CENTRO BRASILEIRO DE ANÁLISE E PLANEJAMENTO-CEBRAP O SISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO DE EMPREGOS: UM OUTRO OLHAR SOBRE O MERCADO DE TRABALHO EM SÃO PAULO Nadya Araujo Guimarães USP/Depto. de Sociologia e Cebrap/CEM E-mail: [email protected] Website: http://www.fflch.usp.br/sociologia/nadya Apoio técnico: Paulo Henrique da Silva (Sociólogo, Cebrap) Marcus Vinicius Farbelow (Sociólogo, Fapesp/Cebrap) Natália Finelli de Moraes (Bolsista IC/CNPq, USP) Jonas Tomazi Bicev (Bolsista IC/CNPq, USP) São Paulo Dezembro de 2004 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 O SISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO DE EMPREGOS: UM OUTRO OLHAR SOBRE O MERCADO DE TRABALHO EM SÃO PAULO SUMÁRIO Apresentação ________________________________________________________________ 3 1. O mercado da intermediação: os agentes do sistema e o fluxo do serviço de intermediação ____________________________________________________________________________ 7 1.1 - Anos 1990: A consolidação do padrão de desemprego recorrente e suas conseqüências para o volume da oferta de demandantes de emprego e para os padrões de procura de trabalho ____________ 8 1.2 - Anos 1990: A constituição do negócio do trabalho temporário, a outra face do desemprego recorrente ________________________________________________________________________ 14 1.3 - Anos 1990: São Paulo se consolida também como um território para a intermediação pública __ 23 2. O demandante de emprego: perfil e percepções _________________________________ 41 2.1 - Perfil do demandante de trabalho em agências de emprego _____________________________ 41 2.2 - As percepções sobre a procura e as iniciativas dos demandantes de emprego em agências governamentais, sindicais e privadas ___________________________________________________ 57 3. O lugar de um sistema público no mercado da intermediação e as políticas de desenvolvimento local ________________________________________________________ 63 Referências bibliográficas _____________________________________________________ 71 2 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 O SISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO DE EMPREGOS: UM OUTRO OLHAR SOBRE O MERCADO DE TRABALHO EM SÃO PAULO1 Nadya Araujo Guimarães2 Apresentação Estratégias de desenvolvimento econômico local que tomam em conta objetivos de inclusão social têm seu calcanhar de Aquiles em duas dimensões-chave: a competitividade das empresas e as possibilidades de geração de emprego e renda. Ora, um dos elementos importantes nas políticas públicas de emprego e renda diz respeito, sem dúvida, à arquitetura e funcionalidade do sistema de intermediação entre demandantes e ofertantes de 1 Este texto é uma tentativa de refletir a partir de uma variedade significativa de informações provenientes tanto de registros administrativos de diversa natureza (RAIS e SIGAE), como de dois diferentes surveys, um domiciliar em parceria com a Fundação Seade (2001) e outro em agências de emprego, em parceria com o Instituto Datafolha (2004), ambos realizados na Região Metropolitana de São Paulo, patrocinados pelo Centro de Estudos da Metrópole (Projeto Fapesp/Cepid 1998/14342-9) e pela William and Flora Hewlett Foundation (US-Latin America Program, Grant # 200-5377), tendo sido por mim coordenados. O texto foi especialmente preparado visando atender duas demandas, distintas mas complementares. Por um lado, ao Projeto MTE/DEQ e OIT/Brasil intitulado “Desenvolvimento de ações no campo da qualificação profissional para a promoção da inclusão social de trabalhadores e trabalhadoras”. Agradeço a Almerico Lima (MTE) e Armand Pereira (OIT) pela confiança do convite. Por outro lado, ao Projeto “Desenvolvimento Econômico da Região Metropolitana de São Paulo. Estratégias para o Planejamento Regional”, uma parceria entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP. Agradeço a Alvaro Comin pela confiança expressa no convite para integrar a sua equipe, e a esta pelos excelentes e estimulantes comentários às minhas idéias iniciais, na oportunidade do Workshop “Estratégias de Desenvolvimento para a Região Metropolitana de São Paulo – Módulo Zona Sul”, ocorrido no Cebrap em 10.09.2004, reunindo pesquisadores do Projeto e técnicos da PMSP. Os resultados aqui apresentados teriam sido impossíveis não fora o apoio ao acesso e preparo dos dados sobre o sistema brasileiro de intermediação, recebido de diferentes instituições e pessoas. Destaco especialmente o suporte do Ministério do Trabalho e do Emprego (tanto através da sua Secretaria de Políticas Públicas, quanto do seu Serviço de Registro de Empresas de Trabalho Temporário), bem como da Datamec/Unisys (através dos seus escritórios do Rio de Janeiro e de São Paulo). Como estou convicta de que instituições são, em grande medida, um reflexo de quem as ocupa e dirige, não seria excessivo personalizar os agradecimentos devidos a: Alvaro Comin (Cebrap), Almerico Lima, Carlos Augusto Simões, Franco de Matos, Gleide Costa, Daniel Nunes Mello, Simone Afiune Bohonos Ribeiro (todos do MTE), Fernando Legey, José Ferreiro Espasandin, Sergio Rodrigues, Celso Lopes e Daniel Rocha (esses da Datamec/Unisys). Na preparação e tratamento dos dados, contei com o apoio qualificado e com as boas idéias de Paulo Henrique da Silva e Marcus Vinicius Farbelow (Bolsista de Treinamento Técnico da Fapesp), além do suporte de Natalia Finelli de Moraes e Jonas Tomazi Bicev (bolsistas de Iniciação Científica do CNPq), aos quais também gostaria de registrar meus agradecimentos. Naturalmente, todas as lacunas e incorreções, que certamente povoam um texto exploratório num campo tão pouco estudado, são de minha inteira e solitária responsabilidade. Comentários, por isso mesmo, serão muito bem-vindos. 2 Professora Livre-Docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e Pesquisadora do CNPq associada ao Cebrap – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. E-mail: [email protected] Website: http://www.fflch.usp.br/sociologia/nadya 3 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 trabalho. Analisar tal sistema, indicando como se estrutura e quem são os demandantes que a ele acorrem será o objetivo do presente estudo. Se análises sobre o sistema público de emprego são relativamente fartas, tanto no que concerne às políticas e à arquitetura dos serviços de outorga de benefícios tais como o seguro-desemprego (Azeredo, 1998; Paes de Barros et al, 1999; Posthuma, 1999), quanto no que concerne à constituição das políticas e da arquitetura atual do sub-sistema de qualificação (Azeredo, 1998; Fidalgo, 1999; Lima, 1999), tal não é, em definitivo, o caso do sub-sistema de intermediação de empregos. Por certo, as iniciativas sindicais em qualificação profissional e agenciamento de oportunidades de trabalho foram objeto de estudos recentes e muito cuidadosos (Zylberstajn et al, 2000; Lima, 1999; Guimarães, Comin e Leite, 2001). Entretanto, só muito excepcionalmente a pauta de observação dirigiu-se a avaliar a performance dos sindicatos e/ou centrais sindicais enquanto intermediadores eficazes de vagas no mercado de trabalho (como no caso de Zylberstajn et al 2000, por exemplo). Na verdade, a literatura a respeito atentou, antes, para a novidade que representava o envolvimento sindical com políticas de emprego, um tipo de ação inusitada haja vista o nosso modelo de relações industriais. Afora isso, deparamo-nos com uma grande lacuna toda vez que o interesse se volta, como aqui, para entender a organização e funcionamento do próprio mercado de intermediação, aí compreendida a ampla diversidade dos seus agentes (governo, sindicatos e empresas privadas). Nesse caso, a disponibilidade de análises que possam ancorar seja a construção de evidências empíricas, seja a própria reflexão analítica, é virtualmente nula. Mas, a maior lacuna de informação e reflexão reside no conhecimento do segmento privado do mercado de intermediação, em especial das agências privadas de emprego e das empresas de trabalho temporário. É nesse vácuo analítico que se localizam tanto o atrativo das considerações subseqüentes, quanto o risco de que elas ainda se revestem. Por isso mesmo, o leitor é desde logo advertido para a natureza eminentemente exploratória dos resultados e considerações aqui apresentados. Mas, apesar da novidade da iniciativa e da circunscrição do seu foco empírico à Região Metropolitana e ao Município de São Paulo, entendo que os achados que doravante apresentarei são de grande valia. E por três razões principais. Em 4 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 primeiro lugar, eles permitem temperar os estudos sobre competitividade e emprego, centrais à formulação de estratégias de desenvolvimento local e regional, com uma perspectiva relevante (conquanto poucas vezes tomada em conta): a dos mecanismos institucionais da intermediação (e, sobretudo, do papel dos agentes governamentais) mobilizados no esforço por encurtar distâncias entre a oferta e a demanda de trabalho, problema premente quando as taxas de desemprego alcançam, como nas metrópoles brasileiras, a casa dos dois dígitos. Em segundo lugar, e como terei ocasião de documentar mais adiante, a análise do caso de São Paulo importa não apenas como instrumento para o adequado enraizamento de políticas públicas locais, mas pela sua relevância bem mais ampla, sendo cabível tomar esse exemplo como um caso-limite, que nos faculta mapear traços e identificar tendências que podem vir a se configurar em outras das nossas grandes metrópoles. Isso porque, e os dados subseqüentes parecem indicá-lo, se há uma parte do território nacional em que já se constituiu um mercado de intermediação, completo pela presença pujante de todos os seus agentes, essa parte é a Região Metropolitana de São Paulo e, nela, notadamente o município de São Paulo. Ali ofertantes de trabalho, ofertantes de vagas e intermediadores de todas as origens e calibres estão plenamente constituídos. Daí ser pertinente analisar justamente a partir dali como opera o sistema brasileiro de intermediação. Em terceiro lugar, a reflexão sobre a arquitetura e o funcionamento de um sistema público de emprego, integrando beneficio, (re)qualificação e colocação, pode ser desenvolvida (e as iniciativas postas em cheque) também na Região Metropolitana de São Paulo. Com isso quero dizer que um estudo dessa natureza pode ser útil por apontar indicações para a ação pública, cuja presença é um farol a orientar a conduta dos agentes no mercado. Daí porque é imprescindível o seu adequado aparelhamento para que se possa bem conceber e implementar ações voltadas a preservar o sentido republicano e democrático do uso do recurso governamental num mercado onde o que circula é a capacidade de trabalho dos indivíduos. Logo, o que se intermedia são, no limite, os projetos e as expectativas face ao trabalho e à organização da sobrevivência, os anseios de qualificação e de acesso a uma ocupação decente de centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. A presença de um sistema público de emprego integrado e solidamente implantado, e que articule todos os diversos entes governamentais, pode ser decisiva para 5 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 que o negócio da intermediação – tal como já plenamente constituído em São Paulo – não se exerça em beneficio dos interesses econômicos dos vários agentes intermediadores e em detrimento dos demandantes de trabalho. Na forma como estruturado, este estudo se compõe de três partes. A primeira focalizará os agentes do sistema de intermediação; a segunda caracterizará o demandante que acorre a este sistema; a terceira fará indicações com respeito a políticas públicas para melhorar as condições de intermediação e que possam ter efeitos sobre as oportunidades de emprego. Dadas as dificuldades de disponibilidade de informação, e de modo a maximizar o que se pode analisar com respeito ao tema em suas várias escalas (nacional, metropolitana, municipal e intramunicipal) nem sempre o fio do argumento se estruturará com respeito a uma mesma unidade de observação. Os dados mais gerais são apresentados com o fito de contextualizar o caso estudado. Coligirei informações de preferência sobre a metrópole, mas também remeterei algumas das observações a pelo menos duas das suas grandes áreas, o ABC e o município de São Paulo, cujas dinâmicas são extremamente interconectadas. Quando possível, desagregarei ainda mais os argumentos, usando como ilustrações as regiões leste e sul da cidade, justamente aquelas que hoje mais demandam, nesse aspecto, da ação pública no município de São Paulo; assim procurarei defender a pertinência de considerações como as que se pode fazer com os dados atualmente ofertados para análises voltadas ao desenho de políticas públicas dirigidas a espaços tão circunscritos como os de nível intramunicipal. 6 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 1. O mercado da intermediação: os agentes do sistema e o fluxo do serviço de intermediação A existência de um mercado de força de trabalho supõe a presença, num dado território, dos dois componentes primários que configuram essa relação mercantil: ofertantes de postos ocupacionais, por um lado, e demandantes de emprego, por outro. Contudo, no que concerne ao mercado de intermediação de força de trabalho uma condição adicional é igualmente requerida, a de que ofertantes e demandantes convirjam seus esforços para um sistema institucionalizado de agentes que faça a interface, funcionando como mediador dessa relação. O que se passa a respeito na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)? Para entendê-lo melhor, retrocederei aos anos 1990, quando (sugiro) tal mercado se constituiu em toda a sua plenitude. Para tal, três fatores foram decisivos. Em primeiro lugar, a intensa reestruturação econômica, que alterou de modo significativo o padrão de divisão intersetorial e as formas de contratação e uso do trabalho na RMSP, não apenas pondo em novo patamar os problemas de emprego, mas fazendo da figura do desemprego recorrente a chave para o entendimento da ordem atual no mercado de trabalho. Em segundo lugar, a consolidação do negócio do trabalho temporário, que se fez pari pasu com essas intensas mudanças econômicas, de que resultou um pujante setor voltado ao serviço de provimento de força de trabalho; são os “tomadores de serviços”, como os seus agentes preferem ser reconhecidos, para diferenciar-se daquelas que consideram como “meras” agências de emprego.3 Em terceiro lugar, a montagem do atual sistema de intermediação com a entrada em cena do recurso público oriundo do sistema FAT, que permitiu financiar o redesenho do Sistema SINE, tornando-o a cabeça de uma pujante estrutura institucional de intermediação, que envolve governo e sindicatos, e que se soma às antigas agências privadas. Assim, para entendermos melhor o sistema de intermediação tal como ele existe na RMSP, deslindando como se articulam os seus agentes de modo a fazer fluir o serviço de 3 Conforme depoimento colhido em entrevista conduzida, como parte da pesquisa, em 2004, com dirigente de uma grande firma e representante destacado numa associação que congrega as empresas privadas de agenciamento, intermediação e locação de trabalho. 7 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 intermediação, abordarei, em seguida, cada um dos três aspectos acima indicados, na expectativa de poder vir a demonstrar que os anos 1990 foram o momento chave à constituição desse sistema em seu atual padrão de organização. 1.1 - Anos 1990: A consolidação do padrão de desemprego recorrente e suas conseqüências para o volume da oferta de demandantes de emprego e para os padrões de procura de trabalho Em estudos sistemáticos que tenho feito desde 2001 (Guimarães et al, 2003; Guimarães, 2004 e 2004-a) arriscaria dizer que, do ponto de vista dos demandantes de trabalho, há uma importante guinada nos anos 1990 que faz da RMSP um viveiro especial de intermediação de oportunidades de emprego. Dois elementos são destacáveis. Por um lado, o notável aumento das taxas de desemprego, que mudam de patamar, dobrando entre o início e o final da década. Na figura 1 vemos como essa mudança foi se consolidando ao longo dos anos 1990, atingindo os dois componentes em que a PED distingue essa taxa, o desemprego aberto e o desemprego oculto. Aumenta, assim, a oferta de indivíduos à procura de trabalho. Figura 1 Região Metropolitana de São Paulo, 1990-2001 Evolução da Taxa de Desemprego 25,0 20,0 15,0 10,0 O 5,0 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 0,0 Total Aberto Oculto Fonte: Fundação SEADE, Pesquisa de Emprego e Desemprego. Processamentos próprios. A notável ampliação da taxa de desemprego é relevante também por uma questão de escala. Na ordem de grandeza dos números para a RMSP, dado o tamanho do seu mercado, 8 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 chegamos a contabilizar um contingente de quase 2 milhões de indivíduos em situação de procura de trabalho, no auge da sua mais recente crise de empregos; tal contingente tem variado, nos 15 últimos anos, entre um e dois milhões de demandantes. Ora, isso é um elemento nada trivial quando se trata da emergência e/ou consolidação de um mercado de intermediação e, especialmente, quando se quer acompanhar como nele se institui o negócio do trabalho temporário. Mas, em que pese a importância desse primeiro elemento (o novo patamar do desemprego), um segundo também se destaca e parece ainda mais relevante, se quisermos bem equacionar o que se passa com a questão do mercado de intermediação, vendo-o do ponto de vista da oferta de trabalhadores em busca de empregos. Qual seria, então, essa segunda característica? Nossos estudos apontaram para a especificidade do desemprego que atinge a RMSP: o seu caráter recorrente. Assim, se observarmos o que se passou com os itinerários de um mesmo grupo de indivíduos no mercado da RMSP, ao longo desse período de reestruturação econômica e de ampliação do patamar de desemprego, podemos ver a intensidade das transições que se estabelecem entre situações no mercado e a magnitude dos contingentes abrangidos. Figura 2 Região Metropolitana de São Paulo: A PEA de 16 e mais em 2001 e sua mobilidade no mercado entre 1997-2001 Ignorado Empregadores Desempregados/Inativos Inativos Desempregados Autônomos Domésticos Ass sem carteira Ass com carteira/Func pub ab r/9 7 ou t/9 7 ab r/9 8 ou t/9 8 ab r/9 9 ou t/9 9 ab r/0 0 ou t/0 0 ab r/0 1 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Fonte: Pesquisa Cebrap/CEM-SEADE, Survey Mobilidade Ocupacional. RMSP, abril-dez. de 2001. 9 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Na Figura 2 mostro os resultados de um survey complementar à PED-RMSP que levantou durante 9 meses (abril-dezembro de 2001) e para os 8 anos antecedentes, isto é, desde o Plano Real (1994-2001), informações sobre a situação ocupacional de 55 mil indivíduos, dos quais 7 mil estavam desempregados no momento da coleta.4 Na Figura 2, os itinerários desses indivíduos estão mostrados para a segunda metade da década dos 90, o período 1997-2001, escolhido porque se ampliam mais celeremente (como vimos na Figura 1 antecedente) as taxas de desemprego (aberto e oculto). Instados a descrever o ultimo, o penúltimo e o antepenúltimo dos seus vínculos de trabalho, desde o Plano Real, o que mais nos chama a atenção ao observamos o resultado apresentado na Figura 2 é a quantidade de pessoas que, por transitarem tão intensamente entre situações ocupacionais, de tão curta duração, têm percursos cujo padrão não pode ser tipificado, restando “ignorado”, como o chamo na Figura; eles são entre 20 a 40% dos entrevistados. Depois desses, cuja trajetória no mercado de trabalho é marcada por intensas transições ocupacionais, sobressai-se um segundo grupo: aqueles cujo itinerário tem sido o do movimento entre o desemprego e a inatividade, entrando e saindo do mercado de trabalho. Esses dois grupos (o de transições intensas e padrão de mobilidade ignorado e o de trânsito reiterado entre formas de desemprego e inatividade) formam, a cada mês observado entre abril de 1997 e abril de 2001, a parcela mais importante do contingente de 55 mil entrevistados, amostra representativa da população ativa da metrópole. Frente a eles, os assalariados regulares (com ou sem carteira), mesmo incluindo os domésticos, e os autônomos, todos juntos, formam, a cada momento, pouco mais que um terço das situações ocupacionais na biografia desses trabalhadores no mercado da RMSP. Ora, as transições tão intensas entre situações ocupacionais - transições essas marcadas não tanto pela passagem entre situações de trabalho, mas pela recorrência no desemprego e pela passagem à inatividade – formam uma clientela potencial de demandantes de emprego que anima, sem dúvida, a existência de um sistema de intermediação. Mas, por certo, isso não se confunde com a disponibilidade efetiva de indivíduos em busca de trabalho, já que a existência de clientela potencial não significa, de por si, que os mesmos recorram a um sistema estruturado em instituições especializadas 4 Para maiores detalhes sobre o desenho metodológico e resultados gerais descrevendo a dinâmica da região metropolitana de São Paulo, ver Guimarães et al (2003), Guimarães (2004), Guimarães, Silva e Farbelow (2004) e Guimarães, Hirata, Montagner e Sugita (2004). 10 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 (públicas ou privadas, não importa) no mercado dos serviços de intermediação de emprego. Que verificamos sobre isto no nosso inquérito sobre a RMSP? Figura 3 Região Metropolitana de São Paulo, 2001: Mecanismos mais utilizados na procura de trabalho Família, amigos e conhecidos 79,5 Contato direto com empresas 66,0 Agências privadas de emprego 39,8 Anúncios em jornais 28,8 Internet 5,0 Começar negócio próprio 3,6 Fonte: Pesquisa Cebrap/CEM - Seade, Survey “Mobilidade Ocupacional”, RMSP-abril/dez.,2001. Esta pergunta admitia resposta múltipla E, de fato, dos dados que colhi na pesquisa domiciliar em 2001, salta aos olhos o papel que os mecanismos privados desempenham na procura de trabalho na RMSP; são os “familiares, amigos e conhecidos” e o “contato direto com as empresas” (ou seja, a prospecção direta no mercado de trabalho) as alternativas mais referidas. Instituições típicas de um sistema de intermediação, como as agências de emprego, aparecem referidas por pouco mais que 1/3 dos entrevistados; e, observe-se, são citadas as agências privadas, e não aquelas montadas ao redor do sistema público, cuja referencia é tão reduzida que o resultado não tem significação estatística. Outros mecanismos públicos, como consulta a anúncios de jornais ou busca via Internet também são utilizados, mas nem de longe rivalizam com os mecanismos privados. Isso remete a dimensões sócio-culturais – como o peso das redes sociais na organização da sobrevivência, aí compreendida a procura de trabalho – as quais devem ser encaradas do ponto de vista do seu enraizamento em dimensões institucionais, que dizem da forma como o sistema de emprego e a institucionalização do desemprego se constituíram 11 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 no Brasil.5 Notar, por exemplo, que àquela época (2001), não se havia criado interface entre a concessão de beneficio e a procura de trabalho, de modo que a primeira não requeria sequer a inscrição do interessado no sistema de intermediação (o que pouco depois deixou de ocorrer), sem falar nos limites do próprio benefício outorgado (dificuldade de aplicar os critérios de elegibilidade aos de maior risco no desemprego, até pela intensidade das transições ocupacionais; o baixo valor do beneficio e sua reduzida duração, entre outros) que deslocavam para fora do sistema público parte não desprezível dos esforços dos demandantes de trabalho. Mas, na mesma pesquisa indagamos qual teria sido aquele mecanismo que havia sido o mais efetivo para obter trabalho (ver Tabela 1). Tabela 1 Região Metropolitana de São Paulo, 2001: Mecanismos tidos como os mais efetivos na obtenção de trabalho Tipo de recurso usado Somente Acionaram Mecanismos de Procura Privado Acionaram Mecanismos de Procura Públicos e Privados Recurso eficaz Total Anúncio em Jornais Agência Privada Parente, Amigo, Conhecido Diretamente na Empresa Outro (2) Total Parente, Amigo, Conhecido % 75,2 2,0 3,3 36,0 25,0 8,9 20,1 8,0 Diretamente na Empresa Demais Mecanismos Privados(3) Mecanismos Públicos (1) Outro (4) Somente Acionaram Mecanismos de Procura Públicos (1) Não Acionaram Nenhum Mecanismo de Procura Total Fonte: Pesquisa direta, 2001. (1) (2) (3) (4) (5) 6,4 2,4 (5) 2,2 (5) 4,5 100,0 Inclui postos de atendimento ligados ao Governo Estadual (SERT, PAT, Sine, Poupatempo), às Prefeituras Municipais e Centrais Sindicais. Inclui Internet, abrir negócio próprio, aqueles que foram convidados para o trabalho, aprovados em concurso, etc. Inclui Internet, abrir negócio próprio, anúncio em jornais e agência privada. Inclui quem foi convidado para o trabalho, foi aprovado em concurso, trabalhador familiar, etc. A amostra não comporta desagregação para esta categoria. 5 Em outros textos (Guimarães, 2004 e Guimarães, Hirata, Montagner e Sugita, 2004) explorei, através da comparações entre as RM’s de São Paulo, Paris e de Tóquio, como fatores ligados à construção normativa e institucional dos sistemas de emprego e de proteção ao desemprego afetavam tanto o padrão de transição no mercado de trabalho (logo o tipo de desemprego, além da sua intensidade), como os mecanismos mobilizados pelos indivíduos para procurar trabalho e a percepção dos mesmos sobre a sua eficácia. 12 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Destacava-se novamente, e ainda com maior proeminência, a crença, entre os entrevistados, na eficácia dos mecanismos privados e individualmente acionados. Quando vistas pelo ângulo da sua eficácia na colocação dos desempregados, as instituições de intermediação, mesmo as agências privadas de emprego, tinham agora relevo tão reduzido que poderiam quase ser desprezadas. Que podemos, então, depreender do exposto até aqui? Observado, do ponto de vista do comportamento dos demandantes de emprego, o mercado de intermediação de trabalho, da Região Metropolitana de São Paulo, nos anos 90, poderia ser caracterizado por alguns traços mais salientes. Primeiro: os anos 90 foram decisivos na mudança do padrão de desemprego (intensidade e modalidade) de modo a lançar no mercado, à procura recorrente de trabalho, uma quantidade notável de indivíduos, ou seja, há um impressionante mercado potencial de procura de trabalho sobre o qual erigir um sistema intermediador. Segundo: entretanto, para esses demandantes, eram as redes privadas de solidariedade (família, amigos e conhecidos) o suporte que se mostrava mais utilizado na sua procura de emprego, sendo também tidas como o meio mais efetivo para obter colocação no mercado, em 2001, quando São Paulo vivia um dos momentos de auge na sua mais recente crise de empregos. Terceiro: as instituições do sistema de intermediação tinham uma presença bastante desigual nas estratégias de procura dos demandantes de trabalho; as agências privadas de emprego eram uma alternativa de procura de peso considerável, embora fossem tidas como muito pouco relevantes em sua capacidade de prover colocação; o sistema mantido com recursos do FAT (governamental e sindical) era ainda de peso embrionário, seja enquanto objeto de recurso, seja enquanto meio eficaz de colocar-se no mercado. Vale dizer, se intermediação havia, ela era definitivamente tida como muito pouco bem-sucedida pelos demandantes de trabalho na RMSP em 2001. Mas, o que se passava pelo lado da constituição do negócio da intermediação, notadamente das empresas que se constituíam para prover trabalho temporário num contexto de reestruturação intensa e de desemprego recorrente? É disso que tratarei em seguida. 13 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 1.2 - Anos 1990: A constituição do negócio do trabalho temporário, a outra face do desemprego recorrente A constituição do negócio do trabalho temporário tem sido acompanhada por literatura que, se não chega a ser abundante, não deixa de ser significativa. Ela tem observado, em diferentes latitudes no nosso hemisfério, seja no que concerne aos Estados Unidos, por exemplo (Peck e Theodore, 1999; Pastor et al, 2003), seja no que concerne a países da América Latina (Echeverría, 2001), a importância crescente de uma nova figura que surge no mercado de trabalho organizando a intermediação entre, por um lado, necessidades cada vez mais flexíveis (em termos numéricos e funcionais) de parte das empresas e, por outro, a busca de novas oportunidades ocupacionais por parte de trabalhadores que ou foram desligados depois de contratos duradouros em funções agora reestruturadas, ou eram (re)ingressantes no mercado de trabalho. Trata-se de empresas organizadas com o fito de prover pessoal para outras firmas, seja intermediando pessoal para contratos a serem firmados com outrem, seja contratando diretamente. Sendo o outro lado da moeda do movimento de reestruturação das firmas, sua presença no mercado de trabalho é tanto mais forte quanto mais intensa e perceptível seja tal reestruturação. Observe-se que elas não são apenas, ou necessariamente, agências de emprego, já que têm um espectro de atuação bem mais amplo no que concerne à intermediação de maode-obra. Parcela significativa é formada por organizações que assumem a condição de empregadores daqueles cuja colocação agenciam com respeito a um terceiro (Echeverría, 2001). E longe de se reduzirem à imagem simplificada e estereotipada que vulgarmente mantemos com respeito ao trabalho temporário, chama a atenção, na literatura, a sua diversidade e, mais que isto, uma certa polarização organizacional que marcaria esses segmentos em mercados sob intensa reestruturação das firmas e, logo, sob grande volatilidade no que concerne às oportunidades de trabalho. Peck e Theodore (1999), analisando o caso de Chicago, metrópole onde mais cresce o trabalho temporário nos EEUU, identificaram dois segmentos bastante distintos nos anos 1990. Por um lado, aquele que, a juízo dos autores, refletiria uma espécie de “via alta” (high road) no processo de reestruturação econômica regional, sendo caracterizado por empresas de grande porte, que 14 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 servem a uma gama crescente de demandantes, fazendo-o de maneira cada vez mais profissional, e estabelecendo relações contratuais mais e mais estáveis com seus clientes; por isso mesmo, tenderiam a atender a uma demanda por trabalhadores de maior qualificação, o que as obrigaria a atentar (e desenvolver) suas próprias estratégias de recursos humanos. Por outro lado, existiria um segundo segmento de empresas de agenciamento e locação de trabalho temporário; essas, ao contrário das primeiras, tipificariam uma sorte de “via baixa” (low road) dentre as novas instituições de gestão desse tipo de trabalho; seriam sobretudo agências pequenas, de proprietários locais e em cadeias também locais ou regionais; estariam voltadas a atender mercados sensíveis ao valor dos salários, e dispostos a recrutar trabalhadores de baixa qualificação, principalmente nos chamados segmentos “leves” (embalagem, transporte de materiais, etc.); especializar-se-iam, portanto, no segmento mais pobre do mercado (p.138-9). Igual diversidade se manifesta no estudo conduzido Pastor et al (2003), onde foram analisadas duas regiões: uma no Meio-Oeste, Milwaukee6, e outra na Califórnia, o Vale do Silício; em ambos os casos tratava-se de mercados voláteis, conquanto a volatilidade resultasse de arranjos e dinâmicas locais que reagiam de modo distinto ao movimento macro-econômico. Que sabemos, a esse respeito, para o caso da RMSP? Como se organiza, aqui, o negócio do trabalho temporário? Para analisar a chegada, implantação e perfil desse tipo de instituição de intermediação recorrerei inicialmente a um estudo relativamente recente, rigoroso e detalhado que foi conduzido no primeiro semestre de 2000 na região metropolitana de São Paulo, focalizando o seu coração industrial, o ABC.7 Por que concentrar a observação nesse sub-espaço da RMSP? Em primeiro lugar por uma razão prática, já que para ele dispomos de um survey dirigido a tratar aspectos que 6 Região que está na origem do trabalho temporário nos EEUU e onde se constituiu uma das empresas hoje emblemáticas do setor em escala internacional, a Manpower. 7 Tal estudo, denominado “Pesquisa da Atividade do Setor de Serviços Empresariais no Grande ABC (PASSE/ABC)” foi coordenado por João Batista Pamplona, com suporte da Fundação SEADE e Agência de Desenvolvimento do ABC, e realizado no primeiro semestre de 2000; o levantamento foi realizado em 113 unidades locais, o que significa que 64% do universo foi amostrado. No que concerne ao porte, essas empresas registraravam um faturamento nada desprezível em 2000 (R$ 116.882.000 reais); eram 23.965 as pessoas ocupadas em atividades para as empresas e 2.241 as ocupadas diretamente nas empresas (Pamplona, 2002). O documento (Pamplona, 2002) que resume os achados dessa pesquisa, feita no ABC encontra-se também disponível on line em: http://www.fflch.usp.br/sociologia/nadya, como o capítulo 19 de Guimarães, Leite, Bento e Soares (2003). 15 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 são aqui importantes, a saber: as dimensões, características, interações setoriais e espaciais, nível de expansão e modernização e principais componentes da política de recursos humanos das empresas classificadas pela CNAE como formando o segmento provedor de serviços de “seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra”. Em segundo lugar, por uma razão substantiva (que torna cabível a vantagem prática anterior): sabe-se que, na RMSP (conforme Montagner, Bernardes e Matteo, 1999) e notadamente no seu coração industrial, o ABC (conforme Pamplona, 2002), é indiscutível a associação entre o recurso à terceirização e o caráter inovador das empresas. Em terceiro lugar, e por um outro leque de razões de tipo substantivo, porque no ABC a re-divisão inter-setorial dos empregos entre indústria e serviços foi a mais significativa (Guimarães, 2004-b), já que ali teve lugar a mais intensa queima de postos formais (industriais) de trabalho da região metropolitana nos anos 1990 e também porque foi ali que os índices de desemprego alcançaram os níveis mais elevados se comparados à média da RMSP e ao município de São Paulo. Revisando os resultados da pesquisa PASSE/ABC, uma primeira conclusão chama a atenção: considerando o ano de fundação das empresas de agenciamento, intermediação e locação de mao-de-obra pesquisadas em 2000, vê-se que a sua chegada coincide com a intensificação das mudanças ocupacionais que antes descrevemos. Nada menos que 8 em cada 10 delas se constituiram a partir de 1995, no rastro da intensificação do processo de reestruturação das firmas e de flexibilização das normas contratuais e de uso do trabalho na metrópole, notadamente no seu coração industrial (Figura 4). Vemos, assim, como esse segmento do mercado de intermediação é, mesmo na RMSP, de formação relativamente recente. 16 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 4 As empresas de intermediação de trabalho na RMSP: a sincronia entre chegada dos agentes e reestruturação das firmas. O exemplo do ABC (2000) Em % do número de U.Ls. Distribuição das unidades locais do Grupo 745 da Região do Grande ABC paulista segundo faixas do ano de fundação da empresa (2000) 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% de 1970 a 1979 de 1980 a 1989 de 1990 a 1994 a partir de 1995 Ano de fundação da U.L. Fonte: PASSE/ABC apud Pamplona (2002) Apesar disso, entretanto, chamam a atenção seja a heterogeneidade dos agentes, seja a concentração dos negócios ao redor das grandes empresas (Tabela 2). Em termos do número de unidades locais, há uma distribuição entre pequenas (21%), médias (31%) e grandes (47%), que pende em direção a essas últimas, mas não de modo tão acentuado quanto o que se observa quando se considera o provimento de pessoal e a receita líquida; 80% deles são gerados pelas maiores empresas (aquelas que ocupam mais que 100 pessoas). Tabela 2 As empresas de intermediação de trabalho na RMSP: a centralidade das firmas de maior porte. O exemplo do ABC (2000) Faixa de ocupados Micro (de 5 a 9 pessoas) Pequenas (de 10 a 49 pessoas) Médias (de 50 a 99 pessoas) Grandes (100 ou mais pessoas) P.O. Não informado Total % de U.L. 0,0% 20,8% 30,6% 47,2% 1,4% 100,0% % do total de pessoal ocupado - em 30/06/00 0,0% 3,1% 9,8% 87,2% 0,0% 100,0% % da receita bruta/faturamento bruto acumulado no 1º semestre de 2000 0,0% 3,0% 11,2% 84,9% 0,9% 100,0% Fonte: PASSE/ABC apud Pamplona (2002) 17 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Mas, quem são essas empresas e qual o seu perfil? De acordo com os dados da pesquisa PASSE/ABC (Tabela 3), sabemos que são empresas de capital nacional privado (9 em cada 10 delas), em sua quase totalidade geridas diretamente pelo(s) proprietário(s) ou sócio(s), dominantemente unilocais (apenas 3 em cada 10 têm filiais), onde o associativismo não é traço dominante (apenas metade delas participa de entidades ou associações de empresas do ramo) e onde tampouco medra a prática de veiculação de serviços por meios mais modernos como a internet. Tabela 3 Perfil das empresas de intermediação de trabalho. O exemplo do ABC (2000) Origem do capital das controladas Nacional privado Não respondido Total 88,9% 11,1% Tipo de gestão Por proprietários/ sócios Por executivos profissionais Não respondido predominante na empresa 87,5% 1,4% 11,1% Existência de filiais ou similares Participação em entidades ou associações do mesmo ramo de atividade Empresa unilocal Empresa não unilocal 69,4% Sim Não Sim 100,0% Total 100,0% Total 51,7% Não 51,4% Total 30,6% 48,3% Página na Internet para divulgação dos serviços 100,0% 100,0% Total 48,6% 100,0% Fonte: PASSE/ABC apud Pamplona (2002) Em que pese metade delas seja de pequeno ou médio porte e pareçam ainda pouco modernas, elas vieram para ficar – e crescer. A PASSE/ABC investigou os seus planos e eis os resultados (Tabela 4). 18 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 4 Pretensões futuras das empresas de intermediação de trabalho na RMSP. O exemplo do ABC (2000) Pretensão Fechar esse estabelec.e não abrir qualquer outro Pequena (de 10 a 49 pessoas) Média (de 50 a 99 pessoas) Grande (mais de 100 pessoas) Total 6,7% 0,0% 0,0% 1,4% Manter esse estabelec.em funcionamento (s/expandir / s/modernizar) 13,3% 9,1% 8,8% 9,7% Expandir ou modernizar esse estabelec. e não abrir outro 66,7% 63,6% 61,8% 63,9% Manter esse estabelec.em funcionamento (s/expandir ou modernizar) 0,0% 4,5% 2,9% 2,8% Expandir ou modernizar esse estabelec.e abrir outro 13,3% 22,7% 26,5% 22,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Transferir este estabelecimento para outra área geográfica Total de U.Ls. Fonte: PASSE/ABC apud Pamplona (2002) Seis em cada dez delas, independentemente do porte, planejavam, em 2000, expandir ou modernizar o estabelecimento. E, dependendo do porte, pensavam em expandilo e ainda abrir um outro, pretensão essa que se tornava mais expressiva entre as de médio e grande porte. Mais ainda, nenhuma tinha planos de deixar o mercado de trabalho da metrópole. E, de fato, como se pode visualizar na Figura 5, a RMSP é um espaço destacável na geografia do negócio do trabalho temporário. Na Figura foram espacialmente localizadas as firmas que o Cadastro das Empresas registradas no sistema RAIS-CAGED identificava como em funcionamento na região e dedicadas aos serviços de agenciamento, locação e intermediação de mão-de-obra.8 8 Utilizamos uma base especialmente preparada em 2003 por Claudio Amitrano para o Centro de Estudos da Metrópole (CEM), do Cebrap, a quem agradecemos pelo acesso aos dados. Nessa base foram georeferenciadas as empresas localizadas pelo levantamento da RAIS-2000, tendo esse universo sido atualizado pelo recurso ao CAGED (entre 2000 e 2002), o qual foi confrontado com outras fontes igualmente georeferenciaveis. Por certo, trata-se de uma aproximação ao mundo dos agentes privados atuantes no setor. E digo aproximação por duas razões. Em primeiro lugar pela defasagem de tempo, dado que já temos um hiato de quase 3 anos entre o que descrevo na Figura 5 e a realidade atual; em segundo lugar, pelo fato de sabermos 19 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 O município de São Paulo, em especial, e algumas outras regiões ao interior da metrópole (como o ABC e Guarulhos) são verdadeiros territórios do negócio da intermediação, tal o grau em que concentram firmas a ele dedicadas. Figura 5 Empresas privadas de intermediação de trabalho na RMSP (2002) Fonte: Cadastro de Empresas, RAIS-CAGED, 2002. Processamento próprio. ser muito elevada a mortalidade desses agentes, notadamente os de pequeno porte; e como a base foi montada agregando aos dados RAIS 2000 os novos agentes identificados entre 2000 e 2002 pelo CAGED, ela sobreenumera, em alguma medida, as firmas de pequeno porte, ao subdimensionar a sua mortalidade. No momento, estou tratando os dados resultantes do Recadastramento de Empresas Tomadoras de Serviços, relizado entre 2002 e 2004 pelo MTE, e, em que pese ainda não estejam finalizados os processamentos, posso verificar que a tendência ali se reafirma: o Estado de São Paulo é o maior viveiro dessas empresas no Brasil; a distância que se guarda entre este Estado e o segundo mais importante é significativa. Em São Paulo, é na sua Região Metropolitana que o negócio mais viceja; e ali é o município de São Paulo que concentra a maior parte dos agentes privados da intermediação de mão-de-obra. 20 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Como atuam essas empresas?9 Ou seja, como se dá o fluxo do serviço que prestam? Alguns aspectos são destacáveis. O primeiro deles já se depreende do mapa acima; a sua geografia mostra dois padrões de atuação: podem estar dispostas em clusters ou em pontos isolados, beneficiando-se, no primeiro caso, das economias de aglomeração que resultam de implantarem-se em alguns dos “territórios da intermediação” que claramente se destacam na metrópole paulista. Ao lado disso, uma segunda característica: são fortemente heterogêneas. Tal como nos dados vistos para o ABC, é possível destacar pelo menos dois grandes segmentos. Por um lado, o das empresas de grande porte (nacionais ou multinacionais), que atuam a partir de uma rede de filiais, dispersas pelos grandes pólos do procura de trabalho, com longo tempo de implantação, organizadas em associação e sindicato, com padrão profissional de captura de vagas, (maior ou menor) staff profissionalizado, importante diversidade de oferta, diversidade também nos mecanismos de captura de demandantes e de difusão de oportunidades (via Internet, em postos geograficamente concentrados, via contratos de locação que manejam estoques de pessoal já previamente montados pela empresa), e que pautam os temos da sua relação, seja com o demandante de vaga seja com as empresas que as contratam como intermediadoras, por regras negociadas no setor, entre as congêneres. Por outro lado, uma miríade de pequenas empresas, no mais das vezes uni-localizadas, preferencialmente distribuídas pelo que chamo aqui “territórios da intermediação”, com elevada mortalidade no ramo de negócios, ausência de política de quadros, intermediando qualquer tipo de vagas mas com freqüência vagas para trabalhos de menor qualificação e/ou remuneração, que tendem a não estar sindicalizadas ou associadas, e que praticam estratégias de captura de vagas e encaminhamento de demandantes que não raro se dão ao arrepio do que marca a cultura de negócio nas empresas de grande porte.10 9 Uso, nessa descrição, primeiros registros de um trabalho de observação qualitativa que coordenei em que se procurou recobrir o modo de atuar dos diversos agentes de intermediação (privados e públicos): alguns clusters mais importantes no município (no centro de São Paulo e no bairro de Santo Amaro) e no ABC (em Santo André), bem como algumas agências isoladas no município de São Paulo e na periferia da sua região metropolitana (como o eixo oeste em Jandira-Barueri-Carapicuiba). Agradeço ao apoio da minha equipe de campo, formada por Uvanderson Vitor da Silva, Priscila Pereira Vieira, Olivia Janequini e Paulo Henrique da Silva, que comigo dividiram espaços a observar, obrigação de registros e discussões de avaliação. 10 Não sem razão são fortemente criticadas em suas práticas tidas como “inescrupulosas” pelos dirigentes de entidades do setor, às quais, obviamente, elas não estão associadas. Destaque, dentre essas práticas, para o preço fixado pelo serviço e para as não raras iniciativas de dupla remuneração por uma mesma vaga (pela empresas que as contrata e pelo demandante que a elas recorre). 21 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Trata-se, em qualquer dos casos, e essa seria uma terceira importante característica, de empresas que têm capacidade nada desprezível de capturar vagas. Entretanto, sua distinta “cultura de negócio” as faz tratar de forma muito variada o demandante. No caso das empresas de maior longevidade, há uma tendência a concentrar-se em nicho(s) do mercado de trabalho, o que as leva a ter e intermediar os seus próprios estoques de pessoal nas ocupações e perfis mais requeridos, com eles estabelecendo uma relação que se aproxima à de gestora dos seus esforços de intermediação, o que acaba por tornar essa relação mais profissional e duradoura; e quanto maior o porte, maior tende a ser a complexidade do seu mix de serviços, de sorte que aumentando a escala da operação tende a diversificar-se a atividade, passando-se do mero agenciamento e intermediação para a locação, por exemplo. No caso das empresas de menor porte e longevidade, é o atrativo das vagas que têm ocasião de capturar o que se oferece aos demandantes, que são também ocasionalmente atraídos. Via de regra inexiste investimento sistemático e duradouro na montagem de cadastros e bancos de demandantes de trabalho. Essa diversidade de relacionamento com o negócio e com o demandante se evidencia tanto no tamanho dos locais em que operam (usualmente salas muito pequenas e não raro com vagas expostas em tabuletas dispostas na rua ou na porta do estabelecimento), como no seu lay-out (via de regra pouco atraente e descuidado no alvo de reter o demandante, que ali simplesmente deixa um CV depois de verificar existir vaga que lhe interesse), como na infra-estrutura computacional (no mais das vezes, nula), e na qualificação e diversidade do seu staff (em geral muito reduzida). Dessa forma de operar, em especial das empresas de menor porte, que também são aquelas numericamente mais significativas, resulta um modo de apresentação de si que caracteriza o demandante em sua relação com as agências privadas. Essa seria a quarta importante característica que destaco. Observando-o(a)s, foi possível verificar que a procura pelo conduto das instituições privadas de intermediação impõe ao(à) demandante custos adicionais: necessitam preparar e duplicar os CV’s que devem depositar nas agências e, como estão seguros de que as oportunidades são disputadas por muitos e as iniciativas de retorno de parte das agências podem não ter lugar, necessitam maximizar a distribuição de CV’s entre agências, o que lhes impõe capacidade para deslocar-se preferencialmente em direção aos clusters onde diversos agentes se aglomeram, e tempo para dispender nessa 22 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 peregrinação. Da primeira característica decorre o desenvolvimento de um outro conjunto de provedores de serviços aos demandantes. Assim, como esses têm escassa escolarização e experiência com a procura institucionalizada, nem dispõem e nem sabem preparar CV’s; daí porque, e especialmente nos clusters, um sem número de pequenos estabelecimentos se encarrega de vender serviços complementares de produzir e duplicar (via de regra a preços promocionais) os CV’s de que necessitam. Da segunda característica decorre (o que imagino possa documentar adiante) a seletividade do perfil do demandante que já se socializou nas regras de procura e nos modos de apresentação de si na situação de procura por meio de agências de emprego. Ele tem uma disponibilidade mínima de tempo e de recurso financeiro para se dedicar à procura institucionalizada de trabalho; tem também os códigos socialmente requeridos pelo ritual da procura institucionalizada: o CV em várias vias, a pasta plástica onde estão armazenadas as cópias do mesmo, uma indrumentária que pode identificá-lo como um “bom trabalhador”, limpo e vestido do modo convencional e aceitável por um empregador, e a pressa para multiplicar a sua oferta que se coaduna com a pressa com que é tratado nessas agências. 1.3 - Anos 1990: São Paulo se consolida também como um território para a intermediação pública Chegados a este ponto, passo a organizar as evidências finais no argumento desta primeira parte do texto, qual seja, o de que, nos anos 1990, a RMSP se consolidou como um verdadeiro mercado de serviços de intermediação, passando a estar implantados todos os agentes econômicos desse mercado de serviços. E qual seria essa evidência final? Também nessa década consolida-se a participação dos agentes que intervêm na intermediação sustentados pelo recurso público. Repasso, então, o fio o meu argumento para melhor completá-lo em seguida. Do ponto de vista dos demandantes de trabalho, argumentei ao abrir este item, que o novo padrão de transições ocupacionais, intensas e pautadas por um desemprego recorrente, encarregou-se de prover, em escala notável, os indivíduos potencialmente agenciáveis; digo potencialmente porque, como mostrei, a procura de trabalho que realizavam escapava à 23 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 forma mercantil, resolvendo-se, no mais das vezes, através de redes sociais enraizadas no mundo das relações interpessoais, com elos mais ou menos fortes. Já na segunda parte deste item procurei evidenciar como as empresas de intermediação (isto é, as firmas chamadas, por nossas estatísticas de empresas de agenciamento, locação e intermediação de mao-deobra) chegaram e se estabeleceram nesse mercado potencial, crescendo de maneira igualmente notável e no mesmo período, e voltadas para capturar tal demandante potencial, orientando as suas formas de procura para o circuito mercantil do negócio da intermediação. E, de fato, já em 2001, o survey que coordenei podia documentar que 1/3 dos indivíduos referia a procura através de empresas privadas de agenciamento de colocações. O último dos pilares na constituição do sistema é aquele constituído pelos agentes sustentados em políticas governamentais e financiados por recursos públicos. Trata-se da intermediação que é efetuada, seja pelas agências do sistema nacional de emprego geridas pelos governos estaduais, seja pelos pontos de intermediação de oportunidades de trabalho criados pelos sindicatos e centrais sindicais, uns e outros mantidos pelo recurso proveniente do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, um fundo público criado para ancorar, entre outros, os programas - de benefícios (seguro-desemprego) e de intermediação - concebidos pelo governo; essa arquitetura constituiu-se no embrião de um sistema público e integrado de intermediação de empregos e de proteção aos desempregados. Começo pelas agências do sistema governamental e sigo pelas do sistema sindical. É notável a importância da região sudeste em geral e do Estado de São Paulo (e da RM, veremos em seguida), em especial, no que concerne à distribuição dos que acorrem a esse segmento do mercado de intermediação, inscrevendo-se no sistema governamental em busca de colocação no mercado de trabalho (Figura 6). Claro está que essa diferença quantitativa reflete a variação no tamanho dos mercados, mas não somente isso; e mesmo isso, vale insistir, não deixa de ser relevante para as políticas públicas. 11 11 Veja-se, por exemplo, a importância do número de inscritos no Paraná, que nem de longe pode se considerar um mercado de peso maior que o Rio Grande do Sul, mas que ultrapassa em muito a participação desse ultimo. 24 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 6 O Peso de São Paulo nos Inscritos do Sistema Governamental de Intermediação Distribuição geográfica dos inscritos no sistema público em 2003 São Paulo Paraná Rio Grande do Sul Minas Gerais Rio de Janeiro Bahia Pernambuco Santa Catarina Outros Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. A mesma desigualdade que se verifica na captura de inscritos, também se expressa na captura de vagas. Há em ambos os casos uma sorte de cartografia desigual, que privilegia o peso de São Paulo, face às outras unidades da Federação. Isto pode ser observado com maior detalhe na Figura 7. Os valores absolutos, se têm inconvenientes, servem a sublinhar a importância do Estado (e da sua região metropolitana, como veremos em seguida) dada a magnitude dos seus números, aspecto decisivo no financiamento das políticas públicas. 25 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Vagas Figura 7 Uma cartografia inicial da desigual distribuição: Captura de vagas vs. de Inscrições. O Peso de São Paulo (Brasil, julho de 2004) Inscrições Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. Se há uma concentração regional de demandantes e de vagas que revela o peso do fluxo de serviço em São Paulo, tal desproporção é ainda mais acentuada quando se contempla a distribuição regional das agências que formam o segmento sindical do sistema. Isso fica patente na Figura 8. Retomando o fio do argumento, o interesse pelo caso de São Paulo é tanto mais significativo quando tomamos em conta que ali, mais que em qualquer outro espaço da Federação, um mercado de intermediação de empregos parece estar configurado, na medida em que solidamente se implantaram todos os seus principais agentes: os demandantes de trabalho, as empresas privadas de agenciamento, locação e seleção, e as agências dos sistemas governamental e sindical, mantidos esses últimos pelo recurso público. 26 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 8 O Peso de São Paulo nos Inscritos e Vagas no Sistema Sindical de Intermediação (Brasil, 2003) Distribuição geográfica dos inscritos no sistema sindical em 2003 São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Pernambuco Distribuição das vagas capturadas pelo sistema sindical em 2003 São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Pernambuco Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. 27 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Se observarmos do ponto de vista da eficiência de alocação de demandantes por vagas, chama a atenção a melhor performance da rede de agências do sistema sindical. Esse diferencial de eficiência parece ainda maior no Sudeste (Figura 9) Figura 9 Região Sudeste - Alguns indicadores de eficiência por tipo de entidade, 2003 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% Estatal Sindical 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Vagas/Inscritos Colocados/Inscritos Brasil - Alguns indicadores de eficiência por tipo de entidade, 2003 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% Estatal Sindical 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Vagas/Inscritos Colocados/Inscritos Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. Essas tendências também se verificam para a RMSP: seja no que concerne à desproporção e ao muito maior peso quantitativo do sub-sistema governamental (Figura 28 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 10), seja no que concerne à melhor performance do sub-sistema sindical no que respeita à colocação (Figura 11). Figura 10 Inscritos, vagas, encaminhamentos e colocações por tipo de entidade - RMSP, 2003 (Absoluto) 900000 800000 700000 600000 500000 Postos SINE Postos CUT/Força 400000 300000 200000 100000 0 Inscritos Vagas Encam. Coloc. Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. Figura 11 Alguns indicadores de eficiência por tipo de entidade - RMSP, 2003 60,00% 50,00% 40,00% Postos SINE Postos CUT/Força Total RMSP 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Vagas/Inscritos Colocados/Inscritos Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. 29 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Se a configuração institucional do mercado de intermediação está completa no Estado de São Paulo, é na Região Metropolitana onde ela melhor se enraiza. Já o haviamos destacado com respeito às empresas privadas de intermediação e podemos vê-lo, agora, também com respeito às agências mantidas pelo recurso público. De fato, tanto no que concerne aos inscritos, quanto às vagas, encaminhamentos e colocações, a RMSP é o principal mercado de intermediação de empregos no Estado (Figura 12). Figura 12 Peso relativo da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) no sistema público de intermediação de mão-de-obra em 2003 - Inscritos, vagas, encaminhamentos e colocações 100% 90% 80% 70% 60% Interior RMSP 50% 40% 30% 20% 10% 0% Inscritos Vagas Encaminhamentos Colocações Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. É certo que esse peso é diferenciado conforme o tipo de variável se utilize para descrevê-lo, sendo muito maior nos inscritos e vagas, que nos encaminhados e colocados. Na Figura 13 apresento dois dos indicadores de eficiência utilizados pelo próprio Ministério do Trabalho e Emprego na avaliação do sistema; fica patente a maior capacidade que tem a metrópole de atrair não apenas os demandantes mas também as vagas; entretanto, é muito melhor a melhor performance do interior do Estado quando se trata de colocá-los em postos de trabalho. 30 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 13 Alguns indicadores de eficiência do sistema público em 2003 - Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e Interior 30,00% 25,00% 20,00% RMSP Interior 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Vagas/Inscritos Colocados/Inscritos Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. Observar como esses pontos de intermediação se distribuem no território é igualmente importante para o adequado desenho de políticas públicas. Na Figura 14 vê como é significativa a presença desse conjunto de agentes – governamentais e sindicais - na RMSP. Isso permite reconhecer o grau variado de capitaridade das diferentes redes, o que é também importante para as políticas, como tratarei de desenvolver na parte subseqüente, posto que diferencia o tipo de demandante que a elas acorre. Nota-se, assim, na Figura 14, que há uma desigual distribuição das agências governamentais e sindicais no espaço metropolitano, sendo muito maior a cobertura das agências governamentais. Entretanto, ficam evidentes alguns vazios. No extremo da região sul de São Paulo, por exemplo, chama a atenção o vazio de intermediadores, que de resto também já se podia testemunhar quando mapeadas as empresas privadas de intermediação (cf. Figura 5 anterior). Apesar disso, no coração da mesma região sul localiza-se um dos mais importantes clusters de agentes do sistema metropolitano de intermediação, ao redor do eixo Santo Amaro, como pode ser visualizado na Figura 15. 31 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 14 Distribuição das agências governamentais e sindicais na RMSP Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. Figura 15 Os agentes de intermediação privados, governamentais e sindicais no clusters da Região Sul de São Paulo Fontes: Cadastro de Empresas Rais-Caged 2002; Ministério do Trabalho e do Emprego, IMO. Processamentos próprios. 32 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Assim descrita a estruturação da rede de agentes mantidos pelo recurso público, vale tecer alguns comentários sobre o modo como se realiza a prestação do serviço, tal como fiz para a rede das empresas privadas de intermediação,. O principal aspecto que distingue as agências governamentais e sindicais é são suas estratégias para bem capturar os demandantes. Localização geográfica, formas de organização das atividades, configuração do lay-out das agências, formas de atendimento ao pessoal, diversificação do staff e modalidades de treinamento, recursos computacionais e sistema de informações que sustentam o trabalho do atendimento são alguns dos aspectos que diferenciam essas agências daquelas empresas privadas de recrutamento, agenciamento e locação de mão-de-obra. Tomo dois desses aspectos para rapidamente descrevê-las, porque neles se ilustram traços essenciais dessa sua especificidade: o lay out das agências e o sistema de informações. As agências governamentais e sindicais, à diferença da grande maioria das agências privadas (e da totalidade das de pequeno porte), são espaços desenhados para receber e bem atender o demandante, estando perfeitamente capacitadas à captura de inscritos. Seu lay out expressa esse cuidado. Nelas o ambiente geralmente se divide em três grandes áreas: recepção, atendimento e retaguarda. O lay out da recepção sinaliza ser ali um espaço onde o demandante deve permancer por um bom tempo: sala de espera mobiliada de modo adequado, controle de ordem de chegada (não raro por meio digital), aparelho de TV para entretenimento, em muitas delas cafezinho e, algumas vezes até, um pequeno lanche servido em horário determinado. O setor de atendimento é formado por uma bateria de terminais de computador, que varia em número de unidades a depender da complexidade da agência. Ali o demandante é acolhido por funcionário(a) (via de regra, funcionária) treinado(a) para realizar uma exaustiva entrevista estruturada (de duração média estimada em 20 minutos, se for o primeiro atendimento) que lhe faculta o preenchimento do cadastro, ao fim do qual é possível à atendente simular as primeiras tentativas de localização de vaga adequada ao perfil do candidato; na situação de retorno para checagem da disponibilidade de vaga, a entrevista tem duração média estimada em 5 a 10 minutos. O setor de retaguarda reúne os serviços de captura de vagas, de resultados com freqüência pouco expressivos dado o 33 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 descompasso entre vagas disponibilizadas e número de inscritos que acorrem às agências; de fato, foram referidas, em todas as entrevistas que fiz, as dificuldades de infra-estrutura para localizar e atualizar contatos com as empresas, de modo a alimentar a oferta de vagas. Na retaguarda encontram-se também em muitas das agências, notadamente nas governamentais, serviços de avaliação psicológica e de apoios diversos ao demandante, bem como toda a supervisão e gerenciamento da equipe de funcionários da agência. É claro que o demandante percebe a vocação do sistema para bem acolhê-lo e a ele aflui na expectativa de obter colocação; agregue-se a isso que é bastante razoável a capilaridade do sistema na RMSP (como visto nas Figuras 14 e 15). Por isso mesmo, esse conjunto de agências (governamentais e sindicais) se caracteriza também por suas longas filas de espera, às quais os demandantes acorrem via de regra durante a madrugada, na busca das senhas para atendimento, num movimento especialmente intenso no período de maior procura de trabalho: as segundas, terças e quartas. O outro aspecto que distingue uma agência mantida pelo recurso público é o refinado sistema de informações em que se ancora. Seu cadastro de informações se integra a um banco único de dados que reúne a disponibilidade de vagas e de inscritos capturados por cada uma das agências do sistema, bem como seus encaminhamentos e colocações. Embora se trate de um único banco de dados integrado ao sistema SIGAE, essa base se organiza e é acessada de modo independente por cada um dos segmentos do sistema mantido com recurso público: o governamental (SINE), o gerenciado pela CUT e o gerenciado pela Força Sindical. Todos estão cônscios, em maior ou menor medida, do desafio que é a captura de vagas. Até porque a alocação de recursos e a continuidade do financiamento público têm como critério a performance das agências no que concerne à colocação de inscritos. Por isso mesmo, em várias das que foram por mim visitadas foi possível recolher testemunhos sobre os esforços envidados e as dificuldades enfrentadas no sentido de estabelecer algum tipo de relação de troca com o segmento privado, de modo a lhe fornecer demandantes qualificados dele recebendo apoio para alcançar as metas de colocação almejadas. Uma última palavra com respeito à atuação municipal. Assim como ocorre com outras prefeituras municipais brasileiras, notadamente em cidades de médio e grande porte, 34 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 a Prefeitura Municipal de São Paulo também mantem um programa próprio de intermediação, que se conjugou, entre 2002 (quando foi criado) e 2004, aos programas de inclusão social mantidos pela sua atual gestão. “O São Paulo Inclui” é, por isso mesmo, concebido como um dos Programas Sociais da Prefeitura de São Paulo, destinando-se a fazer a intermediação de mão-de-obra. Foi lançado na ocasião da assinatura do "Pacto pelo Emprego", em maio de 2002; o pacto é um dos instrumentos para participação da iniciativa privada, pelo qual a empresa disponibiliza vagas, sempre que tiver necessidade de novos funcionários, cabendo ao “São Paulo Inclui” encaminhar candidato conforme o perfil de trabalhador demandado pela empresa. O programa atua em três vertentes de trabalho: (i) emprego assalariado, com busca ativa de vagas; (ii) central de autônomos, visando capacitar e intermediar oportunidades de trabalho para prestadores de serviços autônomos; (iii) intermediação de negócios para empreendimentos populares, que visa ampliar a demanda por produtos e serviços de empreendimentos populares. Todos os beneficiados pelos programas de transferência de renda em situação de desemprego são automaticamente cadastrados no “São Paulo Inclui”, o que não impede que aqueles que não se beneficiam de programas sociais da Prefeitura também venham a se cadastrar. O cadastro deve ser feito obrigatoriamente via internet, no próprio sítio da Prefeitura Municipal de São Paulo, que processa dois bancos de dados: um de vagas e outro de demandantes. Esse programa, por isso mesmo, não dispõe de postos especializados na captação de inscritos nos moldes dos outros segmentos que se mantêm com recurso público e que descrevi anteriormente.12 Bem assim, suas estatísticas não se integram à base de informações do Ministério do Trabalho e do Emprego, razão pela qual não se incluem dados sobre o mesmo no presente trabalho. Esse seria, sem dúvida, um aspecto a considerar no sentido de aperfeiçoar a integração dos agentes públicos que atuam no campo da intermediação. A propósito, é interessante considerar que o circuito de intermediação que gira ao redor de iniciativas direta ou indiretamente sustentadas no chamado sistema “S” tem igualmente escapado até aqui do esforço por dar maior densidade à estruturação do sistema público de emprego. Sua integração seria um tento importante na busca de ampliar os elos entre iniciativas e sistemas de informação nos campos da intermediação e da (re)qualificação profissional. 12 Ao menos esta foi a informação obtida em contato telefônico com o setor responsável pelo Programa. 35 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Uma última consideração: que tipos de vagas oferecem essas agências? Figura 16 Vagas oferecidas em 2003 por escolaridade e tipo de entidade - RMSP 40,0% 35,0% 30,0% Analfabeto Fundamental Incompleto Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo Superior Incompleto Superior Completo 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Cut Força Sindical Sine Total Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Figura 17 Vagas oferecidas em 2003 por tempo de experiência e tipo de entidade - RMSP 40,0% 35,0% 30,0% Não exige experiência De 1 a 6 meses De 7 a 12 meses De 13 a 24 meses De 25 a 36 meses 37 ou mais meses 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Cut Força Sine Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 36 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 As Figuras 16 e 17 sugerem duas conclusões interessantes. Em primeiro lugar, são importantes as exigências de escolarização e de experiência formuladas por aqueles que põem suas vagas à disposição das agências mantidas pelo recurso público; parte significativa dos empregadores requer pelo menos o médio completo e entre 7 e 12 meses de experiência prévia na função. Mas, em segundo lugar, essas exigências parecem variar de modo não desprezível entre as diversas agências. Procurei, ainda que tentativamente dado o caráter ainda exploratório das análises a partir das informações do “Cadastro do Trabalhador” da base SIGAE,13 verificar quais seriam aquelas ocupações mais freqüentemente ofertadas no circuito das agências mantidas pelo recurso público. As Tabelas 5, 6 e 7 mostram uma lista das que se mostraram numericamente mais importantes segundo o tipo de agência (CUT, Força Sindical e SINE, respectivamente). A mera leitura das listas revela duas características interessantes. Em primeiro lugar, a proximidade significativa entre as agências mantidas com recurso público no que concerne ao tipo de vaga que conseguem capturar; em segundo lugar, a relativa homogeneidade no que respeita ao segmento do mercado de trabalho onde tal intermediação se revela mais bem-sucedida, isto é, as ocupações caracterizadas por seus baixos salários e por seu igualmente baixo prestígio social. 13 Essa base de registros administrativos até aqui nunca fora utilizada em estudos sobre o mercado de intermediação. Tentativamente a exploramos nesse estudo graças ao suporte da Datamec e à especial autorização do Ministério do Trabalho e do Emprego. 37 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 5 Agências da CUT: Vagas oferecidas por ocupação RMSP, 2003 Vagas % das 20 % do Ocupação (cf CBO) oferecidas maiores total Monitor de recreação 5.114 20,1% 12,1% Inspetor de alunos de escola publica 4.370 17,2% 10,3% Operador de telemarketing receptivo 2.347 9,2% 5,6% Faxineiro 2.075 8,2% 4,9% Porteiro de edifícios 1.819 7,2% 4,3% Vendedor pracista 1.750 6,9% 4,1% Almoxarife 932 3,7% 2,2% Vendedor de comercio varejista 742 2,9% 1,8% Vigia 708 2,8% 1,7% Conferente de serviços bancários 639 2,5% 1,5% Recepcionista, em geral 573 2,3% 1,4% Cozinheiro geral 564 2,2% 1,3% Promotor de vendas 538 2,1% 1,3% Auxiliar de linha de produção 528 2,1% 1,3% Motorista de caminhão (rotas regionais e internacionais) 482 1,9% 1,1% Vendedor interno 457 1,8% 1,1% Costureiro, a maquina na confecção em serie 454 1,8% 1,1% Auxiliar de escritório, em geral 449 1,8% 1,1% Vendedor em comercio atacadista 431 1,7% 1,0% Representante comercial autônomo 429 1,7% 1,0% Total 20 ocupações 25401 100,0% 60,2% Total geral 42229 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 38 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 6 Agências da Força Sindical: Vagas oferecidas por ocupação RMSP, 2003 Ocupação (cf.CBO) Operador de telemarketing receptivo Faxineiro Representante comercial autônomo Promotor de vendas Porteiro de edifícios Vendedor de comercio varejista Auxiliar de linha de produção Trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros Armazenista Cozinheiro geral Almoxarife Repositor de mercadorias Operador de caixa Operador de telemarketing ativo Vigilante Auxiliar de escritório, em geral Vendedor em domicilio Atendente de lanchonete Balanceiro Recepcionista, em geral Total 20 Total geral No. Vagas % das 20 % do Oferecidas maiores total 19.335 20,2% 10,8% 8.068 8,4% 4,5% 6.929 7,2% 3,9% 6.693 7,0% 3,7% 6.617 6,9% 3,7% 5.561 5,8% 3,1% 5.550 5,8% 3,1% 3.873 4,0% 2,2% 3.598 3,8% 2,0% 3.458 3,6% 1,9% 3.142 3,3% 1,8% 2.998 3,1% 1,7% 2.995 3,1% 1,7% 2.949 3,1% 1,6% 2.660 2,8% 1,5% 2.368 2,5% 1,3% 2.344 2,4% 1,3% 2.283 2,4% 1,3% 2.283 2,4% 1,3% 2.241 2,3% 1,3% 95945 100,0% 53,6% 178.884 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 39 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 7 Agências governamentais: Vagas oferecidas por ocupação RMSP, 2003 Ocupação (cf. CBO) Trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros Oficial de serviços diversos Operador de telemarketing receptivo Vendedor de comercio varejista Faxineiro Promotor de vendas Porteiro de edifícios Representante comercial autônomo Vendedor pracista Auxiliar de linha de produção Cozinheiro geral Operador de telemarketing ativo Operador de caixa Auxiliar de escritório, em geral Vigia Motorista de caminhão (rotas regionais e internacionais) Almoxarife Empregado doméstico nos serviços gerais Costureiro, a maquina na confecção em serie Recepcionista, em geral Total 20 Total geral No. Vagas Oferecidas 20.618 19.194 17.885 9.338 9.105 7.374 6.052 5.800 5.634 5.192 4.906 4.310 3.466 2.803 2.778 2.503 2.186 2.147 2.085 2.020 135396 231.865 % das 20 maiores 15,2% 14,2% 13,2% 6,9% 6,7% 5,4% 4,5% 4,3% 4,2% 3,8% 3,6% 3,2% 2,6% 2,1% 2,1% 1,8% 1,6% 1,6% 1,5% 1,5% 100,0% % do total 8,9% 8,3% 7,7% 4,0% 3,9% 3,2% 2,6% 2,5% 2,4% 2,2% 2,1% 1,9% 1,5% 1,2% 1,2% 1,1% 0,9% 0,9% 0,9% 0,9% 58,4% 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 40 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 2. O demandante de emprego: perfil e percepções Vimos até aqui como se estrutura o mercado de intermediação de oportunidades de trabalho. Nesse sentido, procurei demonstrar que os seus pressupostos já estavam solidamente estabelecidos, desde o final dos anos 90, na Região Metropolitana de São Paulo. Desempregados recorrentemente em busca de trabalho constituíam o contingente dos potenciais demandantes de vagas; pelo lado da oferta de postos, apresentei um quadro da estruturação e funcionamento tanto das empresas privadas de agenciamento, locação e intermediação, quanto das agências de emprego (governamentais e sindicais) mantidas pelo recurso público. Isso posto, nesta segunda parte vou me concentrar na figura daquele que efetivamente acorre a esse mercado: o demandante de trabalho em agências, isto é, aquele trabalhador que, ao invés de (ou ao lado de) buscar colocar-se recorrendo (unicamente) às suas redes pessoais, se vale das instituições do sistema de intermediação, e procura nesse mercado localizar um emprego. Começarei caracterizando o perfil desse demandante; seguirei explorando as suas percepções sobre as dificuldades que encontra e finalizarei apresentando as suas iniciativas mais importantes no sentido de encontrar trabalho. 2.1 - Perfil do demandante de trabalho em agências de emprego Inicio caracterizando o demandante de emprego que acorre às agências mantidas pelo recurso público e integradas ao banco de informações do SIGAE, de onde extrai anteriormente algumas outras evidências. Trata-se da base constituída pelos registros colhidos no preenchimento do “Cadastro do Trabalhador”, instrumento que alimenta o banco e que é minudentemente preenchido quando o demandante acorre a qualquer das agências de intermediação do sistema público, seja ela governamental ou sindical. 41 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Pela importância dessas agências na captura de demandantes e também pelo caráter censitário dos dados do SIGAE seu manejo se torna particularmente interessante para um estudo como este por duas razões principais. Em primeiro lugar, somente esse banco nos permite desagregar a informação sobre o demandante de modo a caracterizar sub-espaços ao interior da metrópole; para ilustrar o interesse em fazê-lo tomarei, no presente texto, duas regiões particularmente importantes pela gravidade dos problemas de emprego: as zonas Leste e Sul da Cidade de São Paulo. Em segundo lugar, porque esses dados permitem verificar a existência de segmentação no mercado de intermediação, confrontando, assim, uma possivel fonte de imperfeição no sistema que obstaculizaria a intercomplementariedade entre seus agentes, dada a especificidade das clientelas que a eles acorrem. Os quadros que apresento em seguida destacam algumas características de perfil dos demandantes que puderam ser inicialmente exploradas, no atual formato experimental da base de gestão que foi desenvolvida para consulta aos registros do banco SIGAE, preservando por certo a indevassabilidade da identidade do respondente. São elas: sexo, posição na familia, escolaridade, condição de estudante, formação (se curso profissionalizante, superior, ou treinamentos efetuados) e renda. 14 Todos os dados foram desagregados por tipo de agência: as do governo (doravante referidas como agências do sistema SINE) e as das centrais (nestas distinguindo demandantes junto ao sistema mantido pela Central Única dos Trabalhadores, doravante CUT, e demandantes junto ao sistema mantido pela Força Sindical, doravante FS). Os dados serão inicialmente apresentados para o ano de 2003, considerando o conjunto dos que procuraram trabalho no Município de São Paulo e, em seguida, para os demandantes das regiões Leste e Sul do Município, as quais serão os alvos da ilustração sobre as vantagens da desagregação. Os homens se inscrevem majoritariamente nas agências públicas, numa proporção que é consistente com o maior peso masculino na PEA que busca trabalho(Tabela 8). Na 14 Em que pese seja coletado o quesito cor, sua qualidade é duvidosa, posto que tanto as agências SINE como as da Força Sindical indicam um índice demasiadamente alto de não-declaração (cerca de 30%), incompativel com o que registram os atendentes das agências da CUT, onde não apenas o índice é mais baixo (9%) como o cômputo de pretos e pardos é consistente com as médias na cidade. Há, portanto, problemas na coleta a corrigir antes de utilizar-se a informação sobre cor; voltarei ao assunto na parte final deste trabalho. 42 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Zona Sul, entretanto, entre os que acorrem à CUT, o peso das mulheres parece ser maior, sendo levemente superior à participação masculina na Zona Leste. Tabela 8 Composição por sexo dos demandantes de trabalho nas agências públicas (2003) Municipio de São Paulo Feminino Força Sindical CUT Sine Total 47,6% 47,3% 47,3% 47,4% Masculino Total 52,4% 52,7% 52,7% 52,6% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Leste Feminino Força Sindical CUT Sine Total 47,6% 46,6% 46,7% 46,9% Masculino Total 52,4% 53,4% 53,3% 53,1% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Sul Feminino Força Sindical CUT Sine Total 48,5% 50,2% 46,3% 47,3% Masculino 51,5% 49,8% 53,7% 52,7% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Por sua posição na família, o demandante é antes um trabalhador que compõe o rendimento doméstico que o seu arrimo ou provedor principal. Para o conjunto da Cidade, 24% dos demandantes são chefes ou arrimos do domicílio, percentual que se torna maior no sistema SINE (29%) e menor nas centrais (14%). Os dependentes são mais significativos nas agências da FS; ali também são mais importantes que a média aqueles que compõem a renda familiar, sem serem chefes. É na Zona Leste, mais que na Sul, onde esses últimos são também mais ponderáveis. 43 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 9 Escolaridade dos demandantes de emprego em agências públicas (2003) Município de SaoPaulo Fund. I Com Força Sindical CUT Sine Total Fund I Inc 0,2% 0,3% 0,7% 0,5% Fund II Inc 1,4% 2,4% 5,6% 4,3% Fund II Com 1,9% 2,8% 6,8% 5,2% Médio Com 12,2% 10,9% 16,3% 14,8% Médio Inc 9,9% 10,3% 10,6% 10,4% Sup Com 20,0% 16,9% 16,4% 17,3% Sup Inc 44,0% 44,7% 32,5% 36,4% Analf 6,6% 7,3% 6,0% 6,3% Total 3,8% 4,4% 5,1% 4,7% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Leste Fund. I Com Força Sindical CUT Sine Total Fund I Inc 0,1% 0,2% 0,4% 0,3% Fund II Inc 1,0% 1,4% 3,8% 2,8% Fund II Com 1,4% 1,8% 5,3% 3,9% Médio Com 11,2% 8,2% 14,0% 12,7% 8,6% 8,8% 10,2% 9,6% Médio Inc Sup Com 20,7% 16,6% 17,3% 18,1% Sup Inc Analf 47,3% 49,6% 38,3% 41,7% 6,6% 8,3% 6,6% 6,8% 2,9% 5,0% 4,2% 3,9% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Sul Fund. I Com Força Sindical CUT Sine Total 0,2% 0,3% 0,7% 0,6% Fund I Inc 1,4% 2,6% 6,2% 4,7% Fund II Inc 2,2% 3,4% 7,1% 5,7% Fund II Com 12,7% 12,4% 17,0% 15,5% Médio Com 10,4% 10,9% 10,7% 10,7% Médio Inc 20,4% 17,6% 16,3% 17,3% Sup Com 43,3% 43,5% 30,7% 34,9% Sup Inc Analf 5,7% 5,8% 5,8% 5,8% 3,5% 3,4% 5,5% 4,8% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Os níveis de escolaridade (Tabela 9) são especialmente baixos na clientela do SINE e bastante mais altos que a média dentre os que acorrem aos postos das centrais, onde se destaca o peso dos demandantes com nível superior. As zonas Leste e Sul seguem grosso modo o mesmo padrão do conjunto da Cidade, embora na Zona Sul sejam ligeiramente mais freqüentes os menos escolarizados e menos freqüentes que a média os de educação mais elevada. A Figura 18 mostra graficamente os mesmos resultados, para o Município de São Paulo e para as Zonas Leste e Sul, permitindo visualizar como é mais baixa a escolaridade dos que procuram o SINE e como variam os padrões por Zona (de um modo que nem de longe poderia ser considerado desprezível). 44 Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 18 Município de SP: Escolaridade dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade de Intermediação de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 50,0% 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% Força Sindical CUT Sine 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Analf Fund I Inc Fund. I Com Fund II Inc Fund II Com Médio Inc Médio Com Sup Inc Sup Com Zona Leste - Escolaridade dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade de Intermediação de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 60,0% 50,0% 40,0% Força Sindical CUT Sine 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Analf Fund I Inc Fund. I Com Fund II Inc Fund II Com Médio Inc Médio Com Sup Inc Sup Com Zona Sul - Escolaridade dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade de Intermediação de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 50,0% 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% Força Sindical CUT Sine 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Analf Fund I Inc Fund. I Com Fund II Inc Fund II Com Médio Inc Médio Com Sup Inc Sup Com 45 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 A FS tem um contingente de demandantes que ainda são estudantes em proporção mais significativa que a média, tanto na Cidade como nas duas Zonas estudadas. E novamente os demandantes da Zona Sul se distinguem por seu perfil; ali é menor o número dos que ainda estudam, em todos os três tipos de agências do sistema público (Tabela 10). Tabela 10 Estudantes que demandam emprego no sistema público (2003) Município de São Paulo Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 77,0% 80,4% 81,1% 80,1% Total 23,0% 19,6% 18,9% 19,9% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Leste Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 75,2% 80,0% 79,8% 78,7% Total 24,8% 20,0% 20,2% 21,3% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Sul Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 77,2% 79,8% 81,7% 80,5% Total 22,8% 20,2% 18,3% 19,5% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 46 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Mas, o perfil social diverso dos que demandam emprego através das centrais sindicais se evidencia não apenas no peso diferenciado dos que ainda estão estudando; ele se revela também quando se observa os que informam ter feito, ou estarem fazendo, cursos de qualificação ou treinamentos (Tabela 11). Tabela 11 Treinamentos ou Cursos de Qualificação Realizados pelos Demandantes (2003) Município de São Paulo Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 21,3% 27,5% 55,1% 44,3% Total 78,7% 72,5% 44,9% 55,7% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Leste Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 17,1% 20,0% 48,4% 37,5% Total 82,9% 80,0% 51,6% 62,5% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Sul Não Força Sindical CUT Sine Total Sim 22,6% 31,4% 56,3% 46,2% Total 77,4% 68,6% 43,7% 53,8% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Os que procuram trabalho inscrevendo-se junto às centrais sindicais mostram investir mais na sua qualificação, tendo cursos ou treinamentos realizados a indicar; isso ocorre especialmente (e em proporção significativamente maior) entre os que recorrem à FS e os que procuram agências da Zona Leste. Os demandantes junto ao SINE, em sua maioria, tanto na cidade como um todo (55%) quanto na Zona Sul (56%), registram um investimento menor em treinamento. 47 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Mas, o que verdadeiramente chama a atenção é como são muito pobres os que procuram emprego usando o sistema público, notadamente aqueles que acorrem ao Sine e mais ainda na Zona Sul da Cidade (Figura 19). Nada menos que 9 em cada 10 demandantes em agência de emprego mantidas pelo recurso público têm rendimento de até 2 salários mínimos. E, embora seja possível notar uma ligeira diferença entre as zonas Leste (com rendimentos um pouco mais altos) e Sul (onde os mesmos são levemente inferiores) é a muito baixa média de renda, geral e por zona, que caracteriza aquele que acorre ao sistema público em busca de oportunidade de trabalho. Isso converge para o que assinalei anteriormente sobre o tipo de vaga que ali é ofertada. Figura 19 Rendimento dos Demandantes de Trabalho por Subespaço Metropolitano - Jan a Dez 2003 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% Município SP Zona Leste Zona Sul 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% < = 1SM > 1 e < = 2 SM >2e< = 3 SM >3e< = 4 SM >4e< = 5 SM >5e< = 6 SM >6e< = 7 SM >7e< = 8 SM > 8 e < > 9 e < > 10 SM = 9 SM = 10 SM Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. A Tabela 12 e a Figura 20 contêm as informações necessárias a desagregarmos o perfil dos demandantes não apenas por zona da Cidade, mas por sub-tipo de agência (SINE, FS e CUT). Nelas pode-se observar que a extrema similitude na média não se reitera quando observamos por zonas e, menos ainda, por tipo de agência; parecem bem mais elevados os rendimentos dos que demandam emprego na CUT, na média e na Zona Leste vis-a-vis os que procuram trabalho na Zona Sul, SINE ou FS. 48 Tabela 12 Renda Familiar dos Demandantes de Emprego (2003) Município de São Paulo < = 1SM Força Sindical CUT Sine Total 95,6% 48,1% 89,3% 86,5% >1e<=2 >2e<= SM 3 SM 3,3% 26,5% 8,4% 9,1% 0,6% 14,8% 1,4% 2,6% >3e<= 4 SM 0,2% 5,2% 0,4% 0,9% >4e<= 5 SM 0,1% 2,4% 0,2% 0,4% >5e<=6 SM 0,0% 1,0% 0,1% 0,2% >6e<= 7 SM 0,0% 0,7% 0,0% 0,1% >7e<= 8 SM >8e<=9 >9e<= SM 10 SM 0,0% 0,4% 0,0% 0,1% 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% > 10 SM 0,0% 0,2% 0,0% 0,0% 0,1% 0,5% 0,1% 0,2% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Leste < = 1SM Força Sindical CUT Sine Total 95,8% 16,0% 90,0% 84,0% >1e<= 2 SM >2e<= 3 SM >3e<=4 SM 3,0% 35,8% 8,5% 9,9% 0,6% 32,3% 1,0% 4,1% 0,2% 8,4% 0,3% 1,1% >4e<= 5 SM 0,1% 3,6% 0,1% 0,5% >5e< = 6 SM 0,0% 1,3% 0,1% 0,2% >6e<= 7 SM >7e<= 8 SM 0,0% 1,0% 0,0% 0,1% >8e<= >9e< 9 SM = 10 SM 0,0% 0,6% 0,0% 0,1% 0,0% 0,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,2% 0,0% 0,0% > 10 SM Total 0,1% 0,6% 0,0% 0,1% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Zona Sul < = 1SM Força Sindical CUT Sine Total 94,6% 75,6% 92,7% 91,0% >1e<= 2 SM 4,6% 15,8% 5,4% 6,5% >2e<= 3 SM 0,6% 4,1% 1,0% 1,3% >3e<=4 SM 0,1% 2,0% 0,4% 0,5% >4e<= 5 SM 0,0% 1,2% 0,2% 0,3% Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. >5e<=6 >6e<=7 >7e<= SM SM 8 SM 0,0% 0,5% 0,1% 0,1% 0,0% 0,3% 0,0% 0,1% 0,0% 0,1% 0,0% 0,0% >8e<= 9 SM 0,0% 0,1% 0,0% 0,0% >9e<= 10 SM 0,0% 0,1% 0,0% 0,0% > 10 SM 0,0% 0,2% 0,2% 0,1% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Figura 20 Rendimentos dos demandantes segundo zona e tipo de agência (RMSP, 2003) Município de SP: Rendimento dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade Intermediadora de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 120,0% 100,0% 80,0% Força Sindical CUT Sine 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% < = 1SM > 1 e < = 2 SM >2e< = 3 SM >3e< = 4 SM >4e< = 5 SM >5e< = 6 SM >6e< = 7 SM >7e< = 8 SM > 8 e < > 9 e < > 10 SM = 9 SM = 10 SM Zona Leste - Rendimento dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade Intermediadora de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 120,0% 100,0% 80,0% Força Sindical CUT Sine 60,0% 40,0% 20,0% 0,0% < = 1SM > 1 e < = 2 SM >2e< = 3 SM >3e< = 4 SM >4e< = 5 SM >5e< = 6 SM >6e< = 7 SM >7e< = 8 SM > 8 e < > 9 e < > 10 SM = 9 SM = 10 SM Zona Sul - Rendimento dos Demandantes de Trabalho por Tipo de Entidade Intermediadora de Mão-de-Obra - Jan a Dez 2003 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% Força Sindical CUT Sine 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% < = 1SM > 1 e < = 2 SM >2e< = 3 SM >3e< = 4 SM >4e< = 5 SM >5e< = 6 SM >6e< = 7 SM >7e< = 8 SM > 8 e < > 9 e < > 10 SM = 9 SM = 10 SM Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Observando o que sinalizam esses primeiros dados, e numa forma mais geral, poder-se-ia resumidamente salientar pelo menos dois grupos de achados principais. Em primeiro lugar, pode-se dizer que os demandantes da Zona Sul formam uma população que é mais pobre, mais feminina, com maior peso daqueles membros da família que participam da renda sem serem chefes ou arrimos, e com menos peso dos estudantes. Já os da Zona Leste são uma população de demandantes de trabalho que parece mais afluente, em especial os que vão às agências da CUT, onde são relativamente mais importantes os dependentes, daí também o maior peso dos estudantes; são desempregados que fizeram cursos profissionalizantes e que têm um histórico mais rico em treinamentos e cursos de requalificação que a média. Procurei, ainda, verificar se havia padrões distintos do ponto de vista do tipo de agente intermediador que se procura (se SINE ou Centrais e, dentre essas, se FS ou CUT). E quanto a isso uma segunda ordem de achados se destacou. Os que demandam trabalho usando as agências da CUT têm uma renda maior, uma escolaridade igualmente superior, e maior freqüência a cursos profissionalizantes; entre eles, o peso dos dependentes é igualmente mais elevado. Já os demandantes que afluem aos postos da FS são os mais pobres dentre todos, os que ajudam na composição da renda familiar (sem ser dominantemente dependentes), ainda estudam, as médias de escolaridade são bastante altas, sendo um grupo onde são menos importantes os titulados em cursos profissionalizantes, mas onde é destacável o investimento em treinamento. É como se houvesse uma polarização entre os demandantes, com um grupo provavelmente bastante pobre e pouco escolarizado e outro mais afluente. Os que acorrem ao SINE, como dito antes, são os menos escolarizados dentre todos os grupos, tendo renda igualmente baixa. Por certo, a maior capilaridade do sistema de agências SINE ajuda a melhor refletir a pobreza vigente na metrópole, aumentando-lhes o peso. Entretanto, convem ressaltar que outros fatores intervêm, levando a que as centrais atraiam os mais escolarizados; assim, algumas agências a elas ligadas têm desenvolvido estratégias especiais para captura dos demandantes de maior escolaridade, diferenciando o atendimento que lhes é conferido, de modo a minimizar a vergonha que poderia estar expressa na situação de procura em meio a uma imensa maioria de demandantes de origem 51 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 social diferente e que procura por vagas de baixíssimo prestígio. Dentre essas iniciativas destacam-se aquelas que os deslocam para espaços de demanda virtual, como através de exclusividade no acesso via Internet ou que os atendem em espaços diferenciados da vala comum do demandante ordinário, como salas de tipo especial com atendimento exclusivo, muitas vezes referidas como “salas vip”. E, de fato, o demandante comum, busca ocupações que mostram a distância que há entre eles e os de escolaridade universitária. As Tabelas 13, 14 e 15 ordenam em importância decrescente as ocupações mais almejadas pelos que acorrem aos sistemas CUT, FS e SINE, depreendendo-se a enorme proximidade no que almeja a maioria dos indivíduos. Tabela 13 CUT – Ocupações pretendidas pelos demandantes de trabalho em 2003 Região Metropolitana de São Paulo Ocupação (cf.CBO) Inscritos Vendedor de comercio varejista 26.218 Recepcionista, em geral 23.703 Auxiliar de escritório, em geral 23.113 Auxiliar de linha de produção 23.039 Faxineiro 18.243 Operador de telemarketing receptivo 13.179 Operador de caixa 10.679 Alimentador de linha de produção 9.746 Repositor de mercadorias 9.355 Porteiro de edifícios 8.786 Almoxarife 8.269 Empregado domestico nos serviços gerais 8.229 Continuo 8.135 Cozinheiro geral 7.652 Atendente de lanchonete 7.648 Trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros 6.617 Embalador, a mão 5.719 Vigia 5.309 Promotor de vendas 4.980 Recepcionista atendente 4.438 Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 52 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 14 Força Sindical – Ocupações pretendidas pelos demandantes de trabalho em 2003 Região Metropolitana de São Paulo Ocupação (cf.CBO) Auxiliar de linha de produção Vendedor de comercio varejista Trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros Recepcionista, em geral Operador de telemarketing receptivo Auxiliar de escritório, em geral Repositor de mercadorias Faxineiro Operador de caixa Promotor de vendas Atendente de lanchonete Continuo Almoxarife Embalador, a mão Porteiro de edifícios Cozinheiro geral Oficial de serviços diversos Armazenista Empregado domestico nos serviços gerais Ajudante de motorista Inscritos 57.761 51.350 49.910 48.108 44.249 42.964 37.242 33.481 28.031 21.471 21.467 19.692 18.959 14.187 13.922 13.875 13.700 11.989 10.654 9.597 Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. 53 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 15 Sine – Ocupações pretendidas pelos demandantes de trabalho em 2003 Região Metropolitana de São Paulo Ocupação (cf.CBO) Auxiliar de linha de produção Vendedor de comercio varejista Recepcionista, em geral Auxiliar de escritório, em geral Faxineiro Oficial de serviços diversos Repositor de mercadorias Operador de caixa Trabalhador de serviços de manutenção de edifícios e logradouros Oficial de serviços gerais Operador de telemarketing receptivo Recepcionista atendente Auxiliar de escritório Atendente de lanchonete Auxiliar de limpeza Porteiro de edifícios Embalador, a mão Almoxarife Empregado domestico nos serviços gerais Promotor de vendas Inscritos 59.740 40.759 30.526 29.811 28.371 25.642 22.059 21.679 20.564 19.969 18.837 17.748 14.850 14.106 14.058 13.566 13.062 12.849 12.477 11.313 Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Que indicam todas essas diferenças? Elas vão ao encontro de algumas das intuições correntes entre os intérpretes do campo, mas confrontam-se com outras delas. Vejamos. Por um lado, corroboram o entendimento de que os demandantes de trabalho que recorrem às agências de emprego, conquanto diversificados, expressam a média das caracteristicas (de pobreza, inclusive) que vigem na RMSP. Mas, à diferença do que se poderia esperar, há algumas especificidades importantes que distinguem os demandantes segundo zonas da Cidade, o que parece indicar que a sua circulação entre as agências se faz dentro de certos limites, restringindo-se na geografia da cidade. 54 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Segui, por isso mesmo, explorando a possível existência de uma balcanização da procura, com uma convergência entre endereço de residência e endereço de localização agência a que se recorre. Os resultados foram especialmente interessantes pois novamente mostraram a diferença de padrão entre os diversos tipos de agência. As agências sindicais recrutavam sua clientela de demandantes em todo o município ou, quando menos, numa ampla Zona ao redor da quela em que se localizavam seus postos; já as agências governamentais em sua maioria (nada menos que 15 delas) atraiam clientela do distrito de localização do posto de intermediação (6 casos)15 ou quando muito da Zona (9)16; menos que 1/3 dos postos tinham uma clientela recrutada de modo caracteristicamente mais amplo (município e/ou região metropolitana).17 Considerando-se as duas Zonas do Município de São Paulo que importam mais de perto (Leste e Sul), vê-se que na região de Santo Amaro (Zona Sul da Cidade) existe também um cluster de agências públicas, estando ali implantadas agências de tipo SINE, CUT e FS.18 Esse é, como vê-se na Tabela 16, um aglomerado que atende precípuamente os demandantes da mesma Zona Sul, posto que 8 em cada 10 dos que acorrem, seja a postos governamentais seja das duas centrais, são também residentes nessa região. Todas essas evidências apontam para que, se o mercado não pode ser considerado balcanizado, há uma importante determinação espacial sobre a procura de trabalho, mesmo quando esta se faz através de agências. Isto, sem dúvidas, permite sublinar a importância da organização social do território para a configuração da oferta de serviços de intermediação. 15 Postos SINE em: Cidade Tiradentes, Itaim Paulista, Jaraguá, Rio Pequeno, Sacomã, Cachoeirinha. Postos SINE em: Itaquera, Jabaquara, Santana, Aricanduva, Brazilandia, Santo Amaro, São Rafael, Jardim São Luis, Mooca. 17 Postos SINE em: Barra Funda, Brás, República, Sé, Lapa, Jaguaré. 18 Antes havia destacado que em Santo Amaro também se implanta um cluster de agências privadas. Não sem razão pode-se reconhecer ali um verdadeiro “território de intermediação”, completo pela presença de todos os atores desse mercado, conquanto (vê-se acima) circunscrito por seu recrutamento. 16 55 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 16 Convergência entre local de residência e local de demanda Santo Amaro, RMSP – 2003 Cut Força Sine 1,15% 0,80% 1,33% Mesmo distrito 84,47% 80,54% 81,91% Mesma zona 4,90% 4,96% 6,44% Município (menos distrito) 10,47% 14,44% 11,33% RMSP 0,15% 0,06% 0,33% Fora da RMSP Fonte: MTE/Datamec, Base de Gestão SIGAE. Processamentos próprios. Obs.: o total pode ser maior que 100 posto que os demandantes que residem no mesmo distrito em que se localiza a agência em que demandam trabalho aparecem novamente contados entre os que demandam trabalho em agências da mesma zona onde se localiza a sua residência. Entretanto, a base do SIGAE nada pode nos informar sobre o demandante que recorre às empresas privadas de agenciamento e locação e sua especificidade face ao que acorre às agências governamentais e sindicais. Para ultrapassar tal limite realizei um survey , que foi a campo em julho-agosto de 2004, graças a uma parceria com o Instituto Datafolha e o suporte da Fapesp/Cepid/CEM,19 que me permitirá avançar aqui algumas características 19 O survey alcançou uma amostra de 1549 demandantes de emprego, selecionados a partir do seguinte procedimento estatístico. O universo da pesquisa foi constituído pelos demandantes de emprego em agências estatais, sindicais e privadas na RMSP. A unidade amostral foi, portanto, o demandante por emprego. O universo dos demandantes por emprego foi, então, subdividido em conjuntos menores, domínios, formados pelos demandantes por emprego na RMSP nos três tipos de agências: estatais (52 agências e 55.520 demandantes no mês de referência), sindicais (12 agências e 30.509 demandantes/mês) e privadas (1084 agências e sem informação quanto ao número de demandantes/mês), conforme dados disponíveis em julho de 2004; para esses domínios são válidos os indicadores adiante indicados e extraídos da pesquisa. Para cada um dos domínios foi sorteada uma amostra independente. Como? Inicialmente, os universos de demandantes a serem pesquisados para as agências estatais e privadas foram subdivididos em estratos segundo a localização das agências na Região Metropolitana; já para as agências sindicais, os estratos foram definidos como as próprias agências, pois elas totalizavam somente 12 (em operação efetiva no mês de referência) e foram todas representadas na amostra. O desenho amostral foi planejado independente e diferentemente para cada domínio devido às características específicas de cada um deles. Porém, dois aspectos foram comuns aos planos amostrais dos três tipos de agências. Primeiro:o plano amostral utilizado foi o de uma amostra estratificada proporcional ao tamanho, cf definição acima dos estratos. Segundo: como não dispúnhamos de um cadastro com todos os demandantes por emprego na RMSP, segundo cada tipo de agência, requisito para se selecionar a amostra para cada domínio, utilizou-se como técnica de seleção a amostragem probabilística em dois estágios (por conglomerados). Seguindo esse tipo de seleção, as unidades amostrais – no caso, os demandantes por emprego – foram agrupadas em conjuntos ou conglomerados; as agências de emprego para cada tipo (estatais, sindicais e privadas) aglomeram os demandantes por emprego e formam assim os conglomerados de demandantes; desse modo, sorteou-se uma amostra desses conglomerados num primeiro estágio (e foram sorteadas 27 agências estatais, 12 sindicais e 50 privadas), e num segundo estágio, sortearamse as unidades amostrais (509 demandantes em agências estatais, média de 19 por agência; 539 em agências sindicais, média de 42 por agência, e 501 em agências privadas, média de 10 por agência). Para maiores detalhes, ver Dini, 2005. 56 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 comparativas no que concerne às percepções dos demandantes, segundo os três tipos de agências, com o que finalizarei esta segunda parte do texto. 2.2 - As percepções sobre a procura e as iniciativas dos demandantes de emprego em agências governamentais, sindicais e privadas Dentre os resultados do survey realizado, o primeiro que se destaca aponta para a importância do mercado como espaço para procura (Tabela 17). Tabela 17 Mecanismos de procura habitualmente empregados pelos demandantes de trabalho: RMSP, 2004 Ag. Gov. Ag. Sind. Ag. Priv. 26,7% 16,5% 23,2% Família, amigos e conhecidos 31,6% 38,2% 34,7% Contato direto com empresas 45,4% 58,1% 92,6% Agências privadas de emprego 12,2% 20,2% 22,6% Anúncios em jornais 8,6% 13,4% 18,0% Internet 0,0% 0,0% 0,0% Começar negócio próprio 23,7% 20,4% Agências de emprego do governo 89,4% 8,3% 75,5% 17,8% Agências de emprego sindicais 0,8% 0,7% 0,6% Inscrição em concursos 4,9% 6,5% 3,8% Outros Total 22,0% 34,9% 65,1% 18,3% 13,3% 0,0% 44,2% 34,7% 0,7% 5,1% Obs.: Os totais ultrapassam os 100%, pois a variável é de múltipla escolha. Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP, julho/agosto de 2004 Será isso contraditório com o que encontrei no levantamento de campo realizado em 2001 e cujos dados apresentei na parte inicial deste texto? Acredito que não, dado que não apenas aquela pesquisa distava três anos do atual levantamento, como ela foi feita com uma amostra representativa dos indivíduos em idade ativa na RMSP, ouvidos em levantamento domiciliar. Ora, o atual estudo investiga apenas os que estavam em procura aberta de trabalho e que o faziam através de agências de emprego. 57 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Sendo assim, o que as respostas mais atuais estão a sugerir é que o demandante de trabalho na RMSP é alguém que se comporta como um “profissional da procura de trabalho”, e para quem a procura é algo que se faz no mercado. Seis em cada dez deles recorrem regularmente a agências privadas de emprego, o que dá a medida da importância destas. Tal importância independe do tipo de demandante: ou seja, não importa se o entrevistamos quando estava numa agência privada, governamental ou sindical, é àquelas que se recorre com mais freqüência. Em segundo plano estão as agências estatais (4 em 10 as referiram); as sindicais em terceiro (para 3 em 10). É certo que há um viés de preferência: 9 em cada 10 entrevistados em agências privadas afirmam a elas recorrer com regularidade; o mesmo vale também para 9 em 10 dos entrevistados em agências governamentais, ou para cada 7 em 10 demandantes que ouvimos nas agências sindicais. O contato direto com as empresas é o segundo mecanismo mais importante empregado na procura, e de igual peso para todos os tipos de agências. Mas, chama a atenção a pouca importância das redes pessoais entre esses demandantes, que já se tornaram “profissionais da procura”; e isto é outra particularidade fortemente significativa. Um segundo achado importante diz respeito à percepção que tem o demandante entrevistado com respeito a suas dificuldades na procura de trabalho. Classifiquei tais dificuldades reconhecidas como principais em três grandes tipos: aquelas que diziam diretamente respeito às oportunidades no mercado de trabalho (falta de vagas, muita concorrência, por exemplo), as que diziam respeito à inadequação do perfil de qualificação (faltaria a escolaridade ou a experiência requeridas) e as que se referiam a atributos ou características pessoais do trabalhador (sexo, cor, dificuldades financeiras para procurar trabalho, dificuldades de ordem familiar, dentre outras ). Os resultados estão na Tabela 18. 58 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Tabela 18 Tipos principais dificuldades encontradas na procura de trabalho na RMSP Oportunidades Qualificação Atributos Nenhuma dificuldade Outras respostas Total Agencia do governo 20,2% 52,8% 16,9% 6,3% 3,7% 100,0% Agencia de sindicato 27,1% 53,1% 13,0% 1,5% 5,4% 100,0% Agencia privada 25,7% 52,3% 13,0% 2,4% 6,6% 100,0% Total 24,4% 52,7% 14,3% 3,4% 5,2% 100,0% Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP julho/agosto de 2004 Se as condições da oferta de oportunidades no mercado são vistas como problemáticas, elas são destacadas por apenas ¼ dos entrevistados. O maior problema, tal como percebido por todos os demandantes, independentemente do tipo de agência em que foi entrevistado, é a inadequação do seu próprio perfil de qualificação; este é, para metade dos entrevistados, o seu maior despartido no mercado. Tal achado chama a atenção dos formuladores de políticas para a necessidade de integrar de modo ainda mais articulado tanto as iniciativas de intermediação e de qualificação, quanto as bases de informações e análises com respeito a esses dois planos da atuação pública em políticas de emprego. Mas, poder-se-ia imaginar que o segundo achado acima indicado refletiria mais propriamente uma certa internalização auto-culpabilizadora do tão propalado discurso da busca da empregabilidade. Ainda que não se deva descartar tal possibilidade, sugiro que os achados podem não apontar exatamente nessa direção. Isso porque, quando indagados sobre a sua trajetória de qualificação, pode-se observar que os demandantes que buscam trabalho com regularidade em agências de emprego mostram uma conduta proativa de busca de qualificação. Na Figura 21 vê-se que, em todos os tipos de agências de emprego, e mais proeminentemente nas privadas, os demandantes dizer ter feito um ou vários cursos na sua vida profissional, e sempre por iniciativa própria. E eles não parecem esperar pelas ações governamentais. 59 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 21 Cursos realizados durante a vida profissional - Survey, julho/agosto de 2004 45,0% 40,0% 35,0% 30,0% Um por iniciativa própria Vários por iniciativa própria Um por sugestão de empregadores Vários sugestão de empregadores Um por programa governamental Vários por programa governamental Não fez cursos 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% Ag. Gov. Ag. Sind. Ag. Priv. Total Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP julho/agosto de 2004 E para que fazem esses cursos? Para melhor se localizarem no mercado, ampliando o seu portfolio de competências, isto é, sobretudo para aprender um novo ofício ou para aperfeiçoar-se no atual, como se pode ver na Figura 22 Figura 22 Objetivos almejados com as iniciativas de qualificação (RMSP, 2004) Desses cursos, o(a) Sr(a). fez o mais importante deles para: 70,0% 60,0% 50,0% Aprender um novo ofício Mudar de ofício Aperfeiçoar-se profissionalmente Outros Motivos 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Agencia do governo Agencia de sindicato Agencia privada Total Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP julho/agosto de 2004 60 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 É certo que essa auto-propulsão a qualificar-se nem sempre produz os resultados almejados. Como se pode observar na Figura 23, os impactos de tais iniciativas nas suas carreiras ou níveis de ganhos são vistos como nulos por quase 50% dos entrevistados, quando não reduzidas (por pouco mais que ¼ deles); somente para cada 2 em 10 os resultados foram significativos. Figura 23 Esse(s) curso(s) trouxe(trouxeram) melhorias para a sua carreira ou para seu salário? 60,0% 50,0% 40,0% Sim, trouxe muitas melhorias Sim, trouxe um pouco de melhorias Nao trouxe melhorias Nao sabe/ Nao lembra 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Agencia do governo Agencia de sindicato Agencia privada Total Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP julho/agosto de 2004 Não sem razão, o estado de ânimo, no momento atual, é de um certo desalento no que concerne à eficácia das iniciativas de qualificação. Tanto é assim que, na situação de procura em que atualmente se encontram, a maioria deles não empreendeu qualquer nova iniciativa no sentido de buscar requalificar-se. É o que mostra a Figura 24. Observe-se que nas agências governamentais esse quadro de desalento é um pouco menos saliente. 61 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 24 Nesse período em que o(a) Sr(a). está procurando trabalho, o (a) Sr(a). fez algum curso? 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% Não Um ou mais por iniciativa própria Um ou mais por agência de emprego 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Agencia do governo Agencia de sindicato Agencia privada Total Fonte: Survey “À procura de trabalho”, RMSP julho/agosto de 2004 Esse conjunto de achados chama a atenção para a importância do mercado de intermediação em nosso país, para a solidez da sua implantação na nossa principal metrópole, seja como negócio, seja como política pública, mas aponta, igualmente, para a vulnerabilidade em que se encontra o nosso demandante de trabalho. Diante disso, resta uma indagação final, à qual dedicarei a terceira e última parte deste texto: qual o papel do sistema público de emprego face aos elos entre qualificação e intermediação, se tomamos em conta as percepções dos que demandam trabalho no mercado provedor desse serviço? 62 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 3. O lugar de um sistema público no mercado da intermediação e as políticas de desenvolvimento local Nas metrópoles, há, como vimos ao iniciar este documento, problemas de intensidade e de magnitude na desocupação, mas há também problemas de desemparelhamento entre a oferta de empregos e a demanda de trabalho. Amitrano e Gomes, num esforço por geo-referenciar, para a RMSP, dados relativos à oferta de empregos formais e à procura de trabalho daqueles em situação de desemprego, produziram evidencias relevantes no que concerne às dimensões espacial e social desse desemparelhamento. O cotejo da Figuras 25 e 26 permite verificar que, no que concerne à metrópole paulista, oportunidades e demandantes situam-se em espaços geográficos distintos, desafiando a formulação de políticas que otimizem essa relação. Senão, vejamos. Figura 25 Distribuição intra-metropolitana do emprego formal (RMSP, 2000) 63 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Figura 26 Distribuição intra-metropolitana do desemprego (RMSP, 2000) Fonte: Amitrano e Gomes (2004) Faço minhas as palavras dos autores: “Os resultados não poderiam ser mais impressionantes. As áreas com menor incidência de desemprego na população residente são as áreas com maior oferta de emprego formal. E o contrário também é verdadeiro para todos os Municípios da região. A única grande exceção é a área mais ao sul do Município de São Bernardo do Campo. Isto se explica pelo grande número de empresas de médio e grande porte ao longo das Vias Imigrantes e Anchieta (incluindo aí a Volkswagen) em locais onde há uma baixa densidade populacional.” (Amitrano e Gomes, 2004: pg.18) De fato, a observação dos mapas acima desperta a nossa atenção para a importância de analisarmos a configuração institucional e o fluxo operacional dos diversos agentes do sistema de intermediação de oportunidades de emprego que operam na RMSP. Se há um desemparelhamento evidente nas figuras, a magnitude do mesmo parece sugerir uma espécie de balcanização social das oportunidades, que se enraiza no território da metrópole. Amitrano e Gomes avançam também achados significativos nessa direção, ao analisarem como a oferta de empregos formais e o risco de desemprego estão distribuídos em sub64 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 espaços intra-metropolitanos, reagrupados de modo a reconstituirem áreas de dominância de três grandes grupos sociais: os ricos, a classe média e os pobres. Vejamos o que encontraram como associação, um achado sem dúvida impactante. Figura 27 Taxa de desemprego e oferta de emprego formal na PEA residente das áreas de ponderação de acordo com Grupo Social RMSP, 2000 Fontes: Censo de 2000 (IBGE) e RAIS, 2000 (MTE) apud Amitrano e Gomes (2004: p.19) Concluem que a população mais pobre da RMSP não apenas apresenta taxas de desemprego muito superiores às dos outros dois grupos mas, ao mesmo tempo, mora em áreas em que a oferta de emprego formal é também comparativamente menor. Isso os leva a sugerir que a concentração espacial existente com relação à oferta de empregos formais na RMSP pode ser um dos determinantes da performance econômica dos indivíduos. E, indo mais adiante, os autores argumentam que, diante de um quadro do mercado de trabalho local de tão completa escassez de empregos e formado por espaços intra-urbanos em que a 65 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 dinâmica “micro-econômica” local é tão marcadamente pobre, não seria exagerado imaginar que, mesmo sob um horizonte de crescimento “sustentado” da economia, o impacto na geração de empregos locais, nessas áreas, pudesse vir a ser muito limitado. Quis recuperar essas evidências para melhor endereçar meus argumentos finais com respeito ao sistema de intermediação no mercado de trabalho, sua estruturação atual e a forma pela qual os seus agentes fazem fluir o serviço que produzem. Por certo, no caso da metrópole paulista, há um problema de partida que não se pode deixar de considerar: a ordem de grandeza dos números é proporcional à magnitude dos desafios que eles colocam, notadamente em termos de custeio das políticas públicas, aí compreendidas as de intermediação. Conquanto tenha apresentado anteriormente o argumento de que em São Paulo, mais que em qualquer outra área do país, a estruturação de um mercado de serviços de intermediação pode ser considerada completa, pela presença e amadurecimento dos seus diversos agentes, a forma como se configuram os desemparelhamentos entre oferta de oportunidades (e de boas oportunidades, conforme os dados eloqüentes de Amitrano e Gomes) e a demanda de trabalho sugerem que não estamos apenas diante de uma mera ineficiência na circulação das informações (relativas a onde encontrar postos de trabalho), que poderia ser sanada por uma melhoria na performance do sistema intermediador. Faltam oportunidades de trabalho, essa é a preliminar que se impõe ter em mente. É fato, todavia, e esse é o meu segundo ponto, alinhando conclusões, que há também ineficiências na intermediação, visíveis na maneira como se relacionam os agentes públicos e privados. Diria que aí radicam alguns dos problemas mais importantes, e não apenas na cobertura do tecido metropolitano por uma malha maior e/ou melhor localizada de agentes de intermediação. Vimos como essa malha já é bastante ampla, vimos também como ela cresce e como já recobre o território de uma forma que deita raízes até mesmo nas cercanias das áreas onde as oportunidades mais escasseiam – notadamente graças à capilaridade do sistema governamental (SINE). Entretanto, vimos que há uma sorte de divisão de trabalho entre os agentes que, longe de apontar para formas de articulação solidária, se aproxima mais propriamente de uma espécie de aliança promíscua. Pelo que respeita ao elo entre sistema governamental e 66 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 sistema sindical, ou seja, pelo que respeita ao elo entre os que são financiados pelo recurso público (FAT), há um notável ganho de qualidade com relação ao acesso e mapeamento dos demandantes. Os sistemas governamental e sindical, particularmente o primeiro, são muito bem-sucedidos no sentido de capturar e identificar aquele que necessita de trabalho, notadamente o demandante mais pobre e de menor qualificação e/ou escolaridade. Entretanto, muito pouco adiantam os avanços nessa direção se eles não se complementam com uma mobilização integrada das outras funções: a (re)qualificação e a captura das vagas que podem permitir a recolocação. Efetivamente, o sistema mantido com recurso publico é tão bem organizado para mapear o demandante quanto mal aparelhado para localizar a vaga que poderá acolhê-lo. E como a alocação dos recursos públicos é definida por indicadores de eficiência na captação, gera-se uma sorte de aliança promíscua entre os agentes mantidos pelo recurso do FAT e as empresas voltadas ao negócio da intermediação de empregos. Essas, em sua grande maioria, fazem baixíssimos investimentos no que concerne à captura de demandantes, que lhes chegam por gravidade, dado o efeito inercial do grande e recorrente desemprego. Primeiros levantamentos qualitativos, na forma de observação etnográfica, permitiram inferir, como assinalei ao início, que as situações de procura de trabalho variam imensamente se tomadas as agências privadas, por um lado, ou as agências mantidas pelo recurso público, por outro. Nestas últimas um elevado investimento em infra-estrutura tem lugar, alavancado por um sistema de informação de excelente qualidade, que requer para sua operação um corpo de funcionários capacidados (no manejo do sistema e na condução da entrevista para coleta de dados do demandante), além de espaço físico amplo e de investimentos diversos no lay-out das agências. Tudo isso assegura a recepção e o processamento das demandas dos desempregados em bases altamente profissionais e tecnicamente refinadas, como no caso de algumas agências do circuito sindical, que chegaram mesmo a especializar espaços para acolher demandantes de qualificação de nível superior, de modo a lhes ajudar a ultrapassar a vergonha associada não apenas à procura de emprego mas às condições socialmente humilhantes em que via de regra tal procura se faz (grandes filas, formadas à madrugada, em busca de senhas). 67 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 Retomo essa evidência pois ela nos dá a medida de quão organizacionalmente voltados para a boa captura do demandante estão esses agentes. Isso nem de longe tem correspondência quando observamos as estratégias organizacionais dos agentes privados, notadamente aqueles localizados nos clusters de empresas de trabalho temporário e de agenciamento de mão-de-obra (como os que existem na região central de São Paulo, no eixo de Santo Amaro na Zona Sul, mas também em Guarulhos ou Santo André). Seu alvo é, antes de tudo, a captura de vagas; não se dispende ali recursos na acolhida e/ou atenção ao demandante. Ora, na medida em que o critério para alocação do recurso público nas diversas unidades (governamentais e sindicais) tem em mente a sua eficiência em termos de colocação, e como o braço do sistema mantido pelo recurso público é débil em sua capacidade de captura de vagas, ele passa, para provê-las, a se valer das agências privadas, as quais, por sua vez, são débeis na captura de demandantes. Se inter-complementariedades e uma certa cultura de “eficiencia coletiva” devem ser buscados na operação de qualquer sistema, não parece cabível que esses alvos, no caso, se pautem unicamente na capacidade do sistema público de dispender recursos na respeitosa atenção ao demandante, de modo a vir a prover o braço privado com a informação sobre potenciais empregáveis no momento em que este lhe acene com as vagas que não consegue capturar. As intercomplementariedades são certamente possíveis e saudáveis posto que os sistemas não devem ser segmentados. Se há diferenças no perfil dos demandantes, como tivemos ocasião de indicar em parte anterior deste trabalho, elas não são de ordem a impedir que os segmentos do sistema venham a colaborar, notadamente quando localizados numa mesma área ao interior de uma metrópole. Isso permite destacar a importância e o lugar de um sistema público de emprego. E por várias razões. A principal delas é que ele pode (como tem feito) funcionar como um farol no que concerne ao atendimento das necessidades do demandante de trabalho. Na maneira como se organizam, as agências governamentais e sindicais de emprego funcionam, hoje, como um sinalizador para o mercado, estabelecendo uma sorte de efeitodemonstração no que tange ao modo de operação, notadamente para aqueles agentes privados que apostam numa sorte de “via baixa” (low road) no que concerne à gestão da 68 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 sua atuação nesse mercado. Essa via alia desrespeito pelo demandante, discriminação (por vezes explícita como foi possivel documentar na observação durante a pesquisa qualitativa preliminarmente realizada), e mesmo práticas espúrias de sobre-lucros, como cobranças simultâneas de serviços (junto à empresa e junto ao desempregado) por uma mesma vaga preenchida. O efeito da avaliação por produtividade (medida por colocações efetivadas) tem, ademais, um resultado pernicioso na qualidade da informação que é gerada para o banco do SIGAE, seja por agentes governamentais seja por agentes sindicais, sendo contraproducente com respeito ao alvo de maximizar colocações. De fato, longas entrevistas iniciais (que podem durar até 20 a 30 minutos) reduzem a freqüência de atendidos e, nesse sentido, obstaculizam as metas de colocação que propiciam o afluxo dos recursos; e esse parece ser o argumento que produz a intensificação do trabalho no atendimento de linha de frente em muitas das agências mantidas pelo recurso do FAT. Mas, justamente a superficialidade e rapidez da entrevista podem ser igualmente responsáveis pela menor chance de lograr emparelhar condidato a alguma(s) da(s) vaga(s) disponível(is), por explorar pouco as chances que o sistema de informações abre no sentido de simular alvos alternativos pretendidos e, ao fazê-lo, aumentar a chance de localizar uma vaga.20 Isto tanto sugere a necessidade de que, no longo prazo, sejam avaliados os critérios para alocação de recurso, como de que, no curto prazo, sejam estimulados os procedimentos de (re)treinamento constante do pessoal envolvido na intermediação no sistema público, notadamente os entrevistadores. Finalmente, convém que o sistema gerenciador do SIGAE desenvolva (e aplique) procedimentos de crítica e controle de qualidade da informação que se contem no banco. Tomo apenas um exemplo para encerrar o tema com uma ilustração: a coleta do quesito “cor”. Essa é uma variável muito importante pelo que sabemos sobre a segmentação racial no mercado brasileiro de trabalho e pelo maior risco de desemprego a que estão sujeitos os 20 Tais situações são igualmente terreno propício para que, na busca por “agilidade” na entrevista, preconceitos do entrevistador operem no sentido de selecionar a vaga que lhe parece mais adequada, descartando pesquisa mais demorada e insistente nas alternativas do sistema em nome de um feeling com respeito às características e chances do candidato. 69 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 negros.21 Ora, na RMSP, tanto as agências do segmento governamental como algumas do segmento sindical (FS) apresentam índices excessivamente elevados de não-declaração de cor, ao redor de 1/3 dos inscritos no sistema conforme as saídas produzidas pelo SIGAE aqui utilizadas. Se considerarmos que o outro braço do segmento sindical (CUT) apresenta apenas 9% de incidência de recusas a responder o quesito de auto-identificação racial, é claro que estamos frente a uma ineficiência de coleta, que pode perfeitamente ser superada com o adequado treinamento do entrevistador, de modo a assegurar a boa captura de uma informação que, conquanto delicada, tem sido objeto de coleta sistemática no Brasil desde o final do século XIX! Essas são primeiras idéias para uma discussão sobre o mercado de serviços de intermediação de postos de trabalho e seu papel na montagem de um sistema (integrado, e o pleonasmo não é excessivo dada a nossa realidade) de emprego, de corte público e republicano. Por certo, a reflexão sobre o caso de São Paulo, como toda reflexão feita a partir de uma realidade, é em igual medida rica (por ser específica) e parcial (por ser singular). Entretanto, a singularidade do caso, como tentei demostrar aqui, talvez tenha um efeito virtuoso, na medida em que ela chama a atenção para o alcance e os desafios da constituição de um mercado de intermediação de trabalho na escala de uma grande metrópole. Nesse sentido, essa pode ser tomada como uma situação-limite que abre os nossos olhos para as carências e virtudes das políticas de emprego em geral e para as ações e iniciativas no campo da intermediação em especial, num contexto marcado pelo desemprego recorrente. Se São Paulo é especial, parece ser, ao menos nesse aspecto, uma exaberbação dos desafios que a gestão metropolitana, em maior ou menor medida, terá que enfrentar pelo país afora. Novos estudos, focando mercados de trabalho estruturados de forma distinta, podem vir a iluminar o assunto com maior precisão, avançando no que foi desbravado tentativamente neste texto. De fato, mercados com maior peso de empregos informais, com composição racial diversa, com padrões de escolarização distintos, com taxas de atividade feminina variáveis e, sobretudo, sujeitos a dinâmicas econômicas 21 Para o caso da RMSP, evidências recentes foram sistematizadas em estudo que conduzi a partir do survey domiciliar que utilizei neste texto e reiteram a importância de tal segmentação. Ver Guimarães, Silva e Farbelow, 2004. 70 Nadya Araujo Guimarães O Sistema de Intermediação de Empregos V ersão 2.1 – Revista em janeiro de 2005 regionais de outra ordem podem mostrar tendências específicas face às que aqui foram alinhadas, iluminando, de forma mais precisa, os horizontes das políticas de emprego, renda e inclusão social, e dando-lhes um escopo adequado à diversidade da realidade brasileira. 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