ANAIS GOVERNANCA NAS CADEIAS PRODUTIVAS E AS INICIATIVAS DE INOVAÇÃO: UMA EXPLORACAO DO CASO DA PETROQUIMICA FABIO DE ALMEIDA OROSKI ( [email protected] ) ESCOLA DE QUIMICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO JOSE VITOR BOMTEMPO ( [email protected] ) ESCOLA DE QUIMICA- UFRJ; INSTITUTO DE ECONOMIA- UFRJ Resumo Este trabalho discute como as iniciativas de inovação se configuram como oportunidade para que as firmas possam alterar as relações de governança entre os atores de uma cadeia produtiva. A governança está diretamente ligada ao poder e comando que uma ou mais empresas detêm sobre a distribuição de atividades entre os agentes pertencentes à cadeia produtiva. O trabalho analisa a cadeia de embalagens plásticas. Os casos estudados indicam que as iniciativas de inovação podem representar uma boa oportunidade para que a indústria petroquímica vá além da sua atuação como fornecedor de materiais e tenha uma posição mais ativa junto ao elo final da cadeia. Palavras-chave: petroquímica, governança, cadeia produtiva, comando, fornecedores, estratégia, modelos de negócios, inovação. Introdução Uma primeira leitura sobre as relações de poder estabelecidas entre as firmas abordaria o domínio que as organizações exercem sobre outros atores da cadeia na busca da maximização dos lucros, justificando suas escolhas. As firmas que dominam a cadeia produtiva orientarão suas decisões estratégicas para a obtenção de lucros maiores, concentrando-se nas atividades que possam lhe conferir as maiores vantagens econômicas. Não menos importante do que a análise do ponto de vista econômico é perceber que essa divisão de atividades também considera as aptidões e as limitações nas capacitações das firmas. A divisão das atividades entre os atores de uma cadeia produtiva tende a se acomodar sobre a percepção das competências organizacionais que essas firmas detêm para exercer suas funções, conforme as necessidades estabelecidas pelas empresas que possuem o comando. A compreensão das relações de poder entre fornecedores e compradores é explorada neste estudo a partir do conceito de governança, que permite compreender como as firmas determinam seus papéis e consequentemente, seus ganhos econômicos. O conceito de governança, apresentado por Gereffi (1999) permite identificar nas cadeias produtivas os papéis desempenhados pelos atores e, portanto sua aplicação contribui para o processo de 1/15 ANAIS compreensão de como iniciativas de inovação podem romper modelos de negócios estabelecidos, alterando relações entre fornecedores e compradores. A indústria petroquímica é um caso interessante para estudar essas questões. A indústria petroquímica brasileira sofreu nos últimos anos uma intensa reestruturação com a consolidação de empresas e ativos, resultando inicialmente na formação de dois grandes grupos, a Braskem e a Quattor. Em 2010, esse processo avançou e a Braskem adquiriu os ativos da Quattor, criando a maior petroquímica das Américas, acompanhado pelo aumento da participação da Petrobras na empresa resultante. Este movimento na petroquímica seguiu o que já vinha ocorrendo em outros setores da economia como mineração, siderurgia, bens de consumo, etc. Empresas maiores implicam maior capacidade de investimentos, maiores chances para competir no cenário doméstico com as empresas internacionais e mais na frente, seguir com processo de internacionalização. No caso específico da petroquímica, o maior porte se tornou fundamental frente ao elevado custo de capital, ao maior porte das novas plantas petroquímicas e a necessidade de estar próxima da matéria-prima competitiva. De um lado, a petroquímica tem o desafio de competir com seus concorrentes globais, buscando escala e acesso a matéria-prima competitiva e de outro lado, também tem que competir ao longo da cadeia produtiva para manter e maximizar suas margens, visto que a jusante seus compradores, são de grande porte e mais do que isso, atores que determinam e lideram os processos de inovação. As empresas de bens de consumo e o varejo, muito próximas do cliente final são os agentes identificadores de tendências de consumo e imprimem suas necessidades junto aos fornecedores, estabelecendo seu poder, por exemplo, através da substituição de um material por outro, imprimindo a indústria petroquímica o papel de simples fornecedor. O fato de deter o comando nas relações que estabelecem as atividades entre os agentes da cadeia lhes garante maior poder de negociação e papel determinante na distribuição das margens entre os atores. Por deter o acesso e o poder sobre os fatores direcionadores da inovação que norteiam a competição e a conseqüente substituição de materiais, as indústrias finais concentram maior poder sobre a cadeia produtiva, limitando a ação da petroquímica e da indústria de transformação sobre as margens e o processo de inovação do setor. Enfim, o cenário brevemente explanado acima exigirá uma rápida ação da indústria petroquímica para rever seu papel na cadeia produtiva e alcançar maior representatividade no direcionamento da cadeia, através de seu relacionamento com os atores (fornecedores e compradores). A partir da observação de seu papel na cadeia produtiva, como a indústria petroquímica poderia buscar novos arranjos na estrutura da indústria para se reposicionar? Como iniciativas de inovação poderiam promover essas mudanças na cadeia e permitir a petroquímica um papel mais ativo junto aos seus clientes? Para contextualizar a participação da indústria petroquímica na determinação do poder ou comando, o estudo se focará na análise do relacionamento entre os atores participantes da cadeia produtiva de embalagens plásticas para a indústria de alimentos. Por representar grande parte do consumo de resinas plásticas e também pela maior complexidade no relacionamento entre fornecedores e compradores, o setor de embalagens se torna uma excelente oportunidade de estudo para avaliar a estrutura de comando (governança) e o papel da indústria petroquímica. O artigo está dividido em quatro seções: (1) uma breve exploração do conceito de governança e como as iniciativas de inovação podem apresentar posição relevante na reestruturação de uma cadeia produtiva, com uma redefinição dos papéis apresentados pelos atores da cadeia produtiva, (2) a identificação da governança na cadeia produtiva de embalagens plásticas para alimentos, (3) a apresentação de estudos de casos que mostram 2/15 ANAIS como iniciativas de inovação alteraram as relações entre fornecedores e compradores e na última parte (4), uma discussão dos conceitos apresentados. 1. Governança e Iniciativas de Inovação A análise do relacionamento entre os fornecedores e compradores é defendida neste estudo pela identificação do comando e do tipo de governança que rege a cadeia produtiva. A governança é definida como a coordenação das atividades entre os participantes da cadeia, orientada pela maximização dos ganhos gerados por essas atividades. A partir da identificação da governança que rege uma cadeia produtiva, podem se tornar mais claro como iniciativas de inovação que passam por novos modelos de negócios permitiriam uma mudança de papéis entre os atores e a forma como coordenam suas transações. As relações entre fornecedores e compradores nas cadeias produtivas têm evidenciado na maioria dos casos grande complexidade. Esta complexidade está ligada à imprevisibilidade do ambiente de negócios, às intenções de cada agente que nem sempre estão claras no jogo, à maior sofisticação dos ativos envolvidos no relacionamento, ao maior número de informações geradas e trocadas entre os agentes, além de outros fatores. De forma simples, pode-se dizer que os itens listados acima contribuem para gerar o que Williamson (1985) chamou de custos de transação. Custos de transação são os custos ligados à negociação, monitoramento e execução de contratos. O contrato passa, então, a ser a unidade de análise desta abordagem. A teoria dos custos de transação (TCT) trabalha com uma série de hipóteses que tornam os custos de transação significativos e consideráveis nos contratos estabelecidos entre os agentes (fornecedores e compradores) como a racionalidade limitada, a complexidade e a incerteza do ambiente, o oportunismo e o grau de especificidade de ativos (FIANI, 2002). A seguir, estes itens são rapidamente explicados: - Racionalidade Limitada, Complexidade e Incerteza do Ambiente: A dificuldade para definir as probabilidades associadas aos diferentes estados da natureza que envolve o ambiente de negócios pode afetar a transação entre os agentes. A complexidade do ambiente aliada à racionalidade limitada, que é compreendida como a limitação natural dos indivíduos na sua capacidade de acumular e transmitir informações. - Oportunismo e Especificidade dos Ativos: O oportunismo ocorre em ambientes de incerteza, encontrando espaço nas condições que não foram anteriormente previstas, a partir do conceito de que os contratos entre as partes nunca serão completos. A transmissão incorreta de informações, selecionando apenas o conveniente, e a distorção da informação propriamente dita, também se constitui uma forma de oportunismo. Além dos fatores citados acima, contribui para os custos de transação a especificidade de ativos envolvidos entre os agentes. Um ativo é específico quando perde parte substancial de seu valor se não for aplicado na transação para a qual foi desenvolvido. Por isso, se estabelece essa relação de dependência entre os agentes. Williamson (1985) propôs que os fatores racionalidade limitada, complexidade e incerteza do ambiente, oportunismo e a especificidade de ativos podem contribuir para o 3/15 ANAIS aumento do custo de transação, o que dependerá dos tipos de transação que se estabelecem entre os agentes. Gereffi et al (2005) estudou o processo de formação das cadeias produtivas globais através da identificação da coordenação sobre a distribuição das atividades entre as firmas e propôs diferentes tipos de comando que as firmas podem exercer para coordenar a distribuição de papéis e, portanto, controlar as atividades na cadeia produtiva. O que determinará como essas atividades serão distribuídas (entre países e/ou firmas) será o valor econômico gerado por essas atividades, traduzidos pela complexidade nas relações estabelecidas entre as firmas e pelos investimentos específicos aplicados para essas transações. Os produtos padronizados ou as commodities que possuem seus valores econômicos e especificações bem definidos apresentam maior facilidade para as relações de mercado entre as firmas. Estes produtos podem ser estocados e fornecidos quando a demanda exige, podem ser produzidos por diferentes fornecedores e comprados por uma larga variedade de clientes e envolvem poucos ativos específicos. Ao contrário, quanto mais customizado e/ou diferenciado o produto ou serviço, mais provavelmente são necessários investimentos em ativos específicos, o que aumenta o risco de oportunismo e o que torna o fluxo mais complicado entre as firmas pela maior complexidade nas transações. Gereffi (1999) definiu dois tipos de cadeias a partir da observação do comando estabelecido nas relações entre as firmas: as cadeias comandadas pelos produtores (producer driven chains) e as cadeias comandadas pelos compradores (buyer driven chains). As cadeias comandadas pelos produtores focam sua competitividade na economia de escala, nos avanços tecnológicos, nos processos produtivos e de distribuição. Essas empresas estabelecem uma rede de relacionamento para coordenar seus fornecedores, parceiros e contratados. As cadeias comandadas pelos compradores são aquelas representadas pelas indústrias de bens de consumo não duráveis, pelos grandes varejistas e pelas empresas de marketing. Essas empresas criam redes produtivas descentralizadas para a produção de itens como roupas, sapatos, artigos esportivos, equipamentos eletrônicos e etc. As firmas detêm as atividades de design e marketing e terceirizam a produção física dos seus produtos. Enquanto as cadeias comandadas pelos produtores são controladas pelos fabricantes localizados no elo inicial da cadeia, nas cadeias comandadas pelos compradores, o controle está no elo final, com as empresas detentoras das marcas, da distribuição e do varejo. Gereffi et al (2005) ressaltou que as ações desempenhadas pelos atores da cadeia produtiva sobre as três variáveis que determinam o tipo de governança (grau de complexidade das transações, grau de codificação das transações envolvidas e grau de capacitação dos fornecedores para executar as transações requeridas) podem alterar as relações entre as firmas. Para explorar as relações que se estabelecem entre fornecedores e compradores nas cadeias produtivas, são apresentados a seguir três tipos distintos de fornecedores, conforme classificação apresentada por Gereffi et al (2005): • Fornecedores de commodities: aqueles que fornecem produtos e serviços fortemente padronizados (especificações bem definidas); • Fornecedores cativos: aqueles que fornecem produtos customizados elaborados em máquinas e equipamentos dedicados às necessidades do comprador (ativos específicos); • Fornecedores turn key: aqueles que fornecem produtos customizados elaborados em máquinas e equipamentos chamados de flexíveis que não são totalmente voltados para a 4/15 ANAIS demanda do comprador, atendendo outros clientes com outros produtos com especificação diferenciada. Esta diferenciação entre os fornecedores permite analisar o grau de complexidade nas informações trocadas entre as firmas e o grau de ativos específicos necessários para as transações estabelecidas e, portanto, entender os tipos de governança (comando) que podem ser observados nas cadeias produtivas. A determinação do tipo de governança numa cadeia produtiva dependerá da combinação resultante entre os três fatores abaixo: 1. Complexidade envolvida na transferência de informação e conhecimento requeridos nas transações (especificações de produtos e serviços); 2. O grau ou extensão com que essas informações podem ser codificadas e, logo transmitidas eficientemente sem investimentos específicos; 3. As capacitações dos fornecedores atuais e potenciais em relação aos requisitos necessários para desempenhar as atividades, ou seja, para realizar e garantir a execução das transações demandadas. Gereffi et al (2005) explorou cinco tipos de governança que são determinados pelo grau de complexidade nas transações, pelo grau de habilidade na codificação das transações, pelas capacitações dos fornecedores e pelo grau de coordenação explícita na cadeia, apresentados a seguir e sumarizados na tabela 1: (1) Mercado: ocorre quando os produtos são padronizados, com especificações e valores econômicos bem definidos, permitindo a troca de fornecedores e compradores com maior facilidade. O custo de mudança é baixo para os atores da cadeia. (2) Cadeias de Valor Modulares: ocorre em situações em que os fornecedores produzem produtos e serviços de acordo com as especificações do comprador, apresentando diferentes níveis de detalhamento e complexidade. Os fornecedores tendem a absorver os gastos em componentes e materiais na produção e também assumem alto grau de responsabilidade sobre as competências tecnológicas que envolvem a produção. (3) Cadeias de Valor Relacionais: ocorre quando há complexa interação entre fornecedor e comprador, envolvendo alto nível de ativos específicos, intensa troca de informações e mútua dependência. A relação entre os atores é fundamentada em confiança e reputação. (4) Cadeias de Valor Cativas: ocorre quando pequenos fornecedores são dependentes de grandes compradores. Os fornecedores recebem investimentos e estão sujeitos a alto grau de monitoramento e controle e são fortemente dedicados aos compradores. (5) Hierarquia: ocorre quando há integração vertical através do controle gerencial direto (entre gerentes e subordinados e entre matriz e filiais). 5/15 ANAIS Tabela 1. Fatores Determinantes para a Determinação dos Tipos de Governança nas Cadeias Produtivas. Tipo de Governança Mercado Modular Relacional Cativa Hierarquia Complexidade das Transações Baixo Alto Alto Alto Alto Habilidade para Capacitações Codificar as dos transações Fornecedores Alto Alto Baixo Alto Baixo Alto Alto Alto baixo baixo Grau de Coordenação Explícita baixo alto Fonte: Gereffi et al (2005, p.87). O processo de consolidação de um tipo de governança numa cadeia produtiva pode ser explicado pela busca da minimização dos custos de transação e resistência de alguns atores da cadeia produtiva quando há a proposição de uma alteração em direção contrária a essa redução dos custos, definindo uma arquitetura predominante. Jacobides et al (2006) propôs o conceito de arquitetura industrial, definindo como uma estrutura na qual são estabelecidos e distribuídos os papéis entre as firmas especializadas (uma divisão das tarefas), levando em conta o balanço entre a divisão das atividades e os custos de transação envolvidos. O autor argumenta que a arquitetura emerge e se torna estável com o tempo, criando os contornos da indústria ou setor. Mesmo após sua estabilização, algumas firmas podem ser capazes de alterar essa arquitetura, objetivando obter maiores vantagens advindas do processo de inovação (JACOBIDES, 2006). Jacobides et al (2006) argumenta que os inovadores freqüentemente possuem uma oportunidade considerável para moldar a arquitetura de um setor e, portanto organizar a forma como se darão os relacionamentos entre os atores, potencializando a captura dos benefícios a serem gerados com a inovação. Ele parte do princípio que muitas inovações requerem novas arquiteturas, já que não poderiam utilizar as arquiteturas existentes. Ou seja, a inovação é vista como uma oportunidade para capturar maior vantagem econômica na cadeia de valor, através da re-configuração de uma arquitetura existente. O processo de inovação surge então como uma oportunidade para as firmas alterarem as relações atuais entre os atores, promovendo assim uma redistribuição de papéis e valores gerados. Neste momento, é interessante inserir na discussão o conceito de Modelo de Negócios, que ajuda compreender como as firmas poderiam operacionalizar suas estratégias de alteração de comando ou governança numa cadeia produtiva. Shafer at al (2005) definiram modelo de negócios como uma representação da lógica principal pela qual a empresa adota suas escolhas estratégicas para criar e capturar valor dentro de sua rede de relacionamentos. Para Magretta (2002) “um bom modelo de negócios continua sendo essencial para o sucesso de uma organização, seja ela um novo empreendimento ou não. O modelo de negócios pode representar uma nova ou uma melhor maneira de criar e capturar valor para as organizações, gerando novas demandas e fontes de receitas”. O modelo de negócios pode representar uma nova história ou caminho para a empresa. A possibilidade de alteração nesta estrutura de comando pode ser viabilizada pelo processo de inovação, devendo a firma inovadora atuar de forma eficiente na captura dos benefícios gerados. Para tanto, poderá ser necessária uma redistribuição das atividades entre os agentes, ou seja, instituindo a escolha por um novo modelo de negócios. 6/15 ANAIS A figura 1 ilustra a situação em que um novo modelo de negócios proporciona um novo tipo de governança numa cadeia produtiva, alterando as relações entre fornecedor e comprador. O lucro gerado na cadeia produtiva (L), anteriormente distribuído favoravelmente na direção do comprador (L2 > L1), é redistribuído conferindo maior vantagem ao fornecedor (L1> L2), através do novo modelo de negócios. A adoção de um novo modelo de negócios sugere novos papéis e responsabilidades para os atores da cadeia, podendo inclusive significar a entrada de novos fornecedores e compradores. A nova configuração pode: alterar o tipo de comando; conferir comando para uma estrutura sem governança; mudar a relação de poder para negociar preços e condições entre os atores; e resultar numa nova geração de valor e distribuição de riqueza entre estes. Figura 1. Relação entre Modelo de Negócio e Governança nas Cadeias Produtivas. Modelo de Negócios 1 Modelo de Negócios 2 Tipo de GOVERNANÇA A Tipo de GOVERNANÇA B Redistribuição de atividades Poder de Negociação 1 Fornecedor Poder de Negociação 2 Novas atividades Comprador Reestruturação do processo de inovacao Fornecedor Comprador Novos atores DIVISÃO DE LUCROS/ GANHOS DIVISÃO DE LUCROS/ GANHOS Lucro Total (L) = L1 + L2 Lucro Total (L) = L1 + L2 Fornecedor Comprador Fornecedor Comprador L1 L2 L1 L2 L2 > L1 L1 > L2 Fonte: Elaboração própria. 3. A Governança na Cadeia Produtiva de Embalagens para a Indústria de Alimentos No estudo proposto, a análise da governança será aplicada na cadeia produtiva de embalagens plásticas para a indústria de alimentos. O segmento de embalagens é o maior consumidor das resinas termoplásticas e dentro do segmento de embalagens plásticas, o setor de alimentos tem grande representatividade. A cadeia produtiva de embalagens plásticas para a indústria de alimentos está representada na figura 2, onde são mostrados seus principais agentes. A cadeia produtiva de embalagens plásticas para alimentos tem seu início na utilização da matéria-prima nafta ou gás natural para a fabricação dos produtos da 1ª geração (eteno, propeno, butadieno e 7/15 ANAIS estireno). Estes produtos são transferidos para a indústria de 2ª geração, fabricante das resinas termoplásticas. As resinas fabricadas são então vendidas para a indústria de transformação. Neste caso, são as empresas produtoras de embalagens plásticas. Os produtores de embalagem vendem diretamente ou através de distribuidores as embalagens para a indústria de alimentos, que apresenta perfil muito variado de produtos e segmentos. Figura 2. A cadeia Produtiva de Embalagens Plásticas para Alimentos. Nafta, etano, propano Central de Matéria-prima monômeros aditivos Produtor de Resinas Agência de Design Produtor de aditivos resinas projetos de novas embalagens Produtor de máquinas máquinas Produtor de Embalagens embalagens plásticas Produtor de moldes moldes Indústria de Alimentos Distribuidor produtos alimentícios industrializados Varejo Consumidor Final Fonte: Elaboração própria. Dentro da cadeia de embalagens plásticas, é relevante separar a análise da governança entre as chamadas embalagens simples e as embalagens complexas, por apresentarem características distintas, principalmente de funcionalidade. As embalagens simples são aquelas produzidas em grande escala, com baixos requisitos técnicos, onde a competição no mercado é por custo. Exemplos de embalagens simples são os filmes do tipo monocamada (compostos por apenas um material), voltados para alimentos commodities como arroz, feijão, farinha, etc. As transações entre fornecedores e compradores são relativamente simples, pois são produtos com especificações técnicas sem sofisticação, apresentando grande facilidade de codificação. As especificações são comuns, pois estão geralmente voltadas para embalar produtos comoditizados, apresentando pouco ou nenhum elemento de diferenciação. As embalagens devem atender essencialmente às funções básicas exigidas como a contenção, 8/15 ANAIS proteção e transporte. Os transformadores desenvolvem ou adquirem moldes que atendam às especificações orientadas pela indústria de alimentos. Na maior parte dos casos, os moldes não atendem apenas um cliente específico, pois estão voltados para a fabricação de componentes da embalagem que não ou pouco diferem os concorrentes na indústria final. O que se conclui é que a governança está nas mãos dos compradores, a indústria de alimentos e o varejo, determinada pelas leis de mercado, ou seja, por aquele que detém o maior tamanho e que está mais próximo da demanda, ou seja, determinando o que necessita de seu fornecedor. As embalagens complexas são em geral as embalagens que agregam maior complexidade no seu desenvolvimento e fabricação. Envolvem geralmente o uso combinado de diferentes materiais (filmes multicamadas e filmes barreiras, por exemplo), promovem diferenciação e atendem níveis de consumo mais específicos ou sofisticados. A competição neste mercado é ditada pela diferenciação entre os concorrentes. Devido às diversas funcionalidades exigidas, assim como o uso de diferentes materiais e técnicas de produção, faz-se necessária a interação entre os atores da cadeia (fornecedores e compradores) para o desenvolvimento das embalagens e processos de envase. A especificação mais elaborada implica a utilização das competências de outras firmas, o que resulta em maior complementaridade nas transações entre os atores. As transações entre os atores na cadeia envolvem maior troca de informações, conhecimento e cooperação. Como conseqüência, a codificação das transações é mais complicada e muitas vezes não pode ser na sua maior parte explicitada, exigindo a cooperação e presença dos atores no desenvolvimento das peças ou componentes da embalagem. A conseqüência desse processo é a presença de ativos específicos para atender essas demandas. Participam do processo, aqueles atores capazes de atender aos requisitos técnicos exigidos e aqueles dispostos a investir em ativos específicos. Os atores se acomodam em papéis coerentes com as competências e habilidades que possuem ou que são capazes de desenvolvê-las. Novamente, por estar próxima do cliente final e da demanda, a indústria de alimentos e o varejo dominam a cadeia, determinando as atividades dos outros atores ao longo da cadeia. Mas neste caso, a relação entre fornecedores e compradores é distinta do caso das embalagens simples, pois envolve maior relacionamento e dependência mútua. A tabela 2 sumariza a análise da governança na cadeia para o caso das embalagens simples e das embalagens complexas. Tabela 2. Comparação da Governança entre Embalagens Simples e Complexas. Características Embalagens Simples Embalagens Complexas Número de Fornecedores capacitados Tipo de Competição entre os fornecedores Maior Menor, especializados Custo, preço Diferenciação, ampliação de valor para o consumidor. Tipos de transações Em geral, não específicas e Específicas e complexas, envolvendo maior fluxo de simples, baseadas nas negociações de compra e informações. venda. Maior facilidade (transações Maior dificuldade, exigindo simples). maior interação entre as firmas. Comando dos Compradores Comando dos Compradores (buyer driven) (buyer driven) Fonte: Elaboração própria. Facilidade de Codificação das Transações Tipo de Comando na Cadeia 9/15 ANAIS 4. Estudo de Casos: A Inovação como Oportunidade para Alterar a Governança na Cadeia Produtiva A seguir, são mostrados três exemplos na cadeia produtiva de plásticos, que permitem explorar os conceitos de governança e principalmente mostrar como as empresas petroquímicas podem, em algumas cisrcunstâncias, ultrapassar as limitações da governança para atuarem como iniciadores da inovação. Os casos foram extraídos de fontes secundárias e apresentam profundidades desiguais, entretanto permitem uma boa discussão sobre o tema. Além das fontes secundárias, o estudo do caso 2 apresentado a seguir foi discutido com profissionais da empresa. 4.1.Caso 1: Desenvolvimento da Embalagem PET para Maionese Hellmann´s A marca Hellmann´s, líder no mercado brasileiro de maioneses, passou a ser envasada em embalagem plástica de PET, substituindo a embalagem de vidro, utilizada desde seu lançamento no Brasil em 1962. Em 1986, a tampa metálica já havia sido substituída por tampa plástica com lacre de segurança na boca do pote. Segundo a empresa detentora da marca, a multinacional anglo-holandesa Unilever, a mudança veio para atender os pedidos de consumidores enviados para a empresa pelo Sistema de Atendimento ao Cliente e pelos resultados das pesquisas realizadas junto aos consumidores. A resina PET proporciona menor peso, sendo mais prática e segura para o manuseio do produto entre crianças. A nova embalagem foi desenvolvida pela Amcor, a produtora da embalagem, de capital multinacional e parceira da Unilever em outros países (Revista Embanews, 2005). A parceria entre a Unilever e seus fornecedores de materiais de embalagens, permitiu a utilização de inovações tecnológicas para a criação de uma embalagem leve, segura, com excelente desempenho em linha de produção. Foi a primeira embalagem para maionese no mercado brasileiro a incluir a logomarca em alto relevo no pote e também, a primeira a implementar lacre de segurança de fácil abertura. 4.2. Caso 2: Desenvolvimento de Modelo de Negócio, Processo e Equipamento de Alta Produtividade para produção de Copos Descartáveis em Polipropileno. A Braskem é a maior empresa petroquímica da América Latina com faturamento em torno de R$ 15 bilhões e capacidade de produção de 6 milhões de toneladas anuais de produtos petroquímicos. Entre as resinas termoplásticas que produz está o polipropileno. O polipropileno é um termoplástico semicristalino, produzido através da polimerização do monômero propeno, usando um catalisador estereoespecífico para a formação das cadeias longas. Entre os projetos para desenvolvimento de demanda da Braskem, está o relacionado com o segmento de copos descartáveis para café e outras bebidas, como refrigerantes. Estimase que este mercado movimente anualmente o valor de R$ 340 milhões, com o consumo de 70 mil toneladas de resina. Para entrar no mercado de descartáveis, a Braskem, então, desenvolveu uma resina de polipropileno capaz de competir em custo e eficiência com o poliestireno, só que para produzir os descartáveis com o polipropileno desenvolvido pela empresa, seria necessário utilizar máquinas importadas que apresentavam custo estimado acima de US$ 1 milhão, o que tornaria o projeto proibitivo economicamente. A Braskem, então, partiu para o desenvolvimento de um novo modelo de negócios, deixando para trás o papel apenas de desenvolvedor do produto. Logo, promoveu uma aliança 10/15 ANAIS com a fabricante de Descartáveis Zanatta, localizada em Santa Catarina, para montar a empresa NTS Máquinas e desenvolver um equipamento que proporcionasse menor custo e maior produtividade em relação aos importados. A Braskem investiu R$ 30 milhões no projeto e a empresa formada, a NTS, produz as máquinas que custam US$ 300 mil e com produtividade superior às apresentadas pelas máquinas importadas (Boletim Eletrônico Inovação Unicamp, 2006). Como o mercado de descartáveis apresenta margens muito baixas, os produtores não investiriam em novos equipamentos. Além disso, para que desse certo, o projeto precisaria de escala, ou seja, seria necessário que outros produtores, além da Zanatta, também participassem do novo modelo de negócios para a fabricação de descartáveis. Para vencer mais esta barreira, a Braskem cedeu os equipamentos para os produtores de descartáveis em regime de comodato, desde que, estes fabricantes comprassem sua resina em regime de contrato e exclusividade. 4.3. Caso 3: Coleção Polibrasil Calçados A Suzano Petroquímica, maior produtora de polipropileno da América do Sul, iniciou em 2005, uma ação diferenciada para promover a entrada das resinas de polipropileno no mercado de embalagens para sapatos no Brasil, predominantemente ocupado pelas caixas de papelão (Suzano Petroquímica, 2006). A cadeia produtiva de calçados é dominada pelos compradores, ou seja, pela indústria de calçados e pelo varejo, que mais próximos aos consumidores, ditam as tendências e os direcionadores para a inovação de produtos. Então, como atuar de forma mais pró-ativa e inserir o polipropileno como alternativa de material neste setor? O ponto de partida da Suzano Petroquímica foi compreender o mercado e mapear onde estariam oportunidades para a criação de novos conceitos que introduzissem o polipropileno. A empresa, então, buscou parceria com a firma especializada em design para embalagens FuturePack. Juntas promoveram uma pesquisa com os principais fabricantes de calçados do Brasil. A partir da pesquisa realizada ficou mais claro para a Suzano Petroquímica que para entrar neste mercado com sucesso, alguns cuidados deveriam ser tomados: 1. Uma substituição simples de material não teria efeito positivo, pois não agregaria valor ao produto final, devendo investir no desenvolvimento de conceitos e design diferenciados, apostando na ampliação das funcionalidades da embalagem. A simples substituição do papelão colocaria o polipropileno numa condição de commodity e numa disputa de preços entre os fornecedores de materiais. 2. Os lojistas apresentaram custos elevados com a gestão de estoques, exigindo então no desenvolvimento uma solução para este problema. 3. Outra preocupação que poderia se configurar uma forte barreira à entrada do polipropileno, seria o investimento em novas máquinas para a produção das caixas de polipropileno. Entretanto, a parceria da Suzano Petroquímica e da Future Pack com alguns fabricantes de embalagens permitiu que as chapas de polipropileno pudessem ser impressas e cortadas nos mesmos equipamentos que fabricam as embalagens de papel cartão e microondulados. 11/15 ANAIS A agência Packing Design foi contratada para desenhar a coleção que serviria como porta de entrada da Suzano Petroquímica no setor de calçados para apresentar as propriedades do material polipropileno como uma alternativa ao uso do papelão. O conceito do desenvolvimento foi a união entre material e design para a fabricação de uma coleção que não apenas servisse como embalagem, mas que também pudesse decorar o ponto de venda e promover a diferenciação do produto. 4.4. Comparação dos Casos Apresentados A elaboração da tabela 2 permite uma comparação mais clara dos três casos apresentados para que a seguir pudessem ser identificadas duas observações importantes: 1) O desenvolvimento de novo modelo de negócios ocorreu quando a fonte da inovação estava localizada num agente que não possuía o comando da cadeia. No caso 1, o ator que deflagra o processo de inovação, a partir da observação de uma demanda dos consumidores é a indústria de alimentos, que comanda a cadeia produtiva e se alia a parceiros para o seu desenvolvimento. Não há um novo modelo de negócios. Nos casos 2 e 3, é a petroquímica quem deflagra o processo de inovação, e não o varejo e a indústria calçadista, os denominados agentes compradores que possuem o comando de suas cadeias produtivas. A indústria que percebe as oportunidades de substituição de materiais sucedâneos por suas resinas, denominada como agente fornecedor, não tem o comando nas cadeias produtivas em questão. A introdução de um novo material em um mercado não pode ser atendida apenas pela inovação de produto e processo, fazendo-se necessário o desenvolvimento de novos modelos de negócios. 2) Ao assumir novos papéis propondo um novo modelo de negócios a firma se associou a outros agentes que detinham as competências requeridas. Novamente nos casos 2 e 3, ficou claro que ao propor um novo modelo de negócios e assumir diferentes papéis e responsabilidades, as petroquímicas tiveram que se associar a agentes que possuíam as competências necessárias para o desenvolvimento das inovações. No caso dos descartáveis, a Braskem se aliou ao fabricante de descartáveis Zanatta para desenvolver o maquinário adequado para o processamento do PP de forma competitiva. Já a Suzano Petroquímica para introduzir o material PP como alternativa ao mercado de calçados, teve que se associar a Future Pack, firma detentora das competências exigidas para identificar as demandas da indústria calçadista e dos lojistas e para que junto à empresa de design Packing pudesse desenvolver os conceitos e as embalagens de PP. 12/15 ANAIS Tabela 3. Comparação dos Casos Apresentados. Caso 1: Unilever Maionese Hellmann´s Caso 2: Braskem Copos Descartáveis Breve descrição dos casos estudados Substituição do vidro pelo PET para embalagens de maionese Substituição do PS pelo PP no mercado de descartáveis Indústria/ Segmento Final Indústria Alimentícia Distribuição/ Varejo Indústria Calçadista Compradores (Buyer driven): Alimentos/varejo Compradores (Buyer driven: Distribuição/varejo Compradores (Buyer driven): Calçadista/varejo Indústria Alimentícia Indústria Petroquímica Indústria Petroquímica Transformador Transformador Consultoria de Design Não Sim Sim Tipo de Comando na Cadeia Agente(s) identificador(es) da necessidade ou demanda Agente(s) detentor(es) das competências necessárias para a inovação Novo modelo de negócios? Caso 3: Suzano Caixas de Sapato Substituição do papelão pelo PP no mercado de embalagens para calçados Fonte: Elaboração própria. 5. Conclusões e Discussões O estudo se propôs rediscutir abordagem convencional sobre as relações entre fornecedores e compradores nas cadeias produtivas, associando os conceitos de governança e iniciativas de inovação. Para ter a possibilidade de criar vantagens na cadeia produtiva, as firmas deveriam participar mais ativamente do processo de inovação, já que essas iniciativas abrem quase sempre uma janela de oportunidade pela necessidade de se estruturar um novo modelo de negócios. A análise da governança e do tipo de comando que é estabelecido numa cadeia produtiva permite maior compreensão das relações entre as firmas e identificação das bases que constituem a arquitetura industrial dominante. Esse estudo abre para as firmas espaço importante para rever seus papéis atuais e compreender como podem alterá-los para promover maior participação na cadeia produtiva. A análise da governança na cadeia produtiva de embalagens plásticas para a indústria de alimentos levou a identificação do comando nos compradores, a indústria de alimentos e varejo, por estarem próximos da demanda, direcionando o processo de inovação. A indústria de alimentos e o varejo determinam os papéis dos outros atores, conferindo maior poder para estes agentes. É importante destacar que embora as cadeias sejam dominadas pelos compradores há diferenças nas relações de poder, já que no caso das embalagens complexas, há maior relacionamento entre os atores, pois as transações não são facilmente codificadas. A base de fornecedores não é tão ampla quanto no caso das embalagens simples (produtos mais commoditizados), o que de alguma forma altera a forma de governança. 13/15 ANAIS A proximidade com o consumidor final do varejo e da indústria de alimentos enriquece seus conhecimentos sobre as tendências de comportamento e consumo, e logo, leva a leitura dos direcionadores da inovação, fortalecendo sua atuação na cadeia produtiva. O poder não é concedido apenas porque as indústrias de alimentos e o varejo estão cada vez maiores, mas porque orientam a cadeia produtiva, liderando as iniciativas de inovação. Esse poder é que lhe confere a decisão por um tipo de material ou embalagem que poderá trazer vantagens ou desvantagens para a cadeia de plásticos. Então, para que a indústria petroquímica possa obter maiores vantagens na cadeia produtiva se tornará obrigatório participar mais ativamente do processo de inovação. Isto porque o processo de inovação quase sempre abre uma janela de oportunidade através da necessidade por uma nova estrutura de modelo de negócios. Uma atuação mais firme pode significar abocanhar papéis distintos que vão além do mero papel como fornecedor de resinas. A identificação de que o poder está localizado nos compradores, como no caso da cadeia de embalagens plásticas para a indústria de alimentos, não é suficiente para compreender as relações entre fornecedores e compradores e identificar oportunidades para um determinado agente aumentar sua participação na divisão de ganhos. Após a identificação do comando e do mapeamento das transações, as firmas devem propor diferentes modelos de negócios e estratégias se quiserem capturar maior valor nas cadeias produtivas. Se num mesmo segmento pode haver diferentes tipos de relacionamentos entre fornecedores e compradores e, portanto diferentes tipos de governança, recomenda-se à petroquímica e à indústria de transformação aplicar este tipo de abordagem em suas análises estratégicas de relacionamento com o mercado e seus clientes. Em dois dos três casos explorados no trabalho que abordaram mudanças na atuação da indústria petroquímica, a simples inovação do produto não garantiria o sucesso desejado. Se Braskem e Suzano Petroquímica não assumissem outros papéis na cadeia produtiva, não conseguiriam desenvolver novos mercados para o polipropileno. O que há em comum entre os casos e que deve ser destacado é a proposta de implementação de novos modelos de negócios, baseados na articulação da petroquímica para atribuir papéis e responsabilidades entre os diferentes atores na viabilização dos projetos. As iniciativas de inovação, citadas, como oportunidades para reformulação dos papéis dos atores na cadeia produtiva, só poderão ser desenvolvidas a partir de relações do tipo “ganha-ganha” entre fornecedores e compradores, o que difere das abordagens da Teoria de Custos de Transação, voltadas para a minimização dos custos e dos riscos envolvidos nas transações (riscos de oportunismo) e, também da abordagem de Gereffi, voltada para a análise da cadeia pelas relações de poder e rivalidade, que resultam numa distribuição das atividades orientada pela maximização dos lucros. Estes atores podem desenvolver novos mercados juntos, formando alianças e cooperações. A petroquímica deve se aproximar dos utilizadores finais (a indústria de alimentos, bebidas, higiene, limpeza, cosméticos, farmacêutica e outros) junto com os transformadores, lembrando que estes possuem competências necessárias para o processo de inovação. O estudo reforça a importância das competências relacionais, devendo a petroquímica investir em estruturas organizacionais que permitam a maior aproximação com outros atores da cadeia para a troca de informações e conhecimento, insumos imprescindíveis para o processo de inovação. Sugere-se que o conceito de governança seja aprofundado com o estudo de outros segmentos finais consumidores de resinas plásticas e outras cadeias produtivas, como por exemplo, as cadeias metalúrgicas, que também os produtores de materiais estão longe do produto final e parecem não deter a governança, enfrentando fortemente o processo de comoditização dos seus produtos e pressão sobre suas margens. 14/15 ANAIS 6. Referências Bibliográficas ALIMENTOS em Alta, Revista Embanews, p 22-28, maio 2005. DESENVOLVIMENTO de Modelo de Negócio, Processo e Equipamento de Alta Produtividade para a Produção de Copos Descartáveis de Polipropileno. In: Palestra Braskem no Prêmio FINEP de Tecnologia e Inovação. 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