Aproveite os momentos favoráveis
Álvaro Modernell
Seu filho gosta de futebol? Adora uma bola? Tem no sangue o
esporte bretão mais brasileiro do mundo? Aproveite essa paixão para ensinarlhe lições de Educação Financeira. Ele vai se interessar como ninguém. Será
divertido e todos sairão ganhando.
É claro que isso vale também para a sua filha que adora bonecas, o garotão que
quer uma guitarra ou a mocinha que gosta de andar na moda.
Aproveite a maré. Quem nada contra a corrente é Mané. E você, claro, não
está nessa categoria.
A Educação Financeira deve ser prazerosa. Não precisa necessariamente de
livros, de salas de aula ou de professores experientes. É claro que isso ajuda, e
muito. Mas quem não tem cão caça com gato e é melhor aproveitar momentos
em que a criança ou o jovem está receptivo. Tudo funciona melhor.
Os melhores educadores financeiros que as crianças podem ter são os próprios
pais, quando atentos a essa necessidade e minimamente informados sobre
teorias e técnicas hoje disponíveis.
Voltemos a seu filho que gosta de futebol. Talvez ele esteja precisando de uma
chuteira ou tênis novo, ou quem sabe ele está querendo uma bola. Ou talvez o
time dele tenha sido campeão recentemente ou esteja prestes a ser (Talvez
ele seja um feliz Colorado!).
Veja quantas oportunidades para boas lições de Educação Financeira:
1 – Querer x Precisar
Seu filho quer ou precisa de um tênis novo? Ajude-o a perceber as diferenças
entre uma coisa e outra. Depois de satisfeitas as necessidades, aquilo que se
precisa, havendo condições financeiras pode-se também atender os desejos,
aquilo que se quer. Talvez ele precise de um tênis, mas certamente não precisa
de uma bola. Ele apenas deseja uma. Mas isso não é motivo para não comprar.
Basta que as diferenças fiquem claras.
2 – Escolha do modelo e marca
Nem todo carro precisa ser uma Ferrari para ser bom. Aliás, para usar no
campo ou em ruas de calçamento irregular nem seria a melhor opção. Ajude
seu filho a ter consciência sobre as condições financeiras da família. Tênis e
chuteiras já se tornaram produtos de moda. Os últimos lançamentos costumam
custar mais caros. Mas há várias opções que podem atender perfeitamente as
necessidades. Se ele alegar que as novas têm tecnologias indispensáveis,
lembre-o que as chuteiras que Pelé, Zico e Falcão usavam não tinham nada
disso. E dá para fazer gols tanto com uma chuteira preta mais simples quanto
com as coloridas e com marcas famosas reluzentes.
3 – Pesquisa de preços
Talvez essa seja a melhor hora de mostrar-lhe a importância de pesquisar
preços. Vale para modelos diferentes ou alternativas de pontos de venda. Vale
tudo. Desde pesquisar na Internet ou no jornal até sair por aí batendo pernas.
Aproveite para destacar que as lojas de shoppings têm um custo operacional
alto para proporcionar comodidade aos clientes e esse custo é repassado a nós,
consumidores. Às vezes as boas lojas de ruas oferecem condições bem melhores
que das lojas de shoppings. Vale a pena comparar.
4 – Qualidade e ética
Produtos falsificados versus verdadeiros. Comprar em lojas estabelecidas ou
camelôs? Exigir Notas Fiscais ou aceitar comprar produtos de sonegadores.
Arriscar comprar mercadorias roubadas e indiretamente contribuir com desvios
do comércio legal. Essas são questões para você pensar. Qual imagem e
estímulo deseja passar para seus filhos.
Vale a pena economizar uns trocados e arriscar a formação ética do seu filho?
5 – Escolhas e renúncias
Toda escolha implica em renúncias. Deixe seu filho fazer algumas escolhas. Se
ele quer a bola, deve abrir mão de outro desejo. A chuteira nova é tudo o que
ele quer? Você pode comprar? Então combine com ele que aquele carrinho deve
ser esquecido. Ele escolheu a bola.
6 – Quem guarda sempre tem
Isso não vale apenas para o dinheiro. Avalie junto com seu filho como foi a
conservação e os cuidados com a chuteira velha ou com a última bola que ele
teve.
Nessa hora vale valorizar e estimular as crianças que valorizam o que tem. E
tam várias formas de valorizar. Inclusive usando muito, aproveitando, fazendo
valer cada Real "investido" naquele bem.
Aquelas que usam, que conservam e que valorizam o próprio patrimônio devem
ser reconhecidas. E elogiadas. Talvez até recompensadas. Nessa hora uma
chuteira desgastada, castigada pela bola e pelo uso deve ser mais valorizada do
que outra que ficou o tempo todo no armário.
Comprou? É para usar. Foi útil e bem usada? Merece ganhar outra. Não cuidou?
Perdeu? Ficou pequena sem ter sido quase usada? Será que vale a pena comprar
outra? Conversem a respeito.
7 - Planejamento
Desejos de última hora devem ser questionados. Pedidos que persistem no
tempo, que demonstram real interesse, que vão atender desejos ou
necessidades firmes devem ser privilegiados. Uma bola pela qual se espera
alguns dias ou semanas certamente será mais valorizada do que outra que é
comprada no instante que é vista numa vitrine pela primeira vez.
8 - Forma de pagamento
Dinheiro não dá em árvores. Descontos são para quem pede. Dinheiro não
aceita desaforo.
São alguns ditados que representam sabedoria popular. Ensine seu filho a pedir
descontos e a negociar melhores condições de compra. Lembre-se que o seu
desejo de comprar não é maior do que o de vender do comerciante. Não se
envergonhe de pedir descontos, principalmente se for pagar à vista.
Com relação a isso, não admita outra forma de comprar uma bola ou chuteira.
Programe-se, organize suas finanças, mas compre e pague somente quando
puder fazer à vista. Já pensou continuar pagando prestações depois de a bola
ter furado?
Veja como são muitos os ensinamentos que podem ser passados no simples ato
de comprar uma bola. E nessa hora a garotada se mostra muito mais receptiva.
O que eles querem é a bola, mas se mostrarão mais dispostos a conversar, a
ouvir e a aprender. Eles farão tudo pela bola. Faça você a sua parte pela
Educação Financeira.
Prosperidade a todos.
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10/07/2009 - Aproveite os Momentos Favoráveis