FACULDADE NOVOS HORIZONTES Programa de Pós-graduação em Administração Mestrado O PROUNI E A PROMOÇÃO DO EMPODERAMENTO DE MULHERES: um estudo com egressas de uma Instituição de Ensino Superior privada mineira Valéria Rezende Freitas Barros Belo Horizonte 2015 Valéria Rezende Freitas Barros O PROUNI E A PROMOÇÃO DO EMPODERAMENTO DE MULHERES: um estudo com egressas de uma Instituição de Ensino Superior privada mineira Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Faculdade Novos Horizontes como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. a Orientadora: Prof. Dr. Oliveira Lopes Melo a Marlene Catarina de Linha de pesquisa: Relações de Poder e Dinâmica nas Organizações Área de concentração: Organização e Estratégia Belo Horizonte 2015 FOLHA DE APROVAÇÃO Ao meu companheiro, Aluízio, à minha irmã, Carolina, e aos meus pais, Ana Lúcia e Hélio, pelo apoio incondicional e pelas orações. AGRADECIMENTOS Em especial: A Deus, pela vida, proteção, família, saúde, amigos e força e por me permitir concluir e vivenciar mais uma etapa de minha vida. À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, pela oportunidade, pelas sábias sugestões e pela orientação em todas as etapas da realização deste trabalho. Eternamente agradecida! A Prof.ª Dr.ª Kely César Martins de Paiva, pela orientação enquanto bolsista de Iniciação Científica e pelo aprendizado, oportunidade, paciência, carinho e apoio. Eternamente agradecida! A minha família, minha base. O que seria de mim sem o apoio, o incentivo e a compreensão de vocês? Não há palavras que descrevam meu amor por vocês! A minha irmã, Carolina, imensamente, por tudo! Aos meus pais, Ana Lúcia e Hélio, infinitamente. Mesmo que distantes fisicamente, fizeram-se presentes em cada angústia, dor, vitória e alegria. Ao meu companheiro, Aluízio, pela companhia, amor, compreensão, paciência e incentivo. A minha tia, Eliana, pela acolhida amorosa, carinho, apoio e compreensão. A minha avó Jovina, pelo amor, incentivo e carinho! A todos os meus familiares, em especial, tia Cida e Severo, tio Magela e Imaculada e meu primo Mateus, pelo carinho. A minha querida amiga e companheira de trabalho Rosilaine, pelo companheirismo nesta caminhada solitária, pela amizade, conforto e compreensão e por compartilhar comigo as incertezas, os medos, as vitórias e as alegrias. A professora Ana Lúcia Magri, pela ajuda, pelas palavras de conforto, pelo aprendizado e pela paciência. Aos meus amigos Andréia, Michelle, Leandro, Adriana, Renata e Leonardo, pelo apoio. A Faculdade Novos Horizontes, especialmente à Diretoria, aos professores e aos funcionários. A CAPES e a FAPEMIG, pelos apoios concedidos. Aos meus amigos da FNH, pela ajuda, em especial, Rosiane, Christian, Natália, Roque e Anna Gabriela. As secretárias Wânia e Beatriz. Como agradecer por todo carinho, incentivo e ajuda? Ao secretário Flávio, pelo apoio, ajuda e palavras reconfortantes. A todos os amigos do mestrado. As mulheres entrevistadas, que contribuíram para a concretização deste sonho. A todos aqueles que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para a realização desta dissertação. Nós Somos quem podemos ser Sonhos que podemos ter. Humberto Gessinger RESUMO Esta pesquisa analisa as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma Instituição de Ensino Superior privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012). Caracteriza-se como qualitativa descritiva, nos moldes de um estudo de caso. Na coleta de dados, pesquisaram-se 20 egressas, sendo 10 formadas em Administração, 6 em Ciências Contábeis e 4 em Direito, aplicando-se a elas um roteiro de entrevista semiestruturado, sendo suas falas gravadas e transcritas na íntegra, a fim de permitir a análise de conteúdo. Constatou-se que a principal facilidade encontrada pelas mulheres para ingressarem no ensino superior foi o Prouni e que os principais dificultadores foram: a escassez de recursos financeiros para arcar com as despesas de um curso superior e o ensino médio público deficitário que cursaram. Verificou-se que, antes de se qualificarem, as mulheres pesquisadas ocupavam cargos mais baixos na hierarquia e de natureza mais operacional. Após se graduarem elas subiram alguns degraus na hierarquia organizacional. Identificou-se, ainda, que a graduação desencadeia o processo de empoderamento das mulheres pesquisadas, contribuindo para o empoderamento cognitivo analítico, econômico, social e cultural delas. Em relação aos fatores subjetivo e político, observou-se que as mudanças na vida das mulheres foram bastante restritas. Este estudo contribuiu, no âmbito acadêmico, para a ampliação dos estudos sobre empoderamento de mulheres na realidade brasileira, principalmente no âmbito da Administração. Como todo estudo, esta pesquisa possui limitações. Sugeriu-se a realização de mais pesquisas sobre o tema, a fim de aprofundar o empoderamento de mulheres formadas com bolsa do Prouni. Palavras-chave: Empoderamento. Mulher. Prouni. Educação. ABSTRACT The following research analyses the repercussions for the PROUNI funding for women who have graduated in Business Administration, Accounting, and Law during 2009 and 2013 in a private institution of higher education in Minas Gerais, according to the perception of the surveyed graduates considering the Melo (2002) model. In the case study, it is categorized as descriptive qualitative. The data collected from 20 egresses surveyed, 10 graduates in Business Administration, 6 graduates in Accounting, and 4 in Law, to each was applied a semi-structured interview guide, with their speech recorded and transcribed in order to allow for content analysis. It was discovered that PROUNI was the easiest way for these women to get a higher education and that the shortage of financial resources for the expenses of a higher education and the quality of public education were the hardest difficulty found from the surveyed women. It was established that before their qualification the surveyed women worked low-income or operational jobs. Soon after graduating, they found themselves in a higher level of hierarchy in their current work positions. It was also found that the graduation triggers the empowerment process in the women surveyed, contributing to the analytical cognitive empowerment, economic, social and a cultural one. With regards to subjective and political factors, it was observed that the changes in women's lives were quite restricted. This study contributes, in the academic realm, to the expansion of women's empowerment on studies in the Brazilian reality, particularly within Administration. As with any study, this research has its limitations. It is suggested that further research be made on this topic, in order to further the empowerment of women formed with PROUNI scholarship. Keywords: Empowerement. Woman. Prouni. Education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Síntese dos resultados da pesquisa, pautando-se no modelo de empoderamento de Melo (2012) .............................................................................125 Gráfico 1 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni no Brasil entre 2005 e 2013, por região ...................................................................................27 Gráfico 2 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni na região Sudeste entre 2005 e 2013, por estado ....................................................................28 Gráfico 3 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni em Belo Horizonte entre 2005 e 2013 .....................................................................................28 Quadro 1– Perfil das bolsistas do Prouni entrevistadas ............................................56 Quadro 2 – Categorias e subcategorias do conteúdo das entrevistas ......................57 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Dificuldades encontradas para ingressar no ensino superior ..................60 Tabela 2 – Facilidades encontradas para ingressar no ensino superior ...................61 Tabela 3 – Sentimento despertado nas entrevistadas ao graduarem-se ..................63 Tabela 4 – Educação continuada ..............................................................................65 Tabela 5 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida pessoal ............67 Tabela 6 – Desigualdades de gênero no ambiente de trabalho ................................69 Tabela 7 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida profissional......71 Tabela 8 – Significado da atividade profissional para as entrevistadas ...................74 Tabela 9 – Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de qualificação....76 Tabela 10 – Sentimento despertado nas entrevistadas por ter um curso superior....78 Tabela 11 – Planejamento profissional .....................................................................79 Tabela 12 – Reconhecimento dentro da empresa, na percepção das entrevistadas 82 Tabela 13 – Relações de poder no ambiente de trabalho.........................................86 Tabela 14 – Posição das entrevistadas nas relações de poder onde trabalham.......88 Tabela 15 – Preferência de gênero onde trabalha ....................................................91 Tabela 16 – Habilidades essenciais nas mulheres para ocupar cargos elevados.....93 Tabela 17– Acesso às informações importantes e estratégicas na organização ......94 Tabela 18 – Alianças e estratégias realizadas para desenvolver profissionalmente.96 Tabela 19 – Autonomia dentro da organização.........................................................97 Tabela 20 – Relações de gênero no ambiente de trabalho .......................................99 Tabela 21 – Incentivo que teve para buscar independência financeira ...................101 Tabela 22 – Contribuição da graduação para a independência financeira..............103 Tabela 23 – Facilidades desencadeadas pela graduação no mercado de trabalho 104 Tabela 24 – Razão pela qual trabalha.....................................................................105 Tabela 25 – Sentimento de realização econômica despertado nas entrevistadas ..106 Tabela 26 – Perspectivas e planos no campo profissional antes de graduar-se.....108 Tabela 27 – Principal figura de autoridade dentro da sua família............................110 Tabela 28 – Capacidade das entrevistadas de influenciar pessoas, ao graduarem-se ................................................................................................................................111 Tabela 29 – Reconhecimento social das entrevistadas ao graduarem-se ..............113 Tabela 30 – Oportunidades econômica, social e política na sociedade ..................114 Tabela 31 – Influência masculina nas escolhas ......................................................118 Tabela 32 – Influência feminina nas escolhas.........................................................118 Tabela 33 – Influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas ................................................................................................................................120 Tabela 34 – Influência da graduação na desigualdade de gêneros ........................122 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações FEM – Fórum Econômico Mundial FIES – Fundo de Financiamento Estudantil IES – Instituições de Ensino Superiores IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Prouni – Programa Universidade para Todos SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 14 1.1 Problema de pesquisa ......................................................................................16 1.2 Objetivos ............................................................................................................18 1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................18 1.2.2 Objetivos específicos.....................................................................................19 1.3 Justificativa........................................................................................................19 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E PROUNI............................................................................................ 21 2.1 Políticas públicas ..............................................................................................21 2.1.1 Programa Universidade para Todos .............................................................24 3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................ 30 3.1 Relações de gênero ..........................................................................................30 3.1.1 Relações de gênero e trabalho .....................................................................36 3.2 Empoderamento ................................................................................................42 3.2.1 Modelo de empoderamento feminino proposto por Melo (2012) ...............46 4 METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................... 50 4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem ...........................................................50 4.2 Tipo de pesquisa quanto aos fins....................................................................51 4.3 Tipo de pesquisa quanto aos meios................................................................51 4.4 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa.....................................................51 4.5 Técnica de coleta de dados..............................................................................52 4.6 Técnica de análise de dados ............................................................................53 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS....................... 55 5.1 Caracterização do perfil dos pesquisados......................................................55 5.2 Análise qualitativa: categorias e subcategorias.............................................57 5.2.1 Dificuldades e facilidades encontradas para ingressarem no ensino superior .........................................................................................................59 5.2.2 Cognitivo analítico .........................................................................................62 5.2.2.1 Valorização da capacitação ........................................................................63 5.2.2.2 Valorização do conhecimento ....................................................................66 5.2.2.3 Conhecimento versus oportunidade .........................................................68 5.2.3 Subjetivo .........................................................................................................73 5.2.3.1 Significado da atividade .............................................................................74 5.2.3.2 Competência reconhecida ..........................................................................75 5.2.3.3 Autodeterminação .......................................................................................79 5.2.3.4 Impacto percebido na organização............................................................82 5.2.4 Político ............................................................................................................85 5.2.4.1 Vivência das relações de poder no espaço organizacional ....................85 5.2.4.2 Percepção e consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e o acesso à informação ...........................90 5.2.4.3 Alianças e estratégias para a própria carreira ..........................................95 5.2.4.4 Autonomia....................................................................................................97 5.2.4.5 Legitimação organizacional .......................................................................98 5.2.5 Econômico ....................................................................................................100 5.2.5.1 Demandas e oportunidades .....................................................................100 5.2.5.2 Independência financeira .........................................................................104 5.2.5.3 Perspectiva de carreira .............................................................................107 5.2.6 Social.............................................................................................................110 5.2.6.1 Reconhecimento familiar..........................................................................110 5.2.6.2 Reconhecimento social ............................................................................112 5.2.6.3 Reconhecimento organizacional..............................................................116 5.2.7 Cultural..........................................................................................................117 5.2.7.1 Influências culturais..................................................................................117 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 124 REFERÊNCIAS.................................................................................. 131 APÊNDICE......................................................................................... 140 14 1 INTRODUÇÃO No Brasil, fazem-se pertinentes reflexões acerca da mulher com base em um olhar dirigido para além dos papéis tradicionais designados a elas, no decorrer dos anos, nos âmbitos social e familiar (MENEZES, 2013), tendo em vista que constituem o mais numeroso e vulnerável segmento social do País (LISBOA, 2008; PANDEY, 2013). A delimitação dos papéis do homem e da mulher na sociedade é considerada natural, como se fosse a “ordem natural das coisas”, sendo tais papéis introjetados nos corpos e na percepção dos sujeitos e manifestados por meio de pensamentos e ações capazes de reproduzirem-se (MELO, 2004; BOURDIEU, 2007). Segundo Bourdieu (2007), a dominação masculina vai sendo reproduzida na sociedade por meio de instituições do tipo escola, Igreja e Estado, de organizações diversas e, principalmente, da estrutura familiar. Tradicionalmente, a imposição de papéis ditos adequados especificamente a cada gênero reflete a estrutura da sociedade − no caso brasileiro, essencialmente patriarcal. Nos contextos social e familiar, ao homem é reservado o papel de provedor financeiro do lar e de dominador, exerce o poder econômico e o político, enquanto à mulher compete a responsabilidade de cuidar do lar e dos filhos, comportando-se de maneira pacata, frágil, instável, submissa e dominada (ROSA, 2003). Ela possui acesso restrito à saúde de qualidade, ao trabalho, à segurança e a uma vida digna (MENEZES, 2012). Esses papéis fazem-se presentes em todas as esferas da vida da mulher, principalmente, no mercado de trabalho. Ela enfrenta, devido a seu papel nas relações de gênero, inúmeras barreiras para ingressar no trabalho assalariado. Entende-se relações de gênero como relações sociais, por meio das quais homens e mulheres são constituídos como categorias sociais desiguais (ELSON, 1991). A ela são reservados predominantemente trabalhos ditos femininos, de baixa hierarquia organizacional. Enfrenta, também, a dificuldade de conciliar a dupla jornada de trabalho (assalariado e doméstico) e de progredir na carreira. Ainda, enfrenta a 15 necessidade de se qualificar constantemente se desejar galgar outros cargos na hierarquia das organizações (ROSA, 2003; SORJ, 2004; BRUSCHINI, 2007; CHIES, 2010; MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010; AMARAL, 2012). A partir condição de submissão e de desigualdade da mulher na sociedade, buscase a igualdade entre os gêneros, visando atribuir outros significados à estrutura social e alterar os papéis e a ordem das relações entre os gêneros na sociedade (LISBOA, 2008). Na perspectiva feminista, estudos apontam que uma das formas para alcançar a igualdade entre os gêneros decorre do empoderamento da mulher (LISBOA, 2008). “O movimento das mulheres tem situado o empoderamento no campo das relações de gênero e na luta contra a posição socialmente subordinada das mulheres em contextos específicos” (LISBOA, 2008, p. 2). Assim, em algumas circunstâncias, o poder é fonte de opressão e de dominação; em outras, pode ser fonte de emancipação, reconhecimento e valorização do sujeito. Neste último caso, o exercício do poder pelas mulheres retrata o empoderamento feminino, adotando o sentido de emancipação, democratização e decisão compartilhada (LISBOA, 2008). Implica a modificação das estruturas social, econômica e profissional que reproduzem a dominação masculina. O empoderamento constitui-se em um novo conceito de poder nas relações de gênero. A mulher é reconhecida e valorizada (LISBOA, 2008; MELO; LOPES, 2011), reconstruindo seu papel na sociedade. Para Melo (2012), o empoderamento da mulher é constituído por seis fatores, a saber: a) Cognitivo analítico − consiste no saber, no conhecer, no reconhecer e na conscientização da mulher no que se refere a sua qualificação; b) Subjetivo – relaciona-se a autoconfiança, autoestima, autodeterminação e crença na própria capacidade; c) Político – relaciona-se ao acesso da mulher a cargos de representação e direção, a relações de poder mais equilibradas, à consciência das diferenças entre 16 gêneros e à construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da carreira e a busca de autonomia profissional; d) Econômico − consiste na realização de atividades rentáveis que garantam independência financeira e autonomia financeira à mulher; e) Social – relaciona-se ao reconhecimento familiar, social e organizacional da mulher; f) Cultural − refere-se às mudanças nas relações patriarcais presentes na sociedade no que diz respeito a gênero, classe social, raça, cultura e história. Em outras palavras, consiste em promover mudanças profundas na mente dos sujeitos e nas estruturas que produzem, reproduzem e apoiam a posição de subordinação da mulher. Como reflexo das relações de gênero, significa as alterações, às vezes radicais, na estrutura da sociedade (COSTA, 2004). 1.1 Problema de pesquisa Na perspectiva de Santosh (2013), o acesso igualitário a todos os níveis de educação contribui para o processo de empoderamento da mulher. A educação pode melhorar o acesso da mulher a vários direitos, melhorar sua qualidade de vida e a mobilizar na defesa de outros direitos, possibilitando maior participação delas em processos de tomada de decisões individuais, sociais, culturais e econômicas. Ou seja, melhorando os níveis educacionais, possivelmente a mulher passará a ter uma atuação ativa em sua vida e na sociedade (SANTOSH, 2013). É por meio do avanço educacional, segundo o Fórum Econômico Mundial (FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL, 2005), que se alcança o empoderamento feminino em todas as esferas da sociedade. A partir da educação é que se forma uma mulher potencial para participar da vida econômica, social e política, além de proporcionar melhorias na saúde, na nutrição e no bem-estar, influenciando também seu ambiente familiar (SANTOSH, 2013). Rajankar (2013) argumenta que a educação contribui consideravelmente para reduzir as desigualdades presentes entre os gêneros na sociedade. Ressalta que por meio da educação as ideias produzidas, reproduzidas e incorporadas 17 socialmente sobre os sexos são desmontadas. Desencadeia alterações significativas na condição da mulher, a medida em que provoca alterações nas estruturas da sociedade, como escolas, família, igreja, organizações e outras (FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL, 2005; LOURO, 2011; RAJANKAR, 2013; SANTOSH, 2013). Segundo Bourdieu (2007), de todos os fatores de mudança da condição feminina na sociedade, os mais importantes estão relacionados à mudança do papel das instituições educativas, que contribui para reproduzir as desigualdades de gênero. Refere-se, também, ao aumento do acesso da mulher aos níveis educacionais, o qual possibilita sua independência financeira e mudanças nas estruturas patriarcais familiares, podendo desencadear e aumentar o número de divórcios, ou de não casamentos de mulher casadas. Bourdieu (2007) ressalta que, principalmente, o acesso da mulher aos ensinos secundário e superior transformará sua condição, modificando as estruturas produtivas e a divisão do trabalho. Ela começa a ter mais espaço nas profissões intelectuais, na administração e na venda de produtos simbólicos, além de maior participação nas profissões ditas femininas (ensino, assistência social). A demanda social por educação no Brasil, tendo em vista a necessidade de ampliar as oportunidades de acesso ao ensino superior de grupos marginalizados e de minorias (MORAIS, 2011; ANHAIA, 2012) nos últimos anos tem pressionado “o sistema educacional a equilibrar a relação entre oferta e demanda” (SARAIVA; NUNES, 2011, p. 941). Esse equilíbrio pode ser alcançado, embora não em sua totalidade, por meio da criação de programas socioeducacionais (ANHAIA, 2012). Em 2004, o governo brasileiro criou o Programa Universidade para Todos (Prouni) (BRASIL, 2005), o qual visa à inclusão social e educativa de grupos que vivem historicamente em condições de desigualdades (MORAIS, 2011; ANHAIA, 2012), como é o caso das mulheres. Por meio do Prouni, grupos em condições desiguais passaram a ter maior acesso ao ensino superior, graças à concessão de bolsas, parciais e integrais, em instituições privadas do País (BRASIL, 2005). 18 O Prouni tem por objetivo conceder bolsas de estudos integrais e parciais (50% ou 25%) em cursos de graduação e sequenciais de formação específica para estudantes de baixa renda não portadores de diploma de curso superior em IES brasileiras (BRASIL, 2005). Essas bolsas destinam-se aos estudantes que cursaram o ensino médio completo em escolas públicas, ou que receberam bolsa integral em instituições particulares, ou que sejam afrodescendentes, indígenas ou portadores de deficiência física. Podem-se candidatar também professores do ensino público no efetivo exercício do magistério da educação básica para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, independente de sua renda (BRASIL, 2005). Segundo Gomes et al. (2012), por configurar-se como uma política que possibilita grupos brasileiros que vivem em condições de desigualdades terem acesso ao ensino superior, garantindo-lhes maiores e melhores níveis educacionais, o Prouni acaba por contribuir para a conquista de vários direitos, por exemplo: melhorias na segurança e saúde, independência financeira, autonomia e qualidade de vida de seus beneficiados, redução das desigualdades entre gêneros e empoderamento das mulheres. Diante deste contexto, a pergunta central desta pesquisa foi: Quais são as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres beneficiárias deste programa? 1.2 Objetivos Diante da pergunta central desta pesquisa, os seguintes objetivos foram traçados. 1.2.1 Objetivo geral Analisar as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma IES privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012). 19 1.2.2 Objetivos específicos a) Descrever as facilidades e as dificuldades encontradas pelas entrevistadas para ingressar no ensino superior; b) Identificar e analisar as atribuições e funções que as entrevistadas ocupavam antes de se formarem no ensino superior e as expectativas em relação a sua atuação após a graduação; c) Identificar e analisar os fatores de empoderamento da mulher, conforme proposto por Melo (2012), a saber, cognitivo analítico, subjetivo, político, econômico, social e cultural, na percepção das entrevistadas na sua trajetória socioprofissional. 1.3 Justificativa No âmbito acadêmico, esta pesquisa justifica-se por ampliar os estudos acerca do Prouni e de empoderamento realizados no Brasil (FARIAS, 2010; LIRA, 2010; SANTOS, 2011; NONATO, 2012; ANHAIA, 2013; MANTOVANI, 2013; RIBEIRO, 2013; PEREIRA, 2014). Essas dissertações foram encontradas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações defendidas entre 2010 até meados de 2014. Cabe ressaltar que nenhum desses estudos mencionados é da área da Administração. Portanto, este estudo justifica-se principalmente por abordar uma política educacional, tema relativamente novo e pouco estudado nesta área, lacuna apontada por Saraiva e Nunes (2011) e Anhaia (2013). Poderá trazer contribuições para esclarecer as possíveis repercussões de uma política pública educacional na sociedade e, principalmente, suas possíveis influências na vida das pessoas, especialmente das mulheres, na ótica dos próprios sujeitos. Academicamente, este estudo poderá contribuir para a ampliação dos estudos sobre o empoderamento da mulher, principalmente no âmbito da Administração, no Brasil. No âmbito organizacional, faz-se necessário analisar o desempenho dos programas educacionais, tendo em vista os recursos aplicados e a possibilidade de melhorar seus resultados (SARAIVA; NUNES, 2011) e a possibilidade de o programa modificar a realidade social de pessoas que vivem em condições desiguais. A 20 possível inexistência de repercussões da educação no empoderamento das egressas poderá contribuir para que haja mudanças, adequação de políticas públicas educacionais e do ensino-aprendizagem no atual ensino superior brasileiro (FERNANDES, 2013). No âmbito social, esta pesquisa poderá despertar a consciência das pessoas quanto às desigualdades presentes na sociedade, especialmente aquelas oriundas das relações de gênero, e desencadear transformações na mente delas, além de mobilizá-las em busca de mudanças nas relações patriarcais e redução das desigualdades de gênero, raça, cor e etnia (PANDEY, 2013; BARRETO; PAULA, 2014). Por último, este estudo justifica-se tendo em vista a necessidade de identificar as possíveis repercussões deste programa social “enquanto política de inclusão social sob múltiplas óticas”, tendo em vista o número expressivo de brasileiros que usufruem dele (SARAIVA; NUNES, 2011, p. 944). Esta dissertação está estruturada em seis capítulos, incluindo esta Introdução, em que se apresentam a contextualização do tema, o problema de pesquisa, os objetivos e a justificativa. No segundo capítulo, realiza-se a contextualização deste estudo. No terceiro capítulo, desenvolve-se o referencial teórico, que foi dividido em três partes: primeira, em que se discutem as relações de gênero; segunda, em que são feitas abordagens sobre relações de gênero e trabalho; e, terceira, em que se apresentam as considerações sobre empoderamento. No quarto capítulo, especificase o caminho metodológico usado nesta dissertação. No quinto capítulo, procede-se à análise e discussão dos resultados obtidos na pesquisa. No sexto capítulo, são feitas a conclusão e as considerações finais. Seguem-se as referências usadas e o roteiro aplicado na coleta dos dados. 21 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E PROUNI Neste capítulo, realiza-se a contextualização desta pesquisa, discorrendo sobre as políticas públicas, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e a IES privada pesquisada. 2.1 Políticas públicas “A expressão ‘políticas públicas’ tornou-se domínio comum nos últimos anos e frequente nos discursos eleitorais e governamentais, no debate público, na academia e nas organizações politicamente organizadas da sociedade” (FONSECA, 2013, p. 403). Este termo pode ser interpretado de variadas formas, as quais podem ser contrastantes. Por exemplo, nos âmbitos social e político, ganha sentidos e expectativas distintos (FONSECA, 2013). Em algumas circunstâncias, é utilizado para retratar algo voltado ao “bem público” e ao “bem-estar social”; em outras, a busca pela estabilidade política (GONÇALVES, 2012). Voltadas para o “bem público”, as políticas públicas têm por objetivo reduzir os problemas que afetam inúmeras pessoas no país (FONSECA, 2013). Passaram a ser utilizadas pelo Estado visando desenvolver ações e atuar em variadas áreas, como saúde, educação, meio ambiente, pobreza e desigualdades, todas presentes na sociedade, promovendo o bem-estar social (GONÇALVES, 2012). Ainda focadas no “bem público”, segundo Brenner, Amaral e Caldas (2007), as políticas públicas compreendem as ações e decisões governamentais em prol da solução de problemas presentes na sociedade. Em outras palavras, são as ações, metas e planos delineados por todas as esferas públicas, sejam elas estaduais, municipais ou federal, as quais são definidas visando alcançar o bem-estar social e o interesse público. 22 Em outras circunstâncias, é importante destacar que as políticas públicas não são tão generosas como, muitas vezes, são apresentadas, pois estão recheadas de disputas de poder (FONSECA, 2013). Ressalta-se que, em alguns casos, constituem estratégias desenvolvidas pelos governos em busca de diminuir o impacto de crises do capitalismo (BOSCHETTI, 2012), por exemplo, buscam impulsionar o desenvolvimento econômico por meio do aumento do consumo das famílias beneficiadas pelas políticas públicas que focalizam a pobreza (BOSCHETTI, 2012; SILVA, 2012). Boschetti ressalta: O investimento em programas assistenciais pífios, focalizados e recheados de condicionalidades, aliado a manutenção do desemprego estrutural e não investimento em políticas universais, longe de indicar um novo modelo de desenvolvimento social, é uma estratégia útil do capitalismo para regular o mercado a baixo custo. (BOSCHETTI, 2012, p. 47). Nesse sentido, “permanecem fortes desigualdades estruturais no acesso à propriedade, na qualidade do trabalho e emprego, no tipo e valor dos rendimentos e no acesso aos direitos e políticas sociais”. (BOSCHETTI, 2012, p. 47). A classe trabalhadora não tem acesso a bens, serviços sociais e direitos fundamentais, como, saúde, moradia, habitação, educação e trabalho, produzidos socialmente. Ou seja, não tem acesso à riqueza. Seguindo a mesma linha de pensamento de Boschetti (2012) sobre os benefícios proporcionados pelas políticas públicas ao capitalismo, Silva (2012) ressalta outro ponto importante: os prestadores de serviços e as instituições bancário-financeiras, que repassam os benefícios financeiros às pessoas beneficiadas, recebem um valor extraído do valor total dos recursos financeiros repassados. Assim, o repasse de dinheiro às instituições bancário-financeiras alimenta diretamente essa forma de capital, pois estas operam com capital bancário e com a especulação, sustentando a elite rentista. Salienta-se, também, que os repasses financeiros às políticas públicas podem sofrer grandes reduções em função do pagamento da dívida pública brasileira, a qual é suportada com esses cortes/reduções (SILVA, 2012). 23 Sobre as políticas públicas adotadas em muitos países, existem outros questionamentos. Um deles está centrado na perspectiva dos direitos quanto às exigências de condicionalidades para se ter acesso aos benefícios sociais. A garantia de direitos deveria estar intrinsecamente relacionada ao acesso fácil a essas políticas públicas, assim como à garantia de um nível de vida adequado por meio desses programas. Ressalta-se, também, que deveriam existir mecanismos capazes de garantir que qualquer pessoa possa exigir seus direitos (ZIMMERMANN, 2010). Entretanto, Silva (2012) salienta que as políticas públicas estão longe de atingir a totalidade da população-alvo. Outro ponto salientado por Lisboa (2007) foi que as políticas públicas e os programas voltados para as mulheres são impostos de cima para baixo. Não há a participação das pessoas que serão por eles beneficiados na elaboração dos programas. Tais programas não consultam e não se aproximam dos valores e da cultura dos grupos assistidos, mas, espelham experiências de outros países que, nem sempre, se assentam culturalmente ao Brasil. As políticas públicas são desenvolvidas em condições precárias, com programas restritivos e com valores irrisórios (SILVA, 2012). Os governos investem em políticas sociais restritas, ao invés de investir em políticas sociais universais (BOSCHETTI, 2012). Barreto e Paula (2014) ressaltam que as ações governamentais não se podem limitar à atuação de alguns programas públicos, pois muitos dos problemas sociais estão constantemente sendo modificados, configurando, portanto, uma dinâmica inacabada. As políticas públicas devem buscar combater a discriminação racial e de gênero e, ainda, reduzir as iniquidades sociais. Neste contexto, o Estado deve aplicar o princípio da equidade, o qual garante que pessoas em situações iguais devem ser tratadas igualmente, enquanto pessoas que fazem parte de grupos historicamente excluídos devem ser especialmente tratadas. É importante ressaltar que, além do papel do Estado, o povo também tem que atuar, reivindicando seus direitos, por meio da organização política, e exigindo o cumprimento de políticas públicas já aprovadas (GOMES et al., 2012). 24 Atualmente, são vários os planos e programas brasileiros voltados para diferentes segmentos da sociedade: Mais Médicos, Brasil sem Miséria, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Programa de Aceleração do Crescimento 2, Ciência sem Fronteiras, Saúde não tem preço, Crack, é Possível Vencer, Viver Sem Limite, Luz Para Todos, Bolsa Atleta, Rede Cegonha, Mais Cultura nas Escolas, Seca, Chuva, Observatório do Crack, Prouni (BRASIL, 2014). Dentre estes programas, destaca-se o Prouni, o qual se destina aos estudantes brasileiros e contextualiza o grupo pesquisado. 2.1.1 Programa Universidade para Todos Pereira (2013) considera a importância de políticas públicas em benefício da educação dos jovens brasileiros inquestionável. Ressalta que essas políticas devem ser capazes de criar oportunidades igualitárias, independentemente de condições sociais, regionais, étnicas ou culturais. O Programa Universidade para Todos (PROUNI) foi criado em 10 de setembro de 2004, pelo governo brasileiro, por meio da Medida Provisória 213, convertida na Lei 11 096, de 13 de janeiro de 2005, a qual também regulamentou a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior (BRASIL, 2005). Segundo Anhaia (2012), o objetivo do Prouni é oferecer bolsas de estudos parciais e integrais no setor educacional privado, que possui inúmeras vagas a serem ocupadas, e, ainda, atender a população de baixa renda. A criação do Prouni teve em vista solucionar três problemas: pouco aproveitamento das vagas oferecidas pelo setor privado; melhorar o percentual de alunos no ensino superior; e possibilitar o acesso de grupos que vivem em situações desiguais a este nível de ensino (ANHAIA, 2012). As bolsas de estudo parciais e integrais oferecidas por meio do Prouni são destinadas a brasileiros que ainda não têm diploma de curso superior e auferem renda familiar dentro do estipulado pelo programa. As bolsas de estudo parciais, de 50% ou de 25%, são destinadas às pessoas com rendimento mensal familiar inferior ou igual a três salários-mínimos. As bolsas de estudo integrais são destinadas às 25 pessoas com renda familiar mensal igual ou inferior a um salário mínimo e meio (BRASIL, 2005). A pré-seleção dos estudantes ocorre por meio da nota alcançada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (BRASIL, 2005) e a candidatura acontece pela internet. Atualmente, o ENEM é constituído por quatro provas objetivas e uma redação (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2013). Cada prova objetiva possui 45 questões e aborda os seguintes conteúdos: Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2013). O candidato via Internet, pode escolher até três cursos, de acordo com sua preferência, tanto em uma instituição como em diferentes instituições credenciadas (BRASIL, 2005). Primeiramente, a seleção dos candidatos é feita com base nos resultados e no perfil socioeconômico declarado no momento da inscrição no ENEM. Em um segundo momento, os alunos são selecionados pela IES em que se candidataram, tendo por base suas notas de desempenho no ENEM (BRASIL, 2005). Os candidatos podem acompanhar as chances de ingressar na IES escolhida diariamente, podendo, se for de seu interesse, escolher outros cursos e outras IES e se candidatarem, dentro das datas estipuladas pelo Ministério da Educação (MEC) (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2013). As IES que aderem a essa política de acesso ao ensino superior criada pelo governo recebem em contrapartida à concessão de bolsas de estudos isenções fiscais no período de vigência do termo de adesão, tais como: Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social e Contribuição para o Programa de Integração Social (BRASIL, 2005). Em outras palavras, as instituições que ofertam bolsas de estudo por meio do Prouni recebem mais isenções fiscais (CISLAGHI, 2012). 26 As IES privadas, com ou sem fins lucrativos, não beneficentes que aderem ao Prouni devem oferecer, no mínimo, uma (1) bolsa integral para o equivalente a 10,7 estudantes que sejam pagantes regulares e que estejam matriculados devidamente ao final do correspondente período letivo anterior; ou oferecer uma (1) bolsa integral para cada 22 dois estudantes matriculados em seus cursos regularmente pagantes, desde que ofereça adicionalmente, na proporção necessária, bolsas parciais (50% ou 25%), para que a soma dos benefícios concedidos seja equivalente a 8,5% da receita anual dos períodos letivos que já têm bolsistas do Prouni (BRASIL, 2005). Para Morais (2011), o Prouni consiste em uma política de inclusão social e educativa que contempla grupos marginalizados, por meio do acesso ao ensino superior. Anhaia (2012) ressalta que os pré-requisitos exigidos dos alunos para se candidatarem às vagas oferecidas pelo Prouni refletem o caráter equitativo do programa, tendo em vista que buscam garantir às minorias a possibilidade de acesso à educação superior. A partir do acesso ao curso superior, tem-se a possibilidade de os estudantes ingressarem no mercado de trabalho. Muitos estudantes se inserem no mercado de trabalho, tanto dentro da própria IES como fora delas. Dentro da instituição, muitos realizam monitorias acadêmicas e pesquisas acadêmicas e participam de eventos de sua área de atuação. Fora delas, realizam estágios (ANHAIA, 2012). Níveis educacionais mais elevados contribuem para a conquista de direitos, como os salientados na Declaração Universal de Direitos Humanos, e, principalmente, para o alcance do empoderamento pelas mulheres, a partir da redução das desigualdades entre os gêneros (GOMES et al., 2012). O acesso das mulheres ao ensino superior, traduzido em altos níveis educacionais, desencadeia inúmeras mudanças em sua vida: melhora sua qualidade de vida e a de suas famílias e proporciona maior segurança, emprego, independência financeira, aumento da renda, maior autonomia nas decisões pessoais, controle de sua fecundidade e maior participação pública (BORGES, 2008; GOMES et al., 2012). No caso desta pesquisa, as egressas estudaram em uma IES credenciada no Prouni que está no mercado há quinze anos, oferecendo vários cursos de graduação e de 27 pós-graduação. Possui três campi, localizados na região metropolitana de Belo Horizonte, disponibilizando graduação e bacharelado em Administração, Ciências Contábeis, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Produção e Serviço Social. Na graduação tecnológica, oferece os cursos de Gestão Comercial, Gestão da Qualidade, Gestão da Segurança Privada, Gestão de Cooperativas e Logística. Apresenta, ainda, MBA em Contabilidade Tributária com ênfase em Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) e mestrado em Administração. Todos os cursos oferecidos são reconhecidos pelo MEC. A IES incentiva o ingresso das pessoas de baixa renda no ensino superior por meio da oferta de bolsas parciais e integrais do Prouni, concedendo vagas para todos os cursos de graduação, bacharelado e tecnólogo. No Brasil, 1.273.665 bolsas, entre parciais e integrais, do Prouni foram ofertadas de 2005 a 2013, conforme apresentado detalhadamente no GRAF. 1. Destas, 609.804 foram ocupadas por pessoas do sexo masculino e 663.861 do sexo feminino. Gráfico 1 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni no Brasil entre 2005 e 2013, por região 649.286 239.639 191.899 122.507 70.334 Sudeste Sul Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013 Nordeste Centro-Oeste Norte 28 O número de bolsistas do Prouni do sexo feminino supera o de bolsistas do sexo masculino. No Brasil, outras estatísticas apontam que nos últimos anos a participação feminina no total de matrículas, de ingressos e de concluintes dos cursos de graduação ultrapassa a participação masculina (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2011). Em 2011, nos cursos de graduação o percentual de matrículas realizadas pelo sexo feminino foi de 56,9%, o percentual de ingressos foi de 55,8% (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2011). Na região Sudeste, foram ofertadas 649.286 bolsas parciais e integrais pelo Prouni entre 2005 e 2013 (GRAF. 2). Gráfico 2 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni na região Sudeste entre 2005 e 2013, por estado 391.098 155.558 81.923 20.707 São Paulo Minas Gerais Rio de Janeiro Espírito Santo Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013 Em Belo Horizonte, foram ofertadas 80.387 bolsas parciais e integrais do Prouni entre 2005 e 2013 (GRAF. 3). Gráfico 3 – Número de bolsas parciais e integrais ofertadas pelo Prouni em Belo Horizonte entre 2005 e 2013 29 Fonte: SisProuni de 06 nov. 2013 Verifica-se a partir do GRAF. 1 que a região com maior quantidade de bolsas ofertadas pelo Prouni foi a Sudeste. Na região Sudeste (GRAF. 2), o estado que concentrou o maior número de bolsas do Prouni entre 2005 e 2013 foi São Paulo. No caso desta pesquisa, na IES em que as egressas estudaram, o número aproximado de mulheres bolsistas parciais e integrais do Prouni nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 e 2013 foi de 200 bolsistas. No próximo capítulo, desenvolve-se o referencial teórico desta pesquisa. 30 3 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo, desenvolve-se a fundamentação teórica e os conceitos que darão sustentação a esta pesquisa. Inicialmente, são abordadas as relações de gênero (de modo geral e relações de gênero e trabalho). Em seguida, formulam-se as considerações sobre empoderamento (de modo geral e modelo de empoderamento proposto por Melo (2012), especificamente). 3.1 Relações de gênero O conceito de gênero está relacionado diretamente à história do movimento feminista contemporâneo. Foi a partir das contestações e das transformações da ordem social e política, século XIX, que surgiram os estudos sobre a mulher (LOURO, 2011; SOIHET, 2012). O principal objetivo desses estudos era dar visibilidade às mulheres, historicamente ocultadas na sociedade (LOURO, 2011). Nos anos de 1970, as mulheres entraram nos círculos universitários e passaram a reivindicar seu lugar na história, tendo ocorrido certa feminização das universidades e da produção dos saberes (RAGO, 1998). Juntamente, “emergiram seus temas e problematizações, seu universo, suas inquietações, suas lógicas diferenciadas, seus olhares desconhecidos” (RAGO, 1998, p. 90). Várias de suas histórias passaram a ser o campo de observação intelectual, como as “histórias da vida privada, da maternidade, do aborto, do amor, da prostituição, da infância e da família, das bruxas e loucas, das fazendeiras, empresárias, enfermeiras ou empregadas domésticas, fogões e panelas” (RAGO, 1998, p. 90). Aos poucos, a cultura feminina foi ganhando visibilidade, tanto pela presença de mulheres na academia quanto pela produção acadêmica. Entre as décadas de 1980 e 1990, desenvolveu-se na história das mulheres a categoria gênero como variável de estudo, emergindo uma literatura mais significativa. Posteriormente, passou-se a considerar o aspecto relacional nessa categoria (RAGO, 1998). 31 No século XIX, “na gramática, gênero é compreendido como um meio de classificar fenômenos, um sistema de distinções socialmente acordado mais do que uma descrição objetiva de traços inerentes” (RAGO, 1995, p. 3). Para feministas americanas, o termo gênero considerava as facetas sociais das distinções relacionadas ao sexo, enfatizando a noção relacional presente no termo e desconsiderando o determinismo biológico presente nele. Nos últimos anos, este termo passou a ser discutido como uma categoria analítica, sugerindo que as informações referentes às mulheres são também referentes aos homens e que ambos estão relacionados (SCOTT, 1995; LOURO, 2011). Trata-se das relações sociais construídas entre os sexos, não se atendo apenas aos aspectos biológicos (SCOTT, 1995) e tampouco às mulheres. A categoria gênero evidencia que o universo feminino difere do masculino não apenas pelas determinações anatômicas dos corpos, mas principalmente pelas experiências históricas, valores, pensamentos, crenças e símbolos (RAGO, 1998). Em outras palavras, o gênero retrata a relação entre homens e mulheres; ou seja, envolve a relação do indivíduo com outros indivíduos e com a cultura da qual fazem parte (CYRINO, 2009). Na perspectiva feminista, o gênero retrata a construção, reprodução e interiorização dos papéis designados aos homens e às mulheres pela sociedade (BOURDIEU, 2007; FLORES-PEREIRA, 2012), ao passo que sexo retrata as distinções entre homens e mulheres, basicamente, a partir de suas diferenças biológicas. Este conceito é construído somente a partir de uma perspectiva anatômica do corpo (FLORES-PEREIRA, 2012). Butler (2010) ressalta que a distinção entre sexo e gênero foi inicialmente utilizada para questionar a ideia de que a biologia é o destino, apontando o gênero como uma construção cultural. Neste contexto, a autora pondera: se o gênero não é resultado causal do sexo, não deveria ser aparentemente fixo quanto o sexo nem deveria permanecer em número de dois. Considerando que o gênero decorre dos significados culturais introjetados pelos corpos sexuados, não se pode dizer que ele decorra de um sexo desta ou daquela maneira (BUTLER, 2010, p. 25). 32 Para a autora, [...] se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio sexo seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma (BUTLER, 2010, p. 25). Em outras palavras, colocar em número de dois o sexo num domínio pré-discursivo é um meio utilizado para garantir que a estabilidade interna e a dualidade do sexo sejam eficazmente asseguradas na sociedade (BUTLER, 2010). Para Bourdieu (2007), as diferenças biológicas entre homens e mulheres, especialmente a anatômica de seus corpos, são utilizadas para caracterizar como natural a diferença de papéis socialmente construídos entre os gêneros. Nesse sentido, as diferenças biológicas são construídas e reproduzidas socialmente e legitimam as diferenças entre os gêneros (BOURDIEU, 2007). Assim, as representações dos corpos desencadeiam mudanças profundas e contínuas nos corpos e na mente dos sujeitos. Incutem-se na mente dos sujeitos formas diferenciadas de uso dos corpos, especialmente dos sexuais, e elimina-se tudo que pertence ao outro gênero (BOURDIEU, 2007). Louro (2011) salienta que as desigualdades sociais entre gêneros, muitas vezes, são justificadas pelas características biológicas dos sexos. Neste contexto, homens e mulheres são diferenciados pela anatomia dos órgãos sexuais e a relação entre eles também decorre desta distinção. O movimento e os estudos feministas, todavia, “deslocaram-se as explicações das diferenças que marcam a condição de mulheres e homens na sociedade do reino da natureza para o da cultura”. Dessa forma, pode-se dizer que a desigualdade entre gêneros não está “pré-determinada, enraizada na constituição do corpo humano, mas é socialmente construída” (SORJ, 1992, p. 144). Salienta-se que as diferenças sociais entre gêneros, ditas tão naturais quanto às diferenças anatômicas entre os órgãos sexuais masculinos e femininos, têm a possibilidade de mudar, e mudam (SORJ, 1992). 33 O feminismo pode ser considerado um movimento político e ético, devido a seu caráter de emancipação, por questionar os valores, as crenças e a estrutura de uma sociedade, buscando transformá-los. Nesse sentido, pode-se dizer que o feminismo busca a igualdade, a equidade, a emancipação, a liberdade e a autonomia das mulheres. Esse movimento apresenta os aspectos político e ético. Por denunciar a dominação masculina e a subjugação das mulheres, desafia os “valores, preconceitos e tradições que justificam e legitimam essa situação de opressão” presente na sociedade (SOIHET, 2012, p. 30). Ressalta-se que não são as características sexuais que retratam o que é feminino e o que é masculino, e sim a forma como essas características são representadas ou valorizadas em uma sociedade e em um contexto histórico (LOURO, 2011). Então, para compreender as relações de gênero na sociedade, faz-se necessário compreender o que se constrói acerca dos sexos (LOURO, 2011). Historicamente, construíram-se papéis específicos ditos “adequados” ao homem e papéis específicos ditos “adequados” à mulher. Nesse sentido, aos homens, tradicionalmente, é reservado o espaço público, cabendo-lhes prover materialmente a família, ter comportamento viril e racional, ser dominante e ter representação na sociedade (ROSA, 2003; BOURDIEU, 2007; GOMES et al., 2012). O papel tradicionalmente imposto às mulheres aos longos dos anos, tanto no contexto social quanto no familiar, associa-a ao de mãe, de dona de casa, trabalhadora e dinâmica, pouco visível na sociedade e, ainda, excluída da mobilização para mudar o mundo (MENEZES, 2013). À mulher é reservado o espaço privado, competindo-lhe as tarefas do lar, o cuidado dos filhos, a realização de trabalhos domésticos e a postura de esposa submissa ao marido (BOURDIEU, 2007; GOMES et al., 2012). Esses papéis distintos atribuídos aos gêneros são aprendidos e interiorizados desde o início da socialização dos sujeitos. Nesse sentido, pode-se dizer que, ainda quando criança aprende-se a relacionar objetivos e comportamentos ao gênero. Por exemplo, atribui-se apenas aos meninos jogar bola, enquanto cabe as meninas usar saia e brincar de boneca. Assim, a partir da socialização dos sujeitos as construções 34 sociais sobre os sexos passam a fazer parte do subconsciente coletivo (ROSA, 2003) e são reproduzidas continuamente como se fossem uma coisa natural e determinada de cada gênero. Os papéis atribuídos ao homem no decorrer de sua socialização retratam a virilidade aprendida, mais comumente denominada “dominação masculina” (MENEGHEL et al., 2012), ao passo que os papéis atribuídos às mulheres retratam a feminilidade aprendida (comportamentos e práticas que não denotem virilidade), afirmando sutilmente que não possuem qualquer direito a este atributo masculino que é o poder (BOURDIEU, 2007). Pode-se dizer, então, que a dominação masculina e a subalternidade das mulheres na sociedade são frutos dos papéis de gênero (COSTA, 2004). Esses papéis são difundidos, involuntariamente, tanto pelos próprios sujeitos quanto por propagandas, imagens, brincadeiras, crenças, cultura, tradições, sistema educacional, leis, violência contra a mulher, divisão sexual e social do trabalho e instituições presentes na sociedade (ROSA, 2003; COSTA, 2004; BOURDIEU, 2007). A dominação masculina é reforçada pela objetividade das estruturas sociais e pelas atividades produtivas e reprodutivas, de tal maneira que há uma estrutura completa que garanta a perpetuação e o exercício do poder pelo homem (BOURDIEU, 2007). As mulheres são excluídas e praticamente se tornam invisíveis nos âmbitos político, social, familiar, cultural e profissional (COSTA, 2004; MENEZES, 2012). A dominação masculina é reafirmada por forças simbólicas (violência simbólica), tipo de poder exercido sobre os corpos sem coação física. É exercido como que por magia, atuando no âmbito mais profundo dos corpos, com a ajuda de estruturas de dominação (BOURDIEU, 2007). Assim, a dominação masculina por meio da violência simbólica “encontra reunida todas as condições de seu pleno exercício”, é “reafirmada pelas estruturas sociais, pelas atividades produtivas e reprodutivas, baseadas na divisão sexual do trabalho e de reprodução biológica e social” (BOURDIEU, 2007, p. 35). 35 Além da violência simbólica, o exercício do poder pelo homem na sociedade, denominada “dominação masculina”, manifesta-se de outras formas. Muitos homens utilizam-se da força física para exercer seu poder sobre as mulheres (BOURDIEU, 2007). Na maioria das vezes, as mulheres são espancadas, violentadas e exploradas, principalmente dentro do seio familiar (SAFFIOTI, 2008). A violência contra as mulheres por parte dos homens, comumente maridos, esposos e amantes, também está centrada nas relações de gênero, pois o homem torna-se violento a partir do incentivo que recebe diariamente para ser valente, macho, masculino (SAFFIOTI, 2008) e, ainda, por exercer o poder nessas relações. Já a mulher é incentivada a permanecer calada, e geralmente permanece, ao receber maus-tratos de seus companheiros. Essa situação se agrava quando somente o homem possui poder econômico e provém materialmente a família (SAFFIOTI, 2008). Dessa forma, a violência contra a mulher é também meio de reproduzir e reafirmar as ideias estereotipadas sobre os gêneros socialmente, ou seja, as desigualdades de gênero (SAFFIOTI, 2008). Falar sobre as relações de gênero é falar sobre oportunidades desigualdades de exercer o poder. No entanto, o poder precisa assumir uma nova concepção no âmbito das relações de gênero, possibilitando alcançar a igualdade e o empoderamento feminino (COSTA, 2004; LISBOA, 2008). Neste contexto, refletiria maior acesso da mulher aos espaços públicos da sociedade, antes ocupados apenas pelos homens, assim como maior acesso a saúde de qualidade, educação, trabalho, segurança e vida digna (CAVAZOTTE; OLIVEIRA; MIRANDA, 2010; MENEZES, 2012). Exercer o poder e promover mudanças nos padrões arraigados na sociedade requerem maior escolarização da mulher, pois contribuem para promover transformações consistentes na sociedade (MENEZES, 2012), assim como nas relações de gênero. Possibilitam, também, romper com uma posição social de subordinação, minimizar as desigualdades e aumentar as possibilidades de se alcançar o empoderamento das mulheres. 36 Salienta-se que, mesmo com o aumento da escolaridade, da presença no mercado de trabalho e da participação social das mulheres, as estruturas patriarcais ainda não foram rompidas. A sociedade ainda é caracterizada pela discriminação e pela exclusão econômica e simbólica das mulheres (MENEZES, 2012), pois seu desenvolvimento social, muitas vezes, é obstruído pelas estruturas sociais patriarcais ainda presentes na sociedade (SIDRAMAPPA; ASTIGE, 2013). A estrutura patriarcal refere-se aos atributos específicos designados aos gêneros, os quais se refletem no contexto familiar, econômico, social e no trabalho. É a partir do ambiente familiar que o papel da mulher, de submissão e exploração, é reafirmado e reproduzido em outros ambientes, ou seja, no seio familiar acontecem as relações de gênero em função das demandas morais, religiosas, culturais e sociais as quais são reproduzidas em outros contextos (SILVA, 2013). 3.1.1 Relações de gênero e trabalho A forma dicotômica como as tarefas, os ofícios e as profissões foram definidas e divididas demonstra a estrutura patriarcal presente em muitas sociedades, pois reflete uma posição binária. Existem tarefas e atitudes que são de domínio do homem e tarefas e atitudes que são de domínio da mulher. Ou seja, são especificidades atribuídas a cada gênero e que estão arraigados na sociedade. Somente nos últimos anos essa posição passou a ser questionada (CACOUAULT, 2003). Até bem pouco tempo homens e mulheres estavam diferentemente disponíveis para as atividades de trabalho, uma vez que os papéis de gênero atribuíam aos homens o lugar de provedor de renda (espaço público) enquanto que às mulheres caberia as responsabilidades domiciliares (espaço privado) (ROSA, 2003, p. 2). As divisões de trabalho no âmbito familiar denotam e corroboram a manutenção da subordinação de gênero em vários âmbitos da sociedade (SORJ, 2004). A autora salienta que a partir da posição diferenciada no âmbito doméstico e familiar é que são determinadas as chances de cada um no mercado de trabalho, nas carreiras e nos salários. 37 A subalternidade da mulher e a dominação masculina são papéis disseminados na sociedade. Dessa forma, independem da profissão que ela venha a desempenhar, a mulher sempre será menos valorizada que os homens, devido às questões de gênero (CHIES, 2010). Os papéis sociais, determinados e universais, podem ser referência das relações de poder em vários âmbitos da vida da mulher. Eles refletem as relações nos âmbitos doméstico e público que acontecem no mercado de trabalho (CHIES, 2010). Assim, em outros termos, as desigualdades nas relações de poder no contexto das relações de gênero fazem-se presentes no cotidiano de trabalho (COSTA, 2004). Segundo Bourdieu (2007, p. 130), as mulheres possuem experiências específicas, que as aproximam: “estão separadas dos homens por um coeficiente simbólico negativo” e pela dominação masculina. No entanto, encontram-se separadas umas das outras por algumas diferenças econômicas e culturais. Esses contextos diferentes em que estão inseridas influenciam sua forma subjetiva e objetiva de perceber e vivenciar a dominação masculina. A entrada da mulher no mercado de trabalho aconteceu somente após séculos de lutas e transformações na sociedade (ROSA, 2003), pois eram necessárias transformações da ordem social para que elas pudessem desenvolver suas potencialidades e se desenvolverem profissionalmente. Além de ter provocado mudanças na divisão sexual do trabalho, o aumento delas no mercado foi acompanhado pela busca por igualdade de direitos e de oportunidades no mundo profissional e por responsabilidades (ROSA, 2003). As mudanças ocorridas na sociedade que contribuíram para a inserção da mulher no mercado de trabalho, segundo Melo (2004), podem ser justificadas por três questões principais e interligadas, a saber: tecnológicas, econômicas e culturais. As questões tecnológicas envolvem os motivos pelos quais as mulheres se inseriram no mercado de trabalho. A partir da Revolução Industrial, houve a substituição da mão de obra pelas máquinas em inúmeros setores da economia, o que provocou aumento do desemprego e desvalorização do trabalho. A crescente utilização de 38 máquinas nas organizações empobreceu as tarefas, de forma que os operários começaram a procurar trabalhos mais valorizados, sendo substituídos pelas mulheres com salários muito mais baixos. Salienta-se, ainda, que as evoluções tecnológicas permitiram que as mulheres, com o seu trabalho mais delicado e minucioso e com maiores habilidades manuais, substituíssem os homens quando o trabalho era manusear peças pequenas (MELO, 2004). Outra questão suscitada pelas questões tecnológicas: o avanço da medicina, possibilitando o aumento da expectativa de vida das mulheres e o uso de medicamentos contraceptivos avançados, contribuiu para o controle da reprodução e o adiamento da maternidade (MELO, 2004). As questões econômicas estão intrinsecamente relacionadas às questões tecnológicas, pois o desenvolvimento de tecnologias criou campos de trabalho, produtos e estilo de vida. Praticamente todas as camadas sociais passaram a ter acesso aos produtos industrializados fabricados em série. Houve, também, mudanças nos hábitos de consumo da população, o que desencadeou o consumismo e a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Assim, foi necessário complementar a renda familiar. A mulher ingressou no mercado de trabalho para ajudar o homem a sustentar a família (MELO, 2004). As mudanças culturais que ocorreram a favor do fortalecimento da mão de obra feminina estão principalmente relacionadas ao enfraquecimento do patriarcalismo, pois a mulher passou a contribuir com as despesas do lar, chegando, em muitos casos, até a assumir todas as despesas sozinha. Assim, as mulheres entraram no mercado de trabalho devido à necessidade de complementar a renda familiar e passaram a lutar por igualdade de direitos e melhores condições de trabalho, contestando estereótipos sobre si mesmas (MELO, 2004). Durante as transformações de ordem social que permitiram a entrada da mulher no mercado de trabalho remunerado, criaram-se profissões específicas, ditas femininas. Ocupavam espaços que as remetiam ao seu papel de gênero. Foram-lhes reservadas atividades de bordadeiras, costureiras, babás, empregada da coletividade ou do comércio, secretária, área da saúde e de ensino, de forma que 39 suas ocupações se caracterizavam como uma extensão da vida doméstica (BOURDIEU, 2007; CHIES, 2010). Segundo Bourdieu, as mudanças visíveis na condição da mulher mascaram a perpetuação nas posições relativas. Segundo o autor, “[...] a igualização de oportunidades de acesso e índices de representação não deve mascarar as desigualdades que persistem na distribuição entre os diferentes níveis escolares e, simultaneamente, entre as carreiras possíveis.” (BOURDIEU, 2007, p. 126). No âmbito profissional, as mulheres são direcionadas para atividades tradicionalmente ditas femininas e pouco qualificadas (BOURDIEU, 2007). Ressalta-se que são complexas as condições de inserção da mulher no mercado de trabalho (AMARAL, 2012) devido à realização do trabalho assalariado concomitantemente com os trabalhos do lar e a necessidade de se qualificar constante (SORJ, 2004; CHIES, 2010; AMARAL, 2012). Mesmo quando as mulheres adentram no mercado de trabalho e passam a colaborar com as despesas domésticas, a elas ainda é imputado todo o trabalho do lar, como o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Todavia, era justificável, que os homens não precisavam realizar tarefas domésticas, por assumirem o papel de provedor financeiro do lar (CHIES, 2010). Os trabalhos domésticos refletem a cultura rigidamente imposta às mulheres, chegando a caracterizar-se como natural, impondo-lhes a subordinação e a inferioridade (SORJ, 2004; CHIES, 2010). Pode-se dizer que, mesmo conquistando novos papéis, como a sua inserção no mundo profissional, ainda se atribuem às mulheres papéis tradicionais de gênero. Esse acúmulo de atribuições acaba comprometendo sua saúde física e emocional, como os sentimentos despertados de improdutividade, tanto no âmbito público como no privado (AMARAL, 2012). 40 É grande a dificuldade de romper com a tradição de que o trabalho doméstico é tarefa feminina, pois para que haja mudança é necessário “desmontar pressupostos morais, crenças e valores estabelecidos sobre as diferenças entre homens e mulheres”, bem como questionar as representações de gênero arraigadas na sociedade que contribuem para caracterizar como natural e inevitável as diferenças socialmente construídas (CYRINO, 2009, p. 73). Em um primeiro momento, as mulheres justificavam sua entrada no mercado de trabalho salientando os conhecimentos adquiridos por meio da educação; ou seja, os méritos que adquiriram por meio da educação (ROSA, 2003). Buscavam qualificar-se constantemente, visando facilitar sua inserção no mercado de trabalho. Dessa forma, os índices de escolaridade passaram a ser superiores em relação aos homens (MARUANI; HIRATA, 2003). Essa justificativa contribuía para neutralizar a condição feminina, tendo em vista o contexto das relações de gênero. Posteriormente, as mulheres começaram a justificar sua presença em altos cargos da hierarquia organizacional, ressaltando suas competências femininas. Em outras palavras, passaram a justificar sua progressão na carreira em função das qualidades que possuem no âmbito das relações de gênero (ROSA, 2003). Isso garantia uma vantagem comparativa em relação aos homens. Assim, os discursos igualitários são substituídos por discursos da diferença, devido à valorização de papéis atribuídos pela experiência de gênero (ROSA, 2003). Contudo, o discurso da diferença acaba contribuindo para reafirmar os atributos de gênero, ou seja, “características construídas historicamente e socialmente e, portanto, mutáveis, passam a ser integradas e internalizadas como parte do ser feminino e assim institucionalizadas nas organizações empresariais” (ROSA, 2003, p. 6). Afirmar que os papéis femininos diferenciam as mulheres no mercado de trabalho faz com que sua identidade profissional esteja atrelada a sua identidade familiar, de gênero (ROSA, 2003). 41 Além da dupla jornada de trabalho e da necessidade de se qualificar constantemente (SORJ, 2004; CHIES, 2010; AMARAL, 2012), elas estão sujeitas a trabalhos de baixa qualidade e hierarquia organizacional, assim como à dificuldade de progredir na carreira. Recebem salários menores para profissões equivalente às dos homens (ROSA, 2003; BRUSCHINI, 2007; MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010) Para notar que a desvalorização da mulher no mercado permanece, basta observar os baixos salários que recebe em relação ao homem. Mesmo quando possui o mesmo nível de escolaridade, ela ocupa cargos de menor prestígio e hierarquia. É a mais atingida pelo desemprego e pelos trabalhos precários e está sujeita a jornada de trabalho reduzida, parcial. Esta é uma forma de eliminá-la dos jogos de poder presentes no espaço organizacional e, também, de cercear sua perspectiva de carreira (BOURDIEU, 2007). Alguns autores ressaltam que há pouca representação de mulheres em cargos de alta hierarquia nas empresas (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010), pois se deparam com o teto de vidro (glass ceiling). Este termo, que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1980, retrata uma barreira enfrentada pelas mulheres para alcançar postos de altas hierarquias nas organizações (STEIL, 1997). Romper o teto de vidro é um desafio enfrentado para ocuparem cargos de poder nas organizações. Seu efeito é invisível, mas faz com que elas continuem em baixas posições de poder e contribui para que haja assimetrias entre homens e mulheres (CASINI, 2004). Observando os cargos ocupados nas organizações, nota-se que elas possuem salários menores e perspectivas restritas de promoções na carreira (SCOTT, 1995). Para alguns autores, a diferença na remuneração está relacionada a aspectos sociais, no que se refere à manutenção tanto de uma ordem social no mercado de trabalho quanto da ordem dentro da família (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010). Salientam que é discrepante o perfil salarial de homens e mulheres com maior nível educacional (MADALOZZO; MARTINS; SHIRATORI, 2010). 42 Nos últimos anos, pode-se dizer que ocorreu um aumento significativo de mulheres no mercado. Elas ocupam cargos e funções diversificados e conquistam gradativamente espaço no âmbito público da sociedade (CYRINO, 2009; AMARAL, 2012). Contudo, é importante salientar que as discriminações de gênero só foram atenuadas, na medida em que persistem dificuldades associadas à inserção no mercado, ao progresso na carreira, ao recebimento de baixos salários e às relações hierárquicas entre os gêneros (CYRINO, 2009; AMARAL, 2012). Salienta-se que, mesmo emancipada profissionalmente, ainda se atribuem à mulher papéis de gênero (AMARAL, 2012). Em outras palavras, a situação da mulher funciona assim: “três passos para frente, dois passos para trás”. Essa situação não é fácil de ser caracterizada, pois, mesmo tendo ocorrido algumas mudanças, não se pode dizer que houve rupturas. Sua inserção no mercado ainda é desigual e precária (MARUANI; HIRATA, 2003, p. 21). A partir das mudanças que ocorrerem na condição da mulher na sociedade e nas organizações, de forma que elas passam a ter acesso a espaços antes reservados apenas aos homens, conquistarem novos direitos e passarem a exercer o poder nas relações sociais, pode-se dizer que elas entram em processo de empoderamento.. 3.2 Empoderamento A palavra empoderamento tem origem na língua inglesa, empowerment. Seu uso tem sido ampliado para outras línguas, como espanhol, empoderamiento, e português, empoderamento (MARTINS, 2003). Martins (2003) destaca que, mesmo não sendo muito conhecida, a palavra não é tão nova, pois em sua edição de 1958 o Dicionário Caldas Aulete já a registrava. O uso do conceito de empoderamento aconteceu mais recentemente, a partir da década de 1970. Passou a ser utilizado inicialmente nos Estados Unidos, no cenário dos movimentos feministas (COSTA, 2004). Este conceito tem evoluído ao longo dos anos, surgindo inúmeras definições na literatura acerca do tema (KOKATANUR, 2013). 43 Anteriormente, o empoderamento tinha foco na condição econômica das mulheres, mas com o tempo passou a considerar outros aspectos importantes da vida delas. O termo passou a considerar sua relação com o homem em todas as esferas de sua vida, pessoal e pública. Consiste em um processo que envolve os aspectos econômico, social, político e pessoal, sendo este último o centro do processo de empoderamento feminino (KOKATANUR, 2013). Melo salienta que a primeira vertente para o empoderamento deve estar atrelada ao despertar da conscientização por parte das mulheres em relação à discriminação de gênero, ou seja, reconhecer a existência da desigualdade entre homens e mulheres, inquietar-se com essa situação e desejar transformá-la. (MELO, 2009, p. 649). O termo empoderamento está relacionado a possibilidade de uma pessoa de exercer o poder. Assim, pode retratar tanto a opressão, o autoritarismo, o abuso e a dominação quanto a emancipação e a resistência (LISBOA, 2007). Neste último caso, conforme salienta Prá (2006), retrata possíveis modificações nas relações de gênero, classe social, raça, cultura e história, visando à equidade entre homens e mulheres e igualdade de oportunidade e acesso aos recursos e vantagens. Denota a possibilidade de as mulheres comandarem a própria vida e tomar decisões. Deere e León (2002) sustentam que o termo empoderamento pode assumir o sentido de conquistar o controle sobre a própria vida, fazer escolhas segundo o próprio querer. Essa oportunidade de tomar decisões ocorre em um contexto em que apenas aos homens era conferido esse direito de escolha. Pode-se dizer também que o termo empoderamento pode assumir o sentido de emancipação, conquista do controle e busca de poder social e político pelas mulheres. Para Eyben (2013), o empoderamento das mulheres possui inúmeros significados, os quais estão relacionados a: poder, participação, capacidade, autonomia, escolha e liberdade. Ocorre quando elas conseguem imaginar seu contexto de modo diferente e concretizá-lo, alterando as relações de poder que as conduzem à pobreza, restringem sua voz e as privam de autonomia. 44 Em outras palavras, o empoderamento refere-se à busca pela equidade entre o sexo masculino e o feminino, nos âmbitos individual e público, na sociedade. Mas não é só; envolve, no sentido restrito, a melhoria do aspecto econômico das mulheres. Portanto, traduz-se no reconhecimento de seu poder interno e na capacidade de exercê-lo para os benefícios próprios e das outras pessoas (PANDEY, 2013). O empoderamento das mulheres, para Costa, [...] representa um desafio às relações patriarcais, em especial dentro da família, ao poder dominante do homem e a manutenção dos privilégios de gênero. Significa uma mudança na dominação tradicional dos homens sobre as mulheres, garantindo-lhes a autonomia no que se refere ao controle dos seus corpos, da sua sexualidade, do seu direito de ir e vir, bem como um rechaço ao abuso físico e a violação sem castigo, o abandono e as decisões unilaterais masculinas que afetam a toda a família. (COSTA, 2004, p. 9). Em outras palavras, empoderamento consiste em promover mudanças radicais nos processos e estruturas que reproduzem a condição de subordinação das mulheres. Assim, as mulheres tornam-se empoderadas quando passam a tomar decisões coletivas e quando ocorrem mudanças individuais (COSTA, 2004). Seguindo a mesma linha de raciocínio de Costa (2004), Santosh (2013) salienta que desafiar a estrutura patriarcal predominante é um dos objetivos do empoderamento, de forma a produzir transformações nas estruturas e instituições que reforçam a discriminação de gênero e as desigualdades sociais, proporcionando o acesso das mulheres pobres a materiais e recursos informacionais e a presença ativa em todos os níveis de tomada de decisão (SANTOSH, 2013). Uma das formas de alcançar a igualdade de gênero é educar. A educação ajuda a romper com os estereótipos arraigados na sociedade, por desencadear mudanças radicais na forma de pensar e de agir das pessoas (RAJANKAR, 2013). A importância de educar também foi salientada por Bourdieu (2007), na medida em que a educação provoca mudanças decisivas na condição das mulheres. Kokatanur (2013) enfatiza que o empoderamento consiste em desmontar as fraquezas, as incapacidades, as desvantagens e as privações das pessoas em 45 função do sexo ou de outras minorias existentes na sociedade. Para Santosh (2013), ao se empoderarem, as mulheres passam a ter maior participação, mobilização, controle e tomada de decisão em todas as esferas de sua vida, além de compartilhar e afirmar a igualdade com os homens. Outros autores também salientam a importância da educação para desencadear o processo de empoderamento de mulheres. Quando as mulheres melhoram seus níveis educacionais, passam a participar das decisões econômicas, sociais e políticas tanto no âmbito individual como no coletivo. Obtêm melhorias na saúde e na qualidade de vida, têm maior acesso a outros direitos humanos fundamentais, mobilizam-se em defesa de seus próprios direitos e de toda a sociedade e, principalmente, mobilizam-se em prol de mudanças nas relações patriarcais (FEM, 2005; LOURO, 2011; SANTOSH, 2013; RAJANKAR, 2013; KOKATANUR, 2013). Segundo Rajankar (2013), a educação é capaz de provocar mudanças radicais na sociedade, contribuindo para reduzir as desigualdades de gênero e alcançar o empoderamento. Segundo Eyben (2013), existem diferentes dimensões de empoderamento, as quais se reforçam mutuamente, a saber: a) Empoderamento social − está relacionado às mudanças na sociedade, de tal forma que as mulheres passam a ser reconhecidas e respeitadas naquilo que elas desejarem, e não naquilo que é imposto por outros. Engloba, também, um sentido de autonomia e de autoestima, para que as mulheres façam escolha de forma independente a respeito dos relacionamentos sexuais, casamento e filhos. A valorização e o respeito às mulheres são importantes para a participação delas na política, no sentido de buscar uma justa remuneração por seu trabalho e ter acesso a serviços públicos – dentre eles, saúde e educação. b) Empoderamento político − refere-se à representação equitativa das mulheres em instituições políticas e à possibilidade de tomarem decisões no que tange a sua vida e à vida de outras pessoas que se encontram em posição semelhante a ela (EYBEN, 2013). 46 c) Empoderamento econômico − consiste no respeito à dignidade, na capacidade de negociar uma distribuição justa dos retornos e no desenvolvimento de atividades econômicas, com o reconhecimento do valor de sua contribuição. O Fórum Econômico Mundial (2005) enfatiza que o empoderamento da mulher pode ser analisado considerando cinco dimensões. a) Participação econômica – refere-se ao número de mulheres presentes no mercado de trabalho, contribuindo para a redução dos níveis desproporcionais de pobreza entre elas, para o aumento da renda familiar e para desenvolver economicamente os países; b) Oportunidade econômica – está intrinsecamente relacionada à qualidade do envolvimento econômico das mulheres no mercado de trabalho e à oportunidade de carreira; c) Avanço educacional – consiste no acesso da mulher à educação de qualidade, contribuindo para ter avanços na carreira e acesso a cargos altos e bons salários; d) Saúde e bem-estar – estão relacionados ao acesso das mulheres a nutrição adequada, a cuidados com a saúde e a facilidades produtivas, além de questões de segurança, indispensáveis a integridade pessoal; e) Empoderamento político − mede a presença das mulheres e dos homens em altos níveis de tomada de decisão política, seja organizacional ou estatal; Salienta-se que este modelo proposto pelo Fórum Econômico Mundial (2005) é mais indicado para analisar o empoderamento de mulheres no contexto social. 3.2.1 Modelo de empoderamento feminino proposto por Melo (2012) A concepção de empoderamento adotada nesta pesquisa foi a proposta por Melo (2012). Segundo a autora o empoderamento da mulher 47 [...] representa um desafio às relações patriarcais nos espaços sócio institucionais, em especial dentro da família, ao poder dominante do homem e à manutenção dos seus privilégios de gênero. Além disso, significa uma mudança na dominação tradicional dos homens sobre as mulheres, garantindo-lhes a autonomia no que se refere ao controle dos seus corpos, da sua sexualidade, do seu direito de ir e vir, bem como um rechaço ao abuso físico, ao abandono e às decisões unilaterais masculinas que afetam toda a família. (MELO, 2012, p. 663). Melo (2012) propôs um modelo para analisar o empoderamento de mulheres no contexto organizacional, a partir das dimensões de análise do empoderamento feminino para o contexto social apresentado por Stromquist (1997), Costa (2004) e Lisboa (2008). O modelo de empoderamento social apresentado por Stromquist (1997) e Costa (2004) constitui-se pelas seguintes dimensões: a) Cognitiva − refere-se à conscientização das mulheres quanto a sua posição de subordinação e às causas destas nos níveis micro e macro da sociedade. Engloba também o ser e a necessidade da mulher de fazer escolhas, mesmo contrariando as expectativas sociais e culturais (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004); b) Psicológica – relaciona-se aos sentimentos desenvolvidos na mulher, os quais, quando são colocados em prática, mudam sua condição nos âmbitos individual e social (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004); c) Política – relaciona-se à capacidade da mulher de analisar o meio circundante em termos políticos e sociais, de organizar-se e de desencadear mudanças sociais (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004); d) Econômica − diz respeito à independência financeira da mulher. Dá suporte à dimensão psicológica (STROMQUIST, 1997; COSTA, 2004). Além dessas dimensões, Lisboa (2008) apresenta, na sua configuração do empoderamento da mulher na sociedade, a dimensão social, que está relacionada ao acesso a algumas “bases” de produção doméstica, como informação, 48 conhecimento, técnicas e recursos financeiros, além do acesso a serviços e da capacidade de influenciar no âmbito público. Segundo Melo (2012), o empoderamento é constituído por seis fatores: a) Cognitivo-analítica − consiste no saber, no conhecer, no reconhecer e na conscientização da mulher no que se refere a sua qualificação. Considera a conscientização quanto as suas reais condições em seu contexto social. Engloba, ainda, a capacidade e os conhecimentos como forma de progredir na carreira. Este fator subdivide-se em: valorização da capacitação; valorização do conhecimento; e conhecimento versus oportunidade; b) Subjetiva – está relacionada ao empoderamento psicológico. Refere-se a suas experiências subjetivas, as quais refletem seus sentimentos de autoconfiança, autoestima e autodeterminação, bem como a crença na própria capacidade. Este fator verifica a forma como a mulher decide e escolhe e, ainda, os significados que elas atribuem a suas atividades. Subdivide-se em: significado da atividade; competência reconhecida; autodeterminação; e impacto percebido. Significado da atividade: valor de uma meta de trabalho, ou seja, a percepção, a importância e o valor para a pessoa/indivíduo. Competência reconhecida: crença na própria capacidade (ex: eu sou capaz de fazer). Autodeterminação: sentido de escolha sobre as atividades e o método de trabalho. É uma escolha do indivíduo, ele se prepara, acredita que pode, ele se autodetermina. Clima que favorece o empoderamento. Impacto percebido: grau que o indivíduo acredita que pode contribuir e que pode influenciar os resultados da organização. (Esse impacto pode ser positivo ou negativo) (MELO, 2009, p. 66); d) Política – relaciona-se ao acesso das mulheres a cargos de representação e direção, às relações de poder mais equilibradas, à consciência das diferenças entre gênero, à construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da carreira e à busca de autonomia profissional. Este fator analisa o posicionamento das mulheres nos cargos e nas hierarquias das empresas, a consciência delas quanto à existência das desigualdades de gênero, as alianças e as estratégias 49 que desenvolvem para progredir na carreira profissional e ter autonomia. Subdivide-se em: vivência das relações de poder no espaço organizacional; percepção e consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e acesso a informação; alianças e estratégias para a própria carreira; autonomia; e legitimação organizacional; e) Econômica − consiste na realização de atividades rentáveis que garantam independência financeira, autonomia financeira e participação nas despesas da família. Dá suporte à dimensão psicológica da mulher, ou seja, a seu empoderamento subjetivo. Subdivide-se em: demandas e oportunidades; independência financeira; e perspectiva de carreira; f) Social – relaciona-se à conscientização da mulher quanto à forma como é reconhecida em seus âmbitos familiar, social e organizacional, demonstrando possíveis mudanças nas relações de gênero. Subdivide-se em: reconhecimento familiar; reconhecimento social; e reconhecimento organizacional; g) Cultural – consiste nas relações de poder presentes na sociedade. Analisa as possíveis mudanças nas relações patriarcais, ou seja, gênero, classe social, raça, cultura e história. Subdivide-se nas influências culturais. A entrada da mulher no mercado de trabalho desencadeia mudanças nos aspectos culturais e nas relações de gênero presentes na sociedade. Com base nesse modelo de empoderamento, foi realizada uma pesquisa nos moldes explicitados a seguir. 50 4 METODOLOGIA DE PESQUISA Neste capítulo, descrevem-se os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento desta pesquisa: tipo de pesquisa quanto à abordagem, tipo de pesquisa quanto aos fins, tipo de pesquisa quanto aos meios, unidade de análise e sujeitos da pesquisa, técnica de coleta de dados e técnica de análise de dados. 4.1 Tipo de pesquisa quanto à abordagem Tendo em vista que o objetivo desta pesquisa foi analisar as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma IES privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012), verificou-se que a pesquisa qualitativa seria a mais apropriada. Este estudo caracteriza-se, então, como qualitativo, o qual, segundo Collis e Hussey (2005), tem natureza mais subjetiva, analisa e reflete as percepções dos sujeitos, buscando entender as atividades sociais e humanas, e pretende interpretar a realidade social (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2010). O objetivo da pesquisa qualitativa é compreender a vida dos entrevistados e de grupos sociais específicos. Por meio dela, buscam-se dados essenciais para desenvolver e esclarecer as relações entre os atores sociais e as situações vivenciadas por eles, tais como crenças, atitudes, valores e motivações (GASKELL, 2010). Segundo Creswell (2010), a pesquisa qualitativa consiste em uma investigação interpretativa, por meio da qual os pesquisadores interpretam o que enxergam, ouvem e entendem, sendo essas interpretações contextualizadas pelas suas origens, história, contexto e entendimentos anteriores. 51 4.2 Tipo de pesquisa quanto aos fins Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, que, segundo Godoy (1995) e Vergara (2009), tem o compromisso de discriminar as particularidades de certa população ou fenômeno. Para Collis e Hussey (2005), este tipo de pesquisa busca descrever o comportamento dos fenômenos estudados. Nesta pesquisa descritiva, buscou-se descrever as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 e 2013 em uma IES privada mineira. 4.3 Tipo de pesquisa quanto aos meios Caracteriza-se como um estudo de caso, que, segundo Godoy (2006), é adotado em situações em que o pesquisador busca explicar uma situação a partir de problemas práticos decorrentes de situações individuais e sociais e das interações humanas. O estudo de caso, segundo Severino (2010), é uma investigação concentrada em um caso particular, o qual pode ser considerado representativo dentre outros análogos. O caso aqui estudado foi o de ex-alunas do Prouni de uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada localizada na cidade de Belo Horizonte que está no mercado há 15 anos e oferece vários cursos de graduação e de pós-graduação, escolhido por acessibilidade. 4.4 Unidade de análise e sujeitos da pesquisa Segundo Collis e Hussey (2005, p. 73), unidade de análise “é um tipo de caso aos quais as variáveis ou fenômenos sendo estudados se referem, e sobre o qual se coletam e analisam os dados”. Nesta pesquisa, a unidade de análise compreendeu as egressas de uma IES privada localizada em Belo Horizonte que estudaram por meio do Prouni ou Prouni e FIES (Fundo de Financiamento Estudantil). 52 Sujeitos da pesquisa, de acordo com Vergara (2009, p. 47), “são os sujeitos que fornecerão os dados de que você necessita”. No caso desta pesquisa, os sujeitos foram 20 egressas dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito, de uma IES privada mineira que estudaram com bolsa do Prouni integral ou bolsa parcial (50%) e FIES entre 2009 e 2013, as quais forneceram as percepções necessárias à concretização deste estudo. A escolha dos cursos de graduação em Administração, Ciências Contábeis e Direito se justificou por estarem entre os que têm maior número de vagas na IES. Pesquisar mulheres que concluíram o curso de graduação no período entre 2009 a 2013 justifica-se pelo fato de que em 2009 formaram-se as primeiras turmas beneficiadas pelo Prouni, pois esse programa foi institucionalizado em janeiro de 2005. Os sujeitos desta pesquisa foram selecionados por acessibilidade, que consiste na escolha dos sujeitos que se encontram mais próximos do pesquisador (VERGARA, 2009). 4.5 Técnica de coleta de dados A técnica utilizada para obter os dados analisados nesta pesquisa foram as entrevistas semiestruturadas. Por meio desta técnica, foi possível identificar a percepção das entrevistadas quanto às repercussões da graduação financiada pelo Prouni em seu processo de empoderamento. A entrevista, segundo Collis e Hussey (2005), é um método que consiste em coletar os dados a partir de perguntas formuladas aos entrevistados, a fim de descobrir o que fazem, pensam ou sentem. A entrevista semiestruturada, segundo Godoy (2006, p. 134), visa “compreender os significados que os entrevistados atribuem às questões e situações relativas ao tema de interesse”. As entrevistas foram realizadas entre 21 de outubro e 5 de novembro de 2014, sendo realizadas até haver a saturação dos dados, a qual foi atingida com 20 entrevistas (10 formadas em Administração, 6 formadas em Ciências Contábeis e 4 formadas em Direito). A saturação consiste em um critério de finalização: 53 “investigam-se diferentes representações, apenas até que a inclusão de novos estratos não acrescente mais nada de novo”. Assim, quando no decorrer das entrevistas a fala das novas entrevistadas não acrescentar algo novo aos dados da pesquisa, acredita-se não ser necessário continuar a coleta, pois outras entrevistas podem não acrescentar novas perspectivas às que já haviam sido realizadas no decorrer da coleta de dados (GASKELL, 2010). O roteiro de entrevista (APÊNDICE A) foi dividido em duas partes. Na primeira, constavam perguntas relacionadas aos dados demográficos, em que se buscou identificar: nome, idade, estado civil, número de filhos, tipo de bolsa do Prouni, formação acadêmica financiada pelo Prouni, formação acadêmica não financiada pelo Prouni, profissão que exercia antes da graduação, cargo ocupado e renda mensal das entrevistadas. Na segunda, buscou-se identificar as repercussões do Prouni no processo de empoderamento de mulheres, cujas perguntas foram elaboradas tendo por base o modelo de empoderamento proposto por Melo (2012). 4.6 Técnica de análise de dados As 20 entrevistas realizadas foram analisadas por meio da técnica proposta por Bardin (2008) denominada “Análise de conteúdo”, a qual se divide nas seguintes fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Na fase da pré-análise, buscou-se operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais, de modo a deixar os dados organizados para realizar as próximas fases. Nesse sentido, mediante a autorização das participantes, após serem informadas sobre a natureza do estudo, as entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra e mantidas em sigilo. A fase de exploração do material requer que a pré-análise tenha sido concluída. Realizaram-se a análise das entrevistas, as operações de codificação e a enumeração dos dados. 54 As categorias analisadas nesta pesquisa, na fase de exploração das entrevistas, contemplaram as facilidades e dificuldades encontradas pelas entrevistadas para ingressar no ensino superior e os fatores do modelo de empoderamento propostos por Melo (2012), quais sejam: fator cognitivo-analítico, subjetivo, social, econômico, político e cultural. Na fase de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, os resultados foram tratados, a fim de torná-los significativos e válidos. Tornou-se possível, a partir de resultados significativos e fiéis, fazer inferências e adiantar interpretações, tendo em vista os objetivos previstos ou as descobertas que emergiram na análise. Salienta-se que os resultados obtidos podem servir de base para outras análises dispostas em torno de novas dimensões teóricas ou praticadas com outras técnicas. Os resultados dessa análise de dados estão dispostos no próximo capítulo. 55 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Neste capítulo, procede-se à apresentação e análise dos resultados desta pesquisa. No primeiro momento, descreve-se o perfil das mulheres pesquisadas. Em seguida, analisa-se o conteúdo dos depoimentos coletados, por meio de entrevistas semiestruturadas, que visaram levantar dados sobre as dificuldades e facilidades relacionadas à inserção no ensino superior e ao empoderamento das entrevistadas. 5.1 Caracterização do perfil dos pesquisados As bolsistas do Prouni entrevistadas foram identificadas pela letra “E”, acompanhada da numeração crescente, à medida que as entrevistas foram feitas. No Quadro 1, apresentam-se alguns dados das mulheres pesquisadas. 56 Quadro 1– Perfil das bolsistas do Prouni entrevistadas Entrev. E1 Estado Número Tipo de bolsa Formação Formação civil de filhos do Prouni acadêmica acadêmica que financiada pelo não foi Prouni financiada pelo Prouni Entre 26 a 30 anos Solteira 0 Integral Administração Engenharia Civil E2 E3 Entre 26 a 30 anos Solteira Até 25 anos Casada 0 0 E4 E5 Entre 31 a 35 anos Solteira Entre 26 a 30 anos Divorciada 0 1 E6 Entre 31 a 35 anos Solteira 0 Integral Administração E7 Entre 31 a 35 anos Casada 1 Integral 0 Integral E9 União Estável Entre 26 a 30 anos Solteira 0 Integral Ciências Contábeis Ciências Contábeis Direito E10 Entre 26 a 30 anos Casada 0 Integral Direito Nenhuma Solteira 0 Integral Administração E12 Entre 41 a 45 anos Casada 3 Parcial e FIES Ciências Contábeis Arquitetura e Urbanismo Nenhuma E13 Entre 26 a 30 anos Solteira 0 Integral E14 E15 Entre 26 a 30 anos Solteira Entre 31 a 35 anos Solteira 0 0 Integral Integral Solteira 0 Integral Entre 41 a 45 anos Casada Até 25 anos Solteira 2 0 Integral Integral Solteira 0 Integral Entre 26 a 30 anos Solteira 0 Integral E8 E11 E16 E17 E18 E19 E20 Idade Até 25 anos Até 25 anos Até 25 anos Até 25 anos Parcial e FIES Administração Integral Ciências Contábeis Parcial e FIES Administração Integral Administração Profissão que Atual cargo exercia antes ocupado de graduar Não trabalhava Gerente Mestrado Nenhuma Vendedora Professora Não trabalhava Assistente Contábil Nenhuma Estoquista Desempregada Mestrado Auxiliar Estudante administrativo Mestrado Técnico de Coordenação Segurança no Trabalho Nenhuma Auxiliar de Técnico em Contabilidade Contabilidade MBA gestão Não trabalhava Analista de financeira e Auditoria controladoria Interna Nenhuma Não trabalhava Advogada Operador de caixa Estudante Servidora Pública Renda mensal De R$ 7.001,00 a R$ 10.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 Não tem renda De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 Advogada De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 Estudante Não tem renda Referência Técnica de Sistema Ciências Pós-graduação Auxiliar de Analista Contábeis em Auditoria escritório Contábil Administração Nenhuma Vendedora Gerente Ciências Nenhuma Empreendedora Empresária Contábeis Administração MBA Encarregada Empreendedora de loja Direito Nenhuma Vendedora Desempregada Administração Nenhuma Recepcionista Assistente Administrativo II De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 Não tem renda De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 Direito Pós-graduação Não trabalhava Advogada De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 em Direito Administração Pós-graduação Bolsista de Analista Fiscal De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 Iniciação Científica Fonte: Dados da pesquisa Conforme foi discriminado no Quadro 1, quanto à faixa etária das entrevistadas, verificou-se que 8 têm entre 26 a 30 anos; e 6, até 25 anos. Quanto ao estado civil e ao número de filhos, constatou-se que a maioria é solteira e não possui filhos. Quanto ao tipo de bolsa do Prouni, ao curso em que se formaram e a outra formação 57 acadêmica que possuem, identificou-se que a maioria significativa estudou com bolsa integral do Prouni, a metade é graduada em Administração e 6 em Ciências Contábeis e a metade possui apenas o curso de graduação e 8 possuem pósgraduação. No que se refere à profissão que exerciam antes de graduarem e depois, verificou-se que 5 entrevistadas não trabalhavam antes de se graduarem e 3 trabalhavam como vendedoras, mas atualmente 3 são advogadas, 3 são analistas, 2 são gerentes e 2 são estudantes. A renda mensal da maioria das entrevistadas está entre R$ 1.001,00 e R$ 3.000,00 reais e 5 entrevistadas possuem renda entre R$ 3.001,00 e R$ 5.000, 00. As mulheres pesquisadas, após concluírem o curso, passaram a ocupar outros cargos no mercado de trabalho. Algumas galgaram cargos gerenciais, indo além daqueles culturalmente reservados às mulheres no espaço organizacional, ou seja, aqueles cargos de alta hierarquia organizacional, por exemplo, cargos de chefia. 5.2 Análise qualitativa: categorias e subcategorias A partir da análise das entrevistas, tendo por base as categorias previamente definidas para análise, surgiram algumas subcategorias, conforme discriminado no Quadro 2. Quadro 2 – Categorias e subcategorias do conteúdo das entrevistas (continua) Categoria Dificuldades e facilidades para inserir no ensino superior Dificuldades Facilidades Cognitivo analítico Valorização da capacitação Valorização do conhecimento Subcategoria - Falta de recursos financeiros para arcar com os custos da mensalidade de um curso superior, antes de ganharem a bolsa do Prouni - Ter tido um preparo deficiente no ensino médio público - Conseguir boa nota no Enem e em vestibulares de universidades federais - Ter conseguido a bolsa do Prouni Subcategoria - Importância da qualificação para a vida das entrevistadas. - Julgam necessário qualificar-se continuamente para se desenvolverem mais, pessoal e profissionalmente. - Os conhecimentos adquiridos na graduação provocaram mudanças individuais e na forma das entrevistadas se posicionarem na família e na sociedade. 58 Cognitivo analítico Conhecimento versus oportunidade Subjetivo Significado da atividade Competência reconhecida Autodeterminação Impacto percebido na organização Político Vivência das relações de poder no espaço organizacional Percepção e consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e o acesso à informação Alianças e estratégias para a própria carreira Autonomia Legitimação organizacional Econômico Demandas e oportunidades Independência financeira Perspectiva de carreira (continuação) Subcategoria - Sofrem discriminação dentro das organizações, no entanto outras não percebem tratamentos diferenciados na atividade profissional por serem mulheres. - Importância dos conhecimentos adquiridos para a progressão na carreira Subcategoria - O trabalho desperta sentimentos positivos nas entrevistadas. - Não se sentem capazes de galgar qualquer cargo dentro da área de qualificação após se graduarem. - Sentem-se capazes de realizar atividades ligadas ao atual cargo com as experiências, os conhecimentos e as habilidades adquiridas na graduação. - A graduação não favoreceu o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança pessoal nas entrevistadas. - Têm a pretensão de passar em concurso público. - Pretendem trabalhar por conta própria. - Pretendem continuar se qualificando em busca de outras possibilidades de trabalho dentro de sua área de qualificação. - Reconhecimento organizacional positivo das entrevistadas pelo trabalho que desenvolvem Subcategoria - O poder é centralizado em poucas pessoas onde trabalham. - As entrevistadas estão na subordinação onde trabalham. - Persistem algumas desigualdades de gênero no ambiente organizacional. - A mulher tem que ser determinada, qualificar-se, saber liderar, ser dinâmica, ter postura firme e deve ter bons relacionamentos com as outras pessoas. - Têm acesso essas informações onde trabalham, mas não participam da tomada de decisão. - Julga importante estabelecer alianças e estratégias para se desenvolver profissionalmente. - Possuem autonomia apenas no que tange a sua função dentro da empresa. - Os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no ambiente de trabalho. Subcategoria - Os problemas financeiros que enfrentaram, mobilizaram as entrevistadas a tentar mudar a própria realidade. - Contribuição da graduação para as entrevistadas adentrarem no mercado de trabalho, galgar outros cargos e obterem melhorias salariais. - A graduação ajuda reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas entrevistadas para se inserirem no mercado de trabalho. - Trabalham para se tornar independentes financeiramente. - Ainda não se sentem realizadas economicamente. - A graduação foi fator decisivo para suas perspectivas no campo profissional, como entrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e obter melhoria salarial. 59 Social Reconhecimento familiar Reconhecimento social Reconhecimento organizacional Cultural Influências culturais (conclusão) Subcategoria - O pai é a principal figura de autoridade dentro da família. - A graduação contribuiu para a capacidade das entrevistadas de discutir situações cotidianas. - As entrevistadas sentiram-se reconhecidas positivamente pelo seu grupo social, após se graduarem. - Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas, políticas e sociais na sociedade. - São reconhecidas positivamente por parte da organização que trabalham. Subcategoria - As entrevistadas tiveram maior influência feminina do que masculina no decorrer de sua vida. - A graduação contribuiu para as relações sociais e culturais das entrevistadas. - A graduação contribui para reduzir os tratamentos desiguais entre homens e mulheres na sociedade. Fonte: Dados da pesquisa Para facilitar a compreensão, cada uma das categorias será analisada de forma detalhada a seguir, levando-se em consideração suas subcategorias. 5.2.1 Dificuldades e facilidades encontradas para ingressarem no ensino superior Durante o percurso em busca de se qualificarem por meio de um curso superior, as entrevistadas encontraram dificultadores e facilitadores, conforme discriminado, respectivamente, na TAB. 1 e na TAB. 2. A partir dos dados disponíveis na TAB. 1, verifica-se que a principal dificuldade encontrada pela maioria das entrevistadas para ingressar em um curso superior está relacionada à falta de recursos financeiros para arcar com as despesas, principalmente a mensalidade. Constatou-se, ainda, que as entrevistadas perceberam outros dificultadores, como ter tido um preparo deficiente no ensino médio público (40%). Isso afetou diretamente o desempenho delas nos vestibulares de IES federais e no Enem (40%), pois não conseguiam boas notas, de forma que fizeram várias vezes esses testes. Duas apontaram como dificultador o fato de terem que conciliar trabalho e estudo. Uma apontou a falta de apoio do marido e outra se sentia discriminada por ser nova. 60 Tabela 1 – Dificuldades encontradas para ingressar no ensino superior Item discriminado % 60 Não ter recursos financeiros para arcar despesas, principalmente com as mensalidades 40 Ter tido um preparo deficiente no segundo grau público 40 Conseguir boa nota no Enem e em vestibulares de universidades federais 30 Não encontrou nenhuma dificuldade para ingressar no ensino superior 10 Conciliar trabalho e estudo 5 Não ter tido apoio do marido 5 Sentiu-se discriminada por ser nova Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Os dados explicitados na TAB. 1 podem ser confirmados pelos fragmentos das falas das entrevistadas: As dificuldades sempre foram baseadas em fatores financeiros, já que meus pais não possuíam situação financeira boa e os custos de vida em Belo Horizonte eram muito maiores que no interior.[...]. (E1) [...] fiz vestibular três vezes. Não. Três não; quatro vezes. Na Federal, e fui reprovada. Então, não tive, assim, né... Eu vim de um ensino público. Não tive a oportunidade de fazer um cursinho, né. (E2) [...] existiam muitas dificuldades pra mim. A primeira delas é a questão financeira, porque não possuía um rendimento que pudesse pagar os meus estudos. [...]. (E5) [...] Bom, no primeiro momento eu não tinha condição, né, de cursar uma faculdade. Só que eu fiz uma prova do Enem. Não foi uma vez, foi umas três vezes que eu fiz a prova, e aí eu passei na prova, que eu não achei nem um pouco fácil, e aí comecei a cursar a faculdade. (E6) [...] foi mais a financeira mesmo. Eu tinha dificuldade financeira. [...] (E15) [...]. Então, seria essa assim. Na verdade, é, não só a prova em questão, que foi uma dificuldade, mas também né, o tanto de papelada aí que eles pedem na hora, no momento que você vai fazer a matricula, e tudo direitinho, para dar tudo certo [...]. (E6) A questão financeira pode ser considerada um dificultador encontrado pelas entrevistadas para ingressar no ensino superior, uma vez que elas mencionaram que eram oriundas de famílias de baixa renda, estando sujeitas ao precário orçamento financeiro familiar. Pode-se dizer também que vivenciaram outra dificuldade, relacionada ao fato de terem realizado o ensino médio em escolas públicas, caracterizadas por um ensino deficiente, o que dificultou a entrada delas no ensino superior. Então, as principais dificuldades encontradas pelas entrevistadas 61 para adentrarem no ensino superior são decorrentes das desigualdades econômicas, sociais e culturais presentes na sociedade. De acordo com os dados da TAB. 2, o principal facilitador encontrado pela maioria das entrevistadas para adentrar no ensino superior foi o fato de terem conseguido a bolsa do Prouni, já que a maioria não tinha boas condições financeiras para investir em educação, enquanto outras não conseguiam adentrar no ensino superior público devido à defasagem no conhecimento que tinham, por terem estudado em instituições públicas de baixa qualidade. Para 20% das entrevistadas o principal facilitador encontrado foi o Enem. Segundo elas, era mais fácil do que outros vestibulares, enquanto outras entrevistadas ressaltaram que não tiveram facilitadores. Tabela 2 – Facilidades encontradas para ingressar no ensino superior Item discriminado % Ter conseguido a bolsa do Prouni 60 ENEM 20 Não foi muito fácil ingressar no Ensino Superior 15 Ter aumentado o número de faculdades na época 5 Ter sido sonho de criança graduar 5 Ter recebido ajuda de outras pessoas 5 Não ter sido necessário fazer vestibular para as instituições de ensino federais 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Conforme relatos a seguir, segundo as entrevistadas: [...] as principais facilidades que eu encontrei, com certeza, estão relacionadas ao Prouni, pois eu não tinha condições financeiras de pagar os meus estudos. E aí veio esse programa, e eu vi a oportunidade de estudar, estudar, assim, me graduar. Sempre foi meu sonho desde criança. Eu sempre gostei muito de ler, de estudar e eu nunca quis parar de estudar. [...]. (E5) Com o Prouni ficou mais fácil para ingressar na faculdade através das provas do Enem, que foi o meu caso. [...] (E7) No caso, foi a bolsa do Prouni. O Enem que foi um facilitador [...] (E14) A facilidade que eu encontrei para ingressar no Ensino Superior foi a bolsa do Prouni. [...]. (E18) Na verdade, eu não encontrei facilidade nenhuma. Bom, no primeiro momento eu não tinha condição, né, de cursar uma faculdade. Só que eu fiz uma prova do Enem. Não foi uma vez, foi umas três vezes que eu fiz a 62 prova, e aí eu passei na prova, que eu não achei nem um pouco fácil, e aí comecei a cursar a faculdade. [...]. (E6) Os depoimentos das entrevistadas revelaram que a maioria delas não encontrou muitas facilidades para ingressar no ensino superior. Elas enfrentaram, além das desigualdades de renda, dificuldades relacionadas à preparação educacional que tiveram no ensino médio. Ressaltaram que o principal facilitador encontrado para ingressar no ensino superior foi o fato de terem conseguido a bolsa do Prouni, por meio da qual tiveram a chance de se qualificarem em uma IES privada, mesmo com a defasagem educacional que tiveram, sem dispêndios financeiros com as mensalidades do curso. Segundo Bourdieu (2007, p. 130), as mulheres possuem experiências específicas que as aproximam: “estão separadas dos homens por um coeficiente simbólico negativo”, a dominação masculina. No entanto, também se encontram separadas umas das outras por algumas diferenças econômicas e culturais, como acontece com as entrevistadas. Esses contextos diferentes em que estão inseridas influenciam sua forma subjetiva e objetiva de perceber e vivenciar a dominação masculina e empoderar-se. Pode-se dizer que, além das desigualdades de gênero, a vida das mulheres pesquisadas é afetada negativamente pelas dificuldades financeiras, educacionais e culturais, às quais estavam sujeitas ao longo de suas vidas, o que pode dificultar ainda mais seu processo de empoderamento. 5.2.2 Cognitivo analítico Este fator refere-se ao saber, ao conhecer, ao reconhecer e à conscientização da mulher no que se refere a sua qualificação. Conscientização quanto a suas reais condições em seu contexto social e à capacidade e aos conhecimentos, como forma de progredir na carreira (MELO, 2012). Neste fator, foram analisados os aspectos referentes a valorização da capacitação, valorização do conhecimento e conhecimento versus oportunidade pela própria pesquisada. 63 5.2.2.1 Valorização da capacitação A análise dos depoimentos coletados revelou que os principais aspectos que caracterizam a valorização da capacitação referem-se à importância da qualificação para a vida das entrevistadas e àquilo que elas julgam necessário investir em capacitação continuamente após a graduação, para se desenvolverem ainda mais, pessoal e profissionalmente. No que se refere à valorização da capacitação, verificou-se que a maioria significativa das entrevistadas reconhece a importância da graduação que fizeram para a própria vida (75%), passando a sentir-se mais qualificadas, conscientizandose de que apenas a graduação não é suficiente, sendo preciso estudar mais para continuar a se desenvolver pessoal e profissionalmente. Algumas entrevistadas passaram a se sentir mais qualificadas para exercer suas atividades profissionais. Outras se sentiram mais confiantes, realizadas, sentindo-se que se tornaram diferenciadas, com mais conhecimentos, aptas a estarem entre as pessoas qualificadas. Além disso, serviram de incentivo para outras pessoas estudarem (5%), conforme dados da TAB. 3. Tabela 3 – Sentimento despertado nas entrevistadas ao graduarem-se Item discriminado % Sente-se melhor em termos de qualificação. 75 Sente-se melhor qualificadas para exercer suas atividades profissionais. 25 Sente-se mais confiante. 10 Sente-se realizada. 10 Percebeu que têm coisas que não se aprende na graduação. 10 Constatou que as IES precisam aliar os conteúdos a prática. 10 Sente-se insegura para assumir algumas atividades profissionais. 10 Acredita que adquiriu muitos conhecimentos. 5 Sente-se frustrada por não conseguir emprego. 5 Consegue estar entre as pessoas qualificadas. 5 Tornou-se diferenciada. 5 Tornou-se um incentivo para outras pessoas estudarem. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Observa-se, ainda, na TAB. 3 que duas entrevistadas ressaltaram que não aprenderam muito na graduação, o que, em alguns casos, despertou sentimento de insegurança quanto à realização de algumas atividades profissionais. Uma 64 entrevistada se sentiu frustrada por não conseguir emprego. Acredita que as IES devem aliar os conteúdos às atividades práticas do mercado de trabalho. Verifica-se que a maioria das entrevistadas percebeu mudanças em seu próprio saber após se capacitarem e se graduarem. Também, perceberam ser importante qualificarem-se continuamente, conforme se verifica nos relatos a seguir: [...] eu me sinto mais segura! Eu percebo que hoje eu tenho uma qualificação, que se eu participar de um processo seletivo de empresa eu saio na frente por causa da faculdade. [...]. Segura, confiante, com certeza! Hoje, eu não tenho medo, por exemplo, de perder o emprego. Eu sei que eu não vou ficar desempregada. Eu tenho essa confiança. (E6) [...]. mudou bastante como pessoa, sabe, porque no ensino médio você tá ali. Eu saí direto do ensino médio pra faculdade. Então, assim, no ensino médio você tá ali praticamente obrigado, e na faculdade, não. Na faculdade, estuda quem quer, está quem quer. Me trouxe muita responsabilidade nesse sentido, sabe, porque só depende de mim [...]. (E8) No começo, me senti insegura. A prática é diferente. E se você não tiver uma boa formação, acaba passando vergonha. Tinha feito estágios e ajudou muito. Me considero uma boa advogada. Mas a gente só aprende de verdade fazendo. (E10) Verifica-se a partir dos dados expostos que a graduação desencadeia mudanças nos âmbitos profissional e individual das mulheres pesquisadas. Dessa forma, podese dizer que a educação, conforme salientam alguns autores (SANTOSH, 2013; RAJANKAR, 2013), contribui para o empoderamento de mulheres. De acordo com os dados apresentados na TAB. 3, a qualificação está possibilitando às mulheres ocuparem outros espaços nas organizações e saírem de uma posição de vitimização, conforme salientou a E8. Com base nos resultados apresentados na TAB. 4, percebe-se que a maioria das entrevistadas continua estudando e se capacitando após a graduação, que algumas fizeram pós-graduação lato sensu, que duas fazem mestrado e que duas optaram por fazer uma segunda graduação e cursos preparatórios para concursos públicos. De outro lado, algumas relataram que não estão fazendo nenhum curso de qualificação. Destas, duas manifestaram o desejo de fazer pós-graduação, uma pretende ingressar no mestrado e outra no doutorado, no intuito de aperfeiçoar e aumentar seus conhecimentos dentro na área de atuação. 65 Tabela 4 – Educação continuada Item discriminado % Continua se qualificando 55 Não continua estudando 40 Fez pós-graduação lato sensu 25 Faz mestrado 10 Faz outra graduação 10 Faz cursos preparatórios para concurso público 10 Pretende fazer pós-graduação na área de atuação 10 Pretende fazer mestrado 5 Pretende fazer doutorado 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Verifica-se que o desejo de qualificação contínua está presente no grupo pesquisado. Os extratos a seguir ilustram a percepção das entrevistadas no que se refere à valorização da capacitação: Estou cursando Engenharia Civil para aprimorar meus conhecimentos técnicos, já que meu trabalho é desenvolvido juntamente com engenheiros. (E1) Continuo. Eu continuo fazendo curso sempre para aperfeiçoar, tipo pósgraduação, curso de atualização jurídica, sempre cursos relacionados na área do Direito. [...]. (E9) [...] se você quer adquirir um conhecimento maior, você não pode parar, né. Minha mãe acha até que eu sou doida, porque eu não paro de estudar: “Menina, para de estudar!” (E11) Sim, continuo. Fiz pós, eu fiz curso. Lá na empresa oferece curso. Eu faço os cursos que estão lá. Eu fiz pós, fiz alguns cursos por conta própria mesmo que eu queria fazer, tipo CPA, que eu tinha que fazer porque banco exige. Aí eu fui e fiz. Exige assim, né. Não exige, é bom ter. Aí, eu vou fazendo. (E20) Constatou-se a partir dos relatos das entrevistadas que elas reconhecem a importância da graduação para sua vida e que precisam continuar estudando e se capacitando para se desenvolverem profissional e pessoalmente, tanto que a maioria está fazendo algum curso de qualificação. Aquelas que ainda não fazem, indicaram o desejo de fazer em breve. Pode-se inferir diante desses achados que a capacitação das entrevistadas por meio da graduação contribuiu para a trajetória profissional delas, o que pode ter conscientizado estas mulheres quanto à necessidade de se qualificarem continuamente, para reduzir outras barreiras tradicionalmente impostas a elas. 66 Segundo Bourdieu (2007), melhorar os níveis educacionais das mulheres é uma das melhores maneiras de modificar sua condição na sociedade. Decorreram daí alterações em seu posicionamento no seio familiar e social, assim como na forma de enxergar a si mesmas nesses contextos. Esses achados corroboram as ideias apresentadas pelo Fórum Econômico Mundial (2005), Louro (2011), Santosh (2013) e Rajankar (2013) ao afirmarem que por meio da educação as ideias produzidas, reproduzidas e incorporadas socialmente sobre os sexos podem ser alteradas. Nota-se que, ao se qualificarem, as entrevistadas passaram a se sentir um pouco mais confiantes e realizadas tanto individualmente quanto no contexto profissional. 5.2.2.2 Valorização do conhecimento Dos relatos das entrevistadas emergiram as seguintes subcategorias características da valorização do conhecimento: os conhecimentos adquiridos na graduação provocaram mudanças individuais; e, também, na forma de se posicionar na família e na sociedade. No que tange às mudanças ocasionadas pelos conhecimentos adquiridos na graduação, a maioria significativa das entrevistadas (85%) relatou que os conhecimentos provocaram mudanças na forma de se posicionar diante da própria vida, nos âmbitos individual, familiar e social. Segundo essas entrevistadas, os conhecimentos provocaram mudanças individuais e alteraram sua percepção em relação a si mesmas. Elas se sentiram valorizadas e em uma posição privilegiada. Nos âmbitos familiar e social, passaram a questionar os comportamentos dos maridos, a ajudar as pessoas com o conhecimento que adquiriram, a opinar, a incentivar os filhos a estudarem, a se sentirem aceitas e respeitadas no grupo social e se tornarem independentes financeiramente. Para algumas entrevistadas, os conhecimentos adquiridos por meio da graduação aumentaram sua bagagem intelectual; para outras, alteraram sua visão e seu ponto de vista a respeito de determinados assuntos; para 20%, ampliaram suas perspectivas de vida; para 20%, mudaram completamente a sua vida; para 20% 67 contribuíram para o crescimento pessoal; e para 20% amadurecimento. Algumas entrevistadas passaram a se sentirem mais confiantes e a definir a própria vida, perspectivas e sonhos. Duas mobilizaram-se em prol de seus desejos e passaram a ter autoestima elevada, conforme detalhado na TAB. 5. Tabela 5 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida pessoal Item discriminado Mudou a forma das entrevistadas de se posicionarem em âmbito individual, familiar e social. Aumentou a bagagem intelectual. Modificou a visão e o ponto de vista sobre determinados assuntos. Ampliou as perspectivas de vida das entrevistadas. Mudou completamente a vida das entrevistadas. Contribuiu para o crescimento pessoal. Fez com que amadurecessem. Sente-se mais confiante. Contribuiu para definir a vida, perspectiva e sonhos. Passou a correr atrás de suas coisas. Tem autoestima elevada. Não houve mudanças na vida pessoal. Sente-se frustrada por não conseguir emprego. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 85 40 35 20 20 20 20 15 10 10 10 5 5 mais As entrevistadas consideram os conhecimentos adquiridos fundamentais para começarem a posicionar-se diante da própria vida, da família e da sociedade, conforme fragmentos das falas das entrevistadas a seguir: Todo e qualquer tipo de conhecimento sempre é de grande importância para as definições de nossas vidas, perspectivas e sonhos. (E1) A inserção em grupos de pessoas antes “fechados”, uma outra visão para vida. Ampliou os horizontes. (E4) Nossa!!! Mudaram completamente a minha vida. É uma mudança que acontece de dentro pra fora, entende? A minha maneira de enxergar o mundo mudou completamente, a forma de me posicionar frente a tantas questões da minha vida, tanto no nível individual quanto no convívio com as outras pessoas. Eu passei a me sentir mais aceita e respeitada [...] dentro do meu grupo social, dos meus amigos, da igreja que eu frequentava na época. [...] mas essa questão da minha percepção em relação a mim mesma mudou muito. Eu passei a me sentir mais....é...mais valorizada...Eu acho que é isso. [...] antes eu achava que eu tinha que aceitar determinados comportamentos do meu marido, e depois eu comecei a questionar e a não aceitar, porque me fazia mal e eu não me sentia mais na obrigação de aceitar, entende? (E5) Bom, acho que ampliaram muito a minha visão. Eu sempre trabalhei assim. Comecei a trabalhar com 14 anos, né, fora. Eu trabalhava com [...] antigamente, assim, eu comecei como menor aprendiz, né. Então, eu acho que eu tive uma experiência muito bacana profissional por trabalhar em áreas diferentes, coisas diferentes, mas acho que eu precisava ter uma 68 parte teórica. Claro que todo mundo necessita para poder entender, compreender melhor a realidade, né [...]. (E2) As mudanças desencadeadas pelo aumento do conhecimento no posicionamento das entrevistadas em relação a si mesmas e frente ao seu grupo social refletem as repercussões do aumento dos conhecimentos e da qualificação no processo de empoderamento de mulheres. Os dados desta pesquisa confirmam a perspectiva de empoderamento proposto por Deere e León (2002), ao enfatizarem que ele está relacionado à conquista do controle sobre a própria vida, com a possibilidade de fazer escolhas segundo a sua própria vontade, em um contexto que apenas aos homens era conferido esse direito. Pode-se dizer também que assumiu o sentido de emancipação, que trata da conquista do controle e da busca pelos próprios interesses. 5.2.2.3 Conhecimento versus oportunidade Dos relatos das entrevistadas emergiram as seguintes subcategorias características do conhecimento versus oportunidade: algumas entrevistadas sofrem discriminação dentro das organizações; outras não percebem tratamentos diferenciados na atividade profissional por serem mulheres; e há aquelas que percebem a importância dos conhecimentos adquiridos para a progressão carreira. Para 15% das entrevistadas as mulheres ainda recebem tratamentos diferenciados dentro das organizações em que trabalham pelo fato de serem mulheres; para 15%, os homens possuem maiores chances no mercado de trabalho do que as mulheres; para duas, existem no mercado de trabalho áreas predominantemente masculinas; para duas, existem diferenças salariais entre homens e mulheres para os mesmos cargos; para duas, há discriminação pelo fato de terem filho; e para duas, a capacidade das mulheres é testada o tempo todo, conforme apresentado na TAB. 6. Das entrevistadas, duas ressaltaram que por serem mulheres sofrem muita pressão no trabalho, são discriminadas independente do conhecimento que possuem, sofrem 69 assédio sexual e moral, possuem menor confiança dos clientes e são percebidas como frágeis. Citaram, também, que os homens tentam se impor perante elas. Tabela 6 – Desigualdades de gênero no ambiente de trabalho Item discriminado As entrevistadas ainda sofrem discriminação. O conhecimento que as pessoas possuem é mais importante do que ser homem ou mulher. Os homens possuem mais chances no mercado de trabalho. A mulher ainda sofre em algumas áreas que são essencialmente masculinas. Existem diferenças salariais. Ter filhos talvez faça diferença para as mulheres. Testa a capacidade da mulher o tempo todo. Em serviços que requerem atenção, a mulher pode ter melhores desempenhos. Em algumas áreas, ser nova atrapalha mais do que ser mulher. As clientes preferem ser atendidas por mulheres. Ser mulher tem benefícios. A mulher tem algumas habilidades e comportamentos melhores do que os homens. Onde trabalhou sempre tiveram mais mulheres do que homens em cargos altos. Ser mulher em algumas circunstâncias ajuda e em outras atrapalha. Mulher passa mais confiabilidade para o juiz do que homem. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 15 15 15 10 10 10 10 10 10 10 5 5 5 5 5 mais A TAB. 6 mostra que duas entrevistadas salientaram que em determinados serviços que requerem atenção a mulher pode ter melhores desempenhos; duas, que algumas clientes preferem ser atendidas por mulheres em detrimento dos homens; 5%, que ser mulher tem benefícios; 5%, que possuem algumas habilidades e comportamentos melhores do que os homens; 5%, que onde trabalham a maioria dos cargos de chefia é ocupada por mulheres; 5%, que ser mulher às vezes ajuda e em outras atrapalha; e 5%, que a mulher passa mais confiabilidade para os juízes. Há entrevistadas que não percebem tratamentos diferenciados na atividade profissional por serem mulheres. Algumas ressaltaram que no ambiente de trabalho consideram como importante o conhecimento que as pessoas possuem, e não o fato de ser homem ou mulher; e duas enfatizaram que ser nova na função que desempenha atrapalha mais que ser mulher, conforme TAB. 6. Os dados descritos na TAB. 6 são demonstrados nos relatos a seguir: Nestes oito anos de trabalho, sempre percebi nitidamente a dificuldade que temos para conseguirmos nos destacar e provar nossa capacidade para o mercado. Sempre foi notório que os homens têm mais facilidade e aceitação no mercado de trabalho. Por estar trabalhando no mercado de construção 70 civil há sete anos, este fato é ainda mais forte, por ser uma área predominantemente masculina. [...]. (E1) Bom, faz. Eu acho que, apesar da gente ter avançado muito, né, no mercado, nós ainda temos, ainda sofremos em algumas áreas que são essencialmente masculinas ainda, a gente ainda sofre muita pressão, discriminação [...]. (E2) Sim, eu percebo muito diferença, principalmente dentro de sala de aula. A gente que é mulher sofre muitos preconceitos pelos alunos. Eles ficam provando a sua capacidade o tempo todo, te testando mesmo, sabe? E uma coisa muito difícil também é o assédio moral e sexual que a mulher sofre, principalmente dentro de sala de aula, né? É difícil lidar com isso, escutar alguns tipos de comentários preconceituosos, maliciosos... É muito desagradável. (E5) Principalmente, quando você nega alguma coisa, eles querem se impor, principalmente homem quer se impor por eu ser mulher. Começa a querer falar mais alto para tentar intimidar. [...] eles acham que por ser mulher e frágil eu vou aumentar o tom de voz que eu consigo o que eu quero. (E12) Verificou-se, ainda, que existem tratamentos diferenciados para homens e mulheres, característicos de uma sociedade patriarcal nas organizações em que trabalham. Existem diferenças salariais, áreas predominantemente masculinas e menores chances de crescer na hierarquia da organização para as mulheres em relação aos homens. Estes resultados corroboram a proposição feita por Amaral (2012) ao salientar que, mesmo conquistando novos papéis, como a inserção no mercado de trabalho, ainda se atribui às mulheres papéis tradicionais de gênero. O percentual de entrevistadas que ressaltaram que não percebem diferenças de tratamento entre homens e mulheres onde trabalham ficou próximo do das entrevistadas que percebem discriminações de gênero. Os argumentos utilizados pelas entrevistadas para neutralizar as desigualdades de gênero no trabalho foram as mesmas apontadas por Rosa (2003), Maruani e Hirata (2003). Segundo as autoras, as mulheres inicialmente justificavam sua entrada no mercado de trabalho salientando os conhecimentos adquiridos por meio da graduação, tentando neutralizar a condição feminina nas relações de gênero. Posteriormente, elas justificam sua presença no mercado de trabalho ressaltando suas competências femininas, na tentativa de neutralizar sua condição feminina no mercado de trabalho. As justificativas utilizadas pelas entrevistadas para adentrar no mercado de trabalho podem ser percebidas nos relatos a seguir: 71 [...] minha capacidade vem do meu conhecimento, e não do meu gênero. (E3) [...] Eu acho que as relações são idênticas, até porque, pelo menos na minha área, é o conhecimento que você vai ser avaliada através do conhecimento, não porque você é homem ou mulher. (E9) Para as entrevistadas que não percebem desigualdade de tratamento entre homens e mulheres nas organizações em que trabalham o que importa no trabalho são os conhecimentos e a capacitação de uma pessoa, e não o gênero dela. Os dados da TAB. 7 ressaltam a importância dos conhecimentos adquiridos na graduação para a progressão na carreira, pois após se graduarem a maioria das mulheres entrevistadas teve melhores oportunidades profissionais; algumas adquiriram conhecimentos sobre várias áreas dentro da Administração de Empresas; outras sentiram-se mais competentes para realizar suas tarefas no trabalho; e três tornaram-se mais capaz intelectualmente. Para algumas entrevistadas, contribuiu para ter melhorias financeiras, para se sentirem mais aceitas, mais respeitadas, mais confiantes no ambiente de trabalho e ter uma melhor postura profissional. Segundo uma, não houve mudança na sua vida profissional; e para outra não precisaria ter um curso superior para ter sucesso profissional, conforme apresentado na TAB. 7. Tabela 7 – Importância dos conhecimentos adquiridos para a vida profissional Item discriminado % Contribuiu para ter melhores oportunidades profissionais. 65 Entende sobre várias áreas dentro da Administração de Empresas. 30 Sente-se mais competente para realizar as tarefas no trabalho. 25 Tornou-se mais capaz intelectualmente. 15 Teve melhorias financeiras. 5 Sentiu-se mais aceita dentro do ambiente de trabalho. 5 Sentiu-se mais respeitada dentro do ambiente de trabalho. 5 Sentiu-se mais segura. 5 Melhorou a postura profissional. 5 Percebeu que eu não precisaria de um curso superior para ter sucesso profissional. 5 Não houve grandes mudanças, pois não conseguiu nenhum emprego nessa área. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa 72 A partir desses resultados, pode-se dizer que o aumento dos conhecimentos das mulheres entrevistadas ampliou suas oportunidades de avançar na carreira. Isso representa um avanço para a posição delas no espaço organizacional, tendo em vista as desigualdades de gênero a que estão sujeitas, e no âmbito educacional, pois tiveram uma deficiente formação nos ensinos fundamental e médio. A importância dos conhecimentos adquiridos por meio da qualificação na vida profissional das entrevistadas pode ser comprovada pelos seguintes relatos: Sem dúvidas o curso me permitiu um conhecimento amplo de todas as áreas da Administração de Empresas, abrindo a minha cabeça para as tantas perspectivas e diferentes oportunidades dentro da área. Os conhecimentos adquiridos me deram uma base para o início da minha vida profissional. [...]. (E1) Bom, mudaram radicalmente, porque a partir do momento que eu entrei na faculdade, que eu comecei... Ah! Não foi literalmente a partir do momento que eu entrei, mas depois que eu entrei comecei a ter oportunidades melhores profissionais, né. Comecei a pegar estágios em áreas que antes da graduação eu não poderia. Antes de ter entrado no curso, eu não poderia ter pego, né, e tive boas oportunidades a partir mesmo do curso. Então, para mim foi extremamente importante. (E2) Através dos estudos que consegui meu atual cargo [...]. (E3) Minha carreira é uma crescente até hoje. Eu não trabalhava. Trabalhava fazendo bico, e tudo. Aí, quando eu entrei aqui, eu já comecei a fazer estágio. Só que o salário do estágio também não estava dando. Aí, eu consegui um emprego numa empresa pequena [...]. [...] Então, eu acredito que a minha carreira vai continuar sendo uma crescente, porque eu busco, eu procuro. Não parei ainda, né, mas o benefício que trouxe para mim foi esse. [...]. (E8) [...] durante o curso mesmo eu consegui um emprego na área com um salário melhor do que antes, né, de quando eu comecei a estudar. (E13) Constata-se que os conhecimentos que as entrevistadas adquiriram na graduação contribuíram para minimizar as dificuldades básicas que elas enfrentavam: a de formação, pois cursaram o ensino médio em colégios públicos com ensino deficitário; e ainda, a financeira que vivenciaram no seio familiar. Dessa forma, conforme salientado por Bourdieu (2007), a educação é um propulsor de mudanças na vida das mulheres e, principalmente, de seu empoderamento em vários âmbitos da vida: educacional, profissional, individual, econômico e social. Conforme salientam Cyrino (2009) e Amaral (2012), as mulheres estão gradativamente conquistando espaço na sociedade. 73 Em síntese, a análise do empoderamento cognitivo analítico (MELO, 2012) das mulheres entrevistadas apresentou as seguintes contribuições: a) Em relação à valorização da capacitação, houve mudanças na qualificação das entrevistadas após se graduarem. Elas sentem-se melhores nesse sentido, pois tiveram consciência da importância da qualificação continuada para sua vida, tanto que fazem outros cursos ou, ainda, manifestaram o desejo de fazer; b) Quanto à valorização do conhecimento, os conhecimentos adquiridos na graduação desencadearam a consciência nas entrevistadas quanto a sua realidade e modificaram a forma de se posicionarem socialmente; c) No que tange aos conhecimentos versus oportunidades, as entrevistadas tiveram melhores perspectivas de carreira após se qualificarem. Constatou-se que ainda persistem desigualdades de gênero no ambiente de trabalho: diferença salarial entre homens e mulheres para os mesmos cargos e áreas predominantemente masculinas. Segundo Bourdieu (2007), essas desigualdades refletem a dominação masculina e a desvalorização da mulher ainda presente nesse ambiente. Tendo em vista os resultados explicitados nas tabelas, bem como os estratos das entrevistas analisadas por meio do fator cognitivo analítico (MELO, 2012), pode-se inferir que as mulheres entrevistadas empoderaram, pois, ao investirem em capacitação, obtiveram mudanças significativas na qualificação e na vida profissional e pessoal. De modo geral, a educação pode ter contribuído para que as entrevistadas tivessem maiores possibilidades de progredir na carreira e conscientização da sua real condição na sociedade e das relações de gênero. 5.2.3 Subjetivo Neste fator, analisam-se os aspectos referentes ao empoderamento psicológico das mulheres entrevistadas. Trata-se das experiências subjetivas, as quais se refletem em seus sentimentos, como autoconfiança, autoestima, autodeterminação, e na crença na própria capacidade. Verifica-se a forma como a mulher decide e faz suas 74 escolhas e, ainda, os significados que elas atribuem a suas atividades (MELO, 2012). Neste fator, foram analisados os aspectos referentes ao significado da atividade, da competência reconhecida, da autodeterminação e de seus impactos na percepção das entrevistadas. 5.2.3.1 Significado da atividade A partir dos relatos das entrevistadas emergiu uma subcategoria característica do significado da atividade: o trabalho desperta sentimentos positivos nas entrevistadas. A TAB. 8 apresenta os dados referentes aos sentimentos que o trabalho desperta nas entrevistadas. Verificou-se que o trabalho desperta sentimentos positivos na maioria significativa das entrevistadas (70%), segundo elas o trabalho representa uma atividade prazerosa, desperta sentimento de felicidade, de realização e de dignidade. Para algumas, representa a base para outras conquistas pessoais; para três, representa crescimento profissional; e para outras três, desperta sentimentos negativos, conforme discriminado na TAB. 8. Tabela 8 – Significado da atividade profissional para as entrevistadas Item discriminado % Desperta sentimentos positivos. 70% É a base para outras conquistas pessoais. 25% Representa crescimento profissional. 15% Desperta sentimentos negativos. 15% Não respondeu 5% Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa A atividade profissional das entrevistadas reflete nos sentimentos delas. Despertando o sentimento de realização, conforme ressaltaram algumas mulheres pesquisadas: Minha atividade profissional me faz muito feliz e realizada, permitindo aliar a gestão com a parte técnico-comercial, o que me agrada muito. (E1) 75 Além de ser relevante financeiramente, me faz sentir realizada. (E3) Gosto da minha profissão. Tenho prazer do que faço. (E7) Eu gosto de trabalhar, e a área que eu estou me permite não cair na rotina essas coisas. Sempre tem uma coisa diferente acontecendo, e eu gosto do que eu faço. Trabalho hoje para mim é a base das minhas conquistas [...]. (E8) É uma realização, porque é um sonho de família que a gente vem construindo há mais de dez anos, e o negócio está expandindo e a gente quer expandir mais ainda. Então, é como se estivesse com um sonho realizado. (E14) Eu gosto muito do que eu faço entendeu. Então, assim, tem um leque. Como que eu vou te explicar? Tem uma importância muito grande para mim o que eu faço, porque eu sempre gostei disso de moda, dessas coisas assim, entendeu. Então, eu sinto realizada, entendeu. (E15) Realização. É uma realização porque com ela eu consegui muita coisa [...] Então para mim foi uma realização, sabe. Eu comprei o meu carro com o meu dinheiro. Fui eu que juntei. Então, assim, tudo que eu conquistei tudo veio do meu dinheiro. Eu ainda posso ajudar em casa [...] (E20) O trabalho das entrevistadas consiste em uma atividade de significado para elas, pois provoca mudanças tanto em nível individual, despertando sentimentos de realização e felicidade, quanto em nível social, contribuindo para o crescimento profissional delas e para a obtenção de melhorias financeiras. Essas opiniões manifestadas pelas respondentes têm respaldo em Stromquist (1997) e Costa (2004) quando enfatizam que os sentimentos desenvolvidos nas mulheres mudam sua condição nos âmbitos individual e social, pois atuam no campo subjetivo do sujeito. 5.2.3.2 Competência reconhecida A partir dos relatos das entrevistadas emergiram algumas subcategorias características da competência reconhecida: as entrevistadas não se sentem capazes de ocupar qualquer cargo dentro da área de qualificação após se graduarem; sentem-se capazes de realizar tarefas ligadas ao atual cargo com as experiências; os conhecimentos e as habilidades adquiridas na graduação e na pósgraduação não favoreceram o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança pessoal nas entrevistadas. 76 Quanto ao sentimento de capacidade de galgar qualquer cargo dentro da área de qualificação após se graduarem, nota-se, a partir dos dados desta pesquisa, que a maioria significativa das entrevistadas (70%) não se sente capaz de galgá-los; que algumas sentem-se capazes de ocupar qualquer cargo dentro da área de atuação; e que outras acreditam que é necessário adquirir experiência para sentirem-se preparadas para ocupar qualquer cargo dentro da área de formação. Tabela 9 – Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de qualificação Item discriminado % Não 70 Sente-se capaz de galgar qualquer emprego da área de atuação 30 Precisa adquirir mais experiência para sentir-se preparada 20 Sente-se mais capaz do que as pessoas que não são graduadas 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Nos depoimentos a seguir, verifica-se a percepção das entrevistadas quanto ao sentimento de capacidade de conquistar qualquer emprego dentro da área de qualificação, após se graduarem: Somente com a graduação, não. Acredito que o que realmente faz a diferença é o nosso empenho e dedicação no trabalho, que, efetivamente, nos permite aprimorarmos nossos conhecimentos práticos e ir galgando por patamares cada vez mais elevados. (E1) Não, não mesmo. Acho que a graduação é um instrumento fantástico. São quatro anos que a gente fica se debruçando ali sobre muitos temas. Exatamente por serem tantos temas que você não tem capacidade para atuar em todas as áreas [...] Agora, eu acho que a qualidade do profissional também não está relacionada só com a graduação que ele optou, mas muito pelo esforço dele, pelo perfil dele. Se ele quer fazer, se ele se joga mesmo naquilo ali que ele está se propondo e se vira, dá um jeito. (E2) Não. Eu acho que eu ainda tenho que ter muita experiência, aprender muita coisa, porque só a faculdade não é suficiente para querer me candidatar a qualquer vaga. Precisa de experiência mesmo. (E13) Ainda em relação à competência reconhecida, identificou-se nos depoimentos das entrevistadas que após se graduarem elas se sentem capazes de realizar atividades ligadas ao cargo que ocupam, conforme fragmentos de suas falas: Sim. Hoje me sinto preparada para a atual posição que exerço. Com um mercado em que as mudanças são cada vez mais frequentes e rápidas, há 77 uma necessidade sempre de aprimorar e reciclagem do conhecimento, de forma que uma dose de insegurança faz bem, para não ficarmos estagnados. (E1) Sinto, sinto muita segurança. Eu tenho por princípio nunca pegar uma disciplina ou uma área que eu realmente não conheça. Se eu não tenho domínio do que eu vou fazer, se eu não tenho domínio do que eu vou falar, eu não entro em sala de aula para isso (E2) Sim, tenho segurança no meu trabalho. (E3) Sim. Tenho pleno conhecimento e domínio da minha área de atuação profissional e das tarefas que desempenho. (E7) Na área que eu atuo, sim. (E9) A partir dos resultados apresentados na TAB. 9 e do discurso das entrevistadas, verificou-se que a maioria significativa não se sente capaz de conquistar diferentes cargos em sua área de qualificação apenas com a graduação. Ressaltaram que é necessário aprimorar seus conhecimentos práticos para, em seguida, galgar outros cargos. Dessa forma, pode-se dizer que somente a graduação não desperta o sentimento de autoconfiança nem de elevada autoestima nas entrevistadas o suficiente para ocuparem diferentes cargos. As entrevistadas julgam necessário adquirir experiência prática, além da necessidade da educação continuada. Identificou-se, porém, que algumas mulheres pesquisadas possuem sentimentos de autoconfiança na realização de suas atividades profissionais cotidianas após a graduação. Dessa forma, pode-se dizer que a graduação é um primeiro passo para um possível empoderamento. Ainda no que tange à competência reconhecida, com base na TAB. 10, verificou-se que a graduação não favoreceu o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança pessoal para a maioria significativa das entrevistadas (75%). Ou seja, não houve mudanças na autoconfiança nem na autoestima dessas mulheres. É natural que mulheres graduadas sintam-se mais desenvolvidas intelectualmente que as mulheres que não são graduadas (35%). As entrevistas mostraram que duas sentem-se mais confiantes e com autoestima elevada. Outras entrevistadas ressaltaram que, na medida em que o estudo as torna diferenciada e mais respeitada, sua opinião passa a ser considerada, possuem mais 78 expectativa de crescimento em relação a tudo e decidem qual caminho desejam seguir. Outras entrevistadas salientaram que possuem visão diferenciada em relação às pessoas que não fazem um curso superior e maior expectativa de ter melhorias financeiras. Tabela 10 – Sentimento despertado nas entrevistadas por ter um curso superior Item discriminado % Favoreceu o desenvolvimento de elevada autoestima e segurança pessoal. 75 Sente-se mais desenvolvida intelectualmente. 35 Sente-se confiante. 10 Possui autoestima elevada. 10 Acredita que se tornou mais diferenciada. 5 Acredita que se tornou mais respeitada. 5 Ao cursar o mestrado sua opinião passou a ser considerada. 5 Sente que tem mais expectativa de crescimento em relação a tudo. 5 Passou a decidir qual caminho quer seguir. 5 Quem não tem curso superior é limitado financeiramente. 5 A visão de uma pessoa que tem um ensino superior difere daquela que não possui. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Os relatos a seguir refletem os sentimentos despertados nas entrevistadas perante as outras pessoas por terem se graduado em um curso superior: Normal. Não me tornei melhor que ninguém por isso. (E3) [...] eu acho que o curso superior, ele não é, ele é um diferencial, é um bom grau que você tem a mais, mas não é só ele que conta, porque muita gente também tem. As pessoas estão tendo acesso à universidade, um acesso fácil à universidade. [...]. (E8) Não sinto diferença nenhuma. Nunca achei diferença assim. [...] (E9) Eu não me sinto superior. Superior não no sentido de arrogância, não. É lógico que eu sinto assim que eu sou um pouco, que eu tenho mais conhecimento do que os outros [...]. (E11) Constata-se a partir dos fragmentos acima que a graduação não modificou a autoestima nem a autoconfiança da maioria das entrevistadas. No entanto, provocou mudanças na competência. Algumas entrevistadas perceberam que se tornaram mais competentes, mais desenvolvidas intelectualmente com a graduação. Verifica-se a importância da educação para o desenvolvimento de competências nas entrevistadas, as quais refletem diretamente na capacidade delas de galgar qualquer 79 emprego em sua área de atuação e, ainda, contribuem para projetarem suas carreiras profissionais e ocuparem outros postos de trabalho. Segundo Bourdieu (2007, p. 126), o acesso ao ensino superior permite às mulheres ter a oportunidade de desenvolver novas competências, o que contribui para que haja mudanças nas estruturas das organizações e na posição delas na divisão do trabalho. Segundo o autor, a partir da capacitação “há um forte aumento da representação de mulheres nas profissões intelectuais ou na administração e nas diferentes formas de venda de serviços simbólicos”. 5.2.3.3 Autodeterminação A partir dos dados desta pesquisa, emergiram algumas subcategorias características da autodeterminação, a saber: as entrevistadas pretendem passar em um concurso público; outras pretendem trabalhar por conta própria; e algumas querem continuar se qualificando em busca de outras possibilidades de trabalho em sua área de qualificação. Os dados da TAB. 11 apontam o planejamento profissional na percepção das entrevistadas. Tabela 11 – Planejamento profissional Item discriminado % Passar em um concurso 35 Trabalhar por conta própria 25 Qualificar-se mais para ter outras oportunidades em sua área de qualificação 25 Tornar-se professora 20 Trabalhar em outras áreas 20 Ocupar a posição que ocupa hoje 10 Fazer um processo seletivo para entrar no doutorado 10 Crescer mais profissionalmente 10 Continuar trabalhando em sua empresa e fazê-la crescer 10 Trabalhar em uma empresa 10 Graduar-se em arquitetura 5 Não se planejou profissionalmente 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Verificou-se que algumas entrevistadas pretendem passar em concurso público. Para isso, já fazem cursinhos para tal, o que é demonstrado nos seguintes relatos: 80 [...] pretendo continuar estudando para concurso público e montar um negócio próprio. (E4) Passar em um concurso, trabalhar por conta própria [...]. (E3) Ainda no que tange ao planejamento da própria carreira, constatou-se que outras entrevistadas pretendem trabalhar por conta própria; ou seja, abrir o próprio negócio, conforme se observa nos relatos: Me especializar sempre, abrir um escritório com algumas colegas da faculdade e ganhar dinheiro. É o objetivo de todo mundo. (E10) [...]. Minha família tá pensando em montar uma construtora mesmo, né, uma empresa nessa área de construção lá em Esmeraldas e trabalhar junto com a empresa da família, e sozinha também, né, para pegar algum outro trabalho adjacente e trabalhar nessa área sozinha porque aí eu já estou mais independente, né. O curso me dá essa possibilidade de trabalhar independentemente de outra empresa ou não. [...]. (E11) [...] eu sempre pensei algo de ser empreendedora, né, e sempre na área da beleza, porque eu também sou formada em estética. Então, eu larguei a estética para fazer a graduação, e eu sempre falei: “Eu vou fazer Administração para abrir meu próprio negócio e administrar meu próprio negócio” [...]. (E16) Das entrevistadas, algumas ressaltaram que pretendem continuar se qualificando em busca de outras possibilidades de trabalho em sua área de qualificação; outras pretendem se tornar professoras, pois acreditam ser uma profissão que permite ter mais qualidade de vida; e outras querem trabalhar em outras áreas, conforme depoimentos a seguir: Eu pretendo estudar mais, cada vez mais. Pretendo fazer outras graduações. [...] para conseguir outras realizações pessoais, entendeu, e na área de Direito, continuar estudando, se possível, para conseguir. No Direito, seria somente para conseguir um cargo melhor, um trabalho melhor. [...]. (E9) Olha, fazer um concurso da minha área de interesse e fazer um mestrado, porque o mestrado, na verdade, vai acrescentar na minha área acadêmica, mas é porque eu pretendo trabalhar na área acadêmica também, então. (E19) Olha, eu quero. Dentro da empresa, eu já estou um tempinho já. Eu quero adquirir mais conhecimento nessa área. Eu quero aumentar muito, porque eu ainda tenho muita coisa para aprender ali. Então, eu estou sugando ao máximo tudo que eu posso aprender, e depois que eu aprender tudo que eu tenho, talvez eu tente uma outra área ou busque uma outra empresa [...]. (E20) 81 Diante destes achados e considerando as proposições acerca da autodeterminação feita por Melo (2012), pode-se dizer que somente algumas entrevistadas possuem sentimento de autodeterminação. A procura por concursos públicos por parte das entrevistadas pode justificar-se pela forma de ingresso nessa profissão. Os processos seletivos de concursos públicos geralmente não pedem experiência e as competências exigidas dos candidatos são testadas por meio de provas, e não de experiências práticas anteriores dos candidatos, conforme ocorre nas organizações privadas. Assim, o processo seletivo dos concursos pode ser um atrativo para mulheres, diante das desigualdades que vivenciam na sociedade devido ao papel delas nas relações de gênero. Segundo Sorj (2004), as chances das mulheres no mercado de trabalho, nas carreiras e nos salários são definidas a partir da posição diferenciada que ocupam na sociedade e, principalmente, nos âmbitos doméstico e familiar. Outro fator que pode justificar a ânsia das entrevistadas em passar em um concurso público é a estabilidade que essa área/setor garante. Muitas vezes, nas organizações privadas as mulheres são demitidas quando engravidam ou simplesmente não são contratadas pela possibilidade de terem filhos. Assim, a estabilidade garantida em um cargo público, independente de ser homem ou mulher, pode explicar o motivo pelo qual as entrevistadas buscam ingressar no serviço público. A pretensão das entrevistadas de trabalhar por conta própria pode ser uma estratégia para evitar vivenciar as desigualdades de gênero presentes nas organizações, pois ter o próprio negócio lhes possibilita ter acesso a áreas que lhes são restritas nas outras organizações. Sobre a pretensão das entrevistadas de serem professoras, a justificativa utilizada por elas – busca por qualidade de vida – pode ser reflexo das dificuldades que encontram para conciliar trabalho remunerado e trabalho doméstico. Conforme salientam Sorj (2004), Chies (2010) e Amaral (2012), mesmo após se inserirem no mercado de trabalho, às mulheres compete todo o trabalho doméstico. E esse 82 acúmulo de atribuições acaba comprometendo sua saúde física e emocional, gerando sentimentos de improdutividade em ambos os afazeres (AMARAL, 2012). A busca das entrevistadas em se tornarem professoras pode ser justificada também pela característica feminina dessa profissão, segundo Chies (2010), pois remete aos papéis tradicionais da mulher na sociedade. Costa (2006) também ressalta que o papel da mulher na sociedade, tendo em vista as questões de gênero, engloba a atividade de ensinar/educar. 5.2.3.4 Impacto percebido na organização A pesquisa revelou que o principal aspecto que caracteriza o impacto percebido na organização associa-se ao reconhecimento organizacional positivo das entrevistadas pelo trabalho que desenvolvem. Conforme apresentado na TAB. 12, a maioria significativa das entrevistadas (70%) é reconhecida positivamente pela organização em que trabalham; três por promoção; três pela função que desempenham; três pela qualidade do trabalho que desenvolvem. Mas algumas não se sentem reconhecidas no ambiente organizacional. Tabela 12 – Reconhecimento dentro da empresa, na percepção das entrevistadas Item discriminado % É reconhecida positivamente pela organização. 70 Não se sente reconhecida na empresa. 25 Sente-se reconhecida, pois é promovida. 15 Considera reconhecida pelas funções que desempenha. 15 Sente-se reconhecida pela qualidade do trabalho que desenvolve. 15 Não respondeu. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Os depoimentos das entrevistadas a seguir demonstram como acontece o reconhecimento delas pela empresa: Hoje, vejo que tenho maior reconhecimento dentro das empresas que trabalhei em virtude de um bom trabalho desenvolvido. (E1) 83 Meu reconhecimento é bom. Quando eu entrei, eu acho que ainda tinha muita. As pessoas ainda me olhavam assim muito de lado, pelo fato, né, como eu falei, de ser muito nova e tal. Mais depois quando você vai entrando, mostra o seu trabalho e tudo mais as pessoas vão ganhando mais respeito por você [...]. (E2) Na época, tive o reconhecimento [...] através de uma promoção. [...]. (E4) Sou, sou reconhecida [...]. “Ó gerente eu quero o curso tal, tal, tal”. Não, liberado. Não tem nem o que questionar. “Pra que este curso? O que que você vai fazer com esse curso?” Ele não questiona, ele já libera. Então, assim, isso, querendo ou não, é um reconhecimento. Foi um reconhecimento quando aumentou meu salário. Também foi um reconhecimento, foi um mérito meu. E a forma também de tratamento, é totalmente diferente. Então, você percebe que é reconhecida assim.[...] (E6) Nossa! Tem tanto tempo que eu estou aqui. Eu acho que é através do meu trabalho desempenhado, né. Acho que é através disso. (E13) Pode-se inferir a partir destes resultados encontrados referentes ao impacto percebido que estas mulheres estão influenciando e contribuindo para os resultados organizacionais por meio do trabalho que desenvolvem. Observa-se, também, que, além de terem adentrado/ melhorado de posição no mercado de trabalho, as entrevistadas estão sendo reconhecidas, o que demonstra avanço no que tange ao seu posicionamento nesse ambiente. Pode-se dizer que as mulheres estão tendo mais oportunidades e responsabilidades nas organizações. Ao conquistar novos cargos na hierarquia organizacional, as mulheres passam a ter acesso a algumas responsabilidades inerentes às funções que desempenham e ao trabalho que desenvolvem. Conforme enfatiza Rosa (2003), além de entrar no mercado de trabalho, elas buscam igualdade de direitos, de oportunidades e de responsabilidades. No fator subjetivo (MELO, 2012), foi possível encontrar aspectos importantes, conforme explicitados a seguir. No que tange ao significado da atividade para as entrevistadas, identificou-se que o trabalho consiste em uma atividade de grande significado para elas, pois desperta sentimentos positivos, como de realização e de felicidade e contribui para fazerem outras conquistas. Dessa forma, pode-se dizer que o trabalho possui um significado positivo para as mulheres pesquisadas, pelo fato de desencadear várias mudanças, tanto na forma como elas se percebem quanto no seu posicionamento na sociedade. 84 Quanto à competência reconhecida, verificou-se que após se graduarem, as entrevistadas não se sentem capazes de ocupar qualquer cargo em sua área de qualificação. Constatou-se que elas se sentem inseguras para ocupar outros cargos na hierarquia organizacional. Diante do sentimento de incapacidade dessas mulheres, mesmo após melhorar seus níveis educacionais, pode-se dizer que talvez elas precisem continuar estudando para que haja modificações mais profundas nesse sentido. Conforme salienta Rajankar (2013), a melhora dos níveis educacionais das mulheres pode desencadear mudanças radicais em sua forma de pensar e de agir. No que tange à autodeterminação, verificou-se que somente algumas mulheres pesquisadas já escolheram quais atividades profissionais pretendem desenvolver no futuro. Algumas até já definiram estratégias para alcançá-las. Em relação às atividades profissionais que planejam desenvolver (planejamento profissional), observa-se que algumas pretendem passar em concursos públicos, trabalhar por conta própria e tornar-se professoras. Essas profissões podem ser reflexo do papel de gênero das mulheres na sociedade. Em relação ao impacto percebido, observa-se que as entrevistadas sentem-se reconhecidas pelas organizações onde trabalham, pois mudaram de cargo ou função por desenvolverem um bom trabalho. Assim, por meio do trabalho que realizam as mulheres pesquisadas contribuem para os resultados organizacionais. Quanto ao empoderamento subjetivo (MELO, 2012) das mulheres pesquisadas, observou-se que as experiências educacionais e profissionais que tiveram interferiram em seus sentimentos. A graduação não desenvolveu elevada autoestima, autoconfiança e autodeterminação nas entrevistadas. As mudanças nesse sentido foram bastante restritas, elas se sentem inseguras em relação a algumas atividades relacionadas à sua área de qualificação. O trabalho para estas entrevistadas consiste em uma atividade que desperta sentimentos positivos. E, também, fonte de reconhecimento pela organização devido ao trabalho que desenvolvem. 85 Não houve empoderamento psicológico completo. O curso superior não favoreceu o desenvolvimento de uma autoestima e de uma segurança pessoal nas entrevistadas. Houve algumas modificações apenas no que tange à autoestima e à autoconfiança das entrevistadas no que tange a sua atividade profissional. Dessa forma, pode-se dizer que não houve total empoderamento subjetivo das mulheres entrevistadas. Além do teto de vidro, as mulheres enfrentam também outras barreiras para se ascenderem nas organizações. É o sticky floor, também denominado “chão pegajoso”, que as mantém agarradas na parte inferior na hierarquia organizacional (WIRTH, 2002). Pode-se dizer que a falta de crença das entrevistadas na própria capacidade e a inexistência de elevada autoestima fazem com que elas permaneçam em cargos de baixa hierarquia, recebam menores salários e não tenham acesso ao poder. 5.2.4 Político Neste fator, analisaram-se o acesso das mulheres a cargos de representação e direção e às relações de poder mais equilibradas, a consciência das diferenças entre gênero, a construção de alianças e estratégias para o desenvolvimento da carreira e a busca de autonomia profissional (MELO, 2012). Assim, neste fator, foram analisados os aspectos referentes a vivência das relações de poder no espaço organizacional, percepção e consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e acesso à informação, alianças e estratégias desenvolvidas para a própria carreira, autonomia e legitimação organizacional. 5.2.4.1 Vivência das relações de poder no espaço organizacional A partir dos dados desta pesquisa surgiram algumas subcategorias características da vivência das relações de poder no espaço organizacional, a saber: o poder é centralizado em poucas pessoas onde trabalham; e elas estão na subordinação. 86 Na TAB. 13 são apresentados os resultados referentes aos jogos de poder no ambiente de trabalho. Para 60% das entrevistadas a possibilidade de exercer o poder nas organizações onde trabalham está centralizado em poucas pessoas. Dessa forma, poucos mandam e a maioria obedece. Ou seja, as decisões importantes e estratégicas da organização estão centralizadas em algumas pessoas no âmbito organizacional, existem desvio de poder, competições e a metáfora da violência está impregnada nas relações dentro da organização. Para algumas entrevistadas o chefe gosta de se impor; outras salientaram que as relações de poder seguem uma hierarquia definida nas funções e nos cargos; outras declararam que, na maioria das vezes, os cargos de poder são ocupados por homens; e duas salientaram que possuem abertura para participar e discutir ideias e projetos (TAB. 13). Tabela 13 – Relações de poder no ambiente de trabalho Item discriminado O poder está centralizado em poucas pessoas. O chefe gosta de se impor. Segue hierarquia definida nas funções e nos cargos. São os homens que geralmente assumem cargos de poder. Tem uma abertura muito grande para participação e discussão de ideias e projetos. Percebe as relações de poder pautadas na qualificação. O poder traz uma imagem muito importante para os funcionários. As pessoas que não se importam com esse tipo de relação se dão muito bem. O topo é bem solitário. Não existe abuso de poder. O poder é descentralizado. Não soube responder. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 60 20 15 15 10 5 5 5 5 5 5 5 mais Outras entrevistadas salientaram que as relações de poder onde trabalham são pautadas na qualificação, que quanto mais títulos, mais acesso ao poder e que ter acesso ao poder garante posicionamento diferenciado, solitário e bem reconhecido pelas outras pessoas. Segundo as entrevistadas, pessoas que têm facilidade de lidar com as relações de poder têm mais chances de sobressair nesse ambiente (TAB. 13). 87 Segundo relatado pela maioria das entrevistadas, a oportunidade de exercer o poder onde trabalham é restrito a algumas pessoas, conforme pode ser observado nas falas que seguem: Olha, eu acho que como qualquer outra empresa, né, Toda instituição de ensino é uma empresa comercial também, né, [...] as relações são as mesmas: tem o desvio do poder da mesma forma, têm as competições, tem a metáfora da violência impregnada em cada atitude, cada memorando, cada documento que circula lá dentro, como que fala, cerceando a nossa liberdade, tem a avaliação institucional [...]. (E2). Segue a estrutura organizacional da empresa de acordo com cada cargo e função. (E3) Na maioria das vezes, são os homens que assumem cargos de poder. Quando são assumidos por mulheres, ainda existe muita falta de respeito. (E4) Eu percebo que quanto mais conhecimento e títulos as pessoas têm mais elas acreditam que têm poder sobre outras pessoas, e elas se mantêm a um nível de distância das outras pessoas que não estão no mesmo patamar que elas, como se elas fossem mais importantes que as outras. (E5) Então, assim, e eu percebo o poder assim muito... Às vezes, dá um pouco de medo [...]. (E6) [...]. É tudo dividido. A responsabilidade, igual eu te falei, só em questão de ter assim aquela necessidade de resolver na hora que a gente resolver sozinhas, e sempre em conjunto. [...]. (E15) De acordo com Chies (2010), o papel social construído acerca da mulher remete-a à subalternidade e à dominação masculina. O autor enfatiza que esse papel é reproduzido no ambiente de trabalho, onde se pode observar a desvalorização do trabalho da mulher em relação ao trabalho do homem. O relato de uma das entrevistadas (E4) pode ser explicado pelos estereótipos elaborados acerca de cada gênero, em que o homem é símbolo de força, virilidade e poder e a mulher é símbolo de fragilidade, cuidados e submissão (BOURDIEU, 2007). Assim, o homem ocupando posições de poder é percebido como a “ordem natural das coisas”, tal como foi produzido e reproduzido pela sociedade. Já a mulher encontra dificuldades, pois precisa quebrar as barreiras dos preconceitos de gênero e o “teto de vidro” presente nas organizações (STEIL, 1997). A TAB. 14 mostra que a maioria significativa das entrevistadas (90%) ressaltou que é subordinada tendo por base a estrutura hierárquica onde trabalha, não participam da tomada de decisão e ocupam uma posição de subalternidade nas relações de 88 poder dentro das organizações; algumas salientaram que exercem o poder apenas no que tange a sua função; duas declararam que possuem autonomia para propor e discutir ideias. Tabela 14 – Posição das entrevistadas nas relações de poder onde trabalham Item discriminado % Está na parte de subordinação. 90 Segue a estrutura organizacional da empresa de acordo com cada cargo e função. 15 Tem autonomia para propor e discutir ideias. 10 Não tem autoridade sobre ninguém. 5 Sofre muito com as relações de poder. 5 Sente-se humilhada. 5 Sente-se triste com as relações de poder no trabalho. 5 Fica com baixa autoestima devido às relações de poder no trabalho. 5 Não respondeu. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Outras enfatizaram que as relações de poder no ambiente de trabalho interferem em seus sentimentos, que se sentem humilhadas, tristes, que sofrem, que tudo isso desencadeia baixa autoestima, e que não possuem autoridade sobre ninguém. Nesse sentido, pode-se dizer que as relações de poder no ambiente de trabalho influenciam negativamente o empoderamento psicológico das mulheres pesquisadas. Os resultados discriminados na TAB. 14 podem ser observados nos relatos das entrevistadas a seguir: [...]. Como que eu me insiro? Bom, eu estou dentro da organização. Então, eu tenho que navegar no meio dessa história aí, tentando, é, digamos me manter, né, mas com um mínimo de problemas possível. (E2) Eu estou na parte de subordinação, né? [risos] eu obedeço ordens e só repasso as ordens que são me passadas. Não tenho autoridade sobre ninguém, mas digo que sofro muito com essas relações de poder, já que muitas pessoas, por possuírem muito conhecimento, são grossas, ignorantes. Faltam até ao respeito com a gente. Humilham mesmo! (E5) Participo de todas as decisões da empresa. São tomadas pela coordenação e pela, com a gerência. Então, tem o gerente e três coordenadores, [...] aí, a gente senta para alinhar as decisões. (E6) [...] a parte mais fraca da relação, e acabo sempre saindo fora. Eu percebo que as pessoas que não se importam com esse tipo de relação, elas se dão muito bem assim. [...]. (E9) 89 No meu caso aqui é meu pai, né, que é o poderoso, o maior. É ele que comanda. A relação de poder é ele. Manda e a gente obedece. (E14) As entrevistadas são subordinadas nas organizações em que trabalham. Em relação à posição nas relações de poder nas organizações, Sorj (2004) afirma que as divisões de trabalho no âmbito familiar denotam e colaboram para a manutenção da subordinação de gênero em vários âmbitos da sociedade. A autora salienta que a partir da posição diferenciada no âmbito doméstico e familiar é que são determinadas as chances de cada um no mercado de trabalho, nas carreiras e nos salários. Ao se falar sobre relações de poder no ambiente de trabalho, as entrevistadas apresentaram dificuldades para discorrer sobre esse assunto. O que pode se observou é que elas faziam uma associação direta às pessoas que exercem o poder nas decisões, desconsiderando as pessoas que participam dessas relações como parte subordinada. A maioria das entrevistadas não sabia o que falar, pois, como identificado na pesquisa, não exercem o poder e não tem autonomia para propor e discutir objetivos e ideias em seu ambiente de trabalho. Identificou-se na maioria das entrevistadas certa limitação, receio, baixa autoestima, falta de segurança e constrangimento para falar sobre as posições hierárquicas em seu ambiente de trabalho. Isso pode ser explicado pela posição subalterna da mulher na sociedade, o que reflete em todos os âmbitos de sua vida. Segundo Bourdieu (2007, p. 54), “as próprias mulheres aplicam a toda a realidade, e particularmente, às relações de poder em que se veem envolvidas, esquemas de pensamento que são produto da incorporação dessas relações de poder”. As mulheres ajudam a reproduzir a dominação masculina na sociedade. O empoderamento político também pode explicar esse comportamento, já que se relaciona também com a acessibilidade das mulheres aos cargos de maior representatividade e direção, ao equilíbrio das relações de poder entre os gêneros, etc. (MELO, 2012). Diante disso, o que se observou foi o desequilíbrio das relações de poder no que se refere à atuação dessas entrevistadas no espaço organizacional. 90 5.2.4.2 Percepção e consciência das diferenças entre reconhecimento da mulher e o acesso à informação os gêneros, A análise dos dados desta pesquisa revelou que os principais aspectos que caracterizam a percepção e a consciência das diferenças entre os gêneros, o reconhecimento da mulher e o acesso à informação associam-se e que ainda persistem algumas desigualdades de gênero no ambiente organizacional, uma vez que os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres. A mulher precisa ser determinada, qualificar-se, saber liderar, ser dinâmica e ter postura firme para ocupar cargos elevados nas organizações e ter acesso a informações importantes e estratégicas na organização. No entanto, não tomam decisões. Conforme apresentado na TAB. 15, a maioria das entrevistadas não percebe preferência de gênero quando há disputa entre profissionais com as mesmas qualificações, ressaltando que as oportunidades são as mesmas. Para duas a preferência acontece em função da qualificação profissional das pessoas e para três há preferência por mulheres. Em contrapartida, conforme a TAB. 15, algumas das entrevistadas salientaram que o mercado de trabalho está totalmente voltado para o sexo masculino (40%). Segundo elas, as mulheres precisam provar a todas as pessoas e a todo o momento que são capazes de desempenhar seu trabalho. Para três, dependendo das tarefas que precisam ser desenvolvidas, há preferência por homens. Para duas as mulheres ainda enfrentam preconceitos, podendo estar relacionado à possibilidade de engravidarem, e para duas os homens são mais bem remunerados em relação às mulheres. 91 Tabela 15 – Preferência de gênero onde trabalha Item discriminado Não percebe preferência de gênero. Há preferência pelo sexo masculino. Percebe preferência por mulheres. Preferem homens para desenvolver determinadas tarefas (carregar caixas, subir escadas, trabalhar com vendas). Existe preconceito, talvez pela possibilidade de gravidez ou por ter filhos. O sexo masculino é mais bem remunerado. Depende da empresa. São as mesmas oportunidades. A preferência acontece em relação a qualificação profissional. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 50 40 15 15 10 10 10 10 mais A percepção das entrevistadas quanto à consciência das diferenças entre gênero no ambiente de trabalho pode ser identificada nos fragmentos de suas falas a seguir. [...] Não há preferencialismo. (E3) Não percebo diferença. O que conta é o título, o conhecimento e reconhecimento que essa pessoa tem, nacional e internacionalmente, não o sexo. (E5) São as mesmas oportunidades. A preferência acontece em relação à qualificação profissional. (E9) Muito pautada na base do respeito. Não há distinção de gêneros. (E18) [...]. Por estar trabalhando no mercado de construção civil há sete anos, este fato é ainda mais forte, por ser uma área predominantemente masculina. Na empresa que trabalhei por sete anos, embora tenha tipo boas oportunidades, acredito que caso fosse homem as oportunidades teriam vindo mais rapidamente do que ocorreu. (E1) Sim. Ainda existe o preconceito, talvez pela possibilidade de gravidez ou por ter filhos. (E4) Sim. O sexo masculino é melhor remunerado. (E7) Sim. O masculino, a não ser que a pessoa se diferenciasse muito, mas se estivesse no mesmo nível o masculino sempre iria. (E12) Conforme identificado na TAB. 15, nas organizações ainda há certa preferência por profissionais do sexo masculino, pois o percentual de entrevistadas que não percebem preferências de gênero foi bem próximo daquele de entrevistadas que percebem preferência por homens nas organizações. De acordo com Cyrino (2009) e Amaral (2012), a mulher enfrenta muitas discriminações no mercado de trabalho relacionadas ao crescimento hierárquico, à progressão na carreira e à equiparação salarial em relação aos homens. Os autores ressaltam que mesmo emancipada a 92 mulher luta contra os estereótipos definidos para ela na sociedade. Verifica-se que os depoimentos das entrevistadas corroboram as ideias apresentadas por Cyrino (2009) e Amaral (2012), pois algumas ainda sofrem discriminações de gênero no ambiente organizacional. Verificou-se, também, certa ingenuidade dessas mulheres pesquisadas, pois a maioria não percebe as desigualdades de gênero presentes no contexto organizacional. A TAB. 16 mostra algumas habilidades que as entrevistadas julgam essenciais nas mulheres para ocupar cargos elevados nas organizações, dentre elas destacam-se: ser determinada (40%), qualificar-se (35%), saber liderar (30%), ser dinâmica (25%), ter postura firme (25%), ter bom relacionamento interpessoal (20%) e ter controle de si mesma (15%). Para outras entrevistadas, é necessário ser organizada, proativa, paciente, motivadora, racional e segura, ter elevada autoestima, saber comunicar, ser centrada, valorizar a equipe, ser sensível e flexível, ter técnica, capacitar-se, ser imparcial e séria e saber lidar com as relações de poder, conforme discriminado na TAB. 16. 93 Tabela 16 – Habilidades essenciais nas mulheres para ocupar cargos elevados Item discriminado Ser determinada. Qualificar-se. Saber liderar. Ser dinâmica para ocupar cargos elevados. Ter postura firme. Ter bom relacionamento com as pessoas. Ter controle de si mesma. Ser organizada. Ser proativa. Ser paciente. Ser motivadora. Ser racional. Ser segura. Ter elevada autoestima. Saber comunicar. Ser centrada. Valorizar a equipe de trabalho. Ser flexível. Ter técnica. Capacitar-se. Ser imparcial. Ser séria. Saber lidar com as relações de poder. Não respondeu. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 40 35 30 25 25 20 15 10 10 10 10 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 mais As habilidades que as mulheres precisam ter para alcançar altos cargos na hierarquia organizacional, na percepção das entrevistas, podem ser visualizadas nos recortes das falas que seguem: Boa comunicação, é, organizada, dinâmica, é, centrada [...]. (E6) Eu acho que ela tem que ter pulso firme, tem que ser determinada. Mas pulso firme não quer dizer rigidez, não é oito, oitenta, é saber lidar com as situações do dia a dia, principalmente nessa área voltada pra gestão de pessoas [...]. (E8) Domínio próprio, técnica, espírito de liderança, bom relacionamento com as pessoas e paciência. (E10) A respeito das habilidades que as entrevistadas consideraram essenciais às mulheres para atingir patamares mais altos nas organizações, observou-se que elas ressaltaram algumas habilidades masculinas, tendo em vista os tradicionais papéis de gênero presentes na sociedade, como ser determinada, saber liderar, ter uma postura firme, ter controle de si mesma, ser racional e segura e ter elevada autoestima. Segundo Bourdieu (2007), as divisões constitutivas da ordem social 94 classificam as coisas do mundo tendo em vista a oposição definida entre o masculino e o feminino. Aos homens nessa divisão é reservado o lado externo, do oficial, público, viril, racional, seco. Cabe a eles realizar todos os atos breves, perigosos e espetaculares. Enquanto as mulheres são reservadas à resignação e à discrição, são atribuídos a elas os trabalhos domésticos, privados, pouco visíveis, vergonhosos e mesquinhos. Os dados da TAB. 17 apontam que a maioria significativa das entrevistadas (75%) tem acesso às informações importantes e estratégicas onde trabalha. Destas, apenas duas entrevistadas participam da tomada de decisão. Outras mulheres ressaltaram que não possuem acesso às informações. Tabela 17– Acesso às informações importantes e estratégicas na organização Item discriminado % Tem acesso às informações importantes e estratégicas na organização. 75 Não tem acesso a informações importantes e estratégicas da empresa. 20 Tem acesso a informações e participa da tomada de decisão. 10 Não soube responder. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Nos relatos a seguir, pode-se identificar a percepção das entrevistadas quanto ao acesso que possuem relacionados às informações importantes e estratégicas nas organizações em que trabalham. Sim, mesmo antes de assumir posição de gestão nas empresas já tinha contato e auxiliava nos planejamentos estratégicos, inclusive, com liberdade para propor alterações e análises. (E1) Tenho, infelizmente. Às vezes, eu não queria não, sabe, porque e ... pode até sair fora [...]. (E6) Sim. Todas nós compartilhamos tudo, tudo, tudo. (E14) É importante ressaltar que o fato de a maioria das entrevistadas ter acesso às informações importantes e estratégicas da organização não quer dizer que elas participam da definição de objetivos, metas e planos que envolvem essas informações. Como discutido no FEM (2012), essas mulheres não estão presentes nos altos níveis de tomada de decisão política da organização. Identificou-se que a maioria das entrevistadas possui o conhecimento, mas como já apresentado, elas 95 estão em posição de subordinação, não fazendo parte da estratégica da organização, exceto duas entrevistadas, que relataram participar da tomada de decisão. Constataram-se, com base nos dados desta pesquisa, no que tange à percepção e à consciência das diferenças entre os gêneros, reconhecimento da mulher e acesso à informação e que os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no mercado de trabalho. Para conquistar cargos de alta hierarquia organizacional, as mulheres precisam ser determinadas, qualificar-se, ter espírito de liderança, ser dinâmica, ter postura firme e saber relacionar-se com as pessoas. E, ainda, identificou-se que as mulheres pesquisadas possuem acesso às informações importantes e estratégicas onde trabalham. No entanto, não tomam decisões importantes. Percebe-se que houve modificações no posicionamento das entrevistadas nas organizações. Elas passaram a ter mais espaço neste meio. Contudo, ainda são notáveis as discriminações que enfrentam em função do gênero. Elas possuem restrito poder de decisão, precisam desenvolver habilidades masculinizadas para galgarem altos cargos, enquanto os homens possuem maiores oportunidades. 5.2.4.3 Alianças e estratégias para a própria carreira Com base nos dados desta pesquisa, identificou-se a seguinte subcategoria referente às alianças e estratégias para a própria carreira: é importante estabelecer alianças e estratégias para desenvolver-se profissionalmente. Conforme discriminado na TAB. 18, a maioria significativa das entrevistadas (85%) julga importante estabelecer alianças e estratégias para se desenvolver profissionalmente. Destas, algumas salientaram que é necessário manter bom relacionamento com as pessoas; outras ressaltaram que é importante estabelecer alianças com os pares; outras com superiores; e outras com outros especialistas. Duas julgaram que não é importante desenvolver alianças para progredirem na carreira. Segundo elas desenvolver profissionalmente depende da própria pessoa. 96 Tabela 18 – Alianças e estratégias realizadas para desenvolver profissionalmente Item discriminado Desenvolver alianças garante sempre portas abertas no mercado de trabalho. Deve ter bom relacionamento com as pessoas. Deve estabelecer alianças com os pares. Deve estabelecer alianças com os superiores. Ter contato com outros especialistas. Acredita que não precisa desenvolver alianças para se desenvolver profissionalmente. Desenvolver-se profissionalmente depende da própria pessoa. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 85 45 30 25 20 10 10 mais Os dados apresentados na TAB. 18 podem ser complementados a partir dos fragmentos das falas das entrevistadas a seguir: Ah! É importante você se estabelecer em uma rede de relacionamento interessante. E nem é só, porque há uma cultura muito forte, né, de que você precisa ter amigos que conheçam pessoas ou que sejam bem relacionados, e tudo mais, para você subir. [...]. (E2) Contato é tudo. Sem indicação continua sendo difícil alcançar um bom emprego. Devia ter estreitado mais laços na faculdade e em outros lugares. Mas aprendi com o tempo. É, um círculo um precisa do outro para dar certo. (E10) Ah! Sem dúvida. Quando você tem alguém que te indique, alguma coisa assim, fica mais fácil. (E13) Claro! Talvez não alianças, né, mas o convívio em qualquer área da vida ele é essencial, principalmente no Direito. No Direito, as pessoas indicam. Talvez seja por isso que eu não tenha conseguido um emprego ainda, porque eu não conheço, não tenho indicação, porque a questão mesmo da indicação é essencial. Nossa! Dentro do Direito então, essencial demais. (E17) Totalmente necessário. As alianças são sempre portas abertas no mercado de trabalho. (E18) Os resultados discriminados na TAB. 18 mostram que a maioria das entrevistadas tem consciência da importância de se fazer alianças, tanto no ambiente de trabalho (pares e superiores) como fora dele, a fim de manter relacionamentos que possam trazer benefícios para o desenvolvimento profissional e da carreira, conforme também foi enfatizado por Melo (2012). A importância de aliar-se a outras pessoas que possam contribuir para o trabalho ou para o desenvolvimento profissional está relacionada à dimensão política de empoderamento proposta por Stronquist (1997) e Costa (2004). Dessa forma, pode-se dizer que as alianças que as entrevistadas estão desenvolvendo podem contribuir para seu empoderamento político. 97 5.2.4.4 Autonomia A partir dos dados desta pesquisa, emergiu a seguinte subcategoria referente à autonomia: as entrevistadas possuem autonomia apenas no que tange a sua função na empresa. A TAB. 19 revela que a maioria das entrevistadas possui autonomia apenas no que diz respeito a sua função na empresa; algumas salientaram que possuem pouca autonomia; e três, até mesmo, nenhuma autonomia. Duas enfatizaram que têm autonomia para propor e discutir ideias, mas precisam ser aprovadas pela direção da empresa. Tabela 19 – Autonomia dentro da organização Item discriminado % Tem autonomia para as decisões relacionadas a função. 55 Tem pouca autonomia. 20 Não tem nenhuma autonomia. 15 Tem autonomia, mas às vezes precisa de aprovação da Diretoria. 10 Não respondeu. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Os depoimentos das entrevistadas mostram que elas possuem apenas autonomia no que tange à função, e não à organização como um todo, conforme relatos a seguir: Tenho autonomia para o que está relacionado à minha função. (E3) Pouca autonomia, superficial. (E4) Não tenho nenhuma autonomia. Aliás, tenho autonomia somente dentro de sala de aula, quando estou dando aula, mas isso é uma vez só por semana. Mesmo assim, a gente sabe que hoje a gente, como professor, não tem muita autonomia, né? [...]. (E5) Sim! Não todas, mas, né, porque existe... Nas minhas atividades praticamente todas, e porque a gerência fica em cima, e tem várias atividades que nós somos líderes, mas dentro do meu setor, praticamente todas. (E6) Na última zero, nenhuma, como eu te falei [...]. (E16) Em razão do cargo que ocupo hoje, minha autonomia é pequena. (E18) 98 A maioria das entrevistadas possui autonomia limitada, que se restringe a suas atividades, influenciando o trabalho de outras pessoas de forma restrita. Costa (2004) destaca que o empoderamento da mulher inclui seu poder de interferir e influenciar a vida de outras pessoas. Nesse sentido, pode-se dizer que as entrevistadas ainda não avançaram muito, pois sua autonomia no ambiente organizacional ainda é muito restrita. 5.2.4.5 Legitimação organizacional Quanto à legitimação organizacional, verificou-se a seguinte subcategoria: Ainda há preferência pelo sexo masculino no ambiente de trabalho. As mulheres enfrentam muitas dificuldades ao tentarem se legitimar no espaço organizacional, pois este espaço sempre foi reservado aos homens, ambiente predominantemente masculino. Conforme salienta Cacouault (2003), as tarefas e as profissões foram divididas de forma dicotômica, cuja característica reflete a tradição patriarcal predominante na sociedade. Dessa forma, algumas tarefas e atitudes são de domínio do homem e outras são de domínio da mulher. Rosa (1992) salienta que aos homens cabem o espaço público e a responsabilidade de prover financeiramente a casa, enquanto cabe às mulheres as responsabilidades referentes ao lar. Conforme apresentado na TAB. 20, algumas entrevistadas salientaram que os homens possuem maiores oportunidades no trabalho (45%). Algumas destas salientaram que, dependendo das atividades que precisam ser desenvolvidas, os homens possuem preferência. A preferência por homens retrata que, mesmo as mulheres conquistando novos papéis, ainda atribui-se a elas papéis tradicionais de gênero, conforme também enfatizou Amaral (2012). Identificou-se, ainda, que outras entrevistadas não percebem preferência de gênero no ambiente de trabalho (45%). Salientaram que a preferência nas organizações depende das competências que as pessoas possuem e da qualificação, e não do sexo (TAB. 20). 99 E, ainda, uma entrevistada ressaltou que as relações de gênero onde trabalha são caracterizadas pela disputa entre os gêneros. Outra salientou que as mulheres possuem mais oportunidades (TAB. 20). Tabela 20 – Relações de gênero no ambiente de trabalho Item discriminado % Os homens possuem mais oportunidades do que as mulheres no ambiente de trabalho. 45 Não há preferência de gênero no ambiente de trabalho. 45 Depende das qualificações, e não do sexo. 5 Preferem mulheres. 5 Há muita disputa entre homens e mulheres. 5 Não respondeu. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa Os depoimentos a seguir referem-se à percepção das entrevistadas quanto a sua legitimação organizacional. [...] eu percebo que ainda tem a questão de ser jovem e ser mulher. Então, eu acho que há uma certa resistência, um certo preconceito dos professores, principalmente dos mais velhos. Eu já trabalhei num curso. Tinha um coordenador, e ele não me chamava pelo nome, me chamava: Ô menina, menina, menina, menina [..]. (E2) Não vejo essa diferença de gênero, não. Por se tratar de um ambiente acadêmico, o que mais importa é o conhecimento e a qualificação do profissional. É o quanto ele é reconhecido [...]. (E5) [...] eu acredito que isso também vai muito do perfil do profissional. Igual, assim, para trabalhar onde eu trabalho é mais administrativo. Então, tem que ser uma pessoa com o perfil mais administrativo. Não adianta pegar uma pessoa com o perfil do campo. Não vai dar certo [...]. (E6) Algumas entrevistadas afirmaram que não existe preferência de gênero no ambiente de trabalho, enquanto outras ainda percebem preferências nesse sentido. A partir destes achados, pode-se dizer que, mesmo havendo algumas modificações na estrutura patriarcal da sociedade, ainda persistem as desigualdades e preferências pelo sexo masculino em determinados ambientes. Os privilégios do gênero masculino ainda são observados por algumas entrevistadas em seu ambiente de trabalho. Nesse sentido, as opiniões manifestadas pelas entrevistadas são respaldadas por Menezes (2013), que enfatiza que na sociedade ainda existe a discriminação de gênero, o que remete à exclusão econômica e 100 simbólica da mulher, já que, muitas vezes, seu desenvolvimento é freado pelas práticas sociais da dominação masculina (SIDRAMAPPA; ASTIGE, 2013). Os aspectos mais importantes identificados no fator político foram: a) Nas relações de poder estabelecidas no ambiente de trabalho, a maior parte das mulheres ocupa posição de subordinação. Isso que afeta sua autonomia no espaço organizacional, de forma que elas não participam da definição de objetivos importantes e estratégicos no ambiente de trabalho. Mesmo que elas possuam acesso a informações importantes e estratégicas na organização, seus poderes de decisão continuam restritos; b) As entrevistadas reconhecem a importância do desenvolvimento de alianças e estratégias para o crescimento profissional dentro e fora da instituição. Elas percebem preferência de gênero no ambiente de trabalho, reconhecendo que os homens possuem mais oportunidades; c) As mulheres têm um longo caminho a trilhar para alcançar o empoderamento político. 5.2.5 Econômico Este fator consiste na realização de atividades rentáveis pelas mulheres que garantam independência financeira, autonomia e participação nas despesas da família. Dá suporte à dimensão psicológica, ou seja, ao empoderamento subjetivo (MELO, 2012). Foram analisados os aspectos referentes às demandas e às oportunidades, a independência financeira e a perspectiva de carreira. 5.2.5.1 Demandas e oportunidades A partir da análise dos dados desta pesquisa, identificou-se que as demandas e as oportunidades encontradas pelas mulheres entrevistadas associam-se aos 101 problemas financeiros que enfrentaram, os quais mobilizaram as mulheres a tentar mudar a própria realidade; e à contribuição da graduação para adentrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e obter melhorias salariais e para reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserirem no mercado de trabalho. Conforme TAB. 21, a partir dos problemas financeiros que a maioria das entrevistadas enfrentou, elas se mobilizaram para mudar a própria realidade; Ressaltaram que foram incentivadas pelas mães a buscar sua independência financeira; e três salientaram que foram conscientizadas na graduação para buscarem sua independência. Outras entrevistadas buscaram ser independentes financeiramente, visando, adquirir bens materiais, sair da casa dos pais, participar das decisões familiares, melhorar de vida e ter uma vida financeira mais estável. Uma salientou ter sido incentivada pelo pai, enquanto outra foi incentivada pela avó (TAB. 21). Tabela 21 – Incentivo que teve para buscar independência financeira Item discriminado % Partiu de si mesma, devido os problemas financeiros que vivenciou. 65 Foi incentivada pela mãe. 15 Foi incentivada durante a graduação. 15 Foi incentivada pelo pai. 5 Foi incentivada pela avó a buscar a independência financeira. 5 A necessidade de adquirir bens materiais (carro, casa...). 5 Queria sair da casa dos pais. 5 Querer melhorar de vida. 5 Ter uma vida financeira mais estável. 5 Queria participar das decisões familiares. 5 Não respondeu. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa As entrevistadas mobilizaram-se em busca de independência financeira, principalmente por terem vivenciado dificuldades econômicas, o que pode ser confirmado nos relatos a seguir: Bom, incentivo na época, desde que eu comecei a trabalhar, foi a necessidade, por causa dos problemas econômicos. Uma época da vida, minha mãe começou a ter problemas de saúde. Ela teve que ficar licenciada por mais de um ano no trabalho, e Governo Federal é difícil. Ela teve uma queda no salário muito grande. A gente passou assim por uma época difícil. Então, eu comecei a trabalhar com 14 anos, mas eu comecei a trazer 102 dinheiro para casa aos 7 anos de idade, quando a gente começou a trabalhar vendendo salgado, doce e tudo que dava para fazer em casa de alimentos na rua para poder garantir ali alguma coisa. Então, por um longo período eu tinha que, eu saía todos os dias com as minhas coisas para vender, pensando que se eu não conseguisse não tinha dinheiro para comprar pão, não tinha dinheiro para comprar leite, não tinha dinheiro para comprar as coisas para comer, ou no final daquele dia, ou no dia seguinte. Então, o que me motivou a trabalhar tão nova assim foi a necessidade mesmo, e depois foi a vontade de crescer, a vontade de melhorar, a vontade de ter outra vida. (E2) Eu era solteira, família de doze filhos. Então, família muito grande, uma situação muito péssima. Então, querendo ou não, mulher tende a querer trabalhar rápido para adquirir suas coisas. [...]. (E12) Ah! Eu sempre busquei isso. Eu trabalho desde os 16 anos. Então, eu acho que eu tenho de mim essa motivação: eu sempre quis ser independente financeiramente. (E16) O fator que desencadeou a busca por independência financeira nas entrevistadas foram as dificuldades financeiras que vivenciaram. Pode-se dizer que as desigualdades inerentes à renda foram mais recorrentes nos depoimentos das entrevistadas. No entanto, identificaram-se aspectos de desigualdades de gênero que também induziram as mulheres pesquisadas a buscar a independência. Algumas entrevistadas foram incentivadas pelas mães a buscar sua independência, ressaltando que era para elas não dependerem do marido. Outra entrevistada disse ter buscado se tornar independente financeiramente visando participar da tomada de decisão familiar, justificativa também identificada nos dados desta pesquisa relacionada à busca pela independência visando reduzir algumas desigualdades de gênero vivenciadas pelas entrevistadas. Assim, pode-se dizer que as mães das entrevistadas, após serem subordinadas e dependentes financeiramente do marido, incentivaram as filhas a se tornarem independentes. Dessa forma, algumas entrevistadas foram incentivadas a se mobilizarem visando romper com os papéis específicos impostos às mulheres aos longos dos anos, reduzindo sua subordinação aos homens. A TAB. 22 mostra que a graduação foi a maior oportunidade que as entrevistadas tiveram para adentrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e obter melhorias salariais (70%). Essas oportunidades foram decisivas para elas se tornarem cada vez mais independentes financeiramente. Algumas entrevistadas 103 tiveram melhorias no seu poder aquisitivo, adquiriram bens materiais e passaram a controlar melhor seus gastos. Ressaltaram que a graduação não contribuiu para se tornar independente economicamente, 20%. Constatou-se ainda, que alcançar a independência financeira desencadeou sentimentos de elevada autoestima em uma entrevistada, conforme TAB. 22. Tabela 22 – Contribuição da graduação para a independência financeira Item discriminado % Foi fator decisivo para a mulher entrar no mercado de trabalho, galgar outros cargos e 70 obter melhoria salarial. Não contribuiu. 20 Aumentou sua autoestima. 5 Melhorou sua qualidade de vida. 5 Passou a controlar os gastos. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa Quanto à contribuição da graduação para a conquista da independência financeira, identificou-se que a graduação foi o fator decisivo para tal. Elas conseguiram ingressar no mercado de trabalho, tiveram oportunidade de ocupar outros cargos e melhorias salariais após se graduarem. Dessa forma, os resultados desta pesquisa corroboram a ideia enfatizada por Menezes (2013) de que o aumento dos níveis educacionais das mulheres significa mudanças nos padrões arraigados na sociedade e, principalmente, nas relações de gênero, pois as entrevistadas se tornaram mais independentes financeiramente e adentraram em espaços que tradicionalmente são de domínio masculino. A TAB. 23 revela que todas as entrevistadas salientaram que a graduação contribui para reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserir no mercado de trabalho e que duas ressaltaram que o diploma comprova que a mulher possui competências. Segundo as entrevistadas, a qualificação facilita a inserção das mulheres no mercado de trabalho, permite maiores e melhores oportunidades profissionais e lhes proporciona mais confiança e elevada autoestima. Possibilita, também alcançarem cargos tradicionalmente reservados aos homens, como os de alta hierarquia organizacional. 104 Tabela 23 – Facilidades desencadeadas pela graduação no mercado de trabalho Item discriminado % A graduação facilitou sua inserção no mercado de trabalho. 100 O diploma comprova que ela tem competência. 10 Ao qualificar, a mulher consegue se inserir em ambientes que antes não conseguia. 5 Deixa a mulher mais confiante. 5 Eleva a autoestima da mulher. 5 Sente-se mais segura. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os achados apresentados na TAB. 23 e conforme apontado por alguns autores (LOURO, 2011; RAJANKAR, 2013), a educação desencadeia o processo de empoderamento de mulheres. No que tange às demandas e às oportunidades relativas ao fator econômico (MELO, 2012), observou-se que as entrevistadas foram impulsionadas a buscar independência financeira a partir das dificuldades econômicas que vivenciaram e do incentivo da mãe. Identificou-se que a graduação que fizeram foi essencial para se tornarem um pouco mais independentes e, também, para reduzir alguns bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserirem no mercado de trabalho. 5.2.5.2 Independência financeira Constatou-se que o trabalho para as entrevistadas relaciona-se principalmente à busca de se tornarem independentes financeiramente e ao fato de ainda não se sentirem realizadas economicamente. Conforme discriminado na TAB. 24, a principal motivação que orienta a maioria significativa das entrevistadas a trabalhar é a independência financeira (70%). A busca pela independência financeira pode ser sintetizada pela necessidade de alcançar segurança econômica e romper com a dependência em relação aos pais e com a limitação econômica que bloqueava seu crescimento. Para algumas das entrevistadas, o trabalho desperta sentimento de autorrealização e para outras, de utilidade. Outras ressaltaram que gostam de trabalhar e que os trabalhos as deixam felizes. 105 Ressaltaram que o trabalho desperta nelas o sentimento de realização profissional, independência, confiança e faz com que elas cresçam pessoalmente (10%, cada uma). Tabela 24 – Razão pela qual trabalha Item discriminado % Trabalha pelo retorno financeiro. 70 Trabalhar lhe faz sentir realizada. 35 Trabalhar lhe faz sentir útil. 25 Porque gosta de trabalhar. 20 Trabalhar lhe deixa feliz. 20 Por realização profissional. 15 Trabalhar para ser independente. 10 Trabalhar lhe faz sentir segura/confiante. 10 Trabalha para crescer pessoalmente. 10 Gosta de conhecer determinada área mais profundamente por meio do trabalho. 5 Trabalha para não se sentir submissa. 5 Trabalha para elevar a autoestima. 5 Trabalha para ter amizades e outros relacionamentos. 5 Trabalha para estar diante da sociedade. 5 Para ajudar nas despesas do lar. 5 Trabalha para passear, viajar. 5 Para ganhar experiência. 5 Para adquirir conhecimento. 5 Reconhecimento pessoal. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa Para algumas entrevistadas, trabalhar significa conhecer profundamente determinada área, não se sentir submissa, ter autoestima elevada, fazer amizades, participar da sociedade, ajudar nas despesas do lar, passear, viajar, ganhar experiências, adquirir conhecimento e ser reconhecida. As entrevistadas trabalham principalmente em busca de independência financeira, conforme fragmentos de suas falas: Por gosto e por necessidade financeira. (E1) Bom, né, a primeira coisa é o fator econômico. A gente precisa comer. Eu ainda não virei anjo, ainda preciso me alimentar, vestir, morar, ir no médico e tudo mais, tomar uma pilha de remédios. Então, eu trabalho para financiar isso tudo, e trabalho por que eu adoro trabalhar. Então, eu acho que, mesmo que eu tivesse condições de não fazer literalmente nada, eu continuaria trabalhando [...]. (E2) Hoje, o que consigo dizer é que trabalho por dinheiro. Atualmente, estou buscando uma atividade que tenha mais relação com o que eu gosto de fazer. [...]. (E8) 106 Os dados desta pesquisa demostram que as entrevistadas se tornaram um pouco mais independentes financeiramente, mas não totalmente. Elas veem o trabalho como uma forma de participar ativamente da família e da sociedade, além de permitir que mudem seus sentimentos de autoestima e autoconfiança. Conforme se identificou nesta pesquisa e de acordo com Kokatanur (2013), o empoderamento, a princípio, parte da equiparação econômica entre homens e mulheres, pois por meio da igualdade de condições econômicas, a mulher consegue romper em outras dimensões. Conforme Melo (2012), a independência financeira da mulher afeta as outras dimensões da sua vida, tornando-a mais segura e confiante e dando-lhe suporte para o empoderamento psicológico. Os dados apresentados na TAB. 25 referem-se ao sentimento de realização financeira das entrevistadas. Das mulheres pesquisadas, a maioria significativa ainda não se sente realizada economicamente (80%). Destas, algumas acreditam que a condição financeira sempre pode melhorar; duas que sua condição financeira atual ainda não possibilitou seu acesso a bens materiais como, ter uma casa ou um carro; duas sentem-se realizadas economicamente; e uma salientou se sentir humilhada por não ter uma boa condição financeira. Tabela 25 – Sentimento de realização econômica despertado nas entrevistadas Item discriminado % Não se sente realizada economicamente. 80 Acredita que pode melhorar. 20 Precisa ganhar mais dinheiro para adquirir bens materiais (casa, carro...). 10 Sente-se realizada economicamente. 10 Sente-se humilhada por outras pessoas por não ter uma boa condição financeira. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa Identificou-se nesta pesquisa que as mulheres entrevistadas não se sentem realizadas economicamente, conforme expressam seus relatos: Em se tratando de termos financeiros, sempre busco melhorar minha situação, mas há um ano consegui uma melhoria salarial que me permite viver melhor. No entanto, ainda não conquistei minha casa própria e por isto ainda estou em busca de melhorias e economia visando esta conquista. (E1) 107 Ainda não. Ainda tem coisas que eu quero fazer. É, por exemplo, eu ainda moro com a minha mãe. Eu quero ter o meu apartamento, é viagens, coisas que eu quero fazer. Então, realizada, plenamente realizada, ainda não [...]. (E2) Os depoimentos das entrevistadas revelam que elas ainda não se sentem realizadas com a atual situação financeira. Pode-se inferir que, devido ao fato de dependerem de outras pessoas e de estarem buscando incessantemente ter melhorias salariais, essas mulheres estão buscando se empoderar psicologicamente a partir da independência financeira (empoderamento econômico). No que se refere à independência financeira das entrevistadas, identificou-se que elas não se sentem totalmente realizadas neste quesito, pois ainda não possuem casa própria nem carro. Elas estão tentando também, por meio da independência econômica, empoderar-se psicologicamente, pois há outras repercussões, como ocorreu nos sentimentos das entrevistadas. 5.2.5.3 Perspectiva de carreira A partir dos dados desta pesquisa, verificou-se que a perspectiva de carreira das entrevistadas estava relacionada a: graduação como fator decisivo para suas perspectivas no campo profissional, como entrar no mercado de trabalho, conquistar outros cargos e obter melhoria salarial. Tendo por base a TAB. 26, constatou-se que antes da graduação as perspectivas de carreira para algumas entrevistadas eram mínimas; Que para duas eram de desenvolverem-se intelectualmente; que para duas eram de ter qualidade de vida; e que para outras eram de conquistar bens materiais. Uma entrevistada sonhava em ter o próprio negócio e outra pretendia conseguir emprego relacionado a sua área de qualificação. Outras entrevistadas pretendiam ter um bom salário, ocupar um bom cargo, construir carreira em uma instituição financeira e outra sonhava passar em um concurso público. Constatou-se, ainda, que uma entrevistada não se sentia capaz de ocupar um bom emprego; outra 108 achava que seria fácil encontrar um emprego após a graduação; e outra não sabia em que área gostaria de trabalhar (TAB. 26). Tabela 26 – Perspectivas e planos no campo profissional antes de graduar-se Item discriminado Eram mínimas suas perspectivas no campo profissional antes de se graduar. Desenvolver-se intelectualmente, independente da área. Ter qualidade de vida. Conquistar bens materiais. Ter o próprio negócio. Pretendia conseguir um emprego que fosse relacionado sua graduação. Ter um bom salário. Ter um cargo bom. Seguir carreira em uma instituição financeira. Passar em um concurso público. Achava que nunca iria conseguir um bom emprego. Pensava que fosse ser mais fácil arrumar emprego após graduar. Não sabia em que área gostaria de trabalhar. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa % 30 10 10 10 5 5 5 5 5 5 5 5 5 mais Os dados apresentados na TAB. 26 podem ser complementados a partir dos depoimentos das entrevistadas a seguir: Minhas perspectivas sempre foram o desenvolvimento intelectual, independente da área que estivesse, já que antes da graduação não sabia exatamente em que área gostaria de trabalhar. Foi somente na faculdade que tomei gosto pela gestão e me vi exercendo tal atividade a partir de tal momento. (E1) Eram mínimas, sem expectativas.[...]. (E4) Ah! Não tinha muitas, não. Eu trabalhava em uma indústria farmacêutica e era auxiliar administrativo, apesar dos meus superiores elogiarem muito o trabalho que eu realizava. Eu trabalhava com as artes dos materiais de embalagem da empresa, mas eu não via muitas possibilidades de ascensão, não, porque, para ocupar os cargos mais altos, era necessário a graduação, e eu não tinha, né. Então, as minhas perspectivas eram baixas. Não tinha muitos planos no campo profissional, não. Me sentia limitada pela falta do curso superior. (E5) Percebe-se que as entrevistadas enxergavam na graduação uma perspectiva de mudança de vida. Isso reforça o que alguns autores afirmam sobre a educação como forma de desencadear o processo de empoderamento de mulheres. O acesso à educação influencia a melhoria de vida, o acesso a direitos fundamentais e a conquista de autonomia, além de provocar mudanças nas relações patriarcais (FEM, 109 2005; BOURDIEU, 2007; LOURO, 2011; SANTOSH, 2013; RAJANKAR, 2013; KOKATANUR, 2013), como pode ser identificado na percepção das entrevistadas. Em relação aos planos de carreira após a graduação, conforme mencionado no fator subjetivo, a partir da análise das entrevistas emergiram as seguintes subcategorias: passar em concurso público; ter seu próprio negócio; investir em mais educação; e tornarem-se professoras. A graduação fez com que novas perspectivas de vida surgissem para estas mulheres. O conhecimento despertou nelas o desejo de continuar progredindo e investindo em mais conhecimento, pois percebem que a educação é uma estratégia para conquistar melhores condições de vida e que para se destacarem precisam continuar investindo em educação. Em relação ao empoderamento econômico (MELO, 2012), citam-se como os aspectos mais importantes identificados neste fator: a) A maioria das entrevistadas não se sente completamente realizada economicamente, apesar de terem obtido melhorias financeiras, pois ainda não atingiram o patamar econômico que desejam; b) As mulheres pesquisadas reconhecem a contribuição da graduação para sua independência financeira e para a elaboração de planos e projetos futuros. Ressaltaram que antes de se graduarem as perspectivas de melhorar a qualidade de vida eram limitadas e que após a graduação tiveram maiores perspectivas para carreira profissional e para sua vida pessoal. Apesar de reconhecerem a contribuição da graduação, enfatizaram que, para galgarem posições mais elevadas, é necessário continuar investindo em educação. Pode-se inferir que a graduação financiada pelo Prouni desencadeou mudanças econômicas na vida das mulheres e que houve empoderamento econômico, pois, mesmo que elas ainda não tenham alcançado a independência financeira que almejam, como ter a casa própria, viajar e ter carro, a maioria arca com várias as despesas. 110 5.2.6 Social Este fator relaciona-se à conscientização da mulher quanto à forma como é reconhecida em seus âmbitos familiar, social e organizacional, demonstrando possíveis mudanças nas relações de gênero (MELO, 2012). Neste fator, foram analisados os aspectos referentes ao reconhecimento familiar, social e organizacional das entrevistadas. 5.2.6.1 Reconhecimento familiar Dos dados desta pesquisa emergiram as seguintes características do reconhecimento familiar das entrevistadas: o pai é a principal figura de autoridade dentro da família; e a graduação contribuiu para a capacidade das mulheres de discutir situações cotidianas. Considerando-se que a sociedade possui características patriarcais, predominando a dominação do homem e a subjugação da mulher, as entrevistadas vivenciaram esse dualismo em seu seio familiar. Conforme a TAB. 27, a principal figura de autoridade na família de algumas entrevistadas era o pai, com 45%. Seguem-se a mãe, 30%; o marido, 15%; e elas mesmas, 15%. Na família de uma entrevistada, a principal figura de autoridade era o padrasto; de outra, a avó. Uma entrevistada salientou que o poder de decisão é de quem detém conhecimento sobre o teor da decisão. Tabela 27 – Principal figura de autoridade dentro da sua família Item discriminado % O pai é a principal figura de autoridade dentro da família. 45 A mãe sempre foi a autoridade dentro de casa. 30 O marido. 15 Ela mesma. 15 O padrasto. 5 A avó. 5 O pai apoia financeiramente. 5 Decide quem detém conhecimento sobre o teor da decisão. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa 111 Verifica-se que as principais figuras de autoridade na família das mulheres pesquisadas foram masculinas, prevalecendo o pai, seguindo-se o padrasto ou o marido, conforme relatos a seguir: Meu pai! Minha mãe é totalmente dependente do meu pai. Eu acho que se um dia – Deus me livre e guarde o dê muitos anos de vida –, mas se meu pai falecer, ela vai focar tudo para mim. Minha mãe é assim, aquela figura, aquela mulher feminina que foi criada para ser submissa. Ela não consegue tomar decisão. Meu pai é que administra, faz tudo. Então, é mais meu pai, tanto que meu pai, é estranho, porque eu e minhas irmãs nós somos ao contrário [...]. (E18) Verifica-se que nas famílias das entrevistadas predominava a estrutura patriarcal, sendo ao homem reservado o poder, enquanto às mulheres/esposas era reservado apenas o cuidado com os filhos e a submissão ao cônjuge. Considerando a TAB. 28, identificou-se que o reconhecimento familiar das entrevistadas se refere à contribuição da qualificação para discutir situações cotidianas (80%). Algumas passaram a ajudar a família a tomar decisões. Além de representá-la em reuniões na sociedade, passaram a incentivá-la a controlar os gastos financeiros e a poupar dinheiro. Algumas entrevistadas passaram a influenciar as pessoas a sua volta por meio de suas experiências positivas e negativas, duas encorajam outras pessoas a buscarem seus objetivos e outras duas ajudam os amigos a tomarem decisões. Duas entrevistadas não perceberam mudanças em sua capacidade de influenciar pessoas. Tabela 28 – Capacidade das entrevistadas de influenciar pessoas, ao graduarem-se Item discriminado Contribui para melhor discutir situações. Passou a influenciar as pessoas por meio de suas experiências positivas e negativas. Ajuda os amigos a tomarem decisões. Não percebeu mudança na sua capacidade de influenciar as pessoas. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa % 80 30 10 10 mais As mudanças ocasionadas pelos conhecimentos adquiridos na graduação na capacidade das mulheres pesquisadas de influenciar as pessoas ao seu redor podem ser percebidas pelos relatos a seguir: 112 A qualificação e experiências sempre nos dão base para melhor discutir as situações. E, com a melhoria das posições de trabalho, o reconhecimento não vem somente do ambiente de trabalho, mas também nas demais relações que nos veem como exemplos. (E1) [...] eles não teriam muito por que discutir essas coisas comigo, né, e eu acho que depois que eu formei, e tudo mais, eles passaram a perceber [...] Então, todas as decisões mais críticas assim que ele tem que tomar na empresa ele vem atrás de mim. Meu irmão também. Até em decisões mais idiotas, tipo assim: “Ah! Nossa! Eu queria fazer a prestação tal. Você olha aqui para mim se é interessante tal [...]. (E2) Com base nesses depoimentos, pode-se dizer que as entrevistadas estão caminhando rumo ao rompimento de uma posição de subordinação no contexto familiar, pois passaram a influenciar as tomadas de decisão da família, o que antes era restrito aos homens, característica familiar típica de uma sociedade patriarcal, conforme apresentado na TAB. 28. Pode-se dizer a partir desses achados que a graduação desencadeia mudanças na estrutura patriarcal predominante na sociedade, conforme enfatizam Louro (2011), Rajankar (2013) e Santosh (2013). Bourdieu (2007) também ressalta que o acesso das mulheres ao ensino superior, além de desencadear a independência financeira delas, provoca mudanças nas estruturas patriarcais familiares. Assim, a partir dos dados desta pesquisa, tem-se que as mulheres começaram a ter acesso a espaços antes reservado aos homens na estrutura familiar. 5.2.6.2 Reconhecimento social Com base nos dados desta pesquisa, identificou-se que as entrevistadas sentiramse mais reconhecidas no grupo social após se graduar e que homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas, políticas e sociais na sociedade. A TAB. 29 apresenta as respostas das entrevistadas quanto às mudanças que ocorreram na forma de serem reconhecidas pelo grupo social ao se graduarem. Apurou-se que 80% das entrevistadas sentiram-se reconhecidas pelo seu grupo social, porque adquiriram novos conhecimentos e cultura, passaram a ser respeitadas e tratadas de forma diferente pelas pessoas a sua volta e tornaram-se exemplos a serem seguidos. 113 Salientaram que não percebem mudanças na forma de ser reconhecida pelo seu grupo social, 20%. Tabela 29 – Reconhecimento social das entrevistadas ao graduarem-se Item discriminado % Sentiu-se mais reconhecida positivamente no grupo social após se graduar. 80 Não se sentiu mais reconhecida em seu grupo social após se graduar. 20 Permitiu maior reconhecimento em todos os cenários. 5 Sente-se mais reconhecida porque adquiriu novos conhecimentos. 5 Sente-se mais reconhecida porque adquiriu cultura. 5 Facilitou a inserção no grupo social. 5 Passou a ser respeitada. 5 Não só por ser uma graduação, mas por mérito de conquista. 5 Se tornou um exemplo de autodeterminação a ser seguido. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa Observa-se nos relatos como as entrevistadas percebem o seu reconhecimento social, após se graduarem: Porque é outra coisa. Não tem jeito. Não adianta falar que é a mesma coisa. Não é. Você é percebida de uma forma diferente. Você consegue muito mais coisa do que você conseguia antes. Você é vista de outra forma na sociedade. Não é só eu quero ser vista diferente, quero ser percebida. Não é isso. Você vai conhecer, você vai ter um reconhecimento totalmente diferente. [...]. (E6) Eu acho que, querendo ou não, você adquire mais experiência. Você escuta outras histórias. Então, você querendo ou não, você traz para sua vida e traz para vida da outra pessoa também, né. Eu acho que com o conhecimento você consegue ter, como se fala, mostrar muito mais fácil para a pessoa que aquilo vai ser ruim, vai ser bom ou não naquele momento para ela. (E12) Esses achados reforçam o que Eyben (2013) enfatiza sobre empoderamento social quando afirma que ele está relacionado à forma como as mulheres são reconhecidas e respeitadas considerando o desejo que possuem, e não os que lhe são impostos pelos papéis tradicionais. Conforme apresentado na TAB. 30, 75% das entrevistadas salientaram que homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas; 65%, políticas; 60% sociais. Segundo as entrevistadas, as mulheres ainda sofrem preconceitos oriundos da tradição patriarcal. Salientaram que os homens possuem vantagens naturais, pois possuem melhores oportunidades econômicas, políticas e sociais. Os 114 homens dominam a política, recebem maiores oportunidades do mercado de trabalho e maiores salários e ocupam com mais facilidade altos cargos na hierarquia das organizações. No espaço doméstico, cabe a eles apenas prover financeiramente a família, conforme discriminado na TAB. 30. Segundo as entrevistadas, as mulheres têm acesso restrito à política, recebem salários menores, possuem restrita oportunidade no mercado de trabalho e acesso a altos cargos na hierarquia organizacional e precisam provar que são capazes a todo o momento no trabalho. Elas representam o sexo frágil, sofrem preconceitos ao tentar mudar tal realidade, são responsáveis pelo cuidado com o espaço doméstico e com os filhos, além de ter que ajudar nas despesas do lar (TAB. 30). Ainda com base na TAB. 30, identificou-se que duas entrevistadas ressaltaram que homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades econômica, política e social. Uma entrevistada até ressaltou que a mulher tem mais oportunidades que o homem. Tabela 30 – Oportunidades econômica, social e política na sociedade Item discriminado % Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades econômicas. 75 Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades políticas. 65 Homens e mulheres não possuem as mesmas oportunidades sociais. 60 No mercado de trabalho, os homens possuem mais oportunidades, a mulher ganha menos e 25 ocupa cargos inferiores. As mulheres ainda sofrem muitos preconceitos por causa da tradição da sociedade patriarcal. 20 Os homens têm vantagens naturais. 15 A política é dominada por homens. 15 Socialmente e economicamente, a mulher tem que provar sua capacidade para o mercado. 10 Acredita que está mudando. 10 Homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades sociais, políticas e econômicas. 10 Os homens se preocupam apenas em manter financeiramente a família, enquanto a mulher tem, 10 além dessa, outras preocupações, como com os filhos e o trabalho doméstico. A realidade é que a mulher tem mais oportunidade do que o homem. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa A partir dos relatos das entrevistadas, constatou-se que ainda persistem discriminações em função do gênero na sociedade, conforme os fragmentos a seguir: 115 Em nenhum dos quesitos... Ah! Profissionalmente, notório que os homens têm mais facilidade e aceitação no mercado de trabalho. Temos que provar nossa capacidade para o mercado, economicamente como consequência e politicamente. Assim, na sociedade também sofre preconceitos por buscarem liberdade, diferenciação [...]. (E1) Não. Não possuem. As mulheres ainda sofrem muitos preconceitos por causa da tradição da sociedade patriarcal. Os homens têm vantagens naturais. Isso é nítido. Para alguns cargos, os homens são os primeiros a serem cotados, porque as pessoas acham que existem características que são naturais dos homens, como a objetividade, a autoridade, a decisão, a segurança, a razão... Então, a mulher tem que provar muita competência para ocupar determinadas posições e conquistar o respeito em determinadas áreas. (E5) Pode-se dizer que estas mulheres tiveram maior reconhecimento social após se graduarem, mas ainda predominam na sociedade traços de uma sociedade patriarcal. Pode-se inferir a partir dos achados desta pesquisa que as mulheres pesquisadas, mesmo sendo reconhecidas pelo seu grupo social, ainda percebem o predomínio de aspectos culturais acerca dos gêneros, pois persistem as desigualdades econômicas, políticas e sociais. Os resultados confirmam o que foi enfatizado por autores: os papéis de gênero são difundidos e reafirmados continuamente por propagandas, imagens, brincadeiras, crenças, cultura, tradições, sistema educacional, leis, violência contra a mulher, divisão sexual e social do trabalho e instituições presentes na sociedade (ROSA, 2003; COSTA, 2004; BOURDIEU, 2007). A dominação masculina é reforçada pela objetividade das estruturas sociais e pelas atividades produtivas e reprodutivas, de tal maneira que as mulheres são excluídas e praticamente se tornam invisíveis nos âmbitos político, social, familiar, cultural e profissional (COSTA, 2004; MENEZES, 2013). O fato de duas mulheres perceberem mudanças nas relações de gênero na sociedade pode se justificar pelo aumento dos níveis educacionais delas. Conforme salientam alguns autores, quando as mulheres melhoram seus níveis educacionais passam a participar das decisões econômicas, sociais e políticas nos âmbitos social e coletivo (BOURDIEU, 2007; KOKATANUR, 2013). 116 5.2.6.3 Reconhecimento organizacional A partir dos dados desta pesquisa, emergiu a seguinte subcategoria característica do reconhecimento organizacional: as mulheres são reconhecidas nas organizações. Verificou-se que a maioria das entrevistadas é reconhecida nas organizações, principalmente por meio de promoções e melhorias salariais, conforme já foi analisado no fator subjetivo (impacto percebido). A partir desse resultado, pode-se perceber que o reconhecimento organizacional das mulheres entrevistadas é restrito, pois elas não percebem outras manifestações de reconhecimento organizacional. Verificou-se, no que tange a alguns aspectos presentes no espaço organizacional, como o reconhecimento organizacional, que a consciência das entrevistadas é muito limitada. Dessa forma, elas podem estar vivenciando uma violência simbólica, como enfatiza Bourdieu (2007), pois parecem estar envolvidas pela magia do espaço organizacional. Elas não se dão conta das relações de gênero e poder no trabalho. Em relação ao empoderamento social (MELO, 2012), citam-se como os aspectos mais importantes identificados neste fator: As entrevistadas passaram a participar mais ativamente da tomada de decisão na família. No que se refere ao seu reconhecimento social, também se perceberam algumas mudanças, na medida em que elas se sentiram mais reconhecidas devido à maior bagagem de conhecimentos e de cultura que adquiriram na graduação. No entanto, ainda consideram restritas sua participação no contexto social, político e econômico. No âmbito organizacional, as entrevistadas também se sentiram reconhecidas. Salienta-se que nesse espaço o reconhecimento aconteceu por meio de mudanças de cargo, função e melhorias salariais destas mulheres. A partir desses resultados, pode-se inferir que o processo de empoderamento social (Melo, 2012) se iniciou, mais ainda não ocorreu em sua plenitude, pois houve apenas algumas mudanças na conscientização das mulheres no que se refere a seu reconhecimento familiar, social e organizacional após terminarem a graduação. 117 5.2.7 Cultural Este fator refere-se às relações de poder presentes na sociedade e às possíveis mudanças nas relações patriarcais, ou seja, gênero, classe social, raça, cultura e história (MELO, 2012). Foram analisados os aspectos referentes às influências culturais no empoderamento de mulheres. 5.2.7.1 Influências culturais De acordo com os dados desta pesquisa, as entrevistadas tiveram maior influência feminina do que masculina no decorrer de sua vida. Identificou-se que a graduação contribui para as relações sociais e culturais delas e, ainda, que a graduação contribui para reduzir os tratamentos desiguais entre homens e mulheres na sociedade, conforme discriminado na TAB. 31. A principal influência masculina, na percepção de 45% das entrevistadas, foi a parterna, sendo algumas positivas e outras negativas; para 40%, não ocorreu influência masculina; e duas apontaram a do marido ou do noivo; e 5%, do avô, do irmão ou do pastor (cada uma). 118 Tabela 31 – Influência masculina nas escolhas Item discriminado % Teve influência do pai nas escolhas (tanto positivas quanto negativas). 60 Não teve influência masculina nas escolhas. 40 Teve influência do marido/noivo. 10 Teve influência do avô. 5 Teve influência do irmão. 5 Teve influência do pastor. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa A TAB. 32 descreve as influências femininas que as mulheres pesquisadas relataram. Para 75%, a influência foi da mãe, que as incentivaram a buscar o crescimento, o desenvolvimento e a independência financeira e, também, a fazerem um curso superior (uma foi simplesmente motivada pela trajetória de sucesso da mãe). Para 15%, a influência foi da avó; para 10%, de tias; e para 5%, de amigas, mulheres de sucesso e irmã (cada uma). Declararam que não tiveram influências femininas, 15%. Tabela 32 – Influência feminina nas escolhas Item discriminado % Teve influência da mãe nas escolhas. 75 Teve influência da avó. 15 Não teve influências femininas nas escolhas. 15 Foi incentivada pela mãe a buscar crescimento e desenvolvimento. 10 Foi incentivada pela mãe a buscar independência financeira. 10 Teve influência de tias. 10 Teve influências de amigas. 5 Teve influência de mulheres de sucesso. 5 Teve influência da irmã. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta. Fonte: Dados da pesquisa Quanto às influências que as entrevistadas tiveram, verificou-se que para a maioria foi femininas, conforme fragmentos de suas falas: Bom, nas escolhas profissionais foi uma influência muito grande, porque eu sempre tive ela como um modelo, né, de pessoa, de ser humano, né, inclusive de modelo profissional mesmo. É uma pessoa extremamente ética. É uma pessoa, né, que, com tudo que ela passou na vida, é uma pessoa muito bem sucedida [...]. (E5) [...] minha avó também falava assim. “Não! Nunca dependa de homem [...]!”. Assim, porque minha avó teve uma história assim muito grande, né, que antigamente, né, mulher era mal vista se fosse separada, porque ela era bem sucedida. Ela trabalhava em uma empresa e recebia muito mais que meu avô, e meu avô casou com ela. Aí, ele falou com ela. Aí, no caso, ou 119 ela largava o serviço ou ele separava dela. Mas não falou isso quando eles namoravam, né. Então, ela recebia muito mais, e o pessoal falou que ela estava bancando ele, porque ela era executiva, e ele era operário. Aí, ela virou para mim e falou assim: “Nunca dependa de homem! Busque sua independência, porque se o homem bater o pé, você tem a sua vida, entendeu. Não faça o que eu fiz. Eu só não fiz porque na época eu seria muito mal falada”. Então, eu tenho isso da minha avó até hoje: buscar conhecimento. Eu não quero depender de homem e nem de pessoa nenhuma. Eu quero eu mesma buscar as minhas coisas. A maior influência feminina que as entrevistadas citaram foi a mãe, depois as avós e as tias, o que pode ser justificado pelo papel social que a mulher possui. Ela é responsável pelo cuidado e pela educação dos filhos. De acordo com Bourdieu (2007), à mulher é reservado o espaço privado, competindo-lhe as tarefas do lar, os cuidados com os filhos e a realização de trabalhos domésticos. Menezes (2013) também enfatiza que o papel tradicionalmente imposto às mulheres a associa ao de mãe, de dona de casa, de trabalhadora, pouco visíveis na sociedade. Pode-se ressaltar, ainda, outro ponto em relação à influência feminina que as entrevistadas tiveram. Segundo Bourdieu (2007), o aumento da quantidade de mulheres que trabalham influencia a forma como as tarefas domésticas são divididas e, ainda, afeta a posição do feminino e do masculino na família. Quando as mães desenvolvem trabalhos remunerados, as filhas possuem aspirações mais desenvolvidas e elevadas quanto a sua própria carreira, estando, de certa forma, menos apegadas à condição feminina no modelo de família patriarcal. Conforme descrito na TAB. 33, para a maioria das entrevistadas a graduação amplia as relações sociais das pessoas, pois fazem novos amigos e conhecem pessoas de diferentes personalidades; para algumas, ao se graduarem, elas têm mais conhecimentos; para outras, se tornaram mais conscientes no que tange aos aspectos culturais presentes na sociedade; para outras, que ampliou o acesso aos eventos culturais; e para outras, que a graduação possibilitou o aumento da rede de relacionamentos profissionais das entrevistadas. Ressaltaram, ainda, que a graduação contribui para que as pessoas tenham pensamentos mais flexíveis, melhora a capacidade de influência, as tornam respeitadas, desencadeia mudanças nas relações sociais e culturais e ajuda a reduzir as desigualdades presentes na sociedade. Algumas entrevistadas 120 ressaltaram que a graduação possibilita que elas sejam reconhecidas em todos os cenários, reduz a violência, contribui para o desenvolvimento do país, insere a mulher em ambientes predominantemente masculinos e ajuda a reduzir as vantagens naturais que os homens possuem. A TAB. 33 apresenta as repercussões da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas, na percepção das entrevistadas. Tabela 33 – Influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas Item discriminado Amplia as relações sociais das pessoas (amigos, conhecer novas pessoas...). Possui mais conhecimento. Deixa a sociedade mais consciente. Passou a ter mais acesso a eventos culturais. Aumentou a possibilidade de relacionamentos profissionais. Contribui para que as pessoas tenham pensamentos mais flexíveis. Passou a influenciar mais as pessoas Provoca mudanças nas relações sociais e culturais na sociedade. Não percebe mudanças. Passa a ser respeitada. Permite maior reconhecimento em todos os cenários. Reduz a violência. Contribui para o desenvolvimento do país. Insere a mulher em ambientes predominantemente masculinos. Compensa as vantagens naturais que o homem tem. Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa % 55 35 30 20 20 15 15 15 15 10 5 5 5 5 5 mais Verifica-se que a principal influência da graduação nas relações sociais e culturais das mulheres entrevistadas foi em seu grupo de amizades. Elas conheceram muitas pessoas e fizeram novos amigos, como pode ser observado em seus depoimentos a seguir: [...] Fiz amizades na faculdade. Minhas amizades duram até hoje. Por exemplo, como eu sou do interior, fiquei muito perdida quando cheguei aqui. Não conhecia ninguém além da minha família. A faculdade me possibilitou conhecer pessoas. E, cultural. Como sou do interior e lá não tínhamos acesso a nada cultural, com minha vinda para Belo Horizonte para estudar pelo Prouni eu comecei a ter mais acesso a movimentos culturais. (E1) [...] Nossa senhora! Na faculdade você conhece milhões de pessoas, né. Então, eu acho que tem muitas possibilidades tanto de relacionamentos profissionais quanto de relacionamentos interpessoais, e tudo mais. Você conhece nem sei quantas pessoas ao longo do curso. Então, eu tenho, assim, como a gente conhece pessoas que podem nos ajudar profissionalmente, nos dar oportunidades. Até professores que podem nos indicar para fazer entrevistas em alguma empresa que ele conheça, e tal, 121 ou, mesmo, conhecer pessoas, fazer amizade, que isso também é muito importante para vida [...]. (E5) Ah! É igual eu falei assim, a pessoa ela começa a ter outra visão. Então, ela começa a participar de alguns eventos que antes ela nem fazia parte, e para ela até assim, ou ela não conhecia certos eventos ou ela achava ridículo, mas depois com o conhecimento, aí você começa a ver que é importante para você. Aí, você começa a participar. (E6) A partir desses dados, pode-se perceber que a graduação ampliou o acesso das mulheres ao espaço público, contribuindo para o rompimento de alguns papéis construídos acerca dos espaços destinados a homens e mulheres na sociedade. Conforme salientam Rosa (2003) e Bourdieu (2007), ao homem foi destinado o espaço público e, portanto, atividades de maior prestígio, e às mulheres foi reservado o espaço privado, a reclusão. Assim, a maior participação da mulher em atividades sociais denota mudanças nas relações tradicionais de gênero. A mulher ampliou a sua participação não somente na esfera produtiva, mas também em atividades coletivas, sociais. Elas tiveram novas possibilidades de relacionamento, ampliando, a partir disso, suas possibilidades, até mesmo, profissionais. A TAB. 34 revela que para a maioria significativa das mulheres pesquisadas (85%) a graduação ajuda a reduzir os tratamentos diferenciados entre homens e mulheres na sociedade; para três, a serem mais respeitadas, valorizadas e reconhecidas. Elas enfatizaram que as mudanças ocorrem primeiro no seio familiar e depois na sociedade. Segundo elas isso altera a divisão de papéis entre homens e mulheres nos espaços público e privado e possibilita-lhes ocupar espaços públicos, ter poder de decisão e influenciar outras pessoas. Nas organizações, contribui para que as mulheres tenham melhores empregos e melhores salários, ocupem cargos elevados e concorram em pé de igualdade com os homens. No entanto, duas entrevistadas não acreditam que a graduação influencia esses aspectos culturais. 122 Tabela 34 – Influência da graduação na desigualdade de gêneros Item discriminado % Provoca mudanças 85 As mulheres passam a ser mais respeitadas, valorizadas, reconhecidas. 15 Acha que isso não influencia. 10 A mulher é mais competente do que um homem. 5 Nota: A soma das frequências é superior a 100% por ter sido possível às entrevistadas darem mais de uma resposta Fonte: Dados da pesquisa A percepção das entrevistadas em relação à contribuição da graduação para reduzir as desigualdades de gênero na sociedade pode ser identificada nos seguintes relatos: Com certeza! Por causa do conhecimento e do que você aprendeu, você começa a participar mais de decisões. Então, você acaba as pessoas te percebendo de uma forma diferente, com poder de decisão [...]. (E6) Eu acho que contribui sim, tanto para a minha vida quanto de forma geral. Eu acho que contribui, sim e que é um diferencial, é uma conquista, sabe. Pelos amigos que ela faz aqui, pelas coisas que ela vê aqui, ela já volta para casa com outra, outra cabeça, outro ideal, sabe, outra, com mais informação. Eu acho que assim tira ela um pouco daquele ciclo da família e faz ela querer crescer. Eu acredito, sim, que a graduação possa mudar essa história de que pai é a base familiar, o alicerce da família. Eu acredito que a graduação pode mudar isso, sim. (E8) Assim como alguns autores apontam, dentre eles Bourdieu (2007), as entrevistadas também enfatizaram que a graduação contribui para a redução da forma desigual como homens e mulheres são tratados, sendo reservado estes a melhor parte, o poder, enquanto a mulher deve ser submissa. Em relação ao empoderamento cultural (MELO, 2012), percebeu-se que a maioria das entrevistadas relatou que a graduação contribuiu para a redução dos tratamentos diferenciados entre homens e mulheres na sociedade. Em síntese, verificou-se que as entrevistadas tiveram maior influência da mãe em suas escolhas, ampliaram suas relações sociais por meio da graduação e perceberam que a graduação contribui significativamente para reduzir os tratamentos desiguais de gênero na sociedade. Embora as entrevistadas reconheçam que houve empoderamento cultural, admitem que há muito a ser conquistado, pois, conforme Bourdieu (2007), os preconceitos de 123 gênero estão profundamente introjetados nos indivíduo e uma simples conscientização dos preconceitos de gênero não é suficiente para romper com eles. Formulam-se, a seguir, a conclusão e as considerações finais. 124 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa relatada nesta dissertação buscou analisar as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no processo de possível empoderamento de mulheres formadas nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Direito entre 2009 a 2013 em uma IES privada mineira, na percepção das graduadas pesquisadas, considerando o modelo de Melo (2012). Foram entrevistadas 20 egressas que estudaram com bolsa do Prouni integral ou bolsa parcial (50%) e FIES entre 2009 e 2013. Quanto às dificuldades enfrentadas pelas entrevistadas para se inserirem no ensino superior, identificou-se que a maior foi a falta de recursos financeiros para arcar com os altos custos das mensalidades dos cursos oferecidos pelas IES privadas antes de receberem a bolsa do Prouni, seguindo-se a formação deficitária que tiveram no segundo grau. A principal facilidade que encontraram foi a obtenção da bolsa do Prouni, por meio da qual tiveram a chance estudar em uma IES privada sem dispêndios financeiros com a mensalidade do curso. Pode-se inferir que as dificuldades relacionadas a renda e ao conhecimento vivenciados pelas as mulheres pesquisadas foram reduzidas quando elas começaram a se capacitar por meio da graduação. Os conhecimentos adquiridos na graduação e a capacitação foram fundamentais para obterem melhorias nas suas perspectivas profissionais. No que se refere às atribuições e funções que as entrevistadas ocupavam antes de se formarem no ensino superior e a suas expectativas em relação à atuação profissional após a graduação, identificou-se a partir dos dados demográficos e dos relatos das entrevistas que elas ocupavam cargos de baixa hierarquia organizacional e de natureza mais operacional. Após o término da graduação, mudaram de profissão, passaram a desenvolver tarefas de natureza tanto operacional quanto intelectual e subiram na hierarquia organizacional. Além disso, elas tiveram 125 melhorias salariais, modificando a condição financeira precária a qual estavam sujeitas no decorrer da vida. Constatou-se que o fator cognitivo analítico foi a principal dimensão que influenciou os indicativos de empoderamento das entrevistadas, desencadeando mudanças positivas nas outras dimensões do empoderamento delas. A partir do aumento dos conhecimentos das mulheres, das melhorias no seu saber, no conhecer e no reconhecer houve alterações em outras dimensões de sua vida. Observou-se que os conhecimentos adquiridos provocaram mudanças individuais, na forma de se posicionarem na família e na sociedade e maiores e melhores perspectivas de carreira, podendo-se dizer que o empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas contribuiu para seu processo de escalada do empoderamento social, cultural e econômico. Em síntese, pautando-se no modelo de empoderamento de Melo (2012) e nos resultados da pesquisa, pode ser apresentado o seguinte modelo explicativo do processo de empoderamento vivenciado pelas entrevistadas. Figura 1 - Síntese dos resultados da pesquisa, pautando-se no modelo de empoderamento de Melo (2012) Fonte: Dados da pesquisa 126 Observa-se nas entrevistadas o anseio por mais qualificação. Pode-se dizer que a qualificação é percebida como um propulsor que as projetam na sociedade, desencadeando influências nas outras dimensões do processo de empoderamento. Constatou-se que o empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas não foi suficiente para desencadear o empoderamento subjetivo delas. Os conhecimentos adquiridos na graduação não desencadearam elevada autoestima, autoconfiança e autodeterminação nas mulheres pesquisadas. As entrevistadas não se sentem capazes após se graduarem de galgar qualquer cargo em sua área de qualificação. Salientaram que apenas os conhecimentos adquiridos não são suficientes para tal, sendo necessário adquirir experiência prática na área em que se formaram. Pode-se inferir a partir desse resultado, que a falta de crença na própria capacidade/ autoconfiança e autoestima destas mulheres pode estar relacionada ao pequeno intervalo de tempo entre a conclusão do curso de graduação e o momento desta pesquisa. E, também, à possível defasagem intelectual pode estar associada à falta de acesso ao conhecimento diferenciado desde a infância, pois a maioria é oriunda do ensino público, no qual não há predominância de um ensino de qualidade. No entanto, as pequenas mudanças que ocorrem nos sentimentos das entrevistadas contribuíram para indicar ganhos no processo de empoderamento social (contextos social e organizacional). No contexto social, houve a inserção delas em espaços públicos da sociedade e no organizacional, o trabalho despertou sentimentos de realização nelas além de perceberem reconhecimento pela organização. Em síntese, pode-se dizer que a graduação financiada pelo Prouni não foi suficiente para desencadear o empoderamento subjetivo (MELO, 2012) das mulheres pesquisadas, pois as mudanças em sua autoconfiança e autoestima foram restritas. Em relação ao empoderamento político (MELO, 2012), identificou-se que a maioria das entrevistadas possui muitas barreiras neste campo, o empoderamento cognitivo analítico não desencadeou, ainda, o processo de empoderamento político delas. Identificou-se que nas relações de poder estabelecidas no ambiente de trabalho, a maior parte das mulheres pesquisadas ocupa uma posição de submissão, 127 demonstrando insegurança e constrangimento ao falar sobre o assunto. Pode-se inferir que, esses sentimentos surgem do fato de se sentirem inferiores na cadeia hierárquica da empresa em que atuam, apresentando, portanto, certa resistência ao falar, já que o fato de falar sobre isso remete ao fato de reconhecerem que não exercem o poder ou que não ocupam a posição hierárquica que gostariam de ocupar em seu ambiente de trabalho. Assim, desviar-se do assunto ou se limitar a falar sobre ele pode ser uma forma de autoproteção. Pode-se dizer que o tempo de formada das pesquisadas ainda é pequeno para permitir uma análise mais completa da possibilidade de ascensão hierárquica. A posição de subordinação nas relações de poder ocupadas pela maioria das entrevistadas afeta sua autonomia e a definição de objetivos importantes e estratégicos em seu ambiente de trabalho, ficando claro que a maior parte das entrevistadas possui autonomia restrita. As entrevistadas demonstraram possuir pouco poder de influência e de decisão em seu ambiente de trabalho. É possível inferir também que a acessibilidade às informações importantes e estratégicas da empresa não significa o poder de tomar decisões que envolvam essas informações, pois, mesmo possuindo o acesso, a maioria das entrevistadas não possui poder de decisão. Ainda quanto ao fator político, identificou-se que as entrevistadas reconhecem a importância do desenvolvimento de alianças e estratégias para o desenvolvimento profissional dentro e fora da instituição. A maioria delas acredita que possuir boas alianças é fundamental no âmbito do trabalho. Para algumas entrevistadas uma boa aliança na conquista de um bom emprego ou promoção pode ser, até mesmo, mais eficaz do que a própria qualificação. Quanto à questão da preferência de gênero no ambiente de trabalho, algumas entrevistadas, salientaram que os homens possuem mais oportunidades em relação às mulheres. No que tange ao empoderamento político constatou-se que as entrevistadas têm um longo caminho a trilhar para alcançá-lo, a maioria, ainda, não ocupa cargos de alta 128 hierarquia organizacional, não possuem autonomia profissional e predomina no espaço organizacional um desequilíbrio nas relações de poder. A condição das mulheres pesquisadas no âmbito das organizações em que trabalham continuam a reproduzir a lógica tradicional do que é masculino e do que é feminino culturalmente, as entrevistadas não exercem o poder nesse ambiente. Ressalta-se que as mudanças desencadeadas no fator cognitivo analítico não alteraram a tradicional condição das mulheres nas organizações. Pode-se inferir ainda neste fator, com base nos dados identificados, a presença da violência simbólica. As entrevistadas não se dão conta da existência da dominação, pois estão envolvidas, como que por magia, nas estruturas e nas atividades produtivas organizacionais. Em relação ao empoderamento econômico (MELO, 2012), identificou-se que o empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas desencadeou mudanças positivas neste fator. Constatou-se certa contribuição da graduação para as entrevistadas se tornarem mais independentes financeiramente e que a dimensão econômica do empoderamento modificou sua condição no contexto social (âmbito familiar, social e organizacional) e cultural. Nos âmbitos familiar e social, elas passaram a ajudar nas despesas de casa, no organizacional, ampliaram suas perspectivas de carreira. No contexto cultural, ressalta-se que à medida que as mulheres passam a contribuir financeiramente com as despesas familiares algumas mudanças ocorrem na estrutura patriarcal da sociedade. Salienta-se diante das constatações feita nesta pesquisa que, a graduação financiada pelo Prouni desencadeou mudanças financeiras na vida das mulheres e contribuiu para o empoderamento econômico delas. Em relação ao empoderamento social (MELO, 2012), verificou-se que o empoderamento cognitivo analítico das mulheres pesquisadas influenciou o espaço social delas. Houve mudanças no seu posicionamento familiar, de forma que passou a participar da tomada de decisão, sentiram-se mais reconhecidas na sociedade e nas organizações, devido à maior bagagem de conhecimentos e de cultura que adquiriram durante o curso de graduação. Constatou-se que as melhorias no saber 129 das entrevistadas provocaram alterações na ordem social e cultural no contexto das relações de gênero. Ressalta-se que houve algumas mudanças em direção à alteração dos papéis históricos imposto às mulheres nos contextos familiar, social e organizacional, pois os resultados desta pesquisa demonstram que houve certa consciência das entrevistadas quanto a seu reconhecimento nessas três esferas. Verificou-se que o empoderamento social (Melo, 2012) das entrevistadas ocorreu, o qual desencadeou o empoderamento cultural, pois elas estão sendo reconhecidas entre outros âmbitos da sociedade, indo além dos papéis sociais tradicionalmente impostos a elas. Em relação ao empoderamento cultural (MELO, 2012), percebeu-se que o cognitivo analítico contribuiu para que ele ocorresse. Houve mudanças nas relações patriarcais do grupo pesquisado e redução das desigualdades de gênero. No que tange as repercussões da graduação no empoderamento de mulheres, assim como alguns autores abordados neste trabalho acreditam na contribuição da educação superior para o processo de empoderamento de mulheres, verificou-se nesta pesquisa, que as entrevistadas tiveram o processo de empoderamento desencadeado. Identificou-se que a graduação desencadeou o empoderamento cognitivo analítico das entrevistadas, e que, a partir deste, houve ganhos nas dimensões econômica, social e cultural do processo de empoderamento das mulheres pesquisadas. Já em relação aos fatores subjetivo e político, observou-se mudanças restritivas desencadeadas pela educação (empoderamento cognitivo analítico) na vida das entrevistadas. É importante ressaltar que, mesmo diante das consideráveis mudanças na condição das mulheres desencadeadas pelo aumento de seu nível educacional e pelo acesso ao ensino superior, ainda não houve rompimento com a tradicional condição imposta a elas socialmente ao longo dos anos. Pode-se dizer que essas mulheres ainda têm um longo caminho a trilhar rumo à alteração mais profunda dos papéis tradicionais que lhes foram atribuídos e de sua subjugação na sociedade. 130 Como todo estudo, esta pesquisa possui suas limitações. Primeira, ter pesquisado mulheres em apenas alguns cursos, Administração, Ciências Contábeis e Direito. Percebe-se, deste modo, a necessidade de ampliar a pesquisa a outros cursos superiores. Segunda, ter pesquisado egressas de uma única IES privada, constatando, dessa forma, ser relevante pesquisar mulheres formadas em outras IES, a fim de proporcionar comparações. Verificou-se, ainda, que considerando o tempo de conclusão do curso das mulheres pesquisadas, o período foi pequeno para se fazer uma análise de empoderamento. Sugere-se para os estudos futuros pesquisar mulheres que tiveram a bolsa do Prouni em áreas que na literatura são apregoadas como tipicamente masculinas, como as engenharias e os cursos nas áreas tecnológicas, visando analisar as repercussões da graduação no processo de empoderamento delas. Recomenda-se ainda, pesquisar homens ou homens e mulheres visando identificar se as desigualdades que vivenciam são de gênero ou de educação. Ou pessoas com orientação sexual diferenciada, ou mulheres negras, ou mulheres mais e menos experientes no mercado de trabalho buscando identificar outras nuances que podem influenciar o processo de empoderamento desses sujeitos. O modelo proposto por Melo (2012) pode parecer adequado para analisar mulheres em processo de empoderamento, no entanto é mais indicado para avaliar mulheres ocupando cargos gerenciais. Ou seja, possivelmente, ele é mais bem aplicado quando elas que já ascenderam a um espaço organizacional, assim como o modelo proposto pelo FEM (2005) é mais adequado para estudar o empoderamento de mulheres que já ascenderam na sociedade. Assim, no caso de mulheres em fase de empoderamento seus itens devem ser analisados e revistos até que um novo modelo seja construído. 131 REFERÊNCIAS AMARAL, G. A. Os desafios da inserção da mulher no mercado de trabalho. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí – EFG, v. 2, n. 13, 2012. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/ritref/article/ view/22336>. Acesso em: 02 jul. 2014. AMARAL, M. I. B. PROUNI : o ponto de vista dos alunos. 2010. 199 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação, Rio de Janeiro, 2010. ANHAIA, B. C. Educação superior e inclusão social: um estudo comparado de duas ações afirmativas no Brasil: dos debates à prática. 2013. 234 f. 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QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO 1.Nome:__________________________________________________________ 2.Idade: Faixa etária Até 25 anos ( ) De 26 a 30 anos ( ) De 31 a 35 anos ( ) De 36 a 40 anos ( ) De 41 a 45 anos ( ) De 46 a 50 anos ( ) Acima de 50 anos ( ) *Marque com um X 3.Estado civil: Estado civil Casada ( ) Solteira ( ) Divorciada ( ) União estável ( ) Outros ( ) *Marque com um X 141 4.Número de filhos:___________________________________________________ 5.Estudou com bolsa parcial ou integral do PROUNI (Programa Universidade para Todos)? Bolsa do Prouni Parcial + FIES ( ) Integral ( ) *Marque com um X 6. Formação acadêmica financiada pelo Prouni:__________________________ 7.Formação acadêmica que não foi financiada pelo Prouni:__________________ 8.Profissão que exercia antes de iniciar a graduação:______________________ 9.Atual cargo ocupado:______________________________________________ 10. Tempo no cargo ocupado:_________________________________________ 11.Organização/Empresa: ___________________________________________________ 12.Tempo na organização/ __________________________________________ 13.Renda mensal Renda mensal Até R$ 1.000,00 ( ) De R$ 1.001,00 a R$ 3.000,00 ( ) De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 ( ) De R$ 5.001,00 a R$ 7.000,00 ( ) De R$ 7.001,00 a R$ 10.000,00 ( ) Acima de R$ 10.000,00 ( ) *Marque com um X Empresa: 142 Apresente-se, por favor. 1. Quais são as facilidades que você encontrou para ingressar no Ensino Superior? 2. A que você atribui tais facilidades? 3. Quais são as dificuldades que você encontrou para ingressar no Ensino Superior? 4. A que você atribui tais dificuldades? 5. Quais foram as dificuldades que você encontrou para obtenção da bolsa do Prouni? 6. Quais as facilidades que você encontrou para obtenção da bolsa do Prouni? 7. De que forma os conhecimentos adquiridos na graduação mudaram sua vida pessoal? 8. De que forma os conhecimentos adquiridos na graduação mudaram sua vida profissional? 9. Após graduar-se como você se sente em termos de qualificação? 10. Na sua atividade profissional, o fato de ser mulher faz alguma diferença? Comente. 11. Você continua fazendo cursos? (Em relação ao ensino continuado, Mestrado, doutorado, pós-graduação). 12. Como você se sente perante as pessoas por ter um curso superior? 13. Qual o significado para você da sua atividade profissional? 14. Após graduar-se, você se sente capaz de galgar qualquer emprego em sua área de qualificação? Comente. 15. Quais os sentimentos de auto-realização despertados em você ao graduar-se? Comente. 16. Qual é o seu planejamento profissional? 17. Você sente segurança na realização de tarefas no seu campo profissional? Comente. 18. Você percebe preferência de gênero quando há uma disputa entre profissionais com as mesmas qualificações no setor em que trabalha? Comente. 19. Quais habilidades são essenciais nas mulheres para ocuparem cargos elevados? 20. Você acredita ser necessário estabelecer alianças para se desenvolver profissionalmente? 143 21. Como você percebe as relações de poder no seu campo profissional/no espaço organizacional? 22. Como você se insere nelas? 23. Quais são os relacionamentos positivos no seu ambiente de trabalho? 24. E os negativos? 25. Como você percebe as relações de gênero no seu ambiente de trabalho? 26. Você tem acesso as informações importantes e estratégicas dentro da organização? 27. Avalie a sua autonomia dentro da organização. 28. Porque você trabalha? 29. Você se sente realizada economicamente? 30. No seu grupo familiar (grupo social) quem busca qualificar-se mais, homem ou mulher? 31. Você acredita que a graduação minimiza alguns bloqueios enfrentados pelas mulheres para se inserirem no mercado de trabalho? Comente. 32. Como a graduação contribuiu para sua independência financeira? 33. Quais eram as suas perspectivas e planos no campo profissional antes de se graduar? 34. Qual incentivo você teve para buscar sua independência financeira? 35. Qual é a principal figura de autoridade dentro da sua família? Comente. 36. Em sua percepção, homens e mulheres possuem as mesmas oportunidades econômicas, sociais e políticas na sociedade? Comente. 37. Como são as políticas de promoção para homens e mulheres onde você trabalha? 38. Onde você trabalha existem diferenças salariais entre homens e mulheres, para os mesmos cargos? 39. Você se sentiu mais reconhecida em seu grupo social após graduar-se? Comente. 40. Como você influencia seus amigos? E seus familiares? Quais mudanças ocorreram em sua capacidade de influência após graduar-se? 41. Sem o Prouni, quais seriam as suas chances de se graduar? 42. Como você percebe o seu reconhecimento dentro da empresa? 43. Quem a incentivou a fazer um curso superior? Comente. 44. Qual a influência masculina nas suas escolhas? (influência do pai; avô) 144 45. Qual a influência feminina nas suas escolhas? (influência da mãe; avó) 46. Qual a influência da graduação nas relações sociais e culturais das pessoas beneficiadas por ele? 47. Você acredita que a graduação contribui para reduzir os tratamentos diferenciados entre homens e mulheres na sociedade? 48. Você se sente responsável pelo espaço doméstico? 49. O que você gostaria de acrescentar quanto as repercussões da graduação financiada pelo Prouni no empoderamento de mulheres.