TEXTO PARA DISCUSSÃO NO 428
Ocupação e Escolaridade:
Tendências Recentes na
Grande São Paulo
Edgard Luiz Gutierrez Alves
Fábio Veras Soares
JUNHO DE 1996
TEXTO PARA DISCUSSÃO NO 428
Ocupação e Escolaridade: Tendências
1
Recentes na Grande São Paulo
Edgard Luiz Gutierrez Alves*
Fábio Veras Soares**
Brasília, junho de 1996
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MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO
Ministro: Antônio Kandir
Secretário Executivo: Andrea Sandro Calabi
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Presidente
Fernando Rezende
DIRETORIA
Claudio Monteiro Considera
Gustavo Maia Gomes
Luís Fernando Tironi
Luiz Antonio de Souza Cordeiro
Mariano de Matos Macedo
O IPEA é uma fundação pública vinculada ao Ministério do
Planejamento e Orçamento, cujas finalidades são: auxiliar o
ministro na elaboração e no acompanhamento da política
econômica e promover atividades de pesquisa econômica
aplicada nas áreas fiscal, financeira, externa e de
desenvolvimento setorial.
TEXTO PARA DISCUSSÃO tem o objetivo de divulgar resultados
de estudos desenvolvidos direta ou indiretamente pelo IPEA,
bem como trabalhos considerados de relevância para
disseminação pelo Instituto, para informar profissionais
especializados e colher sugestões.
Tiragem: 350 exemplares
SERVIÇO EDITORIAL
Brasília — DF
SBS. Q. 1, Bl. J, Ed. BNDES, 10o andar
CEP 70076-900
Rio de Janeiro — RJ
Av. Presidente Antonio Carlos, 51, 14o andar
CEP 20020-010
SUMÁRIO
SINOPSE
1. INTRODUÇÃO
7
2. EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NA
TEORIA ECONÔMICA
10
3. GLOBALIZAÇÃO, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA,
FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
16
4. MODERNIZAÇÃO PRODUTIVA E A QUALIFICAÇÃO DO
RABALHO: O CASO BRASILEIRO
21
5.
A DINÂMICA DA FORÇA DE TRABALHO OCUPADA NA GRANDE
SÃO PAULO NO PERÍODO 1988/1995
6.
CONCLUSÃO
ANEXO
41
45
BIBLIOGRAFIA
56
26
SINOPSE
ste estudo analisa as principais modificações ocorridas no perfil de escolaridade dos ocupados na Grande São Paulo, no período entre 1988 e 1995. A discussão tem como pano de fundo as
recentes transformações na economia mundial e as explicações teóricas para as diferenciações salariais. Busca-se, desse modo,
identificar os principais elementos que devem subsidiar as estratégias de políticas públicas, no sentido de amenizar os impactos da
reestruturação produtiva sobre as condições de emprego do trabalhador brasileiro.
E
O CONTEÚDO DESTE TRABALHO É DA INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES , CUJAS
OPINIÕES AQUI EMITIDAS NÃO EXPRIMEM, NECESSARIAMENTE, O PONTO DE VISTA DO
MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO.
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
;
1. INTRODUÇÃO
O desemprego está sendo considerado como o maior problema
a ser enfrentado pelos países nos próximos anos. No Fórum
Econômico de Davos, realizado no mês de fevereiro de 1996 na
Suíça, estimou-se que 600 milhões de pessoas estão desempregadas no mundo.
Boa parte do problema do desemprego está sendo atribuída a
dois processos econômicos simultâneos e associados: a modernização produtiva e a globalização. Há, contudo, uma grande
controvérsia sobre os efeitos líquidos da modernização tecnológica sobre o emprego. Economistas, sociólogos, homens públicos
e jornalistas têm se ocupado dessa temática com freqüência.
Dentre inúmeras divergências, uma conclusão comum parece
definitiva: a oferta de empregos mudou de qualidade. Pelo menos nos setores mais modernos e dinâmicos, exige-se agora que
o trabalhador tenha determinadas habilidades que somente a
educação de caráter geral é capaz de preencher.
Nos países desenvolvidos, discute-se com grande prioridade o
futuro do emprego. Os mais otimistas acenam com funções de
qualidade, melhores ambientes de trabalho e excelentes relações
profissionais. Entretanto, esses bons empregos deverão ser ocupados preferencialmente por trabalhadores com alto nível de escolaridade, e com capacidade de se adaptar facilmente às mudanças tecnológicas e organizacionais.
Os Estados Unidos, por exemplo, têm vivido problemas com
relação à geração de novos empregos de qualidade: primeiro,
porque o setor industrial não consegue absorver mão-de-obra na
quantidade necessária; segundo, porque os postos de trabalho
eliminados não são mais criados. Dessa forma, os trabalhadores
necessitam de um programa de requalificação para retornarem
ao mercado. Por fim, a taxa de desemprego é mais elevada entre
os jovens que não têm escolaridade nem a experiência necessária (Alves, 1995).
A modernização produtiva ocorre tanto pelas inovações tecnológicas, lideradas pelas áreas de informação e microeletrônica,
quanto pelos novos processos organizativos e gerenciais. O ritmo
de expansão horizontal das inovações tecnológicas desses setores para outros ramos, industriais e de serviços, tem sido intenso. Cada vez mais empresas adotam processos modernos de
produção e, assim, a qualificação profissional do trabalhador
8
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
poderá constituir-se em nó crítico para a expansão desses processos (Alves e Vieira, 1995).
No Brasil, sindicalistas, empresários e governo têm discutido
propostas de políticas públicas para evitar que o problema do
desemprego ganhe maiores proporções. Os dados mostram que
sua taxa, em comparação com outros países, não é muito elevada. No entanto, os empregos que estão sendo criados, em maior
parte substituindo os postos de trabalho que estão sendo eliminados no setor industrial, são considerados de baixa qualidade.
Tanto no comércio quanto no setor de serviços na maior parte
destes postos há baixa remuneração e ausência de vínculo empregatício.
A tendência é que, com a estabilização econômica que vem
sendo conduzida desde julho de 1994, o processo de modernização econômica se estenda, tornando mais seletiva a absorção de
mão-de-obra. Mesmo no setor terciário, que, pelas próprias características, tem grande capacidade de expansão de oferta de
empregos em seus vários segmentos, o processo de reestruturação organizacional deve reduzir a demanda por mão-de-obra e
também exigir melhor qualificação do trabalhador.
Com as inovações tecnológicas e organizacionais, ampliou-se
o consenso em torno da idéia de que níveis educacionais mais
elevados tornaram-se pré-requisitos para que os trabalhadores
estejam aptos a lidar com essa nova realidade. As empresas inovadoras têm encorajado maior participação do trabalhador nos
processos produtivo e decisório. Para essa nova tarefa, no entanto, é necessário maior conhecimento e capacitação. Trabalhadores com maior nível de escolaridade e melhor qualificação
constituem-se na principal fonte dinâmica e permanente de ganhos de produtividade, condição necessária para a democratização das relações de trabalho no interior da empresa. Essa visão
estrutural do papel da educação dos trabalhadores para o aumento da competitividade internacional contrasta com a ótica
parcial de solucionar os baixos níveis de produtividade do trabalho pela simples redução dos direitos e encargos trabalhistas,
cujo efeito sobre a produtividade é temporário e inconsistente ao
longo do tempo.
Se não fora por argumentos puramente econômicos, é imperioso lembrar que nos países onde ganhou maturidade, a modernização produtiva também foi acompanhada de uma atualização
nas relações de trabalho, com ampla negociação entre as partes
envolvidas, ensejando relações mais democráticas.
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
<
As grandes corporações norte-americanas têm como preocupação central a mudança do ambiente do trabalho, o programa
de educação continuada para seus empregados e alterações nas
relações de trabalho, objetivando envolver cada vez mais o trabalhador no processo decisório da empresa. Os programas de
educação estão sendo executados em conjunto com os sindicatos dos trabalhadores, em regime de administração bipartite [Alves (1995)].
Os governos dos países desenvolvidos têm viabilizado um
conjunto de políticas com vistas à redução da taxa de desemprego pelas seguintes medidas: a implementação de políticas
públicas de emprego; alterações na legislação trabalhista; a introdução de contratos coletivos de trabalho; o apoio aos serviços
públicos de emprego; a implementação de programas de educação com mudanças curriculares; o incentivo à permanência do
aluno por mais tempo na escola; e programas de qualificação e
requalificação de trabalhadores, entre outros.
No Brasil, o comportamento histórico do mercado de trabalho
e do setor de serviços (mais recentemente) tem adiado discussões mais profundas sobre esse tema. Somente agora os atores
sociais tomaram consciência da gravidade do problema. Contudo, as iniciativas de políticas de criação de empregos, e mesmo
de educação e qualificação do trabalhador, são ainda tímidas e
dependem do comportamento dos agregados macroeconômicos.
Os processos de terceirização e terciarização1 ocorridos ao
longo do primeiro lustro desta década no Brasil têm gerado interpretações bastante pessimistas quanto à possibilidade de a
economia gerar postos de trabalho de boa qualidade a curto
prazo — aqueles que, além de boa remuneração, garantam ao
trabalhador certo grau de estabilidade, para possibilitar acúmulo de experiência, e lhe permitam participar de cursos de
educação geral e profissional com vistas à sua permanente atualização.
Quanto antes o governo tomar providências, os efeitos perversos do desemprego poderão ser minimizados. Além disso, espera-se das autoridades um importante papel na condução dessa
temática, no sentido de orientá-la para a busca do desenvolvimento econômico sustentado. Isso tende a ampliar a compreensão dos atores, deslocando a discussão de interesses imediatis
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10
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
tas ou específicos de determinadas categorias de trabalhadores
e/ou empresários.
As seções seguintes e a bibliografia consultada chamam atenção para a gradativa mudança qualitativa que vem ocorrendo na
demanda de mão-de-obra. O mercado de trabalho vem se tornando cada vez mais seletivo, em favor de trabalhadores com
maiores níveis educacionais. Dessa forma, discutir políticas de
emprego sem levar em consideração a questão da educação e da
qualificação profissional sinaliza desconhecer o potencial criador
e destruidor das significativas mudanças que a base tecnológica
tem possibilitado, e também os ajustes que os novos processos
gerenciais têm implementado na política de recursos humanos.
O conhecimento acumulado sobre o grau de profundidade das
transformações que a chamada reestruturação produtiva tem provocado sobre o mercado de trabalho brasileiro é ainda insuficiente. Este estudo pretende, com seus resultados, resgatar o estágio
da discussão sobre a questão da qualificação da mão-de-obra e do
papel do ensino fundamental como alavancas para o desenvolvimento econômico do país, e condição necessária para ganhos
contínuos de produtividade.
De alguma forma, a ausência de pressões endógenas faz com
que as questões da educação e da formação profissional não ganhem substância na discussão sobre políticas de emprego e de
amparo ao trabalhador desempregado. Essa situação poderá
condenar o conjunto de políticas e programas governamentais a
ser mero sinalizador da conjuntura econômica, desconsiderando
projetos de maior fôlego em termos do desenvolvimento econômico e da geração de empregos de qualidade.
Este trabalho compõe-se, além desta introdução, do capítulo 2,
em que se discute o papel da educação e da qualificação profissional na explicação dos diferenciais de rendimento a partir de diferentes matrizes téoricas; do capítulo 3, em que se analisa os efeitos do processo de globalização sobre o mercado de trabalho e as
macroestratégias de políticas públicas propostas; do capítulo 4,
em que se resume um pouco da discussão da literatura brasileira
sobre a importância da educação e da qualificação profissional no
mercado de trabalho brasileiro e os impactos da modernização
produtiva; o capítulo 5, que, ao analisar as alterações ocorridas no
mercado de trabalho da Região Metropolitana da Grande São
Paulo no período 1988/1995, procura apresentar uma amostra
qualificada das suas relações com o grau de escolaridade do trabalhador. Para tal, utiliza-se de dados da pesquisa de emprego e
desemprego realizada pela Fundação SEADE e pelo Departamento
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
==
Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE).
Esta análise concentra-se nas relações entre grau de escolaridade
do trabalhador e setor de atividade, idade e remuneração.
2. EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
NA TEORIA ECONÔMICA
2.1. O Capital Humano A teoria do capital humano busca explicar,
nos marcos das teorias neoclássicas convencionais, a existência de diferenciações salariais. A idéia básica é que, da mesma forma como é possível investir nas ações de
uma empresa ou realizar um empreendimento produtivo a fim de
se auferir rendas maiores no futuro, seria razoável em determinadas condições que o indivíduo (a unidade familiar) e/ou a firma
onde ele trabalha decidissem investir em sua formação, pela educação formal e/ou cursos de qualificação, para obter rendimentos
maiores no futuro.
No âmbito da educação formal é importante observar que a
decisão de investir ou não em capital humano recai, basicamente, sobre o indivíduo ou a unidade familiar à qual ele pertence, uma vez que essa decisão, em geral, é tomada antes de
sua entrada no mercado de trabalho, ou, em termos menos restritivos, quando ele ainda é jovem e portanto largamente dependente do financiamento familiar ou da provisão de bens públicos. No caso da acumulação de capital humano por treinamento
no interior da empresa, a discussão centra-se, basicamente, no
modo como será financiado. Tal processo pode levar ao estabelecimento de acordos implícitos ou explícitos entre a empresa e o
empregado na divisão dos custos e dos benefícios do treinamento, a partir de suas características básicas: se específico ou
geral [Becker (1962)].
A decisão de investir em educação formal é tomada pelo indivíduo (ou pela unidade familiar) com a avaliação subjetiva dos
custos em que ele incorrerá ao não trabalhar e financiar seus
estudos, e os benefícios que ele auferirá no futuro, graças ao
acúmulo de capital humano durante seu período de estudo.
Desse modo, o indivíduo decidirá investir em educação se o valor presente dos benefícios for no mínimo igual aos custos:
∑ Bi / (1 + r)i ≥ C
na qual B = benefício, r = taxa de desconto, i = anos e C =
custos.
12
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Os custos do investimento em educação formal podem ser divididos em dois conjuntos: 1) os referentes aos gastos diretos
com a educação, taxas escolares, compra de livros, etc., e 2) os
rendimentos alternativos, ou seja, quanto o indivíduo receberia
caso estivesse trabalhando. Os benefícios, por sua vez, consistem na expectativa de ganhos futuros que o investimento em
capital humano pode gerar.
Outra forma de abordar esse problema decisório é pelo uso do
critério da taxa interna de retorno, na qual a quantidade de investimento a ser realizado por determinado indivíduo em capital
humano é determinada pela taxa de retorno esperada. 2 É dessa
forma que se explica a maior propensão das pessoas mais jovens a investir em capital humano, pois o investimento teria
uma vida útil maior, não exigindo retornos enormes no curto
prazo. Assim, é de se esperar uma melhora contínua no grau de
escolaridade da população ao longo do tempo.
Ao se aprofundar a relação que a teoria estabelece entre investimento em capital humano e investimento em capital em geral, conclui-se que a taxa de retorno esperada líquida de risco
deve ser igual à taxa de retorno de qualquer outro investimento,
devido ao processo de arbitragem que atua no sentido de homogeneizar as taxas de retorno. Contudo, Becker (1962) observa
que, devido às especificidades desse tipo de investimento e de
imperfeições do mercado de capitais (e.g. informação incompleta
e/ou assimétrica), a taxa de retorno exigida sobre o investimento
em capital humano tende a ser maior do que em qualquer outro
tipo de investimento.
Portanto, pela teoria do capital humano, a falta de motivação
para as pessoas mais pobres nele investirem seria explicada
pelas restrições impostas pelo funcionamento imperfeito do
mercado de capitais.3 A dificuldade de conseguir fundos de empréstimo4 para financiar investimentos em capital humano via
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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educação formal levaria os indivíduos a buscarem financiamento interno, o que significa que as famílias mais ricas — que
podem mais facilmente reduzir o seu nível de consumo — tenderiam a investir mais nesse capital do que as mais pobres.
Nesse sentido, a ação do Estado seria justificada nessa visão
teórica por três motivos básicos: 1) o valor do investimento em
capital humano para a sociedade pode exceder o seu valor para
as unidades familiares; 2) para que prevaleça a igualdade de
oportunidades, o desenvolvimento educacional da criança deve
ser independente dos recursos de sua família [Mendonça
(1994)]; caso contrário, gera-se um círculo vicioso de pobreza; 3)
para que o maior incentivo para os jovens investirem em capital
humano não provoque subinvestimento na população adulta
trabalhadora.
No caso da qualificação profissional, o problema do financiamento apresenta contornos mais delicados, pois nem trabalhadores nem empregadores estão seguros de que poderão se apropriar integralmente dos retornos dos investimentos realizados.
Se o investimento for feito em formação geral, uma firma pode
gerar externalidades para outras, as quais se apropriam sem
custos do investimento realizado pela primeira. Se for em formação específica quem fica em situação delicada é o trabalhador
pois, no caso de ser demitido, seu conhecimento adquirido poderá ter pouca utilidade na procura por um novo posto.
Desse modo, dada a dinâmica das relações de trabalho e a
estrutura de mercado em que se encontra a empresa, os custos
relacionados à acumulação de capital humano podem gerar
desde uma atitude descompromissada com a formação profissional de seus empregados por sua parte, até o surgimento de
acordos e práticas5 que visam à divisão dos custos do treinamento entre empresa e trabalhador. A questão da rotatividade
da mão-de-obra ganha aqui um papel de destaque. Em geral,
setores que apresentam alta rotatividade são exatamente aqueles em que as firmas e os trabalhadores tendem a subinvestir
em capital humano.6 Na oferta, tal comportamento justifica-se
pelo temor do free-rider; na demanda, pela ausência de perspectiva de ascensão na empresa. De outro modo, os setores que
apresentam uma baixa rotatividade da mão-de-obra tendem a
gerar, de forma endógena, elementos que reforçam a segmenta
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14
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
ção no mercado de trabalho, a fim de evitar a perda do investimento realizado em capital humano.
Apesar desse quadro duplamente negativo que leva ao aumento da concentração da renda do trabalho, e ao mesmo tempo reforça a segmentação no mercado, a ação governamental no
mercado de qualificação profissional só seria justificada se houvesse imperfeições de mercado, como informação incompleta e
falhas no mercado de crédito; ou ainda se o governo tiver objetivos outros que não somente a eficiência econômica, como, por
exemplo, a possibilidade de conturbações sociais devido a elevados índices de desemprego. Essa posição, que encontra respaldo
nos textos do Banco Mundial,7 implica a centralização da ação
governamental na educação básica, de modo a privilegiar a adequação do perfil da oferta potencial (futura) de trabalho, e não
leva em conta a possibilidade de desenvolvimento de políticas
públicas que visem ao trabalhador já inserido na produção.
A teoria do capital humano acaba, desse modo, por transformar a educação em uma panacéia. Tal confusão deve-se ao fato
de se ignorar o papel da demanda por trabalho na determinação
dos diferenciais de rendimento, e também à relação direta e sem
mediações que ela estabelece entre o nível educacional e a produtividade do trabalhador, e entre produtividade e rendimento
do trabalho. Isso nem sempre é verdadeiro, dadas as características dos postos de trabalho, a hipótese forte de homogeneidade
do produto educação, e as características da estrutura de mercado em que se encontra a empresa demandante por uma mãode-obra particular.
Diante dessas observações, cumpre destacar o papel que a
segmentação no mercado de trabalho pode exercer como uma
fonte geradora de desigualdades de rendimento.
A existência de regras de funcionamento8, entendidas como resultado de
processos internos à dinâmica da empresa, ou antes, das uni2.2. Teorias da
Segmentação
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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dades administrativas9, é tratada basicamente sob dois enfoques: um que procura entender esse processo a partir da racionalidade microeconômica, e outro que fundamenta sua argumentação em práticas costumeiras, na existência de instituições
e no dualismo tecnológico. As duas abordagens visam dar racionalidade à constituição de mercados internos de trabalho (MIT)10
no interior das unidades administrativas. Essa decomposição do
nível da análise — não se trata mais da firma representativa ou
do somatório das firmas — é decorrência da idéia de que o estudo do mercado de trabalho a nível agregado, como mecanismo
de determinação do nível de emprego e do salário, através da
interação entre oferta e demanda globais de trabalho, só é possível a longo prazo. A curto prazo, a interação se daria nos diversos mercados de trabalho, cuja dimensão seria proporcional ao
grau de substitutibilidade entre as ocupações.11
A existência de mercados internos de trabalho explica a pouca
mobilidade da mão-de-obra e as diferenças salariais para indivíduos de mesmo grau de qualificação. Contudo, eles são inseridos em unidades administrativas com diferentes padrões de
comportamento: regras administrativas oriundas de práticas
habituais, influenciadas por instituições como sindicatos e governo, ou ainda derivadas da racionalidade maximizadora de lucro dentro de certas restrições tecnológicas, mais as específicas
da função de produção da firma.
Nesse sentido, a desigualdade dos rendimentos do trabalho
seria provocada, em última instância, pela possibilidade da divisão do mercado em primário e secundário, sendo o primeiro
constituído por bons empregos — entendidos como os que apresentam estabilidade e boas possibilidades de ascensão profissional, e que permitem por parte da unidade administrativa e do
empregado investimentos em capital humano — , e o último
constituído por maus empregos — sem estabilidade, sem perspectivas de ascensão e com baixo interesse no investimento em
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
capital humano por parte da unidade administrativa e dos empregados.
No contexto de uma economia competitiva, a formação de
mercados internos seria causada por três fatores, além da hipótese de minimização dos custos salariais: 1) o valor que os trabalhadores atribuem aos benefícios gerados pelos MIT (e.g. estabilidade)12; 2) o custo de turnover para o empregador, pois a alta
rotatividade aumenta os custos quase-fixos13; e 3) custos relacionados à seleção adversa14 [Freitas (1992)]. Essas características, algumas delas também presentes nos modelos de salárioeficiência, dariam racionalidade tanto à firma quanto aos trabalhadores no sentido de cooperarem para a formação dos MITs,
sendo que o papel relevante na determinação do grau de mobilidade e da diferenciação salarial seria o da demanda, em contraposição à teoria do capital humano, que destaca o papel da
oferta na determinação dos diferenciais salariais.
A inclusão do investimento em capital humano neste referencial teórico tende a gerar diferenciações salariais ainda maiores.
Trabalhadores que, inicialmente, tinham o mesmo nível de qualificação, ao se inserirem em mercados de trabalho diferentes
tendem a investir de maneira diferenciada em capital humano.
Nessa perspectiva, pode-se concluir que os MITs: 1) são pouco
sensíveis às alterações no ambiente macroeconômico, pois as
diversas estratégias administrativas atuam no sentido de reduzir
o impacto de tais alterações sobre as variáveis que minimizam
os custos de informação; 2) amortecem o conflito capi
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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tal/trabalho e aumentam o nível de cooperação entre os trabalhadores; e 3) diminuem os custos de transação e aumentam o
custo de oportunidade do comportamento negligente e da demissão voluntária, etc. Esse comportamento justifica a rigidez
dos salários no mercado de trabalho primário, no sentido descendente quando ocorre uma retração da atividade econômica;
e, também, a não absorção de mão-de-obra fora dos MITs quando há expansão da atividade econômica.
Para inserir essa discussão nos marcos do crescimento econômico a médio e longo prazos, é preciso considerar que a simples criação de novos postos de trabalho15, a uma taxa superior
à do crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), não
teria como conseqüência direta a minimização da desigualdade
na distribuição dos rendimentos. Se essa desigualdade for conseqüência da existência de mercados internos e da segmentação
do mercado de trabalho em primário e secundário, deve-se levar
em conta não apenas o ritmo do crescimento, mas também o
seu padrão: quais setores estão alavancando o processo, e em
que segmento do mercado de trabalho — bons ou maus empregos — eles se inserem, ou seja, que mudanças o padrão de
crescimento impõe (ou não) à demanda e à oferta de trabalho, e
como respondem àquela sinalização. Também as políticas públicas exercem influência tanto sobre a oferta quanto sobre a demanda por trabalho no sentido de amenizar possíveis desequilíbrios estruturais. Nesse sentido, é fundamental compreender as
recentes transformações que o processo de globalização engendrou no mundo do trabalho.
3. GLOBALIZAÇÃO, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA,
FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
O termo globalização tem sido utilizado correntemente, mas
de forma pouco precisa, para explicar toda uma gama de transformações ocorridas no final dos anos 80 e início dos anos 90, e
que dizem respeito a todas as esferas da vida econômica, política, social e cultural. A globalização pode assim ser caracterizada
sob várias perspectivas, de modo a fornecer um quadro geral de
suas conseqüências, seguindo a tipologia realizada por Baumann (1996).
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18
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Sob uma perspectiva financeira, o processo de globalização
relaciona-se ao aumento do volume de recursos transacionados
e à sua velocidade de circulação, fenômenos fortemente relacionados aos avanços tecnológicos na área de comunicação e informação, na reengenharia financeira e na desregulamentação
do sistema financeiro. Do ponto de vista do comércio, observa-se
uma crescente semelhança nas estruturas de demanda, com a
universalização do consumo e da estrutura de oferta nos vários
países, provocando uma alteração no setor produtivo, que se caracteriza pela convergência nas características da produção, baseadas fortemente nas inovações de processo. No campo das
instituições, destaca-se a convergência dos diversos sistemas
nacionais no sentido de homogeneizar as estruturas regulatórias
em diversas áreas; em particular, o comércio e os direitos de
propriedade. Tais transformações dão-se concomitantemente à
perda de graus de liberdade por parte dos diversos países na
condução de suas políticas econômicas.
Diante desse quadro, a principal relação que pode ser estabelecida entre o processo de globalização das economias nacionais e o mundo do trabalho diz respeito aos efeitos que a base
tecnológica provoca sobre o mercado de trabalho. A incorporação da microeletrônica aos processos produtivos e gerenciais
permitiu a retomada dos antigos patamares de lucratividade e
uma verdadeira revolução nas formas organizacionais das empresas e do aparelho do Estado. Vale destacar ainda que estes
dois efeitos apresentam um forte componente retroalimentador,
cuja principal conseqüência é a flexibilização do trabalho e do
processo decisório, e se traduz numa gigantesca economia de
tempo e ampliação de espaços,16 implicando assim uma sensível
diminuição de custos.
Nesse contexto, podem-se destacar dois fenômenos básicos que
se diferenciam na forma de manifestação, mas estão intrinsecamente relacionados: 1) o crescimento sem aumento proporcional
do emprego, do ponto de vista quantitativo; 2) a polarização dos
postos de trabalho em bons e maus, qualitativamente.
O primeiro aspecto se apresenta como conseqüência das inovações de processo que atuaram no sentido de racionalizar o investimento, e surge como resposta ao esgotamento do modelo de
acumulação e regulação taylorista/fordista, e do círculo vicioso
do crescimento institucionalmente regulado. Em tal modelo, o
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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aumento da produtividade do trabalho e o aumento dos salários
eram ajustados de tal forma a não permitir o surgimento de crises de subconsumo, pois a produção em massa exige consumo
em massa, gerando assim uma demanda crescente por novos produtos e serviços que promovia novas oportunidades de emprego e
investimento, de modo a eliminar o provável aumento do desemprego provocado pelos ganhos de produtividade.17 Nesse sentido,
as mudanças estruturais no modelo de acumulação tiveram como
efeito o desatrelamento do crescimento da geração de emprego,
como mostra a sensível redução da elasticidade-produto do emprego na maioria dos países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).18
O segundo aspecto reflete-se em um processo dual em que a
reestruturação das bases organizacionais das empresas acaba
por requerer qualificação técnica cada vez maior dos seus funcionários situados no topo da cadeia organizacional; ao mesmo
tempo, destrói postos de trabalho intermediários, os quais perdem sua razão de ser em função dos avanços tecnológicos (intensivos em capital) e dos processos de terceirização e desverticalização (racionalização do processo produtivo e gerencial).
Sob esse ângulo, os principais perdedores são os trabalhadores com muito capital humano específico e pouco capital humano geral, os quais sofrem com a deterioração da qualidade e do
rendimento do trabalho causada pela depreciação acelerada e,
em alguns casos, irreversível do seu capital humano, dificultando assim a probabilidade e/ou a qualidade de sua reinserção no
mercado. Nesse sentido, observa-se uma deterioração das condições de trabalho, que se manifesta de três modos: 1) aumento
do emprego no setor de serviços, não acompanhado por aumento de produtividade, o que reduz o rendimento; 2) aumento
do número de trabalhadores por conta própria, o que também
pode reduzir o nível médio de rendimento, se não for acompanhado de um aumento da atividade econômica; e 3) aumento da
taxa de desemprego aberto que pode ser caracterizada como desemprego estrutural [Cacciamali (1991)].
Todavia, a dualidade refletida pelo processo de destruição e
geração de postos de trabalho é tratada de maneira diversa na
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, =<<= ( ! % ' ,
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20
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
literatura. Há uma corrente que procura mostrar os efeitos benéficos que as inovações tecno-produtivas (induzidas pela disseminação da microeletrônica em todos os setores da atividade
econômica) têm sobre o trabalho humano. Nesse enfoque, busca-se destacar a tendência à geração de empregos mais interessantes do ponto de vista do trabalhador, que assumiria funções
mais abstratas e intelectuais.19
Outra corrente busca destacar a crescente terciarização da
economia combinada com a informalização do trabalho, ou seja,
um aumento expressivo do setor de prestação de serviços20, com
relação ao primeiro aspecto; e do retrocesso do emprego de tempo integral concomitantemente ao surgimento de formas de emprego atípicas21, no que se refere ao segundo aspecto. Cabe destacar que isso dá-se não apenas com trabalhadores pouco qualificados, mas também com trabalhadores com grande acúmulo
de capital humano — os analistas simbólicos na terminologia
de Reich — que se encaixam nos trabalhos criativos cuja produção e remuneração não estão associadas ao tempo de trabalho.22 Todavia, nesse caso, os próprios trabalhadores se tornaram flexíveis, uma vez não têm dificuldades para adaptar-se a
diferentes tipos de atividade, o que reduz o impacto daquelas
transformações sobre o fluxo e o nível do seu rendimento.
Desse modo, pode-se concluir, seguindo Reich (1991), que a
globalização tende a levar a uma cisão cada vez maior entre os indivíduos com diferentes níveis de capital humano, aumentando de
forma crescente a concentração da renda do trabalho, uma vez
que as transformações têm impacto diferenciado sobre os trabalhadores com tipos e quantidades diferentes de capital humano.23
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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Uma das principais conseqüências da flexibilização do trabalho sobre as relações profissionais diz respeito à crescente nãosindicalização dos trabalhadores.24 Novamente deve-se considerar o papel que a introdução da microeletrônica, tanto na fábrica
como no escritório, tem sobre a possibilidade de fragmentação e
dispersão espacial das empresas e das unidades de uma mesma
empresa, favorecendo o surgimento de pequenas unidades produtivas, o que leva a maior heterogeneidade dos trabalhadores e
ao enfraquecimento dos laços de solidariedade entre eles. Isso
pode ser visto por um lado estritamente econômico (redução do
poder de barganha dos trabalhadores, e a possível redução de
sua participação relativa na renda) e por outro, de viés sóciopolítico, que demonstra o esgotamento do pacto político instituído no pós-guerra, o qual viabilizava o modelo fordista. A redução
do número de trabalhadores sindicalizados traz para a ordem do
dia a discussão sobre os novos atores sociais e/ou coletivos que
teriam de viabilizar o novo arranjo social e institucional a ser
constituído sob as transformações provocadas pelo novo paradigma tecnológico.
Por fim, cabe investigar se as tendências apontadas na literatura
(principalmente com relação ao mundo do trabalho) para os países
desenvolvidos também se manifestam da mesma forma nos países
em desenvolvimento. Deve-se ressaltar, nesse aspecto, a heterogeneidade dos países em desenvolvimento, que ocorre não apenas no
nível da incorporação das inovações tecnológicas, o que remete à
existência ou não de uma política industrial ativa e uma política comercial agressiva, mas também na forma como os países reagiram à
crise do final dos anos 70 e início dos anos 80 [Cacciamali (1991)].
Nesse sentido, observa-se que a internacionalização do modelo fordista de acumulação durante os anos 70 e 80 resultou
numa forma degenerada. [Altvater (1993)], dada a ausência da
base institucional que o viabilizou nos países europeus e da infra-estrutura pública e privada adequadas. Criou-se assim, na
maioria dos países (principalmente os latino-americanos), uma
base social e econômica inadequada para sustentar uma economia globalizada e suas implicações. De um lado, tem-se a
questão da insuficiência dos investimentos em capital humano,
de modo a suprir a nova demanda desse capital para os bons
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22
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
empregos. De outro, apresenta-se a enorme dívida social que esses países têm, principalmente com relação à saúde e à educação, pois não houve a constituição de um Estado de Bem-Estar
Social, ou mesmo de um simulacro. É possível, assim, que a incorporação das novas técnicas produtivas e organizacionais venha a ter efeitos ainda mais desastrosos, pois os países que não
se ajustaram ao novo padrão não têm um estoque de capital
humano adequado, nem os amortecedores sociais que o Estado
Social europeu proporciona a seus excluídos.
Em termos de macroestratégias de políticas públicas para a
proteção dos excluídos, existem duas posições largamente veiculadas. Primeiro, há a estratégia defendida pelo Banco Mundial, que se baseia em políticas focalizadas de combate à pobreza
de modo a evitar o trade-off entre a eficiência e a eqüidade do
gasto social. O objetivo desta estratégia é assegurar a seletividade do gasto social e impedir que grupos que não se enquadrem
em determinada categoria de prioridade apropriem-se dos benefícios de uma política social da qual eles não são o grupo-alvo.
Essa postura baseia-se na argumentação de que o desenvolvimento social no futuro dependerá do ajuste estrutural gerador
de equilíbrio das políticas monetárias e fiscais e do balanço de
pagamentos. Dessa forma, a reestruturação dos serviços sociais
deveria pautar-se pela necessidade de equilíbrio monetário e fiscal e orientar-se, basicamente, pelos objetivos de racionalização
e eficácia do gasto social.
Em segundo lugar, tem-se a estratégia da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) de transformação produtiva com eqüidade, a qual procura articular três elementoschaves a transformação produtiva, as reformas nos programas
sociais e a ampliação e o reforço da democracia, tendo como
objetivo de longo prazo a redução das desigualdades. Na concepção cepalina, a competitividade, para ser autêntica, implica
ganhos de produtividade consistentes pela incorporação do progresso técnico, e não às expensas do salário real para fins de redução da absorção interna. Nesse sentido, a eqüidade atuaria
reforçando a competitividade autêntica, ao estimular a incorporação e difusão de padrões tecnológicos adequados à homogeneização das estruturas produtivas e padrões de comportamento
inovadores.
Sob outra perspectiva, a noção de competitividade autêntica
tem como um de seus requisitos básicos uma força de trabalho
bem-educada, com um novo perfil de qualificação que viabilize
um grau de competitividade sólido no mercado internacional. A
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
BE
garantia desse requisito implica um novo padrão de relacionamento entre capital e trabalho e no estilo de intervenção estatal,
no qual a estabilidade e políticas concertadas adquiram um papel central, de modo a permitir o desenvolvimento de atividades
conjuntas que visem garantir a adequação de determinado nível
de competitividade a algum grau de eqüidade. O reforço das estruturas democráticas desempenha aqui um papel fundamental.
Nessa ótica, as políticas sociais assumiriam uma dimensão estratégica na medida em que, por meio de programas universais
nas áreas de educação básica, saúde e nutrição e, principalmente, de formação de recursos humanos qualificados, forneceriam alguns dos fundamentos sociais necessários para a competitividade autêntica. Estes, ao criarem relações solidárias, reforçariam a democracia [Lopes (1994)].
4. MODERNIZAÇÃO PRODUTIVA E A QUALIFICAÇÃO DO
TRABALHADOR: O CASO BRASILEIRO
Na discussão acerca do processo de
modernização produtiva em que a economia brasileira viu-se lançada, a partir
da abertura comercial iniciada nos primeiros anos da década de
90, e sua relação com a qualificação do trabalhador destacam-se
alguns pontos polêmicos: 1) as conseqüências da dicotomia entre ensino geral e ensino técnico diante dos novos conhecimentos que passam a ser demandados; 2) o papel das políticas públicas no sentido de conectar os programas de treinamento e
formação profissional com os programas de seguro-desemprego,
colocação, geração de emprego e renda, ou seja, na articulação
de um sistema público de emprego.
4.1. Educação Formal
X Ensino Técnico
Sob o primeiro aspecto, destacam-se as posições que buscam
enfatizar a importância fundamental do ensino básico para a
consecução e consolidação das aptidões necessárias às novas
exigências tecnológicas e organizacionais, como por exemplo: a
capacidade de expressão verbal — seja oral ou escrita — , a capacidade de abstração e associação, raciocínio lógico, iniciativa
para a resolução de problemas, e a habilidade e capacidade para
aprender novas qualificações [Salm e Fogaça (1995)]. Tais características assumem um papel determinante no novo perfil de
demanda, o qual privilegia um trabalhador polivalente, capaz de
operar as novas técnicas de automação e de adaptar-se às novas
técnicas organizacionais, em contraposição ao ensino técnico,
que apenas adestraria o trabalhador para a execução de uma
24
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
tarefa específica. Todavia, cumpre destacar que o aumento da
demanda por mão-de-obra com maior nível de escolaridade formal pode relacionar-se ao aumento da oferta de indivíduos mais
educados, de modo que as empresas possam vir a valorizar
aquele atributo como um critério de seleção, e não necessariamente como uma exigência do processo de modernização produtiva [Cacciamali e Pires (1995)].
De todo modo, a separação entre educação geral e técnica tem
gerado profundas distorções no conteúdo e no acesso à formação e à qualificação profissional para o trabalhador brasileiro.
Essa dicotomia foi viabilizada pela base técnica empregada no
processo de industrialização no Brasil: a automação rígida, na
qual o aumento da competitividade implicava redução de custos
via crescentes economias de escala com o uso intensivo de máquinas especializadas. Para operar essas máquinas exigiam-se
operários com baixos requisitos de qualificação, os quais logo se
adaptavam ao regime taylorista de produção. O trabalho qualificado restringia-se a uma minoria de trabalhadores com conhecimentos e habilidades mais complexos, adquiridos em treinamentos específicos ou com uma longa experiência profissional, e
aos trabalhadores situados fora da produção propriamente dita,
ligados basicamente a tarefas de gestão. Nesse sentido, podemos
afirmar que o perfil educacional não se apresentava como um
entrave ao desenvolvimento, pois se mostrava adequado às necessidades da estrutura produtiva [Fogaça e Silva (1993)].
A principal conseqüência desse processo, para o conteúdo
pedagógico, foi a dicotomia entre educação para o trabalho e
educação para a cidadania. Contudo, o surgimento do novo padrão tecnológico baseado na automação flexível exige a consolidação do conceito de produtividade sistêmica. Nesta, o trabalhador, como produtor e consumidor simultaneamente, passa a
desempenhar um papel fundamental que exige sólida base educativa, de modo a tornar o processo de aprendizagem no trabalho algo contínuo. Essa transformação é fundamental para que o
capital humano geral e específico do trabalhador seja preservado
da acelerada taxa de depreciação que caracteriza as transformações possibilitadas pela microeletrônica, discutidas na seção
anterior.
Do ponto de vista dos sistemas educacionais, esse processo
implica uma profunda reestruturação curricular, algo que é reconhecido em países com estruturas e estratégias econômicas
tão diferentes como Alemanha e Coréia, no sentido de aumentar
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
BG
a participação de disciplinas com conteúdo mais geral, em detrimento daquelas de conteúdo meramente instrumental.
No caso brasileiro, parece haver um consenso na literatura no
sentido de destacar os problemas qualitativos do processo educacional [Fogaça e Silva (1993)]. Não se trata mais de expandir a
estrutura física das escolas, mas de discutir a qualidade e os
retornos dos investimentos realizados na educação formal e técnica. Entre os problemas apontados na literatura destacam-se:
1) elevados índices de evasão e de repetência;
2) falta de investimento na formação do profissional de educação;
3) ênfase em políticas compensatórias do tipo merenda escolar, material didático, em detrimento das questões pedagógicas;
e
4) baixos salários dos professores.
O investimento no sistema de educação geral, principalmente
no ensino básico regular, de modo a melhorar a qualidade do
ensino e propiciar a redução dos níveis de evasão e repetência
— assim como a participação das empresas no sentido de ampliar as oportunidades de reciclagem, atualização e complementação de escolaridade dos seus trabalhadores jovens e
adultos que abandonaram precocemente seus estudos — é iniciativa fundamental para se evitar a maximização dos efeitos negativos que a nova base técnica pode ter sobre o mercado de trabalho. Principalmente no que se refere a seus efeitos sobre a distribuição de renda e a relação entre esta e o incentivo para a família investir em capital humano,25 já destacados no primeiro capítulo deste trabalho.
A provisão do ensino técnico no Brasil encontra-se dividida
entre as esferas governamentais, o setor privado e as entidades
de classe, o que leva a uma dispersão gerencial com sérios impactos qualitativos e alocativos sobre as diversas áreas atendidas nos três setores de atividade econômica. No setor primário,
predominam as escolas técnicas federais e, mais recentemente,
o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR); no secundário destaca-se o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI), administrado pelos empresários industriais. No setor
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26
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
terciário, há o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(SENAC), também com administração empresarial.
Entre os problemas gerados pela dispersão dos programas de
ensino técnico destacam-se: a desvinculação entre o ensino técnico e o ensino formal, o predomínio de cursos de curta duração
e de cursos de formação específica (em detrimento dos cursos de
formação geral e de aprendizagem), e a ausência de programas
direcionados à requalificação dos desempregados.
Essas dificuldades só poderão ser superadas mediante a reestruturação do sistema de ensino técnico, de forma coordenada
com a criação de um sistema público de emprego que integre e coordene as atividades: de seguro-desemprego, recolocação do desempregado, qualificação e requalificação do trabalhador, geração
de emprego e renda associada, e também a capacitação gerencial
dos pequenos empresários e autônomos ligados àqueles programas. Tal tarefa, entretanto, só pode dar-se com uma ampla negociação que envolva o governo, os empresários e os trabalhadores,
para evitar a consolidação de privilégios e o transbordamento de
recursos públicos para atividades de caráter privado.
É fundamental que o país entre em sintonia com o novo conceito de competitividade, no qual o crescimento da produtividade está diretamente vinculado a relações industriais que possibilitem e facilitem o acúmulo de capital humano por parte do
trabalhador. Dessa forma, cumpre observar o papel determinante que relações de trabalho mais estáveis, junto com investimento pesado em educação básica e profissionalizante, tende a
desempenhar no sentido de garantir a consolidação, em termos
dinâmicos, dos ganhos de produtividade. No caso brasileiro,
como observa Amadeo (1992), o aumento da informalização do
trabalho ao longo da década de 80 nos setores urbanos representa o contrário do que se esperaria de uma economia em processo de modernização de suas relações capital-trabalho, na
medida em que o aumento do número de empregados sem carteira revela a opção por trabalhadores baratos e descartáveis,
resultando no subinvestimento em capital humano.
4.2. Evidências Empíricas
Recentes
do Papel da Educação e da
Qualificação Profissional
no
Mercado de Trabalho
Brasileiro
A importância da educação e da
experiência na determinação do
diferencial de rendimento, somadas ao papel da modernização
produtiva no aumento da demanda por mão-de-obra qualificada, tem sido objeto de estudos recentes sobre o mercado de
trabalho brasileiro. Em geral, têm-se encontrado fortes indícios
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
B;
da existência de segmentação, além de uma forte participação
do atributo educação na explicação da desigualdade de renda. A
seguir apresentamos os resultados dos trabalhos mais recentes
realizados nessa área.
Cacciamalli e Freitas (1992) apresentam um estudo que visa
testar as diversas teorias de determinação de salários, a partir
de dados da Relação Anual de Informações Sociais ( RAIS) de
1987, para cinco ramos do setor manufatureiro da região metropolitana de São Paulo. Na estimação das equações salariais,
os coeficientes das variáveis anos de escolaridade e experiência,
utilizados como proxies do capital humano geral e específico,
respectivamente, apresentaram os sinais (positivos) esperados e
significativos ao nível de 1% de significância, sendo que os setores classificados como modernos (eletrônico e de comunicações,
material de transporte e químico) apresentaram valores absolutos maiores. Com relação ao coeficiente da variável tempo de
permanência do trabalhador na firma, uma proxy para o treinamento específico e para a existência de algum grau de mercado
interno, os sinais encontrados também foram os esperados (positivos) e significativos a 1% de significância. Um aspecto relevante, contudo, refere-se ao fato de este atributo ser mais importante que a escolaridade e a experiência para os ramos classificados como tradicionais (mobiliário, couro e peles). Analisando as características da ocupação, a partir do grau de qualificação exigido por determinado posto de trabalho, o estudo mostra
que a qualificação superior foi significante apenas nos setores
modernos. Indicou-se assim a importância fundamental do perfil da demanda na determinação e na criação de diferenciais
persistentes de salários, e também uma tendência à concentração da renda em benefício dos trabalhadores dos setores modernos. Além de receber um prêmio por seu maior nível de qualificação, o trabalhador tem um ganho adicional por ocupar um
posto que requer maior qualificação.
Ramos e Pinheiro (1995), apesar de estudarem apenas a dispersão dos salários industriais, mostram — a partir de dados
da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios (PNAD/IBGE)
de 1990 — que a estrutura salarial é robusta ao longo do tempo, não havendo evidência de que as diferenças salariais possam ser imputadas a diferenças na qualidade do emprego, à
heterogeneidade dos trabalhadores, a práticas discriminatórias,
ao excesso de demanda a curto prazo, e ao ambiente macroeconômico e político. A segmentação, pelo menos na indústria,
contribuiria para aumentar a participação da educação como
fator explicativo das diferenças salariais, pois os trabalhadores
28
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
com maiores diferenciais de salário são aqueles mais qualificados.
Barros e Mendonça (1995) fornecem interessantes conclusões
a respeito do atributo educação quando analisam a qualidade do
emprego no Brasil, a partir de dados da Pesquisa Mensal de
Emprego (PME/IBGE) para a Região Metropolitana de São Paulo.
Os autores encontraram evidências de que não há uma tendência dos ramos de atividade que pagam maiores salários a serem
também aqueles que mais valorizam a educação, ou seja, trabalhadores mais qualificados são melhor pagos independente do
ramo de atividade. Contudo, os autores também encontraram
uma correlação positiva entre a qualidade do trabalhador (dada
por sua escolaridade) e a qualidade do emprego, dada pelo nível
salarial controlado por atributos, de modo a garantir algum grau
de homogeneidade entre os trabalhadores analisados. Assim, os
trabalhadores com nível educacional mais elevado tendem a beneficiar-se, não só de seu maior capital humano, mas também
pelo fato deste lhes facilitar o acesso a empregos de mais alta
qualidade. Resultado semelhante foi encontrado por Cacciamalli
e Freitas (1992), apesar de ressaltarem de modo mais contundente a importância do perfil da demanda por trabalho na geração de desigualdades salariais persistentes.
Amadeo et alli (1994) encontram evidência segundo a qual a
desigualdade global no Brasil declinaria de 30% a 35% caso os
diferenciais de educação não dessem origem a diferenciais de
salários, sendo que o poder explicativo do atributo idade — proxy da experiência também captada como capital humano —
também seria elevado, com valores entre 15% e 20%.
Procurando analisar o modo como a abertura comercial, a
modernização produtiva e a recessão do início dos anos 90 afetaram a estrutura do emprego formal nos diferentes subsetores da
atividade econômica, Rodrigues (1995) constata, a partir de dados
da RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Lei
no 4 923/69 — CAGED para o período de 1989 a 1994), que, à exceção das instituições financeiras e da administração pública,
houve uma redução de três pontos (de 49,5% para 46,5%) no percentual dos empregados com qualificação elementar, e uma elevação de três pontos, de 40% para 43,1%, na participação dos empregados com instrução média. Os dados da pesquisadora revelam o aumento da escolaridade dos ocupados do setor formal.
Laís Abramo (1995) busca caracterizar os principais pontos
de estrangulamento relativos à qualificação da mão-de-obra
ocupada do ponto de vista dos empregadores, e as mudanças
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
B<
introduzidas na organização do trabalho em quatro países da
América Latina: Brasil, Argentina, México e Chile. Foram pesquisadas empresas de duas indústrias específicas: a de alimentos, representando o setor tradicional, e a metal-mecânica, como
representante do setor moderno. Os resultados mostram que,
independentemente da indústria investigada, as mudanças introduzidas na organização do trabalho centram-se, fundamentalmente, na simplificação das tarefas, o que pode significar
maior fragmentação do trabalho, aprofundando suas características tayloristas e uma liberação de energias físicas e mentais
para atividades mais ricas e qualificadas, se o processo de simplificação de tarefas for associado a outras mudanças na organização. Todavia, é importante destacar que aquelas atividades
relacionadas a tarefas como inspeção, controle estatístico da
qualidade e programação de equipes são as modificações menos
adotadas.
No caso brasileiro, diversas evidências empíricas permitem ressaltar a importância dos atributos educação e experiência na determinação dos diferenciais salariais, mas de modo diferenciado
segundo o setor de atividade econômica, dada a grande heterogeneidade da estrutura produtiva. Além disso, destacam o crescente
aumento de escolaridade dos setores formais da economia (o que
pode levar a menor nível de desigualdade de renda) e os efeitos
ainda incertos e inconclusivos da modernização produtiva sobre a
qualidade do trabalho.
5. A DINÂMICA DA FORÇA DE TRABALHO OCUPADA NA
GRANDE SÃO PAULO NO PERÍODO 1988/1995
A análise do perfil educacional da força de trabalho ocupada
na Grande São Paulo requer o cruzamento das informações referentes ao grau de escolaridade da população ocupada por setor
de atividade com sua distribuição etária e seu rendimento médio
real. Esse conjunto de informações, aliadas a outras evidências
disponíveis na literatura, permite inferir algumas tendências no
mercado de trabalho da região no período 1988/199526, principalmente ao que se refere à importância que o atributo escolaridade vem assumindo no período mais recente.
Os diversos atributos analisados foram agrupados de modo a
garantir algum grau de homogeneidade, com o objetivo de ex-
- ( ( ' ( *
30
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
trair dos dados o maior conjunto possível de informações. Desse
modo, dividiu-se os trabalhadores ocupados em seis grupos segundo a faixa etária: trabalhadores infantis (10 a 14 anos), trabalhadores adolescentes (15 a 17 anos); jovens trabalhadores
(18 a 24 anos), trabalhadores adultos (25 a 39 anos); trabalhadores adultos maduros (40 a 59 anos) e trabalhadores idosos
(60 anos e mais).
No que concerne ao grau de escolaridade, a classificação realizada foi a seguinte: trabalhadores analfabetos, trabalhadores
com nível primário (até 4a série), trabalhadores com primeiro
grau incompleto e completo, trabalhadores com segundo grau
incompleto e completo e trabalhadores com terceiro grau incompleto e completo.
Os setores de atividade foram classificados 27 em: indústria,
subdividida em moderna e tradicional, construção civil, comércio de mercadorias, e serviços — subdivididos em produtivos,
sociais, governamentais e pessoais — , entre outros. A subdivisão dos setores industriais e de serviços permite observar as
heterogeneidades intra-setor, fenômeno marcante no caso da
área de serviços, nos quais se observa um diferencial na qualidade dos empregos gerados, polarizados entre serviços produtivos que, em geral, são constituídos por empregos de alta qualidade — com carteira de trabalho assinada e rendimento acima
da média — , e serviços pessoais, caracterizados por empregos
de baixa qualidade.
A partir da análise das informações referidas se tentará compreender parte da dinâmica do mercado de trabalho na Grande
São Paulo e os desafios que o novo perfil de demanda e de oferta
da mão-de-obra — este que aos poucos se desenha — impõe às
políticas públicas, no sentido de amenizar o custo do ajuste
(seja este conjuntural e/ou estrutural) imposto às empresas e
aos trabalhadores, para tornar o aumento de produtividade uma
meta consistente com a elevação do nível do bem-estar da população.
5.1. Características Gerais
do Mercado de
Trabalho e dos
Ocupados na Grande
São Paulo
5.1.1. O Emprego na
Grande 3 6
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Paulo
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O número de ocupados na Grande
São Paulo cresceu 13,45% no período compreendido entre 1988 e
1995, como mostram os dados da
tabela 1. Todavia, esse cresci-
! ( $ OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
E=
mento foi insuficiente para absorver a oferta anual de trabalhadores ingressantes no mercado de trabalho e para compensar a
redução de postos de trabalho causada pelo processo de modernização tecnológica e organizacional que se intensificou nos últimos anos, em virtude da abertura comercial e, nesses últimos
dois anos, da valorização cambial.
A taxa de desemprego, que nos últimos anos da década de 80
situava-se em geral abaixo dos 10%, passa a situar-se, durante
a década de 90, continuamente acima daquele patamar, revelando a incapacidade da economia de gerar o número de empregos necessários.
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5.1.2. Idade Média do
Trabalhador
De maneira geral, a idade média dos ocupados elevou-se no período. No entanto, o
detalhamento dessa informação por faixa
de idade revela mudanças qualitativas importantes no mercado
metropolitano. Observa-se na tabela 2 que a proporção dos ocupados até 24 anos, portanto numa faixa etária ainda em idade escolar, caiu de aproximadamente 30% em 1988 para 26% em
1995. Os trabalhadores de 25 a 39 anos mantêm sua participação
em torno de 42,5%; já a taxa de participação dos trabalhadores de
40 a 59 anos de idade, que em 1988 representava 23,7%, em
1995 alcança 27,6%. Esse movimento também se verifica de forma
menos intensa entre os trabalhadores com mais de 60 anos, cuja
participação aumenta de 3,24% para 3,64% no mesmo período.
O fato de o mercado estar privilegiando trabalhadores com mais
idade e com mais escolaridade, como se verá adiante, tem profundas implicações sobre os jovens e adultos desempregados. Para os
primeiros, o mercado sinaliza que o abandono precoce dos estudos terá grande influência sobre sua vida laboral futura; para os
últimos, o mercado também sinaliza que, sem melhores níveis de
32
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
escolarização e de qualificação profissional, dificilmente estes conseguirão novas oportunidades no mercado formal, propiciador de
salários fixos e benefícios sociais.
O papel do governo, em ambos os casos, é decisivo. Há necessidade de se promover políticas públicas específicas para minimizar esses impactos para os trabalhadores com as características acima descritas, principalmente as que se referem à educação e qualificação profissional.
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Quanto ao grau de escolaridade dos
ocupados na Grande São Paulo observase forte redução na participação dos trabalhadores que não concluíram as quatro primeiras séries do 1o grau, e também acentuada elevação do percentual de ocupados que possuem pelo
menos o segundo grau completo, como mostra a tabela 3.
5.1.3 Nível de
Escolaridade
Esses dados são consistentes com o aumento da idade média
observada, pois a probabilidade de possuir graus mais elevados
de escolaridade aumenta com a idade do indivíduo.
Os movimentos mais marcantes ocorreram com trabalhadores
que possuem o segundo grau completo, cuja participação saltou
de 11,7% para 16,3%, e aqueles com terceiro grau completo, de
8,6% para 12,3%. Na outra ponta da distribuição, o comportamento foi oposto: a porcentagem de analfabetos reduziu-se em
um ponto percentual, e a daqueles com escolaridade até a 4 a série caiu oito pontos percentuais, passando de 35,04% para
27,26% durante o período em análise.
Esse fenômeno está intimamente associado com o novo perfil
da demanda de trabalhadores determinado pelo processo de
modernização da produção. Com certeza os números só não são
mais eloqüentes porque, como será visto adiante, o setor de serviços foi capaz de absorver grande parte dos postos de trabalho
eliminados principalmente pela indústria.
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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Quando se analisam as informações referentes ao grau de escolaridade e à respectiva faixa etária da população ocupada, observa-se que o aumento do nível educacional no período deu-se
de forma homogênea entre as faixas etárias. Para os ocupados
com mais de 18 anos — idade que, potencialmente, permite a
conclusão do 2o grau — houve um aumento significativo na
proporção dos que possuem 2o e 3o graus.28
Entre os trabalhadores adultos de 25 a 39 anos esse quadro
fica mais nítido: a proporção de analfabetos reduziu-se de 4,8%
para 4,2%. Para os trabalhadores que possuem até a 4a série a
redução foi ainda maior, de 32,82% para 22,09% no período. A
proporção de ocupados com o 2o grau e 3o grau incompletos ou
completos sofreu um aumento significativo: enquanto em 1988
apenas 13,82% entre 25 e 39 anos possuía o 2o grau completo,
em 1995 esta porcentagem é de 18,82%. Quanto ao 3o grau, a
porcentagem subiu de 12,69% para 15,87%, conforme se verifica na tabela 4.
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34
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Resta saber se tal alteração deveu-se à mudança no perfil da
oferta ou demanda por mão-de-obra. O fato de a mudança se
dar notadamente nas faixas etárias mais elevadas (entre 25 e 39
anos e 40 e 59 anos), quando a maioria absoluta dos ocupados
já encerrou seus estudos, e num curto intervalo de tempo —
1988 a 1995 — , sugere que foi o aumento da demanda por trabalhadores melhores qualificados que comandou a alteração do
perfil educacional dos ocupados.
Essa hipótese é corroborada por estudo recente da Fundação
SEADE, que compara o grau de escolaridade da População em
Idade Ativa (PIA) com o da População Economicamente Ativa.
Desse modo é possível verificar, ainda que parcialmente, se o
aumento do grau de escolaridade verificada na PEA reflete uma
mudança na composição da demanda pela força de trabalho,
privilegiando trabalhadores com maior grau de escolaridade, ou
simplesmente revela uma alteração do nível de instrução da população potencialmente ingressante no mercado de trabalho. A
análise da distribuição de escolaridade dos dois conjuntos “(...)
possibilita a percepção de que, apesar da tendência à ampliação
do nível de instrução da população em idade de trabalhar, há sinais importantes de constrangimento à inserção produtiva dos
segmentos de mais baixa escolaridade (...)” [Ferreira e Costa
(1995)].
Em resumo, esses dados indicam uma tendência do mercado
em privilegiar os atributos experiência — na medida em que
ocorre a elevação da idade média dos ocupados — e escolaridade, movimento que está relacionado aos diferentes estágios do
processo de reestruturação tecnológica e organizacional, nos diversos setores estratificados.
5.1.4. Ocupados por
O mercado de trabalho da Região
Setor de Atividade Metropolitana de São Paulo apresen-
tou, no período em análise, grandes
alterações na distribuição dos ocupados por setor de atividade
econômica.
As informações da Fundação SEADE mostram que o número de
ocupados na indústria caiu cerca de 259 mil entre 1988 e 1995;
no setor de serviços aumentou 752 mil.29 A tabela 5 mostra que
o setor industrial era responsável, em 1988, por quase um terço
(32,1%) do total dos trabalhadores. Essa proporção cai para um
quarto (24,9%) em 1995. Em compensação, o setor de serviços
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
EG
amplia sua participação de 44,41% para 50,18%; o comércio, de
14,16% do total do ocupados em 1988 para 16,88% em 1995.
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A perda de postos de trabalho na indústria foi mais sentida
no setor industrial moderno, cuja participação cai de 18,5%
para 13,6% no período. No ramo tradicional, a proporção passa
de 13,6% para 11,4%.
O setor de serviços, por sua vez, possui uma heterogeneidade
muito grande: o principal componente responsável pelo aumento
de sua participação foi o setor de serviços pessoais — composto
por postos de trabalho de baixa qualidade, como se verá mais
adiante, cuja participação aumenta de 19,5% para 22,5% entre
1988 e 1995 — , e o setor de serviços produtivos e sociais, cujas
participações apresentaram uma pequena elevação: de 14,2%
para 15,7% e 7,22% para 8,85%, respectivamente. O subsetor
governo apresentou uma redução de participação de 3,55% para
3,02%.
Observa-se que a movimentação no mercado de trabalho, por
hipótese, foi provocada principalmente pelo setor industrial, que
vem se tornando cada vez mais seletivo, porque, para ganhar
competitividade, teve de adotar processos produtivos e organizativos que enxugaram postos de trabalho. É de se esperar que
esse setor privilegie cada vez mais a escolaridade e a qualificação profissional do trabalhador.
36
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
O setor de serviços vem cumprindo o papel de criar oportunidades para boa parte dos trabalhadores desempregados, e também para os jovens trabalhadores. No entanto, os empregos aí
criados, como se verá em diversas passagens deste texto, diferem muito de qualidade entre os diversos subsetores analisados.
O subsetor governo não alterou de forma significativa nem a
quantidade nem a qualidade da sua mão-de-obra; o subsetor de
serviços, idem; o subsetor de serviços sociais apresentou o
mesmo comportamento. Dessa forma, foram principalmente os
subsetores de serviços produtivos e pessoais que apresentaram
aumento na participação do total dos ocupados, e absorveram
uma mão-de-obra diferenciada quanto ao grau de escolaridade.
Embora pouco significativa e decrescente ao longo dos anos, a participação do trabalho infantil (ocupados
entre 10 e 14 anos) chega a representar 1,5% do total da força de trabalho na Grande São Paulo
em 1995 (ver tabelas 3.1 e 3.2 do anexo).
5.2. Distribuição dos
Ocupados por Idade e
Setor de Atividade
Em termos absolutos30 — no conjunto das crianças — o trabalho infantil concentra-se nos serviços pessoais e no comércio
de mercadorias: 31,67% e 38,91% em 1995, respectivamente
(ver tabela 2.2 do anexo). Já em termos relativos — a participação do trabalho infantil no conjunto dos ocupados no setor —
as posições são invertidas: 3,42% dos ocupados no comércio de
mercadorias são crianças, enquanto nos serviços 1,16% correspondem àquela faixa etária no mesmo ano (ver tabela 3.2 do
anexo).
Apesar de a redução da participação do trabalho infantil se
dar de forma homogênea em todos os setores de atividade, esse
dado chama atenção dos governantes e da sociedade para a necessidade de intensificar a implantação de políticas de incentivo
à permanência da criança na escola e de coibir a exploração da
mão-de-obra infantil.
Entre 1988 e 1995 a participação dos trabalhadores adolescentes no total dos ocupados também sofreu uma redução em
todos os setores de atividade analisados. As maiores participações relativas desses trabalhadores concentram-se nos setores
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OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
E;
de serviços e de comércio de mercadorias: 4,63% e 8,05%, respectivamente, para o ano de 1995 (ver tabela 3.2 do anexo).
Entre os trabalhadores jovens — 18 a 24 anos — a queda da
participação não se deu de forma homogênea. Esse movimento
fez-se sentir de forma mais significativa na indústria e na construção civil, permanecendo estável no setor de serviços, e aumentando no comércio de mercadorias (ver tabelas 4.1 e 4.2 do
anexo).
A maior participação relativa de jovens trabalhadores acontece na indústria e no subsetor comércio de mercadorias. Entretanto, no setor industrial o peso dessa faixa etária vem caindo
ao longo do tempo. Em 1988, cerca de 25% dos trabalhadores
da indústria pertenciam a essa faixa etária; em 1995 esse total
cai para 21,62% (ver tabelas 3.1 e 3.2 do anexo). Essa redução
também pode ser observada em termos absolutos: em 1988,
35,72% dos jovens ocupados trabalhavam na indústria; em
1995 esse número cai para 27,54% (ver tabelas 2.1 e 2.2 do
anexo).
O nível de ocupação dos trabalhadores adultos (entre 25 e 39
anos) permanece estável entre 1988 e 1995. Todavia, observa-se
uma mudança na composição de emprego. Se, em 1988, 14,62%
dos ocupados dessa faixa etária situavam-se na indústria, esse
total reduz-se para 11,28% em 1995. Por outro lado, aumenta
sua participação no setor de serviços e do comércio de mercadorias de 18,83% para 21,67% e de 5,33% para 6,45%, respectivamente. Esse fato compensa a redução verificada na indústria
e na construção civil (ver tabelas 4.1 e 4.2 do anexo). Cumpre
observar que a participação relativa da indústria para essa faixa
de idade manteve-se praticamente constante no período analisado, 45,54% em 88 e 45,25% em 95 (ver tabelas 3.1 e 3.2 do
anexo) enquanto que, em termos absolutos, observa-se uma redução de 34,37% em 1988 para 26,47% em 1995 (ver tabelas
2.1 e 2.2 do anexo). Esses números indicam que, apesar da perda de postos de trabalho na indústria, os trabalhadores adultos
perderam relativamente menos que os trabalhadores mais jovens.
Quanto aos trabalhadores adultos maduros (40 a 59 anos),
observa-se um aumento de sua participação no total dos ocupados nos setores de serviços e no comércio de mercadorias: de
11,33% para 14,54% e de 3,11% para 4,06%, respectivamente,
entre 1988 e 1995. Na indústria e na construção civil a participação permaneceu estável naquele período: em torno de 6,5% e
1,5%, respectivamente (ver tabelas 4.1 e 4.2 do anexo).
38
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Em termos relativos, nos setores de atividade, as áreas que
contam com a maior participação de ocupados nessa faixa etária
são a construção civil, (30,73% em 1988 e 32,73% em 1995) e o
setor de serviços, com 25,50% dos trabalhadores em 1988 e
28,97% em 1995 (ver tabelas 3.1 e 3.2 do anexo).
Em termos absolutos, os serviços e a indústria ocupam a
maior parte dos trabalhadores entre 40 e 59 anos de idade. Ao
longo do período analisado houve um aumento da participação
do setor de serviços — de 47,85% para 52,64% — e reduziu-se
a da indústria de 27,34% para 23,46% (ver tabelas 2.1 e 2.2 do
anexo).
Entre os ocupados com 60 anos e mais observa-se um aumento de sua participação no total da população ocupada entre
1988 e 1995. Esse pequeno crescimento centra-se basicamente
no setor de serviços e no comércio de mercadorias, pois sua
participação na construção civil é constante; na indústria, ela
cai (ver tabelas 4.1 e 4.2 do anexo).
Observa-se, portanto, que o ajuste realizado na indústria implicou a perda de postos de trabalho, principalmente para os
trabalhadores entre 15 e 24 anos, pois tanto sua participação
relativa como sua participação absoluta sofreram forte redução
entre 1988 e 1995. Esta redução deu-se tanto na indústria moderna quanto na indústria tradicional, sendo mais visível na
primeira. Na indústria moderna, os trabalhadores entre 18 e 24
anos correspondiam a 24,49% do total em 1988. Em 1995 essa
proporção reduz-se a 20,42%. Na indústria tradicional, a porcentagem passou de 25,72% (1988) para 23,05% em 1995. Por
outro lado, observa-se, no conjunto da indústria, um aumento
relativo na participação das faixas etárias mais altas. Na faixa de
40 a 59 anos a porcentagem aumentou de 20% para 26%, e na
de 60 anos e mais o aumento foi de 1,8% para 2,0% (ver tabelas
3.1 e 3.2 do anexo).
A forte redução da participação relativa dos jovens no mercado de trabalho pode estar relacionada, ou a um retardamento de
sua entrada definitiva no mercado de trabalho em virtude do
término de seus estudos (o que seria uma hipótese otimista), ou
a algum tipo de limitação de postos de trabalho para sua faixa
etária. O fato de isso se dar fundamentalmente na indústria,
onde houve tanto uma redução relativa como absoluta de sua
participação, pode estar indicando uma preferência da demanda
por mão-de-obra experiente naquele setor. Parece mais plausível
aceitar a hipótese de que as empresas industriais têm buscado
minimizar a perda de capital humano específico, principalmente
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
E<
o que se relaciona com o atributo experiência, quando se vêem
induzidas a realizar ajustes no nível de emprego.
Com a finalidade de analisar a
distribuição dos ocupados por
grau de escolaridade, utilizaram
os dados dos ocupados com 25
anos e mais. Tal corte permite que o conjunto dos ocupados com
25 anos e mais seja tratado como uma proxy do estoque dos
ocupados segundo o atributo escolaridade. Esse procedimento é
necessário, pois cerca de 40% dos ocupados com menos de 25
anos ainda estuda — proporção que vem aumentando ao longo
do tempo: 32% em 1988 contra 40% em 1995. Indica-se assim
um fluxo de ocupados cuja escolaridade pode sofrer alteração ao
longo do tempo. Desse modo, centrou-se a análise no grau de
escolaridade dos ocupados com 25 anos e mais.
5.3. Distribuição dos Ocupados
por
Grau de Escolaridade e
Setor de Atividade Econômica
O aumento generalizado do grau de escolaridade dos ocupados com 25 anos e mais só não ocorreu de modo intenso na
construção civil, em que a participação relativa dos analfabetos
permaneceu estável no período: em torno de 17% (ver tabelas
5.1 e 5.2 do anexo).
O setor de serviços, em termos absolutos, emprega o maior
contingente de ocupados com todos os níveis de escolaridade.
Essa situação já se verificava em 1988 — quando este setor
ainda não era responsável pela maioria absoluta dos postos de
trabalho — , e consolida-se ao longo do período analisado. Entretanto, esse comportamento não é homogêneo para todos os
subsetores. Os serviços pessoais, por exemplo, empregam
37,26% do total de analfabetos, e apenas 5,73% do total de ocupados com nível superior. Os serviços produtivos empregam
7,02% dos analfabetos e 27,61% dos ocupados com nível superior, segundo os dados para 1995 (ver tabela 6.2 do anexo).
Em termos relativos, o setor de serviços responde pela maior
participação dos ocupados com nível superior: 15,67% em 1988
e 20,85% em 1995. Esse comportamento é explicado pelos serviços sociais, produtivos e de governo, os quais empregaram,
respectivamente, 42,35%, 27,35%, e 34,83% de pessoas em
1995. Nos serviços pessoais aquela categoria respondia por
apenas 4,13% do total de ocupados (ver tabela 5.2 do anexo).
Apesar da sua pequena participação no total dos ocupados,
os trabalhadores com nível superior do setor de serviços pessoais tiveram um aumento intenso no que se refere às suas participações — relativa, 112,4%, e absoluta, 72,1%. Tal alteração
40
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
pode estar relacionada ao processo de terceirização de atividades extremamente especializadas, com a contratação de consultores externos às empresas. Principalmente se levarmos em
conta que houve uma redução, em termos absolutos (-26,13%),
dos postos de trabalho industriais destinados aos trabalhadores
com grau superior, apesar do aumento de sua participação relativa perto de 28,70% (ver tabelas 7 e 8 do anexo).
Na indústria, a participação relativa dos ocupados que só têm
até a 4a série primária caiu de 40,33% em 1988 para 30,37% em
1995. A queda foi mais acentuada na indústria moderna do que
na tradicional. Houve também um aumento da participação dos
ocupados na indústria que possuíam do 1o grau incompleto ao
2o grau incompleto, aumento este que se deu de forma uniforme
na indústria moderna e na tradicional. Os ocupados na indústria com 2o e 3o graus completos também aumentaram sua participação no total dos ocupados naquele setor entre 1988
(24,47%) e 1995 (32,14%). O aumento foi mais acentuado na indústria moderna do que na tradicional (ver tabelas 5.1 e 5.2 do
anexo).
A participação relativa dos trabalhadores com nível superior
vem aumentando na indústria (9,44% em 1988 e 12,15% em
1995). Esse movimento ocorre tanto na indústria moderna
quanto na tradicional, sendo mais visível na primeira (ver tabelas 5.1 e 5.2 do anexo). Todavia, é importante observar que esse
aumento não se verifica em termos absolutos, ou seja, não há
um aumento da proporção dos ocupados com nível superior na
indústria. Pelo contrário, há uma redução da porcentagem de
trabalhadores com nível superior na indústria, e um aumento de
sua participação no setor de serviços (serviços produtivos, sociais, e governo) (ver tabela 8 do anexo).
Como já se observou na primeira seção deste capítulo, parte
considerável do aumento da escolaridade dos ocupados é fruto
de uma alteração do perfil da demanda por trabalho, o que acaba, em última análise, privilegiando de algum modo aquele atributo. Apenas na construção civil esse movimento não é observado, porque o processo de modernização tecnológica é incipiente ou as habilidades que se requerem do trabalhador — braçais e repetitivas — não necessitam de maior grau de escolaridade. Nos outros setores, e em particular na indústria, observase uma redução significativa dos ocupados com níveis de escolaridade inferior ao 1o grau incompleto. Observa-se também um
aumento da participação dos ocupados com no mínimo aquele
nível de escolaridade. Esses dados podem estar indicando um
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
L=
aumento do requerimento de escolaridade por parte das firmas
no preenchimento dos postos de trabalho.
Ao se relacionar rendimento médio
e grau de escolaridade pretende-se
extrair conclusões sobre a valorização do atributo educação no mercado de trabalho da Grande São Paulo. Cabe lembrar, entretanto, que a estratificação utilizada fornece apenas uma aproximação grosseira de tal relação, pois o
grau de homogeneidade entre os ocupados não foi rigorosamente controlado por seus atributos. Todavia, com a finalidade
de minimizar o viés entre rendimento e escolaridade, serão considerados os rendimentos dos ocupados com mais de 25 anos de
idade, tempo em que, por hipótese, o grau de escolaridade já
deve estar consolidado para a maioria dos trabalhadores.
A tabela 6 resume as informa5.4.1. Evolução do Rendimento
ções sobre o rendimento médio e
Médio Real dos Ocupados
e dos Diferenciais de
a escolaridade média para os
Rendimento
ocupados da Grande São Paulo.
por Grau de Escolaridade
Em primeiro lugar, observa-se
que (utilizando-se como deflator o índice de custo de vida do
DIEESE) o rendimento médio real vem apresentando, sistematicamente, uma queda: R$ 1.210,00 em 1988, R$ 1.130,00 em
1990, R$ 906,00 em 1994 e R$ 890,00 em 1995.
5.4. Rendimento Médio Real
dos Ocupados por Grau de
Escolaridade e Setor de
Atividade Econômica
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A associação entre rendimento médio e grau de escolaridade
também sofre mudanças. Em 1988, para receber o equivalente
ao rendimento médio era necessário que o trabalhador tivesse o
grau completo. Em 1990, a equivalência já se deu para os trabalhadores com o grau incompleto. Atualmente, o rendimento
médio só é auferido pelos trabalhadores que estejam próximos
do grau completo, como pode ser observado pelo gráfico 1.
42
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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250
1988
200
1990
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1994
100
1995
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0
Analfabeto
Até 4ª
série
1° grau
inc.
1° grau
comp.
2° grau
inc.
2° grau
comp.
3° grau
inc.
3° grau
comp.
# $ %&' ($
A redução do rendimento médio real dos ocupados poderia ter
sido muito mais intensa, se concomitantemente à perda de poder aquisitivo não houvesse ocorrido a elevação do perfil de escolaridade dos ocupados. Contudo, o fato de ter maior grau de
escolaridade não garantiu uma perda menor no rendimento médio durante o período. Os analfabetos, por exemplo, tiveram
uma perda de 32,1%, enquanto os ocupados com nível superior
tiveram uma perda de 31% no seu rendimento médio real. Os
níveis intermediários de escolaridade tiveram perdas maiores,
chegando a 41,36% no caso dos ocupados com o grau completo.
O adicional de rendimento para cada grau de escolaridade,
expresso na tabela 7, é indicador de quanto o mercado valoriza,
em termos salariais, graus adicionais de escolaridade. Outros
fatores também têm influência sobre esse adicional: a experiência, o cargo ocupado, as características específicas do mercado
de trabalho, etc. Porém, a hipótese aqui assumida é que esses
fatores influem mais sobre a distribuição intra graus de escolaridade do que entre graus de escolaridade.
De maneira geral, no período de tempo considerado, os saltos
de rendimento são mais acentuados para os trabalhadores que
concluíram seu curso. Pode-se notar também uma mudança no
padrão do diferencial de rendimento entre o períodos 1988/90 e
1994/95. No primeiro período, o trabalhador recebia R$ 300,00
a mais, caso concluísse o ou o grau, e R$ 900,00, se concluísse o 3o. No período mais recente (1994-1995) os diferenciais
caem para todos os graus de escolaridade. Evidentemente, as
reduções de rendimento são diferenciadas para os diversos
graus de escolaridade: de analfabeto para a & série, por exem-
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
LE
plo, o patamar caiu para R$ 200,00, o que representa uma redução de 38% do diferencial. Da 4 a série para o 1o grau incompleto a redução foi de 43%; do 1o grau incompleto para o 1o grau
completo, de 55%. Do 1o grau completo para o 2o grau incompleto, de 36%. Do 2o grau incompleto ao 2o grau completo observa-se a menor redução, cerca de 20%. Do 2o grau incompleto
para o 3o grau incompleto a redução é de 30%. Do 3o grau incompleto para o completo, de 23,35%.
A redução foi mais intensa no adicional de rendimento relativo
aos trabalhadores com menores graus de escolaridade. Pode-se
afirmar que, em geral, o estímulo salarial constitui-se num forte
incentivo para que os trabalhadores sejam convencidos a participar de programas de educação e qualificação profissional; pois,
em média, o rendimento dos trabalhadores com 3 o grau completo é
sete vezes maior do que o rendimento dos trabalhadores analfabetos; aproximadamente três vezes o rendimento dos que possuem o 1o grau completo e duas vezes os do 2o grau completo, como
pode ser observado na tabela 7.
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Ao se analisar o nível do rendimento
médio real dos ocupados com 25 anos
e mais por setores e subsetores de atividade econômica, observa-se, pelos
dados da tabela 8, que os serviços produtivos, a indústria moderna e o governo, em ordem decrescente, são os subsetores em
que o rendimento médio dos trabalhadores situa-se acima do
rendimento médio do total dos ocupados. Apesar dessa ordenação manter-se constante ao longo do período analisado, observase uma forte redução do rendimento médio real dos ocupados
na indústria moderna, vis-à-vis o rendimento médio real do total
dos ocupados, enquanto que o rendimento médio real dos ocu-
5.4.2. Rendimento Médio
Real por Grau de
Escolaridade e Setor
de Atividade
44
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
pados nos serviços produtivos e no governo experimenta um
aumento com relação à média do total dos ocupados.
Nos setores de atividade cujos ocupados auferem, em média,
menos do que o rendimento médio real dos ocupados, apenas
na indústria tradicional e nos serviços sociais não houve uma
melhora relativa em relação à média. Em todos os demais setores houve uma melhora de posição relativa. A indústria, portanto, foi o setor no qual os ocupados tiveram a maior perda relativa de rendimento com relação à média da remuneração do
total dos ocupados no período considerado, como pode ser observado na tabela 8.
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Analisando o rendimento médio real dos ocupados e seu grau
de escolaridade por setor de atividade econômica, observa-se
que em 1995 (ver tabela 9.2 do anexo) a indústria moderna foi o
subsetor de atividade de maior diferencial de salário com relação
à média para ocupados com nível superior completo: 232% acima do rendimento médio do total dos ocupados. De outro lado,
o setor de serviços foi o que pior remunerou, em termos relativos, os ocupados com aquele grau de escolaridade (115%).
A construção civil, por sua vez, é o setor de atividade que melhor remunera os ocupados analfabetos (44% do rendimento médio do setor), enquanto que o comércio de mercadorias e o subse-
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
LG
tor de serviços pessoais são os que pior remuneram os trabalhadores sem alfabetização (apenas 27% da média de rendimentos).
5.4.3. Evolução do
Rendimento Médio
Real dos Ocupados por
Faixa Etária.
A relação entre rendimento auferido
pelo trabalhador e sua idade reflete
a importância que o mercado de
trabalho confere à experiência acu-
mulada.
No período considerado (1988 a 1995) houve uma redução do
rendimento médio real dos ocupados com menos de 40 anos e
um aumento para aqueles trabalhadores com mais de 40 anos,
como pode ser observado no gráfico 2.
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real ao longo do período para todos os setores de atividade, situando-se acima do rendimento médio real do total dos ocupados.
Esses dados corroboram a hipótese de que a experiência é um
atributo importante na determinação do rendimento, que se
mostra uma função crescente da idade do trabalhador.
6. CONCLUSÃO
46
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Este estudo mostrou: a influência da educação sobre a demanda de trabalho na Grande São Paulo no período 1988-1995,
as diferenças setoriais na demanda, a qualidade do emprego gerado, e a importância da experiência profissional. Os dados
analisados permitem afirmar que cada vez mais a educação é
condição necessária para melhores condições de emprego, principalmente naqueles setores em que a moderna tecnologia já é
representativa.
Em linhas gerais, os principais resultados observados foram
os seguintes: 1) redução da taxa de participação dos ocupados
com até 24 anos de idade; 2) aumento do grau de escolaridade
dos ocupados; 3) redução do nível de ocupação na indústria,
principalmente do subsetor moderno, e o aumento da participação do comércio de mercadorias e do setor serviços, comandado
pelo subsetor de serviços pessoais; 4) redução mais intensa do
nível de ocupação na indústria para a faixa de até 24 anos; 5)
aumento da participação dos ocupados com menos de 25 anos
que freqüentam a escola; 6) forte aumento da participação relativa dos ocupados com nível superior no subsetor de serviços
pessoais, apesar de sua pequena representatividade no conjunto
dos ocupados; 7) queda do rendimento médio real dos ocupados; 8) aumento do grau de escolaridade associado à média dos
rendimentos reais dos ocupados; 9) redução do adicional de
rendimento, com maior intensidade nos níveis mais baixos de
escolaridade; 10) os subsetores produtivos, a indústria moderna
e o governo pagam salários acima do rendimento médio real dos
ocupados; 11) a indústria foi o subsetor que observou a maior
redução do rendimento médio real dos seus ocupados, vis-à-vis
a média do rendimento do total dos ocupados; 12) a indústria
moderna é o subsetor com maior prêmio para os ocupados com
nível superior; a construção civil é o setor que melhor remunera
os ocupados analfabetos; 13) o setor de serviços pessoais é o
que, em média, pior remunera em termos relativos os ocupados
com nível superior e os analfabetos; 14) o rendimento é função
crescente da idade até a faixa entre 40 e 59 anos.
Não se trata de transformar a educação em uma panacéia;
esta, per se, não cria empregos, mas ajuda o trabalhador a
mantê-los. Mais ainda, o auxilia a se adaptar às novas ocupações e funções. Tampouco deve-se magnificar a importância da
educação na determinação dos salários. O mercado de trabalho
regula-se rapidamente frente a mudanças na oferta de mão-deobra. Contudo, é evidente que a educação assume cada vez mais
um papel estratégico para a conquista duradoura de uma posição de destaque no cenário internacional.
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
L;
Se o país deseja tal destaque no concorrido comércio internacional e, com isso, gerar empregos internos de qualidade, garantir taxas de crescimento econômico capazes de gerar distribuição de renda, a qual nutra o mercado interno para novas
oportunidades de emprego e renda para a população, é necessário não descuidar do aspecto educacional.
Tampouco deve-se magnificar a chamada globalização econômica como um processo irreversível, que exija uma reação
uniforme por parte de todos os países. Não nos iludamos; qualquer modelo que não gere emprego e renda capazes de manter
taxas de crescimento econômico e distribuição de renda para a
população não deverá ter fôlego muito longo. Em outros termos,
se o processo é excludente não haverá a necessária sustentação
para sua expansão.
A discussão sobre o efeito líquido do processo de modernização tecnológica e administrativa das empresas tem gerado polêmicas: alguns estudiosos argumentam que haveria pouco impacto do ponto de vista da quantidade e da qualidade do emprego, pois os postos de trabalho destruídos são substituídos por
outros de características diferentes ou mesmo de idêntica característica (terceirização). No entanto, é preciso salientar que
isso será verdade somente para aqueles trabalhadores com nível
de escolaridade suficiente para, respectivamente, adaptar-se às
novas características desse posto de trabalho, ganhar produtividade para garantir competitividade e sustentar a manutenção
da terceirização, sem temer a concorrência. Nesse último caso é
preciso, além do conhecimento específico da função, dotar o trabalhador de conhecimentos gerenciais e administrativos próprios de microempresários.
Sob outra perspectiva, a questão da educação profissional desempenha um papel importante na discussão sobre a modernização das relações profissionais, de maneira que capital e trabalho ganhem cada vez mais espaço de governabilidade sobre as
discussões de emprego e renda, legislação trabalhista, entre outras.
O perfil educacional do trabalhador da Grande São Paulo,
uma das regiões mais desenvolvidas do país, aponta a grande
deficiência de escolaridade dos trabalhadores brasileiros. Esse
fato pode comprometer os resultados decorrentes da abertura
comercial, pois tal vulnerabilidade pode significar perda de mercado e, conseqüentemente, de postos de trabalho.
48
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
Pelos resultados apresentados é possível afirmar-se a necessidade de uma discussão mais profunda sobre a relação ótima
entre o ensino público brasileiro e o ensino profissionalizante,
ministrado pelas instituições de aprendizagem industrial e comercial (SENAI e SENAC). Apesar dos vultosos recursos de que
dispõem as instituições, os resultados apresentados são decepcionantes, pois recursos públicos são disponibilizados exatamente para aqueles setores com maior capacidade de gerar internamente os fundos necessários à qualificação profissional.
Não se mostra um efeito multiplicador, pelo aumento dos cursos
de aprendizagem e de programas para os desempregados que
justifique tal aplicação. A situação sugere a necessidade de se
investir em metodologias e novas tecnologias de aprendizado,
principalmente do ensino de suplência. Paralelamente, torna-se
necessário rediscutir a grade curricular do ensino fundamental
para que as gerações futuras não tenham necessidades adicionais de atualização ou reforço ao ingressarem no mercado de
trabalho.
Do ponto de vista de política pública, dado o quadro apresentado, o governo poderia responsabilizar-se pelo ensino fundamental público e gratuito, e pela capacitação profissional de
caráter mais geral, enquanto as empresas se responsabilizariam
pelo treinamento e qualificação profissional específica. Mais que
isso, deve caber ao governo a árdua tarefa de cuidar da educação
e qualificação profissional dos desempregados. É preciso então
reformular a política de atendimento ao desempregado, hoje executada pelo Sistema Nacional de Emprego (SINE) em todos os estados da União. Na sua maior parte, a atuação das agências do SINE
é passiva e está restrita ao encaminhamento do trabalhador ao
seguro-desemprego, quando é o caso, e, na grande maioria das
vezes, intermediação de postos de trabalho para os quais a educação não exerce um papel primordial. Em quase nenhuma das
agências há um setor organizado, com profissionais especializados, para tratar da problemática educacional e de qualificação
profissional, capaz de orientar o trabalhador e identificar metodologias adequadas à sua formação, no curto período de tempo
em que se pode atuar. O SINE, portanto, tem de se transformar
numa agência moderna de empregos, a ser utilizada por todos
os trabalhadores e não apenas pelos menos educados e qualificados.
As transformações recentes no mercado de trabalho da Grande São Paulo requerem que o SINE passe a atuar como um sistema público de emprego, com visão estratégica e respaldado em
análises econômicas e de mercado.
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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A título de subsídio para a orientação da políticas públicas, o
estudo sugere uma política diferenciada por setor de atividade,
multifacetada a partir da vocação dos órgãos que gerem, e estimuladora do investimento em educação de suplência e formação
profissional.
O governo poderá expandir as linhas de financiamento já
existentes, tanto específicas para educação e formação profissional para trabalhadores — como o Programa de Educação para
a Competitividade (PRODEUC), executado pela FINEP, como para
investimentos em modernização produtiva, executados pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
e também pela FINEP. Para os agentes governamentais que administram recursos para investimentos privados, é salutar que
condicionem empréstimos para modernização produtiva e administrativa a processos educativos e de treinamento dos trabalhadores.
Para o SINE, esse trabalho sinaliza a necessidade de estimular
a pesquisa e a produção de metodologias inovadoras que não
contemplem apenas a educação formal e o adestramento da
mão-de-obra. Nisso, o governo pode ter um papel de estimulador, garantindo recursos para projetos com essas características.
Quanto a financiamentos de curto prazo, como o Programa de
Geração de Emprego e Renda (PROGER), ou mesmo para linhas
de crédito para pequenas e médias empresas, o caminho terá de
ser o de condicionar os recursos ao processo educativo, incluindo a formação profissional de microempresário — o Serviço
Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa (SEBRAE) só dispõe de metodologia para quem tem, no mínimo, 2o grau. Para os
trabalhadores que não conseguem emprego no setor formal, e
que por isso vão para o comércio e o setor de serviços, esse patamar educacional é muito elevado.
50
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
ANEXO
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52
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE: TENDÊNCIAS RECENTES NA GRANDE SÃO PAULO
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CLASSIFICAÇÃO DOS SETORES E
SUBSETORES DE ATIVIDADE
A)
INDÚSTRIA
a.1) Indústria Moderna: Metalúrgica; Mecânica; Material ElétricoEletrônico; Material de Transporte; Química; Farmacêutica; Plásticos; Artefatos de Borracha; Papel, Papelão e Cortiça (201.0, 202.1,
207.0, 208.2)
a.2) Indústria Tradicional: Vestuário; Calçados; Artefatos de Tecidos; Alimentação; Mobiliário; Produtos de Madeira; Gráficas;
Vidros; Cristais; Espelhos; Cerâmicas; Materiais de Construção;
Artesanato; Outras Indústrias de Transformação (203.3, 204.5,
205.7, 206.9, 209.4, 210.0, 211.2, 213.6, 299.9)
B)
CONSTRUÇÃO CIVIL
Construção de Edificações e Obras de Infra-Estrutura; Reformas
e Reparação de Edificações (301.3, 302.5)
C)
COMÉRCIO DE MERCADORIAS
(400.5)
D) SERVIÇOS
d.1) Serviços Produtivos: Transporte e Armazenagem; Serviços
de Utilidade Pública; Serviços Especializados; Serviços Creditícios e Financeiros; Serviços de Comunicações; Diversões, Radiodifusão e Teledifusão; Comércio e Administração de Valores
Imobiliários e de Imóveis (502.2, 503.4, 504.6, 513.7, 514.9,
516.2)
d.2) Governo: Serviços de Administração Pública, Forças Armadas, Polícia (505.8)
d.3) Serviços Pessoais: Serviços Pessoais, Serviços Domésticos,
Serviços de Alimentação, Oficinas de Reparação Mecânica, Outros Serviços de Reparação e Limpeza, Outros Serviços, Serviços
Auxiliares (507.1, 508.3, 511.3, 518.6, 519.8, 599.0, 517.4)
d.4) Serviços Sociais: Serviços Comunitários, Educação e Saúde
(515.0, 509.5, 510.1)
E)
OUTROS:
Embaixadas, Consulados, Representações Oficiais e Políticas,
Atividades Não-Classificadas (601.4, 699.3)
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A PRODUÇÃO EDITORIAL DESTE VOLUME CONTOU COM O APOIO FINANCEIRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS
CENTROS DE PÓS -GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
— ANPEC.
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