13/08/2015
Boletim Informativo
Carta à Dilma!
Partilho a matéria seguinte para uma reflexão em torno de
VALORES que a jovem autora suscita na carta por ela escrita à
Presidenta Dilma, sem se deter em aspectos político-partidários.
Vale à pena ler!
Ir. Rosinha,RSCM – Animadora JPIC/PB
Carta à Dilma!
Postado por Simone de Moraes 15:54:00 02/07/2015
Crédito : Reprodução Facebook
Carta reproduzida do Facebook de Julia Dworkin
Dilma,
Eu vou falar diretamente com você. Sei que você não vai
ler isso aqui, mas eu gostaria de ter uma conversa com
você, de mulher pra mulher.
Eu não sou petista. Atualmente, me encontro recém incluída no debate
político, mas eu já sei que discordo demais de muitas políticas do PT. Me
considero de esquerda e minha oposição em nada se parece com a oposição
exercida pela direita conservadora e hipócrita do Brasil. Essa oposição que não
gosta de ver pobre comprando carro e empregada doméstica com direitos.
Minha oposição se deve à outras coisas, mas não vim falar delas. Só iniciei
essa introdução porque essa não será uma conversa sobre política. Será uma
conversa sobre você.
Eu lembro quando você se elegeu em 2010. Na época, eu não entendia
absolutamente nada de política e nem sequer votei em você. Mas eu lembro do
que eu senti quando te vi com a faixa presidencial pela primeira vez. Eu
lembro que mesmo eu não sabendo exatamente o que aquilo significava, eu
fiquei feliz. Eu fiquei confusa, estranhei bastante, mas ver alguém que poderia
ser minha mãe representando o Brasil, fez com que eu me sentisse mais
próxima à tudo.
Você começou a fazer parte da minha vida. O fato de você ser mulher fez isso:
eu me sinto próxima de você. Quando falo de política e de você, me sinto
falando de alguém que eu conheço e convivo. E isso não se deve ao PT e eu
não me sentia assim com o Lula ou com nenhum outro político. É estranho,
né? Eu não sei explicar. Mas pela primeira vez, eu me interessava quando a
figura de representatividade máxima falava na televisão. Eu gosto de te ver.
Adoro ver você falar na televisão. Nas últimas eleições, eu adorava ver
televisão e ouvir sua voz.
Essa semana te vi na televisão. Você estava abatida e com um semblante
triste. Pudera.
Eu nunca vi um presidente do Brasil passar pelo que você passou. Eu sequer
imagino o que você está sentindo depois de tantas adversidades, humilhações,
escárnios e críticas oportunistas. Nem mesmo o FHC, e eu lembro vagamente
de que ele era odiado por todo mundo na época.
Mas eu não vi o tipo de coisa que vejo as pessoas fazendo com você. Eu não vi
adesivos desrespeitosos, vaias, charges absolutamente machistas e que
ignoram totalmente sua posição nesse país. E eu imagino o que você deve
estar passando. Você é uma mulher que representa uma país machista e que
está em crise. Eu tenho plena consciência que você sabia o que tava por vir,
mas isso não quer dizer que você tenha que aguentar sozinha. Até porque
você não está sozinha e suas companheiras estão além da política. Como eu.
Vim aqui te dizer Dilma, que apesar das divergências políticas que tenho com o
governo, eu te admiro profundamente. Admiro sua história e sua postura.
Admiro sua coragem. E ouvir você falar me emociona, todas as vezes. Quero
te dizer que eu sofro e choro com você todas as vezes que te atacam de forma
pessoal, cruel e criminosa. Dói em mim. Toda vez que me deparo com esses
ataques, sempre penso em como você está se sentindo ao ver aquilo. E penso
em todas as vezes que isso já aconteceu comigo e com as mulheres que eu
gosto, não em nível nacional, mas ainda assim. Quando vejo os olhares que te
lançam e a forma que falam de você, lembro-me de quantas vezes enquanto
eu falava, homens me olhavam com aquele mesmo olhar de desprezo. E
quantas vezes falaram de mim de forma desrespeitosa e cruel. Lembro da
insegurança que sinto quando vou falar em público, lembro de como eu me
sinto ao falar em espaços que eu sei que todos acreditam não ser meu. Eu me
lembro o quanto é dolorido e difícil. E seu rosto abatido não mente.
Seu rosto abatido da última semana me representa. Representa todas as
mulheres atacadas, agredidas, silenciadas e humilhadas nesse país.
Seu rosto da última semana me lembra o quanto mulheres pagam mais caro.
Eu me preocupo com você, irmã. Minha admiração por você está para além do
governo ou do momento que estamos vivendo.
Porque apesar de QUALQUER COISA, foi você que ao colocar aquela faixa de
presidenta do Brasil disse pra mim que eu PODERIA CHEGAR LÁ. Você disse
pra todas as mulheres que aquilo era possível. Que nós existimos. E toda a sua
coragem diante dos ataques machistas e desumanos nos diz: Não só
existimos. Como RESISTIMOS e SOBREVIVEMOS. Você é parte da nossa
história.
E isso nunca NINGUÉM vai te tirar. E eles nunca entenderão o que isso
representa pra mim e pra muitas outras mulheres desse país. E nós jamais
esqueceremos de você. E também não esqueceremos do que fizeram contigo,
do desrespeito e da falta de humanidade. Não vamos esquecer do último dia
da mulher, quando um jornal colocou a representante máxima desse país de
joelhos em uma charge. Não vamos esquecer isso, pois foi um recado para
todas nós.
Você não tá sozinha Presidenta e eu vim te dizer que você deve sempre
lembrar quem você é. Nunca abaixe a cabeça. Não deixe que esses dias muito
duros te façam esquecer que você é uma sobrevivente, uma mulher, mãe, avó,
filha e a primeira mulher que disse pra nós: "um dia pode ser você".
Obrigada.
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Carta à Dilma!