RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO NO HOSPITAL SÃO RAFAEL EM ALTAMIRA/PA. Objetivo: Verificar a qualidade das condições de atendimento nas enfermarias destinadas aos Índios (PA. nº1.23.003.000017/2010-67) e em atendimento aos Procedimentos nºs 1.23.003.000085/2007-21 e 1.23.003.000071/2006-26, verificar as condições gerais do hospital e as providências que foram tomadas a partir da recomendação n.º 004/2009 MPF/PRM/ATM/GAB1. Servidor: Raimundo marinho de Oliveira – Técnico em transporte Data: 19-01-2010 Horário: 10:00h. Por determinação e em acompanhamento à Procuradora da República em Altamira, Dra. Daniela Caselani Sitta, ao Sr. Felipe de Moura Palha e Silva, Técnico do Ministério Público Federal e ao Sr. Joaquim Ferreira Lima, Presidente do Conselho de Saúde Indígena do Município de Altamira/PA, dirigi-me ao Hospital Municipal São Rafael, na cidade de Altamira/PA, situado na Rua Coronel José Porfírio, n.º 2089, com o intuito de realizar diligências de fiscalização, a partir do recebimento de informações noticiando a precariedade no atendimento ao público, bem como ineficiência nos serviços oferecidos nas enfermarias destinadas ao atendimento aos Índios das diversas etnias ali atendidas. Verificar as providências tomadas pela direção em relação aos Processos Administrativos, acima citados, que tramitam nesta PRM/ATM e em observância aos diversos relatórios, expedidos pelo MPF, FNS e outros órgãos, que tratam da vistoria nas instalações e das precariedades das condições sanitárias do hospital. No início da diligência conversamos com o Clínico Geral, Dr. ALZITO AVELINO VARGENS, que na ausência do Diretor do Hospital e de seu substituo, respondia, no momento, pela administração do hospital. Na conversa com o profissional, a Dra. Daniela o informou dos nossos objetivos e da existência dos Procedimentos Administrativos já instaurados e solicitou a autorização de uma vistoria no hospital a começar pelas enfermarias indígenas. Na ocasião, o Dr. Alzito aproveitou para fazer uma reclamação com relação aos cortes nos recursos da UTI-Neonatal e após breve conversa sobre o assunto, autorizou a vistoria. Na diligência “in loco” foi observado que: 1- Todos os ambientes estão empestados de sujeira, teias de aranha e traças. Existem duas salas extras (improvisadas) destinadas aos índios com (09) nove crianças indígenas internadas com sintomas diversos: edemas, tosse, febre e pressão alta. Apesar de constatada uma epidemia de causas não identificadas que acometeu as crianças indígenas de uma mesma etnia, não foi tomada, até aquele momento, nenhuma providência pelo hospital no intuito de diagnosticar melhor a doença e eventualmente proceder a quarentena dos pacientes; 2- no interior dos armários estavam (02) dois frascos e uma garrafa “Pet” (plástico para acondicionar refrigerante) contendo urina, “segundo informações das enfermeiras, com orientações médicas”. Urinas colhidas ali para serem observadas as suas colorações e depois seriam abandonadas. Obs.: foram colhidas às 06(seis) horas da manhã e, no momento, às 10(dez)horas o médico ainda não havia passado para recolher o material; 3- Na enfermaria 1(extra) destinados aos índios, só existiam (03) três leitos para 09 (pacientes), além dos acompanhantes. Segundo os acompanhantes a alimentação era insuficiente para todos. 4- na Enfermaria Pediatria 2 (também extra), (03) três índios da tribo Parakanãs (Torimã, Avatinga e Kurunã) ali mal acondicionados, reclamavam, também, da alimentação. O maior problema é, segundo o Presidente do Conselho, que eles não falam o português e isso dificulta muito a comunicação no atendimento e por isso é sempre mantido um índio para servir de intérprete; 5- Enfermaria 11 – Clínica Médica Indígena, dentro do armário havia (01) um saco aberto contendo sabão em pó, (01) um pacote contendo (04) quatro rolos de papel higiênico, copos descartáveis, (01) uma garrafa térmica com água para beber (água tirada de um único bebedouro no corredor), garrafas de soro fisiológico. Os pacientes armazenavam fezes e urina na janela em frascos de coleta. A enfermaria estava super lotada. O Hospital não fornece toalhas de banho e estão faltando lençóis; 6- Enfermaria 13 - Clínica Médica dos Homens, havia dentro dos armários água sanitária, detergente, sabão, aparelho de inalação, instalações elétricas precárias e aparentes em local com crianças internadas. Em conversa com os pacientes, foi dito que há mais de três dias não eram trocados os lençóis. Outro paciente informou que eles tinham que trazer de casa os lençóis, as toalhas e até o papel higiênico. As macas estavam quebradas, não havia mais a regulagem para movimentar a altura de descanso das pernas e cabeças, era preciso improvisar com travesseiros também trazidos de casa, salientou o paciente. As roupas ficam sujas de sangue por vários dias, a sala é insalubre (sem ventilação) com (03) três pacientes. No local destinado a ventilação construíram uma parede. O banheiro estava com um cheiro insuportável, pois não existia espaço para ventilação. Urina era colhidas em garrafas plásticas (“Pet”) por falta de papagaio, as portas estavam desmoronando, e segundo relatos há uns dias um pedaço de madeira (usado para acabamento) caiu em cima de um paciente, quando iria usar o banheiro; 7- Farmácia, segundo a responsável, a Auxiliar de Enfermagem, Alcina Poeli dos Santos Bezerra, não há falta de remédios, os pedidos são semanais e que o hospital não fica sem estoque; 8- Refeitório, se mantinha limpo mas algumas pessoas transitavam sem toucas e roupas apropriadas. Segundo a responsável pela cozinha e lavanderia, a Sra Cecília, o aparelhamento de ambas eram insuficientes para atender a demanda do hospital. O lixo é mal condicionado dentro da cozinha e as portas estão danificadas; 9- Lavanderia, está em péssimas condições, parte do material de limpeza que deveriam estar no almoxarifado estavam na rouparia dentro de um armário trancado com cadeados, em local inadequado para o armazenamento. Uma bicicleta era guardada no local, as máquinas estão todas enferrujadas, a Marina (máquina de lavar) tem mais de trinta anos de uso, as lavadeiras não usam botas, luvas estão jogadas por sobre as máquinas, instalações elétricas expostas, em ambientes frequentemente molhados com riscos constantes de acidentes; 10- Parte externa do Hospital, algumas fossas estão com as tampas e laterais quebradas, propício ao acúmulo de insetos, ratos e baratas. Presença de (01)um botijão de gás instalado na área externa e sem nenhuma proteção; 11- Ambulâncias, duas ambulâncias foram apresentadas, (01) uma RenaultMaster, sem placa e sem documentação, segundo os motoristas, a documentação fica na Secretária no Setor de Transporte; e (01) Uma Fiat-Fiorino de Placa JVH-3925. Segundo relato dos próprios motoristas e da Enfermeira-Chefe, que nos acompanhava desde o início da vistoria, Sra. Sônia, as ambulâncias não fazem resgate, apenas trabalham com transferências de pacientes e o resgate fica por conta do Corpo de Bombeiros do Estado. Por fim, observou-se, seja pela fiscalização “in loco”, seja por meio de declarações da população local, no portão de atendimento, “que o atendimento, no hospital é ruim”, apesar de não haver problema aparente de internação, no entanto faltam leitos para todos os pacientes internados, pois em algumas enfermarias existem mais pacientes que leitos. Observou-se uma sala vaga , com três leitos vagos, porém não era feito o remanejamento dos pacientes, pois segundo a enfermeira chefe a sala era reservada para recuperação feminina. O que mais preocupa, tanto para a fiscalização quanto para os pacientes é a falta de higiene, que em sua totalidade é a causa maior do desconforto dos pacientes e da precariedade do atendimento apresentado pelo Hospital Municipal São Rafael/ATM/PA. Em face da grande demanda de questões a serem solucionadas. É o que tinha a relatar. Altamira/PA, 19 de janeiro de 2009. RAIMUNDO MARINHO DE OLIVEIRA Técnico em Transporte PR/PA em serviço na PRM/ATM Mat. 4172-6]