RODOLFO FREITAS DE ARAÚJO PERFIS, OPINIÕES E EXPECTATIVAS DOS INGRESSANTES E CONCLUINTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE PRIVADA DE SÃO PAULO Universidade Cidade de São Paulo UNICID SÃO PAULO 2011 RODOLFO FREITAS DE ARAÚJO PERFIS, OPINIÕES E EXPECTATIVAS DOS INGRESSANTES E CONCLUINTES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE PRIVADA DE SÃO PAULO Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, com Linha de Formação Específica em Políticas Públicas de Ensino, junto à Universidade Cidade de São Paulo – UNICID –, sob orientação da Prof.ª. Drª. Celia Maria Haas. Universidade Cidade de São Paulo UNICID SÃO PAULO 2011 A663p Araújo, Rodolfo Freitas de Perfis, opiniões e expectativas dos ingressantes e concluintes do Curso de Administração de uma universidade privada de São Paulo / Rodolfo Freitas de Araújo. São Paulo, 2011. 170 f.; 30 cm. Bibliografia Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo. Orientador: Profª. Drª. Celia Maria Haas. 1. Perfil do aluno. 2. Universidades privadas. 3. Sociedade contemporânea 4. Vida universitária 5. Expectativa 6. Satisfação l. Haas, Celia Maria. II. Título. CDD. 378.1 COMISSÃO JULGADORA _______________________________________ Prof.ª. Drª. Helena Maria Sant'Ana Sampaio ____________________________________ Prof.ª. Drª. Sandra Maria Zakia Lian Sousa ____________________________________ Prof.ª. Drª. Celia Maria Haas Dedico este trabalho àqueles dispostos a fazer a diferença, seja ela de que tamanho for... AGRADECIMENTOS Meu profundo agradecimento aos professores do Programa de PósGraduação: Mestrado em Educação, da Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID, pelos ensinamentos transmitidos, em especial à Prof.ª. Drª. Celia Maria Haas, pela amizade, paciência e orientação no mais completo sentido da palavra; Aos amigos: Heloisa, Ricardo, Rodrigo e Sérgio, pelas leituras, revisões e opiniões ao longo das diversas versões até a consolidação do trabalho; Aos colegas de turma e do grupo de pesquisa, por todas as ricas discussões e ótimos momentos ao longo dos últimos anos; Aos meus pais, pelo exemplo de garra, colo e incentivo, em cada momento em que os desafios parecem ser maiores do que a força; Aos amigos e familiares que, pacientemente, compreenderam e aceitaram a reclusão em diversos momentos, nestes últimos anos, para concluir mais este sonho; e A Deus, por possibilitar mais esta conquista e por cuidar de cada detalhe, constantemente, mostrando que no final tudo se ajeita... [...] os estudantes universitários se encontram numa época de sua vida em que as contradições e os problemas que o afetam diretamente assumem quase sempre uma intensidade lancinante. Será que se pode dizer com propriedade que a cultura, que lhes é apresentada, o modo de vida que lhes é proposta se preocupam em atender às suas expectativas? Georges Snyders RESUMO ARAÚJO, Rodolfo Freitas de. Perfis, opiniões e expectativas dos ingressantes e concluintes do Curso de Administração de uma universidade privada de São Paulo. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID, São Paulo, 2011. Este estudo tem por objetivo conhecer o perfil dos alunos de uma determinada instituição privada de ensino superior localizada no município de São Paulo, considerando expectativas, situação econômica e opiniões sobre a vida universitária. Estabeleceram-se, de início, as hipóteses de que o aluno da educação superior particular inicia o curso com elevado grau de expectativa sem que haja grande variação entre o nível de expectativa do calouro e o de satisfação do concluinte. Procurou-se também conhecer as variações dos níveis de expectativa e de satisfação dos alunos de acordo com os perfis identificados. A pesquisa tem caráter descritivo-exploratório e visa a contextualizar os resultados obtidos com informações teóricas sobre a educação superior no Brasil, a sociedade contemporânea e o mundo do trabalho. O instrumento de coleta de dados foi aplicado com a colaboração de 449 alunos de primeiro, segundo e oitavo semestre do Curso de Administração de Empresas em dois campi da mesma universidade. Foram utilizados dois questionários, um para alunos ingressantes e outro para concluintes. Entre os resultados obtidos percebeu-se a inexistência do “aluno universitário”. Embora seja necessário discutir sobre o perfil do aluno, pois cada um deles se configura num universo à parte com suas expectativas, motivo pelo qual ingressou na vida universitária, desempenhando o papel que o coloca no mundo, fatores que afetam diretamente sua vida no âmbito da universidade. Com o objetivo de responder as questões propostas, ao término do trabalho são colocados quatro esquemas teóricos derivados da metáfora denominada “Alegoria Sistêmica da Educação Superior”. Conclui-se que a identificação dos perfis individuais existentes na instituição possibilita a análise de grupos semelhantes, propiciando entendimento sobre os alunos de determinada instituição, o que esperam e quão satisfeitos estão quando do encerramento do curso universitário. Palavras-chave: Perfil do aluno. Universidades privadas. Sociedade contemporânea. Vida universitária. Expectativa. Satisfação. ABSTRACT ARAÚJO, Rodolfo Freitas de. Profile, opinion and expectations of freshmen and veterans in the Business Administration course in a private university in São Paulo. Thesis (Masters) - Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID, São Paulo, 2011. This work aims to present student profile of an specific private university located in the city of São Paulo, as well as their expectations, economic situation and opinions about the university life. There are presented the hypotheses that the private high education students begin the course with high expectations and that aren’t great variations between the freshmen expectations and the satisfaction of veterans. We also aimed to know the variations between the expectations and satisfaction levels according to the identified profiles. Thereunto, we’ve made an exploratory-descriptive study in order to contextualize the research obtained results in the referred university with theoretical data about the high education in Brazil, the contemporary society and the work environmental. Our questionnaire was applied to 449 students from first, second and last semester in the Business Administration course from a specific private university in the city of São Paulo. Two questionnaires were used, one for the freshmen and the other to the veterans. In the obtained results, we have realized that in a general way, the figure of the University student doesn’t exist. Each student represents an individual universe with their own expectations and reasons for being in the university life as well as the roles they are engaged, factors which are strictly related with the student university life. Aiming to find answers to the suggested questions, four theoretical schemes have been proposed in results of the metaphor of the “High Education Systemic Allegory”. The preliminary conclusions appoints to the individual profiles identification as a way to bring similar group analysis, in order to enable the understand of who are the students of any specific institution, as well as what do they expect of university life and how satisfied the are at the end of their university course. Keyboards: Student profile. Private universities. Contemporary society. University life. Expectations. Satisfaction. LISTA DE ABREVIATURAS ANPED ............Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação CAPES ............Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEFET.............Centro Federal de Educação Tecnológica CLT..................Consolidação das Leis Trabalhistas CPC .................Conceito Preliminar do Curso DOU .................Diário Oficial da União EAD .................Ensino à Distância ENADE ............Exame Nacional do Desempenho de Estudantes ENEM ..............Exame Nacional do Ensino Médio ENC .................Exame Nacional de Cursos FIES.................Programa de Financiamento Estudantil IES...................Instituições de Ensino Superior IFET ................Instituto Federal de Educação Tecnológica IGC ..................Índice Geral de Cursos INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira MBA.................Master of Business Administration MEC.................Ministério da Educação PROUNI ...........Programa Universidade para Todos RAIS ...............Relação Anual de Informações Sociais RF....................RESULTADO FINAL SINAES ...........Sistema Nacional de Avaliação UNINOVE ........Universidade Nove de Julho USP .................Universidade de São Paulo LISTA DE GRÁFICOS Pág. Gráfico 1 - Concentração de instituições de educação superior com conceito 3 e 2, no Estado de São Paulo ..................................... 45 Gráfico 2 - Conceito ENADE atribuído aos cursos da universidade pesquisada.................................................................................. 46 Gráfico 3 - Distribuição por sexo entre os cursos – total de alunos participantes da pesquisa ........................................................... 67 Gráfico 4 - Distribuição por sexo entre cursos e campi – Total de alunos participantes da pesquisa ........................................................... 68 Gráfico 5 - Distribuição anual de postos de trabalho por sexo no Brasil....... 68 Gráfico 6 - Distribuição de alunos por cor/etnia – universidade pesquisada x pesquisa nacional por amostra de domicílios – ano de 2009 ... 70 Gráfico 7 - Distribuição de alunos por cor/etnia – São Paulo e Brasil........... 71 Gráfico 8 - Situação profissional de alunos ingressantes nos campi A e B .............................................................................................. 81 Gráfico 9 - Situação profissional de alunos concluintes nos campi A e B ...... 82 Gráfico 10 - Renda média per capita – ingressantes e concluintes ................ 86 Gráfico 11 - Renda média per capita – distribuição por cor/etnia – campus A.................................................................................................. 87 Gráfico 12 - Renda per capita – distribuição por cor/etnia – campus B .......... 87 Gráfico 13 - Renda per capita – distribuição por nível de escolaridade dos pais – campus A.......................................................................... 88 Gráfico 14 - Renda per capita – distribuição por nível de escolaridade dos pais – campus B.......................................................................... 89 Gráfico 15 - Nível de expectativa e satisfação por questão apresentada no questionário............................................................................ 98 Gráfico 16 - Adaptação ao curso: nível de expectativa e satisfação............... 101 Gráfico 17 - Adaptação ao curso – comparação da expectativa dos ingressantes matriculados no primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem o nível superior em outro(s) curso(s).......................................................................... 104 Gráfico 18 - Adaptação ao curso – comparação do nível de satisfação dos concluintes do primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem nível superior em outro(s) curso(s) 106 Gráfico 19 - Adaptação ao curso – comparação da expectativa e satisfação dos ingressantes matriculados em seu primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem nível superior em outro(s) curso(s).......................................................................... 108 Gráfico 20 - Base de conhecimento para o curso: nível de expectativas e satisfação .................................................................................... 109 Gráfico 21 - Desenvolvimento de carreira: nível de expectativa e satisfação ................................................................................... 112 Gráfico 22 - Impacto da movimentação salarial no nível de satisfação em relação ao desenvolvimento de carreira ..................................... 114 Gráfico 23 - Realização de exames: nível de expectativa e satisfação .......... 115 Gráfico 24 - Envolvimento em atividades extracurriculares: nível de expectativa e satisfação.............................................................. 117 Gráfico 25 - Métodos de estudo: nível de expectativa e satisfação ................ 119 Gráfico 26 - Nível de satisfação sobre o papel da universidade na relação entre sonhos e ação para realizá-los e o quadro de evolução funcional de alunos concluintes .................................................. 121 Gráfico 27 - Relacionamento com os colegas: nível de expectativa e satisfação .................................................................................... 123 Gráfico 28 - Relacionamento com os colegas: nível de expectativa e satisfação por faixa etária ........................................................... 124 Gráfico 29 - Relacionamento com os professores: nível de expectativa e satisfação .................................................................................... 125 Gráfico 30 - Ingressantes: nível de expectativa por blocos de questões apresentadas no questionário ..................................................... 127 Gráfico 31 - Concluintes: nível de satisfação por blocos de questões apresentadas no questionário ..................................................... 129 Gráfico 32 - Variação por período em que o aluno está matriculado.............. 148 Gráfico 33 - Variação de acordo com a influência do trabalho nos estudos ... 151 Gráfico 34 - Variação de acordo com o momento da vida universitária ......... 154 Gráfico 35 - Variação entre expectativa e satisfação de grupos versus a média geral ................................................................................. 157 LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1 - Resumo Setorial relativo à educação superior no Brasil Cursos Presenciais – Ano de 2009 ............................................ 32 Ranking das 10 maiores IES por número de matrículas – Brasil – período de 2001 a 2008 ................................................ 35 Tabela 3 - Valor da mensalidade................................................................. 50 Tabela 4 - Conceito Enade/ENC - Universidade Pesquisada: Curso de Administração – de 1996 a 2009................................................ 52 ENADE 2009 - Universidade pesquisada e quadros comparativos .............................................................................. 52 Número de participantes da pesquisa por campus e por período – ano de 2010 ............................................................... 60 Distribuição de alunos por campus e momento de vida acadêmica .................................................................................. 61 Tabela 8 - Maior nível de escolaridade dos pais ......................................... 62 Tabela 9 - Alunos cujos irmãos possuem curso em nível superior.............. 64 Tabela 10 - Distribuição por cursos e campus ............................................ 65 Tabela 11 - Distribuição de alunos por sexo ................................................. 66 Tabela 12 - Distribuição por cor/etnia – ingressantes/concluintes................. 69 Tabela 13 - Distribuição por etnia – comparação entre campus ................. 71 Tabela 14 - Distribuição de alunos ingressantes e concluintes por idade ..... 72 Tabela 15 - Estado civil dos alunos por ocasião da matrícula....................... 74 Tabela 16 - Distribuição de alunos por tipo de residência ............................. 75 Tabela 17 - Tipo de residência e ocupação profissional dos alunos participantes ............................................................................... 78 Tabela 18 - Atuação profissional dos alunos................................................. 79 Tabela 19 - Atuação profissional dos alunos – por idade.............................. 80 Tabela 20 - Influência da atividade profissional no desempenho acadêmico .................................................................................. 83 Tabela 21 - Mobilidade profissional após o início do curso ........................... 84 Tabela 22 - Renda per capita dos alunos ingressantes e concluintes........... 85 Tabela 23 - Distância percorrida pelos alunos e tempo gasto na viagem entre a residência e a universidade............................................ 91 Tabela 24 - Motivo de escolha da instituição universitária ............................ 92 Tabela 25 - Motivo de escolha da instituição universitária – outros motivos . 92 Tabela 2 - Tabela 5 Tabela 6 Tabela 7 - Tabela 26 - Motivo de escolha do curso universitário ................................... 94 Tabela 27 - Motivo de escolha do curso universitário – outros motivos ........ 94 LISTA DE QUADRO E FIGURAS Pág. Quadro 1 - Grade curricular do Curso de Administração ingressantes no 1º. semestre de 2011 ....................................... 51 Figura 1 - Diagrama da alegoria sistêmica da educação superior............... 130 Figura 2 - Cubo de variáveis identificadas na alegoria sistêmica ................ 135 Figura 3 - Cubo de variáveis identificadas na universidade pesquisada ..... 136 Figura 4 - Variáveis consideradas na análise dos alunos da universidade pesquisada.................................................................................. 137 - Comparação entre expectativa e satisfação por grupos de questões ..................................................................................... 142 Figura 6 - Variação entre geral e específico para a análise dos dados....... 143 Figura 7 - Esquemas teóricos...................................................................... 160 Figura 5 SUMÁRIO Pág INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15 CAPÍTULO 1 – ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: A SITUAÇÃO ATUAL .... 20 1.1 A universidade e a contemporaneidade .............................................. 28 1.2 Demandas da sociedade contemporânea e o surgimento das universidades mercantis ...................................................................... 29 1.3 Mapa da educação superior contemporânea no Brasil ....................... 31 1.4 A universidade pesquisada.................................................................. 37 1.4.1 Os campi escolhidos para o desenvolvimento da pesquisa .............. 42 1.4.2 A universidade em números ................................................................ 43 1.4.3 Graduação........................................................................................... 46 1.4.4 Pós-graduação .................................................................................... 48 1.4.5 Programas de atendimento à comunidade .......................................... 49 1.4.6 O Curso de Administração de Empresas............................................. 50 CAPÍTULO 2 - OS ALUNOS PARTICIPANTES DA PESQUISA .................... 54 2.1 Aspectos metodológicos...................................................................... 54 2.2 Perfil socioeconômico nos campi A e B............................................. 58 2.3 Os integrantes da pesquisa ................................................................. 59 2.4 Curso universitário............................................................................... 64 2.5 Sexo .................................................................................................... 65 2.6 Cor/etnia .............................................................................................. 69 2.7 Faixa etária.......................................................................................... 72 2.8 Estado civil .......................................................................................... 73 2.9 Residência........................................................................................... 74 2.10 Colocação profissional ........................................................................ 77 2.11 Dependência familiar e renda per capita ............................................. 84 2.12 Disponibilidade para o estudo ............................................................. 89 2.13 Motivo que levou à escolha do curso e da instituição universitária ..... 91 CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE EXPECTATIVA E SATISFAÇÃO DOS ALUNOS ............................................................ 96 3.1 Adaptação ao curso............................................................................. 100 3.2 Base de conhecimento para o curso ................................................... 108 3.3 Desenvolvimento da carreira ............................................................... 111 3.4 Realização de exames ........................................................................ 114 3.5 Envolvimento em atividades extracurriculares..................................... 116 3.6 Métodos de estudo .............................................................................. 118 3.7 Relacionamento com os colegas......................................................... 122 3.8 Relacionamento com os professores .................................................. 124 3.9 Expectativa e satisfação: variações entre os perfis identificados ........ 126 CAPÍTULO 4 – ALEGORIA SISTÊMICA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ......... 130 4.1 A alegoria e a pesquisa ....................................................................... 133 4.2 Os alunos pesquisados ....................................................................... 137 4.2.1 Variação entre expectativa e satisfação em decorrência do perfil....... 147 4.2.1.1 Período de matrícula: diurno/noturno .................................................. 147 4.2.1.2 Influência do trabalho no curso............................................................ 150 4.2.1.3 Momentos da vida universitária ........................................................... 153 4.3 Variação entre resultados para os perfis identificados versus a média geral do nível de expectativa e de satisfação ........................... 157 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 160 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 163 Anexo “A” - Vagas oferecidas no 1º. semestre de 2011 ................................ 168 15 INTRODUÇÃO Este trabalho foi, acima de tudo, um mergulho em minhas crenças, sonhos e dúvidas. Iniciei o curso de mestrado com a proposição de um projeto de pesquisa que procurava apresentar um novo modelo de universidade. Hoje, embora já na outra margem do rio, tenho a impressão de estar, ainda, no ponto de partida. A necessidade de um novo modelo de universidade ocorre em misto aos impactos negativos que surgiram logo no início do Curso de Administração, quando se esperava um espaço de discussão e interação entre instituição, alunos, professores e comunidade. Grande era a expectativa de encontrar, na universidade, uma instituição que remetesse àquilo que se imaginava sobre a Academia de Platão, que segundo Patrick (1996, p. 29), estava organizada, talvez de um modo demasiadamente solto, como uma comunidade de membros avançados e jovens estudantes. Não era simplesmente um grupo no qual um sábio e os outros, um grupo à procura dos serviços e da doutrina de um líder. Platão era o líder, assim como o fundador da escola (scholarchos); mas em relação aos membros mais avançados da escola, parece ter concebido o seu papel como ‘um primeiro entre iguais’ [...] Porém, foram encontrados, nas salas de aula, grupos e mais grupos ilhados, em oposição ao espaço aberto de discussão, o que se constituía um verdadeiro e grande arquipélago. Quanto à vida universitária, já no início do curso, boa parte do tempo a ser vivido em aula, era consumido por horas extras durante o estágio, o que, na verdade, não representava grandes problemas, pois, além de ser a fonte de renda para o pagamento do curso, esse estágio possibilitava um aprendizado prático e dinâmico, não encontrado na universidade, embora, não raras vezes, não percebia sentido em grande parte das informações ali transmitidas. Logo no início deste estudo, e após algumas discussões com o grupo de pesquisa no programa de mestrado, percebi a impossibilidade de propor um novo 16 modelo de universidade antes de um profundo mergulho teórico acerca dos modelos existentes e já testados. Considerando este fato, estabeleceu-se um novo contorno à pesquisa, buscando maior entendimento a respeito dos alunos da educação superior privada, com impulso inicial de avaliar se o nível de satisfação dos formandos está próximo das expectativas dos ingressantes. Como forma de percurso, optamos por caminhar a partir do macro – pelo cenário das sociedades contemporâneas, observando o panorama das universidades privadas e a juventude nesses grupos sociais – rumo ao micro, numa discussão com um grupo específico de alunos, a respeito de seu perfil socioeconômico e a comparação entre os níveis de expectativa e satisfação relativamente à vida universitária. Foram apresentadas, ao longo do trabalho, informações trazidas por autores sobre a educação superior, a sociedade contemporânea, e as juventudes, com as opiniões e perfis de um grupo de alunos de uma universidade privada situada na Zona Leste da cidade de São Paulo. Embora existam diferenças entre o nível de expectativa de alunos recémmatriculados e o nível de satisfação de alunos concluintes, a maior riqueza do resultado do confronto de dados surge do cruzamento entre as informações dos diversos perfis socioeconômicos e os níveis de expectativa e de satisfação. O problema de pesquisa é, pois, saber se há diferenças entre o nível de expectativa dos alunos ingressantes e o nível de satisfação dos concluintes matriculados em uma determinada universidade. Para tanto, foram estabelecidos como objetivos: a) Identificar o perfil dos alunos participantes da pesquisa; b) Conhecer se o nível de satisfação dos formandos está próximo ao nível de expectativas dos ingressantes; c) Analisar se há variações nos níveis de expectativas e satisfação dos alunos participantes desta pesquisa de acordo com o seu perfil. Partimos da hipótese de que os alunos da educação superior particular 17 entram com alto nível de expectativa e que não há grande variação na satisfação de calouros e concluintes. Quanto aos aspectos metodológicos, este trabalho consiste em pesquisa descritivo-exploratória, conjugando dados de pesquisa documental, coleta de dados, obtidos por meio de aplicação de questionários, e análise qualitativa das informações coletadas. O referencial teórico foi obtido com a utilização do banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), especificamente com o levantamento de trabalhos que, nos últimos cinco, anos foram catalogados com os termos “Universidade Privada”, “Educação Superior”, “Ensino Superior” e “Aluno Universitário”. Foram selecionados 312 trabalhos cujos títulos trazem o termo Alunos Universitários como objeto principal de pesquisa. Por meio da leitura dos respectivos resumos, escolhemos os estudos correlatos ao que se pretendia desenvolver. Desta amostra, buscamos os trabalhos publicados integralmente na internet, que nos permitiram levantar o referencial inicial e modelos de questionários que auxiliaram na composição do instrumento de pesquisa, elaborado de modo a atender os objetivos propostos. Dois questionários foram empregados. Um para ingressantes e outro para concluintes matriculados no Curso de Administração, em período diurno e noturno de dois campi da instituição. Os questionários foram divididos em duas partes. A primeira com questões optativas para o levantamento de dados socioeconômicos e a segunda com diversas questões que deveriam ser respondidas por meio de uma escala Lickert, de 4 alternativas, a saber: discordo completamente; discordo; concordo; e concordo completamente. Para a análise das respostas da segunda etapa, utilizou-se escala numérica, com variação de zero a dez. Para o grupo de ingressantes, a análise das respostas possibilitou a leitura do nível de expectativa e para os concluintes, do nível de satisfação em relação à vida universitária. Percebeu-se que grande parte dos assuntos, de certa forma, pode se confundir com o tema avaliação, entretanto, convém salientar que o problema 18 estabelecido e objetivos propostos para a pesquisa têm foco na identificação dos perfis, expectativas e satisfação dos alunos. A dissertação tem início com a apresentação da universidade pesquisada e está dividido em dois blocos. O primeiro apresenta o cenário das universidades no Brasil, a discussão do papel das universidades, a atuação dessas instituições na sociedade contemporânea e o surgimento das Universidades Mercantis. O segundo bloco apresenta a universidade objeto de pesquisa, trazendo o panorama histórico de sua fundação, números referentes a avaliações oficiais e dados institucionais recentes, como cursos disponíveis, número de matrículas e projetos oferecidos para a comunidade. Este bloco é encerrado com dados específicos do curso de Administração, com o objetivo de facilitar a análise das informações apresentadas nos capítulo seguintes. As principais fontes utilizadas neste capítulo foram estatísticas oficiais, como dados do Censo da Educação de 2009, Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Censo Demográfico de 2010 e textos de Anísio Teixeira, Helena Sampaio, Georges Snyders, e Cristovam Buarque, assim como Bauman, Calderón e Santos. O segundo capítulo aborda o perfil socioeconômico e características dos alunos recém-matriculados e formandos do curso de Administração de dois campi da universidade em questão. Dados do levantamento são comparados com os resultados do ENADE de 2006 para o Curso de Administração. Ao longo deste capítulo vê-se que os alunos pesquisados constituem um grupo heterogêneo, com características específicas. O terceiro capítulo apresenta a os níveis de expectativa e satisfação dos alunos recém-matriculados e concluintes no que se refere à vida universitária, considerando aspectos de: adaptação dos alunos ao curso universitário; base de conhecimento para a transição do ensino médio para a educação superior; desenvolvimento da carreira; envolvimento em atividades extracurriculares; métodos de estudos; relacionamento com colegas; e relacionamento com professores. O quarto capítulo consiste numa reflexão sobre o perfil dos alunos, os níveis de expectativas e satisfação, procurando-se estabelecer relação com as questões propostas, a hipótese levantada e os objetivos desta investigação. 19 São apresentados neste capítulo quatro esquemas teóricos que propõem uma visão sobre a questão das universidades privadas na sociedade contemporânea, assim como apresentam uma forma de agrupamento de perfis distintos de alunos para as respostas das questões propostas, por meio da análise dos resultados obtidos por grupos semelhantes. Conclui-se que as hipóteses propostas são válidas, porém que a variação entre níveis de expectativa e de satisfação tendem a ser maior na medida em que se aumenta a especificidade da análise, O inverso ocorre de acordo com a maior generalidade da análise. Quanto às questões propostas, ao longo do trabalho são apresentados os perfis que representam quem são os alunos participantes desta pesquisa, assim como são apresentadas análises que detalham os níveis de expectativa e de satisfação dos alunos ingressantes e concluintes participantes desta pesquisa. Ao término deste trabalho, conclui-se que não existe o aluno universitário, entretanto, que a identificação de perfis individuais existentes, possibilita a análise de grupos semelhantes, deste modo, no caso dos alunos, torna-se possível um maior entendimento de quem são os alunos de determinada instituição, o que eles esperam e quão satisfeitos saem ao término do curso universitário. Informações relevantes para a discussão sobre mudanças na educação superior privada nos dias atuais. 20 1 ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: A SITUAÇÃO ATUAL Como ponto de partida para a discussão que discorrerá ao longo deste trabalho, optamos por iniciá-lo com a questão da missão e o papel das universidades. A missão da universidade se dá na conversa entre a “globalidade-sonhadora” e a “particularidade-eficaz”, termos contraditórios, mas que em síntese assumem cada qual, por coexistência, um sentido mais elevado, se não sublimado (HEGEL 1978, apud SNYDERS, 1995, p. 58). Tem-se, assim, algo como a síntese entre as idades, o sonho dos alunos em função da vida estudantil, o que a cultura universitária trará ao longo do curso e, ainda, o que as instituições se propõem a entregar, bem como as aspirações dos alunos na busca da “unificação de si mesmos ao que eles aspiram” (SNYDERS, 1995, p. 57). A cultura universitária pode ser encarada “como uma maneira de ‘se encontrar’, no duplo sentido de se descobrir, se explorar e de se salvar”. Esta cultura surge como fator importante para que a instituição possa auxiliar o estudante em sua “busca por si mesmo, e no esforço para se chegar aos valores da vida adulta sem sacrificar os da adolescência” (SNYDERS, 1995, p. 58). Para Buarque (1994, p. 209), as universidades, assim como todas as demais instituições humanas, devem “participar da realização do processo civilizatório”, e seu papel seria “formar pensamento superior que colabore nessa missão: fazer um mundo melhor e mais belo, por meio das técnicas, ciências e artes, letras e filosofia”. Portanto, as universidades teriam como finalidades básicas a “criação do saber tecnológico” e a “criação do saber estético”. A primeira engloba áreas que atendem às necessidades do homem e “lhe proporcionam mais tempo livre para a luta pela sobrevivência”, como os ramos da Engenharia, da Medicina, Direito, Nutrição, Educação, Arquitetura, entre outras áreas. A segunda teria como objetivo realizar a “finalidade estética do homem ao usar o tempo livre da luta pela sobrevivência”, englobando arte, filosofia, ciências puras e letras (BUARQUE, 1994, p. 209). 21 Teixeira (1989, p. 82) colabora com o conceito de que a Universidade existe para levantar o tônus intelectual da sociedade; para cultivar o espírito público, para unificar o gosto nacional; [...] suprir os verdadeiros princípios para o entusiasmo popular e objetivos fixos às aspirações populares; [...] dar largueza e sobriedade às ideias da época e facilitar o exercício dos poderes políticos e para refinar o intercurso social da vida privada. Há como pensar na universidade com o um misto de cada uma das definições acima. Se houvesse possibilidade de expressar, em uma palavra, o significado a ser atribuído à universidade, seria: Integração. A universidade pode traduzir uma instituição capaz de somar esforços para o florescimento da vida adulta dos alunos e da comunidade ao seu entorno, de modo que se possa promover a criação de novos saberes e de provocar questionamentos sobre a forma como os saberes serão utilizados. Além da integração entre cada “personagem” deste sistema – alunos/ instituições/ comunidades –, a literatura sobre a educação superior apresenta outro tipo de integração, presente na essência das universidades: a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Nos termos do artigo 207 da Constituição Federal, consagra-se que “as universidades gozam de autonomia didático-científica administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Quanto às suas tipologias, nos Decretos Federais nos. 2.207/1997, 2.306/1997 e 3.860/2001, as instituições de ensino eram classificadas quanto à organização acadêmica, sendo elas: universidades, centros universitários, institutos superiores ou escolas superiores e faculdades integradas e faculdades. Na última norma citada – Decreto 3.860/01 – foram agrupadas numa mesma classe, ou seja, Faculdades. De acordo com essas normas, um dos requisitos obrigatórios para as universidades é o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, o que é possível nas demais instituições, porém mandatório para as universidades. Este foi um dos principais motivos da escolha de uma universidade, e não um centro 22 universitário ou faculdade para o desenvolvimento desta pesquisa, optando-se pela possibilidade de estudar uma instituição que contemplasse em seu dia a dia a integração entre ensino, pesquisa e extensão: Dias (2009, p. 39-40) observa: A relação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, quando bem articulados, conduz a mudanças significativas nos processos de ensino e de aprendizagem, fundamentando didática e pedagogicamente a atuação profissional. Estudantes e professores constituem-se, efetivamente, em sujeitos do ato de aprender, de ensinar e de formar profissionais e cidadãos. É importante citar que, ao se abordar o papel das universidades, este varia conforme o tipo de sociedade, inclusive, de acordo com os interesses dos grupos dominantes. Buarque (1994, p. 27) lembra que, embora a segunda metade do século XX tenha sido o período de maior crescimento da universidade, ao mesmo tempo foi “o período de sua domesticação”. Segundo o autor, os intelectuais transformaram-se em professores estabelecidos, a busca por novas ideias foi preterida por conta da preocupação com carreiras bem consolidadas, de modo que a universidade da segunda metade do século XX tornou-se “uma universidade carreirista”. A respeito dessa universidade carreirista, continua, os cursos são escolhidos conforme o mercado e são dados conforme os livros, que são textos escritos conforme o Conselho Federal de Educação para servirem ao estabelecimento Teórico. As ideias são reformuladas conforme determinem os orientadores de teses, que se espelham em seus orientadores no exterior e olham apenas para os congressos de pares. A carreira, a segurança, os salários, a crença no paradigma da civilização industrial, seja no lado capitalista, seja no lado socialista, estagnaram a universidade como centro de criação livre. Ela deixou de ser um centro contemporâneo da transição (BUARQUE, 1994, p. 29). A comparação entre textos contemporâneos e obras mais antigas, como, por exemplo, Cristovam Buarque e Anísio Teixeira, permite inferir que, embora a situação contemporânea das universidades seja, em parte, fruto do passado, continua-se, de modo impressionante, a discutir a questão de se tratarem de instituições voltadas para a formação profissional, para o mercado de trabalho, seja ele comandado pela família real – como no início da educação superior no Brasil – 23 ou por conglomerados capitalistas. Pode-se dizer que o mundo atual passa por uma crise, que [...] facilita e exige um novo papel para a universidade. Primeiro porque nunca antes na história o pensamento universitário foi tão presente. Nunca antes a população de professores, acadêmicos, alunos e egressos, representou uma parcela tão importante da população. Segundo, porque a crise atual apresenta uma contestação simultânea dos objetivos de utilização do pensamento e do próprio método empregado para criar o pensamento. Esta situação vai exigir um trabalho das mais diversas áreas do conhecimento, das ciências e da filosofia, um esforço multidisciplinar que só parece possível nas universidades (BUARQUE, 1994, p. 33). Boaventura Santos (1995) expande a discussão, apresentando a tríplice crise da universidade: da hegemonia, de legitimidade e institucional. A partir dos anos de 1960, a concepção de universidade, como lugar privilegiado da produção de alta cultura e conhecimento científico avançado, reconhecida como um fenômeno do século XIX, passou a entrar em relativa dissintonia com as “exigências sociais emergentes”, e a velocidade das mudanças na sociedade colocou em cheque o papel das universidades que passaram a entrar em crise (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 174). Na crise de hegemonia, a universidade deixou de ser uma instituição soberana e isolada e passou a conviver com novas dinâmicas sociais, tornando-se responsável pela formação de um saber não mais universalista e desinteressado, típico das elites, mas de uma cultura popular em atenção às necessidades das massas respondendo, concomitantemente, às questões de educação-trabalho, e atuando na “formação não -profissional para um desempenho pluriprofissionalizado” (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 174). Espera-se que, pela vertente sociopolítica, a universidade deixe de ser uma “torre de marfim insensível aos problemas do mundo contemporâneo, apesar de sobre eles ter acumulado conhecimentos sofisticados e certamente utilizáveis para a sua resolução” (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 174). Apesar de ter acompanhado por fora os problemas da sociedade e de ter muitas vezes acumulado conhecimentos preciosos sobre esses problemas, as universidades passam a serem exigidas por questões de “responsabilidade social” raramente assumida no passado, além de 24 [...] ter cuidado de mobilizar os conhecimentos acumulados a favor de soluções dos problemas sociais, quer por não ter sabido ou querido pôr a sua autonomia institucional e a sua tradição de espírito crítico e de discussão livre e desinteressada ao serviço dos grupos sociais dominados e seus interesses (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 179). Para Buarque (1986), a política das universidades deve apresentar a combinação entre qualidade acadêmica e compromisso social, cuja combinação caracterizará o “produto final” da instituição, de modo que a qualidade acadêmica traga a condição de elite, porém o amplo compromisso social trará a condição antielitista. Quanto à crise da legitimidade, Santos (1995, p. 183) aponta que esta conjuntura tem espaço quando a procura de educação deixa de ser uma reivindicação utópica e passa a ser uma aspiração socialmente legitimada, a universidade só pode legitimar-se, satisfazendo-a. Por isso, a sua função tradicional de produzir conhecimentos e de os transmitir a um grupo social restrito e homogêneo, quer em termos de suas origens sociais, quer em termos dos seus destinos profissionais e de modo a impedir a sua queda de status, passa a ser duplicada por esta outra de produzir conhecimentos a camadas sociais muito amplas e heterogêneas e com vista a promover a sua ascensão social. Isto posto, coloca-se em cheque a função da universidade, como a formação de educação superior e alta cultura para classes superiores, uma vez que passa a ser requisitada por outras classes, grupos heterogêneos, como forma de ascensão social. Ocorre que o tipo de conhecimento produzido pela universidade “tende a alterar-se com a alteração do grupo social a que se destina” (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 184). Segundo o autor, a crise de legitimidade surge em resposta à crise de hegemonia, e de sua incorporação limitada da cultura de massas, da formação profissional, da investigação aplicada e da extensão à comunidade [uma vez que] a procura da universidade deixou de ser apenas a procura de excelência e passou a ser também a procura de democracia e de igualdade (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 184). A última crise citada por Boaventura Santos (1995) é a crise institucional, na 25 qual, segundo o autor, repercutiram-se as crises de hegemonia tanto quanto a de legitimidade. Acredita-se que devido às mudanças no posicionamento do Estado, passando de provedor de bens e serviços para comprador de bens e serviços consumidos no setor privado, surgiu um reflexo de cortes orçamentários no sistema de ensino superior. As universidades passaram, então, a procurar meios alternativos de financiamento. No entanto, segundo Boaventura Santos (1995, p. 186), os fluxos provindos das empresas, “acabam por exercer uma pressão convergente com a dos cortes orçamentais, no sentido da avaliação do desempenho”, tirando a discussão de um ponto extremo, em que se esperava a formação de uma cultura livre e desinteressada para o outro extremo, passando a se exigir um produto da universidade no sentido de identificação de talentos e a participação na resolução dos problemas sociais. Coloca-se, pois, a questão de que a velocidade das mudanças ocorridas na sociedade contemporânea exige novos papéis da universidade, porém não se trata somente de uma discussão sobre como a instituição deverá reagir para a sua sobrevivência, mas como – e se – ela poderá continuar a evoluir num ritmo próximo ao da sociedade de modo que esta não se torne uma instituição típica e característica do passado, exigindo, para tanto, o enfrentamento de cada uma das crises. Ao invés de temer, a universidade precisa tirar proveito da crise, caso contrário ela “perde o seu papel de agente de transição para o futuro; perde o rumo do seu destino: gerar conhecimento novo [...] que constrói o futuro” (BUARQUE, 1994, p. 33). Acrescente-se, assim, à fala de Buarque, a afirmação de Dias (2009, p. 4142): No mundo contemporâneo, as rápidas transformações destinam às universidades o desafio de reunir em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, os requisitos de relevância, incluindo a superação das desigualdades sociais e regionais, qualidade e cooperação internacional – e o conhecimento interdisciplinar e articulado, hoje mais do que nunca e assim tende a ser cada vez mais, é a base do desenvolvimento científico e tecnológico, criando o dinamismo das sociedades atuais. Por isso, quanto mais integradas estiverem as ações de ensino, pesquisa e extensão, mais 26 integralmente se estará formando o profissional para o mundo do trabalho do seu século. Frente às crises apresentadas, cabe questionar se a instituição universitária tem acompanhado as alterações sociais que se estabeleceram nos últimos anos, a ponto de rever o seu papel, ou se é cabível continuar a reproduzir a instituição existente em meados do século XIX. Para Buarque (1994, p. 217), o papel social das universidades é apenas um: “gerar saber”. Nas sociedades em transição, como é o caso do Brasil, é importante que embora se tenha, de um lado, o governo, “incapaz de definir claramente as prioridades da maioria da população” e do outro, o mercado, que “comprometido com a elite consumidora, não permite que a universidade oriente seus compromissos para a sociedade futura”, a universidade precisa se adiantar, “realizar uma reforma em sua estrutura, no seu conteúdo e na sua prática de ensino”, pois somente assim haverá possibilidade de fazê-la cumprir o seu papel social, “de formar o saber necessário para a construção da sociedade desejada” (BUARQUE, 1994, p. 217). Chega-se, então, a um ponto em que o isolamento da universidade em relação às massas é tamanho que, para muitos, o compromisso social da universidade estaria em criar mecanismos para que os filhos de alguns pobres possam ser médicos e não formar uma medicina que possa atender a todas as doenças de todos [...] Querem mudar um pouco quem entra na universidade, mas sem modificar o compromisso de quem dela sai. O compromisso da universidade na área tecnológica, não se dá por quem tem acesso a ela, mas pelo conteúdo de quem dela sai. Não se dá pela classe social de seus alunos, mas pela abrangência daqueles que recebem os serviços do saber de seus graduados (BUARQUE, 1994, p. 220). Santos (1995) afirma que, embora a universidade originalmente tenha-se ocupado de uma alta cultura, que o autor apresenta como cultura-sujeito, a crise do pós-guerra fez com que se tornasse emergente a cultura de massas – popular –, que possui uma lógica de produção, de distribuição e de consumo completamente distinta e muito mais dinâmica da que é própria da cultura universitária e os 27 seus produtos vão apertando o cerco à alta cultura universitária, quer porque reciclam constantemente os produtos desta, quer porque concorrem com ela na formação do universo cultural dos estudantes (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 168). Segundo o autor a universidade, “incapaz de transformar esta nova forma cultural numa cultura-objeto [...] deixa de ser o produtor central de cultura-sujeito e nessa medida perde centralidade” (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 168). De outra forma, embora ainda na discussão sobre a formação de massas, tem-se a questão da formação para o mundo do trabalho que, em face das incertezas do mercado de trabalho e da volatilidade das formações profissionais que ele reclama, considera-se que é cada vez mais importante fornecer aos estudantes uma formação cultural sólida e ampla, quadros teóricos e analíticos gerais, uma visão global do mundo e das suas transformações de modo a desenvolver neles o espírito crítico, a criatividade, a disponibilidade para inovação, a ambição pessoal, a atitude positiva perante o trabalho árduo em equipe, e a capacidade de negociação que os preparem para enfrentar com êxito as exigências cada vez mais sofisticadas do processo produtivo (BOAVENTURA SANTOS, 1995, p. 172). Neste cenário, nota-se a mudança da atuação da universidade como formadora da alta cultura para uma cultura mais pragmática, que se soma, às funções da universidade, a expectativa de que esta seja responsável por capacitar os alunos para os papéis sociais que exercerão ao longo da vida. Buarque aponta que a universidade não terá compromisso social apenas ao permitir que um jovem de origem pobre possa ser nutricionista, especialista em emagrecimento, mas sim fazendo com que a universidade, independente da origem social dos alunos, possa trabalhar para solucionar os problemas da fome do país (BUARQUE, 1994, p. 220). Desde o início de sua história, a universidade brasileira teve – e ainda tem – um papel ativo na formação de mão de obra, e o que cada vez mais importa é o questionamento de como ir além deste ponto, ampliando a discussão do seu papel social e do papel de seus integrantes, inclusive em relação à comunidade em seu entorno. 28 1.1 A universidade e a contemporaneidade Entende-se por contemporâneo “aquilo que é da época, do tempo em que se fala”, uma característica que estabelece a quebra entre o antes, o atual e o futuro. (DICIONÁRIO..., 2011). Nesta pesquisa, abordar-se-á, pois, o advento da sociedade contemporânea. Para melhor elucidar a situação atual, convém voltar a meados do século XIX quando, em decorrência do capitalismo, surgiram “mudanças radicais no tocante à técnica industrial, à economia e à estrutura social [...] e não menos drásticas mudanças operadas no caráter do homem” (FROMM, 1961, p. 109). Uma das principais mudanças sociais ocorridas com a modernidade foi o aumento da importância do capital interno. Até fins do século XIX, priorizava-se socialmente o costume de economizar e “não permitir-se [sic] gastos que não pudessem ser pagos imediatamente” (FROMM, 1961, p. 113-114). A partir do início do século XX surgiu um novo comportamento social, incitando a compra do que fosse possível, antes mesmo de acumular economia suficiente para o pagamento correspondente. Esta característica continua presente até os dias atuais, somando-se a este impacto os efeitos da globalização e o decorrente aumento da velocidade e volume de informações, relações comerciais e sociais ao redor do mundo. Este é um dos aspectos da sociedade contemporânea que chamam a atenção, que, pela velocidade das mudanças, é denominada por Bauman (2001) de Sociedade Líquida, facilmente moldável para novos formatos, porém, difícil firmar-se numa configuração permanente. Outra característica importante para a discussão é a relação entre o um e o múltiplo, entre o indivíduo e a sociedade. De acordo com Bauman (2001, p. 39), apresentar seus membros como indivíduos é a marca da sociedade moderna que “existe em sua atividade incessante de individualização, assim como as atividades dos indivíduos consistem na reformulação e renegociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada ‘sociedade’”. 29 Têm-se, assim, como principais ingredientes desta receita contemporânea, o consumo (inclusive como forma de expressão), um novo ritmo de informações e configurações sociais e a individualização gerando um [...] mundo cheio de oportunidades – cada uma mais apetitosa e atraente que a anterior, cada uma ‘compensando a anterior e preparando o terreno para a mudança seguinte’ [...] Neste mundo, poucas coisas são predeterminadas, e menos ainda irrevogáveis. Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos irreversíveis; mas nenhuma vitória é um ponto final. Melhor que permaneçam líquidas e fluidas e tenham ‘data de validade’, caso contrário, poderiam excluir as oportunidades remanescentes e abortar o embrião da próxima aventura (BAUMAN, 2001, p. 74) É, justamente, neste cenário que se pretende situar as universidades, de modo a mediar um diálogo entre o seu papel e a atuação na sociedade em que “a infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta de escolha” (BAUMAN, 2001, p. 75). A pergunta que mais causa insônia é: será que foram utilizados, da melhor maneira possível, os meios disponíveis? E, mais do que isto, pois sai a figura do aluno e entra a do consumidor, na medida em que a educação passa a ser considerada um serviço disponível na prateleira com uma gama de outras ofertas. 1.2 Demandas da sociedade contemporânea e o surgimento das universidades mercantis Como reflexo da dinâmica neoliberalista – na qual o Estado não intervém nas relações econômicas e tem intervenção limitada no plano jurídico e econômico – e do capitalismo, o sistema universitário passa a responder as demandas de expansão de suas instituições, dando espaço para o surgimento de instituições denominadas por Calderón (2000, p. 69) como “Universidades Mercantis [instituições eminentemente privadas com] predominância da lógica empresarial, da procura do lucro”. A edição do Decreto Federal nº. 2.207/1997 criou a possibilidade de configuração dessas universidades mercantis. O artigo 3º. do mencionado decreto prevê a possibilidade de criação de entidades mantenedoras com fins lucrativos, e estas “submetem-se à legislação que rege as sociedades mercantis, especialmente na parte relativa aos encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas” (BRASIL, 1997a). 30 Pode-se dizer que, a partir desse momento surgiu a possibilidade de criação de universidades privadas configuradas como empresas, trazendo para o setor de educação conceitos discutidos pelas sociedades mercantis como margem, lucro e ganhos de fatia de mercado, entre outros. Sobre a caracterização da dimensão mercantil do saber e do ensino, Kalmus (2010, p. 46) observa que a universidade, “na tentativa de contornar a escassez de recursos financeiros, transforma-se em prestadora de serviços privados” (2010, p. 46). Nas instituições mercantis, o aluno torna-se um consumidor, os reitores e diretores tornam-se gestores ou administradores e o ensino, um serviço oferecido pela empresa educacional, poderá ser diferenciado ou padronizado, empacotado, assim como qualquer produto disponível nas gôndolas dos supermercados e “eventuais conflitos entre alunos e instituição devem ser solucionados nos órgãos de defesa do consumidor” (KALMUS, 2010, p. 47). A se considerar que a educação tenha se tornado um negócio (no sentido de mercado), as “universidades mercantis investem conforme a demanda e, portanto, podem obter lucro”, procurando se diferenciar, oferecendo produtos e o serviço de educação para nichos, com clientes dos mais variados perfis (CALDERÓN, 2000, p. 69). São estabelecimentos para o ensino de massa, que, embora não sejam “valorizados pela elite acadêmica, pela mídia e pelas famílias de classe alta que possuem uma história geracional de formação superior”, tornam-se opção de estudo para um grande número de alunos, diante das dificuldades de ingresso nas instituições de elite (CALDERÓN, 2000 p. 63). Por conta disto, muitas delas são “valorizadas em seu entorno”, uma vez que atendem [...] à grande demanda regional por ensino superior da população que o Estado não podia suprir, setores populacionais com recursos financeiros para pagar uma universidade, mas sem condições de conseguir uma vaga em universidades de elite, seja pela localização, seja pelas poucas e concorridas vagas oferecidas. Em outras palavras [...] universidades mercantis criadas para conquistar uma faixa de mercado, liberando dessa forma pontos de tensão existentes em um sistema elitista que não conseguia atender às demandas dos segmentos populacionais que almejavam ser incluídos no sistema universitário (CALDERÓN, 2000, p. 6364). 31 Calderón (2000, p. 68) aponta que, embora estas universidades tenham nascido para atender às demandas de massa, não significa que seja impossível “existir universidades mercantis que sejam centros de excelência, assim como existem em outros países, nos quais a maioria desses centros está vinculada à iniciativa privada”. Como reflexo da demanda, na década de 1990, segundo Calderón (2000, p. 65), viu-se a criação de dez universidades mercantis, o que traz para o setor de educação superior, ou melhor, para o mercado de educação superior, a dinâmica da concorrência, em que instituições passaram a buscar fatias de mercado, “valendo-se de todos os recursos disponíveis na área de publicidade e marketing”, que chama de “mercado de oferta”, no qual se deve produzir o que o mercado exige – exigências que podem ser reais ou fictícias [...] dentro de um contexto de acirrada concorrência por clientes em potencial e, principalmente, de excesso de produtos para um número de consumidores que, embora crescente, não consome todas as vagas e serviços oferecidos pelas universidades particulares do Estado de São Paulo. Assim, o ‘mercado de oferta’ é resultado da junção de vários elementos: de um cenário de grande concorrência, do excesso de produtos em relação ao número de consumidores em potencial e de novas exigências do mercado, predominantemente voltado para a prestação de serviços (CALDERÓN, 2000, p. 66-67). O destaque é lançado às universidades mercantis, pois toda a análise apresentada neste trabalho tem foco em uma destas instituições. Porém, a principal preocupação em classificar esta universidade numa tipologia específica como órgão de ensino não se dá apenas com o objetivo de categorização, mas, também, de diferenciação em relação às demais instituições públicas, confessionais ou privadas de elite, que não possuam predominantemente a característica empresarial. 1.3 Mapa da educação superior contemporânea no Brasil De acordo com o Censo da educação superior de 2009, o Brasil possui ao todo 2.314 Instituições (Tabela 1) com cerca de 340 mil docentes em exercício, aproximadamente 28 mil cursos presenciais oferecidos para um público aproximado 32 de 5.1 milhões de alunos anualmente, número quase três vezes maior do que o total de matrículas em 1980. Em média o total de matrículas por instituições é de 2.215. Tabela 1 – Resumo Setorial relativo à educação superior no Brasil - Cursos Presenciais – Ano de 2009 Candidatos Nº de Docentes Matrícula Cursos Insti- em s por Presen- tuições Exercício docente ciais 245 122.977 11 8.228 6,6 1.779 165.138 18 15.049 290 52.702 16 Total 2.314 340.817 Total Privada 2.069 217.840 Presencial Pública Particular Comum/Confes Inscritos/ Ingressos/ Matrículas Concluintes 0,9 1.351.168 187.804 1,3 0,4 2.899.763 493.263 4.550 1,4 0,5 864.965 145.861 15 27.827 2,0 0,5 5.115.896 826.928 17 19.599 1,3 0,4 3.764.728 639.124 Vaga Oferecida Vaga Oferecida Fonte: INEP (2010). O número de instituições privadas (2.069) representa 90% do total de instituições e conta com 63% dos docentes em exercício e 70% dos cursos presenciais. Ademais, atende cerca de 73% das matrículas do setor (resultando em 56% se forem consideradas somente as entidades particulares). As 2.314 instituições existentes no Brasil distribuem-se, de acordo com a natureza institucional, da seguinte forma: 85% são faculdades; 8%, universidades; 5%, centros universitários; e 2% distribuem-se entre Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET) e Institutos Federais de Educação Tecnológica (IFET). A concentração de instituições dá-se na Região Sudeste, responsável por 47% do total. Na sequência, têm-se as Regiões Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Norte, o que corresponde a 19%, 17%, 11% e 6%, respectivamente. Em artigo que discorre sobre as trajetórias e tendências recentes do setor privado, Sampaio (2003) aborda a interiorização destas como um dos movimentos importantes ocorridos entre 1985 e 1990, especialmente nas Regiões Sul e Sudeste, este setor cresceu mais no interior do que nas capitais. Quase dez anos após o período analisado por Sampaio (2003), verifica-se o impacto dessa tendência. Nas Regiões Sul e Sudeste, têm-se maior concentração 33 de instituições em regiões do interior – 74% e 72% do total das instituições de cada região, respectivamente –, nas demais regiões há maior equilíbrio nessa distribuição, com predominância de instituições nas capitais. Por conta da representatividade das Regiões Sul e Sudeste, no total Brasil, 64% das instituições de educação superior estão em regiões do interior e 36%, nas capitais. Do total de instituições e funcionários de educação superior no Brasil, 25% estão localizados no Estado de São Paulo, cujas instituições privadas representam 90% do total existente, com 70% do quadro de docentes em exercício. O custo médio anual por aluno varia entre os tipos de instituição – federal, estadual e privada. As instituições federais oferecem maior custo – R$ 14.616,00 –, em seguida vêm as estaduais – R$ 9.712,00 – e as privadas – R$ 6.290,00. Quanto ao valor mensal, ocorre entre as privadas um custo de R$ 524,00 por aluno, em comparação com R$ 1.218,00, nas federais (MARTINS, 2008). Um dos principais fatores para a diferença de custos tem respaldo no salário pago pelas instituições, variando de acordo com o perfil profissional exigido, assim como a forma de contratação, pois grande parte dos docentes nas instituições privadas é contratada como horista ou para atividade em tempo parcial, enquanto, nas instituições federais, é maior o número de docentes em período integral, assim como a contratação de professores pesquisadores. Quanto às vagas, de acordo com dados do Censo de Educação Superior de 2009, cerca de 50% das vagas oferecidas para graduação na modalidade presencial não são preenchidas. Ao se comparar esse número com os dados obtidos das universidades privadas e públicas, têm-se 58,2% para as instituições privadas, enquanto nas públicas o índice é de 10,0%. As matrículas, nas instituições privadas, estão concentradas em faculdades e universidades – ambas com 40%. Porém, como o número de faculdades é bem maior em comparação com o de universidades – 1863 contra 86 –, tem-se um número médio de 828 matrículas anuais por faculdade privada, em comparação com 17.734 matrículas anuais por universidade privada. Quanto ao porte, 82% das instituições particulares de ensino superior em funcionamento no Brasil são pequenas ou médias. A maioria dessas instituições tem capacidade de matricular, no máximo, 2.000 alunos. 34 A análise da distribuição de matrículas por tipo de instituição indica que, em 2009, houve aumento neste quesito nas universidades, posto que no ano anterior essa distribuição representava 30%, enquanto as faculdades indicavam 50% de ingresso. Isto pode ser reflexo dos processos de compra das IES por grupos educacionais. A evolução do ranking das 10 maiores instituições em relação ao número de matrículas, conforme apresentado na Tabela 2, permite verificar que é grande, ao longo dos anos, o número de grupos educacionais na lista das maiores, tendo uma única alteração no que tange às três primeiras. Entre 2001 e 2008, a Universidade Nove de Julho (UNINOVE) ocupou o terceiro lugar no ranking, que, anteriormente, era atributo da Universidade de São Paulo (USP), que passou a ocupar o sexto lugar nessa lista. Em 2008, houve, em média, acréscimo de 45% no número de matrículas nas instituições que já em 2001 constavam desta lista. Desconsideradas as universidades UNINOVE e Presidente Antônio Carlos, que não figuraram no ranking em 2001, este número cai para uma proporção média de 36% no número de matrículas, equivalente 28 mil novos alunos em cada Instituição de Educação Superior na lista das dez maiores. Entre 2006 e 2008, somente as três primeiras colocadas no ranking tiveram número de matrículas superior a 114 mil – com variação de 93 a 166 mil. Entre as demais, existe maior equilíbrio quanto ao número de matrículas, com média de 47 mil alunos, variando entre 31 e 57 mil. Tabela 2 – Ranking das 10 maiores IES por número de matrículas – Brasil – período de 2001 a 2008 Universidade Universidade Paulista (UNIP) Universidade Estácio de Sá Universidade Nove de Julho (UNINOVE) Universidade Presidente Antônio Carlos Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) Universidade de São Paulo (USP) Universidade Salgado de Oliveira Universidade Luterana do Brasil Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais (PU Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho Outras instituições fora da lista de 10+ em 2008 Total 10+ Total Instituições de Educação Superior (CENSO) % 10+ 2008 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Ranking 10+ 2007 2006 2001 1 1 1 2 2 2 3 35 64 4 11 6 7 3 7 5 15 8 8 4 10 6 913 1991 1 15 8 2008 166.601 115.916 93.520 55.686 55.674 50.508 43.437 39.305 34.017 31.974 686.638 5.080.056 14% # Alunos 2007 2006 2001 145.498 136.341 81.459 116.959 117.679 60.067 84.398 57.666 57.291 52.839 69.074 54.789 24.762 49.774 46.114 35.493 47.853 54.177 21.990 43.620 47.018 33.126 33.327 30.384 32.204 23.209 32.092 31.843 135.291 678.763 631.793 375.820 4.880.381 4.676.646 3.030.754 14% 14% 12% Instituições fora da conta de 10+ devido à posição no ranking _____________________________________________________________________________________________________________________________ Fonte: SOUZA; OTTI (2003); INEP (2007); COSTA (2008); CALGARO (2010). *Diferença de 100% ocorre devido ao fato de esta tabela apresentar somente as 10 maiores instituições de cada ano Δ 2008-2001 % # 51% 85.142 48% 55.849 93.520 55686 56% 30.912 30% 15.015 49% 21.447 16% 6.179 11% 3.633 27% 8.765 45% 310.818 36 Os dados apresentados refletem a dimensão do setor da educação superior relativo ao período de 2001 a 2008, assim como a representatividade do segmento privado, que surge com papel de destaque no cenário educacional brasileiro. Considerando-se, ainda, as informações insertas na Tabela 2, fica em aberto a indagação sobre a evolução da universidade, sob o enfoque qualitativo e, novamente, em relação ao seu papel, com a mesma dinâmica e expressividade que se denota desses indicadores. Colocando em questão se as instituições teriam evoluído qualitativamente assim como no aspecto quantitativo e se, elas estariam prontas para superar os desafios comuns aos dias de hoje. Em apresentação sobre a expansão do ensino superior público e privado, durante o 23º. Fórum de Pró-Reitores de Graduação da Região Sul, Ketzer (2010) apontou como principais desafios para as IES Privadas nos dias de hoje os seguintes aspectos: a) Expansão desordenada das Instituições de Ensino Superior (IES) e de Cursos (acirramento da concorrência); b) Ampliação da oferta de cursos na modalidade Ensino à Distância (EAD); c) Interiorização da educação superior; d) Internacionalização da Educação Superior, mediante ingresso de grupos de capital estrangeiro no Brasil; e) Orientações das ações à Luz do Planejamento Estratégico; f) Incorporação gradativa da gestão colegiada; g) Controle, acompanhamento e avaliação dos processos; h) Busca de integração entre o acadêmico e o financeiro; i) Atualização constante de projetos pedagógicos dos cursos; j) Incorporação de modernas tecnologias educacionais; k) Atualização e capacitação permanente de docentes, gestores funcionários em geral; l) Observância das exigências oficiais de regulação/supervisão/avaliação; e 37 m) Perfil do aluno ingressante (faixa etária, classe social, portadores de necessidades especiais); n) Inflexão de demanda de alunos (redução do número de filhos em famílias de diferentes classes sociais); o) Preocupação com o ingresso e permanência de alunos; e p) Integração entre ensino, pesquisa e extensão. De acordo com Buarque (1994, p. 25), originalmente, a universidade foi o centro de geração do saber da sociedade de consumo: diretamente com seus professores e alunos, em seus laboratórios e departamentos, ou indiretamente com seus ex-alunos, nos centros de pesquisa do setor privado e governamental. Transformou-se no agente de modernização [porém, no decorrer do século XX]. O futuro da civilização parecia aceito; a universidade servia para justificá-lo, legitimá-lo, e para ajudar a construí-lo sem contestá-lo. Para dar a ilusão de contestação, foram criados departamentos especializados, que se limitavam, porém a contestar e debater detalhes, sem ruptura com o propósito da civilização industrial. As universidades devem ser capazes de formular novos problemas e fazer perguntas, tornando-se mais comprometida com as questões internas do que capacitada a “aprender respostas dadas lá fora aos problemas de fora” (BUARQUE, 1994, p. 25). 1.4 A universidade pesquisada As origens da universidade pesquisada remontam os anos de 1960, quando um grupo de jovens amigos decidiu criar um colégio na Zona Leste de São Paulo, num bairro que, embora possuísse pouca infraestrutura e fosse de difícil acesso, possuía terrenos baratos e apresentava grande potencial de desenvolvimento. Tratava-se de um dos bairros mais antigos da cidade de São Paulo. Fora, outrora, aldeamento indígena e missão jesuíta. Até meados de 1920, permanecia como um pequeno núcleo habitacional no extremo leste do município, sua população não ultrapassava 4.702 pessoas (FONTES, 2008). A história dessa localidade altera-se profundamente quando, em 1930, instala-se uma empresa do setor químico que “implantou na região um verdadeiro 38 bairro: a vila operária, casas para diretores, cantina, clube, hospital” (PAZIN, 2003, p. 25) Nos anos de 1940, inicia-se o crescimento e desenvolvimento do bairro, com a “proliferação de loteamentos e o estabelecimento de ‘vilas’ e ‘jardins’, verdadeiros mini-bairros” (FONTES, 2008, p. 99). No início dos anos de 1960, inicia-se a construção da sede do colégio em um terreno que, embora localizado no centro do bairro, sofria com a falta de infraestrutura, fato comum a toda a região: falta de iluminação pública, rede de abastecimento de água, segurança e asfalto nas ruas. A história da instituição, em diversos momentos, relaciona-se com a história da região. A construção do colégio deu impulso ao desenvolvimento do bairro (PAZIN, 2003). Os proprietários do colégio contaram com o apoio da câmara dos vereadores quanto à obtenção de apoio para as melhorias urbanas necessárias, que foram priorizadas com a abertura da escola. Desde a sua fundação, o colégio atendeu “jovens moradores da região, filhos de pequenos comerciantes, de profissionais autônomos e operários, que viam no estudo profissionalizante um caminho de futuro” (PAZIN, 2003, p. 18). O atendimento à população local ultrapassou, logo, as salas de aula. O pátio da escola tornou-se um ponto de encontro e lazer. Aos finais de semana alunos passaram a promover reuniões dançantes, integrando alunos, professores, pais, amigos e vizinhança. Com o passar dos anos, o colégio expandiu sua atuação, oferecendo curso primário, curso ginasial, ginasial comercial e profissionalizantes, e estes, foram oferecidos pela instituição dois anos antes da implantação de cursos profissionalizantes nas escolas públicas estaduais em São Paulo. Um grande impulso que resultou no oferecimento de cursos profissionalizantes surgiu da instalação de um polo de indústrias em um município vizinho, liderado pelas empresas Philips e Philco. O colégio passou então a oferecer cursos profissionalizantes, como Técnico em Contabilidade, Secretariado e Eletrônica. A instituição surge para os moradores de bairros próximos como uma opção de habilitação para o trabalho, com qualidade de ensino, custo acessível e 39 localização próxima às suas residências. Paralelamente ao crescimento do colégio, entre 1964 e 1968, ocorreram mudanças na legislação federal relativa à educação. Desencadeou-se uma reforma que buscava maior integração entre os três ciclos de ensino, ginasial, colegial e o universitário. Destaca-se, entre as mudanças na educação superior, o fim das cátedras, a introdução de departamentos e matrículas por disciplinas, os cursos básicos, a associação entre ensino e pesquisa e o novo enquadramento das instituições. A reforma da educação ocorrida nesse período facilitou o credenciamento de novos cursos e instituições. Devido à grande demanda em todo o País, o poder público, embora tivesse investido no Ensino Médio, não deu conta da expansão da rede pública de educação superior, dando margem para que a rede privada desse conta desta demanda. Anísio Teixeira apresentou em 1968 a preocupação com o crescente número de instituições particulares que no Brasil até aquele momento haviam: Em 1945 - Total de unidades de ensino superior: 181 De 1945 a 1960 - criados 223 novos estabelecimentos. De 1960 a 1967 - criados 265 novos estabelecimentos. Unidades particulares em 67 – 309 novos estabelecimentos, sendo - 74 incorporadas às universidades privadas, - 42 agregadas - 193 isoladas. (TEIXEIRA, 1998, p. 125). Diante deste cenário e do já mencionado crescimento do colégio, conjugado ao aumento de demanda e mudanças na legislação do ensino superior em 1970, os sócios decidiram expandir o negócio, protocolando nesse ano, junto ao Conselho Federal de Educação, em Brasília, o processo de abertura da Faculdade. Os cursos foram autorizados em 1972 e iniciados no ano seguinte. A instituição adquiriu, assim, além da sede do colégio, um terreno, uma casa ao lado do colégio, onde se instalou um anexo que passou a ser a sede da faculdade, a primeira instituição de educação superior do bairro, que, até então, contava apenas outras duas instituições em municípios próximos. Foram convidados “alguns jovens professores de Contabilidade e Administração da Universidade de São Paulo para auxiliar na montagem dos 40 currículos e das aulas”. Grande parte da divulgação “boca a boca” era feita pelos próprios alunos do Segundo Grau. (PAZIN, 2003, p. 29) A faculdade abriu com 180 vagas, oito salas de aula, uma biblioteca e a infraestrutura do Colégio. Tinha um ciclo básico para dois cursos e, no último ano, a formação profissional específica. Para Ciências Contábeis, oferecia as disciplinas de Contabilidade de Custos e Comercial, Auditoria e Análise de Balanços, Contabilidade Bancárias e Técnica Comercial. E, para Administração, Administração Financeira e Orçamento, Administração de Pessoal, de Produção, de Material e de Vendas (PAZIN, 2003, p. 31). Não só a instituição havia crescido, mas a região, que tinha pouco mais de 4.000 habitantes na década de 1920, nos anos de 1970 contava com mais de 230.000 habitantes. Assim, havia “quase uma cidade dentro de São Paulo” (PAZIN, 2003, p. 29). Quanto ao perfil dos alunos, em 1975, não mais se tratavam exclusivamente de alunos da região e bairros vizinhos. Passaram a se matricular na instituição alunos de bairros mais distantes da sede da universidade (PAZIN, 2003). Além de jovens, houve aumento no número de matrícula de alunos mais velhos, que já trabalhavam e buscavam titulação em nível superior. Entre 1984 e 1988, foram incorporadas novas instituições à faculdade, possibilitando a oferta de novos cursos. Estas permaneceram independentes até 1990, quando, devido à necessidade de estabelecer metodologias e princípios únicos, todas as faculdades foram integradas numa única instituição. Quanto à forma de divulgação dos cursos, a instituição passou a contatar as empresas da região com o objetivo de divulgar os cursos e efetuarem parcerias para a colocação de seus alunos recém-formados. De maneira parecida com o ocorrido em 1968, quando mudanças na legislação possibilitaram a criação da faculdade, no ano de 1988 editou-se a nova Constituição, trazendo garantias ao ensino universitário. Destacam-se o fato das universidades passaram a gozar de autonomia acadêmico-administrativa para a abertura e fechamento de cursos segundo a procura, bem como a possibilidade de remanejamento de horários e vagas com flexibilidade e estruturação da relação entre graduação, pesquisa, extensão e cursos de pós-graduação. 41 A conjunção do crescimento da instituição, união das diversas faculdades incorporadas e as mudanças na legislação da educação superior tornou o cenário propício para que os sócios decidissem por estabelecer um novo desafio: A transformação da Faculdade Integrada em Universidade. O desenho do projeto da universidade foi embasado, segundo Pazin (2003), num processo participativo e democrático, com a participação das lideranças políticas e comunitárias, escolas particulares e públicas, associações de classes, empresas, entidades sociais, igrejas, organizações culturais e Poder Público, todos com atuação no entorno da instituição. Contou-se também com o apoio de professores, alunos, diretores, coordenadores e funcionários do Colégio e das Faculdades. Acerca da missão da universidade, definiu-se: Atender às necessidades da comunidade com novos cursos; ajudar a sociedade, com conhecimento transmitido e a união de teoria e prática; oferecer cursos de especialização; promover tanto o desenvolvimento intelectual quanto o profissional; ser um centro de pesquisas voltado à comunidade, ao avanço do conhecimento humano e da coerência; ser contemporânea e inserida no contexto social; dedicar-se à produção, integração e intercâmbio científicos; promover eventos educativos e culturais; valorizar o bairro e os moradores; oferecer programas de extensão, serviços e ações, de acordo com sua proposta educativa e as necessidades da população; transformar-se num polo de atração e irradiação do saber e da cultura, através da tecnologia, da ciência e da arte (PAZIN, 2003, p. 55). No ano de 1993, por unanimidade, a Universidade foi reconhecida, numa sessão do Conselho Federal da Educação. Como principais metas para a instituição, destacavam-se: Capacitação dos docentes; desenvolvimento de práticas, estágios e pesquisas; divulgação do conhecimento; concessão de bolsas; estimulo à participação orientada dos alunos em atividades de extensão, inserindo-os na comunidade (PAZIN, 2003, p. 56). A instituição, em sua filosofia, apresentava a ligação do ensino com a prática, e dos alunos, com a comunidade, mantendo, para tanto, projetos de extensão com objetivo de parceria entre alunos, professores e público. Em seu primeiro ano, a universidade, instalada numa área de 10.000m2, 42 contava com 1.800 alunos e 120 docentes, distribuídos entre os cursos de Letras, Estudos Sociais, Educação Artística, Música, Pedagogia, Ciências, Administração, Ciências Contábeis e Tecnologia em Processamento de Dados, além da PósGraduação. Até o ano de 1996, a universidade contava com um campus, apenas. A partir de 1996, iniciou-se o processo de expansão para ampliação, com a criação do segundo campus em outro bairro da Zona Leste de São Paulo, e, posteriormente, dois novos, na Região Central, em 2001, e Zona Oeste, em 2008. Em seus quatro campi, a instituição oferece, hoje, mais de 32 cursos de graduação e possui mais de 17.000 alunos Atualmente, um grande desafio para a universidade é a alteração do status de universidade regionalizada, para se tornar “uma instituição de maior abrangência geográfica, estendendo seu raio de ação para toda a cidade, para o Estado de São Paulo e, quem sabe, para o Brasil” (PAZIN, 2003, p. 70). 1.4.1 Os campi escolhidos para o desenvolvimento da pesquisa Optou-se por desenvolver este estudo com base na percepção dos alunos de apenas dois dos quatro campi da instituição, aqui designados campus A – unidade mais recentemente inaugurada – e campus B – a primeira sede da instituição – ambos situados na Região Leste do município de São Paulo. É importante citar que ambos os bairros onde se localizam os campi possuem diferenças quanto ao perfil socioeconômico de seus moradores, além de características regionais próprias. Situado num bairro em que, anteriormente, havia inúmeras chácaras, o campus A ocupa uma dessas áreas, comprada em 1892, por Regente Feijó, cujo espaço tornou-se, posteriormente, sede de um internato para a educação formal e profissionalizante de crianças e jovens (PAZIN, 2003). O bairro em que o campus está localizado é uma das áreas consideradas atualmente como novos enclaves sociais, formados por focos de investimentos privados na Zona Leste de São Paulo. Um estudo sobre a reestruturação urbana da metrópole paulistana no período de 1985-2000 aponta o surgimento destes 43 enclaves, em que o custo médio do condomínio chega a ser um dos cinco mais caros de São Paulo (TAQUARI, 2009). Quanto ao campus B, conforme citado, o bairro em que se localiza surge historicamente como um bairro de periferia cujo crescimento deu-se por conta da migração de trabalhadores vindo em grande parte do Norte e Nordeste do Brasil, em busca de oportunidade de trabalho na capital paulista. A realidade atual do bairro é outra em comparação com a época da criação do colégio, embrião da universidade objeto desta pesquisa. Atualmente, o leque de opções de prestação de serviços aumentou. Pequenas empresas foram criadas, abriu-se o mercado de trabalho e a sociedade civil organizouse melhor [...] ao longo dos anos, o nível dos alunos melhorou, e o perfil das famílias elevou-se (PAZIN, 2003, p. 70). Embora sejam necessárias diversas informações para que se entenda o perfil dos alunos de cada campus, além de dados históricos, acredita-se que diferenças sociais entre os dois bairros possam refletir diferenças de dados na amostragem de alunos, a ponto de influenciar os resultados. Pretende-se avaliar esta hipótese ao longo da pesquisa. 1.4.2 A universidade em números Consideradas as cem instituições com maior número de matrículas, e, deste grupo, separadas as instituições do Estado de São Paulo, excluindo-se os grandes conglomerados, teremos 17 instituições, com um total de aproximadamente 403 mil matrículas no ano de 2009, representando uma média de 24 mil matrículas/ano. As 17 instituições distribuem-se em três grupos, em relação ao número de matrículas: o primeiro grupo – uma única instituição – com aproximadamente 100 mil matrículas; o segundo grupo – uma única instituição – com cerca de 50 mil matrículas; e o terceiro grupo – 15 instituições – com média de 17 mil matrículas, em 2009. A universidade pesquisada ocupa o 8º lugar em número de matrículas do terceiro grupo, com um total de 15.464 matrículas no ano de 2009, número 44 equivalente à média de matrícula das universidades privadas da Zona Leste de São Paulo – 15.560. Pela análise destes números, podemos dizer que esta se trata de uma universidade que, embora não faça parte de um grande conglomerado de instituições de educação superior privada, possui número de matrículas equivalente a um grande grupo de instituições privadas no Estado de São Paulo, assim como na região em que se concentra esta pesquisa. Na análise dos principais indicadores da educação superior, verifica-se a posição da universidade pesquisada sob a perspectiva das avaliações/índices do: Sistema Nacional de Avaliação (SINAES); Índice Geral de Cursos (IGC); e Exame Nacional do Desempenho de Estudantes (ENADE). No ano de 2009 a universidade obteve, pelo SINAES, o conceito máximo em todos os quesitos avaliados, tornando-se uma das poucas universidades brasileiras com nota máxima no Ministério da Educação (MEC). Esta universidade ocupa, de acordo com os resultados do IGC/ 2009, a 388ª posição. Entre as instituições privadas do Estado de São Paulo, ela ocupa a 105ªcolocação, de um total de 412 instituições, com nota 240, ou seja, 47% abaixo da nota mais alta obtida entre as instituições privadas do Estado de São Paulo. Ao analisar a diferença entre a nota da instituição com a melhor colocação no ranking do IGC, considerando somente as instituições privadas do Estado de São Paulo (Gráfico 1), pode-se verificar que, no Estado de São Paulo, é maior a concentração de instituições com conceito 3 e 2 – 92% do total de instituições avaliadas. 45 Fonte: INEP (2009). Gráfico 1 – Concentração de instituições de educação superior com conceito 3 e 2, no Estado de São Paulo A avaliação do ENADE surgiu em substituição ao antigo Exame Nacional de Cursos (ENC), avaliando diversos cursos/áreas a cada triênio. Até o momento de conclusão deste trabalho, houve acesso somente à sinopse de 2009, portanto, utilizaram-se, para o Curso de Administração, os resultados publicados da avaliação de 2006, que serão posteriormente comparados aos dados dos alunos da instituição, participantes da pesquisa. Atualmente, a instituição pesquisada possui 32 cursos com conceito 2 (ENADE ), o que corresponde a 35%; 36 cursos com conceito 3 – 40% –; 8 cursos com o conceito 4 – 9% –; e 15 cursos com o conceito 5 – 16% (Gráfico 2). 46 Gráfico 2 – Conceito ENADE atribuído aos cursos da universidade pesquisada 1.4.3 Graduação Atualmente, a universidade possui 48 cursos presenciais de graduação oferecidos nas modalidades Bacharelado, Tecnológico e Licenciatura. Os cursos estão distribuídos entre as áreas de: Administração e Negócios; Exatas e Tecnológicas; Biológicas e Saúde e Humanas e Sociais. Oito cursos são oferecidos com bolsa de estudos integral e, para ingresso, é necessário obter uma pontuação acima de 50% (para o Curso de Música, a pontuação mínima é de 75%). Em levantamento realizado pelo site da instituição, identificou-se, para o primeiro semestre de 2011, um total de 2.862 vagas (Anexo A) para os quatro campi, distribuídas em período diurno (51.7%) e noturno (48.3%). Contempla-se, ainda, vagas para ingresso via prova normal e via ENEM. Como formas de ingresso existem o processo seletivo pela prova tradicional ou via Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (BRASIL, 2007). 47 Há também bolsa integral para cursos como: Ciências Sociais; Geografia (licenciatura e bacharelado); História (licenciatura e bacharelado); Música; e Serviço Social. A universidade oferece, ainda, outras modalidades de descontos, como: a) Bolsas por meio de acordos com associações e entidades conveniadas, que possibilitam descontos parciais nas mensalidades; b) Desconto familiar concedido a cônjuges, irmãos ou pais de alunos matriculados na universidade ou colégio; c) Monitoria – descontos proporcionais ao número de horas cedidas pelos alunos para o acompanhamento docente; d) Programa de incentivo à segunda graduação – que oferece 50% de descontos na mensalidade de graduação de egressos da Universidade e 30% para egressos de outras universidades; e) Programa de incentivo à Pós-Graduação, com bonificação de 10% para alunos dos cursos de pós-graduação “lato sensu” aos formados pela universidade; f) Bonificação na mensalidade variando de acordo com cada campus e curso; g) Desconto financeiro por pontualidade, oferecido aos alunos que pagarem a mensalidade entre o último dia útil do mês anterior ao vencimento e o sexto dia útil. Além dos programas de bolsas de estudos, a universidade também oferece aos alunos convênios que possibilitam o financiamento estudantil. São eles, o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa Crédito Universitário Pravaler. O primeiro é concedido a alunos regularmente matriculados em cursos de graduação não gratuitos credenciados pelo MEC, que possibilita o financiamento de até 100% da mensalidade. O segundo, por sua vez, é um programa de crédito estudantil oferecido por uma financiadora conveniada com a universidade. Somam-se aos programas de bolsa e ao financiamento estudantil as Bolsas de Iniciação Científica. Estratégia alinhada com a visão da universidade para a 48 integração de ensino, pesquisa e extensão. A instituição possui ampla cultura de desenvolvimento de atividades de iniciação científica. Apenas no ano de reconhecimento da instituição já existiam 603 trabalhos de pesquisa com orientação de docentes da instituição (PAZIN, 2003). Anualmente, os bolsistas de Iniciação Científica apresentam os resultados de seus trabalhos de pesquisa num encontro organizado pela instituição, cujo evento também é aberto à participação de estudantes de outras entidades. Quanto à forma de avaliação de aprendizado, existe uma prova regimental e as outras avaliações definidas pelas áreas e cursos. Para aprovação por aproveitamento, exige-se o resultado final (RF) igual ou superior a 6,0 (seis), desde que tenha, no mínimo, 75% de frequência aos trabalhos acadêmicos efetivos, com possibilidade de solicitação de prova substitutiva, sem ônus, aos alunos que faltarem à Prova Regimental. 1.4.4 Pós-graduação São oferecidos cursos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado) e lato sensu (Especialização). Contabiliza-se, no total, trinta cursos de pós-graduação, entre os quais: três cursos de doutorado, avaliados com nota 4 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – 2010; oito cursos de Mestrado avaliados pela CAPES – quatro com nota 4 e quatro com nota 3 – 2010. Quanto à especialização, a instituição oferece cursos nas modalidades Master of Business Administration (MBA) – Especialização – Presencial e Semipresencial – nas áreas de Administração e Negócios, Biológicas e Saúde, Direito e Educação. Complementam a oferta de cursos de pós-graduação cerca de 20 cursos de Extensão, com no mínimo 32 horas, com objetivo de aprimoramento na formação do graduando e do graduado no Ensino Superior, nas áreas de: Humanas; Administração e Negócios; Direito; Educação; Exatas e Tecnológicas. Quanto a benefícios de descontos, a instituição oferece bonificação de 10% aos alunos formados pela universidade que ingressarem em qualquer um de seus cursos de pós-graduação lato sensu. 49 1.4.5 Programas de atendimento à comunidade Como reflexo da orientação da instituição em direcionar esforços para os projetos de pesquisa e extensão, buscando a união entre alunos, professores e público, a instituição possui diversos programas e projetos que promovem o intercâmbio entre a comunidade acadêmica e a sociedade, contribuindo para o processo contínuo de construção de conhecimento e para o desenvolvimento social. Ao todo, são cerca de 16 programas oferecidos à comunidade, projetos de orientação acadêmica; atendimento psicológico e didático; projetos culturais e artísticos; capacitação profissional de alunos e da comunidade local; relacionamento e integração entre os alunos e a instituição; saúde pública; intercâmbio entre ensino superior, médio e fundamental e programas de voluntariado. Além dos programas, a instituição possui centros específicos de atendimento, relacionados às áreas de formação e à prática oferecida à comunidade local. A extensa lista de projetos e centros de atendimento à comunidade reflete o histórico da instituição de alinhamento entre ensino, pesquisa e extensão, proporcionando o desenvolvimento de alunos, funcionários e comunidade local, criando uma cultura de pesquisa alinhada com o crescimento e desenvolvimento da instituição, no âmbito interno e externo. 50 1.4.6 O curso de Administração de Empresas Reconhecido pelo Decreto Federal nº. 79.263, de 14 de fevereiro de 1977, publicado pelo Diário Oficial da União (DOU) em 15 de fevereiro de 1977, e Portaria MEC nº. 630, de 22 de fevereiro de 1989, o Curso de Administração foi um dos primeiros cursos oferecidos pela instituição. Atualmente, o curso possui carga horária de três mil horas distribuídas em oito semestres. O valor da mensalidade varia entre os campi, com bonificação para os alunos dos campi C e D (Tabela 3), destacando que ambos não serão investigados neste trabalho. Tabela 3–Valor da mensalidade campus A B C D Valor R$ 721,22 R$ 721,22 R$ 645,68 R$ 645,68 O curso traz aos alunos a oportunidade de atuação em Empresa Júnior, que realiza consultoria e desenvolve projetos para empresas de micro, pequeno e médio portes, instituições e sociedade em geral. Ao longo do curso são programadas visitas técnicas a empresas e participação num programa social que aplica práticas administrativas em instituições do Terceiro Setor. A grade curricular é composta, ao longo dos oito semestres pelas matérias, conforme o quadro a seguir. 51 Quadro 1 – Grade curricular do Curso de Administração ingressantes no 1º. semestre de 2011 Administração Administração da produção e operações Estudos Dirigidos III - Organização, Sistemas e Métodos Estudos Dirigidos IV Projeto de Pesquisa I Administração de recursos Humanos Filosofia Projeto de Pesquisa II Administração de Recursos Materiais e Logística Finanças Corporativas Projeto de Pesquisa III Materiais e Logística Fundamentos de Sociologia Aplicada às Organizações Psicologia Administração Financeira e Orçamentária Gestão Avançada de Marketing Redes e Alianças Estratégicas Ciência política Gestão de Marketing Sistemas Gerenciais de Apoio à Decisão Contabilidade de Custos Gestão de Pessoas Sociedade Moderna e Contemporânea Contabilidade Geral Gestão Estratégica de Negócios Teorias da Administração Contabilidade Tributária Jogos de Empresas Tópicos Avançados em Administração Direito Empresarial Língua Brasileira de Sinais (Facultativa) Tópicos de Direito Economia Língua Portuguesa Pesquisa de Campo II Empreendedorismo Matemática Pesquisa de Campo III Estudos Dirigidos Matemática Financeira Probabilidade e Estatística Estudos Dirigidos I Metodologia de Pesquisa Orientação Profissional, Mercado de Trabalho e Ética Estudos Dirigidos II Optativa Pesquisa de Campo I Fonte: De acordo com publicação no site da instituição, para matrículas no primeiro semestre de 2011 Verifica-se pela análise dos resultados das últimas avaliações, que o Curso de Administração possui nota média com variação entre “C” e “D” para o conceito do ENC, avaliado até o ano de 2003, e com nota 3 pela avaliação do ENADE, para o 52 triênio de 2004-2006, apresentando queda de 1 ponto no triênio de 2007-2009, vide tabela a seguir. Tabela 4 – Conceito Enade/ENC - Universidade Pesquisada: Curso de Administração - 1996-2009 ENC ENAD PERÍODO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004-2006 2007-2009 D D C C C C D C 3 2 Administração Fonte: INEP (1996 - 2009) Porém, ao analisar os demais indicadores apresentados pelo ENADE em 2009, vê-se que a instituição se diferencia em diversos aspectos, se comparada às instituições privadas de São Paulo, ou à média Brasil, conforme Tabela 5. Tabela 5 – ENADE 2009 - Universidade pesquisada e quadros comparativos Área Número de Participantes Ingressantes Número de Participantes Concluintes Conceito Enade faixa Nota IDD Proporção que avalia que os equipamentos disponíveis são suficientes (resp. A/B) Nota_infra Proporção que avalia bem o plano de ensino (resp. A) Nota_pedag Número de docentes Proporção de Docentes no Mínimo Mestres Nota_mestre Proporção de Docentes no mínimo Doutores Nota_doutor Proporção de Docentes Regime Parcial/Integral Nota_regime CPC contínuo CPC faixa Fonte: INEP (2009) Universidade Média São Paulo Média Brasil pesquisada Privadas Geral Administração 418 202 78 467 156 44 2 3 3 2.2 1.9 2.4 Média Brasil Públicas Média Brasil Privadas 76 70 4 2.6 95 79 3 2.2 79% 3.71 77% 3.62 75% 3.44 54% 2.25 77% 3.59 53% 2.5 110 90% 4.5 30% 3.1 54% 2.6 137 62% 3.1 16% 1.5 58% 2.8 44 53% 2.6 10% 1.0 44% 2.0 45 60% 3.0 20% 1.8 59% 2.8 44 52% 2.6 8% 0.9 65% 3.2727 2.59 3 38% 1.89 2.22 2.75 48% 2.36 2.17 2.72 79% 3.95 2.75 3.29 43% 2.17 2.10 2.65 53 Para o ano de 2009, destaca-se a proporção de alunos que indica a suficiência dos equipamentos, com 79%, pouco acima da média de instituições privadas no município de São Paulo. A proporção de docentes, com 90% de mestres contra 62% entre as universidades privadas de São Paulo, é outro fator de destaque. A instituição apresenta, ainda, maior nota para os mestres, ou seja, 4,5 contra média, de 2,5 a 3, obtida pelos demais grupos. A proporção de docentes com titulação de doutores também é a maior em relação aos demais grupos, chegando a 30% contra a média de 15% do restante. A nota obtida pelos doutores é quase duas vezes maior do que a média dos demais grupos comparados. O número de docentes em regime parcial/integral só é menor do que a média das instituições públicas no Brasil, apresentando alto percentual de professores em regime integral (65%). O Conceito Preliminar do Curso (CPC) consolida a avaliação de diversas variáveis, entre elas as notas de ingressantes e concluintes, a proporção de professores mestres e doutores, o regime de trabalho dos professores – integral ou parcial – e infraestrutura oferecida aos alunos pela instituição e organização didático-pedagógica. Embora o conceito do curso obtido pela instituição no ENADE seja o menor entre os grupos, ao avaliar o índice obtido pelo CPC contínuo, a instituição apresenta o segundo maior resultado entre os grupos apresentados, permanecendo atrás somente da média das instituições públicas no Brasil. Buscamos ao longo deste capítulo apresentar o cenário das universidades privadas em São Paulo, como pano de fundo para melhor situarem-se os dados referentes à instituição específica onde concentramos a nossa pesquisa, apresentando dados que auxiliarão para o melhor entendimento do perfil dos alunos. 54 2 OS ALUNOS PARTICIPANTES DA PESQUISA 2.1 Aspectos metodológicos Antes de iniciar a apresentação dos dados obtidos junto aos alunos da instituição pesquisada, convém apresentar algumas considerações acerca dos procedimentos metodológicos, pois, cada escolha “traça um caminho diferente e revela diferentes relações” (SELLTIZ et al, 1987, p. 1). Optou-se por realizar uma pesquisa de caráter híbrido, a que se pode chamar descritivo-exploratório, que segundo Gil (1989), tratam-se de pesquisas que descrevem e exploram o tema proposto e que utilizam técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionário. Porém, por natureza, considera que existe uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que não pode ser traduzida em números. Este tipo de pesquisa pretende estudar as características de um grupo [...] (incluindo também) pesquisas que tem por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população [...] proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses (GIL, 1989, p. 44-45). Ainda de acordo com Gil (1989, p. 45), esta ligação é possível, pois: Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Neste caso tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Por outro lado, há pesquisas que embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias. Iniciou-se a coleta de dados com pesquisa documental, em busca de materiais que configurassem as fontes primárias, como documentos de arquivos públicos e referenciais teóricos. Conforme Lakatos e Marconi (2001, p. 43), os documentos de fonte primária são: 55 [...] aqueles de primeira mão, proveniente dos próprios órgãos que realizam as observações. Englobam todos os materiais, ainda não elaborados, escritos ou não, que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica. Podem ser encontrados em arquivos públicos ou particulares, assim como em fontes estatísticas compiladas por órgãos oficiais e particulares. O levantamento de referencial teórico foi iniciado com uma análise do banco de teses da CAPES, especialmente com foco em trabalhos catalogados nos últimos cinco anos com os termos Universidade Privada, Educação Superior, Ensino Superior e Aluno Universitário, sendo identificados 3.076 estudos com as mais diversas faces da Educação Superior Privada no Brasil. Desses trabalhos, foram selecionados 312 – cerca de 10% – cujos títulos apresentavam os alunos universitários como objeto principal de pesquisa. Este número se aproxima dos dados apresentados pela ANPED (1996 apud PACHANE, 1998), em que se constatou a pouca quantidade de estudos existentes sob a temática dos alunos, pois, de 561 referências com títulos voltados ao Ensino Superior e Universidade realizadas no período de 1985 a 1995, menos de 10% guardavam relação com a temática Estudantes Universitários, correspondendo a um total aproximado de 50 trabalhos ao longo de 10 anos. Neste estudo, da amostragem de 312 trabalhos, apenas um terço tinha por foco o perfil, o comportamento, motivações e expectativas dos alunos de educação superior. Após a leitura dos resumos e seleção dos trabalhos mais próximos ao pretendido, buscaram-se os trabalhos publicados na internet, também utilizados para embasar referências primárias e modelos de questionários, utilizados na elaboração do instrumento de pesquisa. Vencida essa etapa, aguardou-se a aprovação do comitê de ética para o prosseguimento, iniciando-se, então, a coleta de dados que envolveu alunos do Curso de Administração, o que combina com a trajetória pessoal deste pesquisador. Foram elaborados dois questionários. Um destinado à coleta de impressões do grupo de ingressantes, o outro, dos concluintes, ambos matriculados nos períodos diurno e noturno de dois campi de uma determinada universidade privada. Fato que merece observação é o de que o questionário foi aplicado na 56 primeira semana de aula, na tentativa de colher as impressões dos alunos logo no início do curso, ainda sem o impacto natural do ambiente universitário. Por conta desta medida, houve pouca devolução de questionários respondidos, considerando o número de alunos matriculados na instituição – cerca de mil alunos. Retornaram 449 questionários preenchidos, 64% do primeiro e segundo semestre e 38% do último semestre. O reduzido número de participantes concluintes ocorreu pois, historicamente, grande parte dos alunos veteranos não frequentam as aulas na primeira semana letiva, período reservado aos trotes escolares e às apresentações. Conforme Selltiz et al (1987), uma das maiores críticas na utilização de questionários é a restrição às respostas dadas/escritas a perguntas préestabelecidas. Porém, há que se concordar com o posicionamento de BAUER (2008, p. 24) a respeito de informações a serem analisadas – neste caso, informações que serão coletadas no questionário – “se colocarmos informações irrelevantes, teremos estatísticas irrelevantes”. Entre outras críticas cabe destacar as distorções às quais os questionários podem estar sujeitos, como erros de amostragem, efeitos de contaminação entre perguntas, uso de palavras de difícil compreensão e indução de resposta pelos termos da pergunta. Por outro lado, como expõem Lakatos e Marconi (1991, p. 98-99), a utilização de questionários apresenta também uma série de vantagens. Destacam-se algumas: a) Economiza tempo, viagens e obtém grande número de dados; b) Permite obter respostas mais rápidas e mais precisas; c) Há maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato; d) Há menos risco de distorção pela não influência do pesquisador; e) Há mais uniformidade na avaliação, em virtude da natureza impessoal do instrumento; f) Permite obter respostas que, materialmente, seriam inacessíveis. Considerando os aspectos negativos e positivos, acreditamos que a utilização de questionários parece a forma de coleta de dados mais adequada por oferecer 57 maior número de respostas em menor tempo. Todos os questionários preenchidos pelos alunos tiveram a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido desconsiderando-se aqueles cujo termo respectivo não foi assinado – cerca de 30 questionários. A aplicação do questionário durou, em média, trinta minutos. Houve salas em que o professor tomou a iniciativa de distribuir os questionários, recolhendo-os ao término da aula. Em outros casos, este pesquisador foi convidado a entrar e se apresentar aos alunos, para, em seguida, distribuir os questionários e aguardar o seu preenchimento. O apoio dos professores foi fundamental, pois, além de abrir espaço para a aplicação dos questionários, dialogaram com os alunos sobre a importância da participação e o desenvolvimento de pesquisas na universidade. Foi visível o engajamento dos alunos, fato interessante, uma vez que o preenchimento do questionário era facultativo. Após a tabulação dos dados que, segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 148), busca “organizar ou ordenar uma série de dados em diferentes classes, em uma ou mais variáveis”, as informações foram agrupadas em categorias para a posterior análise. O levantamento dos níveis de expectativa e satisfação foi realizado com a utilização de uma escala numérica com variação de 0 a 10, na qual à medida que sobe o número na escala, maior é o nível de engajamento com a vida universitária, seja na questão da expectativa ou da satisfação. Quanto à atribuição de notas, Demo (2002, p. 22) afirma tratar-se de um procedimento que, embora possa tornar as coisas mais fáceis, torna também tudo mais arriscado. Pode ocorrer serem ocultados problemas da avaliação ou segundas intenções com a função de deturpar os objetivos declarados, e como apresentado pelo autor “andar pelo implícito à custa do explícito”, o que não seria ético tampouco metodologicamente correto. Considerando os riscos e as exigências metodológicas, optou-se pela atribuição de notas por parecer uma alternativa cabível ao tipo de análise pretendida, ainda que para isso fosse necessária maior atenção aos procedimentos metodológicos. 58 2.2 Perfil socioeconômico nos campi A e B Anísio Teixeira apresentou considerações a respeito dos alunos da educação superior, que, embora refletissem a realidade da década de 60, ainda poderiam ser aplicadas aos alunos nos dias atuais. Segundo o autor, o corpo discente das universidades era composto pelos que passavam no exame vestibular, alunos com “11 anos no mínimo de estudos primário e médio, em escolas extremamente diferentes, embora os currículos tenham sido geralmente uniformes” (TEIXEIRA, 1989, p. 129). Os alunos aprovados candidatavam-se para o vestibular e estudavam “por sua conta, para o exame, tomando professor particular, estudando por si ou matriculando-se em algum dos cursinhos que eram um treinamento especial para o exame” (TEIXEIRA, 1989, p. 129). Quanto ao vestibular, o autor aponta que havia maior dificuldade e competitividade nas provas das escolas de maior prestígio social. Por conta da tendência de criação de novas escolas, ao invés da ampliação das já existentes, o exame vestibular das demais escolas passou a ter poucos candidatos, pois “muitos, que dificilmente ou jamais entrariam nas escolas de alto prestígio [irão se matricular] em outras escolas onde farão os mesmos cursos, cujos graus e títulos têm, por lei, exatamente o mesmo valor” (TEIXEIRA, 1989, p. 129). Após aprovado no exame vestibular, o aluno não vai compor um grupo homogêneo e altamente selecionado. As dificuldades de matrícula se distribuem por vários níveis, conforme a carreira ou o curso pretendido, a escola escolhida, os professores que elaboram a matéria do exame e os apuradores e julgadores dos resultados. [...] Diante disso, é claro que o exame é uma prova no escuro. O aluno aprovado sente-se um pouco como se tivesse tirado um prêmio na loteria. A expressão social é a de ter sido feliz no exame, no sentido de ter sorte [...] (TEIXEIRA, 1989, p. 129). 59 Uma vez matriculado, este aluno feliz, chega à escola com uma dose apreciável de euforia e até com certo orgulho, o que lhe dá elementos para se sentir motivado e curioso do que seja o ensino superior [...] Tal motivação geralmente se apaga no primeiro ano, salvo raras exceções. Do segundo ano em diante, é um membro cético da comunidade, mas perfeitamente convencido do privilégio que representa ali estar. Para encher certo sentimento de vazio que lhe trazem as condições e o nível de ensino, de algum modo, entretanto menos dirigido, mais livre e mais adulto, conta com o emprego, se já o tem, ou então procura empregar-se. Isto se dá às vezes, até com o grupo mais abonado financeiramente. De qualquer modo é normal estudar e ‘trabalhar’ (TEIXEIRA, 1989, p. 129) Ao longo de minha vida universitária deparei-me com uma realidade próxima a essa apresentada por Teixeira, observando a transição de alta motivação e expectativa ao início para a frustração e queda no nível de satisfação ao término do curso, aspecto motivador para o desenvolvimento desta pesquisa. 2.3 Os integrantes da pesquisa Participaram deste estudo alunos de primeiro, segundo e oitavo semestre do Curso de Administração, períodos diurno e noturno, realizados no campus A e campus B de uma universidade privada, ambos situados em bairros da Região Leste de São Paulo, sendo, o último, a sede inicial da instituição, e o primeiro, o campus mais recentemente inaugurado (Tabela 6). No total, foram preenchidos 449 questionários. Destes, 38% no campus A, e 62% no campus B. O total de respostas representa 64% dos estudantes recémmatriculados, com 60% no campus A e 66% no campus B e 38% dos formandos, sendo 42% no campus A e 33% no campus B. 60 Tabela 6 – Número de participantes da pesquisa por campus e por período – ano de 2010 Campus A Períodos Diurno 1º. Semestre 9 27 2º. Semestre 28 8º. Semestre Total geral 37 Campus B Noturno Soma “A” Total % Diurno Noturno Soma “B” 36 28 30 58 94 21% 48 76 95 55 150 226 50% 61 61 4 64 68 129 28% 136 173 127 149 276 449 100% Em 2010 permaneceram no curso 48,9% do total de alunos do Curso de Administração matriculados no ano de 2006. Além da já citada queda do número de formandos nesta pesquisa, devido à ocorrência da aplicação do questionário na primeira semana letiva, acredita-se que a redução do número total de formandos em comparação ao número de ingressantes pode explicar a diferença entre ingressantes e concluintes participantes desta pesquisa. Houve, também, a participação de alunos dos Cursos de Administração com ênfases (Comércio Exterior, Marketing e Gestão Financeira), e de outros cursos, com matérias optativas em Administração. A proposta curricular oferecida pelo curso permite que em uma mesma sala de aula sejam encontrados alunos de períodos e cursos diferentes. Em geral, encontraram-se nas turmas de ingressantes, alunos de primeiro e segundo semestre, assim como alunos do curso de administração geral e ênfases. O mesmo não ocorreu com as turmas de último semestre. Devido ao fato de as matérias serem específicas do período e do curso, foi rara a presença de um aluno de outro período ou da ênfase de Marketing na turma de Administração, por exemplo. Deparou-se com alunos (ingressantes e concluintes), matriculados em seu primeiro curso universitário (84%), uma menor parcela (13%) matriculou-se em outro curso universitário, porém sem concluí-lo e um terceiro grupo (3%) informou já possuir a formação em outro curso de nível superior. 61 Pela idade declarada, o grupo que está em seu segundo curso, ingressou no Curso de Administração imediatamente após a conclusão de seu primeiro curso, pois a maioria possui entre 21 e 26 anos. Dados apresentados pelo INEP mostram que, do total de participantes que preencheram o questionário socioeconômico no ENEM de 2005, “34,65% declararam que o pai estudou até a 4ª. série do ensino fundamental, 16,11% até a 8ª. série, 16,23% até o nível médio, 6,73%, até o nível superior e apenas 1,92% fizeram pós-graduação” (INEP, 2006, p. 1). O mesmo relatório destaca que há relação direta, quanto ao desempenho tanto na prova objetiva quanto na redação do ENEM, com o nível de escolaridade dos pais e mães de seus participantes Tabela 7 – Distribuição de alunos por campus e momento de vida acadêmica É seu primeiro curso campus campus universitário? A B Sim 263 Não - Já cursei outro(s), porém não conclui o curso Total %A %B % Total 112 375 82% 87% 84% 44 14 58 14% 11% 13% Não - Já possuo outro diploma de curso superior 11 2 13 3% 2% 3% N/R- 2 1 3 1% 1% 1% 320 129 449 100% 100% 100% Total O mesmo relatório destaca que há relação direta quanto ao desempenho tanto na prova objetiva quanto na redação do ENEM, com o nível de escolaridade dos pais e mães de seus participantes. Ainda, relativamente aos resultados do ENEM, consta que os participantes, filhos de pais com baixo nível de escolaridade, 18,8 % ficaram na faixa insuficiente e 62 regular, percentual que cai gradativamente conforme sobe o nível de escolaridade do pai. Dos classificados na maior faixa de desempenho (70% - 100%), 34,19% informaram que o pai possui instrução em nível de pós-graduação, percentual que decresce de acordo com a queda no nível de escolaridade, chegando a 6,87% dos classificados na faixa 70% -100%, que informaram a falta de estudo do pai. Resultado semelhante ocorre em relação à escolaridade da mãe, cujo desempenho do participante também tende a subir à medida que aumenta o nível de escolaridade da mãe. Assim como acontece com a relação entre o desempenho e a escolaridade dos pais dos participantes do Enem, o nível escolar das mães também pode ser comparado. Enquanto apenas 6,86% dos participantes cujas mães não estudaram ficaram na faixa de desempenho de ‘bom a excelente’, o percentual cresce conforme aumenta o nível de escolaridade das mães, atingindo 28,81% no grupo onde estas possuem pós-graduação (INEP, 2006, p. 2). Perguntou-se aos estudantes qual o maior nível de escolaridade de pai e mãe (Tabela 8), permitindo identificar que, em geral, os pais possuem o nível médio (46%), o que, somado ao percentual de pais que possuem até o fundamental, chega-se a 76% dos pais com nível de educação abaixo do superior (Tabela 8). Tabela 8 – Maior nível de escolaridade dos pais Campus Campus A B Não respondeu 1 Fundamental Total %A %B Total 3 4 1% 1% 1% 42 96 138 24% 35% 31% Médio 66 124 190 38% 45% 42% Superior 53 46 99 31% 17% 22% Pós-graduação 11 7 18 6% 3% 4% 173 276 449 100% 100% 100% Total Embora em ambos os campi o maior percentual de respostas tenda para o 63 nível médio, vê-se que no campus A é maior a ocorrência de pais com o nível superior e pós-graduação, atingindo 38% em comparação com 18% no campus B. Já no campus B, destaca-se o percentual de pais e/ou mães cujo maior nível é o ensino o fundamental, com 35% contra 24% no campus A. Na sequência, os alunos foram questionados sobre irmãos com escolaridade em nível superior (Tabela 9). Observou-se, novamente, prevalência de resposta positiva no caso dos alunos do campus A, com 51%, indicando que nesta unidade está mais presente, entre as famílias, a cultura de formação universitária, restando 35% para o campus B. Ao se cruzarem os dados de escolaridade dos pais e irmãos com o nível superior, vê-se que 41% dos participantes da pesquisa são os primeiros em sua família (grau imediato) a cursarem a universidade. Os dados obtidos permitem inferir que 30% dos alunos no campus A e 48% no campus B são os primeiros de suas famílias a frequentarem o curso de nível superior. Este número reforça a afirmação de que os alunos do campus A são provenientes de famílias com maior nível de escolaridade. Somando-se aos 41% dos alunos, primeiros da família a cursarem a universidade, o percentual de alunos cujos irmãos possuem o nível superior em lugar dos pais, tem-se um total de 71% de famílias, cujos filhos ultrapassaram o nível de formação dos pais ao se matricularem no curso superior. Considerando-se o nível de escolaridade entre os familiares e momento de vida acadêmica, pode-se dizer que, em geral, em ambos os campi há alunos vivendo sua primeira experiência universitária e, embora os pais não possuam o nível superior, é possível identificar maior tradição de experiência universitária e de pós-graduação entre as famílias de alunos do campus A. 64 Tabela 9 – Alunos cujos irmãos possuem curso em nível superior Tem irmãos Maior nível de com nível escolaridade superior? entre os pais Campus campus A B Médio 25 Fundamental Total %A %B Total 72 97 14% 26% 22% 27 61 88 16% 22% 20% Superior 21 24 45 12% 9% 10% Pós-graduação 5 5 10 3% 2% 2% - 0 1 1 0% 0% 0% - 78 163 241 45% 59% 54% Médio 41 44 85 24% 16% 19% Superior 29 21 50 17% 8% 11% Fundamental 13 31 44 8% 11% 10% Pós-graduação 5 1 6 3% 0% 1% - 1 0 1 1% 0% 0% Soma 89 97 186 51% 35% 41% - 6 16 22 3% 6% 5% Total 173 276 449 100% 100% 100% Não Soma Sim 2.4 Curso universitário Em diversas salas de aula, constata-se a presença de alunos matriculados em cursos distintos, porém, matriculados em determinada(s) matéria(s) do Curso de Administração. Destacam-se, entre esses cursos, três grupos com maior representatividade, conforme expõe a Tabela 10: Administração Geral de Empresas (83%); ênfases do Curso de Administração (5%); e Ciências Contábeis (8%). Entre os demais, ocorre a média de 2 participantes por curso distinto, matriculados em matérias optativas em Administração de Empresas, que serão considerados na análise geral. Ocorre uma ligeira concentração de alunos de Administração Geral de Empresas no campus B, bem como maior percentual de alunos matriculados em ênfases no campus A. 65 Tabela 10 – Distribuição por cursos e campus Curso campus campus Total %A %B Total 240 373 77% 87% 83% 4 17 8% 1% 4% 6 3% 0% 1% 1 1 0% 0% 0% 152 245 397 88% 89% 88% Ciências Contábeis................. 18 18 36 10% 7% 8% Gestão em Recursos Humanos ................................ 0 6 6 0% 2% 1% Comunicação Social ............... 0 3 3 0% 1% 1% Economia................................ 3 0 3 2% 0% 1% Visagismo ............................... 0 1 1 0% 0% 0% Redes de Computadores........ 0 1 1 0% 0% 0% Psicologia ............................... 0 1 1 0% 0% 0% Letras...................................... 0 1 1 0% 0% 0% Total – Optativas .................... 21 31 52 12% 11% 12% Total Geral.............................. 173 276 449 100% 100% 100% A B Administração Geral ............... 133 Adm - Ênfase em Comércio.... 13 Adm - Ênfase em Marketing ... 6 Adm - Ênfase em Gestão Financeira............................... 0 Total - Adm (Geral+ênfases) .. 2.5 Sexo De acordo com Moraes (2011), o censo do ensino superior de 2009 aponta que o Brasil possui grande representatividade de mulheres na educação superior. Tanto entre matriculados (55.1%) quanto entre concluintes (76.2%). O resultado desta pesquisa acusou também maior predominância de mulheres (60%), sem grandes variações neste percentual entre os campi. 66 Embora seja alto esse percentual, tanto para ingressantes quanto concluintes, percebe-se uma queda de 6% no número de mulheres do grupo de concluintes, o que aponta para duas possibilidades: Primeiramente, o aumento no percentual de mulheres na turma de ingressantes do ano de 2010 em relação à turma de 2006. A segunda possibilidade é de haver maior dificuldade entre as mulheres para a conclusão do curso. A diferença também está presente nos dados do ENADE (Tabela 11), que apresenta uma queda de 3 pontos no percentual de mulheres concluintes, o que se percebe ao confrontar esse dado com o percentual de ingressantes. O censo da educação superior indica que, no Brasil, o percentual de mulheres, entre os formandos de educação superior, é maior. Porém, ao se comparar este número com os dados oriundos do ENADE, embora os indicadores apontem aumento entre os formandos de educação como um todo, para o Curso de Administração há outro resultado, por conta da queda no percentual de mulheres concluintes. Ao se considerarem os dados apresentados na tabela 11, constatam-se entre as turmas de oitavo semestre da universidade pesquisada, que a distribuição por sexo é semelhante à apresentada para ingressantes no ENADE (mulheres: 56% contra 54%; homens: 44% contra 46%). Tabela 11 – Distribuição de alunos por Sexo Universidade Pesquisada ENADE Sexo Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total Feminino 62% 56% 60% 54% 51% 53% Masculino 38% 44% 40% 46% 49% 47% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 67 É importante lembrar que a distribuição de gêneros pode variar em função da instituição de ensino tanto quanto em relação ao curso, pois há aqueles com maior predominância de mulheres, assim como cursos com maior apelo e número de matrículas entre o público masculino. Identifica-se na pesquisa diferença na distribuição de sexo por curso. A média de mulheres matriculadas (60% do total de participantes da pesquisa) está presente no Curso de Administração Geral, porém, este percentual sobe para 73% em Ciências Contábeis e em matérias optativas no Curso de Administração. Já nas ênfases de Administração de Empresas (Comércio Exterior, Marketing e Gestão Financeira), há maior concentração (67%) de alunos do sexo masculino (Gráfico 3). Gráfico 3 – Distribuição por sexo entre os cursos – total de alunos participantes da pesquisa Pela análise do gênero dos alunos nos cursos e campus, vê-se que a concentração de alunos do sexo masculino nas ênfases do Curso de Administração ocorre isoladamente no campus A. Embora esta seja uma informação relevante, não há como tirar conclusões somente com este dado, uma vez que se trata de uma pequena quantidade de alunos participantes – 35 – em relação ao total matriculado no primeiro, segundo e no oitavo semestre do Curso de Administração de Empresas – Geral e Ênfases – 68 397 alunos, conforme apresentado no gráfico 4. Gráfico 4 – Distribuição por sexo entre cursos e campi – Total de alunos participantes da pesquisa Acredita-se que o número de mulheres nos cursos pesquisados seja reflexo do aumento no número de mulheres no mercado de trabalho. De acordo com dados do anuário estatístico RAIS, no Brasil, o número de mulheres no mercado de trabalho brasileiro tem crescido numa média superior ao aumento de postos de trabalho (BRASIL, 2009). Isto indica que, além de haver um crescimento anual no número de postos oferecidos, tem sido maior a contratação de mulheres que, embora não supere em números absolutos a quantidade de vagas ocupadas por homens, tem anualmente diminuído esta diferença, ainda que longe de se aproximar ao percentual de mulheres na sociedade brasileira (BRASIL, 2009). Fonte: BRASIL (2009). Gráfico 5 – Distribuição anual de postos de trabalho por sexo no Brasil 69 De qualquer forma, é alto o percentual de mulheres nos cursos pesquisados, uma vez que esse número é superior tanto em relação ao número de mulheres na sociedade brasileira – 51.03% – quanto ao número de mulheres na cidade de São Paulo – 52.7%. Pode-se dizer, então, que há indícios de maior apelo ou predominância de mulheres matriculadas nos cursos abordados nesta pesquisa. 2.6 Cor/etnia Em geral, na universidade pesquisada, a distribuição por cor/etnia é semelhante aos números do ENADE (Tabela 12), com um ligeiro aumento no percentual de estudantes pardos. Os dados, contrapostos aos resultados apresentados pelo IBGE na pesquisa de amostra de domicílios de 2009, mostram que a distribuição de cor/etnia na universidade pesquisada está de acordo com a distribuição apresentada pelo IBGE para a cidade de São Paulo (Gráfico 6). Tabela 12 – Distribuição por cor/etnia – ingressantes/concluintes Universidade pesquisada ENADE Cor/Etnia Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total Branca 63% 73% 66% 68% 74% 70% Parda 27% 19% 25% 23% 19% 22% Preta 5% 4% 4% 6% 4% 5% Amarela 3% 4% 3% 2% 2% 2% N/R 2% 0% 1% 0% 0% 0% Indígena 1% 0% 0% 1% 1% 1% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Total 70 Nota: A diferença de 100% refere-se a alunos que não informaram a etnia Gráfico 6 – Distribuição de alunos por cor/etnia – universidade pesquisada x pesquisa nacional por amostra de domicílios – ano de 2009 Embora seja baixa a diversidade étnica, a distribuição de alunos na universidade pesquisada é próxima à distribuição étnica de São Paulo. Quanto à diversidade étnica, é relevante citarmos a diferença entre os resultados apresentados na pesquisa de amostra de domicílios (IBGE, 2009) no estado de São Paulo e na Região Metropolitana de São Paulo (Gráfico 7), esta última apresenta maior equilíbrio entre o percentual de alunos brancos e pardos, 48,2% e 44.2% respectivamente. 71 Gráfico 7 – Distribuição de alunos por cor/etnia – São Paulo e Brasil Apesar de ser pequena a diferença entre os campi A e B (Tabela 13), identifica-se no primeiro a maior concentração de estudantes brancos – 75% –, seguido por um menor percentual de pardos – 17%. No segundo, por sua vez, o número de brancos cai para 59% e o percentual de pardos sobe para 29%. Indígenas e Orientais representam um total de 8% entre os campi. Tabela 13 – Distribuição por etnia – comparação entre campus campus A campus B Total %A %B Total Branca 129 161 293 75% 59% 65% Parda 30 82 112 17% 29% 25% Negra 5 15 20 3% 5% 4% Oriental 7 7 14 4% 2% 3% Não informou - 8 8 0% 3% 2% Indígena - 2 2 0% 1% 0% 174 281 455 100% 100% 100% Cor/Etnia Total 72 Isto posto, ao menos no que diz respeito à cor/etnia, apresentam-se diferenças entre o perfil dos alunos pesquisados em cada campus, com maior concentração de alunos brancos nos campi A e B, porém neste último, com quase o dobro de alunos pardos. 2.7 Faixa etária Quanto à faixa etária, observa-se na universidade pesquisada, um público mais novo do que a média apresentada pelo ENADE, tanto entre ingressantes quanto concluintes (Tabela 14). Os ingressantes de ambos os campi, A e B, possuem idade média em torno de 22 anos. Quanto aos concluintes, o campus A apresenta a idade média de 2 anos a menos que a idade média dos concluintes no campus B (23 e 25 anos respectivamente). Na tabela a seguir, destaca-se a maior concentração de alunos com até 24 anos na universidade pesquisada, 70% em comparação com 54% apresentado pelo Enade. Tabela 14 – Distribuição de alunos ingressantes e concluintes por idade Idade Universidade pesquisada Ingressante Concluinte Total ENADE Ingressante Concluinte Total Até 24 anos 72% 65% 70% 65% 37% 54% Entre 25 e 29 anos 15% 22% 17% 19% 34% 25% Entre 30 e 34 anos 8% 5% 7% 8% 13% 10% Acima de 35 anos 4% 5% 4% 9% 16% 11% Não respondeu 1% 2% 2% 100% 100% 100% 0% 0% 0% Total 73 Considerando que o Curso de Administração possui duração de oito semestres na universidade pesquisada, pode ter havido mudança de perfil dos matriculados no campus A, pois se os alunos concluintes possuem hoje, em média, 23 anos, no momento de suas matrículas contavam com 19 anos. Desta forma, três anos a menos do que a idade média apresentada para ingressantes no Curso de Administração em 2010. Ainda relativamente à média de idade, não há grandes diferenças no campus A, períodos diurno e noturno, seja quanto aos ingressantes ou concluintes. Já no campus B, constata-se entre os alunos do período noturno uma média de idade dois anos acima do que apresenta o período diurno. 2.8 Estado civil Embora seja um item cujos dados guardem semelhança com os números do ENADE, verifica-se um padrão diferente quando ocorre a comparação dos percentuais de concluintes e ingressantes. Dos alunos pesquisados, 80% são solteiros (Tabela 15). Porém, ocorre uma diferença de 5 pontos percentuais entre ingressantes e concluintes. Para o ENADE, ao invés de aumentar o número de solteiros, este diminui em 10 pontos percentuais e, de modo semelhante, o percentual de casados aumenta em 10%. Na universidade pesquisada este número se mantém em 16% para ambos os grupos. 74 Tabela 15 – Estado civil dos alunos por ocasião da matrícula Universidade pesquisada ENADE Estado Civil Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total Solteiro(a) 78% 83% 80% 80% 70% 76% Casado(a) 16% 16% 16% 15% 25% 19% Divorciado(a) 3% 1% 2% 2% 3% 3% - 1% 1% 1% 1% 1% 1% União Estável 1% 0% 1% 2% 2% 2% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Total Não é possível afirmar que em 2006 as turmas de ingressantes já apresentavam baixo percentual de divorciados e em regime de união estável no ano inicial do curso. É certo que diversos fatores podem influenciar esta análise, inclusive a crise financeira ocorrida em 2009, que também pode ter alterado em maior ou menor grau a evasão de alunos casados, divorciados ou em união estável. 2.9 Residência Dos alunos que residem com familiares ou amigos. Destes, 77% em média são solteiros e 15%, casados. Não há grandes diferenças entre os campi, podendose afirmar se tratarem de jovens estudantes (com média de idade de 22 anos), solteiros e moram com os pais ou amigos (Tabela 16). Tabela 16 – Distribuição de alunos por tipo de residência campus Reside com ...? Estado civil Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total Solteiro(a) 86 51 137 77% 84% 79% Casado(a) 18 8 26 16% 13% 15% Divorciado(a) 4 0 4 4% 0% 2% União Estável 2 0 2 2% 0% 1% 110 59 169 98% 97% 98% 2 2 4 2% 3% 2% 2 2 4 2% 3% 2% 112 61 173 100% 100% 100% Solteiro(a) 153 53 206 74% 78% 75% Casado(a) 32 12 44 15% 18% 16% Divorciado(a) 5 1 6 2% 1% 2% - 3 1 4 1% 1% 1% União Estável 2 0 2 1% 0% 1% 195 67 262 94% 99% 95% Solteiro(a) 8 1 9 4% 1% 3% Casado(a) 1 0 1 0% 0% 0% Sozinho(a) - Soma 9 1 10 4% 1% 4% - Solteiro(a) 2 0 2 1% 0% 1% - 1 0 1 0% 0% 0% Casado(a) 1 0 1 0% 0% 0% 4 0 4 2% 0% 1% 208 68 276 100% 100% 100% 320 129 449 Com familiares/ amigos(as) campus A Familiares/amigos – Soma Sozinho(a) Solteiro(a) Sozinho(a) - Soma campus A – Total Com familiares/ amigos(as) Familiares/amigos – Soma campus B Sozinho(a) - Soma campus B – Soma Total 76 Sobre a transição para a vida adulta e a autonomia presente na juventude, Borges e Magalhães (2009) apontam: Nas famílias contemporâneas, quando comparadas às famílias do início do séc. XX, evidenciam-se formas mais flexíveis de relações, com maiores possibilidades de reivindicações pessoais, de diálogo e de negociação entre os indivíduos. Nesse contexto, tem sido observado o prolongamento da convivência intergeracional na família, os jovens estão permanecendo por mais tempo morando na casa de seus pais e demorando mais tempo para viver independentemente deles (BORGES; MAGALHÃES. 2009 p. 42). Segundo as autoras, as fases do ciclo de vida “modificam-se conforme se tratem de diferentes contextos histórico-sociais” (BORGES; MAGALHÃES. 2009 p. 42). A visão líquida das fases do ciclo de vida leva Goldani (2004, p. 20) a apontar que as “fases da adolescência e juventude se prolongaram, e por questões econômicas, com o declínio das oportunidades de empregos [...], colocando em xeque o tradicional contrato de suporte intergeracional”. A autora ainda observa que “novas tecnologias, economia, família, sexualidade, saúde, reprodução, relações de gênero e processos de individuação” caracterizam cada vez mais o fato de os indivíduos deixarem a etapa da infância mais cedo, porém estes passam a levar mais tempo para efetivamente entrar na vida adulta (GOLDANI, 2004, p. 20). Quanto às transições dos momentos de vida, Damon (2009) afirma: [...] durante a adolescência, certa dose de auto-análise e experimentação é saudável. Trata-se de um período de desenvolvimento transitório, uma espécie de ‘baldeação’ na estrada rumo a uma auto-identidade madura. Dizse que esse período de formação da vida começa com um choque da puberdade e termina com o sólido compromisso com os papéis sociais adultos, como aqueles citados anteriormente: pais, cônjuges, trabalhadores e cidadãos (DAMON, 2009 p. 26). Num cenário em que cerca de 80% dos alunos são solteiros e residem com pais e amigos, esta informação se torna relevante quando é discutida a questão do aluno da educação superior em sua passagem da juventude para a vida adulta. Borges e Magalhães (2009, p. 43) afirmam: 77 nessa descrição do ciclo de vida familiar, a transição para a fase adulta é sinalizada pelo afastamento dos jovens em relação à família de origem. Nessa concepção, ser adulto se definiria através de acontecimentos como a saída da casa da família de origem, o investimento em um trabalho ou uma formação profissional, com a entrada no mercado de trabalho, a independência financeira, a autonomia e, posteriormente, a possibilidade de formar seu próprio núcleo familiar. Desta forma, de um lado tem-se o argumento de que o afastamento dos jovens em relação à família de origem faz parte de sua transição para a vida adulta, porém, de outro lado, surgem os aspectos econômicos, que trarão limites e contêm “inscritos a origem social, os percursos de escolaridade, as oportunidades e as condições de emprego, os modelos culturais, os papéis de gênero e as redes de apoio formais e informais” (BORGES; MAGALHÃES, 2009, p. 44). Pode-se considerar que os processos que permeiam a transição da juventude para a vida adulta hoje são bastante complexos e não são fundamentados mais em critérios como idade ou afastamento da família de origem rumo à independência. Hoje, pais e filhos desfrutam de um espaço de maior diálogo e liberdade nas relações familiares. Certamente, a possibilidade de conciliar dependência e autonomia dentro da família traz outras possibilidades para se viver e se pensar essa passagem. Por isso, considera-se que o prolongamento da vida familiar esteja relacionado, não com algum ‘atraso’ desses jovens em entrar para a vida adulta, mas com as novas formas de constituição da vida adulta de hoje (BORGES; MAGALHÃES, 2009, p. 44). Portanto, embora não seja possível afirmar algo sobre a transição da juventude para a vida adulta, apenas com os dados sobre o tipo de residência dos alunos, é relevante considerar que, ao menos, entre os alunos participantes desta pesquisa, é grande o percentual de solteiros que residem com os familiares. Este dado, somado aos demais que serão apresentados, poderá auxiliar no melhor entendimento do perfil dos alunos pesquisados. 2.10 Colocação profissional Embora em termos percentuais seja alto o número de alunos com vida profissional ativa (Tabela 17), quando analisados, isoladamente, os números de ingressantes e concluintes que moram com familiares e/ou amigos verifica-se que entre os ingressantes é maior o número daqueles que ainda não trabalham e 78 residem com os familiares enquanto, entre os concluintes, há um pequeno acréscimo de 3 pontos no percentual de alunos que moram com os pais, porém, quase 100% deles trabalham. Tabela 17 – Tipo de residência e ocupação profissional dos alunos participantes Você trabalha? Ingressantes Concluintes Total Ingressantes Concluintes Total Não 61 7 68 19% 5% 15% Sim 244 119 363 76% 92% 81% 305 126 431 95% 98% 96% N/R 3 0 3 1% 0% 1% Não 1 1 2 0% 1% 0% Sim 7 2 9 2% 2% 2% 11 3 14 3% 2% 3% N/R 1 0 1 0% 0% 0% Sim 3 0 3 1% 0% 1% Soma 4 0 4 1% 0% 1% Total 320 129 449 100% 100% 100% Onde reside? Com familiares/ amigos(as) Soma Sozinho(a) Soma Não Respondeu Dos 83% de estudantes que informaram trabalhar, 57% são contratados em regime CLT, 11% em atividade informal e apenas 10% em –estágio remunerado (Tabela 18). Embora em alguns cursos o estágio seja considerado atividade complementar à formação pedagógica, é comum para o Curso de Administração a visão de estágio como forma de ingresso no mercado de trabalho. Assim, a atividade torna-se um estágio inicial, com características de aprendizado, porém com o pagamento de bolsa-auxílio, forma como é conhecido o pagamento mensal oferecido aos estagiários. 79 É possível afirmar a importância do estágio para a formação profissional, sobretudo para alunos principiantes de profissão. Da amostragem, participaram alunos que já haviam iniciado a vida profissional antes de entrar no curso universitário, portanto, não há como afirmar que a totalidade dos alunos esteja em início de carreira. Foi expressivo o número de alunos que já estão colocados no mercado de trabalho, inclusive entre os ingressantes (79%). Boa parte deles já iniciou alguma atividade antes de iniciar o curso, e busca na vida universitária a oportunidade de se desenvolver profissionalmente. Como apontam Sampaio e Cardoso (2003, p. 26), “o trabalho do estudante não lhe confere autonomia de residência” informação confirmada entre os alunos pesquisados. Oitenta e um por cento dos estudantes que trabalham moram com os familiares e/ou amigos e, destes, 64% são solteiros. Porém, conforme advertem as autoras, “o trabalho não os torna (os alunos) independentes financeiramente da família”. Tabela 18 – Atuação profissional dos alunos Caso positivo, possui registro em carteira? Ingressantes Concluintes Total Ingressantes Concluintes Total Sim, como funcionário/ Contratado 170 89 259 53% 69% 58% Não 36 13 49 11% 10% 11% Sim, como estagiário 29 14 43 9% 11% 10% - 19 5 24 6% 4% 5% 254 121 375 79% 94% 84% - 62 8 70 19% 6% 16% - 4 0 4 1% 0% 1% Soma 4 0 4 1% 0% 1% Total 320 129 449 100% 100% 100% Você trabalha? Sim Soma Não 80 A maior concentração de estudantes que ainda não trabalham está entre os ingressantes de até 24 anos, que representa 70% de todos os que estão sem ocupação profissional. Embora para efeito estatístico seja baixo o número de desempregados com idade superior a 24 anos (Tabela 19), há uma tendência de queda no percentual dos que não trabalham, de acordo com o aumento da faixa etária, com variação entre 21%, para os que têm até 24 anos, e 14%, para aqueles com idade acima de 35 anos. Tabela 19 – Atuação profissional dos alunos – por idade Você Idade Ingressantes Concluintes Total Ingressantes Concluintes Total N/A N/A N/A trabalha? - Sim 3 3 6 - Não 2 2 4 5 4 10 N/A N/A N/A Sim 179 78 257 79% 93% 82% Não 49 6 55 21% 7% 18% 228 84 312 100% 100% 100% Soma Até 24 anos Soma Entre 25 e 29 Sim 39 27 66 83% 93% 87% anos Não 8 2 10 17% 7% 13% 47 29 76 100% 100% 100% Sim 21 7 28 88% 100% 90% Não 3 0 3 13% 0% 10% 24 7 31 100% 100% 100% Soma Entre 30 e 34 anos Soma Acima de 35 Sim 12 6 18 86% 100% 90% anos Não 2 0 2 14% 0% 10% Soma 14 6 20 100% 100% 100% Total 316 129 449 Quanto ao regime de trabalho, o Gráfico 8, a seguir, aponta que o campus A apresenta maior percentual de ingressantes que têm ocupação profissional regidos 81 pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), já o campus B possui o dobro de ingressantes que têm receita oriunda do trabalho informal, além de 21% de ingressantes desempregados, contra 17% do campus A. Gráfico 8 – Situação profissional de alunos ingressantes nos campi A e B Neste mesmo quesito, agora relativamente aos concluintes, o campus B traz um excelente indicador, com apenas um aluno sem ocupação no mercado de trabalho, de um total de 68 participantes, bem como um percentual maior de concluintes contratados em regime celetista (75%) e 13% admitidos em programa de estágio remunerado. O campus B apresenta, ainda, queda no percentual de trabalhadores do mercado informal, com índice de 14% de ingressantes e 9% de concluintes. 82 Gráfico 9 – Situação profissional de alunos concluintes nos campi A e B Quanto à relação entre o trabalho e o curso universitário, 77% dos alunos que têm atividade profissional apontam que há relação entre a sua atividade profissional e os estudos. Porém, como a grande maioria dos ingressantes já exercia uma atividade profissional antes de entrar na universidade, pode-se dizer que, na realidade, ao menos entre os participantes desta pesquisa, o mercado trouxe o aluno à universidade. Dos recém-matriculados, 76% informam que há relação entre sua atividade profissional e o curso universitário e 88% dos concluintes fazem a mesma indicação. Este fato pode ser considerado ótimo indicador em relação ao curso e à universidade pesquisada, criando um cenário no qual os alunos, ainda sem colocação no trabalho ou na área escolhida, possuem grandes chances de reverter a situação até o final do curso. Os alunos foram questionados sobre a influência do trabalho no curso universitário (Tabela 20). Para 72% dos participantes, o trabalho influi positivamente no curso. Para 21%, o trabalho não possui influência e, ainda, para um pequeno índice de 4%, o trabalho influi de forma negativa nos estudos. É importante frisar que o momento em que se abordou o grupo de amostragem pode ter influenciado os resultados. Os universitários foram questionados na primeira semana letiva, período de adaptação, sem grandes 83 pressões sobre os alunos, seja em decorrência da volta às aulas ou do retorno de férias. O transcorrer do ano exige mais dos alunos e, caso a pesquisa fosse realizada em outro momento, poderia, eventualmente, trazer outro resultado. Portanto, a se considerar o momento profissional e/ou acadêmico, a influência do trabalho na vida acadêmica poderá ser positiva ou negativa. Tabela 20 – Influência da atividade profissional no desempenho acadêmico Influência no curso Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total Positivo 178 93 271 70% 77% 72% Indiferente 56 24 80 22% 20% 21% Negativo 11 3 14 4% 2% 4% 9 1 10 4% 1% 3% 254 121 375 100% 100% 100% Total * Total de alunos – 375 – referente ao total de alunos que informaram possuírem atividade profissional Para os alunos do 8º. semestre incluiu-se uma pergunta sobre a mobilidade profissional, com o intuito de saber se houve alguma alteração de cargo ou salário desde a matrícula no curso universitário (Tabela 21). Dos 121 alunos do 8º. semestre, 53% informaram que houve evolução salarial. Este percentual está equilibrado em ambos os campi, posto que 22% informaram não ter ocorrido mobilidade profissional ou salarial e 17% indicaram alteração de cargo, porém sem evolução salarial, o que, no campus B, foi de 22% contra 9% no campus A. Conforme se vê, adiante, esta é a questão chave para a análise sobre as expectativas e a satisfação quanto à vida universitária, considerando-se, sobretudo, o curso superior como porta de entrada no mercado de trabalho ou melhoria de posição social. 84 Tabela 21 – Mobilidade profissional após o início do curso campus campus A B campus campus A (%) B (%) superior............................................................... 17 22 39 31% 33% 32% Não ...................................................................... 13 14 27 24% 21% 22% 10 15 25 19% 22% 21% equivalente .......................................................... 4 8 12 7% 12% 10% Não informou ....................................................... 9 1 10 17% 1% 8% 1 7 8 2% 10% 7% 54 67 121 100% 100% 100% Houve mobilidade profissional? Total Total (%) Mudei de empresa e ganho um salário Fui promovido/a (cargo e salário) na mesma empresa onde eu trabalhava............................... Mudei de empresa porém ganho salário Mudei de cargo porém com o mesmo salário, na empresa onde eu trabalhava............................... Total * Total de alunos – 121 – referente ao total de alunos concluintes que informaram possuírem atividade profissional 2.11 Dependência familiar e renda per capita O fato da grande maioria dos participantes desta pesquisa ter ocupação no mercado de trabalho e morar com os familiares, não significa dependência em relação à família. Sampaio e Cardoso (2003, p. 26) apontam que a renda auferida pelo trabalho seria “uma subtração do orçamento familiar”. Esta informação é relevante, pois, quando levantada a questão sobre a renda per capita (Tabela 22), verifica-se que (36%) dos participantes informam que a renda média de seus familiares é de um a dois salários mínimos (de R$ 560,00 a R$ 1.120,00). Deste modo, considerando que boa parte dos alunos trabalha e o custo médio da mensalidade do curso gira em torno de R$ 721,00, o aluno, praticamente, trabalha para pagar o seu curso universitário. 85 Tabela 22 – Renda per capita dos alunos ingressantes e concluintes Renda média dos moradores Inferior a 1 salário mínimo (R$ 560,00) ........................ Ingressante Concluinte Total Ingressante Concluinte Total 44 7 51 14% 5% 11% (R$ 560,00 - 1.120,00)...... 115 39 154 36% 30% 34% 2 a 3 salários mínimos (R$ 1.120,00 – 1.680,00).......... 63 27 90 20% 21% 20% 3 a 4 salários mínimos (R$ 1.680,00 - 2.240,00) .......... 42 22 64 13% 17% 14% Acima de 4 salários mínimos (R$ 2.240,00) ...... 43 32 75 13% 25% 17% - 13 2 15 4% 2% 3% Total 320 129 449 100% 100% 100% 1 a 2 salários mínimos A menos que tenha ocorrido uma grande mudança quanto ao perfil dos novos alunos, a renda per capita dos concluintes é em geral mais alta do que a dos ingressantes, pois 26% destes informaram que a renda média dos familiares está acima de três salários mínimos, esta mesma questão aponta um percentual de 42% entre os concluintes. Quanto à renda per capita entre os campi, têm-se dois grupos: o primeiro, com perfil mais uniforme, com um terço dos alunos informando renda média de dois a três salários mínimos; e o segundo grupo em que o campus B apresenta com destaque uma concentração de renda inferior a dois salários mínimos e o campus A maior concentração de renda superior a três salários mínimos (Gráfico 10). 86 Gráfico 10 – Renda média per capita – ingressantes e concluintes Em ambos os campi ocorre um salto na renda per capita de ingressantes e concluintes. Pode-se considerar este avanço como indicador de sucesso do Curso de Administração na universidade pesquisada e um ponto relevante na análise do nível de satisfação dos alunos concluintes. No campus B há menor renda per capita, com maior predominância de alunos pardos, assim como maior predominância de alunos brancos e de maior renda no campus A. Os dados de cada um dos campi permite inferir que, independentemente da concentração de estudantes com renda per capita acima de três salários mínimos no campus A, há considerável diferença na distribuição de renda quando se põem em questão os dados relativos à cor/etnia. É maior a ocorrência, em ambos os campi, de renda per capita acima de três salários entre alunos brancos, que estão, em média, 12% acima do percentual de alunos pardos com renda acima de três salários. No campus B há menor renda per capita, com predominância de alunos pardos, assim como no campus A há maior predominância de alunos brancos e de maior renda. 87 A renda média familiar entre alunos pardos é semelhante em ambos os campi, cabendo observar que no campus B há maior concentração de alunos brancos, isto é, 50%, com renda de até 2 salários mínimos e no campus A, 34%. Todavia, embora haja maior renda entre os estudantes de cor branca, ainda há diferença entre estudantes da mesma cor/etnia, porém em diferentes campi. Gráfico 11 – Renda média per capita – distribuição por cor/etnia – campus A Gráfico 12 – Renda per capita – distribuição por cor/etnia – campus B 88 Da mesma forma, o cruzamento dos dados relativos à renda familiar e ao nível de escolaridade dos pais em cada campus indica um aumento considerável de renda à medida que aumenta o nível de escolaridade dos pais. Percebe-se que a distribuição de renda é semelhante nos dois campi. Todavia, 74% dos alunos do campus A (Gráfico 13) cujos pais possuem nível superior de instrução apresentam renda per capita acima de dois salários mínimos contra 52% dos alunos do campus B (Gráfico 14), com renda entre um e dois salários mínimos, o que corresponde a 41% dos estudantes. Ainda quanto a este quesito, o campus A possui 26% dos alunos com renda de dois a três salários, contra 11% de alunos do campus B. Nos demais níveis, a diferença é mínima, com exceção dos que têm escolaridade em nível de pós-graduação, que devido ao baixo índice dispensa análise estatística. Gráfico 13 – Renda per capita – distribuição por nível de escolaridade dos pais – campus A 89 Gráfico 14 – Renda per capita – distribuição por nível de escolaridade dos pais – campus B 2.12 Disponibilidade para o estudo Questionados sobre a quantidade média de horas trabalhadas, 74%, índice considerável de alunos, 74%, informou trabalhar acima de 8 horas diárias, enquanto 22%, informou trabalhar 6 horas (Tabela 23). A distribuição é semelhante entre os grupos de ingressantes e concluintes. Para melhor entendimento do tempo disponível para estudos, foram analisados os dados relacionados às horas trabalhadas e a distância percorrida entre a residência e a universidade. Utilizando ferramentas disponibilizadas na internet para a visualização de mapas e localização endereços, levantou-se a distância entre o bairro da residência e o campus no qual o aluno está matriculado. Por desconhecimento do bairro onde os alunos trabalham não se obteve o tempo total de trânsito, porém considerou-se o tempo mínimo de ida e volta da residência à universidade, sabendo-se que o aluno, eventualmente, poderá gastar mais tempo no deslocamento devido à distância entre o trabalho e a universidade. 90 Ainda que os campi estejam situados em bairros com características distintas, foram encontradas algumas semelhanças no que diz respeito à distância percorrida pelos alunos. A distância média entre a residência dos estudantes e universidade gira em torno de 10 km, o que equivale a um percurso de 20 minutos de carro ou 40 minutos utilizando transporte público (Tabela 23). Em ambos os campi, 5 km é a distância, com maior frequência estatística, percorrida pelos alunos, o que gera um tempo médio de 20 minutos gasto no deslocamento. Porém, considerados somente os alunos do campus A, constatou-se maior frequência na distância superior a 15 km da universidade (14% no campus A e 6% no campus B). O tempo, em trânsito, gasto por esses alunos atinge a média de 1,5 hora. Quase a totalidade dos alunos em ambos os campi (96%) consome, no máximo, uma hora, no trajeto da sua residência à universidade. Com exceção das maiores distâncias percorridas por alguns alunos entre o trabalho e a universidade e fatores adversos do trânsito, se computarmos na jornada diária dos universitários o tempo de permanência na universidade, as horas de trabalho, e, em média, uma hora diária gasta no trajeto casa/escola, podemos dizer que restam poucas horas ao longo da semana disponíveis para a dedicação aos estudos. Ao se considerar que há diversos perfis de instituições para diversos perfis de alunos, a informação sobre o tempo disponível para o ensino, assim como o tempo percorrido pelos alunos em trânsito até chegar à universidade, são fatores que podem ser pesados na análise sobre o perfil dos alunos aqui estudados. Quase a totalidade do corpo discente da universidade pesquisada tem ocupação profissional. Este fator pode ser preponderante para a escolha da universidade, uma vez que é alto o número de alunos que estudam perto de suas residências, podendo aumentar a concentração de alunos da comunidade local matriculados na instituição, o que será verificado a seguir. 91 Tabela 23 – Distância percorrida pelos alunos e tempo gasto na viagem entre a residência e a universidade Distância da Nº. de residência (Km) Alunos Até 5Km....................... 93 De 5 a 10Km................ campus Tempo Médio (min.) % Alunos Carro Condução 54% 8 18 37 22% 16 31 De 10 a 15Km.............. 17 10% 23 48 15 a 20 Km .................. 17 10% 30 59 Acima de 20Km ........... 7 4% 46 91 N/R 2 N/A N/A N/A 171 100% 18.6 19 Até 5Km....................... 111 41% 9 21 De 5 a 10Km................ 108 39% 15 33 De 10 a 15Km.............. 40 15% 24 53 15 a 20 Km .................. 7 3% 28 63 Acima de 20Km ........... 8 3% 46 106 N/R 2 N/A N/A N/A Soma 276 100% 20.0 20 Total 449 19 41 A Soma B 2.13 Motivo que levou à escolha do curso e da instituição universitária As últimas questões sobre o perfil socioeconômico circundou o motivo da escolha da instituição e do curso. Para responder a estas questões, o estudante poderia selecionar algumas alternativas. O principal motivo para a escolha da universidade foi a proximidade da residência ou do trabalho, com 56% das respostas (Tabelas 24 e 25), que se seguiu da indicação de ex-alunos, 14%, nome da universidade, também 14%, valor da mensalidade, com 9% e outros, com 7%. 92 Tabela 24 – Motivo de escolha da instituição universitária Campus Campus A B 56% 56% Indicação de ex-alunos 14% Nome da Universidade Motivo Total Total Diurno Noturno Total Proximidade de minha residência ou trabalho 56% 56% 54% 58% 56% 16% 12% 14% 15% 13% 14% 9% 17% 14% 14% Valor da mensalidade 9% 13% 6% 9% Outros 7% 6% 8% Total 100% 100% 100% 1º 2o SM 8o SM 60% 53% 60% 14% 16% 15% 9% 14% 14% 9% 16% 15% 8% 10% 9% 9% 8% 10% 7% 9% 6% 7% 7% 8% 6% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% SM Tabela 25 – Motivo de escolha da instituição universitária – outros motivos Motivo % Proximidade de minha residência ou trabalho ........ 56% Indicação de ex-alunos ...... 16% Nome da Universidade ....... 13% Valor da mensalidade......... 9% Outros................................. 6% Total 100% Os motivos de escolha da instituição universitária foram separados por grupos para verificar as diferenças quanto entre diversos perfis de alunos em cada campi: Período de matrícula (diurno e noturno); diferenças entre semestres (1º., 2º. e 8º.). O motivo de escolha “proximidade da residência” é unânime em todos os perfis como o principal motivo de escolha da instituição, tendo este a maior 93 frequência em todos os grupos. Desconsiderando a proximidade da residência, a indicação de ex-alunos (14%) surgiu como motivo mais importante para o campus A (16%, contra 12% do campus B), assim como para os ingressantes (16 e 15%, contra 9% dos concluintes). O nome da universidade (14%) foi citado como fator de maior importância para o campus B (17% contra 9% no campus A). O valor da mensalidade foi motivo de escolha com mais apelo entre os alunos do campus A (13%) do que para os alunos do campus B (6%). Possivelmente, a menor incidência no campus B deve-se ao fato de os participantes deste campus apresentarem menor renda média familiar do que os alunos do campus A. Por outro lado, o nome da universidade também foi considerado para a escolha dos alunos do campus B (17%), justificando o pagamento de uma mensalidade talvez até um pouco mais alta do que em outras instituições próximas à residência. Quanto àqueles que indicaram outros motivos para a escolha da instituição (7% da amostragem), o maior índice de respostas atrelou-se ao fato de o aluno possuir bolsa de estudos / Prouni (29%); nota conceito da universidade junto ao MEC (17%); qualidade da universidade, o aluno diz gostar do curso / área ou da universidade (10%); e o respondente já estudou ou conhece ex-alunos da instituição (8%). Quanto ao motivo da escolha do curso (Tabelas 26 e 27), tem-se a busca de melhores oportunidades profissionais (46%); formação técnica para a atividade que já exerce (17%); aquisição de um título/diploma universitário (16%); possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade (9%); exigência da empresa onde trabalha (7%); outros (6%). 94 Tabela 26 – Motivo de escolha do curso universitário Alternativa que melhor indique o motivo pelo campus Total curso Período Semestre Total A B 46% 46% 46% 17% 16% 16% Total Diurno Noturno 1º. 2º. 8º. 46% 47% 46% 46% 46% 45% 48% 18% 17% 16% 18% 17% 19% 18% 15% 17% 15% 16% 17% 15% 16% 15% 15% 16% 9% 9% 9% 9% 8% 9% 9% 9% 10% 7% em que trabalha ........... 7% 7% 6% 7% 5% 7% 7% 7% 5% 9% Outro ............................ 6% 5% 6% 6% 7% 5% 6% 3% 6% 7% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Melhores oportunidades profissionais ................. Formação técnica para a atividade que já exerce .......................... Aquisição de um título/Diploma universitário.................. Possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade...... Exigência da empresa Total Tabela 27 – Motivo de escolha do curso universitário – outros motivos Motivo % Melhores oportunidades profissionais............................. 46% Formação técnica para a atividade que já exerce............ 17% Aquisição de um título/Diploma universitário ...... 16% Possibilidade de contribuição para a melhoria da sociedade . 9% Exigência da empresa em que trabalha............................. 7% Outro........................................ 5% Total 100% 95 Conclui-se o capítulo com a leitura do perfil deste grupo específico de alunos, onde são encontrados diversos subgrupos que permitem melhor leitura sobre o que esperam os alunos da vida universitária, bem como o seu nível de satisfação ao término do curso. 96 3 AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE EXPECTATIVA E SATISFAÇÃO DOS ALUNOS Para a mensuração do nível de expectativa e satisfação quanto à vida universitária, foi reservado o segundo bloco de questões de nosso questionário, com alternativas que deveriam ser respondidas pelos ingressantes, em que avaliariam suas expectativas ao longo do curso. Quanto aos concluintes, estes manifestariam as experiências vividas desde o início do curso universitário. A elaboração do questionário obedeceu à escala Lickert, com quatro alternativas, a saber: discordo completamente; discordo; concordo; e concordo completamente. Para cada uma das opções atribuiu-se um valor, de modo a estabelecer uma nota média do nível de expectativa e de satisfação dos alunos participantes da pesquisa. O questionário foi dividido em blocos de questões que avaliaram, respectivamente, o nível de expectativa dos ingressantes e o de satisfação dos concluintes em relação aos grupos de questões relativas à vida universitária: adaptação ao curso; bases de conhecimento para o curso; desenvolvimento de carreira; realização de exames; envolvimento em atividades extracurriculares; métodos de estudo; relacionamento com os colegas; relacionamento com os professores. Embora todas as questões de cada grupo tenham buscado analisar os níveis de expectativa e satisfação, foi adicionado um último bloco com treze questões sobre expectativas e vivência no curso universitário, com o objetivo de avaliar expectativas e satisfação de modo apartado das situações apresentadas em cada grupo de questões. Buscamos assim, somar informações sobre o que os alunos esperam da vida universitária, dos próximos anos em ambiente acadêmico. Um exemplo da distinção entre os oito grupos de questões e o específico de expectativas, é o bloco de questões sobre realização de atividades extracurriculares que avalia o nível de expectativa do aluno quanto à participação nessas ações, enquanto o grupo de expectativas trazia questões como, por exemplo, espero me tornar alguém diferente ao término do curso. A análise comparativa deste bloco, relativamente aos níveis de expectativa 97 dos ingressantes e satisfação dos concluintes, apresenta uma queda de 0,5 ponto entre os grupos (Gráfico 15), o que indica maior nível de expectativa entre os ingressantes do que o nível de satisfação dos concluintes. Inicialmente, poder-se-ia dizer que este é um indício de frustração das expectativas dos formandos, porém, um maior aprofundamento nas questões levantadas auxiliará na identificação do que se passa entre o momento do ingresso no meio universitário e a conclusão do curso. Pode-se dizer que os alunos recém-matriculados possuem alto nível de expectativas, com 7,3 numa escala de 10 pontos. Os alunos buscam, no curso universitário, condições para o seu desenvolvimento profissional e veem nele uma forma de investir na sua formação. As questões que apontam para estas afirmações tiveram, ambas, nota 7,7, a maior dentre as questões apresentadas. Nota média de Expectativa: 7.3 Nota média de CONCLUINTES INGRESSANTES Satisfação: 6.8 Tenho Grandes expectativas quanto à vida universitária Possuo expectativas em relação ao curso, embora não saiba ou consiga nomeá‐las Minhas expectativas em relação à vida universitária foram atendidas ao longo de meu curso Espero me tornar alguém diferente ao término do curso Quando entrei na universidad e eu possuía expectativas em relação ao curso, embora não sabia nomeá‐las A vivência universitária me tornou alguém diferente A vida universitária me apresentará uma cultura e modo de vida que atende às minhas expectativas existenciais A cultura e o modo de vida apresenta‐ dos no curso atenderam as minhas expectativas existenciais A vida universitária será intensa e vibrante, marcada por opostos, com muito estudo aliado a muita diversão A vida universitária tem sido intensa e vibrante, marcada por opostos, com muito estudo aliado a muita diversão A vida universitária será tranquila e harmoniosa, pautada pelo estudo e formação profissional A vida universitária tem sido tranquila e harmoniosa, pautada pelo estudo e formação profissional A direção do curso deve contribuir para o bom relacioname nto entre professor‐ aluno, aluno‐aluno e aluno‐ direção A direção do curso contribui para o bom relacioname nto entre professor‐ aluno, aluno‐aluno e aluno‐ direção É importante um bom atendiment o e clareza das informações oferecidas prontament e pelos funcionários da i Considero bom o atendiment o dos funcionários da secretaria, com informações claras e pronto‐ atendiment o Busco neste curso condições para o meu desenvolvi‐ mento profissional Encontrei neste curso condições para o meu desenvolvi‐ mento profissional Penso na formação universitária como uma forma de investir financeira‐ mente em meu futuro Avalio positivamen te a formação universitária como forma de investir financeiram ente em meu futuro Gráfico 15 – Nível de expectativa e satisfação por questão apresentada no questionário Este curso aparenta ter ótimo conteúdo e disciplinas relevantes Este curso possui ótimo conteúdo e disciplinas relevantes Ao fim do curso estarei preparado/a para oferecer meus conhecimen ‐tos à disposição de outros Sinto‐me preparado/a para oferecer meus conhecimen ‐to à disposição de outros Estou certo(a) de ter escolhido o melhor curso possível para a minha formação Estou certo(a) de ter escolhido o melhor curso possível para a minha formação 99 Quanto às questões com os menores níveis de expectativa entre ingressantes, não há consenso sobre o fato de que a vida universitária deve ou não ser intensa e vibrante, pautada no estudo e diversão ou se deve ser tranquila e harmoniosa, pautada no estudo e formação profissional, uma vez que não há concentração de alunos apontando um perfil único. A menor nota apresentada entre os ingressantes está na afirmação possuo expectativas em relação ao curso, embora não saiba ou não consiga nomeá-las, e, de maneira contrária, uma das maiores notas para o mesmo grupo surgiu da asserção tenho grandes expectativas quanto à vida universitária. Embora não seja possível afirmar que possuam as mesmas expectativas sobre o curso e vida universitária, os alunos acreditam na possibilidade de nomear suas expectativas, o que pode ser considerado um indicador positivo para estudos que pretendam nomear as expectativas dos ingressantes. Quanto aos concluintes, houve queda no nível médio de satisfação (6,8) em comparação com a expectativa média dos ingressantes (7,3). Houve também queda de 1 ponto no quesito minhas expectativas em relação à vida universitária foram atendidas ao longo do curso, cuja questão equivalente, para os ingressantes, referese a possuo grandes expectativas quanto à vida universitária. Analisando as demais questões, as principais quedas no nível de satisfação ocorreram naquelas que apontam o contato entre alunos e direção do curso, bem como o atendimento da secretaria, com queda de 1,0 e 1,4 pontos, respectivamente. Entre os concluintes, não há consenso quanto à consideração de que a vida tem sido intensa ou harmoniosa. Esta falta de consenso indica que não há expectativa única entre os ingressantes, tampouco dos concluintes, apontando para interpretações únicas de cada aluno sobre como deve ser e como tem sido a vida universitária. As demais afirmações mostram que os concluintes avaliam muito bem o curso e a universidade em relação às mudanças ocorridas em sua vida, alcançando e, por vezes, ultrapassando o nível médio de expectativa dos ingressantes. Os alunos reconhecem o fato de terem se tornado pessoas diferentes por conta da vivência universitária em um nível que equivale às expectativas dos ingressantes, por terem encontrado no curso universitário condições para o seu 100 desenvolvimento pessoal. Eles também avaliam positivamente a formação universitária, encarando-a como forma de investir em seu futuro, confirmando a análise em relação à melhoria salarial e profissional alcançado pelos alunos concluintes. Houve indicação por parte dos alunos de que se sentem preparados para oferecerem seus conhecimentos aos demais e afirmam estarem certos de terem escolhido o melhor curso para a sua formação. Portanto, as questões que apresentam o maior nível de expectativa entre os ingressantes e de satisfação entre os concluintes são aquelas relacionadas ao futuro profissional e à visão do curso como forma de investimento financeiro. Esta observação comprova o que se apontou no capítulo anterior, de que embora seja alto o percentual de ingressantes já com alguma atividade profissional quando da matrícula (79%), até o final do curso este percentual sobe para quase a totalidade dos alunos (94%), assim como a renda per capita dos concluintes em relação aos ingressantes. São indicadores de que ao menos as expectativas profissionais e financeiras são atendidas. Tem-se, pois, uma primeira leitura, centrada apenas nas questões do bloco de expectativa e vivência universitária. O conjunto dos resultados apresentados pelos demais blocos auxiliarão numa leitura mais aprofundada sobre o que os alunos participantes desta pesquisa apresentaram quanto aos níveis de expectativa e satisfação em relação à vida universitária. 3.1 Adaptação ao curso Ao serem analisadas as questões sobre a adaptação ao curso (Gráfico 16) é possível verificar que o nível de expectativa dos ingressantes permanece elevado (7,2), com maior destaque para as expectativas de que a universidade deve preparar o aluno para a vida e funções que exercerá após a sua formação (7,7), e um bom curso deve ter articulação entre as disciplinas (7,6), além do nível de curiosidade sobre as disciplinas a serem frequentadas (7,5). Nota média de Expectativa: 7.2 CONCLUINTES INGRESSANTES Nota média de Satisfação: 6.7 As matérias do curso parecem ser interes‐ santes e relevantes O conteúdo das matérias das disciplinas aparentam ter ligação entre teoria e prática da futura profissão Um bom curso deve ter boa articulação entre as disciplinas Sinto‐me empolgado (a) com o curso Estou curioso(a) com as disciplinas que frequentarei As matérias apresenta‐ das desde o início do curso são relevantes e interessan‐ tes Por meio do conteúdo das disciplinas, o curso possui boa ligação entre teoria e prática O curso possui disciplinas bem articuladas Em relação ao curso, sinto‐me tão empolgado quanto nos primeiros semestres Estou satisfeito/a com as disciplinas que frequentei desde o início do curso O ambiente do meu curso (dinâmica, matérias, professores, etc.) aparenta ser bem Meu curso possui um ambiente (dinâmica, matérias, professores, etc.) bem estimulante Caso não me adapte, pretendo mudar de curso Se pudesse voltar no tempo, me matricularia em outro curso A universidade possuirá um papel importante em minha transição da juventude para a vida adulta A universidade teve um papel importante em minha transição da juventude para a vida adulta Olhando para trás, consigo identificar as razões que me levaram a escolher este curso Olhando para trás, consigo identificar as razões que me levaram a escolher este curso O aluno e a universidade Gráfico 16 – Adaptação ao curso: nível de expectativa e satisfação Escolhi bem Estou no o curso que curso com frequento que sempre sonhei Escolhi bem Estou no o curso que curso com frequento que sempre sonhei Plano de vida A universidade deve preparar o aluno para a vida e funções que exercerá após a sua formação Sinto‐me preparado/a para as funções que exercerei após a minha formação 102 Um ponto que chamou a atenção foi o fato de que, embora os ingressantes se apresentem empolgados em relação ao curso (7,4) e afirmam terem escolhido o curso frequentado (7,4), há também número razoável de alunos que não está frequentando o curso de seus sonhos (6,0) e pretendem mudar, caso não se adaptem (6,6). Quanto ao índice de satisfação, este bloco de questões apresenta tendência de queda em comparação à expectativa do aluno. Porém, analisada isoladamente cada questão, vê-se que o maior índice de adaptação ao curso dá-se na avaliação positiva das matérias (7,2), no fato de que os concluintes ainda têm claras as razões que os levaram a escolher o curso (7,2), bem como o reconhecimento de terem feito uma boa escolha (7,2). No que tange aos ingressantes, há um considerável aumento no número de alunos que se pudessem voltar no tempo ainda assim não se matriculariam em outro curso (6.0). Esta é a questão com maior diferença em comparação com o resultado apresentado para os concluintes, que discordam da possibilidade de matrícula em outro curso, mesmo sob a circunstância de volta no tempo (7,1). Este resultado pode ser relacionado ao fato de que, ao término do curso, já tenha ocorrido a evasão dos alunos que, entre outros motivos, não estiveram satisfeitos com a escolha, provocando maior número de alunos satisfeitos no término do curso. Quanto às demais questões que também apresentaram diferenças entre resultados de ingressantes e concluintes, destacam-se: o nível de empolgação em relação ao curso comparando-se os primeiros semestres, cujo resultado dos concluintes foi de 5,8 e o de expectativa dos ingressantes foi de 7,4; o nível de satisfação em relação às disciplinas frequentadas, 6,4, contra expectativas dos ingressantes de 7,5; a opinião sobre o quão estimulante é o curso, com 6,3 para satisfação e 7,2 para expectativas; a opinião sobre o quão articuladas são as disciplinas e a ligação entre a teoria e prática profissional, com 6,9 em satisfação e 7,6 para expectativas. Outra diferença que se destaca entre o nível de expectativa dos ingressantes e o de satisfação dos concluintes é a afirmação de estar matriculado no curso dos sonhos. O primeiro grupo apresenta nota de 6,6 e o segundo apresenta menor 103 resultado, caindo para 6,0 pontos, indicando menor número de concluintes que concordam com esta afirmação. O fato de apresentar queda no nível de satisfação não indica, necessariamente, insucesso da instituição e do curso na formação do aluno, uma vez que o preenchimento de uma avaliação não é uma ação isenta e “não há neutralidade nos caminhos utilizados em uma atividade avaliativa”, que se “avalia para afirmar valores, ou seja, induzir mudanças em uma dada direção” (SOUZA; LOPES, 2010, p. 54). Todavia, este trabalho faz perceber a linha tênue existente entre o nível de expectativa dos ingressantes – que possivelmente não seja atendida na sua totalidade, mas que não se constitui avaliação negativa – e o nível de satisfação dos concluintes, mais baixo do que a expectativa dos recém matriculados, o que pode ser encarado como ajuste e não, necessariamente, um insucesso da instituição e do curso na opinião dos alunos. Partindo da hipótese de que os alunos entram com grandes expectativas quanto à vida universitária e de que não há grande variação de satisfação entre calouros e formandos, convém comparar os resultados obtidos no bloco adaptação ao curso com três grupos distintos de alunos: os matriculados em seu primeiro curso universitário, aqueles já matriculados em outro curso, porém sem concluí-lo e alunos que já possuem outro diploma de educação superior (Gráfico 17). Gráfico 17 – Adaptação ao curso – comparação da expectativa dos ingressantes matriculados no primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem o nível superior em outro(s) curso(s) 105 Entre os ingressantes matriculados no primeiro curso, há maior expectativa em relação às matérias que serão ministradas e ao papel da universidade, tanto no que diz respeito à transição da juventude para a vida adulta quanto na preparação dos alunos para as funções que serão exercidas após a formação. Já entre os alunos que conhecem o ambiente universitário, embora não tenham concluído o curso iniciado, o nível de expectativa é o mais baixo dos três grupos, com maior propensão à mudança de rumo (5,6). Este é, também, o grupo que, com maior incidência, afirma não frequentar o curso dos sonhos, ainda assim, esperam que a universidade prepare os alunos para a as funções a serem exercidas no futuro. Os ingressantes que já possuem formação em nível superior apresentam menor grau de expectativa em alguns pontos, talvez por já conhecerem a vida universitária, porém, a grande maioria tem mais expectativas, talvez pela consciência do que espera encontrar ao longo do curso. A análise do Gráfico 18 faz ver, com valor significativo, o resultado obtido entre os alunos que já possuem a formação em outro curso, destacando a “calibração” de expectativas, que traz alto nível de expectativa dos ingressantes que, ao longo do curso, será alcançada em parte, mas que talvez em alguns pontos não deverão, necessariamente, ser atendidos pelo fato de o aluno não conhecer ainda o ambiente acadêmico, ou por estar passando por uma época de mudanças, de modo que ao longo do curso parte destas expectativas poderão não fazer mais sentido. Primeiro curso universitário Por meio do O curso apresentadas As matérias conteúdo das possui ao curso, satisfeito(a) desde o início disciplinas, o disciplinas sinto-me tão com as do curso são curso possui bem empolgado disciplinas relevantes e boa ligação articuladas quanto nos que interessantes. entre teoria e primeiros frequentei prática semestres. desde o início fi i l Em relação Estou Se pudesse A universidade Olhando para Escolhi bem possui um voltar no teve um papel trás, consigo o curso que curso com preparado ambiente tempo, me importante em identificar as frequento. que sempre para a vida e (dinâmica, matricularia sonhei. funções que Meu curso matérias, professores, etc.) bem estimulante. em outro curso. minha transição da juventude para a vida adulta razões que Estou no Sinto-me me levaram a exercerei escolher este após a minha curso. formação do curso. Gráfico 18 – Adaptação ao curso – comparação do nível de satisfação dos concluintes do primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem nível superior em outro(s) curso(s) 107 Neste grupo de alunos, encontra-se o maior nível de satisfação (10,0) para a empolgação com e por terem feito boa escolha quanto ao curso. Outro resultado relevante é o fato de 100% deles não se arrependerem da decisão. Por outro lado, entre as principais quedas há menor reconhecimento quanto à identificação das razões que os levaram a escolher o curso (6,3), e a avaliação sobre o quão estimulante é o ambiente do curso (6,2), que, inclusive, é a mesma entre os três grupos. Em relação aos demais, têm-se, novamente, os alunos que já se matricularam em outro curso, porém sem concluí-lo, com menores níveis de satisfação, porém com resultados mais próximos aos dos alunos matriculados em seu primeiro curso. Os alunos matriculados em seu primeiro curso universitário, numa comparação com o resultado geral dos ingressantes, apresenta maior nível de expectativa do que satisfação em relação ao papel da universidade na transição da juventude para a vida adulta e preparação para as funções que exercerão após a formação. Podemos dizer que isso aponta para um cenário em que os alunos chegam ao final do curso sem observar mudanças em relação ao esperado, além de menor satisfação geral, apresentarem menor índice de alunos afirmando frequentar o curso que sempre sonhou (5,9). Estes três grupos, analisados isoladamente no que tange às afirmações sobre a adaptação ao curso (Gráfico 19), possibilitam identificar maior expectativa e menor satisfação dos alunos matriculados em seu primeiro curso universitário, um mesmo nível de expectativa e satisfação entre os alunos já matriculados porém sem a conclusão de outro(s) curso(s) universitário(s), e um nível mais elevado de expectativas, porém é ainda maior a satisfação dos alunos que já possuem outro diploma de curso superior. 108 Gráfico 19 – Adaptação ao curso – comparação da expectativa e satisfação dos ingressantes matriculados em seu primeiro curso universitário, daqueles já matriculados em outro curso, porém sem conclusão, e concluintes que já possuem nível superior em outro(s) curso(s) Ocorre, pois, a adaptação ao curso com um único alinhamento entre as expectativas daqueles que têm o primeiro contato com a vida universitária, apresentando um nível de satisfação inferior ao de expectativa, porém entre os demais grupos este alinhamento não interfere a ponto de provocar uma satisfação inferior às expectativas. 3.2 Base de conhecimento para o curso No bloco com afirmações sobre bases de conhecimento para o curso (Gráfico 20) nota-se mínima a diferença entre expectativa (7,0) e satisfação (6,8). Quanto à vida universitária e relacionamento com a instituição, os ingressantes iniciam o curso com a impressão de que será difícil a transição do ensino médio para a universidade, pois boa parte não se sente preparada em termos de conhecimentos escolares para o sucesso no curso (5,8), de modo que receiam pela falta de preparo para enfrentar as dificuldades surgidas nessa etapa, embora afirmem o contrário. Nota média de Expectativa: 7.0 Nota média de CONCLUINTES INGRESSANTES Satisfação: 6.8 Sinto que será fácil a transição do Sinto‐me preparado/a para as Sinto que o ensino médio me trouxe Busco neste curso conhecimento e Ensino Médio para a Universidade em exigências do meu curso conhecimentos escolares necessários experiências que contribuam para para o sucesso no curso melhorar a minha vida e a dos outros termos Foi fácil a transição do Ensino Médio As exigências apresentadas ao longo do O ensino médio me proporcionou O curso trouxe conhecimento e para a Universidade em termos de curso estiveram de acordo com a minha conhecimentos escolares necessários experiências que podem contribuir para conhecimentos nas disciplinas preparação para o sucesso no curso melhorar a minha vida e a dos outros O aluno e a universidade Gráfico 20 – Base de conhecimento para o curso: nível de expectativa e satisfação Plano de vida 110 Ao serem comparados os resultados da pesquisa, verifica-se uma melhora quanto à opinião dos alunos em relação à dificuldade de transição do ensino médio para a universidade (6,7) e o quanto o ensino médio lhes proporcionou em termos de conhecimento escolar necessário para o sucesso no curso (6,3). É importante pontuar essa melhora na avaliação por parte dos alunos, porém considerando-se as notas 6,7 e 6,3 de um total de 10, fica claro que na percepção dos alunos há certa dificuldade na transição do ensino médio para o superior no que se refere a conhecimentos básicos para o acompanhamento adequado às disciplinas do curso. Alto, também, foi o número de ingressantes afirmando buscar em seu curso conhecimento e experiências que possam contribuir para melhorar sua vida e a dos outros (8,3), cujo resultado, embora tenha uma ligeira queda, permanece alto entre os concluintes, pois quase a totalidade afirma que o seu curso trouxe conhecimento e experiências capazes de contribuir para a sua vida e dos outros (8,0). Há reconhecimento por parte do aluno em relação à bagagem do ensino médio trazida para a universidade, o que poderá conflitar no momento da análise da questão da qualidade do ensino frente à preparação dos alunos, refletindo diretamente em sua formação. Surge aqui um desafio para a universidade quanto à forma de trabalhar a questão da base de conhecimento e o conhecimento específico da formação superior, num ajuste de ambos, de modo que os alunos consigam acompanhar o ritmo ao mesmo tempo em que sejam desafiados a se desenvolverem. Em artigo sobre os indicadores da qualidade do curso de Ciências Contábeis, Nascimento e Souza (2005), após avaliarem a nota do exame de suficiência de alunos do curso, no Estado do Paraná, os autores apresentaram o questionamento aos coordenadores das instituições pesquisadas sobre os fatores que mais contribuíam para o desempenho dos alunos em sua pesquisa. Como resultado, 87% dos coordenadores de curso citam o despreparo do aluno para o curso superior. Embora o artigo cite a opinião de coordenadores de um curso e região específicos, os autores apontam que, para eles – coordenadores – “o despreparo do 111 aluno para o curso superior é o problema que mais afeta a qualidade desses cursos [portanto, natural que] os cursos busquem amenizar isso com ações que propiciem que o aluno supere suas dificuldades” (NASCIMENTO; SOUZA, 2005, p. 13). Este ponto vem à tona por se acreditar que, na abordagem dos perfis dos alunos das universidades privadas, seja relevante considerar a base que este aluno possui ao entrar na vida universitária para a caracterização desse perfil. Seja ele ingressante ou concluinte, matriculado em campi diversos de uma mesma instituição ou em diversas instituições. Isto, porém, não deve definir se as origens dos estudantes os tornam melhores ou piores em comparação com outros estudantes ou instituições, uma vez que tão importante como as bases de conhecimento para o curso é a maneira como ocorrerá a formação ao longo da etapa universitária. 3.3 Desenvolvimento da carreira Os jovens trabalhadores enfrentarão ao longo da vida universitária – e depois de formados – uma realidade em que “rápidas transformações econômicas e tecnológicas se refletem no mercado de trabalho precarizando relações, provocando mutações, modificando especializações e sepultando carreiras profissionais” (MADEIRA, 2006, p. 4). Para Sampaio e Cardoso (2003), o trabalho do estudante, já não pode ser apreendido enquanto atividade na contramão durante o período de formação superior. [Ainda, segundo as autoras, o trabalho para o universitário tem] um sentido muito mais amplo que os determinantes de ordem financeira que atuam para a sua entrada no mercado de trabalho. [...] já não são atividades excludentes; ao contrário, o estudante que trabalha é uma realidade cada vez mais presente nas instituições de ensino superior no Brasil. A explicação para o trabalho do estudante não pode limitar-se, portanto, aos condicionantes socioeconômicos, mesmo porque a grande maioria do público universitário continua sendo recrutado na classe média (SAMPAIO; CARDOSO, 2003, p. 23). Nota média de Satisfação: 7.7 CONCLUINTES INGRESSANTES Nota média de Expectativa: 7.5 Acredito que posso concretizar os meus sonhos dentro da carreira que escolhi Considero que escolhi a melhor área profissional para mim Acredito que posso concretizar os meus sonhos dentro da carreira que escolhi Considero que escolhi a melhor área profissional para mim Os meus objetivos e metas estão bem definidos Os meus objetivos e metas estão bem definidos Possuo grandes expectativa s quanto ao percurso de minha carreira O percurso de minha carreira até os dias atuais correspond e às minhas expecta‐ tivas Este curso me permitirá a realização profissional Este curso tem facilitado a minha realização profissional Tenho potencial para a carreira que escolhi Tenho boas competên ‐cias para a carreira que escolhi Tenho uma ideia clara do que farei profissional mente após o término do curso Tenho uma ideia clara do que farei profissional mente após o término do curso Escolhi o Consigo justificar curso que me parece porque escolhi este mais de acordo com curso superior as minhas aptidões e capacidades Consigo justificar porque escolhi este curso superior Escolhi o curso que me parece mais de acordo com as minhas aptidões e capacidades Sei como encontrar informaçõe s sobre os empregos em minha área Sei como encontrar informaçõe s sobre os empregos em minha área Plano de vida Gráfico 21 – Desenvolvimento de carreira: nível de expectativa e satisfação Receio que quando experimen‐ tar a carreira/pro fissão que escolhi, não seja bem sucedido(a) Receio que quando experimen‐ tar a carreira/ profissão que escolhi, não seja bem sucedido(a) Estou certo/a que o curso me trará boas oportunida‐ des profissio‐ nais O curso me possibilitou boas oportunida‐ des profissio‐ nais Espero até o fim do curso mudar de emprego, cargo e/ou salário A universidade me trará um conhecimento profundo sobre cultura geral e a carreira escolhida O curso me possibilitou evolução funcional (troca de emprego, cargo ou aumento de salário) A universida‐ de me trouxe um conheci‐ mento profundo sobre cultura geral e a carreira escolhida 113 Este bloco de questões possui o maior índice de expectativas apresentado pelos ingressantes (7,7). Possui, também, elevado índice de satisfação (7,5), ficando atrás somente do nível de satisfação apresentado no bloco de questões sobre relacionamento com os colegas (7,8). Há entre os ingressantes um índice considerável de alunos que acreditam na possibilidade de concretizar seus sonhos atuando na carreira escolhida (8,1), bem como os que acreditam em seu potencial para o desempenho na carreira escolhida (8,0) e, também, aqueles com grandes expectativas quanto ao desenvolvimento de sua atividade (8,0). Em geral permanece alto o nível de satisfação, com a maior avaliação dos formandos que, ao término do curso, permanecem com a crença de concretizar os seus sonhos com a carreira escolhida (8,3). As maiores quedas de satisfação em comparação com o nível de expectativa surgem nas questões que pedem a avaliação dos formandos em relação ao percurso de sua carreira e à colaboração do curso para o seu desenvolvimento profissional. Os formandos manifestam-se com índice de satisfação inferior ao de expectativa quanto ao percurso de sua carreira (7,0); com reconhecimento do papel do curso para a sua evolução funcional (7,4); possibilitando boas oportunidades (7,4); e a ponto de facilitar a sua realização profissional (7,4). Embora os resultados dos índices de satisfação obtidos para cada uma destas questões seja alto, é importante citar a diferença média de 5 pontos em comparação com o nível de expectativa dos ingressantes. Pelo cruzamento dos resultados destas questões com o tipo de evolução funcional apresentado pelos formandos, verifica-se que o nível de satisfação com o desenvolvimento de carreira está diretamente relacionado com o tipo de evolução funcional ocorrido durante o curso (Gráfico 22). Os maiores índices de satisfação aparecem entre os alunos que permaneceram na mesma empresa em que estavam no início do curso universitário, porém beneficiados com promoção de cargo e salário, exceto para a afirmação de que o curso possibilitou evolução funcional, que apresenta maior índice de satisfação entre os alunos que mudaram de empresa e ganham um salário superior. 114 Gráfico 22 – Impacto da movimentação salarial no nível de satisfação em relação ao desenvolvimento de carreira Os alunos que foram promovidos de cargo e salário na mesma empresa e os que ganham salário superior em outra empresa apresentaram uma nota média de 8,3, para a afirmação de que o curso possibilitou evolução funcional. Neste caso, os formandos que tiveram evolução salarial não atrelam a mudança unicamente ao curso universitário, caso contrário o nível de concordância apontaria para um total de 10 pontos. Entre os ingressantes, há receio de não serem bem-sucedidos ao experimentarem a carreira/profissão escolhidas (6,5), receio que aparentemente ocorre em menor escala entre os formandos que apresentam maior nível de discordância quanto a esta afirmação (7,7). Com isto, pela avaliação dos alunos, curso e universidade cumprem bem o papel esperado quanto ao desenvolvimento da carreira, ainda que em alguns momentos fique a impressão de que o nível de expectativa seja alto demais para conseguir ser atingido. 3.4 Realização de exames Este bloco de questões possui poucos dados para aprofundamento da discussão, embora possua grande relevância e colabore diretamente com a análise do perfil dos alunos. Nota média de Satisfação: 6.7 CONCLUINTES INGRESSANTES Nota média de Expectativa: 6.0 Me manterei calmo/a nas situações de avaliação durante o curso Em geral, consigo bom aproveitamento nos exames. Tenho notas acima da média Os meus pensamentos tornam‐se confusos quando apresento um trabalho Acho‐me mais inseguro/a que meus colegas nas avaliações acadêmicas Na preparação para um teste penso várias vezes em desistir porque acho que não serei capaz Apesar de me sentir preparado/a, fico ansioso/a nas vésperas de um teste/exame Mantenho‐me calmo/a nas Em geral, consigo bom situações de avaliação ao aproveitamento nos longo do curso exames. Tenho notas acima da média Os meus pensamentos tornam‐se confusos quando apresento um trabalho Acho‐me mais inseguro/a Na preparação para um teste penso várias vezes em desistir porque acho que não serei capaz Apesar de me sentir preparado/a fico ansioso/a nas vésperas de um teste/exame que os meus colegas nas avaliações acadêmicas O aluno e a universidade Gráfico 23 – Realização de exames: nível de expectativa e satisfação 116 Assim como no bloco de questões sobre bases de conhecimento para o curso, as questões sobre a realização de exames (Gráfico 23) possuem as menores notas tanto de expectativa dos ingressantes quanto de satisfação dos concluintes. É importante destacar que o ingressante, por não ter ideia clara do que encontrará ao desconhecimento longo do do leque curso de universitário, atividades aponta resultados extracurriculares como existentes o na universidade, demonstra maior ansiedade em relação a exames e insegurança quanto à sua performance nas avaliações. Ao longo do curso, os alunos passam a conhecer melhor o ritmo da vida universitária e esses receios tendem a diminuir, o que se observa ao serem comparadas as notas dos ingressantes com os valores obtidos pelos os concluintes. 3.5 Envolvimento em atividades extracurriculares De modo diferente do que ocorre com as questões sobre realização de exames, com maiores notas obtidas pelos formandos, estes alunos reconhecem o seu melhor desempenho e menor insegurança em relação à sua atuação nos exames ao longo do curso. Vê-se, então, que nas questões sobre participação em atividades extracurriculares ocorre o inverso. O índice de satisfação é menor do que o de expectativa, que já era baixo (Gráfico 24). Nota média de Expectativa: 5.9 CON‐ CLUIN‐ TES INGRES‐ SANTES Nota média de Satisfação: 5.1 Pretendo participar de diretórios acadêmicos e/ou iniciativas do meio estudantil Conheço o leque de atividades extracurriculares que existem na minha universidade Durante o curso participei de diretórios acadêmicos e/ou iniciativas do meio estudantil Conheço o leque de atividades extracurriculares que existem na minha universidade O aluno e a universidade Gráfico 24 – Envolvimento em atividades extracurriculares: nível de expectativa e satisfação 118 Ocorre que, embora 59% dos ingressantes demonstrem interesse em participar de diretórios acadêmicos e/ou iniciativas do meio estudantil, somente 10% dos concluintes afirmam ter participado dessas atividades ao longo do curso universitário. É, pois, predominante, no grupo pesquisado, a presença de alunos trabalhadores que somam à carga horária escolar uma a duas horas consumidas em trânsito, além de uma jornada de trabalho de oito – ou mais – horas diárias, o que torna mais difícil o engajamento dos alunos ao longo do curso em atividades acadêmicas e/ou diretórios acadêmicos. Isoladamente, foram analisados os resultados de ingressantes e concluintes, por idade e atividade profissional, para avaliar se existe um perfil de alunos mais propenso à participação em atividades extracurriculares. A conclusão a que se chegou é de que ao menos entre estes dois indicadores não há correlação direta quanto à idade ou ao fato de estarem, ou não, empregados, como fatores que afetam a participação dos alunos em atividades extracurriculares. 3.6 Métodos de estudo Em geral, identifica-se elevado índice de expectativa e satisfação no bloco de afirmações sobre métodos de estudo (Gráfico 25). Nota média de Expectativa: 7.1 CONCLUINTES INGRESSANTES Nota média de Satisfação: 7.0 Tenho facilidade em redigir os meus relatórios e trabalhos O curso universitário deve ajudar o aluno a melhorar a sua forma de estudar A cultura universitária deve ser voltada para a realidade do meu dia‐a‐dia (além‐ livros) Quando necessário, sei onde buscar bibliografia e textos de apoio relevantes Serei um usuário frequente da Biblioteca da Universidade Tenho facilidade em redigir os meus relatórios e trabalhos Este curso me ajudou a melhorar a forma como estudo No curso me deparei com uma cultura universitária voltada para a realidade do meu dia‐a‐dia (além livros) Quando necessário, sei onde buscar bibliografia e textos de apoio relevantes Utilizo frequentemente a Biblioteca da Universidade A rotina diária poderá me atrapalhar a manter o trabalho escolar em dia Ao longo do curso, a rotina diária me atrapalhou a manter o trabalho escolar em dia O aluno e a universidade Gráfico 25 – Métodos de estudo: nível de expectativa e satisfação A cultura apresentada na universidade está alinhada com o que considero importante para a minha vida A cultura apresentada na universidade está alinhada com o que considero importante para a minha vida A universidade terá um papel importante na conexão entre meus sonhos e a ação necessária para realizá‐los A universidade teve um papel importante na conexão entre meus sonhos e a ação necessária para realizá‐los Plano de vida 120 Os resultados obtidos pelas respostas dos ingressantes apontam maior destaque para a expectativa sobre o papel da universidade na relação entre seus sonhos e a ação para realizá-los (7,9). Em seguida, nota-se a alta expectativa do aluno quanto à ajuda do curso universitário para melhorar sua forma de estudar (7,7); à cultura universitária voltada para a realidade dos alunos (7,6); e ao alinhamento dessa cultura com o que os alunos consideram importante para as suas vidas (7,3). Na análise destes quatro itens, percebe-se que os resultados apresentados pelos formandos indicam nível de satisfação abaixo do nível de expectativa. Porém, a avaliação da diferença entre ingressantes e concluintes mostra que os últimos possuem maior facilidade de redigir seus relatórios e trabalhos (7,7) em relação aos ingressantes (6,9). Também é maior o índice de formandos que afirmam saber buscar bibliografia e textos de apoio relevantes (7,6). Embora os formandos apresentem menor nível de satisfação em relação ao auxílio da universidade para melhorar a forma de estudar (7.3), ao menos em relação às formas de redação dos trabalhos e à busca de bibliografia e textos relevantes, os formandos apresentam maior nível de satisfação (7.7 e 7.6). É maior também o número de concluintes que afirmam utilizar frequentemente a biblioteca da universidade (7.0). A resposta com o menor nota, tanto de expectativa quanto de satisfação, foi para a afirmação a rotina diária poderá me atrapalhar – ou durante o curso me atrapalhou – a manter o trabalho em dia. Os ingressantes acreditam que sua rotina diária os atrapalha de alguma forma (5.6), já os concluintes afirmam que, de fato, este foi um problema ao longo de sua vida universitária (5.3). Identifica-se também queda no nível de satisfação em relação à cultura universitária voltada para a realidade dos alunos. Apesar de os ingressantes concordarem com a afirmação de que a cultura universitária deve ser voltada para a realidade do seu dia a dia (7.6), depois de analisada a extensa variedade de perfis, supõe-se previsível uma queda no nível de satisfação, uma vez que dificilmente a realidade de cada aluno será espelhada na vida universitária. Neste bloco de questões, sobre métodos de estudos, foram incluídas duas 121 questões relacionadas ao plano de vida dos alunos. A afirmação de que a universidade teria – ou teve –, no caso dos formandos, um papel importante na conexão entre seus sonhos e a ação para realizá-los apresentou o maior índice de expectativa entre os ingressantes (7,9) e a maior queda quando comparada com o nível de satisfação dos formandos (7,0). Cruzando estes dados com o quadro de evolução funcional dos concluintes, constata-se que o nível de satisfação sobre o papel da universidade na conexão dos sonhos com a ação necessária para realizá-los está diretamente ligado à evolução funcional (Gráfico 26). O gráfico a seguir apresenta os maiores níveis de satisfação entre os formandos que mudaram de empresa (7,5) e aqueles promovidos na mesma empresa onde trabalhavam ao ingressar no curso (7,4) e os menores níveis, abaixo dos níveis médios de expectativa (7.1) e de satisfação (6.9), para os alunos que não tiveram mobilidade profissional (6.5) ou que permanecem na mesma empresa desde o início do curso, em um cargo novo, porém com o mesmo salário. Nota média de Satisfação: 7.0 Gráfico 26 – Nível de satisfação sobre o papel da universidade na relação entre sonhos e ação para realizá-los e o quadro de evolução funcional de alunos concluintes Tendo em vista que a evolução funcional está diretamente relacionada com o 122 nível de satisfação, o maior nível de satisfação entre os alunos que evoluíram funcionalmente é inferior a um total de 10 pontos, nota máxima de avaliação no questionário – instrumento de pesquisa. Sendo assim, há indícios de que, embora a evolução funcional seja algo relevante e diretamente relacionado com o nível de satisfação ao longo dos anos, a evolução funcional não é o único motivo ao qual os alunos atribuem sua satisfação com a vida universitária, trazendo uma importante informação que remete, ao menos no que diz respeito às expectativas e satisfação do aluno, além da questão sobre o preparo do aluno – pela universidade – para o mercado de trabalho. 3.7 Relacionamento com os colegas Este bloco de afirmações (Gráfico 27) apresenta altos níveis tanto de expectativa (7,4) quanto de satisfação (7,8), possibilitando a leitura de uma avaliação positiva por parte dos alunos no quesito relacionamento com os colegas ao longo da vida universitária. A única questão com menor avaliação, tanto em expectativas quanto em satisfação, reforça o que se apontou ao longo do trabalho sobre a gestão do tempo. Embora grande parte dos alunos pretenda a conviver com os colegas fora dos horários da aula (89%), a, há como dizer que os alunos possuem maior consciência de que este convívio poderá ser limitado devido ao tempo disponível para usufruir da vida universitária. Nota média de Satisfação: 7.8 CONCLUIN‐ TES INGRES‐ SANTES Nota média de Expectativa: 7.4 Acredito que terei um bom relacionamento com os colegas de minha turma Espero fazer bons amigos na universidade Pretendo conviver com os meus colegas fora do horário de aula Tenho um bom relacionamento com os colegas de minha turma Considero ter feito bons amigos na universidade Me encontro com os colegas da universidade fora do horário de aula O aluno e a universidade Gráfico 27 – Relacionamento com os colegas: níveis de expectativa e satisfação 124 Um ponto interessante é que a avaliação positiva de satisfação sobre o relacionamento entre os colegas ocorre em todas as faixas etárias (Gráfico 28), com especial destaque para os alunos acima de 35 anos. Estes, embora apresentem menor expectativa no relacionamento com os colegas, têm os maiores níveis de satisfação, exceto para a afirmação sobre conseguir se encontrar com os colegas da universidade fora do horário das aulas. Gráfico 28 – Relacionamento com os colegas: níveis de expectativa e satisfação por faixa etária 3.8 Relacionamento com os professores Em geral, ingressantes e concluintes não têm dificuldades em estabelecer contato com os professores (Gráfico 29). Ocorre a maior expectativa dos ingressantes de interação com os professores fora da sala de aula (6,9) e do apoio dos professores para a sua integração ao curso e à vida universitária (7,4), pontos que apresentam queda no nível de satisfação nos resultados trazidos pelos formandos. Nota média de Expectativa: 6.6 CONCLUINTES INGRESSANTES Nota média de Satisfação: 6.4 Sinto que não terei dificuldades em estabelecer contato com os professores Meus professores aparentam ter poucas qualidades pedagógicas Espero interagir com os professores fora das aulas Considero a ajuda dos professores em meus problemas pessoais Tenho problemas em apresentar dúvidas aos professores em sala de aula Possuo professores acessíveis, tenho um bom contato com eles Ao longo do curso tive muitos professores com poucas qualidades pedagógicas Interajo com os professores fora das aulas Considero a ajuda dos professores em meus problemas pessoais Tenho problemas em apresentar dúvidas aos professores em sala de aula Meus professores aparentem gostar de ensinar Meus professores gostam de ensinar A estrutura do Sinto‐me a curso deve dar vontade para oportunida‐des falar dos meus para uma interação mais problemas informal entre pessoais com alguns alunos e professores professores A estrutura do curso possibilitou oportunida‐ des para interagirmos informal‐ mente com os professores Os professores de meu curso aparentam ser excelentes Tenho Sinto‐me à vontade para professores excelentes falar dos meus problemas pessoais com alguns professores Conto com o apoio dos professores em minha integração Conto com a integração entre professores e alunos neste curso Senti apoio dos professores na minha integração ao curso O curso que frequento promove interação entre professores e alunos O aluno e a universidade Gráfico 29 – Relacionamento com os professores: nível de expectativa e satisfação Geralmente procuro os professores fora da sala de aula para tirar dúvidas Geralmente procuro os professores fora da sala de aula para tirar dúvidas 126 Os concluintes, ao longo do curso, reconhecem menor interação com os professores fora da aula (6,1), o que não interfere no fato de que, quando necessário, buscam os professores fora da sala de aula para tirarem dúvidas (6,2), que, aliás, é a maior superação em relação ao nível de expectativa, pois os formandos afirmam não ter problemas em apresentar dúvidas aos professores (7,2), que, em sua opinião, são acessíveis (7,2). Embora ingressantes e concluintes afirmem ter professores acessíveis e um bom contato com eles, com o passar do tempo, não buscam o professor fora das aulas. Como, de certa forma, isto faz reduzir a interação com os professores, ainda que não seja a maioria, cai consideravelmente o número de alunos que reconhecem a colaboração da estrutura do curso para a geração de possibilidades de maior interação entre professores e alunos. Percebe-se, pois, que é baixa a expectativa dos ingressantes em considerar a ajuda dos professores em seus problemas pessoais (5,1), e que não se sentem à vontade para falar deles com alguns professores (5,0). Vê-se que os alunos consideram menos a ajuda dos professores em seus problemas pessoais (4,8) do que os ingressantes. Eles, também, não se sentem à vontade para falar sobre si com alguns professores (4,8). Pode-se inferir que os alunos não buscam prioritariamente nos professores apoio para suas questões além de acadêmicas e profissionais. Outro ponto em destaque é o número de alunos que afirmam ter professores com poucas qualidades pedagógicas (6,4 e 6,5). Isto pode se dar em decorrência do apelo profissionalizante dos cursos e da contratação de professores atuantes no mercado de trabalho com visão sobre a prática, trazendo portanto, o alto reconhecimento por parte dos alunos de que possuem professores excelentes e que gostam de ensinar, porém pode faltar alguma complementação didático-pedagógica. 3.9 Expectativa e satisfação: variações entre os perfis identificados Considerando os resultados obtidos na comparação entre ingressantes e concluintes, percebe-se a distinção das respostas, dividindo-se em dois tipos de expectativas e satisfação. 127 Num primeiro grupo, surgem as questões relacionadas ao plano de vida dos alunos, no segundo, estão as questões que tratam da opinião sobre o que o aluno espera encontrar na universidade ao longo da vida universitária. Embora possa haver relação entre os dois tipos de expectativas, os resultados de um não interferem diretamente no outro, podendo ocorrer casos em que o nível mais baixo de satisfação quanto ao relacionamento aluno-instituição – como no atendimento dos funcionários da secretaria – não afete uma avaliação positiva por parte dos formandos em relação ao curso e à universidade por possuírem papel ativo no alcance de seus planos de vida. Isoladas as questões de ambos os grupos – plano de vida dos alunos e interação entre o aluno e a instituição – verifica-se que, tanto no caso dos ingressantes (Gráfico 30) quanto dos concluintes (Gráfico 31), as questões sobre o plano de vida possuem maior avaliação do que aquelas sobre a interação entre aluno e instituição. Gráfico 30 – Ingressantes: nível de expectativa por blocos de questões apresentadas no questionário 128 Entre as menores notas para os ingressantes, têm-se as questões sobre envolvimento em atividades extracurriculares (5,9), realização de exames e bases de conhecimento para o curso. Vê-se, mais à frente, cada grupo com detalhe, porém tratam-se de questões que mostram desconhecimento por parte dos ingressantes sobre como será a vida universitária, assim como insegurança quanto a estarem ou não prontos para vencerem os desafios que surgirão ao longo do curso. Quanto às respostas com maiores notas de expectativa dos ingressantes (Gráfico 30), destacam-se, nas questões relacionadas à interação do aluno com instituição e vida universitária, os blocos referentes à adaptação ao curso (7,4), desenvolvimento de carreira (7,5) e relacionamento com colegas (7,4). São alunos com curiosidade e empolgação quanto ao ambiente universitário, curso e matérias que serão ministradas, os quais pretendem participar de atividades extracurriculares como forma de desenvolvimento de carreira e possuem altas expectativas de conquistarem bons amigos na universidade. Destacam-se, entre as questões relacionadas com o plano de vida, as questões de bases de conhecimento para o curso (8,3), um alto percentual de alunos que esperam obter conhecimentos que contribuam para melhorar a sua própria vida e a dos outros. Todos os demais itens estão relacionados com as expectativas de formação profissional ou passagem de uma vida jovem para a adulta, no sentido de formação profissional e acadêmica. Quando comparadas as notas obtidas pelas respostas dos ingressantes e dos concluintes, é possível observar que o índice de satisfação dos concluintes (Gráfico 30) é menor do que o índice de expectativa dos ingressantes (Gráfico 31), exceto para as questões relacionadas com a base de conhecimento para o curso, realização de exames e relacionamento com os colegas. Isto aponta para o fato de que, embora os alunos recém-matriculados apresentem certo receio de que a bagagem trazida do ensino médio não seja o suficiente para sobreviver com sucesso ao curso universitário, entre os formandos há maior segurança quanto a esta bagagem, apresentando maiores notas quanto às afirmações de que foi fácil a transição do ensino médio para a universidade ou que o ensino médio proporcionou conhecimentos escolares necessários para o sucesso no curso superior. 129 Quanto ao relacionamento com os colegas, este se apresenta como um indicador de sucesso do curso e da universidade pesquisada. Trata-se de um dos grupos com maiores índices de expectativas entre os ingressantes (7,4), que chega a superar a nota quando avaliado o índice de satisfação dos concluintes (7,8). Em relação às questões sobre o plano de vida, permanece o cenário no qual os índices de satisfação do grupo são superiores aos identificados no grupo de questões sobre o aluno e a universidade. Vale destacar que, em comparação com os ingressantes, ocorre uma queda em todos os blocos que possuem afirmações sobre o plano de vida do aluno. Gráfico 31 – Concluintes: nível de satisfação por blocos de questões apresentadas no questionário Portanto, embora o formando conclua o seu curso satisfeito em relação a diversos aspectos relacionados ao plano de vida e com a expectativa superada em outros pontos, inclusive em relação ao relacionamento com a instituição, ao término do curso ocorre o que se descreve como “calibração” de expectativas. 130 4 ALEGORIA SISTÊMICA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR Imagine três motores distintos e independentes, cada qual responsável por gerar seu respectivo produto. Chamaremos estes motores como: sociedade; universidade; e mundo do trabalho. Os motores utilizam o mesmo tipo de combustível a que se pode denominar indivíduo, que, após absorvido por cada um dos motores, ganha novas formas, se tornando aluno, cidadão e/ou empregado. Embora cada motor gere o respectivo produto, há também uma troca, cuja ação diferencia a produção de cada um deles, pois essa troca enriquece o combustível e, consequentemente, o resultado do trabalho de cada motor. Portanto, a sociedade absorve alunos e trabalhadores para a produção de cidadãos. A universidade transforma trabalhadores e cidadãos em alunos e o mundo do trabalho recebe alunos e cidadãos em sua constante geração de trabalhadores. Figura 1 – Diagrama da alegoria sistêmica da educação superior Entre os três motores, surgem forças externas que interferem em cada um, zelando pelo funcionamento e troca entre eles, com o passar do tempo. Entre as 131 forças destaca-se a contemporaneidade, que traz um novo ritmo à sociedade, contemplando-a com novas formas de atuação no mercado de trabalho e formação escolar. Outras forças externas que passam a exigir novas dinâmicas de cada um dos motores são: a globalização; o consumo; a velocidade das informações. Acontece que cada motor possui sua velocidade própria e forma de funcionamento, tanto para a produção individual quanto para a troca com os demais motores. A sociedade, como reflexo das forças denominadas contemporaneidade e capitalismo, dita novos ritmos de produção e padrões para o mercado, em função da demanda por consumo e exigência de novos produtos e serviços que atendam às necessidades individuais e coletivas. Devido a fatores como a globalização, pode-se dizer que a velocidade de mudanças aumenta a cada instante, trazendo características líquidas e fluidas à sociedade, tornando-a flexível, porém com dificuldade em permanecer numa configuração final e imutável. Por consequência o mercado, ora atende a estas necessidades, ora dita novos padrões, pois a dinâmica capitalista por vezes dá poder a esse motor, a ponto de gerar produtos e serviços até então impensáveis, que, com o passar do tempo, tornam-se necessários para a sociedade. A universidade surge como gerador de conhecimento que, além de ser reelaborado e trabalhado em seu próprio universo, também é absorvido pelo mercado e pela sociedade, em consequência, o tipo de conhecimento absorvido pelos demais motores é aquele que atende às suas demandas. Deste modo, a universidade é considerada originalmente uma das principais fontes de elaboração de conhecimento para a sociedade e para o mercado, cujo papel pode ser considerado auxiliar os alunos na busca da “unificação de si mesmos ao que eles aspiram”, segundo Snyders (1995); formar pensamento superior – composto pelo saber tecnológico e o saber estético – para a busca por possibilitar um mundo melhor e mais belo, de acordo com Buarque (1994), ou levantar o tônus intelectual da sociedade, conforme observa Teixeira (1989). Quanto ao processamento do combustível indivíduo em cada um desses motores, não é sempre que atua ao mesmo tempo no âmbito da sociedade, do 132 mercado e da universidade. Quando isso ocorre, surgem, ao mesmo tempo, as figuras de cidadãos, trabalhadores e alunos, no caso, universitários. Cada um dos papéis que o indivíduo assume em determinado motor exigirá esforços e mudanças em sua estrutura. A partir do momento em que ele atua concomitantemente em mais de um motor, as mudanças em sua estrutura poderão concorrer entre si, exigindo do indivíduo decisões sobre o nível de profundidade de seu processamento. Quando o indivíduo ingressa na universidade, entra em cena a vida universitária, espiral que parte do indivíduo e perpassa por todos os motores e papéis exercidos simultaneamente. Uma das principais funções desse espiral é conectar os papéis exercidos pelo indivíduo, proporcionando o desenvolvimento de sua atuação em cada motor. Conforme já citado, cada um desses motores possui velocidade própria. Porém, a sociedade – em sua nova configuração contemporânea – e o mercado, agora conectado aos seus pares – outros mercados – por conta da globalização, passam a funcionar em velocidade maior, exigindo da universidade um ritmo equivalente. Pode-se dizer que a contemporaneidade surge como força importante para toda essa dinâmica, onde a fluidez exige mudança constante, colocando em cheque a figura da universidade como instituição histórica, com modelos e padrões herdados do passado. Surge assim a necessidade de que as universidades estejam capacitadas para atender ao ritmo imposto pelos demais motores, ou então de que seja discutido o papel dessas instituições, se ainda fizer sentido a permanência como integrante da tríade universidade-mercado-sociedade. Do contrário, corre-se o risco de a universidade desconectar-se, ou perder o sentido diante das demandas das duas esferas. Caso a universidade perca o sentido, poderá ocorrer que o produto aluno universitário também o perca, pois o mercado e a sociedade poderão buscar novas fontes de conhecimento, capazes de responder seus questionamentos com maior velocidade, provendo combustíveis mais potentes. 133 Acredita-se que a universidade esteja passando por uma crise e que seu papel não esteja devidamente definido ou não esteja sendo repensado, em meio às mudanças sociais. Souza (2004) concebe que não se trata apenas de uma única crise, mas três, que culminam na atual situação da educação superior. Para o autor, as crises seriam: a) Crise da Hegemonia – em que a universidade passa a ter de mobilizar conhecimentos que sejam aplicados, em vez de permanecer como local de geração de conhecimento livre e desinteressado; b) Crise de Legitimidade – em que a universidade deixa de ser a instituição que forma poucos escolhidos e passa a ser responsável por atender a demanda das massas; c) Crise Institucional – em que o Estado deixa de ser o provedor e se torna um comprador de bens e serviços, gerando reflexo em cortes no orçamento do sistema de ensino superior e possibilitando o cenário ideal para a proliferação das instituições privadas de educação superior . Considerando este cenário na dinâmica entre os três motores, caso a universidade não esteja apta a responder as questões apresentadas pelas demais esferas, outras instituições o farão. Assim como alertado por Santos (1995), corre-se o risco de que a universidade deixe de ser o produtor central de uma alta cultura, com risco de perder a centralidade. 4.1 A alegoria e a pesquisa Esta pesquisa, considerando os três motores citados na alegoria sistêmica, concentra o foco na perspectiva da universidade. Indiretamente, têm-se dados sobre sociedade e mercado do trabalho como forma de contextualizar o escolhido para a perspectiva da universidade, ou seja, os perfis e opiniões sobre expectativas e satisfação dos alunos matriculados num determinado curso de uma única universidade privada do município de São Paulo. De acordo com Calderón (2000), a universidade na qual se concentra a pesquisa faz parte da tipologia de instituição que o autor apresenta como 134 Universidade Mercantil, portanto, uma universidade privada configurada como empresa, cujo objetivo é a obtenção de lucro. É importante reiterar que o fato de uma universidade ser considerada mercantil não constitui caráter impeditivo de seu comprometimento com a formação de conhecimento científico e atendimento às comunidades como se percebe na universidade em estudo. Acreditamos que o surgimento desse tipo de instituição seja reflexo da crise institucional, que como observa Boaventura Santos (1995), uma vez que se restringem os investimentos públicos, frente ao reflexo da crise de legitimidade com a demanda de massas por formação superior, fica para as instituições privadas o atendimento dessa exigência. Uma das possíveis consequências da mercantilização da educação superior pode ser a transformação das universidades em organizações prestadoras de serviço privado, decorrendo na também transformação dos alunos em consumidores deste serviço educacional. Considerando a questão da coletividade de instituições presentes no país, assim como das distintas realidades possíveis, propõe-se uma forma de entendimento da alegoria sistêmica capaz de considerar distinções entre motores e combustíveis presentes neste complexo sistema, os alunos, as universidades, os mercados de trabalho e as sociedades. Apoiados exclusivamente na figura apresentada por Hammond (1973) e não no modelo por ele desenvolvido, cujo foco se dá em métodos de avaliação, elaborou-se o gráfico, a seguir, que apresenta os três motores da alegoria sistêmica, agora, apoiados na visão de cubo apresentada pelo autor. A figura contempla em três de suas faces, Sociedade, Mercado de Trabalho e Universidade. No lado oposto a cada uma, a contrapartida da atuação do indivíduo correspondente aos motores: cidadãos, trabalhadores e alunos. A universidade pesquisada destaca-se como uma peça destacada do cubo, cuja atuação atenderá a parcelas e públicos específicos de cada face do cubo. 135 Universidades Sociedades Universidade Pesquisada Mercados de trabalho Figura 2 – Alegoria Sistêmica: Cubo de variáveis identificadas na alegoria sistêmica Há diversos tipos de sociedade, universidade e mercado de trabalho, variáveis investigadas nesta pesquisa, que se moldou numa peça do cubo acima, isto é, a universidade mercantil, mais especificamente uma instituição situada na Zona Leste da cidade de São Paulo. A escolha de partirmos da visão dos alunos ocorre propositalmente, pois o nosso objetivo é o de conhecermos os níveis de expectativas dos ingressantes e o de satisfação dos concluintes. Ao ampliar este pedaço destacado do cubo da alegoria sistêmica, percebe-se outro cubo, de uma única universidade. Reconhece-se, também, que esse cubo, representativo de uma única universidade contém, nele mesmo, outras faces que possibilitam melhor compreensão sobre os alunos, como demonstra a figura que segue. 136 Figura 3 – Cubo de variáveis identificadas na universidade pesquisada A figura acima é semelhante ao cubo das variáveis identificadas na alegoria sistêmica, porém, ao invés de analisar as sociedades, o mercado de trabalho e as universidades, ela se aprofunda na visão dos alunos da universidade pesquisada. As categorias de análise – faces do cubo – são derivadas do questionário aplicado junto aos alunos participantes desta pesquisa. Conforme já apresentado, foram aplicados dois questionários, um para ingressantes e outro para concluintes. Ambos os questionários estavam divididos em duas partes. A primeira continha questões sobre o perfil socioeconômico dos alunos, e a segunda, questões de opinião sobre aspectos da vida universitária. Com base nesses dois aspectos, identificam-se as três variáveis presentes no cubo (Figura 3): momento de vida universitária (ingressantes ou concluintes); perfil socioeconômico; e aspectos sobre a vida universitária. Esta visão contribuiu para o entendimento dos alunos participantes, possibilitando as respostas para as questões propostas, a saber: a) Quem são os participantes desta pesquisa? b) Há diferença entre o nível de satisfação dos concluintes e o de expectativa 137 dos matriculados? c) Há diferença entre os níveis de expectativa e satisfação de acordo com os perfis dos alunos? Da mesma forma que a instituição universitária em que se concentrou a pesquisa constitui um pedaço destacado do cubo da alegoria sistêmica, o aluno da universidade também se torna um pedaço destacado do novo cubo. Ocorre que, para responder as questões propostas, o aluno é considerado uma unidade coletiva, agrupada por semelhanças, considerando as mesmas variáveis destacadas na figura que segue. (Gráfico 35). Figura 4 – Variáveis consideradas na análise dos alunos da universidade pesquisada 4.2 Os alunos pesquisados Em livro sobre a evolução do ensino superior no Brasil até 1969, Teixeira (1989) cita, a respeito do perfil dos alunos da época, que se tratava de um grupo heterogêneo, no qual os ingressantes manifestavam euforia e orgulho pelo êxito em terem se matriculado no curso universitário e mostravam curiosidade sobre a vida universitária. 138 Quanto aos formandos, Teixeira (1989) cita que os alunos eram céticos e desmotivados quanto à vida universitária, abatidos por certa frustração, embora permanecessem cientes do privilégio de estarem ali, como concluintes do ensino superior. O emprego ocupava parte do vazio trazido pelas condições e nível de ensino para a vida universitária desses alunos. Destaca-se, então, o ponto apresentado por Teixeira, pois intriga o fato de que, já em 1983, se falava sobre grupos não homogêneos de alunos, visão totalmente contrária do que se esperava na elaboração do projeto de pesquisa, quanto a considerar o aluno universitário uma forma única, conforme já citado ao longo do trabalho. Este é o ponto pelo qual se inicia a apresentação do perfil dos alunos: a análise da configuração do grupo de alunos participantes da pesquisa. Pretende-se, assim, verificar sobre a reiteração da heterogeneidade citada por Teixeira ou sobre o trabalho com uma instituição mais homogênea, característica do perfil dos alunos matriculados e como responder a questão proposta sobre os participantes da pesquisa. A pesquisa foi, então, elaborada com a participação de alunos de dois campi de uma mesma universidade, matriculados no primeiro, no segundo e no oitavo semestre do Curso de Administração de Empresas – períodos diurno e noturno. Participaram, também, alunos de Cursos de Administração com ênfase em outras especializações, assim como alunos de outros cursos, porém matriculados em matérias optativas no Curso de Administração de Empresas. É importante salientar que todos os dados a seguir apresentados indicam o perfil dos alunos participantes da pesquisa, portanto, não traduz sobre a totalidade de alunos matriculados na instituição. Os dados apresentados a seguir estão organizados de acordo com as perguntas que nortearam a pesquisa. Portanto, de início, será abordada a questão que trata perfil socioeconômico dos participantes desta pesquisa. Verifica-se que não há uma visão única apresentando o aluno universitário, mas os alunos universitários, no seu coletivo. Houve também diferença entre o perfil 139 dos alunos dos campi A e B, na universidade pesquisada, confirmando a hipótese de que diferenças entre os bairros A e B podem afetar os resultados da análise. Nomeou-se campus A, o campus mais recentemente inaugurado na Região Leste de São Paulo, situado em bairro considerado como um dos novos enclaves sociais da cidade de São Paulo, por tratar-se de bairro com maior concentração de renda, onde o custo médio dos condomínios chega a ser um dos cinco mais caros de São Paulo (TAQUARI, 2009). O campus B, por sua vez, foi o primeiro inaugurado pela instituição, situado em um bairro de periferia, cujo crescimento, historicamente, deu-se por conta da migração de trabalhadores vindos, em grande parte, do Norte e Nordeste do Brasil, em busca de oportunidade de trabalho na capital paulista. Para efeito de comparação entre os dois campi, tem-se que o campus B possui ligeira concentração de alunos, em média, um ano mais velhos, relativamente aos do campus A. Considerando-se ingressantes e concluintes, a média de idade no campus A é de 22 anos para ingressantes – mesmo número no campus B – e de 23, para os concluintes, portanto, dois anos abaixo da média para o mesmo grupo no campus B, cuja idade é de 25 anos. Há distinção quanto à distribuição de alunos por sexo nos dois campi, sendo que o campus A possui entre os participantes da pesquisa 58% de mulheres, número que para o campus B é de 62%. O percentual de homens participantes, matriculados, é de 42% para o primeiro grupo e 38%, para o segundo. No campus A, também ocorre variação entre ingressantes e concluintes. Houve maior participação de mulheres entre os ingressantes, com 63%, contra 49% entre os concluintes, o que pode não refletir o resultado da universidade como um todo. Quase a totalidade dos alunos participantes reside com a família ou com amigos. Há maior incidência, campus B, de alunos que moram só, com 6%, contra 2%, no campus A. Quanto à vida profissional, é alto o percentual de alunos que possui alguma atividade profissional remunerada, seja informal, estágio supervisionado ou trabalho com carteira assinada, 85% dos alunos no campus A e 83% no campus B exercem atividade remunerada. 140 Percebe-se também que é alto o percentual de ingressantes que já possuem carreira profissional, com 83% no campus A e 78%, no campus B. Sobre os que possuem trabalho, 68% dos alunos no campus A e 63% no campus B informaram que o curso universitário possui relação com suas atividades. Na sequência, 55% dos alunos no campus A informaram que o trabalho exerce uma influência positiva no curso, no campus B, este percentual sobe para 64%. Os formandos foram indagados se, entre o primeiro e o último semestre, havia ocorrido algum tipo de mobilidade profissional, seja no tocante à mudança de cargo, de empresa, ou de salário. Neste caso, 76% dos alunos no campus A e 79% no campus B informaram que houve mobilidade profissional. Ao menos para este grupo de alunos, a formação universitária possibilitou a melhoria profissional. É maior a predominância de alunos solteiros, tanto no campus A quanto no B. Percebe-se que no campus A é maior o número de solteiros de maneira geral, tanto entre ingressantes (79%) quanto entre os formandos (87%). Já no campus B, o número é semelhante entre ingressantes, porém para concluintes cai para 79%, com relativo aumento do número de alunos casados, divorciados ou em união estável, resultando para estes três grupos 21% dos formandos no campus B e 13% no campus A. O nível de escolaridade dos pais, também varia de acordo com os campi, sendo que, no campus A, é maior o percentual de alunos cujos pais possuem nível superior de escolaridade ou pós-graduação – 37%, contra 18% no campus B. Convém destacar, também, que 41% dos alunos participantes desta pesquisa são os primeiros de sua família a frequentar curso superior e, junto com seus irmãos, 71% dos alunos ultrapassaram o nível de escolaridade dos pais. Isto aponta para a possibilidade de que, entre os familiares dos alunos pesquisados, é baixa a cultura da formação superior. Quanto ao aspecto expectativas x satisfação cabe questionar se há diferenças entre o nível de satisfação dos concluintes e o de expectativa dos matriculados. Convém, então, retomar a coleta de dados junto aos participantes da pesquisa. 141 Conforme citado na seção que trata da metodologia, foram elaborados dois questionários, um para os alunos recém-matriculados e outro para os formandos, com questões relativas ao perfil socioeconômico, bem como oitenta questões com manifestações de opinião. A diferença entre os questionários se deu por meio de que parte das questões propostas eram idênticas em ambos os questionários e a outra parte possuía questões que para os ingressantes, buscava avaliar a opinião de expectativas sobre o futuro de suas vidas universitárias e, para os formandos, buscava em questões semelhantes, avaliar a opinião sobre a satisfação a respeito da vida universitária. As questões foram divididas em duas partes. A primeira com questões optativas para o levantamento de dados socioeconômicos e a segunda com diversas questões que deveriam ser respondidas com base numa escala Lickert, de quatro alternativas, a saber: discordo completamente, discordo, concordo e concordo completamente. Para análise das respostas da segunda etapa, utilizou-se escala numérica, com variação de zero a dez pontos. Para o grupo de ingressantes, a análise das respostas possibilitou a leitura do nível de expectativa e, para os concluintes, do nível de satisfação ou de expectativa somasse dez (10) pontos, e o menor nível somasse zero (0) ponto. Trabalhamos com questões onde a menor pontuação estava em discordo completamente e a maior em concordo completamente, porém também utilizamos em algumas questões a pontuação inversa, quando a completa discordância apresentava o maior nível de expectativa ou satisfação. As 80 questões foram agrupadas por tipo de assunto referente à vida universitária, sendo consolidada em 9 grupos: adaptação ao curso; desenvolvimento de carreira; envolvimento em atividades extracurriculares; expectativas quanto à vida universitária; métodos de estudo; realização de exames; relacionamento com colegas; relacionamento com professores. Após a consolidação dos pontos obtidos, chegou-se ao quadro de notas médias de expectativa e satisfação, apresentado abaixo. 142 Figura 5 – Comparação entre expectativas e satisfação por grupos de questões Com base nos dados apresentados no gráfico acima, vemos que, numa escala de zero a dez, o nível médio de expectativa entre os alunos ingressantes é de 7,1 pontos, já, entre os concluintes, o nível de satisfação é de 6,9. Analisando-se, porém, isoladamente, os resultados obtidos por grupos de questões sobre os aspectos da vida universitária, identificam-se níveis distintos de expectativa e satisfação em relação ao resultado médio geral. Conforme já citado, as hipóteses levantadas, inicialmente, indicavam: a) os alunos da educação superior privada iniciam o curso com alto nível de expectativa; e b) não há grande variação entre as expectativas de calouros e a satisfação de formandos. Em princípio, a questão proposta sobre os níveis de expectativa e satisfação permite afiançar, com base no resultado médio geral, que realmente não há grandes diferenças nestes aspectos, uma vez que ocorre variação de apenas -0,2 pontos. Porém, partindo-se da quebra dos grupos de questões, é perceptível que quanto maior a abrangência da análise menor será a diferença entre expectativa e satisfação. O inverso ocorre à medida que aumenta a especificidade da análise (Figura 6) 143 + GERAL ESPECÍFICO ‐ + Figura 6 – Variação entre geral e específico para a análise dos dados A figura acima apresenta a forma como se comporta a variação entre os níveis de expectativa e satisfação que, se levado em consideração a média geral entre ingressantes e concluintes (expectativa e satisfação), apresenta-se variação de apenas -0,2 pontos, enquanto, na medida em que tornamos mais específica a análise, seja pelo aprofundamento na leitura por grupos de questões, ou por perfis de alunos, encontra-se maior variação entre os resultados obtidos pelos ingressantes e concluintes. Quanto à primeira hipótese, percebe-se que alto nível pode ser algo relativo, pois na escala, o nível máximo de expectativa seria 10 e identificou-se um nível geral de expectativa de 7,1. Além do índice geral, foi incluído no questionário um grupo de questões denominado expectativas quanto à vida universitária, em que os alunos apresentavam manifestações, como: tenho grandes expectativas quanto à vida universitária; espero me tornar alguém diferente ao término do curso; ao fim do curso estarei preparado para oferecer os meus conhecimentos à disposição de outros. Foram manifestações que permitiram identificar, de modo não 144 necessariamente atrelado a aspectos relativos à vida universitária, variações entre as opiniões dos ingressantes e dos concluintes. Para este grupo de questões, obtiveram-se notas 7,3, para os ingressantes, e 6,8 para os concluintes. Consideramos ambos os resultados de expectativas, 7.1 (média geral) e 7.3 (média para o grupo de questões sobre expectativas), como alto índice, porém é importante ponderar que não representa o nível máximo de expectativa possível. De qualquer forma, a hipótese levantada é válida, sendo apenas necessário um entendimento mais profundo sobre as expectativas dos ingressantes, ou em quê se destaca o resultado obtido entre os participantes da pesquisa. Para tanto, apresenta-se, a seguir, um resumo dos principais destaques obtidos entre ingressantes e concluintes para cada grupo de questões. No grupo de questões sobre adaptação ao curso, nota-se, entre os ingressantes, a existência de alunos empolgados com o curso (7,4), entretanto pretendem mudar de curso caso não se adaptem. Destaca-se a expectativa de que: a universidade deve preparar os alunos para a vida e funções que serão exercidas após a conclusão do curso, com 7,7, contra a média geral de 7,1; um bom curso deve ter articulação entre as disciplinas (7,6), e; a universidade deve preparar o aluno para a vida e funções que exercerá depois de formado (7,7). Entre os concluintes é maior o número de alunos – 68% – que não mudaria de curso se retornar ao início da vida universitária. Entretanto, cai consideravelmente o nível de empolgação com o curso (5,8). Há menor satisfação em relação ao nível de articulação das disciplinas (6,8) e sobre o quão estimulante é o curso (6,3). Os pontos em que a satisfação supera as expectativas estão na avaliação da relevância das matérias apresentadas no curso e o reconhecimento por parte dos formandos, maior do que entre os ingressantes, de estarem frequentando o curso dos sonhos. Para o grupo de questões bases de conhecimento para o curso, o resultado médio de 6,8 não constitui resultado negativo, observa-se apenas que este não é o ponto em que os alunos têm maior segurança. Os alunos iniciam o curso com receio de que será difícil a transição do ensino 145 médio para o superior (6,1); embora estejam preparados para os desafios do curso (7,0); discordam, também, no sentido de que o ensino médio lhes tenham trazido conhecimentos necessários para o sucesso no curso (5,8). Ao término do curso, os alunos avaliam de maneira positiva a base prévia que tiveram no ensino médio: o nível de satisfação (7,0); supera a expectativa do grupo de ingressantes (6,8); e o nível médio geral de expectativas (6,9). O grupo de questões sobre o desenvolvimento de carreira apresenta o maior nível de expectativa (7,7) e o segundo mais alto índice de satisfação (7,5). Em geral, os alunos possuem boas expectativas (8,1), porém é alto o receio de não serem bem-sucedidos ao experimentarem a carreira (6,5). Os alunos recém-matriculados acreditam que concretizarão seus sonhos por meio da carreira escolhida (8,1) e possuem potencial para a atividade escolhida (8.0). Os formandos sentem-se confiantes e com a certeza de que realizarão os seus sonhos na da carreira escolhida (8,3). Todavia com menor receio de não serem bem-sucedidos quando à atividade (7,7). Quanto à realização de exames, trata-se de um dos blocos com as menores notas de expectativa (6,0). Os alunos não possuem ideia clara sobre a forma como serão avaliados ao longo do curso, com destaque para resultados, como: ansiedade em relação a exames (4,8); e insegurança quanto à sua performance em avaliações em comparação com outros alunos (5.8). Ao término do curso, os alunos sentem-se mais confiantes e tranquilos em relação à realização de exames (6,8), bem como em seu desempenho, quando comparados a outros alunos (6,8). Embora concordem em se manter calmos nos momentos de avaliação (6.8), continuam ansiosos nas vésperas de exames (5,4). Em se tratando de envolvimento em atividades extracurriculares, 50% dos ingressantes pretendem efetivar participação, porém apenas 10% dos concluintes tomaram parte de eventos ao longo do curso. Para as questões sobre métodos de ensino, apenas 6% dos ingressantes não esperam utilizar a biblioteca com frequência, número que se reduz a zero entre os 146 concluintes. É menor a expectativa entre os ingressantes de que a rotina diária deve atrapalhar de alguma forma o desempenho na vida universitária e 16% dos alunos concordam com esta afirmação. O número sobe para 25% dos formandos que afirmaram ter a rotina diária atrapalhado de alguma forma a performance na universidade. É alta a expectativa de que a universidade possa fazer a conexão entre os sonhos e a ação necessária para alcançá-los (7,9). O nível de satisfação cai em comparação ao de expectativa (7,0), porém mantém-se superior à média geral de satisfação (6,9). Para as questões sobre o relacionamento com os professores, em geral, os ingressantes não esperam procurar os professores, especialmente para assuntos pessoais não relacionados à sala de aula. Embora eles afirmem a percepção de terem professores excelentes (7,2) e que gostam de ensinar (7,4), é alto o número de alunos que afirma ter professores com poucas qualidades pedagógicas (6,4). Entre os concluintes, cai o nível de satisfação para esse grupo (6,4). Os resultados são semelhantes, embora reduza a percepção de que os professores são excelentes (6,9) e que a estrutura do curso possibilita oportunidades para a interação informal entre professor e aluno (6,6). Destaque-se o aumento no número de alunos que afirma procurar os professores para assuntos referentes à aula (6,2). Quanto ao relacionamento com os alunos, quase a totalidade dos ingressantes – 88% – espera conviver com os colegas fora da sala de aula, porém ocorre que o convívio, em geral, fica restrito à vida acadêmica. Excluindo-se as questões sobre o convívio fora de sala de aula, todas as demais questões apresentam superação de expectativas. Os ingressantes apresentam alto nível de expectativas no que se refere à vida universitária (7,3) e afirmam buscar no curso condições para o desenvolvimento profissional (7,7). Eles pensam na formação universitária como forma de investir financeiramente em seu futuro (7,7) e afirmam conseguir nomear as suas 147 expectativas, se necessário (6,8). Entre os formandos, este grupo apresenta a segunda maior queda no nível médio de satisfação (6,8), com destaque para este resultado de avaliação inferior às expectativas para as questões: minhas expectativas foram atendidas (6,6); e contato entre alunos, direção e secretaria (6,1 e 6,2). Embora seja expressiva a queda no nível de satisfação, os formandos reconhecem o fato de terem se tornado pessoas diferentes por conta da vida universitária (7,4) e afirmam terem encontrado no curso condições para o desenvolvimento pessoal (7,4). 4.2.1 Variação entre expectativa e satisfação em decorrência do perfil A terceira questão indagou sobre a existência de diferenças entre os níveis de expectativa e satisfação de acordo com os perfis dos alunos. Na análise, selecionaram-se os grupos que apresentaram maior distinção de características em ambos os aspectos, visando comparar a variação entre os níveis de expectativa e satisfação. Para esta análise comparativa, foram considerados os grupos de perfis: período matriculado; nível de influência do trabalho no estudo; e nível de conhecimento prévio da vida universitária. 4.2.1.1 Período de matrícula: diurno/noturno O motivo de iniciar os resultados por perfis de acordo com a comparação entre alunos matriculados nos períodos diurno e noturno dá-se em decorrência da necessidade de identificar se realmente há diferenças nesses resultados. Gráfico 32 –Variação por período em que o aluno está matriculado 149 Em praticamente todos os grupos propostos, os alunos do período diurno apresentam resultados acima do obtido pelos colegas do noturno, tanto em expectativa quanto em satisfação. A única exceção acontece no grupo de questões atinentes ao relacionamento com colegas, cujo nível de satisfação é 0,1 acima, entre os alunos do período noturno. Para os alunos do período diurno, o maior nível de expectativa ocorre no quesito desenvolvimento de carreira, onde também está o maior nível de satisfação para esses alunos. Vale ressaltar que o nível de satisfação para a evolução da carreira é de quase 1,0 ponto acima da média geral para o grupo de questões, apresentando um excelente resultado nesse particular, sob o ponto de vista dos formandos matriculados neste período. Quanto aos alunos do período noturno, o maior nível de expectativa também se dá para o desenvolvimento de carreira, pouco abaixo da nota obtida pelos alunos do período diurno – 7,4 contra 7,9. Entretanto, o maior nível de satisfação, diferente do grupo anterior, se dá para as questões sobre o relacionamento com colegas (7,7). No que tange à satisfação relativamente ao desenvolvimento de carreira, percebe-se que se mantém exatamente no mesmo nível que o de expectativa (7,4), o que pode ser considerado um resultado positivo, embora não tenha superado as expectativas, como ocorreu com os alunos do período diurno. Ao comparar a variação satisfação/expectativa entre os dois perfis selecionados, nota-se um comportamento semelhante para os grupos: adaptação ao curso; bases de conhecimentos para o curso; expectativas sobre a vida universitária; e relacionamento com professores. Porém entre os demais grupos houve comportamento distinto, em que se destaca o fato de que os alunos do período diurno apresentam o nível de satisfação quanto à participação em atividades extracurriculares, com 0,1 ponto acima do nível de expectativa. Para os alunos do período noturno, entretanto, a satisfação é 0,4 ponto abaixo da expectativa, o que não significa, necessariamente, que entre alunos do primeiro grupo seja maior a participação nessas atividades, porém aponta para uma superação da expectativa de participação nesses eventos, da mesma forma que para o período noturno é maior o número de ingressantes que espera participar de 150 atividades extracurriculares em relação aos formandos que afirmam ter, de fato, participado de alguma atividade ao longo do curso universitário. Outro destaque deve-se às questões sobre os métodos de estudo, pois praticamente em todas as questões o nível de expectativa nos dois períodos foi próximo, porém os alunos do período diurno apresentam maior nível de satisfação, com uma diferença de 0,9 ponto na variação da satisfação versus expectativa, enquanto os alunos do período noturno também apresentam superação, porém de apenas 0,1 ponto. Novamente, a respeito do relacionamento com os colegas, fica a percepção de que os alunos do período noturno são mais orientados para esta questão, uma vez que o nível de satisfação é de 0,7, contra 0,2 para os alunos do período diurno, apontando para a possibilidade de que a forma de interação dentro e fora da sala de aula entre os alunos de cada período seja distinta. 4.2.1.2 Influência do trabalho no curso A relevância da questão deve-se ao elevado número de alunos, ingressantes e concluintes, que possui vida profissional ativa, concomitantemente com o curso universitário, podendo afetar, positiva ou negativamente, o envolvimento do aluno com a universidade. Diante dos resultados obtidos percebe-se que é grande a distinção entre os três grupos (Gráfico 33). Desenvolvimento de carreira Base de conhecimento Adaptação ao curso Relacionamento c/ professores Relacionamento c/ professores Gráfico 33 –Variação de acordo com a influência do trabalho nos estudos Relacionamento c/ professores Relacionamento c/ colegas Realização de exames Métodos de estudo Indiferente Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Desenvolvimento de carreira Nota média de Satisfação Base de conhecimento Adaptação ao curso Relacionamento c/ colegas Média Satisfação: 6.9 Relacionamento c/ colegas Média Expectativa: 7.1 Realização de exames Métodos de estudo Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Positivo Realização de exames Métodos de estudo Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Desenvolvimento de carreira Base de conhecimento Adaptação ao curso Nota média de Expectativa Variação % Satisfação/Expectativa Negativo Média Expectativa: 7.1 Média Satisfação: 6.9 152 Destacam-se as observações de que o trabalho possui/possuirá impacto negativo nos estudos, segundo os alunos que apresentam um dos menores níveis de expectativa, talvez pelo fato de haver maior consciência do quanto poderão se engajar na vida universitária, em decorrência das demandas da vida profissional. Ocorre que, para os alunos cuja vida profissional apresenta impacto negativo na vida universitária, os nove grupos de questões, sem exceção, oferecem resultados inferiores à média geral de expectativas (7,1). Estabelecido um paralelo com os alunos cujo impacto é indiferente ou positivo da vida profissional na universitária, aqueles que informaram impacto negativo possuem superação das expectativas em 5 grupos de questões, a saber: bases de conhecimento; desenvolvimento de carreira; envolvimento em atividades extracurriculares; realização de exames; e relacionamento com colegas. O mesmo grupo, que tem uma expectativa negativa ou inferior à média, em decorrência do negativo, também apresenta satisfação inferior às expectativas em questões sobre adaptação ao curso e expectativas sobre a vida universitária, provavelmente em decorrência das exigências da vida profissional. Dos alunos que informaram impacto indiferente obtêm-se resultados de expectativas semelhantes aos dos alunos cuja vida profissional possui impacto positivo no curso, porém, com relativa queda no índice de satisfação em praticamente todos os nove grupos de questões, com diferença mínima de 0,2 e 0,3 nos quesitos: relacionamento com colegas; e relacionamento com professores. Ainda, no mesmo grupo, alunos que informaram impacto indiferente, as maiores quedas ocorrem na adaptação ao curso e desenvolvimento de carreira. Nesta, as questões que mais influenciam a queda na satisfação são: percepção de ter escolhido o curso mais de acordo com suas aptidões e capacidades (-0,4); a avaliação sobre o fato de a universidade ter trazido um conhecimento profundo sobre cultura geral e carreira escolhida (-0,9); maior discordância sobre o fato de a carreira corresponder às suas expectativas (-1,2); redução no número de alunos afirmando que o curso tem facilitado a sua realização profissional (-0,6); e queda de 0,9 para a afirmação de que eles possuem uma ideia clara do que farão profissionalmente após o término do curso universitário (-0,9). 153 Fica nítida a impressão de que os formandos, neste grupo, indicam certa apatia ou insatisfação em relação à vida universitária, bem como insatisfação em relação ao percurso de sua carreira até os dias atuais. Quanto aos alunos que afirmam que o trabalho provoca impacto positivo no curso, percebe-se grande engajamento na vida universitária, posto que sete dos nove grupos de questões superam ao menos um dos níveis médios de expectativa (7,1) ou satisfação (6,9), apresentando baixa frustração em suas expectativas, com grupos de questões tendo em média 0,2 ponto de satisfação abaixo dos níveis de expectativas: adaptação ao curso (-0,2); desenvolvimento de carreira (-0,1); expectativas sobre a vida universitária (-0,2); e relacionamento com professores (-0.1). A maior queda entre expectativa e satisfação ocorre no quesito envolvimento em atividades extracurriculares (-0,5), tanto para alunos cujo impacto é positivo ou indiferente. Este último grupo de alunos com queda de 0,9 em expectativa, quando comparado com a satisfação. 4.2.1.3 Momentos da vida universitária Do grupo pesquisado, 84% estão matriculados no primeiro curso universitário, enquanto 13% informam já ter frequentado outro curso, embora sem concluí-lo. Apenas 3% informaram já possuir diploma de curso superior. Embora seja baixo o percentual de alunos que não estão em seu primeiro curso, houve-se por bem considerar essa informação, com o objetivo de verificar se há possibilidade de a experiência universitária (expectativa e satisfação) provocar variações nos resultados (Gráfico 34). Relacionamento c/ professores Relacionamento c/ colegas Realização de exames Métodos de estudo Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Desenvolvimento de carreira Base de conhecimento Adaptação ao curso Média Expectativa: 7.1 Este é o meu 1º curso universitário Média Satisfação: 6.9 Gráfico 34 –Variação de acordo com o momento de vida universitária Relacionamento c/ professores Relacionamento c/ colegas Realização de exames Métodos de estudo Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Desenvolvimento de carreira Já cursei outro curso universitário, porém não concluí Base de conhecimento Nota média de Satisfação Adaptação ao curso Relacionamento c/ professores Relacionamento c/ colegas Realização de exames Métodos de estudo Expectativas sobre a vida universitária Envolvimento em atividades. extracurriculares Desenvolvimento de carreira Base de conhecimento Adaptação ao curso Nota média de Expectativa Variação % Satisfação/Expectativa Já possuo o diploma universitário em outro curso Média Expectativa: 7.1 Média Satisfação: 6.9 155 Novamente, observam-se três grupos com comportamentos completamente distintos. O primeiro, composto de alunos já matriculados em outro(s) curso(s), porém sem conclusão, do qual surge o mais baixo nível de expectativa (5,4), que se destaca pela superação das expectativas (5,8), com índice de satisfação acima da média, apontando para um cenário em que talvez experiências passadas possam ter contribuído para o baixo nível de expectativa, porém ao permanecer até o último semestre, suas expectativas são superadas, consolidando um resultado positivo sobre a vida universitária, em relação ao que os ingressantes esperam. Quanto aos alunos matriculados em seu primeiro curso universitário, os resultados são mais próximos dos índices médios de expectativa e satisfação. A única exceção dá-se para grupos de envolvimento em atividades extracurriculares e para o grupo de questões sobre a realização de exames, cujo nível de expectativa está 1 ponto abaixo da média, o que pode ser explicado por se tratar de um grupo de alunos que ainda não conhece a vida universitária e que, ao menos na primeira semana de aula, quando da realização da pesquisa, não possuía muitas informações sobre a forma como seriam avaliados. Isto pode ser explicado por se tratar de um grupo que ainda não conhece a vida universitária, e que ao menos na primeira semana de aula, quando fizemos a pesquisa, não possuía muitas informações sobre a forma como seriam avaliados. Já os níveis de satisfação para os alunos matriculados em seu primeiro curso universitário apresenta superação somente quanto aos grupos de questões sobre: base de conhecimento; realização de exames; relacionamento com colegas. Os seis outros grupos apresentam queda média de 0,2 em relação às expectativas, o que consiste num resultado positivo se considerado um efeito de calibração. Este detalhe pode ser atribuído ao fato de os alunos deste grupo entrarem com maior nível de expectativa do que o obtido ao longo do curso – efeito calibração –, considerando as expectativas passíveis e não passíveis de serem atingidas, com isso seria esperada a queda na satisfação em relação à expectativa. O último perfil deste grupo comparativo é o de alunos que já possuem o diploma em outro curso universitário. Embora seja baixo o percentual de alunos nesta situação (3%), conforme já indicado, eles trouxeram os melhores resultados 156 em praticamente todos os grupos de questões, tanto no que se refere à expectativa quanto à satisfação. Exceto para envolvimento em atividades extracurriculares, mesmo as questões que possuem nível de satisfação abaixo do nível de expectativa trazem resultados acima da média geral. Entre os principais destaques, tem-se um resultado de 9,3 para a satisfação com o desenvolvimento de carreira e para a satisfação quanto à realização de exames, assim como um alto índice de satisfação quanto à adaptação ao curso (8,2). A queda no nível de satisfação permite apontar o reconhecimento de que o ensino médio não os preparou para as exigências do ensino superior, com redução de 3,1 em relação ao nível de expectativa. Identifica-se também grande queda em relação ao nível e expectativa para a questão o curso trouxe conhecimento e experiências que podem contribuir para melhorar a minha vida e dos outros, com expectativa de 9,3 e satisfação de 7,5. Em geral, houve queda de 0,9 no grupo de questões base de conhecimento, assim como 0,3 para o grupo de questões método de estudo. Destaca-se, para os concluintes, o reconhecimento de que a cultura apresentada na universidade não esteve devidamente alinhada ao que se preconiza importante para as suas vidas (6,3). Há discordância sobre a afirmação de que a cultura universitária apresentada no curso é voltada ao seu dia -a -dia (5,0). Outra questão com relativa queda está vinculada à afirmação de que a rotina diária atrapalhou os estudos dos concluintes ao longo do curso (2,5) e o número de alunos que atrelou, à universidade, um papel importante para a conexão de seus sonhos com as ações necessárias para alcançá-los (6,3). Acredita-se que os resultados moldam um perfil de aluno mais independente, consciente de como será a vida universitária ao longo do curso, disposto a passar por todas as etapas necessárias, porém atrelando menos à universidade os resultados de seu crescimento de carreira ou amadurecimento/entrada na vida adulta. 157 4.3 Variação entre resultados para os perfis identificados versus a média geral do nível de expectativa e de satisfação Ao efetuar uma última análise com o objetivo de confirmar, ou não, se há diferenças entre o nível de expectativa e satisfação de acordo com os perfis dos alunos, houve-se por bem confrontar os resultados de expectativa e satisfação para os perfis identificados com as médias gerais obtidas de 7,1 para nível de expectativa e 6,9 para nível de satisfação. O gráfico, a seguir, mostra a diferença entre as notas de expectativa e de satisfação obtidas em cada um dos perfis identificados na pesquisa e as médias gerais obtidas. O eixo “Y” do gráfico apresenta a variação entre as expectativas e o nível médio de expectativas (7,1). Já, o eixo “X” apresenta a variação entre os níveis de satisfação para grupo e o nível médio de satisfação (6,9). Quanto mais próximo do centro do gráfico, menor é a diferença entre as notas do grupo e a média geral. Gráfico 35 – Variação entre expectativa e satisfação de grupos versus a média geral 158 Deste cruzamento de dados, encontram cinco grupos distintos dispostos nos quadrantes: A – Níveis Críticos; B – Engajamento Crítico; C – Expectativas Frustradas; e D – Alto engajamento. Foram isolados os grupos próximos à média, pois apresentam variação próxima a zero em relação à nota média de expectativas e de satisfação, apontando para um cenário em que os perfis que fazem parte do grupo não destoam dos resultados obtidos pelas médias gerais. O fato de dar nomes aos quadrantes permite a diferenciação de cada grupo, sem considerar a tipificação dos respectivos alunos – pois a leitura refere-se à amostra –, os quais obedecem às circunstâncias do momento de preenchimento do questionário e apontaram para esses resultados. No quadrante “A”, têm-se os perfis de alunos com variação negativa de expectativa e satisfação abaixo da média geral. Este quadrante foi denominado Níveis Críticos e pode ser considerado aquele com os maiores desafios para que o aluno tenha melhor experiência na vida universitária. Neste grupo, estão os alunos cujo trabalho possui influência negativa e/ou indiferente em relação ao curso; os alunos que residem sozinhos; aqueles que já estiveram em outro curso superior, sem concluí-lo, além dos alunos cuja família possui maior nível de escolaridade. No quadrante “B”, estão os alunos com baixa expectativa, porém com nível de satisfação superior à média, alunos com renda média per capita entre R$ 560,00 e R$ 1.120,00. Mais do que alguma característica específica para este grupo, convém observar que são alunos satisfeitos com o que a universidade lhes tem oferecido, mesmo com expectativas não tão altas. O risco neste quadrante pode aumentar à medida que diminui o nível de expectativa dos alunos nos questionamos sobre o nível de engajamento com a vida universitária para alunos com baixa expectativa, por isso a denominação Engajamento Crítico. O quadrante “C” apresenta o que acreditamos ser um cenário de Expectativas Frustradas, em que os alunos possuem alto nível de expectativa, porém satisfação abaixo da média. Nele, tem-se o grupo de alunos divorciados. Destaca-se que devido ao baixo número de alunos com este perfil (2%), não há representatividade estatística para análise mais aprofundada, de maneira a identificar se esses alunos 159 têm propensão para integrar o quadrante em pauta. Todavia, é de todo conveniente considerar que, ao menos os pesquisados divorciados, têm este perfil. Um dos impulsos iniciais para o desenvolvimento da pesquisa foi acreditar na possibilidade de encontrar um grande número de alunos frustrados com a experiência da vida universitária. Contudo, foi uma agradável surpresa deparar, quando da conclusão da pesquisa, com apenas um grupo de alunos a integrar este quadrante. Finalmente, o quadrante “D”, denominado Alto Engajamento, onde estão concentrados os alunos com expectativa e satisfação acima da média. Este grupo está altamente engajado na vida universitária e, ainda que sejam marcados por acentuada criticidade, como reflexo de expectativas anteriores, apresentam bom nível de satisfação, superando a média, mesmo considerando que em alguns pontos o nível de satisfação não supere suas expectativas. Neste grupo são encontrados os alunos com renda per capita abaixo de R$ 560,00; os alunos do período diurno; e aqueles que já possuem formação em nível superior. É importante lembrar que os demais grupos não destacados nesta análise, fazem parte da média e, ao caminhar para o detalhamento, seriam encontradas distinções entre outros perfis. Com isso respondemos de forma afirmativa a última questão. De fato, há diferenças entre os níveis de expectativa e de satisfação de acordo com os perfis dos alunos, porém, de modo semelhante ao que foi visto com os níveis de expectativa e satisfação, quanto mais generalista for a análise, menores serão as diferenças. Por outro lado, à medida que se aprofundam detalhes específicos, diferenças são encontradas, o que auxilia para o melhor entendimento sobre a realidade dos alunos da educação superior, integrantes de instituição privada. 160 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme citado na introdução, este trabalho tem origem no mergulho em minhas crenças, sonhos e dúvidas. Ao término do curso universitário, tive uma experiência negativa, em alguns pontos, em outros apenas diferente das minhas expectativas existentes no início da vida universitária, fato motivador para a escrita do pré-projeto de pesquisa para o ingresso no curso de mestrado. Depois de recortes e mudanças no projeto inicial, que buscava apresentar um novo modelo de universidade privada, optamos por concentrar a pesquisa em uma análise sobre o perfil e níveis de expectativa e satisfação de alunos do Curso de Administração de uma determinada universidade privada, localizada no município de São Paulo. Percebemos que as hipóteses iniciais, estabelecidas no sentido de que os alunos da educação superior particular iniciam o curso universitário com alto nível de expectativa e de que não há grande variação nos níveis de satisfação de calouros e formandos, são válidas, porém, quanto a esta última, embora de modo geral os níveis de expectativa e satisfação sejam semelhantes, quanto mais específica a análise, maior será a possibilidade de se encontrar distinção entre um nível e outro, fato que possibilita maior riqueza de dados para a análise dos alunos da educação superior privada. Para responder às questões propostas foram elaborados quatro esquemas teóricos derivados da metáfora que foi denominada “Alegoria Sistêmica da Educação Superior” (Figura 7). Figura 7 – Esquemas teóricos 161 Pela leitura e análise dos dados obtidos e dos esquemas teóricos elaborados, foi possível identificar o perfil dos alunos participantes – ingressantes e concluintes –, bem como analisar as diferenças entre os níveis de satisfação e de expectativa existentes entre eles e apresentar as diferenças que mais de destacaram entre esses níveis, de acordo com o perfil dos alunos. Conhecendo-se melhor a grande quantidade de programas e atividades extracurriculares oferecidos pela universidade, acreditei na possibilidade de ocorrer alta participação e engajamento dos alunos nesses eventos. Porém, este foi um dos pontos de menor engajamento dos alunos, tanto ingressantes quanto concluintes, com raras exceções. Entre os formandos participantes desta pesquisa, apenas 11% tiveram participação em alguma atividade extracurricular ao longo do curso. Percebemos ainda que no que se refere à expectativa e satisfação, ao longo da vida universitária, pode ocorrer o fenômeno a que se denomina “calibração”, no qual os alunos sem experiência relacionada à vida universitária iniciam o curso com alto nível de expectativa em pontos que, não necessariamente, serão alcançados ao longo da vida universitária e, ao longo do curso e vivência na realidade encontrada, parte de suas expectativas são atendidas, porém algumas delas são “frustradas” simplesmente pela impossibilidade de alcance por parte da universidade. Outro ponto de destaque é que se esperava, no início da pesquisa, encontrar grande número de alunos concluintes frustrados, provavelmente um juízo decorrente da experiência pessoal do pesquisador, porém ocorreu exatamente o contrário, pois, dos 28 perfis analisados, apenas um encaixou-se no quadrante Expectativas Frustradas do esquema proposto. Possivelmente, a universidade esteja passando por uma crise, assim como destacaram Teixeira (1989), Buarque (1994) e Santos (1995) entre outros. Buscamos com este trabalho, aprofundar a discussão sob a ótica dos alunos, na busca de uma leitura de suas realidades e percepções sobre a vida universitária, diante das situações resultantes da massificação da educação superior, liquidez da contemporaneidade e impactos de ambos no sistema universidade/ mercado de trabalho/sociedade. Se este é um momento de crise, em que as universidades ganham nova configuração em consequência da mercantilização – bem como pressão por redução 162 de custos, aumento de lucro e fatia de mercado – e passam a atender às necessidades das massas, concorrendo com outras instituições mais ágeis a responder às exigências sociais, fica em aberto uma questão: como atender ou conjugar as necessidades individuais dos alunos com a visão do todo e a cobertura das massas? A maior descoberta ao longo deste trabalho, é que não existe o Aluno Universitário, assim como a Universidade de uma forma geral. Tratam-se de diversos tipos de alunos e instituições que fazem parte de realidades sociais distintas e atendem ou estão presentes em vários tipos de mercado de trabalho. Acredita-se, assim, que a análise apresentada colabora com uma visão sobre a forma de agrupar os indivíduos em “classes semelhantes” e, desta leitura, dar voz às necessidades individuais, de modo a ampliar o conhecimento, por parte da instituição, sobre os alunos que compõem o seu “Cubo de Variáveis”. Esperamos com isso, através de maior conhecimento sobre os alunos e o quanto (e o que) eles esperam da vida universitária – e o quão satisfeito eles estão ao longo do curso – seja possível não mais pensar em mudanças na educação superior privada num sentido amplo, mas em cada pedaço do Cubo da Alegoria Sistêmica. Portanto, talvez seja possível que a atenção às partes possa auxiliar na mudança para o todo. 163 REFERÊNCIAS BAUER, M.W.; GASKELL, G. (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Tradução por Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Tradução por Plínio Dentzen. Rio de Janeiro/RJ: Zahar. 2001. BORGES, C.C.; MAGALHÃES, A.S.. Transição para a vida adulta: autonomia e dependência na família. Revista Psico. Porto Alegre, v. 40, n. 1, p. 42-49, jan./mar. 2009. BRASIL, Decreto Federal nº. 2.207/1997, de 15 de abril de 1997. 1997a. Regulamenta, para o Sistema Federal de Ensino, as disposições contidas nos arts. 19, 20, 45, 46 e § 1º, 52, parágrafo único, 54 e 88 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências. Revogado pelo Decreto Federal nº. 2.306, de 19 de agosto de 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2207impressao.htm>. Acesso em: 10 mar. 2011. ______. 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Artística) Ciência da Computação Ciências Biológicas Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências Sociais - GRATUITO Design Gráfico Design de Interiores Direito Educação Física Educação Física Enfermagem Engenharia Civil Engenharia de Produção Engenharia Elétrica Engenharia Mecânica Farmácia Fisioterapia Gastronomia Geografia –GRATUITO Geografia –GRATUITO Gestão de RH Gestão financeira História – GRATUITO Jogos Digitais Jornalismo Letras (Port/Inglês) Logística Matemática Medicina Veterinária Nutrição Odontologia Pedagogia Publicidade e Propaganda Psicologia Química Química Rádio, TV e Internet Redes de Computadores Relações Públicas Serviço Social - GRATUITO Visagismo e Estética Capilar Total - 1º Sem. de 2011 Bacha- Licen- Tecno- Duração Campus B Campus A Campus C Campus D Relado ciatura lógico semestres X x X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X x 8 4 10 6 8 8 6 8 6 4 4 10 8 6 8 10 10 10 10 8 8 4 8 6 4 4 8 4 8 6 4 6 10 8 8 6 8 10 8 6 8 4 8 8 6 23 15 20 29 32 26 20 29 19 24 27 18 13 35 16 03 04 08 32 36 33 27 23 33 28 33 04 33 13 31 26 25 10 26 36 28 18 15 23 25 33 34 32 145 137 08 32 30 20 24 22 30 28 24 10 28 18 23 02 05 05 12 34 22 29 33 35 29 33 33 21 36 28 16 24 30 28 22 22 18 10 11 18 06 24 13 28 16 27 31 05 14 13 23 33 30 23 05 23 08 25 21 28 19 21 23 28 27 33 681 37 10 05 05 23 31 05 34 05 507 18 23 18 23 26 05 05 28 05 18 29 03 27 537 471 17 17 27 119 265