBEP sugere que o discurso educacional no período analisado, no Brasil, sofreu forte influência da Escola Nova. Percepção que se reflete nas menções recorrentes aos representantes desse movimento e às suas teorias, por meio da literatura pedagógica utilizada como fonte pelos “especialistas” que tinham seus artigos publicados no periódico. Ultrapassando os limites da teorização, o ideário renovador avançou sobre as políticas educativas e, consequentemente, sobre os modos de organização do sistema escolar. Nesse aspecto, destaca-se a preponderância das associações internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) na estruturação do ensino nacional, as quais agiam como órgãos de assistência técnica aos países em desenvolvimento “ditando” as melhores soluções para atingir a eficiência escolar e o desejado efeito do progresso social. Tais informações permitem entrever como determinada corrente pedagógica e certas organizações mundiais terminaram por se constituírem como parte do conjunto de elementos que contribuíram com o processo de expansão e organização do ensino primário nacional. Após contabilização dos referentes localizados nos artigos, destacam-se a UNESCO e a OEA como as organizações estrangeiras mais citadas, em primeiro e segundo lugar, respectivamente. Recorrendo ao contexto em que essas organizações são lembradas, tem-se que a marcante participação deve-se ao conjunto de reuniões, em nível internacional, promovidas por ambas, envolvendo principalmente os países latino-americanos. Estes, compreendidos pelas organizações em questão como os mais necessitados em termos de auxílio técnico, para o efetivo desenvolvimento de seus sistemas de ensino. A influência das idéias dessa entidade, mesmo antes de ser criada, já circulava entre os educadores brasileiros, que acompanhavam as correntes de pensamento propagadas pela Europa e Estados Unidos. No IX Congresso Brasileiro de Educação, promovido pela Associação Brasileira de Educação (ABE) no ano de 1945, foram apresentados os fundamentos teóricos que orientariam a proposta de estabelecimento da UNESCO, havendo, de imediato, forte interesse entre os educadores no sentido de participarem dessa organização internacional. O projeto de estabelecer entre as nações sistemas democráticos de governo, no intuito de se manter a paz mundial, foi bem acolhido entre os brasileiros, que passavam pelo processo de redemocratização do país, com o fim do Estado Novo (CUNHA, 1992). A RBEP dedica amplo espaço em seus volumes à transcrição de recomendações resultantes de encontros estabelecidos por organismos estrangeiros, como as definidas nas Conferências Internacionais de Instrução Pública, convocadas pela UNESCO e pelo Bureau Internacional de Educação. Entre as temáticas discutidas nesses encontros tendo como tema central o ensino primário têm-se os mais variados assuntos, como: orientações para o ensino de diferentes disciplinas na escola primária; formação do magistério primário; escolaridade obrigatória e sua extensão; elaboração de programas de ensino; acesso à educação nas zonas rurais; escola primária de mestre único. Importa observar que os temas, apesar de variados, sempre giram em torno da universalização da educação primária. Em agosto de 1961 ocorre no Uruguai a Conferência de Punta Del Este, promovida pela Organização dos Estados Americanos. Neste evento foi decidido que os países da América Latina deveriam promover uma taxa anual de crescimento econômico não inferior a 2,5% por habitante, oferecendo-se para esse fim a concessão de auxílio externo definido no Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social. Anexo ao plano de progressão econômica, foi estabelecido o Plano Decenal de Educação o qual fixou metas para serem alcançadas até 1970 nos países em desenvolvimento, estabelecidas pela Aliança para o Progresso. Neste evento foi determinado que a educação primária obrigatória e gratuita deveria ser oferecida por um período mínimo de seis anos, para toda população em idade escolar. O objetivo era acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países envolvidos (PASQUALE, 1966). A Aliança para o Progresso mantinha programas de assistência técnica, além de oferecer auxílio por meio de empréstimos, modalidades de ajuda que foram amplamente utilizadas no Brasil nos anos posteriores ao Golpe Militar de 1964. Posteriormente, na Conferência de Santiago do Chile (1962), foram retomadas as mesmas orientações anteriores quanto ao ensino primário no que se refere à escolarização universal em nível elementar a ser atingida pela América Latina até 1970, cujo ensino deveria ser ministrado por seis anos letivos, com um mínimo de cinco horas por jornada. No que se refere ao orçamento público, recomendou-se que os recursos financeiros fossem destinados prioritariamente ao ensino elementar, dedicando não menos que 4% do produto interno bruto nacional a esse nível de ensino (Id. Ibid.). Preocupado em cumprir com as obrigações internacionais que o governo brasileiro comprometeu-se a realizar, o Conselho Federal de Educação, instaurado em fevereiro de 1962, elaborou um Plano Nacional de Educação (PNE), cujas propostas deveriam ser alcançadas até o ano de 1970. Entre as metas constam a universalização do ensino primário de seis anos; a intensificação de esforços para formação de professores; e a implantação de bases para o correto planejamento da educação. Quantitativamente, propunha-se atingir cem por cento de matrícula da população escolar entre 7 e 11 anos de idade até a quarta série, e setenta por cento de alunos matriculados nas quintas e sextas séries por crianças de 12 a 14 anos. Para o ensino médio a intenção era matricular trinta por cento da população com idade de 11 e 12 a 14 anos nas duas primeiras séries do ciclo ginasial e atingir cinqüenta por cento de matrícula de alunos entre 13 a 15 anos nas duas últimas séries do ciclo ginasial. Por fim, no ciclo colegial, matricular trinta por cento da população escolar entre 15 a 18 anos (Id. Ibid.). Ao propor a expansão das quintas e sextas séries, o PNE pretendia promover a extensão do primário para seis anos, no sentido de que se cumprisse com as metas delineadas no Plano Decenal de Educação da Aliança para o Progresso (USAID). Qualitativamente, propunha-se que as duas últimas séries do curso primário deveriam ser oferecidas em período integral, além de incluir no programa de ensino oficinas de artes industriais. Na prática, entretanto, foi insignificante o número dessas classes instaladas no país até 1970. Com a tomada política dos militares em 1964, o desenvolvimento do país relacionava-se com a segurança da nação garantida por meio da repressão aos movimentos sociais. Na área educacional, foram extintos imediatamente após o golpe o Plano Nacional de Alfabetização e todas as outras campanhas voltadas para esse fim, sendo seus participantes perseguidos, presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional. A preocupação dos militares em conter essas atividades deveu-se ao fato de, entre eles, ter surgido a Pedagogia Libertadora, associada ao método de alfabetização de adultos de Paulo Freire, fundada no nacionalismo desenvolvimentista, no solidarismo cristão – composto pela esquerda católica – e no escolanovismo. A intenção dessa pedagogia era formar a consciência da população frente aos problemas nacionais e engajá-la na luta política. Criado em 1962, o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) era composto por um grupo que se opunha ao projeto de Reformas de Base veiculado pela esquerda e apoiado pelo presidente João Goulart. Após o golpe de 64, seus membros integraram a equipe de governo de Castelo Branco, combatendo a ideologia nacional-desenvolvimentista no meio civil em favor do denominado “desenvolvimento com segurança”. Nesse período, tendo como meta a generalização do ensino primário, o governo adotou uma série de medidas na área educacional com repercussão no ensino básico: a realização do censo escolar e a instituição do salário-educação. Com o intuito de planejar a extensão da rede de ensino a partir de dados reais, foi realizado em cooperação com os Estados o primeiro censo escolar do Brasil, em novembro de 1964. Os resultados obtidos trouxeram informações relevantes, como o número de crianças em idade escolar, o déficit de matrículas, a falta de salas de aulas, a necessidade de professores, a qualificação dos docentes em exercício, entre outras. Por meio da realização do censo, obtiveram-se elementos que clarificaram a situação do ensino nas diversas regiões, servindo como fonte para o planejamento de medidas educacionais fundadas na realidade observada. Enfatizava-se, neste momento, o planejamento como meio de garantir maior produtividade dos sistemas de ensino, concepção que se reforça pela assistência técnica internacional oferecida pela UNESCO e também pela USAID, as quais difundiam a idéia de que a melhoria do sistema de ensino brasileiro dependia da formação de quadros técnicos em planejamento educacional (ARELARO, 1988). Por outro lado, procurando aumentar a quantidade de recursos financeiros para a implementação do Plano Nacional de Educação, foi instituído o salário-educação, tributo recolhido das empresas com valor equivalente ao custo do ensino primário dos filhos de seus funcionários, para manutenção dos serviços públicos de educação. De imediato, o salário-educação ofereceria recursos que elevariam em 25% o número de matrículas em nível primário (RBEP, abr./jun. 1966). Entendendo a educação como responsabilidade da União, Estados e Municípios cuja atuação deveria ser conjugada, o governo instituiu as Conferências Nacionais de Educação, convocadas pelo MEC, ilustrando outra medida voltada para a efetivação da obrigatoriedade do ensino primário. O discurso do governo federal instaurado com o movimento de 31 de março de 1964 aponta que questões relativas à coordenação de planos de educação deviam ser objeto de estudos específicos realizados anualmente, com participação de representantes de órgãos técnicos, para que as conclusões aprovadas se transformassem em recomendações para todos os Estados. Assim, tais Conferências contavam com a presença de membros do Ministério da Educação, Secretários de Educação, elementos do Conselho Federal e Conselhos Estaduais de Educação, além de representantes de organismos internacionais como ONU, UNESCO, OEA (RBEP, abr./jun. 1966). Realizada em Brasília, em 1965, a primeira reunião teve seu discurso de abertura proferido pelo então Presidente da República, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, que lembrou ser a principal obrigação de um sistema democrático a universalização do ensino primário. Esse evento é apontado como um dos mais importantes entre os que ocorreram visando a comemoração do aniversário da vitória do movimento de março de 1964 (RBEP, abril/junho 1966). O tema do encontro centrou-se no estudo da coordenação de recursos e de medidas políticas e organizacionais para o desenvolvimento da educação nacional, tendo como subtema o Plano Nacional e os Planos Estaduais de Educação, além de normas para elaboração, articulação, execução e avaliação dos planos de educação. Desejava-se a organização de um sistema nacional de ensino que articulasse os níveis federal, municipal e estadual de educação, com entrosamento dos programas e metas, e planos de ação interadministrativos. Tendo como tema o desenvolvimento do ensino primário, na II Conferência Nacional de Educação, sediada na cidade de Porto Alegre em 1966, discutiram-se questões como treinamento, formação e aperfeiçoamento dos professores primários, além de temas sobre as construções e os equipamentos escolares. Nas recomendações gerais, foram reforçadas as metas definidas no PNE de 1962. Durante o evento foi comunicada a formação de um grupo de trabalho envolvendo brasileiros e americanos para que em dois anos avaliassem a situação do ensino no país e produzissem sugestões que orientariam o planejamento e a elaboração de novos planos de educação. Com a instalação do governo militar, as orientações americanas, conhecidas como Acordos MEC-USAID, passaram a ocupar um espaço destacado no delineamento da educação nacional. Num primeiro momento as orientações recaíram sobre o 1 º ciclo do ensino médio, a fim de que se desencadeasse a expansão dos ginásios. Tendo por meta o alinhamento do sistema educacional com a política econômica – que dependia do crescimento industrial –, a escola foi associada ao mercado de trabalho. O governo passou a incentivar a organização de ginásios com caráter vocacional e de iniciação profissional. Na prática, constituíram-se como ginásios secundários que contavam com oficinas para aprendizagem das artes industriais, técnicas agrícolas e comerciais. Nesse sentido o ensino secundário perderia seu caráter propedêutico, assumindo um perfil de utilidade prática diante de sua orientação profissionalizante. Durante o governo militar dá-se a mudança do foco das preocupações em educação, até então centradas sobre o ensino primário – estabelecido como prioritário no Plano Nacional de Educação de 1962 e assim entendido até meados de 1967 – para os ensinos médio e superior que atenderiam mais prontamente o projeto de desenvolvimento adotado no plano político daquele momento. De acordo com o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), que continha as diretrizes de orientação das atividades do governo no período entre 1968 – 1970, o objetivo básico a ser atingido voltava-se para a aceleração do desenvolvimento por meio do progresso tecnológico. Dessa forma, era necessária a qualificação dos estudantes para o trabalho, através do ensino técnico profissionalizante. No interior desse Programa, a meta principal no âmbito da educação referiu-se à ampliação quantitativa do ensino médio até que se tornasse universal por meio dos ginásios integrados, moldados no sentido de permitir que os alunos concluintes tivessem acesso imediato ao mercado de trabalho. Quanto ao ensino primário, além de instaurar a Operação-Escola, voltada para sua expansão, a reforma desse grau de ensino compreendia alterações curriculares e também no programa do ensino fundamental comum, além da proposição das atividades de recuperação nos períodos de férias escolares. Para que o Programa Estratégico de Desenvolvimento obtivesse êxito, era necessária a integração do ensino primário com o de grau médio. Assim foi proposta a eliminação dos exames de admissão, de maneira que se tornasse automática a passagem dos alunos de grau primário para o nível médio. Essa orientação foi incorporada pela Lei no. 5.692/71, que agrupou o curso primário e o ciclo ginasial no ensino de 1 º grau, voltado para alunos de 7 a 14 anos de idade, ampliando a obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos. Submetido ao Congresso Nacional, o projeto de lei deveria ser apreciado num prazo de quarenta dias. Caso contrário, seria considerado automaticamente aprovado por decurso de prazo. Como a maioria dos congressistas pertencia à Aliança Renovadora Nacional, o partido do governo, a lei foi aprovada no prazo previsto. Nela, o ensino de 2 º grau tornou-se integralmente profissionalizante, uma vez que se fundava pela teoria do capital humano, que compreendia a educação como investimento para que se desenvolvesse a economia do país. Conclusão: Discorrendo sobre os estudos comparativos, Schriewer (1995) acredita serem proveitosas as análises que se fazem a partir dos processos de circulação de especialistas e modelos educativos, cujo processo de recepção das idéias permeia a educação mundial. O autor considera como característico, diante da difusão de modelos externos de organização, os grupos receptores agirem de modo a adaptar e reinterpretar tais modelizações – denominando tal procedimento como “indigenização”, ou seja, o ato das teorias exteriores serem “interpretadas” e escolhidas de acordo com os interesses de quem as recebe. Recorrendo a Einsenstadt, lembra que embora a modernidade represente um novo tipo de civilização global, isto não implica que haja uma adoção mundial de padrões uniformes de significação e organização, uma vez que se dá um processo seletivo de incorporação e transformação dos modelos internacionais (SCHRIEWER, 2000). O conjunto de informações aqui exposto procurou esboçar as relações estabelecidas entre as recomendações propostas aos países latino-americanos por organismos internacionais de grande notabilidade no período estudado e as medidas educacionais adotadas no Brasil. A relação entre as proposições externas e a receptividade em solo nacional demonstra o comprometimento do governo brasileiro em efetivar as metas propostas. O estudo objetivo da vida educacional brasileira por meio censo escolar favoreceu a adoção de procedimentos mais próximos da situação real, na tentativa de sanar as dificuldades encontradas, difundindo-se, para tanto, normas de orientação pedagógica e princípios organizacionais, além de administrativos do ensino em todo território nacional. Encerra-se, portanto, destacando a importância dos estudos a respeito da circulação mundial do modelo da escola de massas, em que o estrangeiro torna-se referência para a organização do ensino e implementação de reformas em determinadas nações. Bibliografia: BENDIX, Reinhard. Kings or people: power and the mandate to rule, Berkeley: University of California Press, 1980. CUNHA, Marcus Vinicius da. Indivíduo e sociedade no ideário escolanovista (Brasil: 1930 – 1960). 1992. 339f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992. Editorial. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v.I, no.1, p.6, jul. 1944. II Conferência Nacional de Educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. XLV, no. 102, p.273-285, abr./jun.1966. MEYER, John W. Globalização e currículo: problemas para a teoria em sociologia da educação. In: NÓVOA, A. ; SCHRIEWER, J. (eds.). A difusão mundial da escola. Lisboa: Educa, 2000. p.15-32. PASQUALE, Carlos. Desenvolvimento do ensino primário e o Plano Nacional de Educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. XLV, no. 102, p. 185-235, abr./jun.1966. SCHRIEWER, Jürgen. Estados-Modelo e sociedades de referência: externalização em processos de modernização. In: NÓVOA, A. ; SCHRIEWER, J. (eds.). A difusão mundial da escola. Lisboa: Educa, 2000. p.103-120. SCHRIEWER, Jürgen. Sistema mundial e inter-relacionamento de redes: a internacionalização da educação e o papel da pesquisa comparativa. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 76, n. 182/183, p. 241-304, jan./ago. 1995.