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27, 28 e 29 de outubro de 2009
XVII Congresso de Iniciação Científica
I Congresso de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação
ANÁLISE DA TANNERELLA FORSYTHIA EM PACIENTES COM
PERIODONTITE CRÔNICA
Rayanne Soraia Aguiar de Melo1; Ana Cláudia da Silva Araújo2
1
Estudante do Curso de Graduação em Odontologia - CCS – UFPE; E-mail: [email protected] ,
2
Docente/pesquisador do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-facial – CCS – UFPE.
E-mail: [email protected].
Sumário: A periodontite crônica é uma das causas de perda dentária em adultos, tendo
como principal fator etiológico as bactérias periodontopatogênicas. Este trabalho teve
como objetivo avaliar pacientes diagnosticados com periodontite crônica em relação à
presença do patógeno Tannerella forsythia (Tf), determinando a associação desse
periodontopatógeno com a idade, o sexo, a profundidade de bolsa periodontal, a presença
de placa e de sangramento gengival. Participaram do estudo 29 pacientes, dos quais foram
coletadas amostras microbiológicas para posterior análise através da técnica de PCR. Ao
final do estudo, verificamos que 46,6% das amostras analisadas apresentaram resultado
positivo quanto à presença de Tf. Das 27 amostras positivas, 37% foram coletadas em sítios
com profundidade de sondagem igual ou maior que 8 mm e em 77,8% foi observado
sangramento após sondagem. A associação entre essa bactéria e a profundidade de
sondagem, assim como com a presença de sangramento sugere que a severidade e o grau
de atividade da doença são modificados diretamente pela presença desse microorganismo.
Palavras–chave: PCR; periodontite; Tannerella forsythia
INTRODUÇÃO
A doença periodontal é a principal causa da perda dentária em adultos. A periodontite é
iniciada pela associação entre o biofilme e os dentes, desencadeando uma alteração na
resposta do hospedeiro que leva à inflamação nos tecidos moles e perda de osso alveolar
(RAMSEIER et al, 2009). É comumente aceito que a placa bacteriana dental é o agente
etiológico primário da doença periodontal. Mais de 400 espécies bacterianas têm sido
identificadas na placa subgengival, onde apenas um subconjunto dessa microbiota tem sido
implicada
na
patogênese
da
periodontite,
principalmente
Actinobacillus
actinomycetemcomitans (Aa), Porphyromonas gingivalis (Pg) e Tannerella forsythia (Tf)
(TORRUNGRUANG et al, 2009). Tf é um bastonete gram-negativo, anaeróbico,
sacarolítico, não-pigmentado. Por um longo tempo foi denominado Bacteroides fusiformes.
Posteriormente foi renomeado Bacteroides forsythus; e muito recentemente um novo nome
tem sido proposto e aceito, Tannerella forsythia. Seu habitat é o sulco gengival, e é
usualmente isolado de bolsas periodontais, apesar de sua presença também ter sido
detectada em tonsilas, dorso da língua e saliva (SANZ et al, 2004). A reação em cadeia de
polimerase (PCR) é uma técnica desenvolvida para amplificação do DNA in vitro, sendo
largamente utilizada em diversas áreas da biologia molecular. Esta técnica tem
possibilitado detectar e quantificar as bactérias presentes nas amostras de placa bacteriana
dos pacientes com maior especificidade e sensibilidade (SANZ et al, 2004). No Brasil,
poucos grupos de pesquisa têm se preocupado em estudar a microbiologia das
periodontites e, diante disso, realizamos a presente pesquisa na tentativa de elucidar o
papel do patógeno Tf na doença periodontal através da técnica de PCR, aprofundando essa
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linha de pesquisa ainda pouco explorada no nosso país, especialmente na população do
Nordeste.
MATERIAIS E MÉTODOS
A presente pesquisa foi realizada na clínica odontológica de pós-graduação do Curso de
Odontologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Participaram do estudo
pacientes de ambos os sexos, que foram diagnosticados como portadores de periodontite
crônica e que foram enquadrados em critérios de inclusão pré-estabelecidos. Após
explicação dos objetivos da pesquisa, foi solicitado que o paciente assinasse o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Para cada paciente foi preenchido um periograma, no
qual constava dados sobre: profundidade de sondagem, sangramento à sondagem, perda de
inserção clínica, mobilidade e presença de envolvimento de furca. Em seguida foi realizada
a coleta microbiológica através de cones de papel absorvente nº 30 dos dois sítios com
maior profundidade de bolsa do paciente, totalizando 58 amostras. Após esse procedimento
as mesmas foram transportados para Eppendorf e armanezados a -4ºC. Terminada as
coletas, iniciou-se a fase laboratorial com a extração de DNA, onde foi utilizada a matriz
comercial de purificação Kit Geneclean (Qbiogene, Inc.), seguindo o protocolo
determinado pelo fabricante. Em seguida realizou-se o processamento do PCR com auxilio
do termociclador (Biocycler), o qual consiste de três etapas: desnaturação, anelamento e
extensão. Os primers utilizados durante o PCR neste estudo foram espécie-específios e
para a porção 16S rDNA, onde a seqüência foi de acordo com Ashimoto et al. (1996), e a
temperatura de anelamento foi a mesma adotada por Ávila-Campos e Velásques (2002). Os
produtos da PCR foram submetidos à eletroforese em um gel de agarose a 1,5%, utilizando
o corante fluorescente Blue Green (LGC Biotecnologia, Brasil) e visualizadas,
posteriormente, em luz ultravioleta. Os géis foram fotografados para posterior análise. A
massa molecular padrão 100 pb ladder foi incluída na corrida de eletroforese. Os resultados
obtidos foram submetidos à análise estatística descritiva através da distribuição de
frequência, média, moda, mediana.
RESULTADOS
Quanto à presença da bactéria Tannerella forsythia, na maioria das amostras analisadas
(53,4%) não foi detectado o patógeno, enquanto em 27 (46,6%) apresentaram o resultado
positivo para a bactéria analisada. A maioria dos pacientes (48,1%) que apresentaram
amostras positivas para Tf possuía idade entre 41 e 50 anos, seguido da faixa etária de 30 a
40 anos (40,7%) e apenas 3 (11,1%) dos pacientes apresentaram idade superior a 51 anos.
O percentual de pacientes pertencentes ao sexo feminino (58,6%) que apresentaram
amostras positivas para o periodontopatógeno foi de 66,7%, enquanto no sexo masculino
apenas 33,3% apresentaram amostras positivas para Tf. Das 27 amostras positivas para o
periodontopatógeno, 18 (66,7%) localizavam-se em elementos posteriores, enquanto que 9
(33,3) foram encontradas na região dos elementos anteriores. Quando avaliado a
profundidade de sondagem, observou-se que a maioria (37%) das amostras positivas para
Tf foram encontradas em sítios com profundidade de sondagem maior ou igual a 8 mm,
seguido dos sítios com profundidade entre 6-7 mm (33,3%) e apenas 8 (29,6%) sítios
apresentaram profundidade de sondagem entre 4-5 mm. O sangramento à sondagem foi
observado em 21 (77,8%) dos sítios com amostras positivas para Tf, enquanto que 6
(22,2%) sítios positivos não apresentaram sangramento após a sondagem. Quanto à
presença de placa, observou-se que 10 (37%) sítios positivos para Tf possuíam presença de
placa, enquanto que 17 (63%) amostras não apresentavam placa dentária associada.
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DISCUSSÃO
Quando avaliada a presença de Tf, em estudos anteriores (NIBALI et al, 2008;
TORRUNGRUANG et al, 2009; TAVARES, 2006; TAVARES, 2007; ÁVILA CAMPOS
e VELÁSQUES, 2002, ASHIMOTO, 1996) a porcentagem dos indivíduos com
periodontite crônica que apresentaram o patogéno foi superior a 50%. No presente estudo,
o número de amostras positivas para Tf foi inferior a esse valor, concordando com
resultado apresentado por Tanner et al (2007). Entretanto, esse estudo está sendo um dos
primeiros a avaliar a microbiota de pacientes com periodontite crônica no nordeste;
portanto, esses resultados podem sugerir que a população estudada apresente uma menor
prevalência deste patógeno. Tavares (2007) afirma que, no Brasil, estudos epidemiológicos
estabelecendo a relação saúde-doença são frequentes; todavia, aqueles que se referem a
problemas específicos, como o perfil periodontal das populações, são escassos,
dificultando comparações. Como sugere Torrungruang et al (2009) e Tavares (2006), a
discrepância entre os estudos pode ser decorrente das diferenças nos protocolos de
detecção das bactérias, etnia, localização geográfica e a condição periodontal da população
estudada. Em relação às amostras positivas para Tf; a maioria localizava-se em elementos
posteriores, porém sem apresentar placa dentária associada, o que foi divergente da
pesquisa de Luba (2006), onde a maioria dos sítios dos pacientes com periodontite crônica
apresentava placa visível. No estudo de Tanner et al (2007) foi avaliada a presença de Tf
em relação aos elementos dentários, o qual concluiu que os molares apresentaram os níveis
mais elevados do patógeno, assim como a presente pesquisa. A maior parte dos sítios onde
foi detectada a presença de Tf encontravam-se com profundidade de sondagem (PS) maior
ou igual a 8 mm e apresentaram sangramento à sondagem. Em relação a PS, no estudo de
Luba (2006) e Mineoka et al (2008), a maioria das amostras positivas para Tf foram
coletadas de sítios com PS maior ou igual a 7 mm e quanto ao sangramento á sondagem
também há concordância com o presente estudo. O fato das amostras positivas terem sido,
na maioria, coletadas de sítios profundos (≥ 8 mm) e com sangramento à sondagem é
relevante, pois sugere que a presença de Tf pode estar associada a níveis mais avançados e
ativos da periodontite crônica. Wara-aswapati et al (2009) dizem que a detecção de Tf,
além de associada à periodontite crônica, está também ligada à severidade da doença, o que
vem a reafirmar nossas suposições.
CONCLUSÕES
A associação entre a bactéria Tannerella forsythia e a profundidade de sondagem, assim
como com a presença de sangramento sugere que a severidade e o grau de atividade da
doença são modificados diretamente pela presença desse microorganismo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Profª Ana Cláudia da Silva Araújo, a Profª Renata Cimões Jovino Silveira e a
mestranda Bruna de Carvalho Farias pelo acompanhamento e orientação que me foi dada
durante a realização desse trabalho. Agradeço também ao CNPq pelo apoio financeiro.
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análise da tannerella forsythia em pacientes com periodontite crônica