ANAIS SISTEMA DE GESTÃO DE CONTRATOS TERCEIRIZADOS NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS. ESTUDO DE CASO: PETROBRAS DAVID FERREIRA LOPES SANTOS ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Esta pesquisa examina um sistema de gestão desenvolvido na Petrobras cujo objetivo é prover um modelo de relacionamento com os prestadores de serviços na área logística, que respeite as imposições legais, a padronização do sistema de avaliação e principalmente a mútua transparência. O sistema de gestão proposto tem como vetor a gestão baseada em desempenho, que se sustenta em dois eixos: relacionamento e controle operacional. Os resultados deste estudo de caso confirmam o maior envolvimento das contratadas com as políticas da Petrobras, redução de custos operacionais, transparência e isonomia na avaliação dos fornecedores. Palavras chaves: Sistema de Gestão; Desempenho; Terceirização. 1. Introdução A importância dos fornecedores para as organizações e seu entendimento como um sistema integrado dentro da indústria não são novidades nos estudos organizacionais, ao contrário, autores clássicos da Economia Industrial como Alfred Marshall e outros pensadores orientados pelas doutrinas institucionalistas e evolucionárias como Veblen e Schumpeter já apontavam para as empresas enquanto integrantes de um processo de criação de valor. Os novos conceitos de administração da produção, introduzidos e difundidos, ao longo das últimas quatro décadas, em especial, pelas experiências japonesas, como: Just in Time, Qualidade Total, Redução do Ciclo de Introdução de Novos Produtos, Produção Enxuta, Produção Limpa, Sistema Toyota, entre outros, deflagraram para as empresas a necessidade de compreender que o resultado do seu processo não está condicionado, apenas, no gerenciamento dos recursos intra-firma, mas, também, dos processos existentes em toda cadeia de suprimento de bens e serviços (ZYLSTRA, 2008) e (CHOPRA, MEINDL, 2003). Braga, Arkader e Hiijar (2004) ilustram a evolução no gerenciamento da atividade de suprimento nos quatro estágios, da Figura 1, ressaltando que o momento atual exige das organizações uma postura mais estratégica junto as suas fontes de fornecimento, o que implica em olhar as empresas que compõe este sistema de fornecimento, como parceiras no negócio. 1/16 ANAIS Figura 1 – Processo de Evolução do Sistema de Suprimento Fonte: Braga, Arkader e Hiijar (2004, p.313). No Sistema Petrobras essa realidade não é diferente, quando a empresa começou a introduzir os conceitos de qualidade de produto e processo e padronização no início da década de 90 do último século e principalmente depois da abertura do mercado para exploração e produção de petróleo no Brasil em 1997, a empresa verificou a necessidade de mudar sua abordagem junto às firmas que atuam no suprimento de bens e serviços (LOUREIRO, LIMA e BARROS, 2008). Em paralelo com essas mudanças passaram a fazer parte da agenda da empresa valores referentes à Responsabilidade Social e Ambiental, obrigando a Petrobras numa profunda mudança de cultura tanto própria quanto das suas práticas de contratação e gestão da cadeia de suprimento (LOUREIRO, LIMA e BARROS, 2008). Neste contexto se insere essa pesquisa, que teve como espaço de investigação a Unidade Operacional de Exploração e Produção de Petróleo no Rio Grande do Norte e Ceará. No sistema de suprimento desta Unidade, destaca-se como essencial os fornecedores de serviços especializados. Esta atividade envolve 2/3 da força de trabalho direta à Petrobras. As especialidades dos serviços são diversificadas, desde limpeza e serviços gerais até serviços de intervenções de poços, locação e manutenção de sondas, transporte, tratamento de resíduos, entre outros. Estes contratos de serviços permeiam praticamente todas as gerências da Unidade influenciando seus processos e por conseqüência seus desempenhos, além de responderem por mais de 60% do orçamento da empresa. Portanto, a motivação para realização dessa pesquisa esteve envolta da seguinte questão “Como um sistema de gerenciamento de contratos logísticos por influenciar o relacionamento com a cadeia de suprimento?” Em face da diversidade de contratos e pessoas envolvidas na PETROBRAS, esta pesquisa teve como objetivos: i) Examinar um modelo de gerenciamento alicerçado no desempenho contratual como um sistema de gestão capaz de harmonizar a administração dos contratos com as empresas terceirizadas. ii) Analisar os fatores determinantes para a viabilidade e restrições de um sistema de gerenciamento de contratos na Petrobras. Para tanto, tomou-se como base o sistema de gestão implantado na gerência responsável pela Armazenagem e Transporte Terrestre de materiais que na época possuía nove contratos de serviços cujos valores atualizados para 2012 superam os R$ 80 milhões. 2. Metodologia A pesquisa proposta é do tipo Estudo de Caso, com natureza descritiva e orientação epistemológica qualitativa. Em defesa dessa alternativa metodológica de pesquisa a Professora Arilda Schimdt Godoy especialista em pesquisa qualitativa assevera que a opção 2/16 ANAIS pelo estudo de caso deve acontecer “a partir do desejo do pesquisador de explicar alguma situação a partir da prática”, (GODOY, 2006, p. 127). Eisenhardt (1989) ainda discute, em favor deste método, como uma fonte de exploração de situações organizacionais típicas, cujos casos podem ser especialmente reveladores. Desta forma, assume-se aqui a definição de Yin (2001, p. 32) “Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente, quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Postula-se assim, como pacífico, a utilização desta metodologia de pesquisa no processo científico e sua aderência aos objetivos pretendidos neste trabalho. Para consumação da investigação, as técnicas de pesquisa utilizadas para levantamento dos dados foram: a) Análise de documentos: procedimentos internos à empresa, dispositivos legais, normas regulamentadoras, acordos coletivos, instrumentos contratuais, relatórios e boletins de avaliação de desempenho. b) Entrevistas e visitas às instalações: as entrevistas e visitas foram facilitadas em razão da atuação profissional deste autor na referida empresa à época. Essa condição foi fundamental para uma análise mais densa dos resultados e características do objeto, não acessíveis ou perceptíveis ao público externo em poucas horas de visita. Inobstante, todo o esforço destinado à pesquisa foi quantificado, onde se contabilizou mais de 600 horas entre os anos de 2007 e 2009 em entrevistas com gerentes e fiscais de contrato, participação em fórum interno de contratação, participação no curso de formação de gerentes e fiscais de contratos da Universidade Petrobras, reuniões com empresas contratadas, visitas às instalações das empresas contratadas e apresentação destes resultados à administração da unidade. c) Observação participante: Além do acesso facilitado ao objeto, o autor conseguiu interagir com os gerentes de contrato no sentido de participar das decisões referentes ao sistema de gestão implantado, de forma a propor alterações e avaliá-las. Além de estruturar um planejamento de longo prazo de novas formas de contratação, no que tange ao escopo e medidas de valoração e desempenho. A análise deste conjunto de informações ocorreu concomitante com o seu levantamento de maneira interativa, isto é, à medida que novas questões se levantavam novas entrevistas, leituras e observações eram feitas. Enquanto abordagem epistêmica de interpretação dos dados tomou-se como fundamento a hermenêutica, apoiada na interpretação de Santos (2009, p. 128) “É importante ressaltar que ao objetivar a compreensão da organização ou de qualquer uma de suas interações deve-se admitir que essas relações não seguem uma condição causal, num mundo estático, regido por uma única dada racionalidade; permitir o olhar hermenêutico é antes de tudo permitir que as organizações falem por si só.” Desta forma, procurou-se interagir com o objeto por meio da observação participante, compreender as perspectivas dos envolvidos e nesta dinâmica elaborar o relatório técnico à empresa que por fim subsidiou este artigo. Nesse espectro é onde se assenta o rigor metodológico desse trabalho, cujos dados e descrições foram informados à empresa, não obstante, a quantidade de horas dedicadas nesse trabalho permitiu uma descrição da realidade factual mais ampla e não enviesada pelo 3/16 ANAIS posicionamento de algumas poucas entrevistas. Espera-se, ainda, com os dados apresentados, demonstrar o rigor do processo metodológico. No entanto, assume-se, sem demérito ou pré-julgamentos, que a investigação de cunho qualitativo carrega a parcialidade do pesquisador, em razão, da sua idiossincrasia; com efeito, tem-se a primeira limitação desta pesquisa que é a dificuldade de se proceder com a replicação dos resultados por outros pesquisadores. A segunda limitação é a amplitude do caso, costuma-se dizer na Petrobras que “existem muitas empresas dentro da Petrobras”, portanto, não existe um modelo de gestão de contratos terceirizados “da” Petrobras, mas um estudo “na” Petrobras em determinado período e unidade. Em adição, o estudo de caso impede generalizações estritas e não há a preocupação na busca por verdades ou pelo melhor modelo, mas ter a condição de prover ao leitor uma experiência vicária que lhe permita elementos para uma transferência de conceitos e resultados a outros ambientes. Ressalta-se que as discussões apresentadas neste artigo, refletem a perspectiva do autor e não da Petrobras. 3. Referencial Teórico A base teórica que sustenta as premissas deste trabalho são os pressupostos da Resource Based View (RBV). Essa abordagem estratégica procura explicar o desempenho das organizações a partir da sua capacidade de gerenciar os seus recursos disponíveis (PENROSE, 1959) e (WERNERFELT, 1984). Barney (1991) assinala que um dos recursos gerenciados pelas empresas é o “Capital Relacional”, este recurso é basicamente intangível e representa à forma como cada empresa administra sua rede de relacionamento externa, principalmente, sua cadeia de suprimento. Em razão da intangibilidade desse ativo, o mesmo pode trazer um diferencial competitivo para a organização, pois é de difícil imitação no curto prazo por empresas concorrentes; em contrapartida, o conhecimento implícito neste recurso não é fácil de ser disseminado e, com efeito, exige uma estrutura que o gerencie. A pesquisa proposta neste trabalho alcança essa discussão quando entende que um sistema de gestão de contratos explicita as informações envolvidas, o que minimiza o risco do conhecimento tácito e implícito dos funcionários envolvidos, em especial, nos contratos de serviços com alta “criticidade” tecnológica, concorrencial e financeira. O tratamento neoclássico para as tomadas de decisões relativas à cadeia de fornecimento tem como base sedimentar a Teoria de Custos de Transação, onde as decisões são tomadas com base nos custos envolvidos pela estrutura organizacional integrada (vertical e/ou horizontal) ou na utilização das estruturas de mercado para adquirir os suprimentos necessários, incorrendo assim, nos custos dessas transações (WILLIAMSON, 1979). Segundo os elementos fornecidos por Williamson (1979), o processo de escolha econômica passa a ser regulamentado por instrumentos contratuais, que se tornam a unidade básica de análise dos negócios e transações econômicas. A escolha em utilizar contratos é função da assimetria informacional, que se não for bem delineada, pode tornar passiva a organização em comportamento oportunista pelos agentes envolvidos na transação. Sendo assim, os instrumentos contratuais se apresentam como formas híbridas de organização econômica, situando-se como alternativa aos mercados e as firmas. A alternativa mercado está 4/16 ANAIS relacionada à decisão de sempre ir ao mercado fornecedor para comprar, a medida que exista necessidade, tem-se usado o termo “compra spot” para denominar essa tipologia de compras. Por outro modo, trata-se de considerar para fins de decisão: a forma organização (mecanismos de hierarquia); a forma mercados (sistema de preços) e; as formas híbridas (contratos) como alternativas de organização dos negócios econômicos (VINHA, NUNES e DERENGOWSKI, 2008). O avanço da competitividade no âmbito global tornou difícil a manutenção de estratégias de negócios voltadas para integração vertical da cadeia, em razão da dificuldade em se manter no estágio da arte do conhecimento tecnológicos em todos os elos da indústria (BESANKO, et al., 2006). Tem-se observado a consolidação de grandes empresas, porém focadas em carteira de negócios correlatas que permitam sinergia no desenvolvimento tecnológico. No Brasil, esse processo recebeu o nome de terceirização, que seguindo o conceito etimológico da palavra, representa uma “ação entregue a terceiros”. No entanto, as empresas terceirizadas não eram compreendidas como parceiras do negócio e apesar de suas atividades não pertencerem ao core da organização contratante, suas práticas implicavam direta e indiretamente no resultado da empresa (BRAGA, ARKADER e HIIJAR, 2004). Apesar da importância do mercado fornecedor e do alto custo em manter uma estrutura organizacional extremamente verticalizada o relacionamento tradicional entre empresas compradoras e seus fornecedores tem sido caracterizado como uma disputa entre adversários, baseada em fornecedores múltiplos, oferta competitiva e o uso de contratos com curta duração (HAHN, WATTS e KIM, 1993) e (HUMPHREYS et al. 2001). Verifica-se empiricamente que a grande maioria dos processos de terceirização onde as empresas que formam o conjunto de fornecedores e subfornecedores, ou seja, fornecedores de segunda e terceira camadas, não conseguem alinhar seus esforços para melhoria de desempenho da empresa cliente (HELRIGHEL e HIGA, 2007). Arnold (2006) alerta que em muitas oportunidades os fornecedores são tratados, apenas, como aqueles que oferecem o menor preço, exigindo desses menores margens de rentabilidade e por conseqüência menor fôlego para investimentos no seu próprio desenvolvimento. A gestão efetiva da cadeia exige que o gerenciamento dos contratos avalie periodicamente o desempenho de seus fornecedores, mantendo aqueles que atendam os níveis mínimos estabelecidos a priori (HELRIGHEL e HIGA, 2007). Inobstante, Leenders (1989) afirma que existem pressões ambientais e novas características das cadeias que estão exigindo dos compradores e fornecedores, maior e melhor envolvimento nos seus negócios, entre essas pressões destacam-se a forte internacionalização dos mercados e o menor ciclo de vida dos produtos. Muitas empresas estão reconhecendo que sua habilidade de se tornar competidores de classe mundial está baseada, em grande parte, na sua habilidade de estabelecer altos níveis de confiança e cooperação com seus fornecedores, construindo parcerias (HUMPHREYS et al., 2001) e (KEOUGH, 1994). A situação apresentada por Humphreys, et al. (2001) e Keough (1994) não é diferente nas cadeias com empresas dominantes, a medida que o nível de competição impele que as empresas tenham altos níveis de serviços, com custos competitivos e ainda respeitem novos valores sociais e ambientais. 5/16 ANAIS O desenvolvimento de fornecedores pode abranger, desde esforços limitados, como avaliar superficialmente o fornecedor e exigir aumento de desempenho, quanto esforços extensivos, como, por exemplo, treinamento do pessoal do quadro funcional do fornecedor e investimento nas operações do mesmo. Existem muitos elementos críticos que surgem ao longo dos esforços dirigidos ao desenvolvimento de um fornecedor: a efetividade da via de comunicação, a avaliação do fornecedor e respectivo feedback, o foco no custo total (e não somente no preço) e a perspectiva de longa duração (CHOPRA e Meindl, 2003) e (DORNIER, et al. 2007). Nesta corrente, Helrighel e Higa (2007) destacaram a importância de instrumentos periódicos e sistemáticos para avaliação do desempenho das empresas fornecedoras / parceiras, onde estas avaliações teriam por objetivos mensurar a eficiência dos serviços prestados ou produtos adquiridos, sendo possível sinalizar para o fornecedor os pontos positivos e negativos para que estes recebessem o tratamento adequado. Observa-se que o estágio alcançado pela indústria automobilística é considerado por vários autores como sistemas de parcerias (NEUMANN e RIBEIRO, 2004), (HELRIGHEL e HIGA, 2007), (KUEHNE, 2001). Para Kuehne (2001) as parcerias possuem como principais características: flexibilidade; trabalho conjunto; administração de qualidade total; pró-atividade; relacionamento em longo prazo; objetivos conjuntos e claros; franqueza e confiança; compromisso da alta administração. Ainda em Kuehne (2001), a prática de avaliação prevê a atribuição de notas, de acordo com a observação do avaliador em cada quesito previamente definido. O autor, também, sugere que sejam atribuídos pesos para cada parâmetro a fim, de entregar maior importância aos quesitos críticos e por intermédio de uma média aritmética ponderada alcançar uma média final. O autor faz uma ressalva onde nem todos os fornecedores serão avaliados em todos os quesitos, pois dependerá da natureza de seus trabalhos. Baily, et al. (2000, apud, HELRIGHEL e HIGA, 2007) acrescentam que um sistema de avaliação de fornecedores bem desenvolvido permite que a empresa contratante especifique as características e os desempenhos necessários para atender suas necessidades, em adição, torna mais claro para o mercado fornecedor os serviços específicos e o nível mínimo de performance aceitável, em conseqüência as empresas fornecedoras poderão necessárias solicitar sua desqualificação caso percebam que não podem atender as exigências requeridas. Handfield et al. (1999) destacam que a integração com os fornecedores deve acontecer de forma otimizada, através de um processo formal onde se considera a complexidade do serviço envolvido, o grau de risco inerente ao negócio e a potencialidade dos fornecedores. Diante da literatura pesquisada, pode-se afirmar que um sistema de gestão da cadeia de suprimento de bens e serviços é uma condição básica para se estabelecer um perfil estratégico no processo de agregação de valor à empresa. Em tempo, esse sistema deve ser balizado por um processo de avaliação de desempenho que esteja orientado para os resultados pretendidos pelas empresas, bem como deve procurar estabelecer uma política de relacionamento voltada para a confiança entre as partes, cuja finalidade é minimizar atitudes oportunistas frente as assimetrias de informações existentes nos processos organizacionais. 3. Estudo de Caso 6/16 ANAIS A atividade de armazenagem e transporte terrestre da empresa no Rio Grande do Norte e Ceará está instalada nas cidades de Mossoró e Alto do Rodrigues onde existe, nesta última, um processo recuperação e preservação de tubos, hastes de bombeio e protetores de rosca. Na cidade de Mossoró está concentrado o Centro de Distribuição de materiais e equipamentos da Unidade que consolida o recebimento de todos os bens comprados pela empresa e realiza a entrega destes segundo as especificações dos usuários (sondas, estações de tratamento, atividades de engenharia, ativos de produção e oficinas de manutenção). Destaca-se que a produção de Petróleo e Gás nesses estados compreende campos marítimos e terrestres que somam mais de 2.200 poços produtores. Portanto, a atividade logística desta unidade é singular, pois realiza as atividades de recebimento, inspeção, estocagem, expedição e transporte de toda carga fracionada adquirida que suportam a exploração e produção de petróleo. Na ocasião da pesquisa essa atividade realizava mais de 18 mil movimentações de materiais/mês, entre recebimento e expedição, onde se inclui desde equipamentos de proteção individual a tubulações e equipamentos de grandes dimensões (vasos, válvulas, compressores, trafos, motores, entre outros). Para cumprir com suas atribuições a atividade atuava com 36 funcionários próprios e mais de 300 funcionários terceirizados dentro das instalações (Mossoró e Alto do Rodrigues) e aproximadamente 150 funcionários da transportadora. A estrutura física para suportar toda essa estrutura logística era superior a 121.000 m2 sendo que mais 15.000 m2 de área construída. Contava, ainda, com 37 equipamentos contratados entre empilhadeiras, guindaste e equipamentos de transporte de carga. No momento inicial da pesquisa a atividade englobava nove contratos terceirizados com sete empresas distintas. Em razão de confidencialidade de informações os números dos contratos e as razões sociais dos prestadores de serviços não são informados. A Tabela 1 apresenta os objetos dos contratos. Fornecedor A A B C D E E F G Contratos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Objeto dos Contratos Transporte terrestre nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará Transporte terrestre para os demais estados da federação Locação de empilhadeiras elétricas Locação de empilhadeiras a combustão Serviço de movimentação de carga com empilhadeiras Serviço de movimentação e controle de materiais Serviço de limpeza e recuperação de tubos, hastes e protetores Usinagem de roscas de tubulação Locação de equipamentos de hidrojateamento Tabela 1 – Descrição dos contratos de fornecimentos de serviços da atividade pesquisada Fonte: Documentos da empresa, elaborado pelo autor Esses contratos, à época, consumiam 95% do custeio da atividade, excetuando os gastos com o pagamento de funcionários próprios que não entravam no custeio “gerenciável” da atividade. Os três últimos contratos referentes as empresas “E”, “F” e “G” eram executados na cidade do Alto do Rodrigues e os demais na cidade de Mossoró. Observa-se, contudo, que os contratos 1, 4 e 5 eram utilizados também em apoio à outras atividades da unidade intensivas em 7/16 ANAIS movimentação de carga, como por exemplo: estação de tratamento de fluídos, manutenção de unidades bombeio, portos de apoio às atividades marítimas, entre outros. No primeiro momento, chamou à atenção o grande número de contratos com diferentes empresas que em essência exercem serviços inerentes a um operador logístico, atividade já consolidada no mundo e, em crescimento no Brasil. Nas entrevistas iniciais com o gerente e fiscais desses contratos identificaram-se três motivos para essa “diversificação”: i. Processo histórico: segundo eles, o processo de contratação sempre foi desta forma e como os contratos apresentavam prazos de término distintos, era mais justificável a continuidade destes isoladamente. ii. Incerteza quanto à concentração: verificou-se em todos os discursos quanto que a consolidação dos contratos aumentaria o poder de barganho do fornecedor, além do risco do instrumento contratual ser inexeqüível, onde a saída de uma empresa que administrasse todo o processo acarretaria em severos ônus à empresa. iii. Maior prazo para contratação: A concentração dos contratos elevaria, por conseqüência, o valor do contrato resultante o que demandaria mais tempo para aprovação na hierarquia da empresa. No curso da pesquisa observou-se que essa estrutura implicava em diversas interseções operacionais de difícil solução, por exemplo, entre os contratos 3, 4 e 5. Os dois primeiros englobavam, apenas, a locação de empilhadeiras (elétricas e combustão) e o último era o serviço de operação da empilhadeira. Diversos transtornos avultavam-se nesse modelo, desde a simples responsabilidade pela limpeza do equipamento, conservação a demandas trabalhistas entre as empresas, com responsabilidade solidária da Petrobras quanto a “desvios de função”, entre outros. Além disso, sabe-se que o processo de armazenagem envolve uma sequência de atividades e interação entre recursos, por conseguinte, quando havia o descumprimento obrigacional de uma empresa o prejuízo se estendia as demais, além da própria contratante. Não obstante, identificaram-se múltiplos conflitos entre as empresas e seus funcionários resultantes das diferenças de gestão entre as empresas, onde se destacam: estrutura de cargos e salários distintos; sindicatos heterogêneos com distintos acordos coletivos; diferenças nas políticas de segurança industrial; inúmeras reuniões para atender as mesmas razões como Comissão Interna a Prevenção de Acidentes (CIPA); dificuldades na mensuração de pagamento quando da existência de problemas sistêmicos e ausência de uniformidade nos processos de medição de desempenho. A perspectiva inicial do autor, que se confirmou no curso da pesquisa, é que o perfil de relacionamento da Petrobras com os contratados é Mecânico e Reativo, conforme classificou Braga, Arkader e Hiijar (2004). Na gestão desse conjunto de contratos a atividade dispunha de um gerente de contrato e quatro fiscais no controle das operações que aglutinavam os aspectos formais e técnicos. Importa ressaltar, que os contratos da Petrobras são disciplinados pelo Direito Privado brasileiro, porém, são normatizados no seu processo de contratação pelo Decreto Lei 2.745/98 que é uma simplificação para a Petrobras da Lei 8.666/76 que regulamenta os processos de aquisição de bens e serviço da União, Estados, Municípios e empresas públicas. 8/16 ANAIS A despeito da discussão jurídica sobre a eficácia deste Decreto Lei, o fato é que os contratos da Petrobras são alvos de auditoria de órgãos externos, em especial, o Tribunal de Contas da União (TCU), auditoria independente, inclusive para fins de atendimento a Sarbanes e Oxley (SOX) e auditorias internas. Essa estrutura de controle exige dos profissionais à frente dos contratos (gerentes e fiscais) uma conduta extremamente formal, para efeitos de rastreabilidade e a perfeita aderência entre o instrumento contratual e o exercício deste no “mundo real” que incorpora as assimetrias informacionais. Sabe-se que as empresas privadas, as mudanças contratuais são facilmente incorporadas ao objeto contratual inicial por aditivos ou termos de ajustamento registrados, contudo, nas empresas públicas, os aditamentos contratuais são limitados por Lei e sua existência sugere, sempre, uma dúvida pelos órgãos de controle quanto a sua real necessidade. O resultado observado no primeiro ano da pesquisa foi um grande esforço empreendido pelos profissionais responsáveis, cujos resultados não atendiam as expectativas da Petrobras e das prestadoras de serviço. Nesse sentido, foi implantado pela atividade um sistema de gestão que versasse, sobretudo, para o desempenho das empresas e que proporcionasse a todos os envolvidos e a própria gestão da Petrobras um posicionamento real, a qualquer tempo, quanto a performance dos contratos. Destaca-se que não há na Petrobras um sistema único de gerenciamento. O que existe é um curso de formação para gerentes de contratos (32 horas) cujo escopo envolve o processo formal de contratação e discussão das atribuições do gerente e fiscal do contrato. O padrão de processos (PP) que orienta o exercício do gerenciamento e fiscalização de contratos sinaliza para as seguintes atribuições: • • • • “Inteirar-se em detalhe, de todas as cláusulas e condições do instrumento contratual e seus anexos; Promover reunião preliminar com a Contratada para início das atividades inerentes ao Instrumento Contratual; Coordenar a fiscalização da execução física e financeira do contrato; Aprovar, trimestralmente a partir do início da execução dos serviços e ao final do contrato, os BOLETINS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO (BAD)” (UN-RNCE PP – 2300032-G, grifo nosso) O Boletim de Avaliação de Desempenho (BAD) é um recurso adicional fornecido pelo sistema de informação da Petrobras (SAP), que permite a realização de uma avaliação objetiva do fornecedor para um período máximo de três meses. Em adição, essas avaliações formam um histórico do fornecedor e podem ser registradas dentro de cada especialidade do fornecedor, logo, pode-se construir uma série histórica com o desempenho daquele fornecedor e incluir este critério como classificatório ou mesmo eliminatório nos processos de contratação. O BAD é formado por critérios e sub-critérios de avaliação e possui uma lista de diferentes ponderações para o cálculo da nota final. A nota é resultado de uma média ponderada dos critérios e sub-critérios escolhidos pela gerência / fiscalização do contrato. No histórico das empresas no Sistema Petrobras é computado um conceito que é definido por faixas de valores, esses conceitos variam entre Excelente, Bom, Regular, Ruim e Péssimo. Assim se faz necessário um bom conhecimento de toda a lista de critérios e sub-critérios bem como suas ponderações para correta avaliação das empresas. 9/16 ANAIS Nas entrevistas e visitas realizadas, observou-se, que nenhum gerente de contrato tinha uma sistemática de avaliação e que as próprias empresas contratadas não conheciam os critérios que estavam sujeitas a avaliação. De maneira, que os conflitos aconteciam, somente, quando as notas eram abaixo do esperado (< que 5, ou seja, ruim ou péssimo). Essa evidência confirma o perfil reativo da empresa frente os seus fornecedores até o momento da pesquisa. Nesse sentido, o sistema de gestão proposto teve como objetivos iniciais: i) Sistematizar o processo de avaliação das empresas contratadas; ii) Criar um mecanismo de melhoria conjunta de desempenho; iii) formalizar as tomadas de decisão em conjunto e historiá-las; e iv) aumentar a interação entre as empresas envolvidas. Observa-se que esses objetivos alinham-se a sua maneira, às características destacadas por Kuehne (2001), Chopra e Meindl (2003), Helrighel e Higa (2007) e Dornier, et. al. (2007). A Figura 2 apresenta uma ilustração do sistema de gestão de contratos implantado na unidade em análise, apresentado à empresa. Figura 2 – Sistema de Gestão dos Contratos Fonte: Relatório apresentado à empresa, adaptado pelo autor. O controle operacional diz respeito a capacidade de gerenciar e fiscalizar os contratos, tomando como partida os três primeiros pontos do procedimento (PP – 2300032) e expandindo para uma abordagem mais ampla de gestão. Essa estrutura de controle operacional administrativa é essencial para a perfeita condução dos contratos, pois é a partir dela que a gerência garantirá a uniformização dos procedimentos internos e da própria relação com as empresas contratadas. Para tanto foram adotados os seguintes itens: i) Recursos Humanos a) Apoio administrativo para auxiliar os fiscais de contrato; b) Treinamento dos fiscais nos cursos básicos de gestão da Universidade Petrobras e treinamento de reciclagem de dois em dois anos nos cursos relacionados à gestão de contratos; c) Treinamento em cursos para desenvolver competências e habilidades para melhor execução de suas atividades (negociação, sistema de informação, custos, gestão de processos, gestão de almoxarifados); 10/16 ANAIS d) Reuniões mensais entre os fiscais dos contratos e funcionários de apoio administrativo para análise crítica dos processos. e) Visitas em outras gerências de contrato para compartilhar práticas. ii) Uniformização de Procedimentos a) Adoção das mesmas práticas de controle documental; b) Melhor utilização do documento Registro de Ocorrência (RO), no que diz respeito a forma de comunicação, evidência da ocorrência, prazo de resposta; ações e follow up. c) Visita às áreas atendidas pelos contratos; d) Utilização de sistema próprio para controle das reuniões e atas e plano de ação. O quesito Relacionamento estabeleceu-se a forma como a gerência se relacionaria com as empresas contratadas, assim, estruturou-se uma série de práticas formais e informais de contato que versem pela salvaguarda dos interesses da Petrobras e pelo estabelecimento de condições que proporcionem uma parceria entre a contratante e a contratada. A seguir são listadas as práticas adotadas. a) Utilização de Registro de Ocorrência seriado e e-mails para comunicações e solicitações, sempre, direcionados ao preposto da empresa e arquivados em local específico. b) Participação mensal dos técnicos de segurança das empresas contratadas no Comitê de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da gerência de armazenagem e transporte. c) Encontro semestral das gerências das empresas contratadas com apresentação das suas melhores práticas e discussão de temas comuns. d) Visita anual às instalações das empresas contratadas; e) Auditoria anual nos documentos apresentados pelas empresas contratadas com a presença das mesmas. f) Uso de reuniões formais com as empresas contratadas para deliberar mudanças de processos; g) Participação dos prepostos nas reuniões gerenciais de análise crítica dos processos e resultados. h) Redução de outras atividades dos gerentes e fiscais de contrato para aumentar a disponibilidade de tempo para atendimento às empresas contratadas; i) Mudança na postura da gerência e fiscalização para estabelecer relacionamento de parceria, respeitando as fronteiras das empresas; A maior quantidade de ações nesse item reforça o interesse do sistema em alterar a forma de relacionamento com as empresas contratadas, a fim, de incluí-las nos processos da Petrobras e ao mesmo tempo permitir uma maior e melhor comunicação entre as empresas envolvidas. Por último tem-se o quesito Resultado como a principal variável desse processo, pois o grande interesse do sistema é que este fosse orientado para resultados, nesse sentido, adotaram-se os seguintes pontos norteadores: a) Apresentação dos critérios de avaliação, a priori; b) Critérios de avaliação que espelhem as cláusulas contratuais; c) Sistema de avaliação objetivo; d) Equidade na avaliação das diferentes empresas; 11/16 ANAIS e) Possibilidade de acompanhamento durante o período de avaliação; f) Transparência na apresentação dos resultados em reuniões trimestrais onde um plano de ação para melhoria seria estabelecido e acompanhado nas reuniões subseqüentes. Para tanto, estipulou-se com as gerências das empresas contratadas três indicadores agregados de desempenho: 1) Apoio operacional; 2) Segurança, Meio Ambiente e Saúde; 3) Qualidade do serviço. A única restrição do BAD no SAP é que a função recebe apenas um lançamento por critério no período e depois que a nota é lançada, precisa ser confirmada, e depois para alterá-la, se necessário, exige uma série de procedimentos formais que devem ser encaminhados para uma central no Rio de Janeiro. Desta forma, utilizou-se duas planilhas eletrônicas para registro das ocorrências e uma minuta do BAD, em decorrência do lapso temporal entre as avaliações (três meses) e a possibilidade de realizar o acompanhamento do desempenho da contratada dentro do período. A Figura 3 apresenta a “máscara” do BAD em planilha eletrônica de uma empresa, no início do período de avaliação. BAD CÓDIGO CRITÉRIOS 53/01 Apoio Operacional Participação nas reuniões programadas pela gerência/fiscalização Entrega da documentação exigida contratualmente, no prazo Disponibilidade para atendimento à fiscalização Disponibilidade dos técnicos e prepostos 70/04 Segurança/Meio ambiente/Saúde Não conformidade em procedimentos operacionais envolvendo SMS Participação nos programas de SMS Descumprimento de padrões contratuais de SMS Entrega das auditorias comportamentais 73/01 Qualidade Índice de retrabalho Tratamento de não conformidade NOTAS 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 PERÍODO DA AVALIAÇÃO: 22/08-22/11/2008 MÉDIA FINAL 100 OBSERVAÇÕES Figura 3 – Modelo Ilustrativo do BAD Fonte: Relatório apresentado à empresa, adaptado pelo autor. Trata-se de um modelo simples, porém com critérios organizados, negociados e mensurados de forma objetiva. As três linhas sombreadas com código são os critérios do SAP cujas notas são lançadas no sistema depois da reunião com a empresa contratada. O processo avaliativo ocorre da seguinte forma, no início do período de avaliação a empresa começa com o conceito máximo “100”. No curso do tempo, na existência do não atendimento de algum item, a empresa era notificada pelo Registro de Ocorrência (RO) e após o prazo de 12/16 ANAIS resposta se não existisse defesa à evidência, o RO era registrado em outra planilha vinculada ao BAD, que automaticamente depreciava o item dentro da pontuação negociada, a priori. Os pontos e seus pesos eram definidos conforme as características de cada empresa, todavia, todas as empresas tinham que atender a mesma estrutura (Apoio operacional, SMS e Qualidade). As principais dificuldades identificadas na implantação deste sistema de gestão foram: a) Cultura dos funcionários da Petrobras: i) Comunicação: há preponderância na informalidade das negociações e decisões, sob a tese da velocidade. ii) Há um sentimento de “posse” do contrato, atrelado ao maior poder de barganha da Petrobras. b) Cultura dos funcionários Contratados: iii) Direcionamento de suas expectativas, desejos, frustrações, dificuldades, etc., no funcionário Petrobras e não ao seu empregador. iv) Falta de subordinação ao empregador. c) Cultura das empresas Contratadas; v) Falta de compromisso com a qualidade do serviço e práticas de SMS. vi) Interesse inicial, apenas, na “disponibilidade” dos seus funcionários à Petrobras e não no desempenho requerido da atividade como um todo. d) Estrutura vii) Grande número de contratos relacionados à operação logística viii) Dificuldade do gerente e fiscais de contrato em entregarem dedicação exclusiva para essa atividade. Essas dificuldades limitaram a plena implantação do sistema no primeiro semestre de 2008 e exigiram inúmeras reuniões até a consolidação do modelo. No entanto, após o seu estabelecimento foi possível identificar as seguintes vantagens: 1) Maior envolvimento das empresas com a qualidade do serviço e política de SMS; Além da maior presença dos técnicos de segurança, os funcionários das empresas contratadas começaram a perceber a presença dos gerentes e prepostos das empresas em auditorias comportamentais, incentivando-os no cumprimento dos procedimentos, além de maior velocidade interna das empresas na regularização de não conformidades. Percebeu-se, ainda, que as empresas contratadas, buscaram uniformizar processos internos e reduzir as assimetrias de suas atividades. 2) Aumento do controle dos processos internos; Os fiscais de contrato passaram a ter critérios nas avaliações e esses critérios direcionaram suas atenções aos itens importantes do contrato, bem como, as próprias empresas aumentaram seus controles para reduzir as evidências de não conformidades. 3) Estabelecimento de um ambiente cortês com bases para “confiança”; Apesar da subjetividade do tópico, foi possível perceber que as reuniões eram mais agradáveis e as discussões eram centradas nos problemas e não nas pessoas, como anteriormente. Não obstante, as empresas podiam acompanhar a situação do seu desempenho diariamente junto a 13/16 ANAIS fiscalização do contrato e eram capazes de tomar ações, a fim, de evitar maiores prejuízos nas suas performance. Em determinada reunião semestral com a presença de gestores da unidade um gerente de empresa contratada assinalou “Posso não ficar satisfeito com a minha nota, mas eu sei onde errei e como posso melhorar; fato que não acontece em outros lugares”. Destacam-se, ainda, os seguintes resultados: a) A partir do segundo semestres de 2008 houve uma redução significativa no número de horas extras (30%), mesmo com o aumento de movimentações no depósito e volume de material estocado; b) Não houve acidente de trabalho com afastamento desde o período de implantação do sistema até o término dessa pesquisa; c) Redução de 70% do passivo trabalhista onde a Petrobras era solidária e nas demandas trabalhistas. Em adição, este sistema de gestão foi contemplado como uma boa prática em dois seminários no Sistema Petrobras e, ainda, incorporado ao material texto dos cursos de formação de gerentes de contrato daquela unidade. Em tempo, sinalizou-se à gerência e fiscalização desses contratos as seguintes oportunidades a serem avaliadas: i) Consolidação dos contratos vigentes em três novos contratos: Transporte; Operador Logístico em Mossoró; e Serviço de recuperação, usinagem e hidrojateamento dos tubos, hastes de bombeio e protetores na cidade do Alto do Rodrigues. ii) Incluir nestas novas minutas contratuais: cláusulas de desempenho mínimo, pagamento por produtividade, melhoria no processo de seleção de fornecedores. iii) Desenvolver critérios que pontuem práticas ou resultados superiores ao desempenho contratado. 5. Conclusão A necessidade em utilizar contratos de longo prazo para aquisição de serviços é sustentada pela literatura, desde os trabalhos de Williamson (1979), onde se verificou que esta decisão é uma alternativa entre a utilização do mercado e a decisão hierárquica em assumir o controle do processo. Em razão das características do Sistema Petrobras e de suas decisões passadas, o estabelecimento de contratos é uma realidade que carece de melhorias, pois há a ciência interna de que a empresa não teria capacidade de absorver em sua estrutura todas as atividades, frente o seu plano de negócios. A unidade pesquisada é um exemplo da necessidade em utilizar empresas terceiras para realizar grande parte de suas atribuições, tendo em vista sua finalidade e posicionamento dentro da estrutura organizacional. Portanto, o gerenciamento e a fiscalização de contratos são críticos para as operações da empresa, o que demanda um sistema de gestão, que salvaguarde os seus interesses e ao mesmo tempo proporcione as empresas contratadas oportunidade para o seu desenvolvimento e integração com a cadeia de valor da Petrobras. Desta forma, foi apresentado o modelo de gestão de contratos fundamentado em resultado. A despeito de posicionamentos contrários a “numerificação” e formalidade; assumiu-se nesse trabalho que esses princípios seriam fundamentais para a implantação e o desenvolvimento do sistema proposto. 14/16 ANAIS O modelo baseado em desempenho, controle operacional e relacionamento mostrou-se simples e racional. Contou, ainda, com o apoio formal dos envolvidos por ser participativo e zelar pela transparência e equidade. Importa, pontuar que o sistema de gerenciamento permitiu uma maior aproximação da Petrobras com as empresas contratadas e principalmente, estas com a Petrobras. Além disso, as sete empresas passaram a trabalhar de maneira mais participativa, compartilhando inclusive práticas de gestão. Desta forma, entende-se que a questão inicial desta pesquisa foi atendida. Em adição, o modelo traz consigo os elementos identificados nos fundamentos teóricos, em especial, os quesitos relacionamento e resultados, incluindo, um processo avaliativo que permite a melhoria contínua. No entanto, o modelo, também, introduziu um quesito voltado para o controle operacional do contrato, envolvendo a contínua capacitação das pessoas envolvidas e práticas de uniformização de procedimentos e prazos. Essa condição prática foi importante para a viabilidade do sistema e, em especial, na superação da cultura existente. Os resultados apresentados asseveram pela continuidade do sistema de gestão apresentado, que deve, também, incorporar novos critérios, reavaliar ponderações e medidas. Processo inesgotável em qualquer sistema de gestão. Contudo, o balanceamento dos quesitos Apoio Operacional, Segurança, Meio Ambiente, Saúde e Qualidade se mostraram robustos para os contratos em vigor e direcionados às políticas da Petrobras. Os procedimentos metodológicos adotados se mostraram eficientes, pois permitiram entender todo o processo de implantação do sistema, bem como o seu amadurecimento. Outrossim, a experiência de entrevistas e visitas a diversos gerentes e fiscais de contratos em diferentes áreas da Petrobras, permitiram ao autor uma visão mais sistêmica sobre essa questão dentro da empresa, inclusive, para reconhecer que outros sistemas de gestão de contratos devem surgir, a fim de contrapor ou complementar estes e permitir que novas proposições sejam alçadas. 6. Bibliografia ARNOLD, J. R. T. Administração de materiais. Uma introdução. Atlas: São Paulo, 2006. BARNEY, J. B. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991. BESANKO, D.; DRANOVE, D.; SHANLEY; M. SCHAEFFER, S. A Economia da estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2006. BRAGA, A. R.; ARKADER, R.; HIIJAR, M. F. Fatores de motivação para a terceirização logística: Estrutura e relações com as atividades terceirizadas por embarcadores brasileiros. In: Encontro Nacional de Pós Graduação em Administração - EnANPAD, 28, 2004, Curitiba. Anais: Resumo de Trabalhos do XXVIII EnANPAD, 2004, CD-ROOM. p. 311-312. CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. Estratégia, planejamento e operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. DORNIER, P. P.; ERNST, R.; FENDER, M.; KOUVELIS, P. Logística e operações globais. Texto e casos. São Paulo: Atlas, 2007. HELRIGHEL, P. R.; HIGA, D. F. Avaliação e seleção de fornecedores no setor automotivo de Curitiba: O caso Cartrom Embalagens S.A. Intersaberes Revista Científica, Curitiba, v. 2, n. 3. p. 1-17, Jan-jun/2007. 15/16 ANAIS EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, v. 14, n. 4, p. 532-550, 1989. GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In. GODOY, C. K.; BANDEIRA-DE-MELO, R.; SILVA, A. B. Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: Paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 115-146. HANDFIELD, R. B.; RAGATZ, G. L.; PETERSEN, K.; MONCZKA, R. Involving suppliers in new product development. California Management Review, Berkley, v. 42, n. 1, p. 59-82, Out/1999. HAHN, C.K.; WATTS, C.A.; KIM, K.Y. The supplier development program: a conceptual model. Journal of Purchasing and Materials Management, v. 26, n. 2, p. 2-7, 1990. HUMPHREYS, P.K; SHIU, W.K.; CHAN, F.T.S. Collaborative buyer-supplier relationships in Hong Kong manufacturing firms. Supply Chain Management International Journal, v. 6, n. 4, p. 152-162, 2001. KEOUGH, M. Buying ou way to the top. Director, v. 47, n. 9, p. 72-77, 1994. KUEHNE JÚNIOR, M. O processo de desenvolvimento de fornecedores: um diferencial estratégico na cadeia de suprimento. Revista FAE, v. 4, n. 3, set/dez, 2001. LEENDERS, M.R. Supplier development. Journal of Purchasing and Material Management, v. 25, n. 1, p. 47- 55, 1989. LOUREIRO, A. C.; LIMA, G. B. A.; BARROS, S. R. S. Gestão da qualidade, segurança, meio ambiente e saúde: Estudo de um modelo integrado para a engenharia da PETROBRAS. In. CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, 4, 2008, Niterói. Anais: Responsabilidade socioambiental das organizações brasileiras, 2008. Disponível em: <http://www.latec.uff.br/cneg/documentos/anais_cneg4/T7_0038_0207.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2012. NEUMANN, C. S. R., RIBEIRO, J. L. D. Desenvolvimento de fornecedores: um estudo de caso utilizando a troca rápida de ferramentas. Revista Produção, v. 14, n. 1, 2004. PENROSE, E. T. The theory of the growth of the firm. New York: John Wiley, 1959. PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. Boletins de avaliação de desempenho (BAD). Natal, SINPEP UN-RNCE PP 2300032-G. Intranet. Acesso em 20 de jun. 2008. UN-RNCE/SOP/ARM. Relatório Técnico: Sistema de gestão de contratos. In. Seminário de Gestão da UN-RNCE,3, 2008, Natal. Anais: em busca da excelência sustentável. CD-ROOM. SANTOS, D. F. L. Possibilidades da hermenêutica na administração. Revista de Ciências da Administração. Florianópolis, v. 11, n. 23, p. 113-133, jan/abr 2009. VINHA, V. G.; NUNES, P. M. S.; DERENGOWSKI, M. G. Estratégias de relacionamento com stakeholders e seus impactos sobre os custos de transação. Um estudo de caso da Aracruz Celulose. INSTITUTO ETHOS (Org.) Responsabilidade Social das Empresas: a contribuição das universidades. São Paulo: Peirópolis, 2008, v. 6, p. 259-289. ZYLSTRA, K. D. Distribuição lean. Porto Alegre: Bookman, 2008. WERNERFELT, B. A resource-based view of the firm. Strategic Management Journal, v. 5, n. 2, p. 171-180, apr/jun, 1984. WILLIAMSON, O. E. Transaction-cost economics: the governance of contractual relations, The Journal of Law and Economics, v. 22, n. 2, p. 239-261, 1979. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001. 16/16