PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Tratamento de Drenagem Ácida de Minas de Carvão: Tendências Tecnológicas Jorge Rubio e Renato Silva DEMIN – PPGEM – UFRGS – Laboratório de Tecnologia Mineral e Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9500/Prédio 75 CEP: 91501-970. Porto Alegre/RS. E-mail: [email protected] . http://www.ufrgs.br/ltm Resumo A Drenagem Ácida de Minas (DAM) é atualmente o mais grave problema ambiental encontrado nas áreas de mineração de carvão. No Brasil, principalmente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a mineração de carvão tem causado sérios impactos devido ao grande volume de DAM gerado. Os cristais de pirita (FeS2) associados à matriz carbonosa são oxidados e íons metálicos e sulfato são dissolvidos em água. Os rios e córregos contaminados com DAM apresentam baixos níveis de pH (< 3,0), elevada acidez, íons de metais dissolvidos na água e altas concentrações de íons sulfato. Os tratamentos ativos convencionais aplicados no Brasil para a remoção dos contaminantes (principalmente íons metálicos) são a precipitação química dos metais como hidróxidos (Me(OH)x) pela neutralização do efluente, seguida pela agregação dos precipitados através de mecanismos de floculação e separação sólido-líquido por flotação por ar dissolvido (FAD) ou sedimentação lamelar (SL). Durante todo o ano de 2007 e parte de 2008 a discussão se deu pela comparação dessas duas técnicas de tratamento. As perspectivas atuais mostram que o emprego da SL ganhou o mercado, principalmente devido aos reduzidos custos operacionais, simplicidade de operação das estações, reduzidas áreas de projeto e elevada eficiência na remoção dos flocos gerados. O objetivo desse trabalho foi comparar o tratamento de DAM pelas técnicas de SL e FAD de alta taxa. Os resultados desse estudo mostram que ambas as técnicas apresentam remoções maiores que 90 % para todos os metais estudados. Os ensaios de flotação para remoção de sulfato a pH 12 mostram valores de remoção superiores a 75% pela FAD. Os custos estimados na planta piloto de sedimentação lamelar estão por volta de R$ 0,50 por m3 de efluente, enquanto o sistema de flotação por ar dissolvido opera com custos aproximados de R$ 1,00. As condições da água tratada através das técnicas propostas mostram boa qualidade e potencial aplicação em atividades não potáveis de reúso. Palavras chaves: Drenagem Ácida de Minas, Sedimentação Lamelar, Flotação e Reúso. 1. Introdução A DAM é gerada pela oxidação natural de minerais sulfetados, principalmente a pirita (FeS2), através da ação combinada da água e oxigênio. As reações de oxidação da pirita podem ser catalisadas pela ação de espécies bacterianas Thiobacillus ferrooxidans e Thiobacillus denitrificans (Rubio, 1998a, 1998b), principalmente a pH menor que 4,0. A DAM é um efluente caracterizado por elevada acidez e altas concentrações de sulfato e de metais, tais como Al, Fe e Mn (Menezes et al., 2004). O controle da drenagem ácida de minas (DAM) pode ser realizado através de métodos de prevenção, contenção e remediação, o último, através de tratamentos ativos e passivos. O tratamento ativo de DAM é convencionalmente realizado pela neutralização/precipitação dos íons metálicos PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA dissolvidos no efluente seguida pelas etapas de floculação e separação sólido-líquido. Entretanto a remoção dos íons sulfato em concentrações inferiores a 2000 mg.L-1 apresenta dificuldade através de métodos convencionais (Rubio, 1998a). Os íons sulfato apresentam baixa toxicidade quando comparados com os parâmetros acidez e íons de metais nos sistemas aquáticos. Os principais efeitos causados por esses ânions são corrosão de tubulações de diferentes materiais, acidez do solo e, principalmente, danos de desidratação humana (efeitos laxativos) relacionada com a ingestão de grandes quantidades de íons sulfato. Devido a essa condição, as organizações internacionais determinam um limite na concentração de íons sulfato em águas potáveis entre 250 e 500 mg.L-1. O Brasil, através de deliberações normativas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determina um limite máximo de 250 mg.L-1 para as águas superficiais. O padrão para água potável no país também é de 250 mg.L-1 definidos pelo ministério da saúde através da portaria 518 de 2004. Os principais métodos de remoção de íons sulfato da água são realizados através de precipitação química (formação de gipsita e sulfato de bário), redução biológica à sulfetos, processos de troca-iônica e adsorção (Oliveira, 2006). 2. DAM – situação atual no sul do Brasil O carvão mineral é a maior fonte de energia não renovável no país. As maiores reservas de carvão estão localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A produção interna de carvão mineral anual no Brasil é da ordem de 6,0.106 t. O Rio Grande de Sul é responsável por cerca de 52% desse total, seguido por Santa Catarina com 46 % (DNPM, 2008). As atividades de lavra e beneficiamento do carvão mineral causam problemas ambientais (sólidos, líquidos e gasosos). A deposição de rejeitos piritosos em bacias e a céu aberto e também a desativação de minas, sem a devida impermeabilização dos rejeitos gerados, são responsáveis pelo mais grave problema ambiental associado à mineração de carvão: a geração de Drenagem Ácida de Minas. Atualmente a Drenagem Ácida de Minas (DAM) representa o mais grave problema ambiental causado pela mineração de carvão no Brasil. Aproximadamente 5.000 ha de áreas encontram-se contaminadas pela atividade da mineração do carvão na região Carbonífera Catarinense estando 2/3 dos cursos d’água comprometidos pela DAM (Alexandre e Krebs, 1995 apud Galatto et. al 2007), os problemas são mais graves nos períodos de estiagem. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Ocorrem nos corpos hídricos da Bacia Carbonífera catarinense dois tipos de DAM. A primeira, denominada DAM fresca (Figura 1), ocorre principalmente em zonas de fluxo corrente de água, onde o material piritoso (FeS2) e a água mantêm contato por um curto período de tempo. A DAM bruta, ou carregada (Figura 2), é característica de regiões ativas de mineração (bacias de rejeitos e lagoas de contenção) onde a DAM mantém um contato longo com o rejeito, dissolvendo os metais, baixando o pH e aumentando a acidez do efluente. Figura 1. Drenagem Ácida de Minas corrente gerada a partir da passagem de córregos, água da chuva e afloramentos naturais por minas de carvão desativadas Figura 2. Drenagem Ácida de Minas gerada a partir da oxidação de sulfetos em rejeitos de carvão dispostos a céu aberto 2.1. Aspectos Legais Nos últimos 8 anos, ações movidas pelo Ministério Público Federal na região sul de Santa Catarina forçaram a tomada de decisões que buscassem o controle e tratamento das águas ácidas na região por parte das mineradoras de carvão, sindicato das indústrias e órgãos ambientais. Nesse período o MPF determinou que as empresas e órgãos PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA ambientais deveriam apresentar projetos de recuperação ambiental para a região que compõe a Bacia Carbonífera do sul catarinense, contemplando áreas de depósitos de rejeitos, áreas mineradas a céu aberto e minas abandonadas (GTA, 20007). No Brasil, os limites de emissão de efluentes em corpos hídricos são orientados pelas deliberações normativas do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) juntamente com as resoluções instituídas pelos conselhos estaduais. A resolução 357 de 2005 (CONAMA) estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes no âmbito nacional. O enquadramento das características de efluentes ácidos nos padrões determinado por essa resolução enfrenta os principais problemas quanto aos parâmetros pH e metais dissolvidos (principalmente Mn, Fe e Al). A resolução 54 de 2005 do CNRH (Conselho Nacional de Recursos Hídricos) estabelece modalidades, diretrizes e critérios para a prática de reúso de água para fins não potáveis. A Tabela 1, a seguir, mostra as principais alternativas de reúso para água, de acordo com a referida resolução. Tabela 1. Opções de reúso direto não potável de água (adaptado da resolução 54/2005 do CNRH) Opções de reúso Possíveis aplicações Fins urbanos Irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área urbana. Fins agrícolas e florestais Aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas. Fins ambientais Implantação de projetos de recuperação do meio ambiente. Fins industriais Processos, atividades e operações industriais, abatimento de poeiras. Aqüicultura Criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos. 3. Estudos desenvolvidos no Brasil As reações de geração de DAM são auto-catalíticas e, portanto, de difícil controle. Por esse motivo técnicas de prevenção são preferíveis e incluem métodos que evitam o PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA contato dos minerais sulfetados com a água e o oxigênio. Nos últimos anos, o uso de coberturas secas para prevenir a geração de Drenagem Ácida de Minas tem sido estudado no Brasil (CETEM, 2003; Galatto et al. 2007). A aplicação de cinzas pesadas resultantes da queima de carvão mineral como cobertura seca em rejeitos piritosos tem se mostrado efetiva (Galatto et al. 2007). No entanto, a situação atual da DAM na região sul do país mostra uma grande quantidade de rios e córregos já contaminados, necessitando de estudos de tratamento que sejam técnica e economicamente viáveis. Estudos passivos de remediação da DAM (banhados aeróbicos e anaeróbicos, redução biológica a sulfetos) apresentam vantagens operacionais (Firpo e Schneider, 2007). A ver: Precisam de pouca manutenção. Não requerem a contínua adição de reagentes químicos. O escoamento do fluxo hidrológico é obtido pela gravidade (gradiente natural). Não necessitam energia mecânica para promover a mistura dos agentes neutralizantes. Estudos de tratamento passivo em banhados construídos foram desenvolvidos por Firpo e Schneider (2007) (Figura 3). Um sistema de banhados anaeróbicos seguidos de banhados aeróbicos foi estudado e os resultados mostram que os sistemas passivos apresentam dificuldades na remoção de íons metálicos e sulfato (remoção < 20%). O principal problema encontrado em sistemas passivos no tratamento de DAM, frente aos sistemas ativos, ocorre pela baixa cinética de remoção dos íons contaminantes. O tempo de permanência do efluente em lagoas construídas, por exemplo, é de aproximadamente 10 dias enquanto em células de flotação ou tanques de sedimentação de alta taxa o tempo é de menos de uma hora. Ainda, a eficiência de remoção dos contaminantes é limitada pelo substrato usado nas lagoas e inferior, comparada a eficiência de plantas de neutralização, floculação e separação sólido-líquido. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Figura 3. Corte longitudinal de banhados construídos usados no tratamento passivo de DAM Estudos de tratamento ativo no controle da DAM estão sendo discutidos na região sul do país em termos de viabilidade técnica e econômica dos processos de flotação e sedimentação lamelar (Rubio et. al. 2007; Rubio et al. 2008) e são comentados na sequência. As principais vantagens de sistemas ativos no tratamento de DAM ocorrem pela elevada taxa de aplicação em plantas de tratamento do efluente e eficiência na remoção de íons superior aos tratamentos passivos (redução biológica, banhados). 4. Tratamento ativo de DAM – Tendências tecnológicas Recentemente, foi desenvolvido e aplicado um sistema inovador de tratamento de DAM na Carbonífera Metropolitana S.A. (Siderópolis-SC). O sistema foi constituído por uma unidade piloto (5 - 10 m3.h-1) que utiliza a neutralização-floculação seguida de flotação por ar dissolvido (FAD). Neste processo foram identificados e otimizados os principais parâmetros operacionais, químicos, físicos e físico-químicos, bem como as formas de disposição dos produtos (Menezes et al., 2004) a partir de elevadas remoções de poluentes como sólidos dissolvidos, suspensos e íons metálicos, adequando o efluente aos padrões de emissões exigidos pela legislação vigente. A aplicação do processo de flotação no tratamento de DAM em escala industrial foi realizada, inicialmente, na mina Esperança (Carbonífera Metropolitana S. A.). A unidade possui capacidade para operar com vazão de 250 m3.h-1 e o processo inclui a precipitação de hidróxidos metálicos, a hidrofobização superficial destes agregados com coletores e a flotação via injeção de microbolhas com diâmetros entre 30 e 100 μm. Nos últimos três anos a sedimentação lamelar surgiu como concorrente da flotação por ar dissolvido no tratamento de DAM. Duas plantas industriais de precipitaçãofloculação e sedimentação lamelar foram instaladas em minas de carvão na região sul do estado de Santa Catarina. As plantas estão instaladas e têm capacidade de tratamento de 250 m3.h-1, cada uma. Os custos envolvidos na precipitação, floculação e consumo energético (bombas e motores) são da ordem de R$ 1,00 por m3. A eficiência alcançada nessas unidades industriais é elevada gerando águas de boa qualidade, em termos de parâmetros físico-químicos, similarmente ao processo de flotação por ar dissolvido. Essas águas são, comumente, recirculadas no beneficiamento do carvão dentro das próprias plantas das empresas. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA 5. Estudos piloto de flotação e sedimentação lamelar (SS-16) Este trabalho tem o objetivo de relatar os avanços tecnológicos ocorridos nos últimos anos para o tratamento da DAM de carvão através da aplicação da flotação e sedimentação lamelar. Os resultados também são discutidos pela comparação técnica e econômica entre a flotação por ar dissolvido e a sedimentação lamelar. Estudos pilotos foram realizados para avaliar a técnica de precipitação química dos íons sulfato como mineral etringita (3CaO.3CaSO4.Al2O3.31H2O) pela adição de sais de alumínio. 5.1. Materiais e Equipamentos Drenagem Ácida de Minas. A drenagem ácida de minas usada nesse estudo é proveniente de uma boca de mina de carvão desativada e localizada na bacia hidrográfica do rio Urussanga, à nordeste da cidade de Criciúma-SC. A DAM apresentou pH entre 2,0 e 3,0 e os principais parâmetros físico-químicos do efluente são mostrados na Tabela 2. A concentração dos íons metálicos (Fe, Al e Mn) residuais na água tratada e na DAM bruta foi determinada por absorção atômica (Varian®, modelo SpectrAA 110). O córrego que passa pela boca da mina de carvão apresenta um fluxo volumétrico entre 30 e 200 m3.h-1, a distribuição sazonal dos dados de vazão do córrego durante os anos de 2005 e 2006 é mostrada na Figura 4. Os dados mostram que a condição crítica de água (menor vazão do córrego) se dá nos períodos de verão e inverno pelos dois anos monitorados. Tabela 2. Principais parâmetros físico-químicos da DAM bruta Parâmetro pH DAM Bruta 3,0 SO4-2, mgL-1 594 Mn, mgL-1 1,8 Fe, mgL-1 0,3 -1 27 Al, mgL Condutividade, µScm-1 1316 Cor, Hazen 8 COT, mgL-1 0,7 Tensão Superficial, mN.m-1 74 Turbidez, NTU 1 Dureza, mgL-1 de CaCO3 428 PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Sólidos Dissolvidos, mg.L-1 1054 250 3 Vazão, m .h -1 200 150 100 50 ja n -0 fev 5 -0 ma 5 r0 ab 5 r0 ma 5 i0 jun 5 -0 5 jul -0 5 ag o05 se t0 ou 5 t0 de 5 z0 fev 5 -0 6 ag o0 de 6 z06 0 Figura 4. Distribuição sazonal da vazão do córrego de DAM estudado Reagentes. Os ensaios de precipitação/neutralização do efluente ácido foram realizados com adição de uma solução de cal comercial (cal hidratada calcítica da marca QualiCal), a concentrações de 250 mg.L-1 e 2000 mg.L-1 para alcançar as faixas de pH de 9,0 e 12,0. Para as etapas de floculação foi otimizado, através de teste de jarros, o polímero catiônico Flonex 9045 em concentrações de 5 mg.L-1. Para os estudos de flotação foi usado oleato de sódio como agentes hidrofobizantes (coletores) para uma efetiva adesão entre bolhas e partículas. A concentração do coletor variou entre 15 e 30 mg.L-1 para os ensaios realizados a pH 9 e 12, respectivamente. Na precipitação de sulfato, foram usados PAC TE 1018 (policloreto de alumínio) e Alupan (aluminato de sódio), fornecidos pela Empresa Panamericana S.A. A concentração desses sais foram de 1 mL.L-1 e 0,5 mL.L-1, respectivamente. Planta piloto. Uma planta piloto foi construída nas proximidades do córrego de DAM para facilitar a captação e tratamento do efluente. Dois tanques de precipitação com volumes de 2m3 foram usados no condicionamento e neutralização. A floculação dos precipitados foi realizada através de floculadores hidráulicos em linha, desenvolvidos e patenteados pelo LTM/UFRGS (RGF®). As características físicas do reator de floculação, do tanque de sedimentação e da célula de flotação por ar dissolvido são apresentadas na Tabela 3. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Tabela 3. Parâmetros operacionais dos equipamentos usados nos estudos de sedimentação e flotação Processos RGF® – Reator Gerador de Flocos Flotação Sedimentação lamelar 5.2. Parâmetros (operacionais) Valores Número de anéis 19 Diâmetro de tubos 0.025 m Comprimento 12 m Volume 5.9 x 10-3 m3 Tempo de residência 0.3 min Volume da célula 160 Litros Tempo de residência 9.6 min. Velocidade superficial do líquido 9 m3.m-2.h-1 Vazão de água saturada 0.3 m3.h-1 (30%) Área 0.11 m2 Volume do tanque 330 Litros Tempo de residência 19 min. Velocidade superficial do líquido 4.5 m3.m-2.h-1 Área 0.22 m2 Ângulo de inclinação dos tubos 60° Diâmetro dos tubos 0,05 m Métodos Estudos de remoção dos íons metálicos (pH 9). A DAM apresenta os íons Al+3, Fe+2 e Mn+2 dissolvidos. A condição ótima encontrada para a remoção conjunta de todos esses íons foi encontrada em estudos de laboratório a pH 9,0 (precipitação de Mn). Uma planta piloto (Figura 5) foi construída para a realização dos estudos piloto. Uma série de 6 ensaios em escala piloto (flotação e sedimentação) foram realizados sob as mesmas condições. Primeiramente a DAM foi captada para dois tanques (2 m3 de volume cada) para neutralização/precipitação dos íons metálicos. O efluente foi bombeado através de um Reator Gerador de Flocos (RGF®) para a geração dos flocos. O RGF® (Figura 6) é um floculador hidráulico helicoidal capaz de promover a geração de flocos com características ideais para as etapas de flotação e sedimentação, através da energia cinética transferida ao fluxo hidráulico no reator (Rubio e Carissimi, 2005). Polímero floculante catiônico (Flonex 9045) foi usada na alimentação do reator com concentração PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA de 5mg.L-1. Paralelamente os flocos gerados pelo RGF® foram alimentados no tanque de sedimentação e na célula de flotação. Para os ensaios de flotação, uma bomba multifásica (Figura 7) foi usada para a pressurização do ar na água a uma pressão de 8 kgf.cm-2. A bomba foi alimentada com água tratada pelo sistema de flotação e a alimentação do ar na corrente de alimentação da bomba foi realizada a uma vazão de 0,8 L.min-1. A vazão de alimentação da água saturada na base da célula de flotação foi de 0,3 m3.h-1 (30% da vazão de alimentação do efluente). Figura 5. Unidade de sedimentação lamelar (~ 1-1.3 m3h-1) para tratar DAM – região de Criciúma/SC: [1] SL (sedimentador de lamelas - com tubos inclinados); [2] Lodo decantado; [3] Água tratada para reúso; [4] Bomba do lodo decantado; [5] RGF (Reator Gerador de Flocos) Figura 6. RGF® - Reator Gerador de Flocos: seção e vista isométrica PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Figura 7. Bomba centrífuga multifáscia (água/ar) Edur® empregada para dispersa, dissolver e saturar ar na água Estudos de remoção dos íons sulfato (pH 12). Os ensaios de remoção dos íons sulfato foram realizados similarmente aos ensaios a pH 9,0 descritos para a remoção dos íons de metais. Sais de alumínio (PAC – policloretos de alumínio) foram adicionados nos tanques de neutralização precipitação para a precipitação do mineral etringita. Esse mineral é precipitado em pH alcalino (aproximadamente 12,0) pela adição de cal e sais de alumínio numa razão mássica de PAC:SO4-2 = 2:1 (Cadorin et al. 2007). Foram usados PAC TE 1018 (policloreto de alumínio) e Alupan (aluminato de sódio), fornecidos pela Empresa Panamericana S.A. As concentrações desses sais foram de 1mL.L-1 e 0,5 mL.L-1, respectivamente. Os ensaios de remoção do precipitado (etringita) apenas foi realizado no sistema de flotação (Figura 8) devido a característica leve do lodo gerado. A célula de flotação foi equipada com placas inclinadas, para a sustentação e melhor eficiência da fenômeno de captura bolha-floco, e com placa perfuradas na base da coluna, usadas para distribuir o fluxo de saída da célula evitando zonas de fluxo preferencial e arraste de flocos. Essas características conferem a célula de flotação condições de alta taxa superficial do fluxo. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Figura 8. Unidade piloto de flotação para tratamento de DAM – Criciúma/SC (~ 1 m3.h1 ). Condições [1] alimentação de leite de cal; [2] reagentes (floculantes e coletores); [3] neutralização de DAM – precipitação de íons de metais; [4] RGF (Reator Gerador de Flocos); [5] válvula agulha para geração de bolhas; [6] bomba multifásica para saturação de ar em água; [7] unidade de flotação de alta taxa com microbolhas. 5.3. Resultados e Discussões Remoção dos íons de metais. Os resultados médios de remoção dos íons Al+3, Fe+3 e Mn+2 são resumidos na tabela 4. A remoção dos íons na condição de pH 9,0 apresentou similar eficiência para os sistemas de flotação por ar dissolvido e sedimentação lamelar. Os valores médios para a concentração final dos íons Fe+3 e Mn+2 para ambos os sistemas (flotação e sedimentação) ficaram abaixo do limite de detecção do equipamento de absorção atômica (Varian®, modelo SpectrAA 110), 0,06 e 0,02 mg.L-1, respectivamente. Tabela 4. Resultados médios (6 ensaios) de remoção e concentração final de íons metálicos na DAM pelos métodos de flotação e sedimentação lamelar. Condições – pH: 9,0; [cal]: 250 mg.L-1. Cf, mg.L-1 -1 Íons de metais CO, mg.L Remoção, % Flotação Sedimentação Fe+3 2,0 0,06 0,06 97 Al+3 33,0 3,5 3,1 90 Mn+2 2,3 0,02 0,02 99 PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Remoção dos íons de sulfato. Os ensaios de precipitação-flotação da etringita mostram que a remoção de SO4-2 em pH 12 foram superiores a 75 % para todos os 6 ensaios realizados. Para fins comparativos os resultados de concentração inicial e final de sulfato na água são apresentados no gráfico junto ao limite de concentração para o íon em corpos hídricos de água doce no Brasil seguindo as deliberações normativas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 357 de 2005). Os ensaios mostram efetiva remoção e um enquadramento desse parâmetro para as exigências legais do Brasil. -1 600 Concentração (SO4 ), mg.L 800 -2 1000 Concentração inicial, mg/L Concentração final, mg/L CONAMA 357/05, mg/L 400 200 0 1 2 3 4 5 6 Ensaio Figura 6. Concentração dos íons sulfato da DAM antes e após o tratamento com precipitação de etringita e flotação. Valores definidos pela legislação brasileira para águas doces classe 1. Condições. pH: 12,0; PAC TE 1018: 1ml.L-1; Alupan: 0,5mL.L-1. 6. Avaliação técnico-econômica da flotação e sedimentação lamelar Os custos envolvidos nos estudos piloto de flotação e sedimentação lamelar foram estimados através da medição do consumo energético dos equipamentos da estação de tratamento e os valores gastos com reagentes. O monitoramento do relógio de consumo de energia mostrou um consumo de 1,2 kWh.m-3 para a operação da planta com o sedimentador e 1,9 kWh.m-3 para o sistema de flotação. A tarifa de energia elétrica cobrada pela Central Elétrica de Santa Catarina (CELESC), para as atividades de saneamento, água e tratamento de esgoto é da ordem de 0,24 R$.kWh-1. A Tabela 4 PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA mostra os custos com reagentes e energia calculados na operação da planta piloto (SS16). Tabela 4. Estimativa de custos total para o tratamento de DAM a pH 9,0. Equipamento pH SL 9 FADAT 9 Reagentes, Energia, R$.m-3 Total, R$.m-3 0,20 0,30 0,50 0,50 0,50 1,00 R$.m -3 A Tabela 5 mostra dados comparativos de parâmetros de flotação por ar dissolvido (FAD) e sedimentação lamentar de duas unidades de tratamento de DAM com capacidade de 250 m3.h-1 cada. A unidade FAD, instalada na carbonífera Metropolitana - SC, apresenta vantagens (em relação à planta de sedimentação lamelar) em termos de parâmetros como a taxa de aplicação superficial e tempo de residência. No entanto a sedimentação lamelar apresenta vantagens em termos de custos de operação e investimentos, além da simplicidade de operação e unidades compactas. Tabela 5. Tratamento ativo de DAM no Brasil: Parâmetros comparativos entre a flotação e a sedimentação lamelar (dados aproximados) Parâmetros Flotação Sedimentador de Lamelas Taxa de aplicação superficial, m3.m-2.h-1 9,0 5,0 Tempo de residência, min. 40 90 Custo operacional, R$.m-3 1,0 0,5 -3 3.000 1.900 -3 0,5 0,3 600 450 Custo de investimento, R$.m Consumo de energia, kWh.m 2 Área total da planta, m Analisando a tabela 5 nota-se que os custos elevados da flotação é resultado, principalmente, da adição de agentes hidrofobizantes (oleato de sódio, 0,30 R$.m-3) que garantem a efetiva adesão entre bolhas e partículas mas que incrementa o custo do consumo dos reagentes de 0,20 para 0,50 R$.m-3. Os custos de flotação envolvidos na saturação da água de reciclo (saturador e bomba Edur® - energia) representaram um acréscimo de 66% da energia quando comparado ao sistema de sedimentação. Os custos finais para o sistema de sedimentação representou 50% do valor estimado para a operação de um sistema de flotação por ar dissolvido. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Os custos envolvidos para o tratamento da DAM removendo os íons sulfato foram de aproximadamente R$ 7,00 por m3. Os altos valores encontrados por essa técnica ocorrem pelos altos custos dos sais de alumínio oferecidos no mercado. Apesar de alto, os custos encontrados pela técnica de precipitação da etringita apresentam-se competitivos quando comparados aos sistemas convencionais de tratamento de águas com elevadas concentrações de íons sulfato. 7. Avanços e perspectivas da sedimentação lamelar Os avanços para estudos de sedimentação lamelar no tratamento de efluentes ácidos devem ser fundamentados no aumento do teor de sólidos no lodo escoado pelo “underflow”, elevação da taxa de aplicação superficial e redução das áreas de projeto para os tanques de sedimentação. Estudos em uma estação de tratamento de DAM carregada (lavador Naspolini/SC – baixos níveis de pH e elevadas concentrações de Fe+3 e Al+3) estão sendo desenvolvidos pelo Laboratório de Tecnologia Mineral e Ambiental (LTM) da UFRGS. Estudos de neutralização/precipitação, floculação e sedimentação lamelar mostram que os custos para operação de unidades de sedimentação passam de R$ 0,50 para R$ 3,25 para efluentes carregados devido ao consumo de cal (de 250 mg.L-1 para 8.600 mg.L-1). As perspectivas são aplicar conhecimentos de engenharia, química e desenvolver estudos piloto para a otimização de parâmetros de processo em sistemas de sedimentação lamelar, como: geometria do fundo dos sedimentadores, floculação de alta taxa em reatores hidráulicos e redução da área dos tanques (inclinação e espaçamento das placas). Conclusões O presente trabalho mostrou as tendências tecnológicas para o tratamento de DAM de carvão no sul do Brasil. Os resultados mostram que a sedimentação lamelar é a técnica economicamente mais viável no tratamento desse efluente. Os custos envolvidos com a sedimentação apresentaram valores 50% inferiores aos sistemas de flotação estudados. A técnica de precipitação de SO4-2 como etringita apresentou resultados de remoção desses íons acima de 75% para as condições estudadas, enquadrando o parâmetro sulfato aos limites determinado pela legislação brasileira. Agradecimentos Os autores desse trabalho agradecem aos alunos e pesquisadores do LTM pelas contribuições nas etapas do estudo e pelo agradável ambiente no laboratório. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA Agradecimentos ao SIECESC pelo apoio e colaboração para a realização dos ensaios piloto. Referências CADORIN L.M.; CARISSIMI, E.; RUBIO, J. Avances en el tratamiento de aguas ácidas de minas. IV Congreso Internacional de Materiales. Edição Especial. v. 36. p. 849-85. 2007. CETEM, Centro de Tecnologia Mineral. Projeto de Coberturas Secas para Controle da Drenagem Ácida em Depósitos Geradores de Acidez. Souza, Vicente Paulo; Borma, Laura De Simone; Mendonça, Rose Mary Gondim. Rio de Janeiro. 2003. CNRH. Resolução nº 54, 28 de novembro de 2005. Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Brasil, 2005. CONAMA. Resolução nº 357, de 17 de Maio de 2005. Conselho Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente, Brasil, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/> . Acesso em: 27 outubro 2008. DNPM. Departamento Nacional de Produção Mineral. Sumário Mineral 2008. Borba, Roberto Ferrari; Araújo, Luís Paulo de Oliveira. Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/assets/galeriaDocumento/SumarioMineral2008/carvaomineral. pdf. 2008. FIRPO, B., SCHNEIDER, I. A. H. Remoção de manganês e sulfato em drenagem ácida de mina da mineração de carvão em banhados construídos. XXII ENTMME. Encontro Nacional de Tecnologia Mineral e Metalurgia Extrativa. Ouro Preto-MG. Anais..., vol. 2. p. 409-415. 2007. GALATTO, S. L., BACK, A. J., LOPES, R. P., BIF, D. Z., SANTO, E. L. Emprego de coberturas secas no controle da drenagem ácida de mina – estudos em campo. Em: Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 12, n. 2, p. 229-236, 2007. PORTAL TRATAMENTO DE ÁGUA GTA - Grupo Técnico de Assessoramento (DNPM, CPRM, SIECESC, FATMA, MPF). Primeiro Relatório de Monitoramento dos Indicadores Ambientais. Versão 03. Revisão 02. Criciúma, SC. 2007. MENEZES, C. T. B.; SANTO, E. L.; RUBIO, J.; DA ROSA, J. J.; LEAL Fº, L. S.; GALATO, S. L.; IZIDORO, G. Tratamento de denagem ácida de mina: Experiência da Carbonífera Metropolitana. XX Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa, Florianópolis-SC. Anais..., p. 599-608. 2004. MS. Portaria nº 518. Ministério da Saúde. Brasil. 2005. OLIVEIRA, C. R. “Adsorção-Remoção de Íons em Zeólita Natural Funcionalizada”. Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia de Minas, UFRGS, Porto Alegre, 2006. RUBIO, J. Aspectos ambientais no setor minero-metalúrgico. Em: Tratamento de Minérios; A.B. da Luz, M.V. Possa e S. L. de Almeida (Eds), CETEM-CNPq-MCT, capítulo 13, p.537-570, 1998a. RUBIO, J. Environmental applications of the flotation process. Em: Effluent Treatment in the Mining Industry. 389 p. (S.H.Castro, F. Vergara and M. Sanchez, Eds), University of Concepción-Chile, Capítulo 9, p.335-364. 1998b RUBIO, J., CARISSIMI, E. The flocs generator reactor–FGR: a new basis for flocculation and solid-liquid separation. International Journal of Mineral Processing, v. 75, n. 3-4, p. 237-247. 2005. RUBIO, J. SILVA, R. e SILVEIRA, A. Técnicas para tratamento e aproveitamento de águas ácidas residuais da mineração de carvão. III Workshop Gestão e Reúso de Água na Indústria. Florianópolis, SC, 2007. RUBIO, J. SILVA, R. e SILVEIRA, A. Técnicas para tratamento e alternativas de reúso de águas ácidas de minas de carvão. VI Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental - ABES-RS e PUCRS/FENG. Porto Alegre, 2008.