Ascite maligna como apresentação inicial de tumor primário raro – um desafio diagnóstico
Susana Amaral1, Pedro Souteiro2, Joana Freitas3, Ivone Meirinho4
Serviço de Oncologia Médica, Instituto Português de Oncologia de Coimbra; 2Serviço de
1
Endocrinologia, Centro Hospitalar de São João; 3Serviço de Oncologia Médica, Instituto
Português de Oncologia do Porto; 4Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar de São João
Introdução: A ascite maligna está associada a tumores diversos intra e extra peritoneais e
representa invariavelmente um estadio final da doença, associado a mau prognóstico.
Caso Clínico: Apresenta-se o caso clínico de uma mulher de 67 anos, sem antecedentes
patológicos de relevo, com história ginecológica de menarca aos 16 anos, 3G3P e menopausa
natural aos 55 anos, sem terapêutica hormonal de substituição. Recorreu ao Serviço de
Urgência em Agosto de 2015 por noção de aumento do perímetro abdominal com 1 mês de
evolução, sem outras queixas associadas. Ao exame objectivo apresentava abdómen
distendido, com ascite de grande volume confirmada em ecografia abdominal. Foi submetida a
paracentese diagnóstica - líquido ascítico com características de exsudado e exame citológico
compatível com adenocarcinoma (estudo imunohistoquímico não conclusivo).
Realizou TC toraco-abdomino-pélvico que mostrou ascite maligna com múltiplos implantes
peritoneais, com formação de “bolo omental” e ovários de dimensões aumentadas (implantes
peritoneais vs lesão primitiva anexial). Foi observada por Ginecologia e realizou ecografia
endovaginal, não sugestiva de localização ovárica primária. Mamografia com resultado BIRADS
1. Estudo endoscópico alto e baixo sem alterações. Marcador tumoral CA 125 – 26 759 U/mL
(0-35).
Perante estes resultados foram colocadas como hipóteses mais prováveis carcinoma do ovário
com carcinomatose peritoneal vs carcinoma primitivo do peritoneu. Foi proposta para
laparotomia exploradora com achados intraoperatórios compatíveis com estudo imagiológico
prévio. Submetida a histerectomia total com anexectomia bilateral e omentectomia infra e
supramesocólica, com evidência de doença residual na pequena curvatura gástrica (1 cm),
cólon transverso e sigmóide e peritoneu pélvico (1 cm). O estudo anatomo-patológico da peça
cirúrgica concluiu tratar-se de um carcinoma seroso de alto grau, compatível com primitivo da
trompa uterina, estadio IIIC.
Discussão e conclusões: O carcinoma primário da trompa uterina é um tumor raro, responsável
por 0.14 a 1.8% das neoplasias ginecológicas, com uma incidência de 3.6 por milhão de
mulheres/ano. A apresentação clínica mais comum é a hemorragia vaginal (50-60%) sendo que
a ascite só ocorre em 15% dos casos. Clinica e histologicamente é semelhante ao carcinoma
epitelial do ovário, com abordagem cirúrgica e esquemas de quimioterapia similares, mas pior
prognóstico. Geralmente não é alvo de suspeição clínica e o diagnóstico só é feito após
cirurgia. A sobrevida global varia entre 22 e 57%, de acordo com o estadio e presença de
doença residual. Este caso clínico representou um desafio não só pela raridade do tumor
primário como pela forma de apresentação incomum. A abordagem clínica estruturada e a
multidisciplinaridade foram fundamentais para chegar ao diagnóstico definitivo.
Bibliografia: Cavazzoni E., et al. Malignant ascites: pathophysiology and treatment. Int J Clin
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NCCN Guidelines Occult Primary Version 1.2015. NCCN Guidelines Epithelial Ovarian
Cancer/Fallopian Tube Cancer/ Primary Peritoneal Cancer Version 2.2015.
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