pRIncÍpIos De MoBILIZaÇÃo Scott Thumma e Warren Bird 20 % da igreja produz 80% dos resultados. Mas isso não tem que ser assim. Por Scott Thumma, Ph. D., e Warren Bird, Ph. D. O que eu tenho que fazer para envolver mais pessoas? Por que os membros simplesmente não aparecem? Por que o nível de compromisso das pessoas é tão baixo? Se você é como a maioria dos líderes da igreja, não está satisfeito com a condição de tantas pessoas não envolvidas em sua igreja. De fato, todas as igrejas parecem enfrentar o mesmo problema central: o que vai motivar os membros mais desconectados a se moverem na direção do discipulado e viverem a fé em comunidade? Tome um minuto e considere como seria a sua igreja se 99 % do seu rebanho estivesse totalmente engajado – coração, mente, alma e forças. A mensagem de “Os Outros 80 %” é esta: se você prestar atenção nos seus membros menos envolvidos, eles se tornarão mais envolvidos. O nosso objetivo é ajudar você a reverter este padrão comumente observado de que 20 % dos membros da igreja fazem 80 % do trabalho. Também queremos desafiar a suposição de que aqueles 20 % merecem toda a sua atenção enquanto esses 80 % podem ser deixados sozinhos até o esperado dia em que eles cairão em si por conta própria e tomarão a iniciativa de se tornarem mais envolvidos. Este conceito 80/20 é uma versão do “Princípio de Pareto”, uma regra de ouro derivada de observações feitas pelo economista italiano Vilfredo Pareto, na virada do século XX. Ao pesquisar a distribuição da riqueza na Itália, ele percebeu que o padrão de distribuição mostrou um relacionamento desigual. A vasta maioria da riqueza era concentrada sobre relativamente poucos proprietários. Em 1906, especificamente, 80 % da terra na Itália era possuída por 20 % da população. Este princípio de distribuição, também conhecido como a regra 80/20 ou “a lei dos poucos vitais”, parece ser verdadeiro em muitos setores da sociedade. Em outras palavras, a maioria dos resultados vem da minoria dos esforços. Por exemplo: • Nos negócios, 20 % dos clientes tipicamente geram 80 % dos vendas; • Os 20 % mais ricos da população mundial controlam cerca de 80 % das receitas do mundo; • Nas ciências da computação, ao concertar 20 % dos erros mais relatados, 80 % dos erros podem ser eliminados; • Muitos estudos em criminologia mostram que 20 % dos criminosos cometem 80 % dos crimes. Na igreja, alguns poucos membros geralmente são responsáveis pela maioria dos esforços da congregação. (Sem falar que uma minoria dos membros causam a maioria das “dores de cabeça!”). Acreditamos que o Princípio de Pareto é um padrão de comportamento observado e aceito, mas não uma imutável lei da natureza para igrejas. Pode ser que 20 % da sua igreja seja ativa e 80 % permaneça à margem, mas isso não tem que ser assim. O mundo dos negócios sugere que para maximizar a sua receita com o mínimo de esforço e custo, você deve colocar o foco nos melhores clientes, apelar aos seus clientes mais ricos e recompensar os seus melhores funcionários, uma vez que é com estes que você irá colher o maior resultado com o menor esforço. O padrão bíblico para os empreendimentos do Reino é diferente. Não queremos sacrificar o ideal de 100 % de engajamento e envolvimento para diminuir custos e esforços. Em nenhum lugar da Bíblia são encorajados dois níveis de participação – os 20 % e os 80 % – para aqueles que seguem a Jesus. Da mesma forma, Deus comissiona os líderes da igreja a cuidarem de todo o rebanho, não apenas de 20 %. Cada criança, jovem e adulto é precioso aos olhos de Deus e devem ser nutridos e amadurecidos em nossas igrejas. foco na pessoa 19 www.foconapessoa.org.br O Que Você Ouve dos 20 % Comprometidos? O melhor passo inicial na direção de encorajar um envolvimento mais ativo é ouvir as razões pelas quais algumas pessoas são envolvidas e outras não. Se você escutar cuidadosamente as pessoas descritas aqui, sem dúvida alguma você terá sucesso em servi-los. Os 20 % comprometidos podem ser divididos em dois grupos. Um grupo é o dos que são comprometidos – aqueles com os níveis mais altos de participação. Eles tendem a ser pessoas centrais para os líderes da igreja. Eles estão engajados com espírito, emoção e energia. O outro grupo é representado por pessoas que estão se movendo na direção de um compromisso maior. Este grupo se tornou cada vez mais envolvido nos últimos dois anos. Os seus membros mais envolvidos são exatamente isso, envolvidos. Não surpreende o fato de que eles doam mais, frequentam assiduamente, convidam outras pessoas para a igreja, participam de pequenos grupos, têm amigos mais próximos na igreja e estão na igreja há mais tempo do que os menos envolvidos. É provável que este grupo seja mais velho. Eles geralmente são casados. Adicionalmente, estas pessoas têm um claro e profundo senso da identidade da igreja e sabem como ela é diferente das outras. Eles não apenas sabem as crenças fundamentais da Igreja, mas também são mais prováveis de acharem fácil contar a outras pessoas quais são os seus diferenciais. Acima de tudo, eles estão pessoalmente confortáveis com esta identidade. Da mesma forma, eles têm uma visão otimista da congregação. Eles percebem o estado de espírito da congregação num nível mais elevado do que as pessoas menos envolvidas. Eles também concordam mais fortemente que há um senso de empolgação em relação ao futuro da igreja. Adicionalmente, eles percebem mais do que os outros membros que a congregação está pronta para experimentar coisas novas. Em relação à comunidade congregacional, eles são mais inclinados a perceberem os membros como pessoas, e muito provavelmente irão ajudar uns aos outros quando estiverem enfrentando problemas. Eles afirmam com mais veemência do que os demais membros que fatores como os amigos, educação adulta e envolvimento com a comunidade os mantêm na igreja. É muito provável que eles afirmem que os cultos e as atividades da igreja os ajudam em sua vida diária. Eles também foco na pessoa 20 www.foconapessoa.org.br © Photo Studio | Fotolia afirmam com convicção que a igreja os encoraja a servir ao mundo vivendo de maneira mais relevante na sociedade. Para este grupo, estar na igreja faz diferença na vida espiritual deles. Eles afirmam confiantemente que cresceram consideravelmente na fé no último ano. Ouvindo Por Que Eles São Comprometidos Nenhuma destas descobertas são uma grande surpresa para o pastor que está ligado em sua congregação. Afinal, na maioria do tempo, ele interage exatamente com este grupo. Entretanto, é importante refletir sobre esse grupo para entender por que eles se tornaram tão envolvidos. O que exatamente é isso que eles amam tanto na igreja e nos líderes que os motivam a serem tão engajados? O nosso estudo revelou que este grupo está envolvido na vida da igreja em muitos níveis. Juntos, os múltiplos envolvimentos contribuem para o senso de satisfação espiritual e enriquecimento pessoal destes membros. A nossa sugestão é que você pode e deve continuar a fortalecer estas conexões e envolvimentos que aumentam a participação e tornam a vida congregacional ainda mais significativa espiritualmente para os seus membros mais comprometidos. Os seguintes comentários de pessoas altamente comprometidas sugerem maneiras pelas quais eles se engajaram e também o desejo que eles têm de estabelecerem novas conexões: “Minha esperança é que ao mesmo tempo em que eu cresço em minha fé pessoal, eu seja capaz de contribuir com os meus dons e talentos.” “É muito raro que você se una a uma igreja que oferece muitas oportunidades para o ministério. Há muito mais oportunidades para o ministério aqui do que na igreja de onde eu vim, e foi isso que fez a diferença [para que eu pudesse me envolver].” Você não quer esgotar ou exaurir este grupo estelar. Você também não quer que eles fiquem estagnados e venham se sentir não apreciados, desengajados ou vazios espiritualmente. Sem desafios e recompensas pessoais adequadas, tais como prover treinamento para que eles sejam melhores líderes, aumentar o senso de responsabilidade deles, reconhecer um trabalho bem feito, eles podem ser desviados para o sentimento de que estão apenas ocupados na igreja. Ao mesmo tempo, é importante identificar e ouvir aqueles cujo envolvimento aumentou nos últimos dois anos. De fato, em certo sentido, é mais importante ouvir este grupo do que aqueles que já foco na pessoa 21 www.foconapessoa.org.br foco na pessoa 22 www.foconapessoa.org.br As principais diferenças entre os dois grupos é que aqueles que estão aumentando a participação tendem a ser mais jovens; a distância da igreja não faz diferença, a menos que eles tenham que dirigir por mais de trinta minutos, eles são solteiros ou estão em um relacionamento estável. Eles indicam que a igreja tem se esforçado para envolvê-los e tem provido oportunidades para funções de liderança. Não surpreendentemente, pessoas que estão aumentando a participação provavelmente serão encontradas em igrejas que têm um nível pequeno de conflitos ou Fotos: ©Sergey Nivens e tiero | Fotolia são comprometidos. Aqueles que já estão engajados há muito tempo podem dizer o que você fez certo. Os que estão se tornando mais envolvidos podem te ajudar a saber o que você está fazendo atualmente para facilitar o envolvimento e crescimento deles. Uma das melhores formas de identificar este grupo é através de uma pesquisa que inclua perguntas como essa: “Como a sua participação nas atividades desta igreja mudou nos últimos dois anos?” (As opções de resposta que nós usamos foi (1) aumentou, (2) permaneceu o mesmo, (3) diminuiu, e (4) ainda não estou aqui há dois anos.) Você também pode convidá-los a selecionar a seguinte opção: “No final deste mês, queremos oferecer um treinamento especial para pessoas que se tornaram mais envolvidas nos últimos meses. Se você aceitou uma nova responsabilidade, gostaríamos de honrá-lo, dar algumas orientações e oferecer ajuda bem prática”. Na maioria dos casos aqueles que aumentaram a participação recentemente são potencialmente “melhores participantes” em formação. O nível de atividade deles é bem parecido com o daqueles que são altamente comprometidos. não têm conflitos. Em essência, a participação aumenta quando um número de componentes estão presentes. É necessário que haja oportunidades de envolvimento (um departamento, um ministério ou uma nova responsabilidade), motivação para que a participação aumente (desenvolvimento espiritual, em alguns casos, filhos) e a habilidade de se envolver mais (tempo e saúde). Na visão destas pessoas, a igreja está sempre se esforçando para prover oportunidades de envolvimento elegendo, nomeando ou pedindo para que eles ajudem de alguma forma. Eles recebem treinamento para descobrir e desenvolver os seus dons, bem como apoio na hora de experimentar coisas novas. O motivo pelo qual eles aumentaram a participação é talvez a satisfação de ser “chamado” para um serviço maior ou ministério, usar os seus talentos para Deus ou simplesmente receberem reconhecimento e serem solicitados a ajudar. Para aqueles que aumentaram a participação, o senso de satisfação espiritual está diretamente relacionado com um maior envolvimento. Portanto, o segredo para engajar um número maior de pessoas é ajudá-las a fazerem mais do que até agora têm trazido satisfação espiritual para elas. foco na pessoa 23 www.foconapessoa.org.br O Que Você Ouve dos 80 % Menos Comprometidos Previsivelmente o perfil dos membros não comprometidos ou daqueles cuja participação diminuiu nos últimos anos parece o oposto dos membros comprometidos. Provavelmente estas pessoas estão faltando às reuniões, indo à universidade, mudando de emprego, lidando com doenças ou tendo dificuldades na família. Com frequência, supomos que muitos desses estão desconectados pois estão infelizes com o pastor ou com outros membros. Entretanto, muito daquilo que realça as circunstâncias para uma diminuição do envolvimento pode estar mais relacionado com questões espirituais do que com questões circunstanciais e experienciais. Pessoas menos envolvidas são caracterizadas por falta de motivação: a fé e o compromisso deles com a igreja estão em declínio. Suas oportunidades de envolvimento também diminuíram, eles não têm mais um lugar para servir ou não estão tendo tempo disponível para isso. A nossa pesquisa também mostrou que, surpreendentemente, depois de estar na igreja por dois anos, há um declínio no envolvimento. Se os fatores tempo de igreja e idade forem removidos, o único fator pessoal que parece contribuir para que haja uma diminuição no envolvimento de alguém é quão desordenada a família ou a vida dessa pessoa está. Talvez ela esteja passando por uma fase de grande estresse, pode ser que esteja se mudando ou tenha ficado doente. Nenhuma outra característica pessoal como nível de educação, renda, status em relação ao emprego, ocupação, configuração familiar, status conjugal ou o fato de ter filhos pareceu diminuir grandemente o nível de envolvimento, de acordo com a nossa pesquisa. Estas pessoas têm um senso vago e indefinido sobre aquilo que é importante para a igreja. Elas também demostram uma percepção mais fraca da visão da igreja. Adicionalmente, é menos provável que este grupo afirme que a igreja tem um propósito e uma visão claros. Como resultado, este processo de desconexão torna-se uma encosta escorregadia que os conduz à apostasia. Na verdade, talvez este grupo de pessoas seja o que deve ser escutado com prioridade pelos líderes da igreja. Eles são os que mais têm a compartilhar sobre o que não está funcionando. Eles são as bandeiras vermelhas, os sinais de alerta, os alarmes de emergência de uma congregação. Infelizmente, muitas vezes estas pessoas simplesmente são deixadas à deriva e escorregam silenciosamente para as margens da vida congregacional. foco na pessoa 24 www.foconapessoa.org.br O tópico comum nos comentários dos 80 % do rebanho que são menos conectados é que eles expressam o desejo de estarem conectados. Eles almejam serem mais envolvidos. Eles querem ser treinados e receber responsabilidades. Acima de tudo, eles querem ser preenchidos espiritualmente. Quando perguntamos aos menos envolvidos o que aumentaria o envolvimento deles, as respostas que eles deram indicam que eles poderiam se engajar novamente se a igreja fortalecesse três coisas: um culto significativo, cuidado pastoral e um ministério aos doentes, encarcerados e enlutados. Estas respostas sugerem que muitas necessidades não estão sendo supridas neste grupo de membros e isso está diminuindo ou diminuiu o envolvimento deles. Muitas destas necessidades são físicas ou sociais, mas frequentemente estão intimamente relacionadas à falta de desenvolvimento dos dons dos membros ou com a falta de treinamento e nutrição numa comunidade que traz satisfação espiritual. Conclusão: A maioria das igrejas é composta por cinco diferentes níveis de envolvimento: os altamente envolvidos, os que estão aumentando o envolvimento, os que estão diminuindo o envolvimento, os que estão envolvidos marginalmente e os não envolvidos. Até aqui apresentamos o perfil das pessoas que compõem estes grupos. O primeiro passo no sentido de mover os outros 80 % na direção de um alto envolvimento é identificar em que grupo cada uma destas pessoas se encontra. Os seguintes websites oferecem pesquisas adequadas para este processo de identificação: • www.hartfordinstitute.org/lidership/church_inventorry.html • www.usacongregations.org/survey.htm • www.batchgeo.com • www.gpsvisualizer.com/geocoder Entender o motivo pelo qual algumas pessoas são comprometidas e outras não é importante, mas isso não mostra como lidar com os outros 80 %. A verdade é que este problema não pode ser resumido como apenas pessoas indispostas e insatisfeitas. No próximo trimestre veremos um quadro maior em que outras dinâmicas estão em ação e impedem os outros 80 % de serem envolvidos. Até lá! O conteúdo deste artigo foi primeiramente publicado em: THUMMA, Scott e BIRD, Warren. The Other 80 Percent. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2011, pp.1-56. Para adquirir o livro, acesse www.wiley.com. SCOTT THUMMA Scott Thumma, Ph.D., é professor de Sociologia da Religião no Seminário Hartford e pesquisador no Instituto Hartford para Pesquisa de Religião. Scott é reconhecido como um dos principais pesquisadores e editores sobre estudos congregacionais. Ele também é editor do website Insights into Religion, que é financiado pela Lilly Endowment. WARREN BIRD Warren Bird, Ph.D., é diretor de pesquisa e desenvolvimento de capital intelectual para a Leadership Network. Pastor ordenado, ele serve como professor adjunto na Seminário Teológico Aliança. Warren é coautor de 22 livros, incluindo Culture Shift e Viral Churches, ambos publicados pela Jossey-Bass. foco na pessoa 25 www.foconapessoa.org.br