ARTES E LETRAS (2ª METADE DO SÉCULO XX) Escola Básica e Secundária de Velas Doc. 1 - O dinamismo cultural de Nova Iorque Durante duas décadas, foi a América do norte que produziu as inovações mais estimulantes e os impulsos mais vibrantes no campo da arte. Enquanto potência mundial, os EUA desenvolveram a sua própria consciência cultural. A confiança no poder da sociedade industrial era tão ilimitada quanto a fé nas vantagens do estilo de vida americano. Desde 1929, o Museum of Modern Art e, desde 1939, o Solomon R. Guggenheim Museum de Nova Iorque têm promovido exposições. Ambos vão muito além da sua função primordial de exposição de obras de arte. Devido às suas actividades multifacetadas, transformaram-se em instituições culturais extremamente influentes […]. Os próprios artistas viraram-se para Nova Iorque. A actividade frenética da capital do mundo parece gerar uma fértil atmosfera de trabalho, pois não só muitos artistas expõem aí os seus trabalhos, como têm também os seus estúdios em Nova Iorque. Christa von Lengerke, “A Pintura Contemporânea”, em Obras-Primas da Pintura Ocidental, Taschen, 2005 Doc. 2 – Jackson Pollock A action painting retoma, de facto, e de forma mais profícua, o conceito central da teoria surrealista, ou seja, a definição de automatismo que André Breton elaborara entre 1924 e 1929. Utilizando as descobertas da psicanálise, o automatismo psíquico estabelece uma relação directa entre o inconsciente e o gesto criativo, promovendo o livre fluir do material linguístico sem quaisquer controlos éticos e estéticos […]. Isso explica o recurso a técnicas que favorecem a intervenção do acaso em obras como as de Jackson Pollock, executadas em condições psicológicas de uma vitalidade desenfreada, graças às quais a mão, o braço, todo o corpo do artista “se esquecem” de depender da vontade e da mente e se libertam, numa espécie de furor sagrado indiferente a qualquer decoro, a qualquer nota compositiva, a qualquer subtileza estética. A qualidade dos resultados obtidos nada retira a esta singular revelação do caos. Na sua fase mais audaciosa (entre 19471952), Pollock vive a pintura como uma espécie de corpo a corpo entre si próprio e a superfície que deve pintar […]. S. Sproccati, “O Informalismo”, em Guia de História de Arte, Ed. Presença 1 Doc. 3 – Jean – Paul Sartre Dostoievsky escreve: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Este é o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe e, como consequência, o homem está abandonado, por não encontrar em si nem fora de si uma possibilidade de se agarrar. Sobretudo, não encontra desculpas. Se, com efeito, a existência precede a essência, não se poderá jamais explicar a referência a uma natureza humana dada e fixa; dito de outro modo, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos à nossa frente valores ou ordens que legitimem a nossa conduta. Assim, não temos nem atrás nem adiante de nós, no domínio do luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós, sem desculpas. É o que expressarei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio, e sem embargo, por outro lado, livre, porque uma vez atirado ao mundo é responsável por tudo o que faz. J.-Paul Sartre, O Existencialismo é um Humanismo (1946) Doc. 4 – Albert Camus “Revolto-me, logo existimos” – dizia o escravo. A revolta metafísica acrescentava então o “existimos na solidão”, que ainda hoje se verifica. Mas, se nos encontramos sós sob um céu vazio, se temos de morrer para sempre, como poderemos nós realmente existir? A revolta matefísica tentava então criar o ser com o parecer. Depois disso, os pensamentos puramente históricos vieram dizer-nos que ser era agir. Não existíamos, mas devíamos existir por todos os meios. A nossa revolução é uma tentativa efectuada no sentido de se conquistar um ser novo, para o fabricar fora de toda e qualquer regra de moral. Eis a razão porque ela se condena a viver unicamente para a história e no seio do terror […]. Ao “revolto-me, logo existimos”, ao “estamos sós” da revolta metafísica, a revolta, em luta com a história, acrescenta que, em vez de matar e de morrer para criar o ser que não somos, temos de viver e de fazer viver para criar aquilo que somos. Albert Camus, o Homem Revoltado (1951), in Temas de História 12, Porto Editora, p. 175 Elaborado pela professora: Isabel Marques 2