Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte Valor da pesquisa de corpo inteiro com baixa atividade de radioiodo na avaliação de controle após a terapia inicial e evolução em longo prazo em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide e risco intermediário ou alto de recidiva. Mariana de Souza Furtado Belo Horizonte, 2012 I Mariana de Souza Furtado Valor da pesquisa de corpo inteiro com baixa atividade de radioiodo na avaliação de controle após a terapia inicial e evolução em longo prazo em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide e risco intermediário ou alto de recidiva. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Medicina. Orientador: Pedro Weslley Souza do Rosário Belo Horizonte, 2012 II Mariana de Souza Furtado Valor da pesquisa de corpo inteiro com baixa atividade de radioiodo na avaliação de controle após a terapia inicial e evolução em longo prazo em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide e risco intermediário ou alto de recidiva. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Medicina. Orientador: Pedro Weslley Souza do Rosário Aprovada em: 04/06/2012 BANCA EXAMINADORA Nome (orientador): Pedro Weslley Souza do Rosário Instituição: Santa Casa de Belo Horizonte Nome: Alberto Aloysio Larcher de Almeida Instituição: Santa Casa de Juiz de Fora Nome: Gustavo Cancela e Penna Instituição: Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais III IV Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte Provedor: Saulo Levindo Coelho Coordenador do Programa de Pós-graduação em Medicina e Biomedicina: Prof. Dr. José Augusto Nogueira Machado Chefe da Clínica de Endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte: Prof. Dra. Maria Regina Calsolari Coordenador do Ambulatório de Câncer de Tireoide da Santa Casa de Belo Horizonte: Prof. Dr. Pedro Weslley Souza do Rosário V O presente trabalho foi realizado nos seguintes serviços da instituição: Ambulatório de Câncer de Tireoide da Clínica de Endocrinologia e Metabologia da Santa Casa de Belo Horizonte. Serviço de Medicina Nuclear da Santa Casa de Belo Horizonte. Colaboradores: Augusto Flávio Campos Mineiro Filho Rafaela Xavier Lacerda VI Ao meu marido, Fabrício, companheiro em todos os momentos e grande incentivador desse trabalho. À minha filha, Carolina, que tão pequenininha teve que conviver com a ausência da mãe em tantos momentos preciosos. VII AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço ao Pedro, meu orientador e professor, por me ensinar endocrinologia de forma tão brilhante e motivadora. Agradeço toda a atenção e empenho dispendidos por você durante o meu mestrado. Ao serviço de Endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte, por me acolher mais uma vez. Ao serviço de Medicina Nuclear da Santa Casa de Belo Horizonte, pelas informações fornecidas. Aos meus professores do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte, pelos ensinamentos. Aos meus colegas da Pós-graduação, pelo agradável convívio e troca de experiências. À minha mãe, pelo carinho e ajuda em tudo que precisei. Ao meu pai e minha irmã, pelo carinho e apoio. Ao meu marido, por tudo que fez por mim para que esse mestrado se tornasse possível e por cuidar com tanto carinho da nossa filha durante a minha ausência. VIII RESUMO Introdução: O objetivo do estudo foi determinar o valor da pesquisa de corpo inteiro com baixa atividade de radioiodo (d-PCI) na avaliação de controle após a terapia inicial em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide, de risco intermediário ou alto, e a taxa de recidiva em longo prazo naqueles sem doença aparente inicialmente. Métodos: Foram selecionados 318 pacientes com carcinoma diferenciado de tireóide (CDT) considerados de risco intermediário ou alto, submetidos à tireoidectomia total seguida da ablação de remanescentes com 131 I (3,7 ou 5,5 GBq, 100 ou 150 mCi), com pesquisa de corpo inteiro após a terapia com 131 I (t-PCI) sem metástases e captação em leito tireoidiano ≤ 2%; que na avaliação de controle (8-12 meses após ablação) apresentavam tireoglobulina durante a terapia com levotiroxina (Tg/T4) < 1 ng/ml, anticorpos antitireoglobulina (TgAc) negativos e ultrassonografia cervical sem anormalidades. Todos os pacientes foram submetidos à estimulação da Tg associada à PCI diagnóstica (dPCI). Pacientes sem doença aparente na avaliação de controle foram seguidos por 24 a 96 meses (média 60 meses). Resultados: Na avaliação de controle, a Tg estimulada permaneceu < 1 ng/ml em 253 pacientes (79,5%) e converteu a valores > 1 ng/ml em 65 (20,4%). Nenhum paciente apresentou captação ectópica (metástases) na PCI e 46 (14,4%) exibiam captação discreta (< 0,5%) em leito tireoidiano. Adicionalmente, FDG-PET e tomografia computadorizada mostraram metástases linfonodais em 2 pacientes com Tg após suspensão da levotiroxina > 10 ng/ml e micrometástases pulmonares em um paciente com Tg após TSH recombinante > 5 ng/ml. Durante o seguimento de longo prazo, quatorze pacientes (4,4%) recidivaram, sendo 5 com Tg estimulada inicial < 1 ng/ml. Nenhum caso de morte relacionada à doença foi registrado. A d-PCI não foi preditora de recidiva, independente dos valores de Tg estimulada. Conclusões: Concluímos que em pacientes com carcinoma diferenciado de tireóide com características histológicas de maior risco para recorrência, mas sem doença aparente na t-PCI e ultrassonografia cervical, que apresentam Tg basal < 1 ng/ml e TgAc negativos após a ablação, a d-PCI pode ser dispensada. Mesmo nesses pacientes de maior risco, quando a Tg estimulada permanece < 1 ng/ml, o risco de recidiva é baixo. IX Palavras chave: Pesquisa de corpo inteiro, Alto risco, Seguimento de longo prazo, Carcinoma diferenciado de tireoide X ABSTRACT Background: The objective of this study was to evaluate the value of diagnostic whole-body scanning (DxWBS) in the control assessment after initial therapy of patients with differentiated thyroid cancer at high or intermediate risk of recurrence, and to determine the long-term recurrence rate for those without initially apparent disease. Methods: A total of 318 patients with differentiated thyroid carcinoma classified as high or intermediate risk and submitted to total thyroidectomy followed by remnant ablation with 131 I (3.7 or 5.5 GBq, 100 or 150 mCi) were selected. Patients whose post-therapy whole-body scan (RxWBS) showed no metastases and uptake in the thyroid bed ≤ 2%, and who presented thyroglobulin levels during L-T4 therapy (Tg/T4) < 1 ng/ml, negative anti-Tg antibodies (TgAb), and no anomalies upon neck ultrasound were included. All patients were submitted to Tg stimulation combined with DxWBS. Patients without apparent disease in the control assessment were followed up for 24 to 96 months (60 months). Results: In the control assessment, stimulated Tg continued to be < 1 ng/ml in 253 (79.5%) patients and converted to levels > 1 ng/ml in 65 (20.4%). None of the patients presented ectopic uptake (metastases) on DxWBS, and 46 (14.4%) showed discrete uptake (< 0.5%) in the thyroid bed. In addition, FDG-PET and CT revealed lymph node metastases in two patients with Tg after L-T4 withdrawal > 10 ng/ml and lung micrometastases in one patient with post-rhTSH Tg > 5 ng/ml. Fourteen (4.4%) patients relapsed during long-term follow-up, including five with initial stimulated Tg < 1 g/ml. There was no case of disease-related death. DxWBS had no prognostic value for recurrence, irrespective of stimulated Tg levels. Conclusions: DxWBS can be avoided in patients with differentiated thyroid carcinoma and histological data indicating a high risk of recurrence but without apparent disease upon initial RxWBS and neck ultrasound, who present basal Tg < 1 ng/ml and negative TgAb after ablation. The recurrence risk is low even in these higher risk patients when stimulated Tg continues to be < 1 ng/ml. Key-words: Diagnostic Whole-Body Scanning; High Risk; Long-term Follow-up, Differentiated thyroid cancer. XI LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação TNM para carcinoma diferenciado de tireoide. 4 Tabela 2. Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Sociedade Latino Americana de Tireoide. Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Associação Europeia de Tireoide. Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Associação Americana de Tireoide. Protocolo recomendado para PCI diagnóstica com baixa atividade de radioiodo. Síntese de estudos anteriores sobre o valor da PCI diagnóstica na detecção de metástases em pacientes com Tg/T4 < 1 ng/ml sem metástases conhecidas após a terapia inicial. Recidiva em longo prazo em pacientes sem doença aparente na primeira avaliação. Características dos pacientes estudados com relação ao sexo, idade, subtipo histológico, invasão vascular, tamanho do tumor, invasão extratireoidiana, metástases linfonodais, multicentricidade e classificação TNM. Resultados da Tg estimulada e d-PCI em pacientes com Tg/T4 < 1 ng/ml, TgAc negativos e ultrassonografia cervical sem anormalidades 8-12 meses após a terapia inicial. Taxa de recidiva em longo prazo em pacientes sem doença aparente na avaliação de controle, de acordo os valores da Tg estimulada. Características dos pacientes que apresentaram recidiva com relação ao sexo; idade; tipo histológico; classificação TNM; resultado e modo de preparo da sTg; resultado da d-PCI; intervalo, local e método de detecção da recidiva. Critérios propostos para dispensar a d-PCI na avaliação de controle após a ablação. 6 Tabela 3. Tabela 4. Tabela 5. Tabela 6. Tabela 7. Tabela 8. Tabela 9. Tabela 10. Tabela 11. Tabela 12. Tabela 13. 6 6 7 12 13 17 23 24 25 26 28 XII LISTA DE FIGURAS Figura 1. Figura 2. Avaliação de controle 6 a 12 meses após a terapia inicial dos pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide. Seguimento de longo prazo de pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide sem doença aparente na avaliação de controle (ou inicial). 10 19 XIII LISTA DE ABREVIATURAS CDT Carcinoma diferenciado de tireoide d-PCI Pesquisa de corpo inteiro diagnóstica com baixa atividade de iodo FDG-PET Tomografia com emissão de pósitrons com fluorodeoxiglicose LT4 Levotiroxina PAAF Punção aspirativa por agulha fina PCI Pesquisa de corpo inteiro com radioiodo rhTSH TSH recombinante humano RNM Ressonância Nuclear Magnética sTg Tireoglobulina estimulada TC Tomografia computadorizada Tg Tireoglobulina TgAc Anticorpos antitireoglobulina Tg/T4 Tireoglobulina dosada em uso de levotiroxina TSH Hormônio tireotrófico TNM T: Tamanho do tumor, N: Linfonodos regionais, M: Metástases à distância t-PCI Pesquisa de corpo inteiro após terapia com US Ultrassonografia VPN Valor preditivo negativo 131 I XIV SUMÁRIO Resumo ................................................................................................................... VIII Abstract ...................................................................................................................... X Lista de tabelas ......................................................................................................... XI Lista de figuras ......................................................................................................... XII Lista de abreviaturas ............................................................................................... XIII 1. Introdução ............................................................................................................. 1 1.1. Estadiamento pré-operatório .......................................................................... 1 1.2. Objetivos do tratamento ................................................................................. 2 1.3. Tratamento do carcinoma diferenciado de tireoide ........................................ 2 1.4. Estadiamento pós-operatório e estratificação de risco do paciente com carcinoma diferenciado de tireoide .......................................................................... 3 1.5. Avaliação de controle 6 a 12 meses após o tratamento inicial ....................... 7 1.5.1. Pacientes não submetidos à radioablação com 1.5.2. Pacientes submetidos à radioablação com 1.6. 131 131 I................................ 7 I ...................................... 8 Exames utilizados no seguimento ................................................................ 11 1.6.1. Pesquisa de corpo inteiro com radioiodo ............................................... 11 1.6.2. Ultrassonografia..................................................................................... 13 1.6.3. Tireoglobulina ........................................................................................ 14 1.6.4. Outros métodos de imagem .................................................................. 15 1.7. Seguimento em longo prazo nos pacientes sem doença aparente .............. 15 1.7.1. Pacientes não submetidos à ablação .................................................... 15 1.7.2. Pacientes submetidos à ablação ........................................................... 15 2. Objetivos do estudo ............................................................................................ 20 3. Pacientes e métodos .......................................................................................... 20 3.1. Critérios de inclusão ..................................................................................... 20 3.2. Avaliação inicial ............................................................................................ 20 3.3. Seguimento tardio ........................................................................................ 21 3.4. Métodos de imagem ..................................................................................... 21 3.5. Ensaios ........................................................................................................ 22 3.6. Análise estatística ........................................................................................ 22 4. Resultados .......................................................................................................... 23 XV 4.1. Avaliação de controle ................................................................................... 24 4.1.1. Tg estimulada e d-PCI ........................................................................... 24 4.1.2. Outros métodos de imagem .................................................................. 24 4.2. Seguimento em longo prazo dos pacientes sem doença aparente na avaliação inicial ...................................................................................................... 25 4.2.1. Taxa de recidiva e mortalidade .............................................................. 25 4.2.2. Valor prognóstico da d-PCI .................................................................... 25 5. Discussão ........................................................................................................... 27 6. Conclusões ......................................................................................................... 30 Referências bibliográficas ......................................................................................... 31 1 1. INTRODUÇÃO Os carcinomas diferenciados de tireoide (CDT) são provenientes das células foliculares, correspondem a cerca de 90% das neoplasias malignas dessa glândula e apresentam incidência anual de 8,7 casos para cada 100.000 habitantes 1,2, com aumento progressivo nas últimas décadas. Esse aumento provavelmente se deve a realização rotineira da ultrassonografia com maior frequência, pois tumores menores que 1 cm são responsáveis por 49% do incremento na incidência e tumores menores que 2 cm por 87%3. Apesar do aumento observado na incidência dos CDT, a mortalidade se manteve inalterada3. Os microcarcinomas (tumores menores que 1 cm) são tumores encontrados incidentalmente em 7,8% das autópsias no Brasil e, que, na maioria dos casos, não evoluem clinicamente, diferente dos tumores maiores4. Os carcinomas diferenciados de tireoide são subdivididos em carcinoma papilífero e carcinoma folicular, sendo o primeiro responsável por 85% dos casos e de melhor prognóstico. Algumas variantes do carcinoma papilífero possuem pior prognóstico, como a variante de células altas, células colunares e esclerosante difusa5. Outras variantes histológicas pouco diferenciadas e mais agressivas são a insular, trabecular e variante sólida6. Os carcinomas foliculares extensamente invasivos também apresentam pior prognóstico. 1.1. ESTADIAMENTO PRÉ-OPERATÓRIO No carcinoma diferenciado de tireoide, os linfonodos cervicais estão comprometidos em 20 a 50% dos casos7, sendo que a frequência de micrometástases pode atingir 90%, dependendo da sensibilidade do método utilizado8. No entanto, a relevância clínica das micrometástases é controversa. A ultrassonografia (US) cervical pré-operatória identifica metástases em 20 a 30% dos pacientes, podendo modificar a abordagem cirúrgica em 20% dos casos9; no entanto, identifica 50% das metástases encontradas na exploração cirúrgica10, sendo sua realização rotineira recomendada7,11. A presença das seguintes características arredondada, dos linfonodos ausência ou sugere não acometimento visualização do metastático: hilo forma hiperecogênico, hipoecogenicidade, degenerações císticas, calcificações e hipervascularização 2 periférica ou mista7,12. Outros métodos de imagem e dosagem de tireoglobulina sérica não são recomendados de rotina7. A tomografia computadorizada (TC), ressonância nuclear magnética (RNM), esofagoscopia ou laringo-traqueoscopia devem ser feitas apenas quando existe suspeita clínica ou ultrassonográfica de invasão extensa de estruturas adjacentes7,11,13. A confirmação de malignidade em linfonodos suspeitos é feita por punção aspirativa com análise citológica e dosagem de tireoglobulina, que pode ser realizada mesmo na presença de anticorpos antitireoglobulina (TgAc) circulantes14,15. O estadiamento é muito importante na definição da estratégia terapêutica e prognóstico. Os carcinomas diferenciados de tireoide são passíveis de cura mesmo na presença de metástases e a remoção cirúrgica do tumor é essencial para o sucesso do tratamento16. 1.2. OBJETIVOS DO TRATAMENTO O tratamento inicial do carcinoma diferenciado de tireoide tem como objetivo promover uma ressecção tumoral completa com morbidade mínima para o paciente; permitir um estadiamento tumoral adequado para definição de prognóstico; otimizar a radioablação com iodo, caso esta esteja indicada; permitir seguimento de longo prazo adequado e minimizar riscos de recidiva7,17. 1.3. TRATAMENTO DO CARCINOMA DIFERENCIADO DE TIREOIDE Pacientes classificados como muito baixo risco, com tumores menores que 1 cm, unifocais, variante clássica, intratireodianos, na ausência de história de irradiação cervical, podem ser tratados com lobectomia7,11,18. O tratamento do carcinoma diferenciado de tireoide > 1 cm se baseia na ressecção cirúrgica da glândula, através de tireoidectomia total ou quase total19, acompanhada de ressecção dos linfonodos aparentemente comprometidos. O esvaziamento profilático da cadeia cervical central é controverso e pode ser considerado especialmente em tumores mais avançados7. Os pacientes classificados como de muito baixo risco não necessitam de terapia adjuvante com 131 I e supressão do TSH. Se estes apresentarem tireoglobulina em uso de levotiroxina (Tg/T4) > 1 ng/ml ou metástases linfonodais na ultrassonografia cervical 3 a 6 meses após a tireoidectomia e não 3 tiverem recebido dose ablativa de 131 I deverão recebê-la11. Os demais pacientes deverão receber tratamento complementar com 131 I e ser mantidos sob supressão do TSH até a avaliação da terapia inicial. A radioablação com 131 I deve ser realizada sob estímulo do TSH com o objetivo de se otimizar a captação de iodo pelas células tireoidianas ou tecido tumoral. O preparo pode ser feito através da suspensão da levotiroxina por 4 semanas com o objetivo de se obter um TSH > 30 mUI/l7,11 ou através da administração do TSH recombinante humano (rhTSH)7,11,20, especialmente útil em pacientes com co-morbidades que podem ser agravadas pelo hipotireoidismo21,22. Também deve ser instituída uma dieta hipoiódica associada à redução da exposição ambiental ao iodo. Em pacientes de baixo risco a dose recomendada de 131 I é de 100 mCi, podendo ser considerada a administração de 30 mCi nos pacientes com remanescentes tireoidianos discretos ou captação em leito tireoidiano < 2%. Os pacientes de alto risco devem receber uma atividade de 100 a 150 mCi de 1.4. 131 11 I . ESTADIAMENTO PÓS-OPERATÓRIO E ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO DO PACIENTE COM CARCINOMA DIFERENCIADO DE TIREOIDE No pós-operatório, o mais recomendado é que os pacientes sejam estadiados de acordo com a classificação TNM, conforme exposto na Tabela 111,23. Esse sistema de estadiamento foi desenvolvido para predizer mortalidade e não risco de recorrência7. Os objetivos da estratificação de risco são: decisão quanto à necessidade de terapia adjuvante (radioablação e supressão do TSH), definição do prognóstico e forma de seguimento. Existem diversos sistemas propostos para estratificação de risco na tentativa de separar os pacientes de baixo e alto risco de recidiva tumoral. A precisão desses métodos é de 70 a 85%7. Na avaliação pós-operatória, a estratificação de risco se baseia nas seguintes variáveis: tamanho do tumor, presença de invasão tumoral em tecidos peritireoidianos, presença de metástases linfonodais ou metástases à distância, subtipo histológico agressivo, presença de invasão vascular7,11,18. 4 Tabela 1 – Classificação TNM para carcinoma diferenciado de tireoide. T (tumor) T1 tumor ≤ 2 cm ( T1a ≤ 1 cm T1b entre 1-2 cm) limitado à tireóide T2 tumor entre 2-4 cm limitado à tireóide N (Metástases linfonodais) M (Metástases distantes) N0 ausentes M0 ausentes N1a metástases no nível IV M1 metástases distantes T3 tumor > 4 cm limitado à tireoide N1b metástases cervicais ou de qualquer tamanho com (laterais) ou em mediastino invasão extratireoidiana mínima superior T4a tumor com invasão de subcutâneo, laringe, traqueia, esôfago ou laríngeo recorrente T4b tumor com invasão de fáscia pré-vertebral ou envolvimento de carótida ou vasos mediastinais Tx tumor com tamanho desconhecido e sem invasão Nx linfonodos não avaliados extratireoidiana Mx metástases à distância não avaliadas Estágios Pacientes < 45 anos Pacientes > 45 anos I Qualquer T, Qualquer N, M0 T1N0M0 II Qualquer T, Qualquer N, M1 T2N0M0 III T3N0M0 T1N1aM0 T2N1aM0 T3N1aM0 IVA T4aN0M0 T4aN1aM0 T1N1bM0 T2N1bM0 T3N1bM0 T4aN1bM0 IVB T4b, qualquer N, M0 IVC Qualquer T, qualquer N, M1 5 De acordo com as diretrizes de carcinoma diferenciado de tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Sociedade Latino Americana de Tireoide e Associação Europeia de Tireoide, são considerados de alto risco pacientes com tumores com diâmetro de mais de 4 cm ou invasão extratireoidiana ou metástases linfonodais ou à distancia ou com ressecção tumoral incompleta (Tabelas 2,3,4)11,24,18. São considerados de alto risco, de acordo com a diretriz da Associação Americana de Tireoide, os pacientes com invasão tumoral macroscópica, ressecção tumoral incompleta, metástases à distância e títulos muito altos de tireoglobulina (Tg) após a tireoidectomia; e de risco intermediário aqueles com invasão microscópica no tecido peritireoidiano, metástases em linfonodos cervicais, captação cervical fora do leito tireoidiano e tumores com histologia agressiva ou invasão vascular (Tabela 5)7. A diretriz da Associação Americana de Tireoide, na verdade, define como alto risco aqueles pacientes portadores de doença persistente, ou seja, aqueles nos quais o tratamento inicial não foi capaz de erradicar todo o tumor ou existem metástases aparentes. Esse conceito difere muito da classificação de risco das demais diretrizes que definem como alto risco aqueles sem doença aparente, porém com dados histológicos associados à maior risco de recidiva e/ou mortalidade. Esse sistema de estratificação de risco é estático e não inclui variáveis importantes relacionadas à resposta ao tratamento inicial, como os níveis de tireoglobulina no momento da ablação e a tireoglobulina estimulada (sTg) 6 a 12 meses pós-ablação, que é sabidamente um dos fatores mais importantes na definição do prognóstico25,26. Outros métodos para identificação de pacientes de maior risco de recidiva têm sido propostos na tentativa de melhor separar os grupos de alto e baixo risco de recorrência27. 6 Tabela 2 - Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Risco/ Fator T N M Ressecção tumoral T1a ou T1b, único N0 M0 Completa Baixo risco T1 multifocal ou T2 N0 M0 Completa Alto risco T3 ou T4 N1 M1 Incompleta prognóstico Muito baixo risco Tabela 3 - Estratificação de risco do CDT, de acordo com Sociedade Latino Americana de Tireoide. Risco/ Fator T N M Ressecção tumoral T1 ≤ 1 cm, único N0 M0 Completa N0 M0 Completa N1 M1 Incompleta prognóstico Muito baixo risco Baixo risco T1 > 1 cm ou multifocal ou T2 T3 ou T4 Alto risco Variantes histológicas agressivas Tabela 4 - Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Associação Europeia de Tireoide. Risco/ Fator prognóstico Muito baixo risco Baixo risco Alto risco T N M Ressecção tumoral T1 ≤ 1 cm, único N0 M0 Completa N0 M0 Completa N1 M1 Incompleta T1 > 1 cm ou multifocal ou T2 T3 ou T4 7 Tabela 5 - Estratificação de risco do CDT, de acordo com a Associação Americana de Tireoide. Risco/ Fator T prognóstico N M Ressecção tumoral N0 M0 Completa Tumor sem invasão vascular ou extra- Baixo risco tireoidiana e variante histológica não-agressiva Risco intermediário Alto risco 1.5. Completa ou Invasão microscópica ou variantes agressivas ou N0/N1 invasão vascular Invasão macroscópica microscopicamente M0 incompleta ou t-PCI com captação cervical ectópica Macroscopicamente M1 incompleta AVALIAÇÃO DE CONTROLE 6 A 12 MESES APÓS O TRATAMENTO INICIAL Após o tratamento inicial (tireoidectomia total, seguida ou não de radioablação com 131 I) todos os pacientes deverão receber reposição de levotiroxina. A terapia supressiva com levotiroxina está relacionada a um melhor prognóstico nos pacientes de alto risco28,29. O nível de supressão do TSH deve ser individualizado de acordo com a estratificação de risco. Nos pacientes de baixo risco o TSH deverá ser mantido inicialmente entre 0,1 e 0,5 mUI/l e, nos pacientes de risco intermediário e alto, abaixo de 0,1 mUI/l 7. 1.5.1. Pacientes não submetidos à radioablação com 131 I Caso o tratamento inicial tenha sido a tireoidectomia isolada, está indicada a realização de dosagem de tireoglobulina em uso de levotiroxina (Tg/T4), anticorpos antitireoglobulina (TgAc) e ultrassonografia cervical 6 meses após a tireoidectomia7,11. A presença de níveis de Tg/T4 < 1 ng/ml na ausência de TgAc e ultrassonografia cervical normal dispensa a estimulação da Tg e esses pacientes 8 são considerados livres de doença. Para pacientes não submetidos à ablação de remanescentes com 131I após a tireoidectomia, a pesquisa de corpo inteiro (PCI) não é recomendada7,11. 1.5.2. Pacientes submetidos à radioablação com 131 I Nos pacientes submetidos à radioablação, deverá ser realizada uma pesquisa de corpo inteiro pós-dose (t-PCI), 2 a 10 dias após a administração de 131 I acompanhada de dosagem de Tg estimulada e TgAc no momento da ablação 7,11. Metástases são detectadas na t-PCI em 10 a 26% dos pacientes30,31. 1.5.2.1. Pacientes com t-PCI positiva Nos pacientes submetidos à ablação em que a t-PCI surpreende captação ectópica (metástases), a terapia com 131 I é repetida até o desaparecimento dessa captação ou acúmulo de uma atividade de 600 mCi de 131I, sem a necessidade de se repetir a d-PCI entre os ciclos32. 1.5.2.2. Pacientes com t-PCI negativa Seis meses após a ablação, os pacientes devem ser submetidos à dosagem de tireoglobulina em uso de levotiroxina (Tg/T4), TgAc e ultrassonografia cervical7,11. São considerados em remissão os pacientes sem doença clinicamente detectável, com ultrassonografia cervical normal e Tg indetectável na ausência de TgAc. 1.5.2.2.1. Pacientes com t-PCI negativa e US positivo Se forem detectados linfonodos suspeitos à ultrassonografia, o paciente deve ser submetido à punção aspirativa com análise citológica e dosagem de tireoglobulina no aspirado. Caso seja confirmada malignidade, o paciente deve ser submetido a nova abordagem cirúrgica7,11. 9 1.5.2.2.2. Pacientes com t-PCI negativa, US negativo e Tg/T4 > 1 ng/ml Quando não há doença conhecida e a Tg/T4 ou basal (sem estímulo do TSH) encontra-se elevada, a propedêutica consiste na realização de outros métodos de imagem, inicialmente TC de mediastino e tórax; se esta não identificar metástases, o paciente deve ser submetido a t-PCI com 131 I 100 mCi, cintilografia de corpo inteiro com sestamibi, ou, se possível, FDG-PET11. Caso sejam detectadas metástases, as mesmas devem ser tratadas cirurgicamente sempre que possível. Caso não seja possível a remoção completa da lesão, nova dose terapêutica de 131 I deve ser administrada7,11. 1.5.2.2.3. Pacientes com t-PCI negativa, US negativo e Tg/T4 < 1 ng/ml 1.5.2.2.3.1. Baixo risco Caso a ultrassonografia cervical e a Tg/T4 sejam negativas na ausência de TgAc, deve-se obter uma Tg estimulada 9 a 12 meses após a ablação na vigência de níveis de TSH > 30 mUI/l obtidos após a suspensão da LT4 ou após estímulo do rhTSH7,11. Nos pacientes de baixo risco a utilização de ensaios ultrassensíveis para a dosagem da tireoglobulina pode dispensar a estimulação 7. 1.5.2.2.3.2. Alto risco Nos pacientes de alto risco deve-se associar a pesquisa de corpo inteiro diagnóstica com baixa atividade de radioiodo (d-PCI) à dosagem da sTg7,11,33,34 9 a 12 meses após a ablação. 1.5.2.2.4. Pacientes com TgAc positivo Na presença de anticorpos antitireoglobulina (TgAc) a Associação Europeia de Tireoide e a Sociedade Latino Americana de Tireoide, mas não a Associação Americana de Tireoide, indicam a realização de d-PCI 9 a 12 meses após a ablação7,18,24. Nessa situação, também pode ser feita a dosagem de Tg por radioimunoensaio, que sofre menor interferência de auto-anticorpos35. 10 Uma síntese das recomendações vigentes para a avaliação de controle 6 a 12 meses após a terapia inicial dos pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide está exposta na Figura 1. Figura 1 – Avaliação de controle 6 a 12 meses após a terapia inicial dos pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide. Tireoidectomia Pacientes não submetidos à ablação Pacientes submetidos à ablação Seguimento com Tg/T4, TgAc e US T-PCI T-PCI com metástases T-PCI negativa Nova dose de 131I até desaparecimento da captação ectópica Tg/T4, TgAc e US após 6 a 12 meses US com suspeita de recidiva locorregional Tg/T4 > 1 ng/ml e US negativo PAAF com citologia e dosagem de Tg TC, RNM, FDGPET e nova t-PCI Tg/T4 < 1 ng/ml,TgAc + e US negativo Tg estimulada e d-PCI Tg/T4 < 1ng/ml,TgAc - e US negativo Baixo risco Alto risco Tg estimulada Tg estimulada e d-PCI 11 1.6. EXAMES UTILIZADOS NO SEGUIMENTO 1.6.1. Pesquisa de corpo inteiro com radioiodo Os tumores diferenciados da tireoide preservam a capacidade de captarem iodo e de serem estimulados pelo TSH. Por esse motivo, a pesquisa de corpo inteiro com radioiodo é uma ferramenta útil no rastreamento de metástases nesses pacientes. A pesquisa de corpo inteiro (PCI) visa a detecção de tecido iodocaptante que pode corresponder a restos tireoidianos ou metástases de carcinoma diferenciado de tireoide36. Para a obtenção das imagens é necessária a suspensão da levotiroxina com o objetivo de se obter um TSH > 30 mUI/l ou administrar o TSH recombinante humano (rhTSH), além de limitar a exposição ambiental ao iodo associado à dieta pobre em iodo por um período de duas semanas7,11,37. A PCI com radioiodo pode ser feita após a tireoidectomia e antes da primeira dose ablativa (PCI pré-dose), com o objetivo de quantificar remanescentes tireoidianos e detectar metástases, poucos dias após terapia com 131 durante o seguimento em longo prazo usando-se baixa atividade de 131 I (t-PCI) ou I ou 123 I (d- PCI), com o objetivo de detectar recidivas36. As vantagens desse método são a capacidade de detectar metástases radiologicamente inaparentes, de demonstrar a habilidade do tumor de captar e, portanto, ser tratado com 131 I e sua elevada especificidade. As desvantagens do método são a necessidade de estímulo do TSH, necessidade de um preparo com restrição de iodo alimentar e ambiental, sensibilidade limitada para detecção de metástases linfonodais e risco de stunning no caso da d-PCI ou PCI pré-dose36. Nos pacientes submetidos à radioablação com 131 I a t-PCI deve ser obtida 2 a 10 dias após a iodoterapia. A PCI diagnóstica (d-PCI) é uma ferramenta considerada útil naqueles pacientes com pouco ou nenhum tecido tireoidiano remanescente38; no entanto, ela possui baixa sensibilidade naqueles pacientes em que a t-PCI foi negativa. O protocolo recomendado para a realização da d-PCI está exposto na Tabela 6 39. 12 Tabela 6 - Protocolo recomendado para PCI diagnóstica com baixa atividade de radioiodo. Recomendações Suspensão da levotiroxina TSH recombinante humano Período sem LT4 3 a 4 semanas antes Terapia com LT4 mantida Dieta hipoiódica 7 a 14 dias antes 7 a 14 dias antes Dosagem de Tg Imediatamente antes do iodo 72 após a administração da segunda e TgAc com TSH > 30 mUI/l ampola Atividade 1 a 5 mCi de 131 I ou 123 I 4 mCi de 131 I ou 123 I 24 a 72 h após a administração Obtenção da imagem do 131 I 6 a 48 h após a administração do 48 h após a administração do 131 6 a 48 h após a administração do I 123 I 123 I Devido à baixa sensibilidade e limitações técnicas do método em determinadas situações, a d-PCI está indicada no seguimento de um grupo selecionado de pacientes portadores de CDT 33,40. Somente em pacientes de risco alto ou intermediário ou com anticorpos antitireoglobulina e com Tg basal e ultrassonografia negativas após a terapia inicial, a d-PCI permanece indicada, combinada à dosagem da Tg estimulada7,24. Mesmo nestes casos, o valor da d-PCI tem sido questionado41. Em um estudo realizado por Cailleux e colaboradores, em 2000, foram seguidos 256 pacientes portadores de CDT sem sinais de doença aparente após a radioablação, 62% deles com indicadores de mal prognóstico, e a d-PCI foi negativa em todos42. Em outro estudo publicado por Pacini e colaboradores, no qual foram seguidos 340 pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide com o objetivo de se avaliar a acurácia dos exames disponíveis para detecção de recidiva tumoral, quando foi feita a subdivisão dos pacientes em alto e baixo risco, a acurácia da d-PCI associada à sTg foi menor que a ultrassonografia associada à sTg no subgrupo de baixo risco; no entanto, esta foi de 100% no subgrupo de alto risco33, sendo um dos motivos da manutenção da indicação da PCI nesse subgrupo de pacientes. No entanto, em um estudo recente publicado por de Meer e colaboradores, no qual foram acompanhados 112 pacientes portadores de DCT de alto risco, 8/112 13 pacientes tinham d-PCI positiva, em 6 deles as metástases eram cervicais e, sendo assim, passíveis de detecção à ultrassonografia, e um caso foi falso positivo. O valor preditivo negativo da sTg < 0,2 ng/ml foi de 100% 41. A maior parte dos estudos desenhados para avaliar o valor da d-PCI no seguimento do carcinoma diferenciado de tireoide foi realizada em pacientes de baixo risco ou em grupos não selecionados (Tabela 7). Uma síntese dos estudos que avaliaram o valor da d-PCI no seguimento de pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide está exposta na Tabela 720,33,42-52. Tabela 7 – Síntese de estudos anteriores sobre o valor da PCI diagnóstica na detecção de metástases em pacientes com Tg/T4 < 1 ng/ml, sem metástases conhecidas após a terapia inicial. Autores/ ano N Estratificação de risco US na avaliação inicial PCI diagnóstica com metástases Castagna e col. / 2008 78 Alto e baixo Sim 1/78 Pilli e col. / 2007 62 Baixo Sim 0/62 Pacini e col. / 2006 38 Baixo Não 0/38 Barbaro e col. / 2006 93 Baixo Não 0/93 Rosário e col. / 2005 113 Baixo Sim 1/113 Torlontano e col. / 2004 328 Baixo Sim 0/328 Torlontano e col. / 2003 87 Alto e baixo Sim 0/87 Pacini e col. / 2003 294 Alto e baixo Sim 5/294 Mazzaferri e col. / 2002 102 Alto e baixo Não 0/102 Giovanni e col. / 2002 45 Baixo Não 0/45 Haugen e col. / 2002 70 Baixo Não 0/70 David e col. / 2001 29 Alto e baixo Não 0/29 Cailleux e col. / 2000 195 Alto e baixo Não 0/195 1.6.2. Ultrassonografia A ultrassonografia cervical é um exame com alta sensibilidade na detecção de metástases cervicais e está indicada 6 a 12 meses após a cirurgia e periodicamente de acordo com a estratificação de risco do paciente. Linfonodos com as seguintes características são considerados suspeitos de acometimento metastático: ≥ 5 mm associado à presença de microcalcificações ou degeneração cística, forma 14 arredondada, ausência de hilo ecogênico e presença de hipervascularização periférica ou mista12. Na presença dessas características em linfonodos maiores que 5 a 8 mm deve ser realizada a punção aspirativa do linfonodo para análise citológica e dosagem de Tg no aspirado. Esse procedimento possui uma alta sensibilidade na detecção de metástases cervicais7,12. Linfonodos menores que 5 mm devem ser apenas seguidos com ultrassonografia7. 1.6.3. Tireoglobulina A tireoglobulina é uma glicoproteína produzida exclusivamente no tecido tireoidiano e usada como marcador tumoral para detecção de recidiva e/ou doença persistente nos carcinomas diferenciados de tireoide. Habitualmente, a dosagem da Tg é feita por ensaios imunométricos, que estão sujeitos à interferência de autoanticorpos. É interessante que se utilize sempre o mesmo ensaio devido a variações de resultado quando são utilizadas técnicas diferentes. Os ensaios devem ser calibrados para o padrão internacional CRM-457 7. Em tumores pouco diferenciados a Tg pode estar negativa mesmo na presença de recidivas. A presença de níveis séricos de Tg estimulada < 0,5 ng/ml na ausência de TgAc identifica 98 a 99,5% dos pacientes livres de doença no seguimento a longo prazo43,54. A Tg deve ser dosada a cada 6 a 12 meses, sempre acompanhada da avaliação da presença de TgAc. Com o objetivo de aumentar a sensibilidade do teste, deve ser feita uma estimulação da Tg 9 a 12 meses após a ablação através da suspensão da levotiroxina com o objetivo de se obter um TSH > 30 mUI/l ou administração de TSH recombinante (rhTSH). Quando são utilizados ensaios com sensibilidade funcional de 1 ng/ml para a dosagem da tireoglobulina, 20% dos pacientes com Tg/T4 negativa possuem Tg estimulada > 2,0 ng/ml55. Nos últimos anos ensaios ultrassensíveis com sensibilidade funcional de até 0,1 ou 0,2 ng/ml têm sido desenvolvidos para a dosagem de tireoglobulina com o objetivo de se dispensar a necessidade de estimulação com TSH. Em um estudo envolvendo 117 pacientes portadores de CDT de baixo risco, utilizando-se um ensaio de Tg com sensibilidade funcional de 0,2 ng/ml, foram encontradas uma sensibilidade de 93%, especificidade de 91% e acurácia de 91% com um valor preditivo negativo (VPN) de 99% quando se utilizou a dosagem de tireoglobulina em uso de levotiroxina (Tg/T4) associada à ultrassonografia cervical para a detecção de 15 metástases56. Malandrino e colaboradores encontraram resultados semelhantes na avaliação de 425 pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide utilizando um ensaio para dosagem de Tg de segunda geração com sensibilidade funcional de 0,1 ng/ml. O VPN encontrado foi de 98,6%, mesmo em pacientes com risco de recorrência intermediário ou alto57. 1.6.4. Outros métodos de imagem Outros exames como a tomografia computadorizada de tórax e mediastino, ressonância nuclear magnética e o FDG-PET são utilizados principalmente na detecção de metástases naqueles pacientes com Tg estimulada > 10 ng/ml em hipotireoidismo ou > 5 ng/ml após a administração de rhTSH com d-PCI e ultrassonografia cervical negativas11. O FDG-PET também tem se mostrado útil no estadiamento inicial de carcinomas tireoidianos pouco diferenciados, no carcinoma de células de Hurtle invasor ou metastático, como ferramenta de estimativa de prognóstico em pacientes com doença metastática, na seleção de pacientes com baixo potencial de resposta à radioiodoterapia e na avaliação de tratamento da doença mais avançada7. 1.7. SEGUIMENTO EM LONGO PRAZO NOS PACIENTES SEM DOENÇA APARENTE 1.7.1. Pacientes não submetidos à ablação Os pacientes não submetidos à ablação devem ser seguidos com exame clínico anual associado à dosagem de Tg/T4, TgAc e ultrassonografia cervical. O TSH inicialmente deve ser mantido entre 0,1 e 0,5 mUI/l até a verificação do sucesso terapêutico e, posteriormente, entre 0,3 e 2,0 mUI/l7. 1.7.2. Pacientes submetidos à ablação Os pacientes submetidos à ablação deverão ser seguidos com exame clínico anual e dosagem de Tg/T4 associada à TgAc. A ultrassonografia cervical deve ser realizada periodicamente no grupo de alto risco7. 16 1.7.2.1. Pacientes com Tg/T4 positiva Caso a Tg/T4 se torne > 1ng/ml durante o seguimento, devem ser realizados métodos de imagem (inicialmente a ultrassonografia cervical, seguida de TC de tórax e mediastino, RNM, FDG-PET e, caso negativos, alta atividade de 131 I pode ser administrada seguida da realização de uma t-PCI) com o objetivo de se localizar o provável foco de recidiva tumoral7,11. 1.7.2.2. Pacientes com Tg/T4 negativa e sTg positiva Os pacientes que apresentarem sTg > 1 ng/ml devem ser avaliados com ultrassonografia cervical e tomografia de tórax e mediastino. Caso a Tg estimulada se torne detectável, porém < 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina ou < 5 ng/ml após rhTSH, sem doença aparente na avaliação inical, a conduta deve ser expectante e uma nova estimulação deve ser feita em 1 a 2 anos11. Caso haja uma elevação nos títulos de Tg ou a sTg apresente valores elevados, > 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina ou > 5 ng/ml após rhTSH, a propedêutica deve ser ampliada (RNM, FDG-PET e, caso negativos, alta atividade de 131 I pode ser administrada seguida da realização de uma t-PCI)11. Se os títulos de Tg estiverem em queda pode ser feito apenas o acompanhamento, e se a Tg se tornar indetectável os pacientes passam a ser seguidos como baixo risco7,11. 1.7.2.3. Pacientes de baixo risco com Tg/T4 negativa e sTg negativa Nos pacientes de baixo risco o TSH deverá ser mantido inicialmente entre 0,1 e 0,5 mUI/l e, posteriormente, dentro dos limites da normalidade (entre 0,3 e 2,0 mUI/l) naqueles aparentemente livres de doença. Os pacientes que apresentarem Tg estimulada negativa e ultrassonografia cervical normal podem ser seguidos com exame clínico, dosagem de Tg/T4 e TgAc anualmente7,11,58-60. Eventualmente, pode ser incluída a ultrassonografia no seguimento11. O risco de recidiva nesse grupo de pacientes é menor que 1% em 10 anos42,60 (Tabela 8). 17 1.7.2.4. Pacientes de alto risco com Tg/T4 negativa e sTg negativa Os pacientes classificados como alto risco deverão ser mantidos com reposição de levotiroxina com o objetivo de se manter o TSH < 0,1 mUI/l no primeiro ano e entre 0,1 e 0,5 mUI/l por 5 anos naqueles aparentemente livres de doença 7,11. Os pacientes aparentemente livres de doença (Tg, US e d-PCI negativos) deverão ser seguidos anualmente com exame clínico, dosagem de Tg/T4, TgAc nos primeiros 5 anos, associada à ultrassonografia cervical periodicamente. Após esse período o seguimento passa a ser igual ao dos pacientes de baixo risco7,11. O risco de recidiva nesse grupo de pacientes é de cerca de 3% em 10 anos10,34 (Tabela 8). Tabela 8 - Recidiva em longo prazo em pacientes sem doença aparente na primeira avaliação. Autor/ ano Rosário e col. / 2006 Kim e col. / 2005 Torlontano e col. / 2004 N 77 268 456 Estratificação de risco Alto Baixo Baixo Pacini e col. / 2003 294 Alto e baixo Mazzaferri e col. / 2002 102 Alto e baixo Cailleux e col. / 2000 256 Alto e baixo Tempo de Recidiva de acordo o valor seguimento da Tg estimulada na (meses) avaliação de controle Média: 60 meses Média: 40 meses 72 a 108 meses sTg < 1 ng/ml 1/77 (1,2%) sTg < 2 ng/ml 2/125 (1,6%) sTg 2-10 ng/ml 6/79 (7,5%) sTg > 10 ng/ml 27/64 (42%) sTg < 1 ng/ml 7/335 (2%) sTg 1-10 ng/ml 18/96 (18%) sTg > 10 ng/ml 13/25 (52%) Média: 21,5 sTg < 1 ng/ml 4/250 (1,6%) meses sTg > 1 ng/ml 23/44 (52%) Média: 50 sTg < 2 ng/ml 0/87 (0%) meses sTg > 2 ng/ml 11/20 (55%) Média: 60 meses sTg < 1 ng/ml 2/210 (0,9%) sTg 1-10 ng/ml 1/31(3%) sTg > 10 ng/ml 5/15 (33%) 18 1.7.2.5. Pacientes com TgAc positivo Na presença de TgAc o seguimento anual deve ser feito com exame clínico, Tg/T4, TgAc e ultrassonografia cervical. Na presença de aumento dos títulos de TgAc ou conversão da Tg para níveis detectáveis deve-se pensar em recidiva e complementar a investigação com outros métodos de imagem (inicialmente a ultrassonografia cervical, seguida de TC de tórax e mediastino, RNM, FDG-PET e, caso negativos, alta atividade de 131I pode ser administrada seguida da realização de uma t-PCI)11,24. Os pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide devem ser acompanhados por toda a vida devido ao risco de recidiva tumoral, mesmo após longos períodos. Uma síntese das recomendações vigentes para o seguimento de longo prazo de pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide sem doença aparente na avaliação de controle após o tratamento inicial está exposta na Figura 2. 19 Figura 2 – Seguimento de longo prazo de pacientes portadores de carcinoma diferenciado de tireoide sem doença aparente na avaliação de controle (ou inicial). Pacientes aparentemente livres de doença Pacientes submetidos à ablação Tg/T4 positiva Pacientes não submetidos à ablação sTg > 10 ng/ml em hipotireoidismo ou > 5 ng/ml após rhTSH Tg estimulada < 1 ng/ml sTg positiva < 10 ng/ml em hipotireoidismo ou < 5 ng/ml após rhTSH Tc de tórax e mediastino US/TC/ RNM/ FDGPET Negativa Positiva Acompanhamento com sTg a cada 1 a 2 anos Tratar Se negativo, dose terapêutica de 131I (100 a 200 mCi) e t-PCI Elevação dos títulos da sTg Tg/T4 , TgAc, US anualmente Tg/T4 negativa e Tg estimulada > 1 ng/ml sTg em queda Acompanhar TSH entre 0,3 e 2,0 mUI/l Baixo risco Alto risco Tg/T4 e TgAc anualmente US, Tg/T4 e TgAc anual TSH entre 0,3 e 2,0 mUI/l TSH entre 0,1 e 0,5 mUI/l por 5 anos 20 2. OBJETIVOS DO ESTUDO O objetivo deste estudo foi determinar o valor da PCI diagnóstica na avaliação de controle após a terapia inicial em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide, de risco intermediário ou alto de recorrência, e a taxa de recidiva em longo prazo naqueles sem doença aparente inicialmente. 3. PACIENTES E MÉTODOS Foi realizado um estudo retrospectivo dos pacientes portadores de carcinoma de tireoide atendidos na Santa Casa de Belo Horizonte e cadastrados em um banco de dados no período entre os anos 2000 e 2008. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte. 3.1. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Foram selecionados 318 pacientes com carcinoma bem-diferenciado de tireoide (papilífero ou folicular); submetidos à tireoidectomia total, com dissecção de linfonodos cervicais em casos suspeitos de acometimento metastático (na ultrassonografia pré-operatória ou avaliação per-operatória); com ressecção tumoral aparentemente completa; seguida da ablação de remanescentes com 131I (3,7 ou 5,5 GBq, 100 ou 150 mCi), com pesquisa de corpo inteiro pós-ablação sem metástases e captação em leito tireoidiano ≤ 2% 38 . Foram incluídos pacientes considerados de alto risco pela Sociedade Latino Americana de Tireoide24 e Associação Europeia de Tireoide18 e de risco intermediário pela Associação Americana de Tireoide7, que na avaliação de controle (8-12 meses após a ablação) apresentavam tireoglobulina durante a terapia com levotiroxina < 1 ng/ml, anticorpos antitireoglobulina negativos e ultrassonografia cervical sem anormalidades. 3.2. AVALIAÇÃO INICIAL Todos os pacientes foram submetidos à estimulação da Tg associada à d-PCI e ultrassonografia cervical 8 a 12 meses após a ablação. Nos pacientes com Tg estimulada < 1 ng/ml e d-PCI negativa, nenhum método de imagem adicional foi 21 realizado; naqueles com Tg entre 1 e 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina ou entre 1 e 5 ng/ml após rhTSH, a tomografia computadorizada de tórax e mediastino foi realizada; e quando a Tg foi > 10 ng/ml em hipotireoidismo ou > 5 ng/ml após rhTSH, também a tomografia com emissão de pósitrons com fluorodeoxiglicose (FDG-PET) foi obtida. 3.3. SEGUIMENTO TARDIO Pacientes sem doença aparente na avaliação de controle foram seguidos com dosagem da Tg/T4, TgAc e ultrassonografia cervical anualmente. Métodos de imagens adicionais à ultrassonografia [inicialmente tomografia computadorizada (TC) de tórax e mediastino; se negativo, FDG-PET; e quando esses não revelaram metástases, uma dose empírica de 100 mCi de 131 I seguida da realização da t-PCI] foram realizados quando a Tg/T4 passou de indetectável para detectável ou quando os anticorpos antitireoglobulina tornaram-se positivos. Pacientes sem doença aparente que inicialmente apresentavam Tg estimulada > 1 ng/ml foram submetidos a nova estimulação da Tg a cada 2 anos26 quando persistiram com Tg/T4 < 1 ng/ml e ultrassonografia negativa até a Tg estimulada tornar-se < 1 ng/ml. Métodos de imagem adicionais foram realizados quando houve aumento nos títulos da Tg estimulada26. Pacientes sem doença aparente e que apresentaram Tg estimulada < 1 ng/ml foram mantidos com TSH entre 0,1 e 0,5 mUI/l e aqueles, com Tg elevada, mantidos com TSH < 0,1 mUI/l enquanto persistiram com este marcador alterado. Nos pacientes perdidos (n = 4) ou que morreram de causa não relacionada ao câncer de tireoide (n = 10), foi considerada a última avaliação disponível. Doença aparente foi definida baseada nos resultados dos métodos de imagem, cito- ou histologia e/ou captação ectópica inequívoca (excluído falso positivo) na PCI ou FDG-PET. 3.4. MÉTODOS DE IMAGEM A ultrassonografia foi realizada com um transdutor linear multifrequência de 10-MHz. Todas as lesões suspeitas foram avaliadas por biópsia por agulha fina 22 guiada por ultrassonografia12. Tomografia de tórax e mediastino foi realizada com secções sequenciais de 5-10 mm. A pesquisa de corpo inteiro foi realizada com dose traçadora de 131 I (185 MBq, 5 mCi - d-PCI) ou terapêutica (3,7 ou 5,5 GBq, 100 ou 150 mCi - t-PCI) após a suspensão da levotiroxina por 4 semanas ou estimulação com TSH recombinante humano. Os pacientes receberam instruções a respeito da necessidade de restringir a exposição ambiental ao iodo e a seguirem uma dieta pobre em iodo por 10 dias antes da administração da dose de 131 I. Foram obtidas imagens anterior e posterior de corpo inteiro 3 (d-PCI) ou 7 (t-PCI) dias após a administração do radioiodo, e os resultados foram analisados por três profissionais experientes da medicina nuclear. FDG-PET foi realizada após a suspensão da levotiroxina por 4 semanas ou estimulação com rhTSH. Os exames de imagem foram realizados nos serviços de Radiologia e Medicina Nuclear da Santa Casa de Belo Horizonte. 3.5. ENSAIOS A tireoglobulina foi dosada por ensaio imunoradiométrico (ELSA-hTG; CIS Bio International, França), com uma sensibilidade funcional de 1 ng/ml. No caso de suspensão da levotiroxina, a Tg foi dosada imediatamente antes da administração do 131 I, e nos pacientes preparados com rhTSH esta foi dosada 72 horas após administração da segunda ampola. A presença de anticorpos antitireoglobulina (TgAc) foi determinada por ensaio quimioluminescente [Nichols Institute Diagnostics (limite de detecção de 1 UI/ml e valor de referência de até 2 UI/ml) ou Immulite 2000 (limite de detecção de 20 UI/ml e valor de referência de 40 UI/ml)]. 3.6. ANÁLISE ESTATÍSTICA As médias entre os grupos foram comparadas pelo teste t de Student ou pelo teste não-paramétrico Mann-Whitney U. Os testes de Fisher ou χ2 foram utilizados para a detecção de diferenças na proporção de casos. Um valor de p < 0,05 ou menos foi considerado estatisticamente significativo. 23 4. RESULTADOS As características dos pacientes estudados estão apresentadas na Tabela 9. Para a realização da d-PCI e obtenção da Tg estimulada na avaliação de controle, duzentos e dezoito pacientes foram preparados com suspensão da levotiroxina e cem com administração do TSH recombinante humano; semelhantes em relação a sexo, idade, histologia e estadiamento tumoral. Tabela 9 – Características dos pacientes estudados com relação ao sexo, idade, subtipo histológico, invasão vascular, tamanho do tumor, invasão extratireoidiana, metástases linfonodais, multicentricidade e classificação TNM. Sexo Idade Tipo histológico 212 mulheres e 106 homens 9 a 80 anos (média: 49,6 anos) Papilífero (n = 280 (88%)] Folicular [n = 38 (12%)] Subtipo histológico agressivo (células altas, células colunares, papilar esclerosante difuso, 28 (8,8%) células de Hürthle, folicular invasivo) Invasão vascular Tamanho do tumor 12 (3,7%) 0,5 a 7 cm (média: 2,9 cm) > 4 cm: 67 (21%) Invasão extratireoidiana 168 (52,8%) Metástases linfonodais 220 (69,1%) Multicentricidade 102 (32%) T1N1M0: 32 T2N1M0: 88 T3N0M0: 90 TNM T3N1M0: 96 T4N0M0: 8 T4N1M0: 4 24 4.1. AVALIAÇÃO DE CONTROLE 4.1.1. Tg estimulada e d-PCI A Tg estimulada permaneceu < 1 ng/ml em 253 pacientes (79,5%) e converteu a valores > 1 ng/ml em 65 (20,4%). Nenhum paciente apresentou captação ectópica (metástases) na d-PCI. A frequência de captação discreta (< 0,5%) em leito tireoidiano, de acordo com os valores de Tg estimulada, é apresentada na Tabela 10. Tabela 10 - Resultados da Tg estimulada e d-PCI em pacientes com Tg/T4 < 1 ng/ml, TgAc negativos e ultrassonografia cervical sem anormalidades 8-12 meses após a terapia inicial. Tg obtida após suspensão da LT4 d-PCI < 1 ng/ml entre 1 e 10 ng/ml > 10 ng/ml Todos Negativa 146 31 6 183 Captação em leito tireoidiano * 25 8 2 35 Captação ectópica 0 0 0 0 171 39 8 218 Tg obtida após rhTSH d-PCI < 1 ng/ml entre 1 e 5 ng/ml > 5 ng/ml Todos Negativa 74 13 2 89 Captação em leito tireoidiano * 8 3 0 11 Captação ectópica 0 0 0 0 82 16 2 100 * Captação < 0,5% em todos os pacientes. 4.1.2. Outros métodos de imagem Tomografia computadorizada de tórax e mediastino, realizada em 39 pacientes com Tg entre 1 e 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina e em 16 com Tg entre 1 e 5 ng/ml após rhTSH, não revelou metástases. FDG-PET e TC mostraram metástases linfonodais (cervicais posteriores em 1 e mediastinais em outro) em 2/8 pacientes com Tg após suspensão da levotiroxina > 10 ng/ml e 25 micrometástases pulmonares em um dos dois pacientes com Tg pós rhTSH > 5 ng/ml. 4.2. SEGUIMENTO EM LONGO PRAZO DOS PACIENTES SEM DOENÇA APARENTE NA AVALIAÇÃO INICIAL 4.2.1. Taxa de recidiva e mortalidade Após seguimento de 24 a 96 meses (média de 60 meses), as taxas de recidiva de acordo com o valor da Tg estimulada inicial são apresentadas na Tabela 11. Nenhum caso de morte relacionada à doença foi registrado. Tabela 11 - Taxa de recidiva em longo prazo em pacientes sem doença aparente na avaliação de controle, de acordo os valores da Tg estimulada. Tg entre 1 e 5 ng/ml após Tg > 5 ng/ml após rhTSH rhTSH ou entre 1 e 10 ou > 10 ng/ml após ng/ml após suspensão da suspensão da levotiroxina levotiroxina 3/171 (1,75%) 4/39 (10,2%) 2/6 rhTSH (n = 99) 2/82 (2,4%) 2/16 (12,5%) 1/1 Todos (n = 315) 5/253 (2%) 6/55 (10,9%) 3/7 (42,8%) Preparo Tg < 1 ng/ml Suspensão da levotiroxina (n = 216) 4.2.2. Valor prognóstico da d-PCI Nos pacientes com Tg estimulada < 1 ng/ml, recidivas foram detectadas em 4/220 com d-PCI negativa (1,8%) versus 1/33 com captação em leito tireoidiano (3%). Já nos 55 pacientes com Tg > 1 ng/mL, mas < 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina ou < 5 ng/ml após rhTSH, recidivas foram detectadas em 5/44 com dPCI negativa (11,3%) versus 1/11 (9%) com captação em leito tireoidiano. Finalmente, nos 7 pacientes com sTg elevada, recidivas foram detectadas em 2/5 com d-PCI negativa (40%) e 1/2 com captação em leito 26 tireoidiano (50%). As características dos pacientes que apresentaram recidiva estão expostas na Tabela 12. Tabela 12 – Características dos pacientes que apresentaram recidiva com relação ao sexo; idade; tipo histológico; classificação TNM; resultado e modo de preparo da sTg; resultado da d-PCI; intervalo, local e método de detecção da recidiva. Paciente Sexo Idade Tipo histológico TNM sTg (preparo) < 1 ng/ml (rhTSH) < 1 ng/ml 2 Feminino 61 Papilífero T3N1 (rhTSH) < 1 ng/ml 3 Feminino 34 Papilífero T3N1 (sem LT4) < 1 ng/ml 4 Masculino 52 Papilífero T3N1 (sem LT4) < 1 ng/ml 5 Feminino 74 Papilífero T2N1 (sem LT4) 2,4 ng/ml 6 Masculino 75 Papilífero T3N0 (rhTSH) 3,2 ng/ml 7 Feminino 63 Papilífero T4N1 (sem LT4) 4,1 ng/ml 8 Feminino 49 Papilífero T3N1 (rhTSH) 7,6 ng/ml 9 Feminino 18 Papilífero T3N1 (sem LT4) 8,2 ng/ml 10 Feminino 19 Papilífero T2N1 (sem LT4) 9,1 ng/ml 11 Masculino 60 Papilífero T3N1 (sem LT4) 8,5 ng/ml 12* Masculino 71 Folicular T4N0 (rhTSH) 11 ng/ml 13 Feminino 51 Folicular T3N0 (rhTSH) 12 ng/ml 14 Masculino 66 Papilífero T3N1 (sem LT4) 18 ng/ml 15* Feminino 46 Papilífero T3N1 (sem LT4) 20 ng/ml 16* Feminino 56 Papilífero T2N1 (sem LT4) 31 ng/ml 17 Feminino 48 Papilífero T2N1 (sem LT4) *Recidiva detectada na avaliação de controle em 8 a 12 meses 1 Feminino 38 Papilífero T2N1 d-PCI Tempo até a recidiva (meses) Local de recidiva tumoral Método de detecção da recidiva Negativa 48 Cervical US Negativa 42 Cervical US Negativa 62 Cervical US Negativa 58 Cervical US Leito tireoidiano 70 Cervical US Negativa 20 Cervical US Leito tireoidiano 28 Cervical US Negativa 30 Pulmão t-PCI Negativa 22 Cervical US Negativa 32 Cervical US Negativa 22 Mediastino TC Negativa 10 Pulmão TC Negativa 20 Pulmão TC Leito tireoidiano 22 Cervical US Negativa 9 Mediastino FDGPET Negativa 12 Cervical posterior FDGPET Negativa 36 Óssea FDGPET 27 5. DISCUSSÃO No presente estudo foram avaliados pacientes considerados de alto risco pela Sociedade Latino Americana de Tireoide24 e Associação Europeia de Tireoide18 e de risco intermediário pela Associação Americana de Tireoide7. Esta última considera como “alto risco” pacientes com doença persistente ou aparente após a tireoidectomia [i.e. ressecção tumoral incompleta e/ou metástases distantes7]. Nosso alvo foi a avaliação de pacientes sem metástases conhecidas (na t-PCI) ou aparentes na ultrassonografia cervical, método de imagem que atualmente é recomendado de rotina na avaliação de controle7,24,18, mas com maior risco de recidiva. É possível que a inclusão de pacientes com doença conhecida na t-PCI e previamente tratados para metástases com 131I possa ter contribuído para o maior valor da d-PCI demonstrado em estudos prévios33,40. Além disso, muitas das metástases detectadas na d-PCI seriam vistas na ultrassonografia, cuja realização não era rotineira há alguns anos atrás. Outro fato relevante é que grandes remanescentes tireoidianos, com intensa captação cervical, podem obscurecer a visualização de metástases linfonodais na tPCI planar e, posteriormente, estas serem vistas na d-PCI38. Com uma discreta captação em leito tireoidiano, que pode ser obtida em todos os pacientes submetidos à tireoidectomia total por um cirurgião experiente42, isso não ocorreria38. A inclusão desses casos inadequadamente operados também pode contribuir para superestimar o valor da d-PCI em pacientes em que a t-PCI inicial não revelou metástases38. Como rápida (< 1 ano) progressão, especialmente não acompanhada de aumento da Tg basal, é excepcional no carcinoma bem-diferenciado de tireoide, o mais provável é que as eventuais metástases detectadas na d-PCI na avaliação de controle já existissem no momento da ablação. Assim, é difícil explicar que uma atividade de 5 mCi revele doença que 100 mCi não mostrou, sob as mesmas condições (em relação à dieta hipoiódica e estímulo do TSH). A discussão do eventual papel da d-PCI é restrita aos pacientes com Tg basal (sem estímulo do TSH) negativa. A estimulação da Tg não é necessária em pacientes com valores basais elevados, então o preparo (suspensão da levotiroxina ou administração do rhTSH) seria realizado apenas para obtenção da d-PCI nesses casos. Além disso, metástases vistas na d-PCI também são na t-PCI, mas quando a primeira é negativa, a doença pode ser detectada nesta última61. Assim, o mais 28 apropriado é que pacientes com Tg basal elevada sejam investigados com outros métodos de imagem (ultrassonografia, TC, RM, FDG-PET) e eventualmente recebam diretamente uma alta atividade de 131 I seguida da t-PCI (ao invés de d- PCI). Um recente estudo mostrou que quando a Tg estimulada é negativa, a d-PCI não acrescenta informações em pacientes de maior risco, propondo que ela fosse dispensada nesses casos41. Esta informação não nos parece apropriada, pois na prática clínica a d-PCI é obtida concomitante à Tg estimulada, e não sequencialmente. Por isso selecionamos pacientes com Tg basal negativa e mostrando que, mesmo nos pacientes em que a Tg converteu a valores > 1 ng/ml, a d-PCI não agregou informação, podemos agora propor Tg estimulada sem a d-PCI na avaliação de controle de pacientes de maior risco de recidiva. Este conjunto de fatores parece ser a melhor explicação para o resultado encontrado por nós (PCI sem captação ectópica em todos os 318 pacientes) e pode ser usado como critério para dispensar este método de imagem na avaliação de controle após a ablação mesmo em paciente de maior risco de recidiva (Tabela 13). Tabela 13 - Critérios propostos para dispensar a d-PCI na avaliação de controle após a ablação. t-PCI sem captação ectópica e discreta captação em leito tireoidiano (≤ 2%) Tireoglobulina durante a terapia com levotiroxina (Tg/T4) < 1 ng/ml e anticorpos anti-Tg (TgAc) negativos Exame clínico e ultrassonografia cervical sem anormalidades Neste estudo vimos que, mesmo em pacientes de maior risco para recidiva, o encontro de discreta captação em leito tireoidiano não teve significado prognóstico, e não justifica tratamento adicional com 131 I, concordante com o que foi mostrado previamente em estudos com pacientes não selecionados com Tg estimulada < 1 ng/ml na avaliação de controle33,42. Também nos pacientes com Tg estimulada > 1 ng/ml, a captação isolada em leito tireoidiano não teve qualquer valor prognóstico de recidiva nesta série. Após a avaliação de controle, pacientes sem doença aparente foram acompanhados em média por 5 anos. Embora recidivas tardias possam ocorrer, é 29 sabido que 2/3 delas ocorrem nestes primeiros anos após a terapia inicial17,62,63. O subgrupo com Tg estimulada < 1 ng/ml, TgAc negativos e ultrassonografia sem anormalidades apresentou uma taxa de recidiva de apenas 2%. Esta foi semelhante à reportada em estudos anteriores com pacientes não selecionados ou de baixo risco33,34,42,47,50,53, conforme demonstrado na Tabela 8, confirmando que após a avaliação inicial mostrar remissão completa (incluindo Tg estimulada e métodos de imagem negativos), os dados histológicos têm menor impacto na evolução27,64. Baseado nisso, é razoável que mesmo pacientes inicialmente classificados como de maior risco de recidiva sejam acompanhados com uma propedêutica menos extensa, embora regular. A despeito das características histológicas de maior risco de recidiva, somente a minoria dos nossos pacientes com Tg estimulada > 1 ng/ml e ultrassonografia negativa após a terapia inicial apresentaram ou evoluíram com metástases, concordante com estudos anteriores26,27,42,47. Entre estes, pacientes com Tg estimulada > 10 ng/ml após suspensão da levotiroxina ou > 5 ng/ml após rhTSH tiveram maior risco de apresentarem ou evoluírem com metástases quando comparados àqueles com valores inferiores de Tg (60% versus 10%), confirmando os resultados de outras séries26,27,42,47. Por esta razão, estes pacientes devem ter a propedêutica ampliada com outros métodos de imagem (TC, FDG-PET e t-PCI), mantidos sob supressão do TSH e merecem um acompanhamento mais próximo. 30 6. CONCLUSÕES Concluímos que, em pacientes com carcinoma diferenciado de tireoide e dados histológicos de maior risco para recorrência, sem doença aparente na t-PCI inicial e que apresentam Tg basal < 1 ng/ml, TgAc negativos e ultrassonografia cervical sem anormalidades após a ablação, a d-PCI pode ser dispensada. Mesmo nesses pacientes, quando a Tg estimulada permanece < 1 ng/ml, o risco de recidiva é baixo. Em oposição, quando a Tg eleva-se significativamente, > 10 ng/ml após a suspensão da LT4 ou > 5 ng/ml após rhTSH, métodos de imagem adicionais são recomendados e a taxa de recorrência em longo prazo é alta. No futuro, é possível que o uso de ensaios ultrassensíveis possa dispensar a estimulação da Tg65,66, porém estudos direcionados a este grupo (risco intermediário ou alto) ainda são necessários. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Sherman SI. Thyroid carcinoma. Lancet. 2003; 361:501–511. 2. Coeli CM, Brito AS, Barbosa FS, Ribeiro MG, Sieiro AP, Vaisman M. 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