UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA
EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
SEBASTIÃO DÉCIO COIMBRA DE SOUZA
“Tese apresentada ao Centro de Ciência e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte
Fluminense
como
parte
das
exigências para obtenção do título de
Doutor
em
concentração
Ciências
em
de
Engenharia
Produção”.
Orientador: Prof. José Ramón Arica Chávez, D. Sc.
Campos – RJ
Agosto de 2003
Engenharia,
de
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCT / UENF
35/2003
Souza, Sebastião Décio Coimbra de
Uma abordagem evolucionária da dinâmica competitiva em arranjos
produtivos locais / Sebastião Décio Coimbra de Souza. – Campos dos
Goytacazes, 2003.
xv, 342 f. : il.
Orientador: José Ramón Arica Chávez
Tese (Doutorado em Ciências de Engenharia) -- Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciência e
Tecnologia. Laboratório de Engenharia de Produção. Campos dos
Goytacazes, 2003.
Área de concentração: Engenharia de Produção.
Bibliografia: f. 234-251
1. Abordagem Evolucionária 2. Trajetória Competitiva 3. Arranjos
Produtivos Locais I. Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro. Centro de Ciência e Tecnologia. Laboratório de
Engenharia de Produção II. Título
CDD
338.6048
UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA
EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
SEBASTIÃO DÉCIO COIMBRA DE SOUZA
“Tese apresentada ao Centro de Ciência e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte
Fluminense
como
parte
das
exigências para obtenção do título de
Doutor
em
Ciências
concentração
em
Produção”.
Aprovada em 29 de agosto de 2003.
Comissão Examinadora:
Prof. Jorge Britto, D.Sc. UFF (Economia)
Prof. Luis Antônio Cardoso, D.Sc. UENF (Eng. Produção)
Prof. Victor Prochnik, D.Sc. UFRJ (Eng. Produção)
Prof. José Ramón Arica Chávez, D.Sc. UENF (Sistemas)
Orientador
ii
de
Engenharia,
Engenharia
de
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à memória de meu pai, Sebastião Sanches de Souza, e à
minha mãe, Maria Souza.
iii
AGRADECIMENTOS
! Ao professor José Arica, pela confiança e incentivo, que influenciou
positivamente minha trajetória acadêmica e profissional.
! Ao professor Helder Gomes Costa, pelo apoio em contornar obstáculos
institucionais que surgiram durante o curso.
! A todos os professores do Laboratório de Engenharia de Produção, por
compartilharem seus conhecimentos durante o curso.
! Aos Professores Victor Prochnik (UFRJ) e Jorge Britto (UFF), pela atenção
dispensada e pelas dicas.
! Aos Ceramistas, que abriram as portas de suas empresas e disponibilizam
as informações solicitadas, em especial, ao Sr. Nildo Cardoso, pela
atenção.
! Aos colegas de curso Alcimar e Roberto, pelas discussões que
contribuíram para a consolidação das minhas idéias seminais sobre o tema
abordado.
! Em especial, a minha namorada, companheira de todas as horas,
Jacqueline Cortes, pela paciência, incentivo e colaboração ao longo desses
anos de convivência.
! A todos os colegas de curso e de trabalho pelo respeito e solidariedade.
! A Luis Maurício Menezes (in memorian), ex-Diretor de Projetos da
FENORTE, pela influência positiva no início do curso.
! Ao Prof. Darcy Ribeiro, idealizador do sonho “Universidade Estadual do
Norte Fluminense”, em que acreditei, e a todos que ajudaram a transformálo em realidade, que me proporcionou a conclusão desse importante e
difícil ciclo acadêmico-profissional.
! A toda a minha família, meus irmãos e amigos, pelo carinho e força nos
momentos difíceis.
! Ao meu pai (in memorian) e a minha mãe, pela herança ética e moral, e
pelos ensinamentos.
! Finalmente a Deus, pela força para superar nossas limitações e as
barreiras pelo caminho, nos impulsionando para seguir em frente.
iv
SUMÁRIO
Resumo............................................................................................................
ix
Abstract............................................................................................................
x
Lista de Figuras...............................................................................................
xi
Lista de Gráficos..............................................................................................
xii
Lista de Quadros.............................................................................................
xiii
Lista de Fotos..................................................................................................
xiv
Lista de Tabelas..............................................................................................
xv
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO...............................................................................
1
CAPÍTULO 2 - COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE.............
7
Resumo...........................................................................................................
7
2.1 Introdução..................................................................................................
8
2.2 A abordagens da competitividade.............................................................
11
2.2.1 A abordagem tradicional da competitividade e suas limitações........
12
2.2.2 A abordagem dinâmica da competitividade......................................
15
2.3 Determinantes da competitividade............................................................
17
2.3.1 Análise da competitividade empresarial............................................
23
2.3.1.1 Análise ambiental....................................................................
23
2.3.1.2 Análise do padrão de concorrência setorial............................
27
2.4 Competitividade empresarial x “competitividade regional”........................
30
2.5 Competitividade e desenvolvimento econômico regional.........................
39
2.5.1 A visão tradicional e as novas abordagens......................................
39
2.5.2 A “competitividade” de regiões e localidades...................................
42
2.6 Para um conceito integrado de competitividade.......................................
49
2.7 Para uma abordagem estratificada da competitividade em arranjos
produtivos locais.......................................................................................
54
2.8. Considerações finais sobre o Capítulo...................................................
55
v
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA
COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS........................................
59
Resumo.....................................................................................................
59
3.1 Introdução...........................................................................................
59
3.2 Método científico, evolução e entropia................................................
65
3.3 Competitividade e desenvolvimento na perspectiva evolucionária.....
71
3.4 Fundamentos para uma abordagem evolucionária da dinâmica
competitiva em arranjos produtivos locais.................................................
81
3.5 Considerações finais sobre o Capítulo................................................
92
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS
E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA
COMPETITIVA”...........................
96
Resumo......................................................................................................
96
4.1 Introdução............................................................................................
97
4.2 Tipos de problemas organizacionais....................................................
98
4.3 Rotinas como unidade de análise competitiva entre firmas.................
99
4.4 Aprendizado e adaptação....................................................................
108
4.5 Mudança de rotinas (padrões).............................................................
109
4.6 Comportamento e competição.............................................................
111
4.7 Evolução e complexidade....................................................................
114
4.8 Padrões e recursos da firma................................................................
117
4.9 Regras, procedimentos e rotinas.........................................................
121
4.9.1 Regra...........................................................................................
121
4.9.2 Procedimento operacional padrão (pop).....................................
122
4.9.3 Rotina..........................................................................................
123
4.10 Dependência da trajetória (do contexto local)...................................
129
4.11 O vínculo entre rotinas e trajetórias tecnológicas.............................
137
4.12 O conceito de “Trajetória Competitiva”..............................................
149
4.13 Considerações finais sobre o Capítulo..............................................
157
vi
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO TECNOLÓGICA E “TRAJETÓRIA COMPETITIVA”
EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS:
UMA METODOLOGIA ..........
158
Resumo.....................................................................................................
158
5.1 Introdução...........................................................................................
159
5.2 A análise de sistemas industriais e a abordagem evolucionária.........
163
5.2.1 “Sistemas de Inovação” e o “Diamante de Porter”.....................
168
5.2.2 “Sistemas Tecnológicos”............................................................
171
5.3 Estratificação tecnológica...................................................................
175
5.4 Uma proposta para a análise da estratificação tecnológica em
arranjos produtivos locais...................................................................
183
5.5 Considerações preliminares sobre a mudança tecnológica em
arranjos produtivos locais: o caso do Pólo de Cerâmica Vermelha
do Norte Fluminense..........................................................................
186
5.5.1 Análise geral e contextualização do arranjo..............................
186
5.5.2 Um esboço de aplicação da abordagem proposta....................
189
5.6 Uma proposta metodológica para o estudo da estratificação
tecnológica e da “trajetória competitiva” em arranjos
produtivos locais.................................................................................
190
5.6.1 Pesquisa empírica.....................................................................
190
5.6.1.1 Etapas da metodologia.................................................
191
5.6.1.2 Detalhamento de cada etapa........................................
191
5.6.1.3 Agenda Futura...............................................................
195
5.7 Considerações finais sobre o Capítulo...............................................
196
5.7.1 Hipóteses da abordagem proposta...........................................
197
CAPÍTULO 6 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO
PRODUTIVO LOCAL: O CASO DO PÓLO DE CERÂMICA VERMELHA
DO NORTE FLUMINENSE.............................................................
201
Resumo....................................................................................................
201
6.1 Introdução..........................................................................................
201
6.2. Metodologia e etapas do estudo.......................................................
204
6.2.1 Método de abordagem.............................................................
204
6.2.2 Método de procedimento..........................................................
205
vii
6.3. Apresentação dos dados e informações...........................................
206
6.3.1 Considerações preliminares......................................................
206
6.3.2 Análise de padrões, rotinas e recursos.....................................
207
6.4 Cálculo dos índices de recursos e de desempenho...........................
212
6.4.1 Tratamento e interpretação das informações...........................
212
6.4.2 Análise dos resultados..............................................................
218
6.5 Grupos estratificados para o arranjo..................................................
219
6.6 Considerações finais sobre o Capítulo..............................................
221
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES............................................................................
223
7.1 Considerações finais..........................................................................
223
7.2 Contribuições.....................................................................................
231
7.3 Perspectivas de futuros trabalhos.....................................................
232
REFERÊNCIAS................................................................................................
234
APÊNDICE A - PESQUISA DE CAMPO REALIZADA NO PÓLO DE CERÂMICA
252
VERMELHA DO NORTE FLUMINENSE..........................................
APÊNDICE B - MODELO E MÉTODO DE CÁLCULO DOS ÍNDICES DE
RECURSOS E DE DESEMPENHO PARA O ARRANJO ESTUDADO.....
APÊNDICE C - QUESTIONÁRIOS APLICADOS.....................................................
viii
333
336
Resumo da Tese apresentada ao CCT/UENF, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências de Engenharia (D.Sc.)
Uma Abordagem Evolucionária da Dinâmica Competitiva
em Arranjos Produtivos Locais
Sebastião Décio Coimbra de Souza
Orientador: Prof. José Ramón Arica Chávez, D Sc.
Curso: Doutorado em Ciências de Engenharia
Área de Concentração: Engenharia de Produção
A partir de fundamentos da teoria evolucionária de mudança técnica e de
conceitos da teoria comportamental e da visão baseada em recursos e
competências da firma, neste trabalho, constrói-se uma abordagem específica
para o entendimento e análise da dinâmica competitiva de firmas em arranjos
produtivos locais. Assume-se que nesses sistemas, ocorre um processo de
estratificação entre grupos de firmas, o qual, pode ser visto como um fenômeno
decorrente da dinâmica competitiva própria e da capacidade de adaptação de
cada componente frente a um ambiente em constante processo de mudança
técnica e organizacional. Na abordagem desenvolvida, introduz-se o conceito de
“trajetória competitiva”. Adicionalmente, propõe-se uma metodologia para estudo
da dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais, baseada na abordagem
proposta e em tal conceito introduzido. Uma pesquisa empírica realizada em
estudo exploratório em um arranjo local típico, apresentada ao final, confirma as
hipóteses assumidas e sustenta a consistência da abordagem e da metodologia
propostas para o estudo da dinâmica competitiva no arranjo tratado.
ix
Abstract of Thesis presented to CCT/UENF as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Engineering Sciences (D.Sc.).
An Evolutionary Approach to Competitive Dynamic in Local Productive Systems
Sebastião Décio Coimbra de Souza
Advisor: José Ramón Arica Chávez, D.Sc.
Subject: Doctor in Engineering Science
Major Subject: Production Engineering
Linking foundations of the evolutionary theory of technical change with
concepts of the behavioral theory of the firm and resource-based view of the firm,
in this work, a specific approach is built for the understanding and analysis of the
competitive dynamics of firms in local production systems. It is assumed a
stratification process among groups of firms as a phenomenon due to competitive
dynamics and capacity of adaptation of each component in a constant process of
localized technical and organizational change.
Additionally, it is introduced the "competitive trajectory” concept and a
methodology based on evolutionary perspective approach for the study of a typical
local production system. Results from an empiric research developed confirms the
hypotheses and sustains the approach and methodology proposed for the study of
the competitive dynamic on such systems.
x
LISTA DE FIGURAS
Capítulo 2
Figura 2.1 – Relações genéricas de medida de desempenho...................
13
Figura 2.2 – Comportamento da firma com base no desempenho
no mercado............................................................................
13
Figura 2.3 – Níveis de análise da competitividade empresarial..................
25
Figura 2.4 – Padrão de concorrência setorial.............................................
28
Figura 2.5 – Determinantes da competitividade organizacional.................
50
Figura 2.6 – Determinantes da competitividade estrutural/setorial.............
51
Figura 2.7 – Visão-resumo da dinâmica competitiva..................................
53
Capítulo 3
Figura 3.1 – Redução de sistemas complexos a sistemas simples............
67
Capítulo 4
Figura 4.1 – O mecanismo da atividade de resolução de problemas.........
107
Figura 4.2 – Diferentes níveis de regras de comportamento......................
116
Capítulo 5
Figura 5.1 – Representação de um Sistema Tecnológico..........................
171
Figura 5.2 – Exemplo simplificado de Cadeia-Padrão de Valor..................
192
xi
LISTA DE GRÁFICOS
Capítulo 2
Gráfico 2.1 – Divisão do trabalho por tipos e características......................
38
Capítulo 4
Gráfico 4.1 – Diferença entre “Regra” e “POP”............................................
122
Gráfico 4.2 – Diferença entre “Regra” e “Rotina”.........................................
125
Gráfico 4.3 – Trade-off entre diferentes padrões de rotinas........................
138
Gráfico 4.4 – Mudança tecnológica pela visão estruturalista......................
142
Gráfico 4.5 – Série histórica do desenvolvimento de uma tecnologia.........
143
Gráfico 4.6 – O modelo de Curva-S.............................................................
144
Gráfico 4.7 – Trajetórias tecnológicas possíveis..........................................
145
Gráfico 4.8 – Trajetórias e inovações..........................................................
148
Gráfico 4.9 – Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/1.......
153
Gráfico 4.10 –Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/2......
154
Gráfico 4.11 –Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/3......
155
Capítulo 5
Gráfico 5.1 – Diferentes trajetórias de organização da atividade de inovação
178
Gráfico 5.2 – Estratificação tecnológica hipotética no arranjo....................
194
Gráfico 5.3 – Trajetórias evolutivas hipotéticas de dois arranjos locais......
195
Capítulo 6
Gráfico 6.1 – Padrão de recursos para as unidades da amostra...............
212
Gráfico 6.2 – Distribuição de padrões da amostra (IRTk1, PEk1 e PQ k1)
213
Gráfico 6.3 – Correlação: Recursos x Produtividade energética (Ek1)......
213
Gráfico 6.4 – Correlação: Recursos x Produtividade na queima (PQk1)
214
Gráfico 6.5 – Distribuição de padrões da amostra (para IRTk1 e PVPk1)
215
Gráfico 6.6 – Correlação: Recursos x Produtividade na queima (PVPk1)
216
Gráfico 6.7 – Trajetória competitiva hipotética...........................................
216
Gráfico 6.8 – Distribuição de padrões da amostra (para IRTk1 e PHhk1)
217
Gráfico 6.9 – Correlação: Recursos x Produtividade Homem-hora...........
218
xii
LISTA DE QUADROS
Capítulo 2
Quadro 2.1 – Diferentes abordagens da competitividade das empresas....
16
Quadro 2.2 – Forças e fatores da competitividade empresarial..................
18
Quadro 2.3 – A visão de Porter sobre a competitividade............................
22
Quadro 2.4 – Atividades de sustentação da competitividade empresarial
26
Quadro 2.5 – Pontos de conflitos na abordagem da competitividade.........
31
Quadro 2.6 – Variações no conceito de competitividade............................
36
Quadro 2.7 – Integração entre políticas de longo e curto prazos...............
47
Capítulo 3
Quadro 3.1 – Alguns aspectos gerais da abordagem evolucionária...........
92
Capítulo 4
Quadro 4.1 – Comparação entre unidades de análise da firma..................
100
Quadro 4.2 – Diferentes concepções de rotina...........................................
127
Quadro 4.3 – Características de procedimentos e de rotinas individuais...
128
Quadro 4.4 – Evolução do processo criativo técnico..................................
135
Capítulo 5
Quadro 5.1 – Diferenças entre Sistemas de Inovação e o Modelo de Porter
170
Quadro 5.2 – Estrutura analítica de Sistemas Tecnológicos.......................
173
Quadro 5.3 – Classificação tecnológica de firmas.......................................
176
Quadro 5.4 – Classificação de atividades de inovação dentro das firmas
179
Quadro 5.5 – Tipologia de firmas segundo a segmentação do mercado
180
Quadro 5.6 – Classes de capacidade de manufatura.................................
182
Quadro 5.7 – Hipóteses da abordagem......................................................
198
xiii
LISTA DE FOTOS
Capítulo 6
Foto 6.1 - Telhas revestidas (Cerâmica L)..................................................
208
Foto 6.2 – Revestimento em diversas cores (idem)....................................
208
Foto 6.3 – Cortador mecânico giratório (idem)...........................................
208
Foto 6.4 – Exemplo de cortador convencional (com arames).....................
208
Foto 6.5 – Prensas modernas para produção de telhas (Cerâmica C).......
209
Foto 6.6 – Bloco vazado aparente e plaquetas de revestimento (Cerâmica F) 209
Foto 6.7 – Massa muito heterogênea (Cerâmica O)...................................
210
Foto 6.8 – Blocos danificados (idem)..........................................................
210
Foto 6.9 – Transporte braçal das peças (Cerâmica I).................................
210
Foto 6.10 – Utilização de microtrator para transporte (Cerâmica M)..........
210
Foto 6.11 – Secagem natural (ao ar livre) (Cerâmica N)............................
211
Foto 6.12 - Ventiladores móveis para secagem (Cerâmica D)...................
211
Foto 6.13 – Forno tipo circular (secular) (Cerâmica J)................................
211
Foto 6.14 - Forno túnel (moderno) (Cerâmica K)........................................
211
Foto 6.15 – Processo produtivo caótico (Cerâmica J).................................
211
Foto 6.16 – Layout limpo e organizado (Cerâmica F).................................
211
xiv
LISTA DE TABELAS
Capítulo 6
Tabela 6.1 – Características dos grupos estratificados...............................
220
Tabela 6.2 – Estratificação em grupos para o arranjo estudado.................
221
xv
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A intensificação da competição internacional tem forçado cada vez mais as
empresas a se capacitarem para absorver novas tecnologias de modo a sustentar ou ampliar
mercados e se manterem competitivas. Paralelamente, o desempenho econômico nacional
ou regional, está vinculado diretamente à capacidade de aproveitamento das oportunidades
de mercado, dos recursos locais e das bases existentes de tecnologia, através de
treinamento profissional e científico e da exploração econômica eficiente dessas bases.
No atual cenário econômico, a competitividade das firmas é cada vez mais
determinada pela tecnologia dominada e pela capacidade de adaptação à mudança (DOSI,
1988; BAUM & SINGH, 1994). Nesse sentido, o desenvolvimento de processos e produtos
tecnológicos mais avançados, eventualmente inovadores, é um dos principais pilares para
uma empresa obter vantagens competitivas, respondendo às contínuas mudanças exigidas
pelo mercado.
No âmbito das empresas, a mudança tecnológica pode ser entendida como um
processo de crescimento influenciado pela configuração local dos arranjos onde elas se
inserem (aglomerados, distritos, redes, blocos etc), bem como, por fatores endógenos
(trajetórias, rotinas organizacionais, estratégias etc). Essa dinâmica envolve exploração,
adaptação e imitação de novas tecnologias (DOSI, 1982). Pressões competitivas de
tecnologias novas ou correlatas e desafios ou ideais visionários dos líderes, além das
características do ambiente local, contribuem para acelerar o processo de mudança e
inovação.
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
2
Nesse sentido, os conceitos tradicionais de algumas variáveis envolvidas no
contexto da competitividade têm sido revistos. Uma das principais, a “tecnologia”, antes
entendida como simples elemento residual, tem agora seu conceito ampliado, passando as
considerar múltiplas facetas.
Um efeito decorrente dessa concepção do ambiente econômico é que a visão
tradicional de inovação tecnológica, baseada nos conceitos de science push e technology
pull, linear e unidimensional, tem sido ampliada, e, em alguns casos, substituída por uma
apreciação mais complexa, incorporando diferentes aspectos além daqueles tradicionais de
alta e baixa tecnologia e de tecnologia do produto e de processo (NORTH &
SMALLBONE, 2000). Neste aspecto, tecnologia e inovação são vistos mais como um
processo interativo entre homem, organização e contexto ambiental, e relacionados a ativos
invisíveis e a conceitos evolucionários (DOSI, 1988; EDQUIST, 1997; ZIMAN, 2000;
SAVIOTTI & NOOTEBOOM, 2000).
Paralelamente, a infra-estrutura e o ambiente regional/local assumem papel
determinante nas novas abordagens do desenvolvimento econômico. Muitos trabalhos
nesse sentido têm enfatizado essa questão (ver, por exemplo, PORTER, 1989; BENKO &
LIPIETZ, 1994; MALECKI & ÖINAS, 1998; PACI & USAI, 2000). Um aspecto
característico desses trabalhos é a grande ênfase em países centrais e quase que
exclusivamente em setores industriais altamente avançados, onde a inovação stricto sensu
é uma das armas essenciais na arena competitiva.
Permanece, entretanto, uma lacuna entre as teorias e conceitos evolucionários e os
métodos empregados para a análise de ambientes pouco evoluídos tecnologicamente, mas
fundamentais para a economia de certas microrregiões periféricas, cuja mudança se dá de
maneira lenta e, muitas vezes, somente induzidas por fontes externas. Por outro lado,
metodologias e abordagens adequadas para a análise de micro-sistemas produtivos, e a
consideração de conceitos não-estáticos em nível microrregional e/ou mesoeconômico,
necessitam ser adaptadas ao contexto. Não existem metodologias gerais que considerem
aspectos dinâmicos evolutivos e, ao mesmo tempo, características locais e setoriais.
Abordagens próprias têm de ser construídas. Nestes casos, há a necessidade de estudos das
relações interfirmas e de segmentos de cadeias industriais que permitam a análise dos
agentes e ao mesmo tempo do contexto no qual se inserem.
O emprego de abordagens e metodologias baseadas em sistemas tecnológica e
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
3
economicamente avançados, ipsis litteris, ao estudo de arranjos produtivos locais1 de
indústrias tradicionais, menos densos em termos de tecnologia, tem gerado vazios de
interpretação, o que não tem contribuído para uma visão realista da dinâmica do
desenvolvimento desses sistemas, principalmente para aqueles localizados em regiões
periféricas. Nesse sentido, o preenchimento desses vazios requer a criação de abordagens
que captem as diversidades locais e regionais e as diferenças entre firmas de um mesmo
arranjo produtivo em termos de dinâmica competitiva e tecnológica.
A dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais é influenciada, entre outros
fatores, pela freqüência e impacto de novas tecnologias e pelas características específicas
do mercado, que pressionam as empresas a uma constante reavaliação de suas estratégias,
métodos e rotinas organizacionais, provocando um processo de estratificação tecnológica
no arranjo (SOUZA & ARICA, 2001).
A estratificação tecnológica de empresas pode ser vista como um fenômeno
decorrente da dinâmica competitiva do sistema e da capacidade de adaptação de cada
componente frente a um ambiente em constante processo de mudança tecnológica. No
nível micro-dinâmico, essa estratificação pode ser verificada através da dotação de
recursos e dos índices de desempenho de cada empresa, os quais, afetam suas estratégias
de mercado. Nesse contexto, entender a formação de segmentações e a dinâmica
competitiva nesses sistemas, de forma geral, é uma condição fundamental para proposição
de planos e programas compatíveis com a realidade local, de modo a superar deficiências
técnicas, contornar de barreiras comerciais, direcionar novos investimentos e preservar
condições sócio-ambientais satisfatórias.
Entretanto, por razões metodológicas, tradicionalmente as políticas de incentivo e
os programas de apoio ao desenvolvimento e à competitividade são distribuídos de forma
genérica à regiões ou setores, e tratam aglomerados e segmentos industriais como um
bloco homogêneo e integral. As diversidades internas desses arranjos e a estratificação
entre empresas não são captadas, o que torna tais iniciativas pouco eficientes e, muitas
1
Esta expressão aqui adotada, e de forma recorrente nos capítulos subseqüentes, é uma denominação
genérica para a concentração espacial de unidades econômicas de manufatura, desde aquelas voltadas para a
utilização de recursos naturais e dispostas de forma fragmentada até aglomerados, clusters, distritos
industriais e outros tipos de concentração de indústrias com características dinâmicas mais acentuadas. Nesse
sentido, o termo “arranjo”, é menos restritivo que “sistema”, e não necessariamente pressupõe atividades
dinâmicas de coordenação e cooperação, podendo referir-se tanto a “aglomerados informais” (ver Mytelka &
Farinelli, 2000; Santos et al., 2002) e a “clusters de sobrevivência” (ver Meyer-Stamer, 2000). Ver também
Cassiolato & Lastres (2001).
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
4
vezes, ineficazes. Um dos efeitos desse tratamento às atividades microeconômicas é que
muitas empresas não conseguem se capacitar para serem incluídas em tais programas.
Visando contribuir para o estudo e o entendimento dos micro-elementos desse
contexto, neste trabalho, apresenta-se uma abordagem para a análise da dinâmica
competitiva em arranjos produtivos locais a partir dos conceitos de “trajetória
competitiva2” e “estratificação tecnológica”. Tal abordagem é baseada em fundamentos
evolucionários como os de “dependência da trajetória”, “trajetórias, regimes tecnológicos e
padrões técnicos” e “rotinas”. Ao invés de se analisar a evolução de uma determinada
tecnologia em termos globais, como o conceito tradicional de “trajetória tecnológica”
sugere, pela abordagem proposta, o foco da análise centra-se na dinâmica competitiva de
um determinado arranjo produtivo local, para paralelamente, se avaliar como as empresas
componentes se comportam e se posicionam frente aos concorrentes dentro desse sistema.
Nesse sentido, o objetivo geral do trabalho é o de contribuir para o avanço da
pesquisa científica através da proposição de novos métodos de solução para problemas de
interesse de meio acadêmico e da sociedade, focando casos aplicados de regiões, setores e
micro-sistemas produtivos locais.
Especificamente no que se refere ao problema tratado, o objetivo é propor uma
metodologia própria para o estudo da dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais,
através de uma abordagem que permita captar, ao mesmo tempo, o processo de mudança
tecnológica e as micro-diversidades entre firmas, possibilitando a identificação e análise
das fontes das vantagens competitivas individuais e em grupo, gerando informações úteis
para o entendimento desses sistemas.
As hipóteses assumidas são: (i) que a dinâmica competitiva e o processo de
mudança tecnológica em arranjos produtivos locais provocam um processo de
estratificação em grupos entre as empresas do arranjo, e; (ii) que a abordagem
evolucionária constitui uma base teórica consistente para sustentar uma metodologia capaz
de captar tal dinâmica. Outras hipóteses secundárias são levantadas e discutidas ao longo
do texto.
2
“Trajetória” aqui refere-se a um certo caminho trilhado pelas firmas na transição entre dois “regimes
tecnológicos” diferentes, o qual influencia o comportamento de outras firmas. O termo “competitivo” referese ao conceito evolucionário de disputa entre agentes (firmas) em um determinado contexto para adquirirem
primeiro certos caracteres “fortes” que lhes permitam obter vantagens e se sobrepor frente aos concorrentes
(Vide Capítulos 3 e 4).
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
5
O trabalho foi estruturado em sete Capítulos, incluindo a Introdução e as
Conclusões, além das Referências e de três Apêndices, ao final. Os Capítulos foram
encadeados de maneira a permitir um entendimento seqüencial do trabalho, de um escopo
geral para um mais restrito, apesar de guardarem uma certa independência entre si.
No Capítulo 2, aborda-se os fundamentos por trás do termo “competitividade”,
contrapondo, sempre que possível, os diversos enfoques, de modo a prover uma visão
sintética das dicotomias e divergências conceituais mais destacadas.
De uma forma geral, na análise da competitividade estão envolvidos vários níveis,
internos e externos, que, em suma, buscam captar o comportamento da firma. Entretanto, a
divisão tradicional da análise competitiva nos níveis organizacional, estrutural, geográfico
e sistêmico, negligencia certos arranjos produtivos locais, pouco competitivos fora da
esfera regional. De modo a prover uma alternativa de tratamento desses sistemas, sugere-se
a inclusão de um nível específico para análise da competitividade nesses arranjos.
No Capítulo 3, defende-se uma abordagem da competitividade em arranjos
produtivos locais através de uma perspectiva evolucionária. A partir de uma revisão dos
conceitos e hipóteses fundamentais da teoria econômica evolucionária, enfatiza-se suas
principais diferenças em relação à teoria neoclássica, buscando-se evidenciar sua maior
relevância para o tratamento e a análise de problemas dinâmicos do ambiente
socioeconômico local. Nesse aspecto, conceitos como Entropia e Evolução são importantes
para o entendimento de como sistemas abertos (como o econômico) interagem com o
ambiente e quais os efeitos dessa interação no comportamento de sistemas dinâmicos.
Subseqüentemente, apresentam-se os reflexos mais imediatos dessa abordagem para o
enfoque do ambiente competitivo e do desenvolvimento econômico regional e local.
Também são traçadas algumas considerações sobre políticas e programas públicos de
sustentação da competitividade local, compatíveis com a perspectiva evolucionária. Por
fim, destacam-se algumas questões de pesquisa iminente a serem tratadas mais adiante.
No Capítulo 4, fundamentos evolucionários são combinados com conceitos da
teoria comportamental e da visão baseada nos recursos e competências da firma para o
desenvolvimento de uma abordagem evolucionária específica da dinâmica competitiva em
arranjos produtivos locais.
Inicialmente, a noção de que o ritmo de incorporação de tecnologias mais
avançadas é um dos principais fatores condicionantes da competitividade das empresas é
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
6
revista. Ressalta-se que esta incorporação não se dá de maneira homogênea nem simétrica
a todas às firmas, provocando um processo que se pode denominar de “estratificação
tecnológica competitiva” no arranjo. Considera-se que este seja decorrente do desempenho
de cada empresa em incorporar mudanças técnicas e organizacionais e em adotar
estratégias de adaptação às variações de mercado. Pela abordagem evolucionária, tais
fatores poderiam ser captados pela identificação de “traços” (padrões) recorrentes em
certos grupos de diferentes empresas.
Nesse ponto, explora-se a relação entre os fundamentos endógenos e exógenos da
firma. Pela abordagem adotada, o conjunto de regras, procedimentos, rotinas e os vários
padrões de comportamento, carregam as impressões e os “caracteres” que podem revelar
sua verdadeira fonte de vantagens ou desvantagens no jogo competitivo. Assim, a
identificação de padrões de comportamento embutidos em tais elementos intrínsecos à
firma é assumida como um meio consistente a se explorar na análise competitiva e no
estudo do comportamento das organizações. A partir dos conceitos de dependência da
trajetória, trajetória tecnológica e rotinas, ao final, introduz-se o conceito de “Trajetória
Competitiva”.
Neste sentido, no Capítulo 5, propõe-se uma abordagem e uma metodologia
próprias para o estudo da estratificação tecnológica em arranjos produtivos locais, a partir
do conceito de “Trajetória Competitiva”. Inicialmente, faz-se uma revisão das abordagens
mais recentes para análise de sistemas produtivos locais, regionais e setoriais. São
destacados alguns enfoques para o problema da estratificação de atividades tecnológicas,
no âmbito da firma, de setor industrial e em termos de nação. Ao final, são traçadas as
considerações prévias sobre a aplicação da metodologia ao caso específico de um arranjo
produtivo local.
No Capítulo 6, apresenta-se um caso aplicado da abordagem e metodologia
propostas, através de uma síntese de projeto de pesquisa vinculado, realizado no Pólo de
Cerâmica Vermelha do Norte Fluminense (Campos-RJ). Ao final discutem-se os resultados
obtidos, a consistência da metodologia e as hipóteses assumidas.
No Capítulo 7, as Conclusões encerram o trabalho. Os Apêndices complementam
as informações e dados que sustentaram as conclusões, seguido das Referências, que
formaram a base fundamental para construção da abordagem e metodologia propostas
nesta obra.
CAPÍTULO 2
COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE
RESUMO
Nos dias de hoje, o termo competitividade é amplamente empregado nas mais
diversas situações e, na maior parte das vezes, sem rigor de definição do conceito que está
por trás da palavra, o que tem gerado um verdadeiro mosaico de definições, dificultando o
entendimento e, muitas vezes, induzindo conflitos de interpretação. Para sintetizar e definir
um marco teórico sobre o tema, nesse Capítulo procura-se desenvolver uma avaliação
sobre os principais conceitos por trás do termo “competitividade”, contrapondo, sempre
que possível, os diversos enfoques, de modo a prover uma visão sintética das dicotomias e
divergências conceituais mais destacadas.
Através da revisão bibliográfica sobre o tema, verifica-se que na análise da
competitividade estão envolvidos vários níveis, internos e externos, que, em suma, buscam
captar o comportamento da firma. Entretanto, a divisão tradicional da análise competitiva
nos níveis organizacional, estrutural, geográfico e sistêmico, negligencia certos arranjos
produtivos locais, pouco competitivos fora da esfera regional. Nesse sentido, para quando
esta análise envolver pólos de indústrias locais, propõe-se a consideração de um quinto
nível, o qual foi denominado de “segmental”, por aqueles constituírem-se geralmente de
pequenos segmentos de cadeias produtivas, pouco representativos comercialmente na
cadeia, mas contudo, em muitos casos, exercerem papel importante na economia regional e
suscetíveis a propostas de desenvolvimento local.
Conclui-se que a competitividade, como o próprio processo produtivo, é antes de
tudo comportamental e dinâmica.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE
8
2.1 Introdução
Desde o início do século passado, com os princípios da administração dos tempos e
movimentos de Taylor e Fayol, até os dias de hoje, os conceitos de crescimento e
expansão, mesmo passando por um processo de constante evolução de pontos de vista,
sempre estiveram presentes nos propósitos da organização industrial.
Neste período, o conceito de organização produtiva expandiu-se, passando a
incorporar novos requisitos, como produzir, vender e entregar melhor, mais barato e mais
rápido que os concorrentes. Este processo acelerou a disputa para superação de obstáculos
e adaptação aos novos requisitos exigidos pelos mercados, o que se acentuou com o
processo de abertura econômica e a internacionalização dos negócios (LANGLOIS, 2001).
Paralelamente, os países e regiões, por sua vez, passaram a depender cada vez mais
de empresas, indústrias e setores fortes internacionalmente1 (PORTER, 1989; MALECKI,
1997; CHANDLER, 1997).
Por outro lado, a expansão da riqueza nacional, o aumento da capacidade produtiva
e a melhoria das condições de infra-estrutura energética, de telecomunicações e de
transporte, são algumas das preocupações que sempre moveram as economias mais
avançadas.
Entretanto, o progresso tecnológico alcançou uma dimensão tal que “na sociedade
moderna, a competitividade nacional está baseada primeiramente na tecnologia. Ciência e
tecnologia passam a constituir os fatores decisivos nas novas forças produtivas. Nações em
desenvolvimento precisam investir pesadamente em tecnologia para expandir a economia.
Nós acreditamos que ciência e tecnologia serão o núcleo da competitividade no futuro”
(PORTER et al., 2001:477).
1
Na visão tradicional, o crescimento econômico e o progresso social de uma nação estariam atrelados e
dependentes da eficiência e eficácia com que as empresas e indústrias efetivamente atingiriam a seus
propósitos. Estas, através do pagamento de tributos, permitiriam e sustentariam investimentos públicos em
áreas estratégicas, como infra-estrutura urbana, segurança, educação, saúde e preservação do meio ambiente,
e também em financiamentos aos setores produtivos. De certa forma, o desempenho de um país, a qualidade
de vida e o bem estar da população, passaram a estar vinculados diretamente ao desempenho das indústrias e
da boa administração do dinheiro público. Teoricamente, porém, o fluxo de capital neste ciclo não é isolado
nem conservativo. Na prática, perdas devido às limitações inerentes ao próprio processo, controle e
fiscalização, e a tolerância à corrupção, podem comprometer o funcionamento desse ciclo. Nesse sentido, em
ambientes democráticos, sociedades mais bem informadas e de melhor nível educacional exercem maiores
pressões para resolução dos problemas, a busca de soluções alternativas e a correção de falhas, contribuindo
de forma fundamental para a melhoria no desempenho do país. Para diferentes pontos de vista sobre este
tema, ver Piore & Sabel (1984); Buitelaar & Van Dijck (1996); Landes (1998), e os três primeiros capítulos
em von Tunzelman (1995).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE
9
Apesar de afirmações contundentes como a anterior, e de servirem a propósitos
semelhantes, os atributos que levam uma nação a ser considerada “evoluída” e uma
empresa a ser vista como “competitiva”, carregam contradições intrínsecas. Contudo,
muitas vezes são assumidos como equivalentes, sob a denominação genérica de
“competitividade”.
Conceitualmente, o termo competitividade pode ter suas raízes atribuídas à
biologia, mais especificamente aos estudos de Lamarck e Darwin sobre a Teoria da
Evolução das Espécies, pela qual, grosso modo, os seres lutam para sobreviver em um
processo de competição de vida ou morte, onde os sobreviventes ganham o direito de
transmitir seus genes às gerações posteriores.
As primeiras tentativas de aplicação de conceitos evolucionários aos fenômenos
econômicos remontam ao final do século XIX, com Veblen (ver, MAYHEW, 1998), e ao
início do século XX, com Schumpeter, e sua metáfora de “destruição criativa” para os
efeitos do avanço tecnológico sobre a economia2.
A literatura com questões relativas à “competitividade” é extremamente dispersa e
difusa. Especialmente no campo dos negócios, o seu emprego e a conotação que se atribui
ao termo, é livre de qualquer rigor conceitual. Geralmente, parte-se do pressuposto que o
conceito é ampla e inquestionavelmente definido, ignorando-se os conflitos teóricos que
traz embutido. Ultimamente, o emprego do conceito de competitividade ganhou força
epidêmica,
especialmente
no
mundo
dos
negócios,
com
o
crescimento
da
internacionalização e abertura de novos mercados. Mais recentemente, com a consolidação
das operações globais de investimento e de produção (mais a primeira que a última), este
termo tem sido trasladado para denominar países e regiões com o mesmo sentido, o que
tem gerado grande polêmica e conflitos conceituais.
2
Porém, somente no início da década de 80, com a publicação do livro “An Evolutionary Theory of
Economic Change” de Nelson & Winter (1982), é que foram lançadas as bases para um tratamento mais
formal da aplicação dos conceitos evolucionários ao ambiente microeconômico. Este trabalho consolidou a
abertura de uma avenida de pesquisa, que passou a ser denominada teoria econômica evolucionária, ou neoschumpeteriana. De forma geral, esta se caracteriza por defender que os processos econômicos de
crescimento e desenvolvimento são reflexos de mudanças estruturais (basicamente, inovações),
desequilíbrios e coalizões, e, fundamentalmente, que os agentes atuam em condições de “informação
imperfeita” e “racionalidade limitada” e que a tecnologia não é um “pacote” livremente disponível no
mercado e absorvido de forma idêntica por todas as firmas. Estas hipóteses contrapõem frontalmente os
preceitos básicos da Teoria Neoclássica, de “informação perfeita”, “racionalidade” e “equilíbrio geral”. Para
um survey sobre a abordagem evolucionária ver Freeman (1994). Para enfoques alternativos dessa teoria, ver,
por exemplo, Metcalfe (1995a, b) e Nooteboom (1999).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 10
Até em meios acadêmicos, nota-se pouca preocupação sobre ao que o termo
“competitividade” realmente corresponde, qual o conceito por trás, e se é adequado ao
contexto. Este comportamento tem contribuído para formar um mosaico de interpretações e
distorções a respeito do assunto.
A abordagem desse tema varia de múltiplas formas, de acordo com a corrente
teórica da economia (neoclássica tradicional, do crescimento endógeno, evolucionária,
estruturalista etc.); com a dimensão da análise (em nível macro ou microeconômico); com
o objeto de estudo (firma, setor, país, blocos econômicos); e com o contexto (econômico,
social, ambiental), entre outros.
Em um nível microeconômico, “competitividade” é geralmente entendida como a
habilidade de uma firma crescer, aumentando sua lucratividade e seu mercado. Pela teoria
econômica tradicional, custos comparativos de produção determinariam a vantagem
competitiva da firma, e uma forma de torná-la mais competitiva seria através da produção
de produtos com custos menores aos dos concorrentes. Contudo, o conceito de
competitividade também varia de acordo com a teoria organizacional da firma, como a
comportamental e a contingencial3.
Tradicionalmente, o principal enfoque da competitividade tem sido nos fatores
organizacionais endógenos como desempenho, eficiência técnica e, principalmente, a
otimização dos recursos das empresas. Paralelamente, é cada vez maior o enfoque no
comércio internacional e nas especificidades dos fatores locais.
Além da influência dos efeitos locais e regionais na competitividade de firmas e
indústrias, alguns autores também procuram destacar o papel de fatores mais subjetivos,
não monetários, como importantes determinantes da competitividade (ver, por exemplo,
Doeringer & Terkla, 1990).
Alguns estudos recentes, com diferentes enfoques sobre o tema competitividade,
incluem Porter et al. (2001); Clark & Guy (1998); Maskel et. al. (1998), Krugman (1994) e
Porter (1989,1988). Utilizando a metodologia proposta em Porter (1989), Coutinho &
Ferraz (1995), desenvolveram um importante estudo sobre a competitividade da indústria
3
Neste trabalho adotamos uma perspectiva comportamental da firma, utilizando conceitos de trabalhos
clássicos como Penrose (1959), Cyert & March (1963) e March (1988), e Burgelman et al., (1995).
Desdobramentos recentes nessa linha utilizam duas denominações para a mesma visão, a “baseada em
recursos” (ver, por exemplo, Lieberman & Montgomery, 1998), e a “baseada na competência” (ver, por
exemplo, Reed & DeFillippi, 1990).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 11
no Brasil. Também merecem destaque na análise da competitividade no cenário brasileiro
os trabalhos de Ferraz et al. (1997) e Costa e Arruda (1999).
2.2 Abordagens da competitividade
Segundo Coutinho & Ferraz (1995), um ambiente de livre mercado e competição
aberta estabelece o contexto no qual a capacidade competitiva é formada. Nesse contexto,
a competitividade da firma pode ser vista como “a produtividade das empresas ligada à
capacidade dos governos, ao comportamento da sociedade e aos recursos naturais e
construídos, e aferida por indicadores nacionais e internacionais, permitindo conquistar e
assegurar fatias do mercado” (p.10).
Porém, esta aferição pode ser prejudicada pela dificuldade de se obter dados e
informações atualizados. “A carência de dados estatísticos e de indicadores de desempenho
confiáveis, limita o acompanhamento da evolução industrial, da distribuição social dos
benefícios e do estado-da-arte da tecnologia” (op.cit.: 11).
No âmbito internacional, historicamente, o indicador mais difundido de
competitividade é o comércio exterior, cujo principal fator de desempenho é o preço (em
US$). Entretanto, esta maneira de avaliar a competitividade tem sido reconsiderada, desde
que, em alguns países, constatou-se que a queda nos preços dos produtos exportados, e a
elevação dos mesmos em outros, estavam, na verdade, relacionadas à variação do mercado
compartilhado e não especificamente ao preço (KALDOR, 1981). Segundo Clark & Guy
(1998), este fato diminuiu a credibilidade do enfoque no preço e alimentou o interesse pelo
estudo dos fatores não monetários da competitividade.
2.2.1 A abordagem tradicional da competitividade e suas limitações
Dependendo do conceito e da abordagem, percebem-se dois critérios distintos para
se avaliar a competitividade. O primeiro vê a competitividade como uma capacidade
intrínseca e restrita ao processo produtivo, com ênfase nos meios de produção. Neste caso,
sua medida é feita através de um critério específico, a eficiência. O segundo, assume a
competitividade como um fenômeno dinâmico e relativo aos fins da produção, e a mede
pela participação no mercado. Segundo Haguenauer (1989), Kupfer (1992) e Ferraz et al.,
(1997), podemos caracterizar as duas abordagens da seguinte forma:
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 12
1) Uma, que define competitividade a partir da noção de eficiência do processo produtivo
(ou na relação insumo-produto), e representa a competitividade potencial, a qual se
expressa através da produtividade e da qualidade em relação aos concorrentes. Neste caso,
os indicadores mais utilizados para a avaliação são o preço, o custo, os coeficientes
técnicos e parâmetros de produtividade dos fatores da indústria internacional. Essa medida
revela uma “competitividade potencial” que demonstra a capacidade da empresa em
converter insumos em produtos com o máximo rendimento. Por esta visão, a
competitividade é determinada pela capacidade do produtor de escolher quais técnicas
utilizar, de acordo com as limitações de seus recursos, principalmente os financeiros, os
tecnológicos e os gerenciais. Dessa forma, a competitividade é um fenômeno ex ante facto.
2) Outra, que defende que a competitividade está diretamente relacionada com a
participação no mercado. É medida pela eficácia ou posição no mercado, principalmente
pelo volume das exportações e o mercado compartilhado. Neste caso, os indicadores a
serem avaliados vão desde as condições de produção até as políticas cambial e comercial, a
eficácia dos canais de comercialização, os sistemas de financiamento à produção e
estratégias. Por esta ótica, a competitividade é definida pelo mercado, através da demanda.
A satisfação dos consumidores em adquirir os produtos e serviços influencia a
competitividade das empresas. Esta seria uma medida da competitividade ex post facto.
Indiretamente, a produtividade e todos os outros fatores não mensuráveis e intangíveis,
estariam embutidos nessa avaliação, apesar de não se poder identificá-los. Segundo
Haguenauer (1989), uma das vantagens deste conceito é sua menor complexidade de
mensuração.
A seguir são apresentadas duas formas de abordar o desempenho competitivo das
firmas. A Figura 2.1 mostra um sistema de produção genérico, no qual os insumos
(entrada) são transformados em algum tipo de produto acabado (saída). As medidas de
desempenho mais comuns, e suas respectivas definições gerais, são mostradas na legenda
(ver WAEYENBERGH & PINTELON, 2002). Este tipo de medida pode ser considerado
uma avaliação da competitividade “internamente referenciada”.
A Figura 2.2 apresenta uma visão do comportamento competitivo da firma baseado
na posição do mercado. Neste caso, as vantagens comparativas seriam aquelas
tradicionalmente baseadas em recursos internos. As vantagens competitivas adviriam de
estratégias bem sucedidas adotadas perante o ambiente. A posição no mercado refletiria
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 13
estas vantagens ou desvantagens competitivas. A partir de resultados alcançados no
mercado, realimentações no processo (feedbacks) provocariam decisões de ajuste e
reposicionamento estratégico com a reformulação e a adoção de novos recursos (ver
HUNT & MORGAN, 1997). Esta seria uma medida “externamente referenciada”.
Insumo (entrada)
Processo (caixa – preta)
Produção (saída)
Definições genéricas:
Eficiência =
Entrada teórica
Saída presente
Eficácia =
Entrada presente
Saída teórica
Saída
Produtividade =
Efetividade = Eficácia x tempo
Entrada
Figura 2.1 – Relações genéricas de medida de desempenho
(baseado em Waeyenbergh & Pintelon, 2002: 311, Fig.7)
Recursos
-Vantagens comparativas
- Paridade
- Desvantagens
comparativas
Posição no Mercado
-Vantagens competitivas
- Paridade
- Desvantagens
competitivas
Desempenho financeiro
- Superior
- Paridade
- Inferior
Figura 2.2 – Comportamento da firma com base no desempenho no mercado
(adaptada de Hunt & Morgan, 1997: 78, Fig.1)
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 14
Apesar de difundidas e utilizadas amplamente, as formas tradicionais de avaliação
da competitividade têm sofrido severas críticas por apresentarem algumas deficiências
crônicas.
Segundo Ferraz et al. (1997), pelo fato de a participação no mercado e da
produtividade serem referenciais medidos a posteriori, no caso, por exemplo, de haver
uma política de subsídios específicos à exportação para certos setores, os resultados
medidos dessa forma estariam distorcidos, pois o desempenho das empresas poderia não
ser fruto da eficiência no processo produtivo. Além disso, esta seria uma abordagem
estática, focada apenas nos efeitos, sem identificar as relações causais, podendo não ser
sustentável no longo prazo.
Coutinho & Ferraz (1995), afirmam que a visão econômica tradicional da
competitividade, que a assume como uma questão de preços, custos (especialmente
salários) e taxa de câmbio, está superada. Historicamente, “paises com políticas focadas na
desvalorização cambial, no controle de custos e na produtividade do trabalho naufragaram
sem conseguir melhorar a competitividade das empresas, enquanto que outros, foram
vitoriosos e se afirmaram no mercado mundial, apesar de elevarem seus custos trabalhistas
e de longos períodos de sobrevalorização cambial” (op.cit.:16). “Se observados
dinamicamente, tanto o “desempenho” quanto a “eficiência” são resultados de capacitações
acumuladas e estratégias competitivas adotadas pelas empresas, baseadas em percepções
quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico e social em que estão
inseridas” (op.cit.: 18).
Nesse sentido, Vasconcelos & Cyrino (2000:33), destacam que “com a alteração
das condições ambientais, mudam também os recursos essenciais para garantir a
sobrevivência e o desempenho econômico diferenciado das firmas”. Seria a antecipação
dessas mudanças no ambiente, e a adoção de estratégias vencedoras, que garantiria a
possibilidade de sustentação das vantagens competitivas das firmas.
Nesta linha de pensamento, um conceito mais representativo do termo
competitividade deveria integrar os critérios de avaliação da eficiência e do desempenho
presente, com sua evolução e perspectivas de sustentação futura. Dessa forma, seria
importante responder a uma pergunta fundamental: Onde estariam as fontes das vantagens
competitivas?
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 15
Tais questionamentos indicaram a necessidade de se incluir na abordagem da
competitividade tanto fatores endógenos como exógenos do ambiente em que as empresas
atuam, em uma perspectiva dinâmica e sistêmica.
2.2.2 A abordagem dinâmica da competitividade
Segundo Ferraz et al. (1997: 3), “a partir de uma perspectiva dinâmica, o
desempenho no mercado e a eficiência produtiva decorrem da capacitação acumulada pelas
empresas que, por sua vez, reflete as estratégias competitivas adotadas em função de suas
percepções quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econômico onde estão
inseridas. Desse modo, ao invés de entendida como um fator intrínseco de um produto ou
de uma firma, a competitividade surge como uma característica extrínseca, relacionada ao
padrão de concorrência vigente em cada mercado. Este, por sua vez, corresponde ao
conjunto de fatores críticos de sucesso em um mercado específico”.
Pela abordagem dinâmica, o processo de tomada de decisão estratégica concentra
os fatores primordiais da competitividade. Porém, devido às incertezas do ambiente, e
conseqüentemente, pela impossibilidade de se conhecer antecipadamente as estratégias dos
concorrentes, as empresas definem seu comportamento e suas estratégias competitivas a
partir de experiências passadas e de sua perspectiva quanto ao ambiente, o que está
relacionado a conceitos econômicos evolucionários (ver NELSON & WINTER, 1982;
DOSI, 1988).
Nesta linha, alguns fatores a serem avaliados, além da produtividade, seriam: o
tamanho das firmas, a estrutura produtiva, o padrão de concorrência, as tecnologias
utilizadas e alternativas presentes e futuras, as economias de escala e de escopo, as
competências específicas, entre outros mais específicos à região, ao setor e às próprias
firmas, como a história específica e a cadeia de agregação de valor.
Dessa forma, inovar passa a ser fundamental e o sucesso competitivo torna-se
dependente da criação de novas vantagens e da recombinação das anteriores. Em adição
àqueles fatores tradicionais como custo, preço, qualidade e flexibilidade na produção e o
tempo e confiabilidade de entrega, torna-se fundamental também considerar “certas
particularidades”, menos aparentes, vinculadas à diversidade setorial e regional.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 16
Pela abordagem dinâmica, fatores como o capital humano (habilidades, experiência
e motivação do trabalhador); fatores técnicos e culturais (capacidade de adaptação a novas
tecnologias); habilidade gerencial para manter e expandir relacionamentos internos e
externos à firma (com firmas correlatas, com empregados, fornecedores, clientes, órgãos
públicos e instituições de pesquisa), que influenciam a habilidade da firma em obter e
manter uma posição lucrativa em face às mudanças tecnológicas, econômicas e sociais e a
outros desafios do ambiente.
Nesse sentido, a abordagem dinâmica da competitividade encontra ecos muito
nítidos na teoria dos recursos da firma (resource-based view, no inglês). Tal abordagem
foca nos recursos e capacitações, fatores base para o estabelecimento e sustentação das
vantagens competitivas das firmas, de modo a entender o desempenho estratégico dos
negócios
e
prover
direções
para
a
formulação das estratégias de mercado
(HADJIMANOLIS, 2000).
Assim, a lucratividade e o mercado compartilhado permanecem como indicadores a
serem considerados, todavia, passam a ter menor significância diante da maior dimensão
da análise, com uma visão de mais longo prazo. Dessa forma, o conceito de
competitividade assume outra conotação e a questão de quais são os indicadores mais
representativos, torna-se mais complexa. O Quadro 2.1, a seguir, mostra um resumo das
diferenças entre as diferentes abordagens da competitividade apresentadas anteriormente.
Quadro 2.1 – Diferentes abordagens da competitividade das empresas
Abordagens Tradicionais
Baseada na eficiência
Baseada na eficácia/efetividade
Fatores
Otimização da produção:
aumento da
produtividade, qualidade
do processo, redução de
perdas etc.
Fatores
Desempenho, participação no
mercado, satisfação dos clientes,
qualidade no produto etc.
Indicadores
Preço, custo, coeficientes
técnicos, parâmetros de
produtividade dos fatores
da indústria internacional.
Indicadores
Lucratividade, volume das vendas,
exportações, mercado compartilhado,
número de contratos firmados ou
concorrências vencidas etc.
Foco Estratégico
Engenharia e Processos
Produtivos
Foco Estratégico
Gestão e Marketing
Abordagem Dinâmica
Baseada no comportamento da
firma
Fatores
Estrutura produtiva;
Padrão de concorrência;
Economias de escala e de escopo;
Competências específicas;
Experiências passadas;
Perspectiva quanto ao ambiente.
Indicadores
Conjugados (preço, custos,
produtividade, lucratividade,
volume de vendas, mercado
compartilhado etc.)
Foco Estratégico
Nas capacidades e no processo de
formação e tomada de decisão
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 17
Uma abordagem dinâmica procura caracterizar e formalizar o ambiente competitivo
da firma através de uma avaliação mais sistêmica e comportamental. Assim, as causas do
sucesso das firmas seriam mais abrangentes, porém específicas ao meio ambiente onde a
empresa surge e se desenvolve.
Várias vertentes do campo da administração corporativa procuram explorar tais
questões pelo ponto de vista da firma, através de conceitos como “estratégias
competitivas” (PORTER, 1989; BARNETT & BURGELMAN, 1996), competências
essenciais (PRAHALAD & HAMEL, 1990), capacidades dinâmicas (TEECE & PISANO,
1994), e ativos invisíveis (ITAMI, 1994).
2.3 Determinantes da competitividade
Segundo Porter (1988), a competitividade das empresas é específica a cada setor
industrial, e dessa forma, é determinada por seus elementos estruturais, os quais
compreendem os fornecedores, os compradores, os concorrentes atuais e os concorrentes
potenciais. Tais elementos influenciam diretamente o posicionamento das empresas no
setor (indústria), podendo ser caracterizados através de cinco forças principais que
pressionam as empresas, que foram definidas da seguinte forma:
1. O poder de negociação dos fornecedores;
2. O poder de negociação dos compradores;
3. A ameaça de produtos substitutos;
4. A ameaça dos novos entrantes;
5. A intensidade da concorrência e rivalidade no setor.
Assim, tal abordagem ficou conhecida na literatura como o“modelo das 5 forças de
Porter”. O Quadro 2.2 mostra alguns fatores de análise em cada uma dessas forças.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 18
Quadro 2.2 - Forças e fatores da competitividade empresarial
Força
Rivalidade e
concorrência
O poder do comprador
A ameaça de
substituição
Fatores de análise
Custos fixos (ou de armazenamento)/valor agregado; Diferenciação de
produtos; Concentração; Poder da marca; Custos de mudança; Regulação;
Complexidade das informações.
Alavancagem de negociação
Concentração
de
compradores
versus concentração de empresas;
Volume do comprador;
Custos de mudança do comprador
em relação aos custos mudança na
empresa
Sensibilidade ao preço
Preço/ compras totais
Diferenças nos produtos
Identidade da marca
Lucros do comprador
Impacto na qualidade
Impacto no desempenho
Custos de mudança; Desempenho relativo; Preços;
Diferenciação; Flexibilidade; Condições de entrega.
Qualidade;
O poder do fornecedor
Diferenciação; Custos de mudança; Concentração; Volume-preço;
Integração para frente e para trás; Custos relativos às compras totais.
As barreiras à entrada
no negócio
Economias de escala; Diferenciação; Identidade da marca; Custos de
mudança; Capital exigido; Acesso à distribuição; Disponibilidade de
insumos; Política governamental; Retaliação.
Fonte: Porter (1988)
Porter (op.cit.), destaca que a análise da competitividade deve ser baseada nos
fatores que levam à sua sustentação. Portanto, na sua visão, a análise competitiva deve
focar principalmente a cadeia de valores, onde estaria a verdadeira essência da vantagem
competitiva da empresa.
Ampliando o contexto empresarial/setorial da esfera nacional para a esfera
internacional, Porter (1989) liderou um estudo para levantar informações e responder
porque algumas nações obtêm mais sucesso no comércio internacional que outras.
De acordo com este estudo, consolidado no livro “A Vantagem Competitiva das
Nações”, Porter (1989), sustenta que há quatro conjuntos interdependentes de atributos de
uma nação que influenciam e determinam mutuamente o ambiente que habilita as firmas a
alcançarem sucesso na competição internacional.
Tais conjuntos de atributos constituem o denominado modelo “Diamante de
Porter”, os quais podem ser assim descritos: 1. Condições de fatores: tais como a
disponibilidade de pessoal qualificado e infra-estrutura; 2. Condições de demanda para
bens e serviços da indústria; 3. Indústrias auxiliares e correlatas, incluindo a presença de
fornecedores competitivos; 4. Estratégia das firmas, estrutura e rivalidade. A seguir é feita
uma breve síntese deste modelo:
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 19
1. Condições de Fatores (insumos): Contrariamente ao que se tradicionalmente
pregava, simplesmente possuir uma força de trabalho qualificada ou bem educada,
na moderna competição internacional, não representa vantagem competitiva.
Vantagens são sustentadas por fatores altamente específicos às necessidades de
uma indústria em particular (como, por exemplo, institutos de pesquisa, grupos de
capital de risco específicos em algumas áreas). Para serem criados, tais fatores
requerem investimento continuado, pois são mais escassos e mais difíceis de serem
copiados pelos competidores. Por isso são estratégicos.
Nesse sentido, eventuais desvantagens não necessariamente são prejudiciais, pois
podem prover estímulos para o desenvolvimento da competitividade. Se matériasprimas baratas ou o trabalho são disponíveis em abundância, há uma tentação em se
basear somente nestas “vantagens” iniciais e uma tendência em utilizá-las de forma
ineficiente. Por outro lado, certas desvantagens (preços relativos altos, trabalho
escasso, matérias-primas escassas) podem ser um desafio para a busca de soluções
próprias criativas e inovadoras, as quais são difíceis de imitar. Isto, evidentemente,
quando impulsos positivos são gerados por outros fatores ou sofrem estímulos do
ambiente (PORTER, 1990: 78).
2. Condições de demanda: Quanto maior a demanda de clientes em uma economia,
maiores serão as pressões sobre os preços e os produtos. Assim, as firmas são
forçadas a constantemente buscar um melhor balanceamento entre os fatores
característicos dessa demanda, melhorando sua competitividade, via produtos
inovadores, alta qualidade, melhores preços, confiabilidade, flexibilidade etc.
3. A existência ou falta de indústrias auxiliares e vinculadas (Condições de suporte):
A proximidade espacial à jusante e à montante da cadeia industrial facilita o
intercâmbio de idéias e inovações. Por isso a importância dos clusters. Porter
refere-se, entre outros, ao caso dos distritos industriais na Itália, considerando suas
especificidades e vantagens proporcionadas a empresas instaladas nesses
ambientes. Segundo o autor, indústrias à jusante, em nenhum caso, deveriam ser
protegidas da competição internacional, pois quando certas indústrias fornecedoras
de insumos não existem, ou não os produzem em condições competitivas (baixa
qualidade, preços altos, capacidade etc), tais recursos poderiam ser obtidos no
mercado mundial.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 20
4. Estratégias dos negócios e estrutura e rivalidade (Condições de concorrência):
Porter nota que apesar de todas as diferenças e peculiaridades nacionais, uma
característica compartilhada por economias competitivas internacionalmente é a
forte competição entre as firmas nacionais. De forma estática, os “campeões
nacionais” podem desfrutar de vantagens de escala, mas o mundo real é dominado
por condições dinâmicas, e é a competição direta que impele firmas a trabalhar para
aumentar sua produtividade e melhorar seus produtos e serviços. Neste ponto, a
competição anônima freqüentemente leva a rivalidades e feudos concretos, em
particular quando os competidores são concentrados espacialmente. “Quanto mais
localizada, mais intensa é a rivalidade. E quanto mais intensa, melhor”. (PORTER,
1990: 83). Como resultado deste processo, há uma perda de importância das
vantagens locacionais estáticas, levando as firmas a desenvolverem vantagens
dinâmicas.
Este último ponto indica que os quatro atributos do diamante não atuam
isoladamente, mas sim de forma sinérgica, podendo intensificar-se reciprocamente.
Firmas que operam sob regime de forte competição, pressionam instituições de
suporte (Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento e Instituições de treinamento e
aperfeiçoamento) com demandas mais específicas e objetivos mais concretos. Esta
intensificação recíproca é identificada particularmente em clusters, onde competem
firmas, fornecedores e instituições de suporte.
O primeiro conjunto de atributos (condições de fatores) captura os conceitos
neoclássicos de recursos físicos, recurso humanos e capital, além de envolver novos
elementos, como os recursos de conhecimento e infra-estrutura. As condições de demanda
refletem as condições do mercado doméstico para produtos e serviços, enfatizando
especialmente o papel de compradores sofisticados e exigentes, que pressionam as firmas a
melhorar a qualidade de seus produtos e serviços. O terceiro conjunto destaca a
importância da formação de clusters, os quais, em sendo competitivos internacionalmente,
transmitem e disseminam através de suas inter-relações, os padrões em nível global para as
firmas correlatas e auxiliares. O quarto fator inclui aspectos legais, culturais e
institucionais que determinam e condicionam as estratégias, estruturas e padrões de
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 21
concorrência, que habilitam as firmas a serem bem sucedidas em explorar oportunidades e
competir no mercado global (MEYER-STAMER, 1997).
Paralelamente, eventos fortuitos (acasos) e ações do governo também são
considerados como variáveis adicionais. Estes eventos incluem invenções, conflitos
armados e guerras, e outras causas que provocam mudanças inesperadas na demanda
externa. Políticas governamentais, regulações, investimentos e o volume de compras pelo
poder público, condicionam fortemente a vantagem competitiva internacional de certas
indústrias e setores (como, por exemplo, pecuária, agroindústria, militar, farmacêuticos,
materiais esportivos e produtos hospitalares).
Segundo Porter (1990), estes conjuntos de atributos (que formam o diamante),
“individualmente e como um sistema, é que criam o contexto no qual as firmas de uma
nação nascem e competem”. Porém, a condição fundamental para a competitividade, entre
todas, é a pressão que estes determinantes exercem sobre as firmas, levando-as a investir e
inovar. O Quadro 2.3 mostra um resumo geral do pensamento porteriano sobre a
competitividade.
O mercado compartilhado de uma indústria no mercado mundial e no mercado
doméstico são os principais indicadores com os quais Porter (1989) baseia sua análise da
competitividade. Entretanto, tais medidas são colhidas ex post, sendo a existência de algum
mercado compartilhado, por mínimo que seja, o único elemento qualitativo considerado
para qualificar um cluster como “competitivo”. Este é um dos pontos criticados no modelo
Diamante. Outra crítica feita a tal modelo é relativa a sua não aplicabilidade às
características de certas regiões e países (ver, por exemplo, GRANT, 1991; RUGMAN,
1991; SPRING, 1992),
Apesar das críticas, o modelo Diamante de Porter vem exercendo uma forte
influência nas políticas de desenvolvimento regional e local, em várias partes do mundo
(ver, por exemplo, COUTINHO & FERRAZ, 1995; HEALEY & DUNHAM, 1994) e tem
sido amplamente utilizado para análise da competitividade de clusters setoriais, inclusive
no Brasil (ver ZAMITH & SANTOS, 1999).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 22
Quadro 2.3 – A visão de Porter sobre a competitividade
“Nenhuma nação pode ser competitiva (e exportadora) em tudo e ao mesmo tempo” (1989: 7).
“Porque as empresas de certas nações conseguem a liderança em determinados setores/indústrias?” (1989:
17).
“Ao invés de simplesmente maximizar uma função sob certas restrições, a questão é como as empresas
podem obter vantagens competitivas quando mudam as restrições.” (em explícita crítica à teoria neoclássica)
(1989: 21).
“Empresas bem sucedidas estão freqüentemente concentradas em certas regiões ou certas cidades, dentro do
país” (1989: 29).
“Algo nestas locações provê um ambiente fértil para empresas nestes locais, para certas indústrias ou setores”
(1989: 29).
“O papel do governo é impulsionar e estimular sua indústria a avançar, e não protegê-la da competição”
(1989: 30).
“As nações tendem a ser competitivas em atividades nas quais são admiradas ou se destacam, das quais
surgem campeões” (1989: 115).
“A concorrência doméstica não somente cria pressões sobre as empresas para melhorias e inovações, mas
também contribui para que elas possam alcançar e até superar os concorrentes internacionais” (1989: 119).
“A concentração geográfica de concorrentes em uma localidade ou região reflete e acentua os benefícios
desta aglomeração. Este fenômeno é percebido no mundo inteiro” (1989:120).
“Em tais ambientes, um simples restaurante se torna ponto de encontro e troca de informações e referências
de várias empresas. As informações fluem com enorme velocidade” (1989: 121).
“Isto não é restrito ao campo dos negócios, é um processo social que se reflete nas artes, nas ciências e nos
esportes” (1989: 121).
“A prosperidade nacional é criada, não herdada. Isto não surge dos recursos naturais de um país, da sua força
de trabalho, de suas taxas de juros, ou do valor de sua moeda, como os economistas clássicos supunham”
(1990: 73).
“A competitividade de uma nação depende da capacidade de sua indústria em inovar e se modernizar. E as
empresas ganham vantagem sobre seus competidores internacionais devido às pressões e aos desafios aos
quais são expostas. Elas se beneficiam quando têm rivais domésticos fortes e uma base local (nacional) de
fornecedores agressivos e consumidores exigentes” (em referência implícita à teoria evolucionária) (1990:
73).
“Em um mundo de competição crescente, as nações tendem a se tornar mais, e não menos importantes. Como
as mudanças nas bases da competição, e o foco cada vez maior na criação e assimilação de conhecimento, o
papel das nações tem crescido em importância” (1990: 73).
“A vantagem competitiva é criada e sustentada através de um processo altamente localizado. Diferenças
nacionais em valores, culturas, estruturas econômicas, instituições e histórias contribuem para o sucesso
competitivo” (crítica implícita aos preceitos neoclássicos) (1990: 73).
“Há impressionantes diferenças setoriais nos padrões de competitividade em cada país e nenhuma nação será
competitiva em todos eles ou na maioria deles. Ultimamente, as nações têm sucesso em certos setores pelo
fato de seu ambiente doméstico ser mais audacioso, dinâmico e desafiador” (1990: 73).
Fonte: Porter (1989; 1990).
Porter (1989: 543-73) também propõe um modelo de desenvolvimento econômico,
a partir de quatro estágios: 1) Desenvolvimento direcionado a fatores, privilegiando meios
de produção tradicionais (recursos naturais, capital e trabalho), ao invés dos mais
avançados; 2) Desenvolvimento direcionado ao investimento, quando os recursos
financeiros melhoram as condições de fatores e a utilização de tecnologia, mas não na sua
melhoria; 3) desenvolvimento direcionado à inovação, quando firmas criam novas
tecnologias e competem globalmente; 4) desenvolvimento direcionado à riqueza, que em
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 23
última instância, leva ao declínio, pois a atenção é desviada da estratégia de aumentar a
vantagem para, meramente, preservá-la.
Essa proposta também recebeu uma série de críticas, especialmente por ser estática
e genérica. Narula (1993), por exemplo, afirma que, para uma análise mais consistente,
seria necessário se incorporar nessa abordagem, entre outros fatores, a capacidade de
acumulação de capital no decorrer do tempo. Outros autores (entre os quais, os já citados
anteriormente) simplesmente desqualificam tal proposta sob a argumentação de falta de
sustentação teórica.
2.3.1 Análise da competitividade empresarial
Para fins metodológicos, de um modo geral, pode-se dividir a análise da
competitividade em duas etapas distintas, aqui denominadas de Análise Ambiental e
Padrão de Concorrência Setorial. Estas etapas são apresentadas a seguir.
2.3.1.1 Análise ambiental
Segundo Marcovitch (1993), a competitividade empresarial se apresenta em três
níveis diferentes e inter-relacionados:
! Um nível central, onde está a eficiência interna da empresa, na combinação de
recursos para produzir bens e serviços de elevada qualidade e baixos custos,
colocando-os no mercado de acordo com algum critério de segmentação;
! Um segundo nível, configurado pela estrutura setorial, que estabelece as
características básicas da concorrência específicas aquele mercado, no qual são
medidas forças entre fornecedores e clientes, ameaças e oportunidades setoriais
determinantes da competitividade da empresa;
! Um terceiro e último nível, no qual encontram-se as condições gerais de produção e
o ambiente macroeconômico.
O
autor
acrescenta
que,
embora
a
competitividade
seja
determinada,
primordialmente, pela eficiência da empresa, as nações têm um papel fundamental neste
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 24
processo, através de investimentos em infra-estrutura energética, de transportes e
telecomunicações, na educação e suporte à pesquisa, legislação fiscal e trabalhista.
Assim, os três níveis anteriormente apresentados podem ser caracterizados em
termos da análise da competitividade, da seguinte forma:
! Competitividade Empresarial – refere-se à capacidade das empresas em sustentar
em termos mundiais padrões elevados de eficiência na utilização de recursos e
qualidade de bens e serviços oferecidos. Uma empresa competitiva deve ser capaz
de projetar, produzir e comercializar produtos com preços e qualidade melhores que
os concorrentes.
! Competitividade Setorial – reflete a capacidade de setores econômicos em gerar as
bases de criação e desenvolvimento de vantagens que sustentem uma posição
competitiva internacional. Pode ser medida, simultaneamente, pelo potencial que
um setor econômico oferece oportunidade de crescimento e retornos sobre os
investimentos atrativos para suas empresas.
! Competitividade Estrutural – é fruto das condições econômicas gerais de um país
que determinam a capacidade das empresas em incrementar e sustentar sua
participação no mercado mundial, enquanto, simultaneamente, permite um aumento
do nível de vida da população e estimula o aumento da eficiência empresarial.
Marcovitch, (op.cit.) afirma que a medida da competitividade internacional mais
relevante é o mercado compartilhado, através de uma participação ativa e estável da
empresa no comércio mundial de bens e serviços. Esta, portanto, deriva da habilidade de
seus dirigentes em administrar a interação entre os três níveis descritos de competitividade
e proporcionar condições, no mínimo, compatíveis às dos concorrentes externos,
proporcionando bases sustentáveis de competição.
De forma semelhante, Coutinho e Ferraz (1995) e Ferraz et al. (1997), diferenciam
três níveis de fatores determinantes da competitividade, considerando o nível setorial
dentro do estrutural. A Figura 2.3 mostra uma ilustração dos níveis e fatores de análise da
competitividade.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 25
Fatores
Sistêmicos
Fatores
Organizacionais
Macroeconômicos
Estratégia e Gestão
Fatores Estruturais (Setoriais)
Internacionais
Sociais
Capacitação para
inovar
Mercado
Indústria
Concorrência
Tecnológicos
Infra-estruturais
Capacidade
Produtiva
Recursos Humanos
S
e
t
o
r
e
s
Fiscais
Financeiros
Políticos
Institucionais
Figura 2.3 – Níveis de análise da competitividade empresarial
(Marcovitch, 1993; Coutinho & Ferraz, 1995)
Segundo Ferraz et al. (1997), a unidade básica de análise da competitividade deve
ser a empresa, pois constitui o núcleo de planejamento e organização da atividade de
produção. Este núcleo, por sua vez, é estruturado em distintas áreas de competência. Na
obra supra citada, os autores defendem que a análise da competitividade deve compreender
quatro áreas principais que sustentam a competência empresarial: produção, gestão,
inovação e recursos humanos (Quadro 2.4). Estas áreas podem ser definidas da seguinte
forma:
! Atividades de Produção – representam o arsenal de recursos manipulados no
processo de manufatura propriamente dito, incluindo equipamentos e instalações, e
os métodos de organização e controle da qualidade.
! Atividades de Gestão – compreendem as tarefas de administração típicas, o
planejamento estratégico, métodos de tomada de decisão, análise financeira e de
marketing e o relacionamento com clientes e fornecedores.
! Atividades de Inovação – referem-se aos esforços de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) de processos e produtos tanto internos quanto externamente à empresa e a
transferência (absorção) de tecnologia (licenciamentos, intercâmbios etc.).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 26
! Recursos Humanos – contemplam o conjunto de condições que caracterizam as
relações de trabalho, envolvendo os diversos aspectos que influenciam a
produtividade, qualificação e flexibilidade da mão-de-obra.
Quadro 2.4 - Atividades de sustentação da competitividade empresarial
Produção
Gestão
RH
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
Capacidade
Atualização
Eficiência
Qualidade
Marketing
Relações
interpessoais
! Finanças
! Administração
! Planejamento
Fonte: Ferraz et al., 1997.
Inovação
Produtividade
Qualificação
Flexibilidade
Confiabilidade
!
!
!
!
Produto
Processo
Organização
Adaptação
O nível de capacitação que cada empresa é formado por um processo de
acumulação, variável com o tempo. Segundo Ferraz et. al. (1997), o desempenho da
empresa é, em larga escala, determinado pelas capacitações acumuladas em cada uma das
áreas anteriormente descritas, no decorrer do seu ciclo de vida.
Neste ponto de vista, as empresas competitivas seriam simplesmente aquelas de
maior capacitação, tal como sugere a abordagem ex ante da competitividade, ou seja, a
competitividade potencial. Contudo, esta é uma visão que pode induzir a equívocos, pois a
formação deste “estoque de competências” não é homogênea nem simétrica em todas as
áreas de atividades da organização, o que representa um caráter idiossincrático de cada
empresa, influenciado por mudanças no ambiente.
As novas capacitações incorporadas resultam de esforços de acordo com as
prioridades e caminhos definidos pela empresa. Esta, para implementá-los, de acordo com
o estoque de informações e competências acumuladas e dos recursos financeiros
disponíveis, geralmente escassos, toma decisões envolvendo certa racionalidade. A
natureza e intensidade dos gastos efetivamente realizados dependem das informações
disponíveis no momento e de escolhas feitas pelos decisores em momentos anteriores, o
que resultam nas estratégias competitivas adotadas pelas empresas (KUPFER, 1992).
O conjunto de fatores determinantes da competitividade extrapola o nível da firma,
da estrutura da indústria e do mercado e do sistema produtivo como um todo, englobando
as externalidades que afetam as empresas.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 27
Neste ponto, o conceito de competitividade empresarial/industrial passa a se
vincular ao conceito de competitividade local e regional.
2.3.1.2 Análise do padrão de concorrência setorial
A competição entre empresas se apresenta de diferentes formas, envolvendo preço,
qualidade, flexibilidade, confiabilidade na entrega, diferenciação de produtos etc., porém,
em cada mercado/setor há uma certa predominância de fatores críticos de sucesso
específicos, que prevalecem frente aos demais. Este grupo de fatores predominantes da
competição em cada mercado constitui o “padrão de concorrência setorial”, que molda e
condiciona o processo decisório e as estratégias competitivas empresariais (FERRAZ et
al., 1997).
Os padrões de concorrência são influenciados pelas características estruturais e
comportamentais do ambiente competitivo, tanto as relativas à cadeia produtiva, ao setor
ou ao mercado (complementaridades tecnológicas, barreiras tarifárias e não-tarifárias,
barreiras à entrada e à saída, políticas de incentivo à exportação etc.) como aquelas
referentes ao próprio sistema econômico (infra-estrutura, recursos financeiros e humanos,
leis e regulação, taxa de juros etc.). Ferraz et al. (1997: 44) apresentam uma tipologia da
variação de alguns padrões de concorrência e seus respectivos fatores determinantes da
competitividade para grandes setores industriais (commodities, bens duráveis, bens
tradicionais e difusores).
A Figura 2.4 ilustra as relações entre padrões de concorrência e estratégia
competitiva de duas firmas de uma determinada indústria, levando-se em consideração
suas variações no decorrer do tempo tn (no caso, t1 e t2).
Na Figura 2.4, as Firmas 1 e 2 competem em um mesmo mercado. Em t1, as
estratégias adotadas são constantemente reavaliadas de acordo com seus respectivos
desempenhos (Dt1), as influências sofridas das condições presente e futura do ambiente
econômico (Economia) e da estrutura do setor (Indústria), sempre tomando como
parâmetro as estratégias do concorrente. As estratégias adotadas em t1, por sua vez,
condicionam as capacitações de ambas no futuro (Ct2), se refletindo imediatamente em
novos posicionamentos estratégicos (Et2) e novos desempenhos (Dt2). A generalização
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 28
deste ciclo, forma o que se chama de “padrão de concorrência setorial”, específico a cada
Indústria4.
Economia
Economia
D
Firma 1
E
C
Firma 1
Indústria
E
C
Indústria
D
Firma 2
D
E
C
D
Firma 2
t1
E
C
t2
C – Capacitação; E – Estratégia; D - Desempenho
Figura 2.4 – Padrão de concorrência setorial
(inspirada em Kupfer, 1992; Marcovitch, 1993; Ferraz et al., 1997).
De acordo com o conceito anterior, a competitividade seria uma função de
adequação das estratégias próprias de cada firma ao padrão de concorrência característico
4
Esta abordagem é uma variante do modelo tradicional estrutura-conduta-desempenho da Organização
Industrial (OI). Por tal abordagem, o desempenho das firmas seria função das estratégias (conduta) que por
sua vez dependeriam da estrutura da indústria. Essa visão é fortemente baseada em princípios neoclássicos
pelos quais, o objetivo fundamental da firma seria a maximização dos lucros. Através da substituição dos
conceitos de “estrutura” da indústria por “capacitação” e “conduta” por “estratégia”, os autores procuram
ampliar tal abordagem, incorporando ao modelo original os feedbacks e aspectos dinâmicos do ambiente.
Dessa forma, tais fatores passam a ser vistos assim, também como fontes de mudanças na estrutura da
indústria, e não apenas como efeitos da estrutura, conforme a visão tradicional da OI (a esse respeito, ver, por
exemplo, Porter, 1981; Schmalensee & Willig, 1988; Chandler, 1990; Scherer & Ross, 1990; von
Tuzelmann, 1995; Vasconcellos & Cyrino, 2000).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 29
de cada mercado, definido a partir das interações entre a estrutura econômica específica ao
setor (sub-setores) e os principais atributos da concorrência naquela estrutura. Tais
atributos são, em grande parte, idiossincráticos e variantes no tempo (KUPFER, 1992).
Como afirmam Ferraz et al. (1997), a competitividade não é uma característica
intrínseca a um produto, firma ou país, apesar de se sustentar em componentes destes. A
riqueza desse conceito reside na sua percepção como um fenômeno que extrapola e
permeia a âmbito da firma, da indústria e do mercado, estando condicionada pelo padrão
de concorrência específico vigente no “espaço econômico”5. Portanto, a competitividade é
determinada e dependente do padrão de concorrência, que por sua vez, sofre reflexos de
certas características locais e regionais.
Evidentemente, pode-se supor que o ambiente setorial não ocorre de forma idêntica
em todas as regiões. Principalmente em países como o Brasil, de grande diversidade
regional, fatores específicos a cada região, e à dinâmica local, também influenciam e
condicionam o comportamento das firmas e formam “padrões” de concorrência
específicos, como cultura, tradição, cooperação, políticas públicas, instituições de apoio
etc. (ver, por exemplo, MASKELL et al., 1998). Porém, este aspecto não é mencionado
pelos autores citados anteriormente, e supõe-se, que esta linha de pesquisa venha a merecer
maior atenção de pesquisadores no futuro próximo.
Uma linha importante na abordagem da competitividade tem sido a crescente
ênfase no conceito de “dependência da trajetória”, o qual se refere à importância de
eventos históricos e de fatores idiossincráticos que restringem ou condicionam o conjunto
de opções para a tomada de decisão e para o desenvolvimento futuro tanto para firmas,
regiões e países. Nesse sentido, tais fenômenos implicam na necessidade de políticas
públicas além daquelas tradicionalmente implementadas e abordagens compatíveis com a
dinâmica competitiva específica de cada contexto.
Enquanto uma maior competitividade de firmas irá refletir uma administração bem
sucedida por empreendedores e executivos, paralelamente também contribuirá para uma
tendência de longo prazo de fortalecimento e aumento na eficiência da estrutura produtiva
5
Termo cunhado pelo economista francês François Perroux, famoso pelo seu trabalho sobre “pólos de
desenvolvimento”, adotado para designar ambientes, não delimitados territorialmente, onde surgem e se
estabelecem as relações de mercado do sistema econômico considerado. Ver, por exemplo, Perroux (1977).
Na seção 2.5 discorre-se brevemente sobre essa e outras abordagens do desenvolvimento econômico
regional/local.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 30
nacional, em sua infra-estrutura técnica e outras externalidades com as quais as firmas se
sustentam.
Enfim, pode-se afirmar que a análise da competitividade deve incluir tanto o
contexto interno à firma como os diversos níveis do contexto econômico como as
estratégias da empresa para enfrentar as variações desse contexto. Nesse sentido é
fundamental identificar fatores relevantes para o sucesso competitivo, os quais variam de
acordo com um certo padrão da estrutura concorrencial e da dinâmica de mudança
organizacional e tecnológica específicos a cada setor e região. A dinâmica do tipo de
arranjo produtivo6 (aglomerado, cluster, cadeia, rede etc) e fatores regionais e locais
específicos podem afetar o desempenho dos negócios e não devem ser negligenciados na
análise (ver, por exemplo, CASAROTTO FILHO & PIRES, 1998; AMATO NETO, 2000).
2.4 Competitividade empresarial x “competitividade regional”
A simples analogia entre firmas e nações quanto à competitividade é fortemente
criticada por uma série de autores. A divergência principal é que, no caso da análise da
competitividade de países, os critérios de avaliação devem ser mais abrangentes, de prazo
mais longo e com maior ênfase em fatores ambientais, sociais, de infra-estrutura e de
condições de vida da população.
Alguns autores têm ressaltado as diferenças de objetivos e propósitos entre
empresas e organizações comerciais e países e regiões (CLARK et al., 1995; MALECKI,
1997; MASKEL et al., 1998). No caso de uma nação, é de fundamental importância a
inclusão de indicadores do nível de renda, do uso de fontes renováveis de energia e do
padrão de vida da população, entre outros. Entretanto, a forma de mensuração e a escala de
padrões para estes indicadores, permanecem como uma janela de pesquisa.
6
Neste trabalho adota-se uma distinção entre o conceito de “aglomerado” e o conceito tradicional de cluster,
devido a fato deste último considerar a existência de uma certa dinâmica cooperativa e de fluxo de
informação que sustentam e impulsionam sua competitividade através de externalidades e acentuadas
“economias de aglomeração” (Schmitz, 1992), o que não é observado no primeiro. Diferentemente de um
cluster, o termo “aglomerado” aqui deve ser entendido apenas como uma concentração espacial de atividades
de manufatura, que baseadas em processos produtivos semelhantes, operam com uma certa fragmentação
entre si. No entanto, admite-se que seria a base para um futuro cluster. Para uma visão detalhada da dinâmica
de clusters em países em desenvolvimento, ver o importante trabalho de Bell & Albu (1999).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 31
O Quadro 2.5 mostra uma evolução cronológica e conceitual do termo
“competitividade”.
Quadro 2.5 – Variações do conceito de competitividade
Definição
A habilidade de criar as precondições para maiores salários.
Fonte
Uri (1971, apud
Aiginger, 1998).
A capacidade de um setor de “satisfazer as demandas dos consumidores domésticos, Singh
(1977:128,
mas também de vender produtos externamente para pagar pelos insumos importados apud
Aiginger,
requeridos pela nação, mantendo níveis aceitáveis de produção, emprego e taxa de 1998).
intercâmbio”.
“A habilidade para vender”.
Orlowski (1982:70)
“A habilidade de uma nação em produzir e distribuir bens e serviços na economia
internacional..., de modo que também aumente o padrão de vida da população”.
“Uma empresa é competitiva quando pode produzir bens e serviços de qualidade
superior, ou a custos mais baixos, que seus concorrentes domésticos e
internacionais”.
“O grau com o qual uma nação pode, sob condições de mercado livre e legal,
produzir bens e serviços, passar pelo teste do mercado internacional, enquanto
simultaneamente, no longo prazo, mantém e expande o nível de renda real de sua
população”.
“A habilidade de um país executar metas da política econômica, especialmente o
crescimento do emprego e da renda, sem enfrentar dificuldades em sua balança de
pagamentos”.
“O único conceito significativo de competitividade para uma nação é sua
produtividade”.
“Produzir bens e serviços capazes de concorrer internacionalmente, enquanto
simultaneamente mantém e expande a renda real da população doméstica”.
“... é uma palavra sem sentido quando aplicada a economias nacionais”.
“A capacidade da empresa em formular e implementar estratégias concorrenciais
capazes de ampliar ou manter uma posição sustentável no mercado”.
A habilidade de empresas, indústrias, regiões, nações e blocos econômicos, em uma
economia aberta, de proporcionar altos e sustentáveis níveis de emprego e de renda a
população.
Scott
&
(1985: 15).
CIC (1985).
Lodge
CIC (1985).
Fagerberg
355).
(1988:
Porter (1989: 6).
OCDE/TEP (1992:
237).
Krugman (1994).
Ferraz et al. (1997:
3).
Maskel et al. (1998).
Na literatura relativa à competitividade de países e regiões, de forma geral, duas
correntes distintas podem ser observadas: Uma, (i) formada por autores que negam
veementemente a importância do conceito de competitividade para países (com destaque
para PORTER e KRUGMAN); outra, (ii) composta por aqueles que apontam a necessidade
de se incorporar novos requisitos e fatores para sua utilização para regiões e países (como,
por exemplo, CHESNAIS, MASKELL, MEYER-STAMER, REINERT).
Suntum (1986), um dos adeptos da primeira corrente, contesta a aplicação do termo
“competitividade” para nações, especificamente, devido ao fato de vivermos em um
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 32
mundo de regimes cambiais flexíveis, e, por isso, déficits na balança comercial de um país
nem sempre resultam em queda geral no nível de renda da população.
Aiginger (1998), defende que simplesmente seja assumido que algumas firmas e
nações são competitivas e outras não. Este é um ponto de conflito conceitual, pois sendo
assim, uma firma ou nação de desempenho mediano seria, por definição, não competitiva.
Essa visão do conceito de competitividade refletiria a natureza de um “jogo de soma zero”
do comércio internacional.
Porter (1989), compartilha da opinião de que o termo competitividade de uma
nação não faz sentido, enfatizando que é improvável que um país seja “competitivo em
todas as indústrias”, e defende que são os clusters industriais, fortes nacionalmente, que
competem externamente com arranjos similares de outras nações.
Segundo Porter (op.cit.), a busca por uma explicação convincente para a
prosperidade de uma nação e de uma firma deve necessariamente começar por fazer a
pergunta correta, e propõe que se deve abandonar a noção de que a expressão “nação
competitiva” seja equivalente à prosperidade econômica. O propósito de uma nação é
proporcionar um padrão de vida alto e crescente para seus cidadãos. Isto implica que a
habilidade para tornar isto realidade não depende da noção amorfa de competitividade, mas
da produtividade com a qual os recursos de uma nação são empregados (PORTER, 1989).
“O único conceito significante de competitividade em nível nacional é a produtividade”
(op.cit.:6).
Krugman (1994), também contesta (de forma mais radical) a utilização do termo
competitividade de nações com o mesmo sentido da esfera empresarial. Segundo tal autor,
atribuir a falta de competitividade internacional aos “males econômicos” é uma
conveniente cortina-de-fumaça atrás da qual, freqüentemente, os políticos se escondem
para evitar enfrentar os problemas reais, com receio da queda de seus índices de
popularidade: “A idéia de que a riqueza dos países é, em grande parte, determinada pelo
seu sucesso no mercado mundial é uma hipótese, não uma verdade inquestionável” (op.cit.:
7)
No caso de países, um outro problema de implementação do conceito de
competitividade é que certos indicadores são considerados em algumas metodologias como
positivos e, em outras, como negativos (por exemplo, as exportações). Aiginger (1998) cita
um caso exemplar: (i) quando um país é forçado a aumentar seu comércio exterior para
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 33
pagar juros de sua dívida externa, os investidores internacionais podem refutar em
emprestar mais dinheiro devido aos riscos de crédito. Neste caso, o maior fluxo seria um
sinal de fraqueza. Por outro lado, (ii) quando um país apresenta déficit público reduzido,
transmite maior credibilidade, e, conseqüentemente, sofre menor resistência em obter
empréstimos e financiamentos externos. Dessa forma, haveria uma propensão em adquirir
maior volume de bens importados e, uma tendência a apresentar maior déficit na balança
comercial (KRUGMAN, 1994; AIGINGER, 1998). Contudo, considerar o país da primeira
situação como altamente competitivo não seria coerente, nem rotular o segundo como um
caso de “perda de competitividade”.
A noção de que uma nação é “como uma grande corporação competindo no
mercado mundial” tem sido adotada com uma certa displicência atualmente. Essa visão
defende que os problemas econômicos que os países enfrentam surgem, essencialmente,
em um contexto de “corrida por mercados externos”. O que é uma proposição tendenciosa
e questionável.
A princípio, poderia parecer razoável admitir uma analogia entre uma nação (como
o Brasil ou os EUA), e uma grande empresa (como a Embraer ou a GM), no mercado
global. Entretanto, caracterizar e medir a “competitividade” de uma nação é muito mais
complexo do que definir e identificar as vantagens competitivas de uma empresa. “[...] os
países não competem como empresas, eles não vão à bancarrota e o comércio internacional
não é um jogo de soma zero”. “[...] pois o mundo não é tão interdependente quanto se faz
supor” (KRUGMAN, 1994:17).
Uma economia com grande mercado interno (como EUA, China, Índia e o Brasil),
vende grande parte de sua produção internamente. Uma grande corporação (como por
exemplo, a GE, nos EUA, ou a Petrobrás no Brasil, ou similares), dificilmente terá um
volume significante de mercado entre os seus próprios funcionários, mesmo que seja uma
megacorporação.
Nesse aspecto, a função e o propósito de uma organização comercial são bem
definidos: se uma empresa não pode pagar seus funcionários, fornecedores e seus
acionistas, ela inevitavelmente irá à falência e será forçada a “sair do negócio”. Então,
poder-se-ia supor que uma empresa não é competitiva quando sua posição no mercado é
insustentável. Se ela não melhorar seu desempenho, deixará de existir.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 34
Por outro lado, países podem ir bem ou mal em seu desempenho econômico, mas
não têm uma “linha final”. Países não têm a alternativa de “sair do negócio”.
Conseqüentemente, o conceito de competitividade é vago e por isso não há simetria entre a
competitividade de corporações e a de países ou regiões. Neste sentido, o termo não
admitiria equivalência. “O comércio entre o Japão e o EUA não é equivalente à
competição entre a Pepsi e a Coca-Cola, pois apesar de eventualmente uma ou outra
companhia perder mercado, nas disputas internacionais, ambas podem sair vencedoras
através das dinâmicas das vantagens comparativas” (KRUGMAN, 1994:7).
Dessa forma, assim como para a competitividade empresarial, há uma necessidade
de se definir também a competitividade de uma nação não apenas através de uma medida
de performance, mas também em função de alguma outra variável ou fator internamente
referenciado. Seguindo esta linha, uma definição interessante para competitividade, é a da
Comissão Presidencial Norte Americana sobre Competitividade Industrial (CIC): “A
competitividade de um país, é sua habilidade em produzir bens e serviços, sob condições
de livre mercado, capazes de enfrentar concorrência internacional, enquanto,
simultaneamente, proporciona a seus cidadãos um padrão de vida crescente e sustentável”
(KRUGMAN, 1994: 7; COUTINHO & FERRAZ, 1995:17).
Porém, para Krugman (1994), tal definição não encontra suporte no atual cenário de
competição internacional. Se considerarmos uma nação com pouco comércio internacional,
seu principal problema seria balancear sua taxa de intercâmbio comercial, mas devido ao
pequeno comércio ser um fator menos representativo na sua economia, o nível da taxa de
intercâmbio terá pouca influência no padrão de vida da população.
Outra ressalva feita por esse autor à definição anterior de competitividade, é que ela
não contempla, por exemplo, o caso de um país fortemente baseado no mercado doméstico,
com pouco comércio externo. Neste caso, o crescimento do padrão de vida de sua
população e, portanto, sua competitividade, seria determinada quase que inteiramente por
fatores internos, principalmente pelo crescimento da sua taxa de produtividade, e não pelo
crescimento da produtividade relativa a outros países ou regiões.
Por conseqüência, Krugman (op.cit.), afirma que para economias com pouco fluxo
de comércio exterior, a competitividade se resumiria simplesmente à produtividade, e
sendo assim, teria pouca relação com o ambiente internacional. A partir de evidências
empíricas citadas pelo autor, não há correlação entre a performance comercial de um país e
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 35
a elevação dos padrões de vida da população. “Em cada caso, a taxa de crescimento do
padrão de vida equivale essencialmente à taxa de crescimento da produtividade doméstica,
e não à produtividade em relação aos seus competidores”. Ou seja, a elevação dos padrões
de vida da população seria dependente somente da variação da produtividade.
Neste sentido, “competitividade” só representa algo mais que produtividade quando
e se, e somente se, o poder de compra dos consumidores cresce de forma
consideravelmente mais lenta do que a produção. Em outras palavras, quando a taxa de
crescimento do padrão de vida da população, em relação à produção, é decrescente. Caso
contrário segundo Krugman (1994), quando aplicada a economias nacionais, a
“competitividade é uma palavra sem sentido, e a obsessão por ela, por contribuir para
conflitos comerciais desnecessários, é ao mesmo tempo errada e perigosa” (op.cit.:17).
De uma forma geral, alguns aspectos característicos de divergência na definição do
termo competitividade podem ser destacados. O Quadro 2.6 resume tais aspectos.
Quadro 2.6 – Pontos de conflitos na abordagem da competitividade
Fator de Conflito
Conceito Restrito
x
Conceito Amplo
Características
Conceitos restritos focam em balanços externos; enquanto que conceitos
amplos enfatizam uma função de bem-estar social, incluindo fatores
macroeconômicos (como renda, inflação, desemprego, câmbio), ou ainda
fatores infra-estruturais e ambientais.
Padrões absolutos
x
Padrões relativos
Absolutos comparam o “nível de competitividade” com algum ativo
natural, alguma tecnologia similar ou líder. Relativos privilegiam
comparações com o próprio passado, a uma média nacional, histórica ou
potencial.
Competitividade pelo preço
x
Competitividade
tecnológica
Quando o parâmetro é o preço, sobressaem os custos de trabalho, custos
sociais e ambientais baixos. A competitividade tecnológica baseia-se na
alta produtividade, investimentos em P&D e no aperfeiçoamento de alto
nível dos trabalhadores, sendo a ênfase geralmente em indústrias
intensivas em tecnologia.
Objetivo
x
Subjetivo
Definições objetivas usam valores médios (para outros países) como
benchmarking, e implicitamente introduz um conceito normativo.
Definições subjetivas reconhecem que pessoas e nações têm diferentes
prioridades e níveis de aspiração.
O primeiro é medido através de indicadores ex post. Já o segundo é
baseado em informações coletadas sobre prováveis cenários.
Presente
x
Futuro
Ponto de vista do investidor O investidor prefere baixos custos, mínimas restrições sociais e
ambientais e benefícios próprios. A visão econômica enfatiza a
x
habilidade de vender a juros e padrões altos.
Ponto de vista econômico
Fonte: Aiginger (1998)
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 36
Por outro lado, outra corrente também contesta o enfoque da competitividade de
uma nação exclusivamente na taxa de crescimento da produtividade, ressaltando a
necessidade de inclusão de outros fatores na análise. Segundo Reinert (1995), por exemplo,
essa visão não explica como algumas regiões e certos países mesmo mantendo altas taxas
de crescimento da produtividade por um longo período em certas atividades e setores, e,
portanto, considerados “competitivos” internacionalmente, não conseguiram elevar os
níveis de renda e os padrões de vida de seus trabalhadores e da população do seu entorno.
Neste sentido, Maskell et al. (1998), citam o caso emblemático das empresas
americanas de bolas de beisebol instaladas no Haiti, consideradas as mais produtivas do
mundo na atividade. Apesar da eficiência absoluta e do grande mercado compartilhado
nesta atividade, na qual representam o estado-da-arte, o padrão de vida desses
trabalhadores não cresceu” (REINERT 1995:26 apud MASKELL et al., 1998). Um
aspecto setorial característico em países periféricos é seu alto grau de heterogeneidade
quanto ao tamanho, tecnologia, produtividade e competitividade das firmas. Em muitos
setores há firmas modernas tecnologicamente e que poderiam ser consideradas
competitivas internacionalmente, mas que apresentam um alto índice de mortalidade,
enquanto que outras, ainda baseiam seu processo produtivo em tecnologias obsoletas e
técnicas organizacionais ultrapassadas e, mesmo assim, conseguem sobreviver no mercado
(No Brasil, isto ocorre, por exemplo, nos segmentos de brinquedos, eletroeletrônicos e
peças automotivas).
Uma das explicações para esse fenômeno, segundo Meyer-Stamer (1997), é que,
nestes países, devido à grande desigualdade de renda entre as classes sociais, aliado à
poucas barreiras de entrada e à falta de mecanismos eficientes de proteção à propriedade
industrial e intelectual, e ao ineficiente combate ao comércio ilegal, em certos setores,
verifica-se uma extensa segmentação do mercado e a proliferação de “mercados de baixa
renda”. Com isso, firmas com estratégias de baixo preço conseguem se sustentar no
mercado, vendendo produtos (de baixa qualidade) direcionados especificamente aos nichos
formados por consumidores de menor poder aquisitivo e pouca escolaridade. Note-se que,
pelo menos no curto-médio prazo, há uma tendência de acentuação deste fenômeno, devido
ao aumento da renda real dos trabalhadores de baixa renda após a estabilização da inflação
no Brasil (op.cit.).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 37
Embora a produtividade seja certamente importante para o crescimento econômico,
altos níveis de produtividade, quando analisados de forma agregada, podem camuflar
baixos rendimentos de alguns fatores de produção. Conseqüentemente, nesses casos, é
questionável se adotar tal fator como um substituto equivalente ao que o termo
competitividade pressupõe, que é um rendimento acima da média, e sustentado, de todos os
fatores de produção empregados no sistema.
Por outro lado, a questão de “como medir a produtividade” tampouco é fechada e
inquestionável. Antigamente, a eficiência era calculada com base na fórmula matemática
elaborada por Taylor, através da quantidade de produtos dividida pelo tempo humano
dedicado a sua execução. Por esse critério, uma empresa se tornava mais eficiente ao fazer
mais produtos no mesmo tempo ou, ao diminuir o tempo para produzir os mesmos
produtos.
Contudo, hoje a produtividade não pode mais ser medida apenas pelo critério tempo
(ver, por exemplo, WINTER, 1994b; FRASMAN, 1998; CASTELLS, 2000; SVEIBY,
2001). Dessa forma, a medida da eficiência não deve supervalorizar o fator tempo, pois,
pode-se ter muitas idéias em poucas horas ou nenhuma em uma jornada inteira de trabalho.
Ou, por outro lado, ter uma só em uma vida inteira, e ela ser suficiente em termos de
ganhos financeiros.
Nesse sentido, empresas que vivem de produzir idéias devem se preocupar mais
com o processo criativo que com o tempo, entretanto, em muitos casos, o trabalho continua
sendo avaliado por critérios ultrapassados e inconsistentes com tal contexto.
Evidentemente, nem todo tipo de trabalho e atividade tem a função nobre de gerar idéias.
Apesar das relações, objetivos, características e atribuições do trabalho não serem
homogêneas nem se distribuírem uniformemente por todos os setores, atividades
profissionais e empresas, a medida tradicional da produtividade não incorpora este aspecto,
especialmente aquela tomada em relação ao tempo. Por isso a analise deve levar em conta
tais aspectos.
A exigência criativa em um centro de pesquisas, uma universidade, uma empresa de
publicidade ou de softwares é bem diferente daquela, por exemplo, em uma empresa de
fabricação de componentes para motores ou de tijolos e manilhas.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 38
Poder-se-ia dizer, por exemplo, que um trabalhador da indústria de peças
automotivas, que produz cerca de 100 unidades/dia seja mais “produtivo” que um
programador de software que leve um mês para produzir um software, ou que um escritor
que escreve um livro a cada dois anos? Por outro lado, uma empresa financeira, que
empregue apenas 10 trabalhadores para um lucro de 10 milhões de reais/ano, pode ser
considerada mais “produtiva” que uma outra, com 100 empregados e lucratividade de 2
milhões/ano?
Apesar da tão propalada “sociedade pós-industrial”, devido à heterogeneidade de
padrões de infra-estrutura e desenvolvimento socioeconômico, em muitos lugares o
trabalho continua sendo organizado de forma industrial e mecânica e dependente da
produtividade do trabalho (CASTELLS, 2000). Por outro lado, também há uma grande
variedade de tipos de atividade e características de trabalho específicas de cada profissão.
Malecki (1997), oferece uma boa ilustração a esse respeito (ver Gráfico 2.1).
Publicitários
Arquitetos
Médicos
Pesquisadores
Analistas de P&D
Profissionais
Técnicos
Programadores
Professores
Administradores
Tipos de
trabalhadores
Trabalhadores
Manuais/Braçais
Trabalhadores de
produção rotineira
(linha de montagem,
de autos, eletrônicos,
roupas etc.).
Não-Rotineiras
Intermitentes
Por projeto
Rotineiras
Repetitivas
Especificáveis
Características do
trabalho
Gráfico 2.1 – Divisão do trabalho por tipos e características
(adaptada de Malecki, 1997: 116)
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 39
De uma certa forma, quanto ao tipo de esforço característico, pode-se considerar
dois extremos da divisão do trabalho: De um lado há atividades intensivas em trabalho
cerebral/intelectual e de outro, aquelas intensivas em trabalho muscular/braçal. Porém,
estas não são remuneradas eqüitativamente.
Neste sentido, taxas de produtividade de diferentes setores e atividades são
incomparáveis. Portanto, processos produtivos com diferentes intensidades de tecnologia e
de trabalho criativo também são incomparáveis, especialmente, quando se toma apenas o
tempo ou a lucratividade como parâmetros de referência.
2.5 Competitividade e desenvolvimento econômico regional
2.5.1 A visão tradicional e as novas abordagens
Políticas de desenvolvimento, no sentido tradicional, pressupõem a possibilidade de
intervenção do Governo no processo e, que esta, possa levar a uma trajetória de
desenvolvimento autodefinida. Isto não tem sido verificado na prática. Muito pelo
contrário, casos como os de economias do leste europeu, fechadas e fortemente planejadas
pelo Estado, após uma aparente prosperidade social, em curtos períodos de tempo, não se
sustentaram e entraram em colapso total. Por outro lado, políticas de abertura de mercado e
incentivo à competição, apesar de contribuírem para o crescimento de certos setores,
também não se mostraram capazes de alavancar, por si só, o desenvolvimento econômico,
acentuando quadros de grandes desigualdades sociais, especialmente, em países da
América Latina (BUITELAAR & Van DIJCK, 1996).
Historicamente, políticas coordenadas de promoção do desenvolvimento de
determinadas regiões proliferaram nos anos 30 nos EUA (na região do Vale do Tenessee,
como parte do New Deal) e no Reino Unido (associadas ao planejamento de cidades). A
idéia básica era que os mercados por si só não produzem um equilíbrio neoclássico com
convergência inter-regional, assim, ações do governo eram necessárias para contornar as
assimetrias geradas. Uma opção era subsidiar empresas localizadas nas áreas periféricas;
outra era aumentar a atratividade básica de tais regiões através de pesados investimentos
em infra-estrutura, serviços públicos e incentivos à instalação de grandes indústrias, como
siderúrgicas, automotivas e refinarias de petróleo.
Para sustentar tais intervenções, muitas abordagens surgiram e se tornaram bastante
influentes. A Teoria dos Pólos de Crescimento, baseada nas idéias do economista francês
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 40
François Perroux (PERROUX, 1950; LAMBOOY, 1988) foi uma das mais influentes. Esta
teoria enfatizava a idéia de que o desenvolvimento econômico ocorre via expansão de
redes de firmas e se propaga para as proximidades por efeitos multiplicadores. As “firmas
pólo” eram o ponto focal dessas redes e as forças impulsionadoras do crescimento
econômico. As relações econômicas não eram muito dependentes da localização, mas
decisivas na natureza das relações de mercado no denominado “espaço econômico”. Nesse
ambiente, os governos poderiam incentivar a instalação de indústrias de base em áreas
periféricas, que então criariam redes com firmas fornecedoras terceirizadas e
subcontratadas. Neste caso, assume-se que efeitos multiplicadores deste investimento
viriam através de um processo de acumulação de atividades em determinado local, que
com o tempo se refletiria em desenvolvimento.
Outra abordagem similar a anterior é a denominada Teoria de Myrdal (1957), que
em contraste com a Teoria Neoclássica, que pregava a convergência inter-regional via
mecanismos de mercado, se baseava no conceito de efeitos cumulativos, pelo qual um
processo de círculo virtuoso de investimentos cria disparidades regionais. Regiões
metropolitanas, ou qualquer outra com vantagens iniciais, tenderiam a se desenvolver cada
vez mais; e outras, em áreas periféricas, tenderiam a possuir níveis salariais cada vez mais
baixos, declinando ao invés de crescer. Esta proposta é contrária ao conceito neoclássico
de “produtos finais”, onde equilíbrio e convergência dos níveis salariais e de lucro
tenderiam a estabilizar o sistema (HIGGINS & SAVOIE, 1994).
Por outro lado, Wallick (1969, apud SOUZA, 1999), destacou a necessidade de
algumas adaptações da teoria schumpeteriana para países pobres, onde a participação do
governo seria necessária para propiciar melhoria em infra-estrutura social e preencher
lacunas existentes pela falta de investimentos devido à escassez de empresários inovadores,
além de promover a difusão de informações e técnicas dominadas por outros países mais
avançados. Com esta abordagem, a visão schumpeteriana deixaria de focar apenas na
função de produção, para concentrar-se também no lado da demanda.
Em relação a economias periféricas, especialmente aquelas com forte atuação
pública na importação de tecnologias e capitais, uma questão que surge é em relação à
concorrência que sua ação exerce sobre o setor privado. Laumas (1962, apud SOUZA,
1999), destacou os impactos da ação do Estado sobre a economia, principalmente com
relação ao financiamento e à natureza ao papel das inovações. Segundo este autor, ao
implantar infra-estruturas, o setor público passa a concorrer com o setor privado no
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 41
mercado de fatores de produção, provocando escassez de produtos (como, por exemplo,
aço, cimento e metais não ferrosos), elevação de salários, da taxa de juros e de preços de
insumos básicos. Conseqüentemente, haveria uma redução das margens de lucros, quedas
nos financiamentos e as inovações tenderiam a ocorrer somente em pequena escala.
Sendo assim, as mudanças não seriam significativas a ponto de alterar o equilíbrio
no fluxo circular da economia, como defendido por Schumpeter (1943). Segundo Laumas,
(1962:659), por exemplo, “se as mudanças não forem significativas a ponto de alterar o
equilíbrio
no
fluxo
circular,
os
lucros
criados
também
serão
pequenos
e,
conseqüentemente, a propensão a imitar a ação do empresário inovador também será
mínima”. Resultados de estudos mais recentes reforçam a tese de que a ação do empresário
é altamente condicionada, entre outros fatores, pelo padrão de concorrência, estratégias
competitivas, competências específicas e pela cultura local (ver, por exemplo, VIETOR,
1994; TEECE & PISANO, 1994; SAXENIAN, 1994).
Posteriormente, os autores neo-schumpeterianos passaram a investigar as interrelações entre estrutura e atores como mecanismo de retroalimentação (feedbacks), e não
apenas como uma estrutura dada ou como o ambiente seletivo influencia os atores (isto é, a
composição da sociedade dentro da estrutura de tempo e espaço), mas também como estes
(especialmente os inovadores) mudam tal estrutura (DOSI, 1988).
Dessa forma, a escolha por uma ou outra teoria vai influenciar a linha política a ser
seguida e os programas a serem implementados. Como dizia o famoso economista John
Mainard Keynes (1883-1946), “no longo prazo todos nós estaremos mortos”. Esta frase
gerou uma série de interpretações equivocadas e negativas com respeito a investimento em
infra-estrutura e no lado da oferta da economia. A perspectiva de intervenção via oferta,
influenciou e gerou muitas políticas de desenvolvimento regional, sustentadas por esta
visão distorcida das idéias de Keynes. Porém, segundo Lambooy & Boschma (2001), sua
teoria era focada, primeiramente, na intervenção no ciclo de negócios através do lado da
demanda.
De forma resumida, o keynesianismo enfatizava a importância da demanda
agregada na determinação dos níveis de produto e emprego da economia, e a conseqüente
necessidade de políticas governamentais de estímulo à demanda em períodos de recessão.
Keynes se concentrou particularmente na abordagem macroeconômica do pleno emprego,
nos fatores de crescimento de investimento e nos impactos sobre a renda e o emprego. Sua
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 42
análise era predominantemente estática e de curto prazo (CLEMENTE & HIGACHI,
2000).
Nos últimos anos houve um certo predomínio de políticas com foco na
racionalização e no lado da oferta da economia, principalmente pela desregulamentação e
fortalecimento de mecanismos de mercado. Para políticas regionais, isto tem resultado em
abandono da ênfase em subsídios para regiões em desenvolvimento, privilegiando o
fortalecimento da infra-estrutura.
Atualmente, grande ênfase tem sido dada a políticas industriais voltadas para uma
estratégia de “seleção dos vencedores” e a indução e/ou fortalecimento de clusters,
distritos industriais, e outras formas de aglomeração e interação produtiva, freqüentemente
associadas a setores baseados em conhecimento (com retornos crescentes, como por
exemplo, microeletrônica e biotecnologia) ou vinculados à cultura produtiva e à
aprendizagem coletiva, com fortes características locais e regionais (PORTER, 1989;
COOKE & MORGAN, 1998; BRACZYK et al. 1998).
2.5.2 A “competitividade” de regiões e localidades
Pesquisadores das áreas de geografia econômica, da economia regional, das
ciências sociais e do planejamento regional têm questionado a consistência e utilidade de
se tratar a competitividade de regiões apenas como um reflexo da produtividade,
destacando a imprescindibilidade de se incorporar fatores ambientais e de bem estar social
ao conceito de competitividade para países e regiões.
Devido à expansão das empresas multinacionais e a ênfase na globalização da
competição e a internacionalização de unidades de produção, o termo “competitividade”
tem sido mais referido ao aumento do investimento direto por firmas estrangeiras, do que
ao aumento dos intercâmbios comerciais entre países (CLARK & GUY, 1998).
Segundo Aiginger (1998), a avaliação da competitividade de países deve ser
compatível com o propósito e a função de uma nação. Esta, em última instância, seria
“aumentar o bem estar da sua população”. Essa visão é compatível com teoria econômica
neoclássica, cuja hipótese principal é que o propósito de uma nação ou o comportamento
dos consumidores é buscar a maximização de uma função de bem-estar social, na qual,
tenta-se incorporar fatores como renda, condições sociais e preservação do meio ambiente.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 43
Nessa perspectiva, a definição de competitividade leva a três implicações
imediatas: i) os baixos custos não podem ser uma meta de política econômica, e nem um
indicador para competitividade de longo prazo; ii) os balanços externos contribuem
diretamente ou indiretamente para o bem-estar da população, mas são pequenos quando
comparados ao consumo; iii) a competitividade é uma questão dinâmica, com os níveis de
aspiração dos consumidores e vendedores (a população) mudando no tempo, enquanto o
investimento em capital humano, tecnologia e informação são o meio de alterar o bemestar obtido e o nível de competitividade (AIGINGER, 1998).
Por outro lado, a prosperidade econômica de um país ou região está associada à sua
habilidade em gerar novas atividades econômicas e atrair novos investimentos. Esta
condição, por sua vez, depende do bom desempenho das empresas no mercado, para
sobreviver, aumentar investimentos, pagar melhores salários e abrir novos postos de
trabalho. Segundo Maskell et al. (1998), dessa forma, a competitividade é um conceito que
atende ao pressuposto de que regiões e países, bem como as firmas, devem aspirar um
futuro melhor.
Evidentemente que, se seguirmos a visão neoclássica de que estamos em um mundo
de competição perfeita e equalização do fator preço, não seria possível algo como um
“rendimento dos fatores acima da média e sustentado” (MASKELL et al.,1998).
Nesse sentido, se seguirmos a hipótese de que a competição imperfeita é a que
prevalece, como Penrose (1959, apud FOSTER, 1997), o conceito de competitividade
ganha outra conotação. Nesta abordagem, um contínuo desequilíbrio entre oferta e
demanda, provocado pelo excesso de rendimentos totais sobre os custos totais, permite às
firmas grande lucro no curto prazo, mas que, no longo prazo, seria transformado em custo
ou eliminado.
Neste caso, melhorias tecnológicas podem, por exemplo, criar novos desequilíbrios
e favorecer aquelas firmas que se apropriarem delas ou as absorverem primeiro, ou, como
resultado do poder obtido no mercado e não facilmente apropriável pelos concorrentes.
Outros fatores que podem contribuir para a formação de desequilíbrios dinâmicos
são as barreiras de entrada e saída, custos invisíveis, economias de escala, assimetrias e
outras formas de informação imperfeita, retroalimentações, aprendizagem contínua e o
progresso tecnológico.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 44
Segundo Maskell et al. (1998), durante períodos de desequilíbrio surgem
oportunidades para se criarem novas atividades econômicas, ou até mesmo, novos ramos
industriais. Entretanto, sua distribuição espacial e geográfica não é uniforme nem
totalmente indeterminada. Podem ser criadas pelo esforço intencional de firmas e governos
através de atividades de P&D ou outras formas de criação de conhecimento e de
desenvolvimento científico e tecnológico.
As firmas engajadas nestas novas atividades não são apenas premiadas pela
eficiência na utilização do capital e do trabalho, elas também dependem de habilidade de
se apropriar e explorar as oportunidades geradas pelos desequilíbrios dinâmicos. Algumas
regiões e nações são mais prósperas que outras, ceteris paribus, quando proporcionam e
distribuem aos seus empregados e sociedade, parte dessa renda criada (OCDE, 1995).
Em termos gerais, nota-se a tendência de se abordar a competitividade de forma
mais abrangente, levando-se em consideração, além dos aspectos operacionais e
comerciais, também aspectos sociais e ambientais regionais que afetarão as condições de
vida futura. Nesse contexto, as interações entre micro e macro níveis assumem importância
fundamental, pois formam a matriz onde estão ou serão inseridas as diversas atividades
econômicas, a qual, pode ser decisiva para um desempenho crescente e sustentável
(AIGINGER, 1998).
O World Economic Forum (WEF) vem produzindo um “Placar da Competitividade
Global7”, publicado pela Universidade de Oxford, avaliando 22 países da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) utilizando, até pouco tempo atrás,
378 diferentes indicadores, agregados nas áreas: internacionalização, governo, tecnologia,
gestão, infra-estrutura, finanças, trabalho e instituições civis.
Em resposta aos críticos, como Krugman, o Fórum mudou sua definição de
competitividade, em 1996, para simplesmente “a habilidade de um país em conseguir altas
taxas de crescimento sustentado no PIB per capita” (The Economist, junho, 1996). Porém a
metodologia compreende ainda 155 indicadores, cobrindo estudos estatísticos complexos e
levantamentos baseados em julgamentos arbitrários. Fatores como “abertura do mercado”,
carga tributária, nível de poupança e investimento em capital humano são incluídos.
7
Para conferir as versões mais recentes, consulte o endereço <www.weforum.org>.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 45
Já o International Institute for Management Development (IMD), produz o
chamado “Anuário da Competitividade Mundial8”, avaliando mais de 300 indicadores,
analisando cinco macro fatores: desempenho econômico, eficiência na administração
pública, eficiência comercial e infra-estrutura.
Ambas as abordagens seguem rigor teórico e estatístico, as quais permitem a
inclusão de fatores diversos, mas o tratamento dos critérios e suas ponderações é arbitrária
e apresenta inconsistências. Recentemente, algumas modificações foram feitas nas
metodologias. Porém, segundo Lall (2001), em ambas abordagens, há ainda sérias
deficiências e equívocos.
No contexto regional, segundo Chesnais (1986: 91), “a competitividade é reflexo da
capacidade das firmas de investir, incorporar tecnologias externas mais eficientes e adaptar
e inovar através de seu esforço próprio, adequando a tecnologia às características
específicas locais... É muito mais do que um simples resultado do coletivo ou de uma
“competitividade média” de suas firmas. [...] Este é um processo interativo, cujas
características próprias locais irão afetar o desempenho, a capacidade e as fontes de riqueza
das firmas e vice-versa”.
Por outro lado, no processo de mudança tecnológica, lugares onde há uma melhor
combinação de atividades econômicas, firmas grandes e pequenas, em conjunto com
instituições locais, regionais e nacionais, estão mais aptos a atrair e abrigar novas
indústrias e explorar novas oportunidades. Do ponto de vista humano e social, uma
população mais bem educada e qualificada estará mais apta a explorar melhor as novas
oportunidades e, conseqüentemente, mais propensas a obter melhores perspectivas futuras.
“Localidades, regiões e nações são afetadas pelas oportunidades de mercado, mas somente
conseguem sucesso em aprender, adotar e adaptar conhecimento e tecnologia através da
capacidade de seu povo” (MALECKI, 1997: 322).
Como exemplo de mensuração da competitividade local e regional, na Inglaterra, o
Conselho de Desenvolvimento Econômico (Economic Development Group), que seria um
equivalente britânico ao Ministério de Indústria e Comércio brasileiro (Department of
Trade and Industry), adota um conceito de competitividade similar ao de Maskell et al.
8
Este ranking é publicado no site <www01.imd.ch/>.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 46
(1998): “a habilidade de regiões em gerar altos níveis de renda e emprego, enquanto
exposta à competição doméstica e internacional”.
Tal órgão utiliza uma avaliação que envolve 14 indicadores quantitativos e
qualitativos para a comparação de aspectos sociais e econômicos de 12 regiões, em
comparação a média nacional e a de outros países. Como destacado, a intenção do
levantamento de tais fatores não é determinar a “competitividade regional”, mas levantar
dados que podem refletir a competitividade de uma região. Entre os indicadores utilizados
estão: O valor agregado líquido per capita; o valor agregado líquido por hora trabalhada; a
renda familiar líquida per capita; a produtividade do trabalho em manufatura e outras
indústrias; o nível de investimento em manufatura e produção por empresas estrangeiras; e
a exportação de bens. Além destes, são avaliados também: O mercado de trabalho;
investimentos em P&D, surgimento de novos negócios e a infra-estrutura de transporte,
educação e saúde (DTI, 2001).
Com relação a regiões periféricas, pesquisas recentes da Comissão de Estudos para
a América Latina e Caribe (CEPAL, 1992) sobre a dinâmica competitiva, destacam a
necessidade de um enfoque sistêmico e integrado9 entre transformação produtiva e
eqüidade, com o objetivo de se redefinir os rumos do desenvolvimento dos países latinoamericanos,
devido
ao
contexto
atual
de
profundas
mudanças
tecnológicas,
organizacionais, econômicas, financeiras, sociais e ambientais.
A necessidade dessa redefinição de rumos deve-se ao fato de que dados empíricos
levantados recentemente revelam não haver correlação sistemática entre crescimento
econômico e distribuição de renda (COSTA & ARRUDA, 1999).
Dessa forma, a relação precisa entre crescimento e eqüidade dependeria da
reorientação das políticas públicas. Isto implicaria em definir e priorizar políticas
econômicas complementares que permitam além do crescimento, a eqüidade. Em
contrapartida, seria importante inserir na política social, requisitos de aumento da
produtividade e da eficiência, e não só de eqüidade. Ou seja, a idéia seria de integrar e
sincronizar crescimento com desenvolvimento e eqüidade.
Nesse sentido, especial atenção deve ser dada às possibilidades de conflito em
certas áreas com diferentes ciclos de maturação, em que os objetivos de longo prazo são
9
A integração sistêmica, segundo a CEPAL, prioriza três eixos fundamentais: o progresso técnico, a geração
de empregos produtivos e sustentáveis e investimentos em capital humano (Costa & Arruda, 1999: 64).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 47
complementares, mas no curto prazo são conflitantes, como as de meio ambiente e de
investimento em capital humano com as de educação formal e emprego (veja ilustração no
Quadro 2.7).
Quadro 2.7 – Integração entre políticas de longo e curto prazo para o amento da
competitividade (segundo a CEPAL)
LONGO PRAZO
CARÁTER DAS
POLÍTICAS
COMPLEMENTAR
CURTO PRAZO
CONFLITANTE
COMPLEMENTAR
CONFLITANTE
Difusão tecnológica, (especialmente na
agricultura e nas pequenas empresas);
Promoção das Exportações;
Elevação da poupança;
Dessegmentação do mercado de Esgotamento e depredação dos
recursos naturais
capitais;
Salários participativos;
Reforma fiscal;
Capacitação, nutrição e saúde;
Descentralização administrativa;
Estabilização
Meio ambiente;
Investimentos de longo prazo;
Educação formal.
Criação de frentes de trabalho
temporário;
Transferência de renda.
Fonte: CEPAL (1992)
Nos países e regiões periféricos, especialmente os de regimes democráticos mais
recentes, a discussão do tema “competitividade regional” somente começou a ganhar força
no debate do desenvolvimento econômico e social, com o processo de reforma do estado e
a predominância das políticas neoliberais de “estado mínimo” e de abertura do mercado.
Com a diminuição da intervenção do Governo Central nas esferas estadual e
municipal, as prefeituras, entidades de classe, organizações não-governamentais, e a
sociedade civil de um modo geral, passam a ter maiores preocupações e atribuições no
planejamento e na promoção do desenvolvimento econômico e social de microrregiões
(subestaduais) (MEYER-STAMER, 2000).
Por outro lado, os critérios de localização de empreendimentos e investimentos
privados passam a estar menos vinculados aos interesses governamentais e às políticas
públicas, e mais sujeitos às forças de mercado. A localização de grandes plantas industriais
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 48
torna-se alvo de disputa entre estados e municípios, através de incentivos e isenções fiscais
por longos períodos, dando início à chamada “guerra fiscal10”. Este assunto tomou conta do
debate político recente na questão do desenvolvimento local e regional. Dessa forma,
indústrias modulares passaram a optar pela proposta de maior benefício fiscal no longo
prazo, desde que satisfeitas os requisitos básicos de infra-estrutura e de logística comercial.
Neste contexto, três principais conjuntos de pontos de vista se confrontam: de um
lado, (i) o do investidor ou empresário responsável pelo investimento, juntamente com os
potenciais beneficiários (empregados, comerciantes, prestadores de serviço etc.); de outro,
(ii) o da sociedade/comunidade local/regional, não beneficiária direta do empreendimento;
e um terceiro conjunto de pontos de vista, composto pelo (iii) setor público local/regional
(considerando os a favor e os contra, por diversas razões). Este, teoricamente, atuando
como moderador e regulador dos interesses dos outros dois pontos de vista.
Porém, considerando um cenário de igualdade de condições tributária e de infraestrutura básica entre regiões, fatores mais subjetivos, como a qualidade de vida e os
aspectos gerais que definem as condições de vida local, passam a compor e, em muitos
casos, a prevalecer na estrutura de decisão para localização industrial.
Neste sentido, há entrelaçamentos e vínculos entre as condições de
competitividade empresarial e de competitividade local e regional. Se por um lado, a
empresa depende das condições de infra-estrutura educacional e tecnológica local, e de
funcionários bem capacitados para sustentar sua posição competitiva, por outro, a
comunidade local depende dos postos de trabalho gerados e da renda proporcionada ao
conjunto da população empregada, para dinamizar a economia local.
Segundo Meyer-Stamer (2000), em termos de políticas de desenvolvimento e
competitividade local, atualmente duas correntes se destacam: (i) uma que se concentra no
estudo dos distritos industriais, principalmente os de pequenas e médias empresas, como os
da chamada “terceira Itália”. Nesta linha, se destacam os pesquisadores do Intitute for
Development Studies, da Universidade de Sussex, em Brighton - Inglaterra (ver
10
Esta é uma questão de tratamento polêmico. Legalmente, hoje ela está proibida no Brasil, através de Lei
específica (Lei complementar 24). Na prática, sua fiscalização é problemática e não há garantias de que não
seja utilizada de forma implícita, embutida em mecanismos legais. Alguns estados e municípios mais pobres
a defendem por acreditaram ser a única forma de gerar empregos e dinamizar a economia local, revertendo as
vantagens daqueles de maior infra-estrutura e recursos. Porém, dependendo do tipo de indústria, seus
investimentos e externalidades podem não justificar a perda de arrecadação e os impactos ambiental e social
que irão causar.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 49
SCHMITZ, 1989, 1995 e SCHMITZ & NADVI, 1994). Uma outra corrente é representada
pelo estudo de clusters de exportação e grandes aglomerados de empresas, com destaque
para os trabalhos de Porter sobre estratégias e vantagens competitivas. Este último tem sido
particularmente bem sucedido com consultorias para o Governo Americano e para o Banco
Mundial sobre clusters ao redor do mundo, tendo influenciado estudos em diversos países,
inclusive no Brasil (ver, por exemplo, COUTINHO & FERRAZ, 1995).
Contudo, ambas as correntes apresentam como grande defasagem o fato de
reduzirem o desenvolvimento econômico local e regional a simples análise de clusters e
distritos industriais. Segundo Meyer-Stamer (2000), isto é um equívoco, pois os clusters e
distritos, em qualquer parte, são fenômenos ubiqüitários11, mas não são os únicos modelos
estruturais de desenvolvimento local. Neste sentido, muitas estratégias e políticas benéficas
do ponto de vista industrial, podem ser prejudiciais para muitas localidades e regiões.
2.7 Para um conceito integrado de competitividade
De um modo geral, verifica-se uma tendência em se dividir a análise dos
determinantes da competitividade em três níveis. Contudo, para análises que envolvam
arranjos produtivos e setores de regiões periféricas, mais voltadas para o comércio
doméstico ou regional, a divisão em três níveis pode negligenciar a influência do ambiente
regional/local e de fatores geográficos e espaciais na competitividade de empresas,
aglomerados e arranjos produtivos, importantes para o desenvolvimento local. Além disso,
quando se analisa a competitividade através da divisão em níveis diferentes, certos fatores
ligados às inter-relações formais e informais, fluxos de conhecimento tácito e elementos da
dinâmica local, não são captados.
De modo a suprir essa deficiência, pode-se sugerir o desmembramento dos três
níveis tradicionais, para incluir mais dois conjuntos de fatores a serem analisados, que são
os fatores regionais ou geográficos (específicos à região ou localização); e os fatores
segmentais (específicos a certos segmentos de cadeia/setores/indústrias), previstos, em
parte, por Marcovitch (op.cit.), e não captados através dos fatores estruturais de Ferraz et
11
Segundo o Dicionário Aurélio Século XXI, o termo ubiqüitário denomina algum fenômeno que se localiza
de forma dispersa. Literalmente, “o que pode ter diversas localizações”. Especificamente, neste caso, o autor
quer enfatizar que clusters e distritos industriais, de forma geral, podem surgir e ser promovidos, em várias
regiões.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 50
al. (op.cit.). Esta abordagem se justifica pelo crescente destaque dos condicionantes locais
da competitividade, como enfatizado por vários autores (ver, por exemplo, PORTER,
1989, 1990, 1998; STORPER, 1997; MALECKI, 1997), e dos fatores informais, só
captados qualitativamente (ver, por exemplo, HEALEY & DUNHAM, 1994; SAXENIAN,
2000);
Assim, na análise dos determinantes da competitividade, com enfoque no
desenvolvimento local, pode-se sugerir que os seguintes fatores sejam considerados:
1. Fatores Organizacionais: são os que estão sob o domínio e o poder de decisão da
organização. Podem ser controlados ou alterados através de intervenções diretas.
Correspondem basicamente ao estoque e às estratégias de aperfeiçoamento de recursos
acumulados pelas empresas, e podem ser divididos em quatro áreas (ver Quadro 2.4): i)
Competência e eficácia na gestão e integração entre capacitação, estratégia e
desempenho; ii) Capacitação tecnológica e atualização em processos e produtos; iii)
Capacitação produtiva no planejamento, organização e controle da produção e da
qualidade, e; iv) Produtividade dos recursos humanos. A Figura 2.5 mostra uma
representação das interações entre capacitação, estratégia e desempenho no nível da
empresa (o ambiente interno).
DESEMPENHO
AMBIENTE
AMBIENTE
Inovação
Gestão
RH
Produção
ESTRATÉGIAS
ESTRATÉGIAS
CAPACITAÇÃO
Figura 2.5 – Determinantes da competitividade organizacional
2. Fatores Estruturais: apresentam-se vinculados às características da estrutura
(aglomerado, cluster, cadeia, rede, complexo industrial) produtiva que se constitui
através das relações comerciais específicas da estrutura produtiva em questão. Inclui o
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 51
padrão de concorrência, as economias de aglomeração, coletivização ou segmentação
produtiva12, aspectos logísticos e de configuração dos fluxos de insumos (supply chain
management, material resource planning) (ver Figura 2.6).
Mercado
Tamanho
Sofisticação
Dinamismo
Barreiras
Indústria
Desempenho
Capacitação
Estrutura
Articulações
(cadeias)
Regulação (governo)
Aparato legal
Políticas fiscal, financeira,
comercial
Atuação do Estado
Figura 2.6 – Determinates da competitividade estrutural/setorial
(baseada em Kupfer, 1992; Ferraz et al., 1997)
Os fatores envolvidos neste nível representam os benefícios advindos de determinada
configuração produtiva. São específicos e endógenos à estrutura econômica
industria/setor, não incorporando fatores locacionais).
3. Fatores Sistêmicos: são aqueles que constituem externalidades stricto sensu para o
sistema produtivo como um todo, sobre os quais, a princípio, a empresa não tem poder
de influência (exceto em casos muito raros e privilegiados). Constituem os parâmetros
do processo de decisório (as regras gerais do jogo!). Podem ser: internacionais (regras e
acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e de blocos econômicos, fluxos
externos de capitais, regimes e trajetórias tecnológicas), macroeconômicos (taxa de
câmbio e juros, carga tributária, leis trabalhistas etc.), macrosociais (benefícios sociais,
o sistema de educação, o sistema de saúde etc.); ou institucionais13 (política de
incentivos, programas de apoio tecnológico, alíquotas de impostos e tarifas etc.).
12
Representam as vantagens de certas estruturas, como por exemplo, um maior poder de influência sobre os
fornecedores, sistemas de informação mais eficazes e um melhor fluxo na transferência e difusão
tecnológicas.
13
Considera-se que, dependendo da abrangência e dos critérios adotados, estes também podem se converter
em estruturais ou regionais (como por exemplo, incentivos a um setor específico, ou redução de impostos
para algumas regiões ou estados).
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 52
4. Fatores Regionais ou Geográficos: são aqueles fatores que afetam exogenamente certas
unidades, segmentos ou arranjos produtivos localizados em determinadas regiões
(aglomerados, clusters, distritos, complexos). Sua abrangência é menor em relação aos
demais fatores, contudo, este fator pode ser decisivo para atrair ou afugentar novos
empreendimentos e atividades econômicas (indústrias correlatas e auxiliares, alianças,
associações etc.). Tais fatores representam a diversidade regional e geográfica. Sua
influência varia de acordo com a indústria/setor/tecnologia em questão e compreendem
aspectos econômicos, sociais, ambientais, culturais e de infra-estrutura que diferenciam
certas regiões e localidades de outras, como: os níveis de qualidade de vida, a infraestrutura local (disponibilidade de energia, modais de transporte e comunicação etc.), a
cultura local e disponibilidade de recursos naturais. Estes fatores são herdados e
característicos da região ou localidade (ver PORTER, 1990; MASKELL et al., 1999).
5. Fatores Segmentais (sub-setoriais): são aqueles sobre os quais a capacidade de
intervenção da empresa é limitada pela mediação do processo de concorrência, ou seja,
aqueles fatores nos quais o poder de influência da empresa individual é apenas parcial.
Ao contrário dos fatores organizacionais, mostram diversidades setoriais associadas ao
padrão concorrencial específico do segmento/setor/indústria. Entretanto, moldam o
ambiente competitivo através de fatores de demanda e de oferta e englobam fatores
extramercado, públicos e privados e mecanismos regulatórios do mercado. A
consideração deste nível específico visa permitir a inclusão de alguns arranjos locais
ignorados nos estudos de cadeias produtivas14, por deficiência de fluxos comerciais com
outras indústrias. Estes fatores são endógenos ao ambiente local. A incorporação desse
nível na análise é condicional.
Do ponto de vista do empresário, os fatores organizacionais estão em primeiro
plano, pois são constituídos e poderiam ser controlados pelas próprias empresas. Os fatores
estruturais (Figura 2.6) e os fatores regionais/geográficos estão em um segundo plano,
14
Por tal método, através do levantamento e delineamento do fluxo de produção (desde a matéria-prima até o
produto final, baseado no modelo input/output) entre indústrias, alguns segmentos (arranjos) de setores locais
e regionais são amputados no recorte arbitrário da cadeia, cujo parâmetro referencial são os fluxos
comerciais. Tal nível permite a inclusão de arranjos de empresas locais, com fluxos externos pouco
substanciais (aqueles em que a cadeia de processos é praticamente toda interna, como os baseados na
extração de recursos naturais, que atuam desde a extração de matéria-prima até a produção dos itens finais),
mas que podem representar segmentos estratégicos para a análise do desenvolvimento e da estrutura
produtiva de certas localidades e microrregiões periféricas.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 53
pois, a princípio, fugiriam do poder de influência direta do empresário. Porém, empresas
em conjunto, através de coalizões, alianças e fusões, ou via entidades de representação de
classe e políticas, podem alterar os padrões de concorrência, influenciando e induzindo
políticas e incentivos setoriais e regionais.
Os fatores estruturais e sistêmicos representam o contexto e os cenários a serem
assumidos pela empresa, e dependendo da interação entre eles, podem representar ameaças
ou oportunidades de acordo com recursos, capacitação, estratégia e desempenho da
empresa.
Adicionalmente aos demais, os fatores segmentais representam aspectos a serem
considerados quando estiverem envolvidos na análise segmentos de cadeia produtiva,
aglomerados de indústrias e ou arranjos produtivos locais, que, apesar de pouco
representativos em termos de fluxo comercial, ou de exportação de produtos, sua análise
específica seja importante ou estratégica do ponto de vista da economia local e regional.
Tal importância poderia ser medida, por exemplo, pelo número de postos de trabalho
oferecidos e mão-de-obra empregada, ou pela receita gerada em impostos.
A Figura 2.7, a seguir, resume o ambiente e os fatores determinantes da
competitividade com enfoque na análise dinâmica.
Fatores
Sistêmicos
Fatores
Estruturais
MERCADO
Fatores
Organizacionais
ESTRUTURA
DA
INDÚSTRIA
Padrão de Concorrência
Fatores
Segmentais
REGULAÇÃO,
POLÍTICAS
(GOVERNO)
Fatores
Regionais
Figura 2.7 – Visão-Resumo da Dinâmica Competitiva
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 54
2.7 Para uma abordagem estratificada da dinâmica competitiva de arranjos
produtivos locais
Para o caso específico da análise competitiva em arranjos produtivos locais,
SOUZA & ARICA (2001) propuseram a adoção de uma perspectiva semelhante ao
processo de “catching-up de países” (ver, por exemplo, ABRAMOVITZ, 1986), a partir de
abordagem estratificada de firmas concorrentes em três grupos distintos. Segundo tal
proposta, as primeiras firmas a adotar uma estratégia de mudança tecnológica e a tomar
uma decisão de investimento (forging ahead), definiriam uma trajetória, assumindo
maiores riscos (ver também FREEMAN & SOETE, 1997). Estas, porém, poderiam obter
margens de lucro maiores e posições competitivas vantajosas (como monopólio, por
exemplo, através dos direitos sobre patentes). Outras, geralmente, por não terem uma base
suficiente de competências e recursos de conhecimento, por falta de capital ou por opção
estratégica, aguardariam o movimento dos concorrentes para somente depois tomarem uma
decisão. Estas buscariam seguir o(s) líder(es) (catching-up), contudo com uma certa
defasagem tecnológica (technological gap). Apesar de tal estratégia apresentar menores
riscos, grandes oportunidades de lucros e novos mercados poderiam ser perdidos. Aquelas
que não conseguem acompanhar tal processo acabariam sendo excluídas daquela arena
competitiva (falling back), ficando restritas ao nicho de mercado mais baseado na
competição pelo preço. No longo prazo, estas dificilmente conseguiriam sobreviver. A
sobrevivência neste caso ficaria condicionada pela capacidade de elaborar estratégias para
explorar mercados alternativos de menor poder aquisitivo (nichos), através de produtos de
menor valor agregado, concorrendo em condições de preços predatórios, com forte pressão
sobre os custos de produção.
Tal abordagem constitui-se em uma alternativa potencialmente promissora para o
estudo da dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais, por não se restringir a uma
estrutura analítica estática, permitindo uma análise segmentada do ambiente competitivo e
a identificação de padrões característicos de cada agrupamento.
A incorporação de conceitos evolucionários de mudanças técnica e organizacional
pode prover uma base teórica consistente para se explorar tal abordagem15, a qual
15
Vide Capítulo 4.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 55
requererá contribuições conceituais e metodológicas específicas e a realização de pesquisa
empírica minuciosa para sua validação16.
2.8. Considerações finais sobre o Capítulo
Nos dias de hoje o termo competitividade é amplamente empregado nas mais
diversas situações e, na maior parte das vezes, sem rigor de definição do conceito que está
por trás da palavra, o que tem gerado um verdadeiro mosaico de definições para o termo,
dificultando o entendimento e, muitas vezes, induzindo conflitos de interpretação. Para
sintetizar e definir um marco conceitual sobre o tema, procurou-se desenvolver nesse
capítulo uma avaliação sobre os principais conceitos por trás do termo “competitividade”,
contrapondo, sempre que possível, os diversos enfoques, de modo a prover uma visão
sintética das dicotomias e divergências conceituais mais destacadas.
O conceito de competitividade está associado a uma visão teórica do processo
econômico e da finalidade de sua mensuração. Nesse sentido, tradicionalmente duas
correntes se destacam pelos distintos enfoques da competitividade: uma, a qual, para
efeitos de contraposição de conceitos, poderíamos denominar de industrial-otimizante,
centrada na eficiência e nos aspectos endógenos da empresa; e outra, com enfoque
financista-comercial, que sustenta uma abordagem centrada na eficácia, cujos parâmetros
de desempenho são os resultados obtidos no mercado, independente de suas fontes, sendo
portanto, exógena. Em ambas o enfoque está no desempenho da empresa. Entretanto, para
que se permitam e se validem estudos comparativos sobre a competitividade, tanto para
firmas, países e regiões, há a necessidade de uma convergência para um conceito mais
homogêneo.
Um conceito mais representativo do termo competitividade deveria integrar os
critérios de avaliação da eficiência e do desempenho presente, com sua evolução e
perspectivas de sustentação futura. Dessa forma, seria importante responder a uma
pergunta fundamental: Onde estariam as fontes das vantagens competitivas?
Para responder a esta pergunta seria necessário adotar uma perspectiva dinâmica, a
partir de uma visão em que o desempenho no mercado e a eficiência produtiva decorrem
da capacitação acumulada pelas empresas que, por sua vez, reflete as estratégias
16
Vide Capítulo 5.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 56
competitivas adotadas em função de suas percepções quanto ao processo concorrencial e
ao meio ambiente econômico onde estão inseridas. Desse modo, ao invés de entendida
como um fator intrínseco de um produto ou de uma firma, a competitividade surgiria como
uma característica extrínseca, relacionada ao padrão de concorrência vigente em cada
mercado.
Pela abordagem dinâmica, o processo de tomada de decisão estratégica concentraria
os fatores primordiais da competitividade. Porém, devido às incertezas do ambiente, e
conseqüentemente, pela impossibilidade de se conhecer antecipadamente as estratégias dos
concorrentes, as empresas definiriam seu comportamento e suas estratégias competitivas
baseadas em experiências passadas e de sua perspectiva quanto ao ambiente, vinculando-se
com conceitos econômicos evolucionários.
Nesta linha, alguns fatores a serem avaliados, além da produtividade, seriam: o
tamanho das firmas, a estrutura produtiva, o padrão de concorrência, as tecnologias
utilizadas e alternativas presentes e futuras, as economias de escala e de escopo, as
competências específicas, entre outros mais específicos à região, ao setor e às próprias
firmas, como a história específica e à cadeia de valor.
Na análise da competitividade estão envolvidos vários níveis, internos e externos,
que, em suma, buscam captar o comportamento da firma. Entretanto, a divisão tradicional
da análise competitiva nos níveis organizacional, estrutural, geográfico e sistêmico,
negligenciam certos arranjos produtivos locais, pouco competitivos fora da esfera regional.
Nesse sentido, para quando esta análise envolver pólos de indústrias locais, propôs-se a
consideração de um quinto nível, o qual foi denominado de nível “segmental”, por estes
constituírem-se geralmente de pequenos segmentos de cadeias produtivas, pouco
representativos comercialmente na cadeia, mas contudo, em muitos casos, exercerem papel
importante na economia regional e serem suscetíveis de análise e carentes de propostas de
desenvolvimento local próprias.
De um ponto de vista particular, a competitividade, como o próprio processo
produtivo, é antes de tudo comportamental e dinâmica, e se configura através de uma via
em mão dupla. Sendo assim, sua avaliação não pode concentrar-se apenas na eficiência ou
na eficácia, ou somente no lado da oferta ou da demanda. Conseqüentemente, para que a
avaliação da competitividade seja representativa e consistente, ela deve incorporar além de
fatores ex ante (como a eficiência e a produtividade), e ex post facto (através do
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 57
desempenho e da eficácia do processo produtivo), uma visão sistêmica e sustentável,
considerando o fator tempo, o nexo humano, e suas fontes, com critérios que reflitam até
que ponto o sistema pode proporcionar sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Sendo portanto, bem mais complexa.
Como destacado no texto, uma empresa ou setor geralmente é considerado
competitivo quando “apresenta bom desempenho nas vendas de produtos e/ou serviços”,
ou quando “consegue uma boa fatia do mercado”. Porém, uma entidade com fins
lucrativos, exceto em casos e ocasiões muito raros, não têm as mesmas preocupações e
prioridades de um país, região, município ou qualquer outra instituição pública, com
funções sociais explícitas. Neste caso, o aspecto social e humano assume uma dimensão
muito maior, apesar de financeira e administrativamente poderem (e deverem) operar de
forma similar, principalmente no que diz respeito à adequação e controle de gastos à
receita. Um ponto particularmente conflitante é a visão sobre o emprego. As firmas
tradicionalmente o vêem como um insumo à produção, enquanto que para os governos, ele
é resultado do crescimento econômico.
Embora novas teorias proponham para a firma novos comportamentos e posturas,
com uma crescente cobrança de responsabilidade social e ambiental, seu papel
fundamental dificilmente alcançará o papel do ente público, pois, hipoteticamente, caso
isto ocorra, este perderá sua função. Ademais, é uma tendência mundial o estado assumir
mais um papel de moderador e regulador que de empreendedor e comerciante. Embora sua
função social e importância como estimulador do desenvolvimento, esteja cada vez mais
aparente e reconhecida, principalmente no que se refere a regiões menos dotadas de
recursos naturais, de infra-estrutura e de conhecimento.
Assim, pode-se dizer que a expressão “competitividade empresarial” (de foco mais
estreito), estaria mais ligado a fatores econômicos e financeiros que levam ao crescimento
da firma, buscando incorporar, “quando as restrições permitem”, fatores de natureza social
e ambiental que interfiram no desempenho empresarial e industrial. Por outro lado, a
adoção do conceito de “competitividade regional” (espectro mais amplo), para que não se
caia em uma armadilha tautológica, só tem sentido se incorporar uma visão sistêmica e de
sustentabilidade do ambiente socioeconômico, refletindo, além da eficiência e eficácia das
empresas e setores econômicos locais, também a efetividade com que esses indicadores
ocorrem e seus reflexos nas condições de vida e bem estar da população local.
CAPÍTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANÁLISE 58
Conclui-se que, como o próprio processo produtivo, a competitividade, é antes de
tudo comportamental e dinâmica.
No próximo Capítulo, avança-se nos fundamentos teóricos da competitividade, em
busca de uma abordagem que nos permita definir um meio de identificação e diferenciação
de características específicas de comportamento que proporcionem às firmas a obtenção e
sustentação de vantagens competitivas em determinados arranjos produtivos locais.
CAPÍTULO 3
PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA
COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
Resumo
Neste Capítulo explora-se os fundamentos evolucionários para uma abordagem da
competitividade em arranjos produtivos locais. A partir de uma revisão dos conceitos e
hipóteses fundamentais da teoria econômica evolucionária, enfatiza-se suas principais
diferenças em relação à teoria neoclássica, buscando-se evidenciar sua maior relevância
para o tratamento e a análise de problemas dinâmicos do ambiente socioeconômico local e
para a análise da dinâmica competitiva em micro-sistemas produtivos locais, foco deste
trabalho. A seguir, apresenta-se a importância do conceito termodinâmico de entropia para
o entendimento de como sistemas abertos (como o econômico) interagem com o ambiente
e quais os efeitos dessa interação no comportamento de sistemas dinâmicos.
Subseqüentemente, apresentam-se os reflexos mais imediatos da abordagem evolucionária
para o enfoque do ambiente competitivo e do desenvolvimento econômico regional e local.
Também são traçadas algumas considerações sobre políticas e programas públicos de
sustentação da competitividade local, compatíveis com a perspectiva evolucionária. Por
fim, destacam-se algumas questões de pesquisa iminente que serão tratadas
subseqüentemente.
3.1 Introdução
Os avanços tecnológicos têm suscitado um relativo aumento no número de
abordagens para entendimento do progresso e do crescimento econômicos. As abordagens
para esses avanços seguem basicamente duas correntes distintas, uma neoclássica,
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
60
chamada de “principal” (mainstream); e outra alternativa, denominada evolucionária (ou
neo-schumpeteriana, segundo alguns autores), mais proeminente nos últimos anos. Neste
Capítulo, procura-se tocar os principais pontos (conceitos e hipóteses) que justificam uma
abordagem do desenvolvimento local/microrregional pela perspectiva evolucionária.
Segundo Nelson (1995), a abordagem mainstream considera fundamentalmente o
caráter estático das premissas de otimalidade e equilíbrio, intrínsecas ao pensamento
neoclássico, que excluem a individualidade dos agentes. Por outro lado, a abordagem
evolucionária pressupõe comportamentos e ações individuais e eventos locais de adaptação
ao ambiente (político, cultural, de mercado) como fonte crítica da diversidade e mudança
(NELSON & WINTER, 1982; DOSI, 1988). Processos coletivos em sistemas complexos
são realizados através da realidade microscópica de diversidade e subjetividade
idiossincrática, as quais provêm as bases para soluções criativas de adaptação (FOSTER
1997).
Para autores como Mirowski (1983) e Hodgson (1993), uma “teoria evolucionária”
é toda aquela que utiliza a metáfora da seleção natural biológica. Nesse sentido, conceitos
evolucionários já eram empregados na abordagem econômica desde antes do início do
século passado, ainda que de forma superficial.
Veblen (1898) foi o primeiro autor a adotar o termo “economia evolucionária”, e
quem pioneiramente defendeu uma abordagem evolucionária para a economia.
Citando Thorsten Veblen [1857-1929], Hodgson (1993, p.15) afirma que: “[...] a
teoria neoclássica era imprecisa porque indicava as condições de sobrevivência a que
qualquer inovação estava sujeita, supondo-a já ter acontecido, e não as condições de
variação no crescimento”.
Veblen se preocupava com uma teoria que pudesse explicar como as inovações
acontecem, e não em descrever as condições de equilíbrio depois das possibilidades
tecnológicas estarem estabelecidas. Nesse sentido, sua preocupação centrava-se não só no
processo de evolução econômica, mas também na transformação tecnológica, e na maneira
como a ação é moldada pelas circunstâncias. Ele rejeitou continuamente o cálculo, o
ajustamento marginal da teoria neoclássica para, ao invés disso, enfatizar a inércia e os
hábitos: “A situação de hoje define as instituições de amanhã através de um processo
seletivo e coercitivo, agindo sobre os hábitos, e, assim, alterando ou fortalecendo um ponto
de vista ou um condicionamento trazido do passado” (VEBLEN, 1899, p.190-191). De
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
61
acordo com Veblen (1919:239), as instituições são “hábitos estabelecidos de pensamento
comum à generalidade dos homens que ajudam na superação ou no fortalecimento de
processos de pensamento rotinizados que são compartilhados por um número de pessoas
em ambientes específicos”.
Até mesmo Alfred Marshall [1842-1924], apesar de ser considerado um ícone da
corrente neoclássica, já afirmava que “a Meca dos economistas fica mais na biologia
econômica do que na dinâmica econômica”. Tal afirmação sintetiza a atração que a
metáfora biológica exercia sobre ele, apesar de não ter voltado ao tema em seus trabalhos
subseqüentes (FOSTER, 1997).
Questões como diferenciação, complexidade e incertezas são preocupações da
teoria econômica moderna, principalmente a baseada na Escola Austríaca. Na primeira
metade do século passado, Joseph Alois Schumpeter [1883-1950], um dos célebres
representantes desta corrente, enfatizava o impacto fundamental causado pelos
empreendedores na estrutura econômica, considerados os reais inovadores (NELSON &
WINTER, 1982). Em contraposição aos modelos neoclássicos, o enfoque schumpeteriano
era no contínuo aumento de variedade na estrutura econômica, ou seja, no surgimento de
novas firmas e atividades econômicas e nas novas combinações resultantes1.
Como os economistas clássicos, Schumpeter (1943) enfatizava fundamentalmente o
lado da oferta da economia. Em sua visão, o deslocamento da função de produção e a
oferta de novos produtos sempre encontrariam demanda, enquanto que os consumidores
exerceriam um papel passivo, sendo induzidos a demandar novos produtos. Dessa forma, o
desenvolvimento econômico se daria através de mudanças qualitativas e quantitativas do
“fluxo circular de negócios” da economia2.
Segundo Freeman (1994), a evidência da fragilidade dos modelos adotados até
então (década de 50) para o tratamento da dinâmica tecnológica abriu as portas para se
considerar “uma nova função de produção” para o sistema econômico, gerando uma
verdadeira revolução na abordagem teórica das pesquisas subseqüentes. A função de
produção (neoclássica), quando conhecida, não era de grande ajuda para se decidir o quê
1
Uma compilação das diversas teorias do desenvolvimento econômico, com ênfase nos aspectos regionais,
pode ser encontrada em Souza (1999) e em Clemente & Higachi (2000).
2
Mais tarde, esse ponto passou a ser fortemente contestado, como veremos na Seção 3.3.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
62
tornava uma inovação bem sucedida. O problema essencial era que tal abordagem tratava
tecnologia como uma “caixa preta”3 (ROSENBERG, 1999).
Por outro lado, a abordagem evolucionária explícita somente foi desenvolvida após
os anos 60, quando emergiu uma série de estudos sobre inovação e mudança técnica,
motivada pela escalada armamentista do período da “Guerra-Fria”. Estes tratavam
inicialmente de fatores que propiciaram, durante e após a Segunda Grande Guerra,
inovações bem sucedidas a partir de investimento maciço nas atividades de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D), inicialmente no campo militar.
A importância, e a conseqüente necessidade de se avaliar o fenômeno da inovação
sobre a economia e a dinâmica industrial, fez crescer o interesse nessa área que passou a
justificar maiores investimentos. Por outro lado, essa avaliação não podia ser satisfeita com
as teorias existentes. Nesse sentido, os estudos sobre inovação, se tornaram muito
empíricos e focados na definição da estrutura interna da tecnologia. Grosso modo, poderiase dizer que a origem da economia evolucionária foi fortemente influenciada por estudos
de casos de inovação tecnológica, até então ignorados ou negligenciados pela economia
neoclássica.
Entretanto, por surgir de uma metáfora com o ambiente biológico, a abordagem
evolucionária inicialmente continha sérias contradições intrínsecas. Os estudos de casos,
apesar de representarem uma fonte rica e interessante da história natural da inovação, não
eram baseados em uma metodologia comum, e, portanto, não eram comparáveis.
Se a abordagem evolucionária apontava para uma teoria que pudesse prover
explicações para uma ampla gama de fenômenos econômicos, e não apenas para a
inovação, estas primeiras generalizações tinham que ser integradas a outras pesquisas
tradicionais. Por exemplo, inovações são criadas e adotadas, em sua maioria, nas firmas,
mesmo que em diferentes períodos de tempo. Surgia então, uma necessidade de
convergência para metodologias e estudos empíricos que proporcionassem uma base
comum para uma explicação teórica da inovação de forma mais ampla (FREEMAN, 1994).
3
Posteriormente, a corrente neoclássica avançou na tentativa de incorporar aos modelos de crescimento
econômico o papel da mudança tecnológica (como em Lucas (1964)). Porém, somente através dos trabalhos
pioneiros de Romer (1986) e Lucas (1988), incorporando o avanço tecnológico como fator endógeno, criando
daí uma nova série de abordagens, é que tecnologia e as desigualdades regionais passaram a ser
explicitamente consideradas nos modelos neoclássicos.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
63
Assim, um importante passo a ser dado era integração da abordagem evolucionária
com as teorias das firmas e organizações, como as teorias do crescimento (principalmente,
PENROSE, 1959) e comportamental (notadamente, BARNARD, 1938; SIMON, 1947;
1959; CYERT & MARCH, 1963), ou a abordagem dos custos de transação (COASE 1937;
ALCHIAN, 1950), entre outras.
As pesquisas que redundaram no clássico livro intitulado An Evolutionary Theory
of Economic Change (NELSON & WINTER, 1982) podem ser consideradas os passos
iniciais neste processo de integração. O argumento principal era que Ciência, Tecnologia e
Inovação (C&T&I) não poderiam ser desenvolvidas exclusivamente via mercado, pois
demandam um substancial envolvimento público, requerendo também uma abordagem
institucionalista4.
Apesar de Nelson & Winter (1982: 39) declararem que a denominação “neoschumpeteriana” seria equivalente à “evolucionária”, alguns autores fazem uma distinção
entre ambas. Segundo Hodgson (1993), Schumpeter evitou a analogia ao processo de
seleção natural para a economia e adotou um conceito inteiramente diferente de evolução.
“Sua concepção era mais revolucionária do que evolucionária” (op. cit.:149).
Para
Schumpeter, a evolução não decorria de um processo gradual e adaptativo, mas sim através
de saltos e revoluções. Esta observação e várias outras distinções parecem demonstrar que
muitos dos conceitos adotados pelos “novos evolucionários” estariam mais próximos da
abordagem institucionalista de Veblen do que das idéias do próprio Schumpeter.
Posteriormente, os autores neo-schumpeterianos passaram a investigar as interrelações entre estrutura e atores como mecanismo de retroalimentação (feedbacks), e não
4
A escola institucionalista americana (que tem em Veblen um dos seus mais eminentes representantes,
juntamente com Mitchell e Commons), referia-se às instituições, hábitos e regras, e seu processo de
evolução. Nesse sentido, a abordagem institucionalista dá ênfase às análises específicas e localizadas nas
concepções de que hábitos e instituições formam o vínculo entre o específico e o geral (Hodgson, 1993). O
que marca o ‘velho’ institucionalismo é sua rejeição aos pressupostos ontológicos e metodológicos do
liberalismo clássico e a defesa de que o indivíduo não pode ser assumido como dado”. Entretanto, para
Hodgson (1993, p. 13): “(...) o ‘velho’ institucionalismo perseguiu uma direção cada vez mais descritiva,
deixando muitas das questões teóricas centrais sem resposta”. Em razão disso muitos autores, como Myrdal
(1953), criticam a tradicional economia institucional americana como sendo marcada pelo ‘empirismo
ingênuo’.
O novo institucionalismo surgiu constituindo um enfoque centrado na Economia dos Custos de Transação, a
partir dos trabalhos pioneiros de Ronald Coase (Coase, 1937) (Prêmio Nobel de Economia de 1991), e mais
recentemente por Oliver Williamson (ver, por exemplo, Williamson, 1990 e Williamson & Winter, 1993).
Nesse sentido, o conceito de Sistemas de Inovação (Lundval, 1988; Nelson, 1993; Edquist, 1997; Braczyk et
al., 1998), adota uma visão sistêmica-evolucionária para análise de processos de inovação e interações
institucionais. Ver, por exemplo, Conceição (2002).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
64
apenas como uma estrutura dada ou a forma como o ambiente seletivo influencia os atores
(isto é, a composição da sociedade dentro da estrutura de tempo e espaço), mas também
como estes (especialmente os inovadores) mudam tal estrutura (Dosi, 1988).
Atualmente, com exceção da escola pós-keynesiana, todas as correntes da teoria
econômica moderna tentam, em maior ou menor grau, utilizar alguma analogia biológica
para analisar a evolução dos sistemas econômicos. Entretanto, como afirma Foster (1997),
“[...] esta analogia não pode revelar os principais fatores da mudança evolucionária no
processo econômico. Analogias são utilizadas em estágios preliminares de pesquisas e
como argumento lingüístico ilustrativo. A deficiência chefe da analogia biológica, tanto a
neodarwiniana como a lamarckiana, é que elas são atemporais, e assim, não podem
incorporar a história, exceto pelo uso planejado da mecânica newtoniana comparativa,
considerando a competição agindo como força equilibrante” (op.cit.:449).
O surgimento de novas variedades de atividades e agentes econômicos, sua coevolução e o relacionamento recíproco entre estes e a estrutura socioeconômica é um
aspecto característico da abordagem evolucionária recente, o qual, pode prover um novo
entendimento para o desenvolvimento regional, microrregional e local. A partir deste
enfoque, duas questões assumem maior relevância: (i) como os mecanismos de “seleção” e
“dependência da trajetória” (path dependence) influenciam a formação de variedade na
estrutura econômica e o desenvolvimento microrregional; e, (ii) como políticas de
desenvolvimento microrregional/local podem ser mais bem adaptadas às múltiplas
trajetórias de desenvolvimento, considerando um mercado potencialmente ineficiente,
afetado por oportunidades e ações políticas de certos grupos de agentes.
O tratamento de questões locais do desenvolvimento econômico é um tema
raramente encontrado na literatura, nesse sentido, torna-se importante identificar os
vínculos entre os conceitos evolucionários e a abordagem do desenvolvimento econômico
e da competitividade das empresas.
A seguir, o desenvolvimento das idéias e conceitos esboçados previamente estão
estruturados nas seções subseqüentes. Na Seção 3.2, busca-se mostrar as diferenças da
abordagem evolucionária em relação ao método científico tradicional e as peculiaridades
do tratamento de sistemas abertos e fechados e a sua relação com o conceito
termodinâmico de entropia. Na Seção 3.3, é feita uma discussão sobre algumas abordagens
do desenvolvimento econômico pelo enfoque do relacionamento recíproco entre nova
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
65
variedade e estrutura. São feitas considerações sobre como os “mecanismos de seleção” e a
“dependência da trajetória” restringem as possibilidades futuras de desenvolvimento
microrregional. Adicionalmente é tocada a questão de como oportunidades e ações
políticas (acasos e “intervenção humana”) afetam a formação espacial de novas atividades
econômicas. Na Seção 3.4, são discutidos os contrapontos entre os conceitos
evolucionários e as iniciativas e decisões políticas sobre o desenvolvimento
microrregional/local. Apresentam-se alguns dos fundamentos básicos para uma
“abordagem competitiva evolucionária”, a qual, é fundamentada na seção seguinte (3.5).
Na seção 3.6, são apresentadas as considerações gerais sobre o Capítulo.
3.2 Método científico, evolução e entropia
O método científico é útil em decorrência de sua objetividade na busca de
procedimentos que possibilitam uma interpretação adequada dos fenômenos da realidade.
Em virtude disso, todo avanço tecnológico suscita problemas científicos cuja solução pode
consistir na proposição de novas abordagens e na elaboração de metodologias e técnicas
alternativas de investigação, com a finalidade de se obter um maior conhecimento dos
fenômenos particulares a certos sistemas ou para o tratamento de problemas para os quais o
arcabouço teórico vigente não se tem mostrado satisfatório ou adequado (MARCONI &
LAKATOS, 2000).
Evolução é um conceito que tem se tornando central em várias áreas científicas,
como na economia do desenvolvimento (ver, por exemplo, CLARK et al., 1995), na
geografia econômica (ver, por exemplo, BOSCHMA & LAMBOOY, 1999), e, em
particular, nos estudos organizacionais (ver, por exemplo, BAUM & SINGH, 1994 e
NOOTEBOOM, 1999). Neste sentido, a abordagem evolucionária baseia-se na análise de
processos dinâmicos e da estrutura de sistemas abertos, buscando explicar como certos
organismos se comportam e evoluem em ambientes específicos.
Entretanto, evolução e mudança são conceitos que tradicionalmente a ciência não
têm tratado de forma satisfatória. Este fato pode ser atribuído, em parte, à tentativa de se
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
66
entender sistemas viventes5 integralmente através de ferramentas matemáticas e, por
conseqüência, pela dificuldade de modelá-los na forma de equações.
Através de uma equação, expressa-se o fato de o “lado direito” ser equivalente ao
“lado esquerdo”, e que há duas maneiras de se dizer a mesma coisa. Um artifício utilizado
nas descrições matemáticas de sistemas, e mudanças no tempo, é supor que os lados direito
e esquerdo de uma equação são, respectivamente, o estado inicial e final de um sistema.
Deste modo, assume-se um tipo de “conservação”, que significa que os valores inicial e
final devem ser idênticos, e assim, que se a quantidade de alguma parte do sistema for
aumentada, esta deve ser compensada pelo declínio proporcional da mesma em outra parte.
A aplicação desta visão tradicional de ciência ao mundo real pressupõe apenas uma
definição apropriada e satisfatória das “partículas elementares” conservativas no tempo, de
modo a escrever as equações que seguem uma predição. Mudança, nesta visão, é apenas a
transferência superficial destes componentes da uma parte a outra do sistema
(LEYDESDORFF & Van den BESSELAAR, 1994; CLARK et al., 1995; KEMP, 1997).
O método científico tradicional é fortemente baseado no modelo mecânico
(ROSEN, 1987). Por esta visão, o comportamento de um sistema pode ser entendido, e
antecipado, pela identificação e classificação de seus componentes e seus elos causais, ou
mecanismos de interação6. Nos sistemas físicos, as leis fundamentais da natureza, tais
como conservação de massa, momento e energia, governam estes mecanismos e
determinam integralmente o que deve acontecer. Estes sistemas podem ser isolados
(fechados) de forma a garantir que nenhuma nova matéria ou energia flua e gere qualquer
distúrbio. Limites são colocados no comportamento possível, de forma que se possa
predizer as propriedades do estado final, de forma tão geral, que se aplica genericamente a
qualquer sistema físico. Nestes sistemas, o estado final é aquele do equilíbrio
termodinâmico, e as propriedades da matéria que o caracterizariam, podem ser calculadas
para um amplo conjunto de problemas (ALLEN, 1994; LEYDESDORFF & Van den
BESSELAAR, 1994).
Por esse método, o futuro de um sistema pode ser predito pelo simples expediente
de considerar o comportamento das equações que governam seu movimento. A
5
Adotou-se o termo “viventes”, ao invés de “vivos”, por aquele refletir melhor a idéia de processo em
contínua evolução.
6
Ver, por exemplo, o modelo proposto por Souza (1998) para o dimensionamento de um sistema energético
industrial.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
67
“explicação”, neste caso, é reduzida a um esclarecimento de como o sistema funciona. A
questão do porquê dele ter se tornado o que é, (que é fundamental, por exemplo, para se
entender
o
processo
de
inovação,
competitividade
e
o
desenvolvimento
microrregional/local), não é respondida.
Enquanto é possível escrever as equações da mecânica de partículas imaginárias, o
tratamento de sistemas reais é extremamente complexo, sendo sempre necessário fazer
algumas (às vezes muitas) “aproximações”, para se chegar às equações que supostamente
governam seu movimento. A hipótese geralmente feita, é que os elementos que compõem
as variáveis (indivíduos dentro de uma população, firmas em um setor etc.) são todos
idênticos a um tipo médio. Neste caso, como afirma Clark et al. (1995), o sistema é
reduzido a uma “máquina” (modelo) que representa o sistema em termos de um conjunto
de equações diferenciais (às vezes não-linear) que governam suas variáveis. Esta é a visão
Newtoniana, que vê o mundo como um grande (e pontual) relógio. A Figura 3.1 apresenta
uma ilustração (grosseira) deste processo.
SISTEMA
COMPLEXO
“Medianização” ou redução
Modelos Orgânicos
Equações
diferenciais
Modelos
mecânicos
caos
equilíbrio
ciclos
Figura 3.1 - Redução de sistemas complexos a sistemas simples pela modelagem
matemática (reproduzida de Clark et al., 1995).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
68
Através da ilustração anterior, procura-se mostrar que com a progressiva
simplificação da realidade a modelos abstratos, compatíveis com as ferramentas e modelos
matemáticos previamente disponíveis (como convencionalmente se faz pelo método
científico newtoniano), acaba-se por reduzir demasiadamente os problemas reais a modelos
de equilíbrio geral (representado pela elipse interna). Assim, os resultados são
aproximações, que, com o passar do tempo, se distanciam cada vez mais do problema real,
gerando maiores distorções.
Sob esta visão, predições eram feitas simplesmente “rodando” o modelo,
“acelerando o mecanismo para frente no tempo”, assim, afirmações sobre o futuro, sob
certas condições, podiam ser feitas estudando os tipos de soluções possíveis para o longo
prazo. Este método científico era baseado na hipótese de inevitabilidade de um estado final
definido.
A idéia de equilíbrio vinha da hipótese de que haveria somente uma única solução
para o modelo, um ponto “atrator” e, portanto, tudo que ocorresse ao sistema
inevitavelmente acabaria nele7. Este ponto “atrator” (solução das equações diferenciais)
expressava um máximo ou mínimo de alguma função potencial, como acontece na física
com as forças dissipativas de fricção e viscosidade que agem para levar qualquer sistema
mecânico para um estado de equilíbrio termodinâmico, de máxima entropia.
Pela hipótese anterior, deriva-se que o sistema em questão é governado por dois
aspectos característicos8: (i) mecanismos determinísticos médios, operando entre
componentes típicos; e (ii) comportamento local não-médio.
Entretanto, como afirma Clark et al. (1995:42): “[...] em se tratando de sistemas
abertos, tal hipótese é completamente falsa”. Para sistemas isolados, há um resultado
previsível, o equilíbrio termodinâmico, mas não para sistemas abertos, nos quais matéria e
energia podem fluir através das fronteiras do sistema. O que muda completamente a
maneira de como explicar e entender cientificamente estes sistemas.
7
Posteriormente, verificou-se que sistemas de equações diferenciais não lineares admitem vários tipos de
solução, desde estacionárias e homogêneas, caóticas e heterogêneas, a estruturas de ordem espacial e
temporal. Contudo, as condições de experimentação externa não são suficientes para determinar um futuro
único, desde que tais sistemas podem ser estruturados de modos variados dependendo dos detalhes internos
de seus componentes, os quais não podem ser controlados externamente (Allen, 1994).
8
No caso de sistemas não-lineares, tais características poderiam ser amplificadas, provocando mudanças
estruturais qualitativas nos mecanismos médios (ver Allen, 1994).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
69
Quando mecanismos não-lineares estão presentes, o sistema pode continuar a
mudar indefinidamente, tanto através de trajetórias cíclicas do mesmo tipo, como por
movimentos caóticos em torno de um núcleo “atrator”. Sua evolução pode envolver
mudanças estruturais na organização espacial e hierárquica, quando características
diferentes (qualitativamente) emergem, e novos problemas, novas restrições e satisfações
são ativados espontaneamente pelo sistema (LEYDESDORFF & Van den BESSELAAR,
1994; CLARK et al.,1995).
Até mesmo em sistemas tidos como “físicos puros”, quando estes se tornam abertos
a fluxos de energia e matéria, não há necessariamente um estado final único, que possa
representar um “estado de otimalidade”.
Esta capacidade de mudança estrutural não está contida nas equações de sistemas
mecânicos dinâmicos descritos convencionalmente, que são capazes de funcionar, mas não
de evoluir. Mais do que isso, mudança evolutiva resulta também do que foi removido (na
redução a uma descrição determinística), porém este processo não se dá pela média, como
geralmente assumido.
Sistemas viventes (orgânicos) como, por exemplo, os econômicos, estão sempre
abertos a fluxos de matéria e energia, e somente obtêm equilíbrio termodinâmico quando
“morrem”. Sistemas viventes estão em constante “diálogo” (não em equilíbrio) com seu
ambiente e, até mesmo quando não evoluem visivelmente, mantêm a capacidade de evoluir
e mudar devido a sua subjacente diversidade (ZIMAN, 2000). Apesar disso, sistemas
econômicos, biológicos, ecológicos ou humanos e sociais são discutidos em termos de
comportamentos e elementos “típicos” e de estereótipos que compõem um esquema de
classificação previamente definido. Por trás desses esquemas, na realidade, há sempre
bastante particularidade e diversidade (ALLEN, 1994; CLARK et al.,1995).
A partir dessa visão, o triunfo da ciência clássica foi tal que se acreditou
(erroneamente) que se poderia proceder da mesma forma para qualquer tipo de sistema,
bastando utilizar idéias análogas para biologia, economia, e outros campos de
conhecimento, não regidos pelas leis da física. O “canto da sereia” era atraente e tais idéias
acabaram sendo usadas genericamente, gerando interpretações distorcidas e procedimentos
inócuos.
Apesar do grande avanço representado pela ciência clássica, e da validade de seus
métodos para inúmeros experimentos científicos, nem todo sistema pode ser analisado em
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
70
termos de “partículas elementares rodopiando no espaço”, de acordo com as leis
fundamentais da Física. Para sistemas econômicos locais, em cuja abordagem estamos
interessados, esta hipótese nega a existência de criação, inovação e adaptação.
No desenvolvimento econômico, mudança e transformação, surgimento e evolução,
não podem ser entendidos meramente através de representações mecanicistas (ALLEN,
1987; KEMP, 1997). Mais do que isso, entender e descrever o nascimento,
desenvolvimento, saturação, declínio e morte de novos “elementos”, estruturas e estados de
organização são fundamentais na análise de qualquer sistema vivente, principalmente
quando tratamos de conceitos dialéticos como forma e qualidade (MAYUMI, 1995).
A questão de mudança e trajetória do tempo somente começou a ser tratada pela
Física Clássica a partir da formulação da Segunda Lei da Termodinâmica, ou Lei da
Entropia, quebrando o dogma mecanicista da Física Clássica que reinou sustentado na
Primeira Lei (Lei de Conservação de Energia). A Lei da Entropia é a única “lei” da física
que se aproxima claramente das mudanças qualitativas de sistemas biológicos e
econômicos. Porém, ela não determina quando a entropia de um sistema isolado irá
alcançar um certo nível, nem exatamente o que irá acontecer, devido à denominada
“indeterminação entrópica”. Simplesmente a Lei da Entropia aceita a irreversibilidade do
tempo, sem mostrar que esta provém de leis mais fundamentais, ou como se concilia com
elas propriamente (MAYUMI, 1995).
Na magnífica obra The Entropy Law and the Economic Process (GEORGESCUROEGEN, 1971), o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen [1906-1994], propôs
uma nova epistemologia associando o processo econômico ao conceito termodinâmico de
entropia: “[...] A Lei da Entropia é estritamente uma lei evolucionária, no sentido de um
processo vinculando nascimento e morte. Entretanto, há uma insuperável dificuldade de se
lidar com mudanças evolucionárias, pois o processo não pode ser visto como um sistema
isolado [...] ela (a Lei) aplica-se somente a um sistema isolado como um todo” (op.cit.,
p.192). Ou seja, o sistema não pode ser particionado e isolado em partes. Mais tarde, tal
autor reconheceu as restrições de se aplicar a Lei da Entropia ao processo econômico
(MAYUMI, 1995). Porém, a característica evolucionária do processo econômico se tornou
cada vez mais explícita.
Nesse sentido, uma das principais críticas que se faz à visão neoclássica da
economia, é que ela foi concebida como a Primeira Lei da Termodinâmica, considerando
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
71
sistemas fechados, ainda que reconheça o sistema econômico como aberto. Segundo
Georgescu Roegen [1976, apud FOSTER (1997)], o sistema econômico deve ser entendido
como um sistema aberto, e portanto, a abordagem mais adequada seria em termos da
Segunda Lei (Entropia), considerando os fluxos com o ambiente, responsáveis por
mudanças estruturais no sistema.
Em um sistema evolucionário, a estabilidade de qualquer forma macroscópica é
permanentemente testada por eventos de cada contexto local do sistema. O poder de
autotransformação é um resultado natural do próprio processo, que envolve habilidade de
evoluir e capacidade de adaptação e mutação, em resposta às incertezas do mundo real.
Estas características resultam em diversidade interna e variabilidade de populações
(FOSTER, 1997; ZIMAN, 2000).
Nesta visão, podemos entender que as circunstâncias presentes não são inevitáveis.
Fazem parte de uma história particular que foi criada e marcada por decisões, eventos de
criatividade e emergência de novas formas, funcionalidades e organizações. Desta forma, a
sobrevivência (ou extinção) no longo prazo de qualquer sistema ou organismo particular é,
até certo ponto, mais função de sua habilidade de enfrentar incertezas e mudanças, gerando
respostas apropriadas (locais), do que da otimização precisa do seu comportamento em um
determinado período.
3.3 Competitividade e desenvolvimento na perspectiva evolucionária
Considerando um contexto evolucionário, as alternativas para políticas regionais
são muito mais satisfatórias no campo estratégico, especialmente aquelas voltadas para
indústrias com “retornos crescentes” ou, também para as denominadas por Arthur (1994)
de “atividades-i” que formam “setores-i”. O “i” refere-se a atividades altamente dinâmicas
em setores intensivos em conhecimento e tecnologia que criam seus próprios “retornos
crescentes” in situ, como resultado de seu desenvolvimento. Durante seus primeiros
estágios de crescimento, sua característica de progresso cumulativo pode limitar
consideravelmente as possibilidades de alocação ótima de recursos (no sentido
neoclássico). Entretanto, é imprevisível saber quando tais atividades-i seguem os velhos
padrões locacionais ou quando criam novas estruturas por forças próprias (ARTHUR,
1996).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
72
As atividades e setores mencionados anteriormente não são ainda bem observados e
documentados, e os mercados, assim como os governos, não estão muito conscientes de
sua significância. Segundo Arthur (op.cit), para que atividades-i e setores-i se desenvolvam
é fundamental que barreiras à entrada sejam baixas (especialmente os custos de produção
ou aquisição de conhecimento). Além disso, é necessário criar um ambiente que retenha ou
atraia empreendedores e força de trabalho pensante, fatores decisivos para o
desenvolvimento de competências. Infra-estrutura física atrativa, estrutura diversificada de
instituições de ensino e saúde e meios de transporte e comunicação inter-regionais, são
recursos que podem ser considerados como muito importantes e que podem ser
influenciados pela comunidade regional.
Neste sentido, regiões altamente diversificadas, com uma infra-estrutura
estabelecida, estariam mais bem preparadas para atrair empreendedores e portadores de
novos conhecimentos. Como ocorreu no Vale do Silício, na Califórnia, a trajetória de
desenvolvimento começou a evoluir a partir do estabelecimento da Universidade de
Stanford, reforçada pela “ação humana” no desenvolvimento de redes informais de
trabalhadores qualificados, com forte ênfase em projetos na área de defesa Militar.
Entretanto, este não foi um processo determinístico. Pelo contrário, foi em grande parte
resultado da ação inconsciente e informal de diversos agentes humanos envolvidos na área
de microeletrônica (SAXENIAN, 1994).
Tais políticas são geralmente focadas em indústrias ou tecnologias específicas,
assumindo que efeitos cumulativos de linkages diretos ou indiretos com outras indústrias e
firmas geram benefícios econômicos; ou, pela percepção de que indústrias modernas e
“high tech” são necessárias para o crescimento econômico. Ambas se baseiam no
planejamento de um ambiente com infra-estrutura física e socialmente agradável, para
atrair empresas de alta tecnologia, prestadoras de serviços e trabalhadores altamente
qualificados. Além disso, as decisões estão freqüentemente focadas em Pequenas e Médias
Empresas (PME) e em empreendedores inovativos por meio de instalação e modernização
de instituições locais (como centros de pesquisa) e redes de pequenas e médias empresas,
de modo a estimular novas idéias e tecnologias (CARLSSON & STANKIEWICZ, 1991).
Como Schumpeter já havia observado há mais de 50 anos: “desenvolvimento... é
um fenômeno distinto, inteiramente diferente do que se pode verificar no processo
econômico de fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. Constitui-se de mudanças
descontínuas e espontâneas nos canais do fluxo, distúrbios do equilíbrio, que alteram e
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
73
deslocam para sempre qualquer equilíbrio previamente existente” (SCHUMPETER,
1943:64). Apesar disso, especialistas do desenvolvimento econômico continuaram, e
continuam, a elaborar modelos de desenvolvimento econômico baseados em uma visão
determinística e no conceito neoclássico de tendência ao equilíbrio, entre outros.
Considerando as hipóteses evolucionárias, sabemos que nem todas as microrregiões
e localidades possuem as mesmas oportunidades e meios para atrair novas atividades ou
desenvolver fontes próprias de crescimento econômico, principalmente àquelas com
dívidas históricas de investimento em infra-estrutura social e urbana. Uma questão
particularmente interessante que surge é, até que ponto uma microrregião pode agir para
determinar seu próprio futuro? Nesse contexto, mecanismos para desenvolver e atrair
novas variedades, tornam-se fundamentais para a promoção de economias de aglomeração
e a diversificação das atividades econômicas locais.
Na visão evolucionária, o ambiente age como um mecanismo de filtragem dos
eventos aleatórios (oportunidades), podendo favorecer ou restringir a capacidade de
enfrentar mudanças. Políticas de desenvolvimento local (microrregional) compatíveis com
esta visão devem levar em conta os mecanismos de seleção e de dependência da trajetória.
O conceito de dependência da trajetória9 (ou do caminho, no inglês: path
dependence), tem origens na Matemática, através de observações e simulações da
influência das condições iniciais, em certos sistemas de equações não lineares, na trajetória
futura desses sistemas. No campo econômico, de forma geral, o conceito ilustra
alternativas e soluções condicionadas por eventos históricos e pela base de conhecimento
comum a certas áreas (ver, por exemplo, DOSI, 1988; ARTHUR, 1989; ANTONELLI,
1997; HAKANSSON & WALUSZEWSKI, 2002). Este fenômeno tem sido também
considerado e verificado em outros campos científicos, como o social e o ambiental. De
forma geral, este é um conceito perverso para a manutenção de certas características da
qualidade de vida e para a preservação dos recursos naturais, devido à noção de
irreversibilidade que trás embutida. Neste sentido, há trabalhos que o vinculam também ao
conceito termodinâmico de entropia (GEORGESCU-ROEGEN, 1971; FOSTER, 1997),
9
Para uma investigação mais teórica sobre outros conceitos de dependência, como “dependência da massa” e
“dependência da densidade” (que regulam a taxa de entrada e saída de novos mercados), e a dinâmica
evolucionária das organizações industriais, ver Baum & Singh (1994). Para um enfoque mais matemático,
ver Vega-Redondo (1996).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
74
descrito anteriormente. Infelizmente, “estamos amarrados ao tempo!”. Note-se, entretanto,
que o conceito de “dependência da trajetória” é diferente de “dependência do passado”,
pois o primeiro baseia-se na hipótese de que ações em cada ponto no tempo são capazes de
alterar o curso da história (ANTONELLI, 1997), o que não é assumido no segundo.
Conseqüentemente, somente através do conhecimento dos efeitos específicos e
características locais é que se pode chegar às verdadeiras origens desse fenômeno, e assim,
poder propor estratégias e alternativas apropriadas para superar ou reverter barreiras ao
desenvolvimento desses micro-sistemas locais, como os aglomerados de pequenas
indústrias (LIEBOWITZ & MARGOLIS, 1995; BALMANN, 2002).
Nesse sentido, o conceito de dependência da trajetória é extremamente importante
para uma abordagem da dinâmica do ambiente econômico local por uma perspectiva
evolucionária. Por esse conceito, o acúmulo de competências dentro da trajetória passada
(seqüência de eventos), as incertezas do ambiente e a escassez de recursos (entre os quais,
os financeiros) levam as firmas à “rotinizarem” seus comportamentos, que por sua vez
limitam as trajetórias possíveis a um certo conjunto viável de alternativas.
O ambiente de seleção local (as estruturas institucionais, econômicas, sociais e
culturais) guia, habilita e restringe os atores locais a reterem, sustentarem e expandirem sua
posição competitiva. Segundo Boschma & Lambooy (1999) e Lawson (1999), entre outros,
mudanças bem sucedidas em firmas e outras organizações são mais prováveis de acontecer
quando sustentadas por competências locais.
Por outro lado, isto leva a dois problemas. Quando a adaptação à mudança é
fortemente restringida pelas fronteiras espaciais do sistema, como podem as estratégias
locais voltadas para alterar o curso do desenvolvimento, serem bem sucedidas? Um outro
problema é, como os agentes locais buscam e avaliam novas tecnologias como forças
potenciais de reestruturação da região? Paralelamente, como podem os atores locais
enfrentar o problema de avaliar e especificar o grau de adequação local a novas
tecnologias?
Como pode tornar-se impossível contornar todos estes problemas, o papel das
políticas e ações de desenvolvimento local deve ser dirigido a identificar, orientar e
melhorar os elementos da estrutura ambiente que afetam a capacidade de uma microrregião
de “fertilizar” e desenvolver novas atividades econômicas (BOSCHMA & LAMBOOY,
1999). Nesta estrutura, são considerados parâmetros como o perfil da produção, dos
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
75
trabalhadores, tamanho da demanda para bens e serviços, eficiência das instituições de
mercado (como órgãos de financiamento e de promoção de negócios) e um sistema de
regulação fiscal eficiente. Há ainda o problema de como se evitar ou superar uma condição
de travamento ou estagnação (lock-in), causado pela dependência da trajetória local.
Em microrregiões altamente especializadas, economias de localização podem,
certamente, estimular um comportamento inovativo ao longo das trajetórias existentes,
porém, freqüentemente impedem, ou dificultam, a adaptabilidade local para gerar algo
inteiramente novo (GRABHER, 1993). Isto pode ser atribuído ao comprometimento de
longa data do ambiente local com “velhas” tecnologias em termos de produção,
investimentos, habilidades, grupos industriais e instituições.
Em microrregiões industriais “maduras”, indústrias tradicionais, sindicatos e órgãos
representativos de classes, geralmente tendem a se agarrar aos seus “direitos adquiridos” e
aos seus interesses corporativos. Conseqüentemente, os gestores públicos precisam antever
esta dinâmica e implementar e estimular programas estruturais de capacitação e reciclagem
em um ritmo compatível com o das mudanças e das transições, gerando mais trajetórias
capazes de superar os mecanismos de seleção. Como conseqüência, o processo de
estagnação seria resultado de um amplo conjunto de “trajetórias excluídas”. Gestores
públicos comprometidos com interesses de grupos estabelecidos, contrários às mudanças
estruturais, tendem a agravar esta situação (NELSON & WINTER, 1982).
Devido à dependência da trajetória, políticas condizentes com a visão evolucionária
devem assumir a variedade regional como ponto de partida (BRACZYK et al., 1998).
Conseqüentemente, isto implica que, uma diversidade de políticas que levem a diversos
possíveis caminhos de desenvolvimento é recomendável, o que fortemente contrasta com a
hipótese comum às teorias keynesiana e neoclássica, de que “[...] políticas de “cima para
baixo” podem ser tomadas genericamente a qualquer região [...]” (AMIN, 1998, p.2;
HIGGINS & SAVOIE, 1994).
Um modelo de política regional proposto por Morgan (1997), baseia-se em
estratégias de “baixo para cima” afinadas com as carências e os recursos locais. Tal
abordagem considera a hipótese de que as regiões diferem em potencial de
desenvolvimento.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
76
De fato, regiões, definidas como entidades socioeconômicas, não diferem somente
com respeito a suas habilidades de gerar, emular ou aplicar nova tecnologia, mas também
diferem em sua capacidade adaptativa.
Storper (1997), por exemplo, afirma que hábitos, convenções e conhecimento
tácito, em certas microrregiões, são fatores que determinam a capacidade de crescimento
econômico. Isto conduz ao problema de como tratar regiões periféricas, defasadas
tecnologicamente. A este respeito, Cooke & Morgan (1998), chamam a atenção para a
necessidade de se estabelecer estratégias específicas para certas regiões, dentro de políticas
nacionais, ou de blocos, que prevejam mecanismos de redistribuição e diminuição das
desigualdades.
A configuração institucional de países e regiões é freqüentemente considerada
como resistente a mudanças, reflexo da cultura específica, e de lenta adaptação, devido à
dependência da trajetória. Apesar desta dependência, o ambiente econômico evolucionário
oferece oportunidades para que autoridades e governos locais e organizações
microrregionais influenciem a direção e o desenvolvimento de suas trajetórias (PEREZ,
1983).
A conectividade entre as várias partes do sistema de produção e inovação são
fundamentais para o desenvolvimento local e regional (HIGGINS & SAVOIE, 1994). Na
prática, políticas, programas e projetos de modernização, fortalecimento e estímulo aos
elementos fracos do sistema (setores, segmentos e indústrias locais) devem ser
implementados. Estas ações não devem influenciar somente a estrutura das instituições,
elas também devem afetar os padrões de interação das instituições de várias formas (como
por exemplo, políticas de estímulo à interação indústria-universidade). Nesse sentido, a
intervenção de governos locais pode ser mais eficaz no incentivo à construção e
sustentação de um sistema de interdependências como forma de aumentar a capacidade de
aprendizagem local, levando em conta o passado institucional e industrial (MORGAN,
1997).
Por essa visão, esbarra-se em uma questão problemática. Para aumentar a
interatividade local, as microrregiões precisam construir uma “rede de capacidades e
competências”, de modo a explorar as oportunidades e convertê-las em atividades bem
sucedidas (STORPER, 1995). Entretanto, a inércia institucional e a falta de confiança, são
exatamente as características mais comuns e acentuadas da maioria das regiões “carentes”
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
77
e de pólos de industrias tradicionais (BOSCHMA & LAMBOOY, 1999). Segundo Amin
(1999:12), o principal desafio político, nesse caso, seria “[...] encontrar meios de substituir
tradicionais laços de hierarquia e dependência (por exemplo, com grandes indústrias,
repasses governamentais, vínculos familiares) por fluxos mútuos de informação e
cooperação entre os agentes econômicos e instituições locais e regionais”.
Tal substituição deve ser um objetivo de longo prazo, possível somente através de
iniciativas passo a passo no curto prazo, de modo a alterar a ordem de prioridades dos
investimentos, passando a incentivar novos negócios, principalmente aqueles com maior
potencial para exportação e de produtos de maior valor agregado.
Ações políticas compatíveis com um ambiente evolucionário devem direcionar
esforços para estimular o desenvolvimento e a difusão de novas variedades ou inovações
no sistema econômico. Em princípio, isto pode ser proporcionado através de mecanismos
de seleção eficientes e medidas que minimizem problemas de adaptação a mudanças. Neste
sentido, segundo Metcalfe (1994), diferenças com a chamada abordagem do “equilíbrio”
estão na noção de “falhas de mercado” (e.g., falta de incentivos) provocadas pelo fato de
não ocorrer uma alocação ótima de recursos; e que o propósito de políticas públicas não é
otimizar uma função objetivo, como benefícios sociais, mas sim estimular a introdução e a
difusão de melhorias tecnológicas. Isto não quer dizer que “falhas de mercado relevantes”
não justifiquem uma ação na política tecnológica forte e “racional”. Pelo contrário, a
operação eficiente do ambiente de seleção pode ser seriamente prejudicada por um sistema
de acesso à informação mal constituído, a qual, é considerada uma das principais causas
das “falhas de mercado”.
Além disso, as “falhas de mercado” reaparecem quando o processo de seleção é
manipulado por grupos de firmas para garantir seus lucros (e.g., através de cartéis).
Contudo, o fato é que a noção de “falhas de mercado” não permite uma base segura para
ações políticas devido a problemas práticos. Por exemplo, seria muito caro identificar para
cada caso o grau da “falha” e implementar uma ação política corretiva. Por outro lado,
também seria errado aplicar um método de otimização em um sistema evolucionário, cujas
mudanças e sua dinâmica não produzam mercados com as condições de “otimalidade de
Pareto” (VIETOR, 1994).
Este pensamento defende que políticas públicas devem seguir dois propósitos: (i)
garantir mecanismos eficientes de seleção de mercados e extramercado, através de
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
78
mercado de capitais e acesso à informação; e, (ii) assegurar a criatividade do sistema
econômico e a diversidade de comportamento no sistema, através de abertura à competição
e garantias de apropriabilidade de direitos (e.g., patentes) para diminuir barreiras à entrada
de agentes inovativos.
Porém, segundo Metcalfe (1994), a operação efetiva de um sistema de inovação
evolucionário depende da eficiente interação entre as firmas e outras instituições de
pesquisa, para, conjuntamente, aumentar o processo de aprendizagem e criatividade. Esta
condição não é considerada pela teoria neoclássica que assume um comportamento
simétrico entre os agentes, não coerente com o fato de que conhecimento disseminado
(spillovers) pode gerar efeitos na aprendizagem interorganizacional. No conceito de
Sistemas de Inovação10, a divisão do trabalho (em termos de função e domínio),
compreende diferentes instituições, reflete diferenças culturais, tem diferentes objetivos e
responde a diferentes estímulos (op.cit.). Por isso, há necessidade de ações no sentido de
promover a conectividade e a interação entre as várias partes do sistema.
O papel do decisor na visão evolucionária, também difere daquele na visão
neoclássica, que pressupõe a idéia fictícia de um observador totalmente informado sobre o
processo econômico, inclusive nas abordagens mais recentes (WEGNER, 1997). A
abordagem evolucionária assume que é equivocado admitir um agente econômico como
tomador de decisão totalmente informado (e dessa forma, capaz de identificar e
implementar uma “decisão ótima”). De acordo com Sen (2000), isto decorre do “Teorema
da Impossibilidade” de Arrow, segundo o qual, não é possível derivar uma escolha social
(coletiva) a partir de preferências individuais, ou seja, que a soma das racionalidades
individuais não produz uma racionalidade coletiva, e que, na economia, o todo não só é
maior, como pode ser muito diferente da soma das partes.
Nesse sentido, um mercado evolucionário não pode ser direcionado por ações de
governo para um bem definido “estado-final”, pelo fato de que as condições de mercado
resultam de decisões descentralizadas e, como produto agregado, são por natureza
imprevisíveis. Segundo Wegner (1997), Hayek afirmava, entretanto, que pode haver
mecanismos de coordenação da atividade econômica paralelamente ao mercado e ao
governo.
Metcalfe (1994) defende a idéia de que decisores evolucionários não otimizam e
sim adaptam. Em um ambiente de incertezas, decisores perseguem uma política de
10
Tal conceito, baseado em fundamentos evolucionários, é comentado em detalhes no Capítulo 5.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
79
tentativa e erro. Eles aprendem e assimilam à luz de experiências e não há nenhuma
garantia de sucesso em suas ações. Conseqüentemente, há uma forte necessidade de
constante avaliação do processo e, devido à dependência da trajetória, as decisões devem
levar em conta o contexto particular tecnológico, econômico e institucional no qual operam
(VIETOR, 1994).
Em suma, noções como “dependência da trajetória” e “seleção” estão associadas ao
fato de que novas variedades são largamente direcionadas e canalizadas pelo ambiente de
seleção local, o que impossibilita que resultados “ótimos globais” sejam alcançados. Por
outro lado, conceitos como “acasos” e “retornos crescentes” sugerem que o processo de
seleção pode ser muito “frouxo”, e que firmas, em alguns casos, podem ativamente adaptar
o ambiente a suas próprias necessidades e aos seus interesses. Neste sentido, o processo de
seleção estaria mais de acordo com a visão evolucionária lamarckiana que a darwiniana11
(NELSON & WINTER, 1982; SAVIOTTI, 1996).
O surgimento e a localização de novas atividades econômicas não são determinados
somente pelo ambiente de seleção, outros mecanismos também estão envolvidos, como
eventos aleatórios e estratégias locais de ajustamento. Novas formas de variedade
(paradigmáticas) podem ser influenciadas por estruturas locais, mas são freqüentemente de
livre localização em seu desenvolvimento posterior, pois formam seu ambiente local de
acordo com suas necessidades de desenvolvimento. Nesta perspectiva, o ambiente de
seleção é considerado como parcialmente “herdado”, e admite que firmas e instituições
(tais como órgãos regionais) podem ‘moldar seu próprio ambiente’ (BOSCHMA, 1997).
Neste caso, firmas e outras organizações não são vistas como atores meramente passivos
como no conceito darwiniano, mas sim no sentido lamarckiano, que mostram intenção e
comportamento aprendiz e adaptam-se ao ambiente externo, mas também o influenciam,
de acordo com suas próprias necessidades e interesses (ZIMAN, 2000). De outra forma,
novas variedades que não se enquadrem ao seu ambiente, não emergiriam. Nestas
circunstâncias, as riquezas das regiões dependem em grande parte da habilidade de suas
11
Segundo Lamarck, as espécies sobrevivem ao processo de seleção porque são capazes de mudar algumas
de suas características herdadas, ou seja, possuem uma capacidade para aprender, diferentemente de Darwin,
para o qual, somente os caracteres herdados podem ser transmitidos. Assim, o conceito lamarckiano enfatiza
a capacidade do aprendizado, enquanto a visão darwiniana enfatiza o conceito de sobrevivente mais ajustado.
Nesse sentido, o ambiente econômico estaria muito mais próximo do conceito lamarckiano, por permitir uma
abordagem da evolução considerando cada ponto da trajetópria no tempo (“pelo conjunto da obra”), e não
por um ponto apenas, com o futuro predeterminado pelos caracteres genéticos adquiridos no passado (“uma
obra acabada”). Logo, na abordagem evolucionária adotada não se pressupõe o denominado “determinismo
darwiniano”. Para uma visão abrangente de tais conceitos ver, por exemplo, Baum & Singh (1994); Clark et
al. (1995); Foster (1997); Ziman (2000).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
80
organizações (incluindo órgãos públicos) de criar ou atrair condições necessárias ao
crescimento local (STORPER, 1997). Em outras palavras, “acasos” e “intervenção
humana” têm um considerável impacto no lugar onde emergem novas variedades
(negócios).
Esta idéia de “criatividade no espaço” está associada à dinâmica das economias de
aglomeração, que descreve como a formação de aglomerados locais pode trazer “retornos
crescentes” baseados em economias externas de escala e de escopo em uma área limitada,
como defendido por Marshall (CHANDLER JR., 1990; ARTHUR, 1994).
Assim, a eficiência dos “parâmetros estruturais”, citados anteriormente, depende
não somente de um período de desenvolvimento de novas tecnologias, como depende
também de um ajustamento do ambiente local de acordo com as novas demandas (por
exemplo, trabalhadores mais bem capacitados). Por um lado, isto leva ao aumento da
variação, resultando em “retornos crescentes” para firmas individuais ou setores e outros
elementos em rede, o que pode ser atribuído a economias externas que, segundo Krugman
(1995), pode ser atribuído ao tamanho do mercado. Por outro lado, resulta também em
acumulação local de conhecimento (tácito) (ou spillovers tecnológicos) que, na maior
parte, não apropriável, e difícil de copiar ou imitar pelos competidores de outras regiões
(MASKELL & MALMBERG, 1999).
Com base nos resultados das dificuldades e êxitos obtidos em diferentes países ao
longo das últimas décadas, Sen (2000), defende a adoção de uma abordagem múltipla e
integrada do desenvolvimento, apontando algumas questões importantes. “Essas questões
relacionam-se estreitamente com a necessidade de se equilibrar o papel do governo – e de
outras instituições públicas e privadas – com o funcionamento dos mercados” (op.cit.:151).
“A busca de uma solução única e multiuso (como por exemplo, a abertura de mercados ou
ajustar preços) influenciou acentuadamente o pensamento econômico. Ao invés disso “é
preciso haver uma abordagem integrada e multifacetada, visando a um progresso
simultâneo em diferentes frentes, incluindo diferentes instituições que se reforcem
mutuamente” (SEN, 2000: 152).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
81
3.4 Fundamentos para uma Abordagem Evolucionária da Competitividade em
Arranjos Produtivos Locais
Segundo Freeman (1994), as raízes da visão evolucionária de progresso técnico
podem ser consideradas, lato sensu, próximas da teoria econômica marxista.
Particularmente da visão de que a organização capitalista de produção e a distribuição de
tamanhos e lucros das firmas são um sistema em constante transformação.
Na abordagem evolucionária de Nelson & Winter (1982), utilizando referencial
teórico de Simon12 (1959), a noção neoclássica de “comportamento racional otimizante” é
substituída por um conceito mais realista de “satisfação temporária” em situações de
incerteza e informação imperfeita. Posteriormente, o fato do processo de tomada decisão
ocorrer dentro de fronteiras de rotinas preexistentes também foi incorporado.
Para Nelson (1995:56), o termo “evolucionário” “define uma classe de teorias,
modelos ou argumentos que tenham as seguintes características: 1) explicar o movimento
de algo ao longo do tempo, ou explicar como algo é o que é em um momento de tempo, em
termos de como chegou ali; ou seja, a análise é essencialmente dinâmica; 2) a explicação
envolve tanto elementos aleatórios, que geram ou renovam o conjunto de variáveis em
questão, quanto mecanismos que sistematicamente selecionam os sobreviventes, e; 3) há
forças inerciais que garantem a continuidade dos sobreviventes vitoriosos”.
Nesse sentido, incertezas e racionalidade limitada são importantes hipóteses da
teoria evolucionária, pois implicam em mudança de enfoque na natureza do processo de
tomada de decisão e para o problema de ajuste. Dessa forma, agentes econômicos
defrontam-se com altas taxas de incertezas devido à complexidade e à instabilidade do
ambiente no qual operam, enquanto que as informações realmente úteis ou valiosas para a
tomada de decisão não se encontram disponíveis livremente, como suposto pela teoria
neoclássica (NELSON & WINTER, 1982).
12
Herbert Simon [1916-2001] foi um prestigioso economista, ganhador do Prêmio Nobel de Ciência
Econômica em 1978. Seus trabalhos sobre a teoria da firma (principalmente com Richard Cyert e James
March), e conceitos como os de “racionalidade limitada” e “preferência do consumidor”, abriram uma nova
linha de estudos, tendo contribuído em vários ramos da ciência, além da economia, como na ciência política,
sociologia, teoria da organização, estatística, filosofia, ciência cognitiva, entre outras (Williamson, 2000).
Suas críticas às hipóteses neoclássicas para o comportamento do agente econômico (“racionalidade ilimitada”
e “informação perfeita”), praticamente ignoradas na época (décadas de 40 e 50), são hoje em dia alvo de
resgate conceitual e reconhecimento histórico e fonte de inúmeros trabalhos e avanços sobre o
comportamento da firma e a teoria da decisão. No Capítulo seguinte, aprofundaremos a discussão em alguns
de seus conceitos.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
82
Variedade de comportamento e na estrutura do sistema também são pressupostos
essenciais na abordagem evolucionária (SAVIOTTI, 1996). Além disso, a complexidade
crescente e as novas variedades (o desenvolvimento de novas espécies de tecnologias e
atividades econômicas) são vistas como atributo fundamental do desenvolvimento. Deste
modo, o crescimento econômico pode ser concebido como reflexo do aumento de
complexidade associado com a evolução de novas variedades e com um ambiente mutável.
A abordagem econômica evolucionária pode ser dividida em duas correntes
principais: (i) Uma que foca nas trajetórias ou caminhos de desenvolvimento de longo
prazo; e (ii) outra, que enfatiza as estratégias de luta pela sobrevivência, muitas vezes em
condições competitivas adversas. Esta última destaca os meios de aumentar as
propriedades da estrutura ou as condições de produção, de modo a elevar a produtividade
dos atores, influenciando o ambiente de seleção através de estratégias de ajuste a
mudanças. Em geral, esta abordagem não considera tomada de decisão individual.
Na sua abordagem do desenvolvimento econômico, Schumpeter se concentrou nas
mudanças que envolviam “eventos maiores”, disrupções e quebras de paradigmas13. “[...]
entretanto, mudança tecnológica é também (e talvez cada vez mais) uma corrente contínua
de inumeráveis pequenos ajustes, modificações e adaptações [...]” (ROSENBERG,
2000:166). Como afirmam Nelson & Winter (1982:130), “Inovações em rotinas
organizacionais consistem, em grande parte, de novas combinações de rotinas
preexistentes”.
Entretanto, Schumpeter (1982) afirmava que empreendedores individuais eram
aptos a desfrutar de benefícios extras usando estratégias de inovação. Ele via
empreendedores como uma categoria particular de indivíduos que estavam mais propensos
a correr riscos em um contexto de incertezas, porém cada um individualmente.
Posteriormente, ele reconheceu também o papel das grandes corporações e dos governos
no processo de inovação e desenvolvimento14 (SCHUMPETER, 1984; FREEMAN, 1994).
13
Conceito desenvolvido e explorado por Thomas Kuhn com relação ao método científico para mostrar a
necessidade de rompimentos (revoluções) com a estrutura estabelecida para que a inércia estrutural seja
vencida e a mudança ocorra, permitindo que novos padrões sejam estabelecidos (Kuhn, 1970). Tal concepção
é bem próxima do que Marx denominou de “princípio da contradição” em relação ao progresso técnico (Vide
Capítulo 4, seção 4.10).
14
Essas duas visões passaram a ser denominadas na literatura sobre inovação, respectivamente, de Marco I e
Marco II de Schumpeter.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
83
Em um ambiente evolucionário, podemos assumir duas hipóteses extremas: (i)
qualquer novidade é gerada exogenamente e selecionada economicamente, assemelhandose assim a um modo de evolução darwiniano, ou (ii) ambas, geração e seleção são
endógenas ao ambiente econômico, neste caso, aproximando-se de um processo evolutivo
lamarckiano. De acordo com a última hipótese, o modo de geração de variedade (variação)
se dá com intenção explícita de adaptar inovações ao ambiente no qual elas serão usadas. A
princípio, o modo de evolução lamarckiano é mais compatível com o ambiente econômico,
que o puramente darwiniano (METCALFE, 1994).
Em uma recente reinterpretação deste debate, inspirado pela literatura sobre
aprendizagem organizacional, Nooteboom (1999) estabelece o processo de inovação como
uma conexão entre as atividades de explotação e exploração. Em sua visão, o processo de
explotação (aplicação, difusão) influencia a exploração (descoberta, desenvolvimento),
levando não somente a uma antecipação ex-ante do ambiente de adoção esperado, mas a
uma contínua realimentação (feedback) entre exploração e explotação através de vários
canais de interação. Mais uma vez, o desenvolvimento socioeconômico parece ser bastante
diferente da evolução biológica.
Se de fato, o processo de seleção é também um processo de geração de nova
variedade, ao identificar novas combinações com algumas chances de sucesso, e, por sua
vez, se este está inserido no ambiente econômico, então a fonte de variedade não é exógena
nem aleatória, mas sim, surge a partir e através da aprendizagem e da experiência gerados
no processo de seleção, o que alimenta ideais criativos. Nesta etapa, novas variedades
ainda têm uma grande chance de sucumbir ao processo de seleção, mas este não é um
processo aleatório nem independente (NELSON & WINTER, 1982).
Uma inovação em uma organização pode consistir apenas do estabelecimento de
novos padrões de informação e fluxos de material entre sub-rotinas anteriormente
estabelecidas. Neste sentido, segundo (NELSON & WINTER, 1982): “ [...] rotinas
confiáveis, com escopo bem definido, provêm os melhores componentes para que novas
combinações sejam bem sucedidas” (op. cit., p.131). Nesta visão, as rotinas seriam “um
tipo de genes incorporados e modificados ao longo da história organizacional” (op. cit.,
p.134).
Por outro lado, o conjunto de idéias que são formadas e que sustentam a maioria
das decisões estratégicas das empresas pode ser visto como heurísticas (princípios com os
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
84
quais busca-se uma “solução aproximada”, ou uma proposta melhorada para problemas de
sobrevivência e aumento da lucratividade, que não necessariamente é a melhor resposta),
as quais têm sido tratadas sob a denominação genérica de “estratégias corporativas” ou
“estratégias competitivas” (ver, por exemplo, HAMEL & PRAHALAD, 1995;
HENDERSON, 1998; MINTZBERG et. al., 1998).
Nesse contexto, firmas não irão adotar ou implementar novas tecnologias ou se
adaptar a mudanças do ambiente tão suavemente como suposto pela abordagem
neoclássica convencional. Pois, devido às incertezas, elas tendem a um comportamento
“rotinizado”, definindo certos padrões de comportamento mais ou menos previsíveis. Mais
do que conscientemente maximizar lucros ou funções de utilidade, como previsto pelos
modelos neoclássicos, a atitude típica de produtores e compradores é formar hábitos e
convenções no meio em que operam. Tais hábitos e convenções são formados dentro de
um contexto microrregional de redes sociais de agentes, que se encontram “embutidos” na
cultura local e se desenvolvem através de inter-relações (BEST, 1990; STORPER, 1997).
Os conceitos de “rotinas15”, “dependência da trajetória” e “seleção” sugerem que
novas variedades são formadas e influenciadas pelo ambiente ao redor, e vários tipos de
reações, freqüentemente imprevisíveis, podem ocorrer. Por outro lado, certas firmas, ou
grupos específicos delas, podem agir para formar e influenciar o ambiente ao seu redor de
acordo com suas necessidades e interesses (MOKYR, 2000).
Buscas por novas tecnologias são mais prováveis de serem empreendidas
localmente, e assim, mais propensas a se dirigirem a tecnologias e mercados com os quais
estas firmas se tornaram “familiares” ou tiveram algum contato anterior (NELSON &
WINTER, 1982). Do ponto de vista da firma, este processo pode ser racional, no sentido
de que algumas vezes são descartadas alternativas promissoras (e, algumas vezes
superiores, circunstancialmente), devido aos altos custos de ajustes, altos riscos e maiores
incertezas envolvidas.
Em outras palavras, as fronteiras das trajetórias exercem restrições às habilidades
dos agentes econômicos reagirem a mudanças de mercado ou a mudanças tecnológicas
(VIETOR, 1994). Estes elementos sustentam o conceito neo-schumpeteriano de
dependência da trajetória (DOSI, 1988), que, de uma certa forma, contrapõe o conceito
15
Tal conceito é explorado em minúcias no Capítulo 4.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
85
schumpeteriano de destruição criativa, pois enquanto o primeiro reflete uma tendência
inercial de manter-se passo a passo (eventos) em uma determinada rota (irreversibilidade
temporal), o outro, representa forças que levam a saltos em uma certa trajetória (melhorias
substanciais) ou mudança para rotas alternativas (novas oportunidades e tecnologias).
A história, em termos de herança de estruturas, instituições e culturas regionais,
freqüentemente age como um filtro para acessar e lançar mão de novas oportunidades.
Novos desenvolvimentos nem sempre são percebidos como um novo modo de produção ou
de organização dentro da região onde ocorrem. Grupos estabelecidos (políticos, industriais,
culturais etc.) tendem naturalmente a resistir às mudanças fundamentais que passam a
acontecer no ambiente como forma de manter posições obtidas, já que os referenciais que
mantinham as posições anteriores, com as mudanças, dificilmente permanecem intactos
(BIANCHI & MILLER, 1996; MOKYR, 2000).
Neste sentido, Dosi (1982), propôs a noção de “trajetórias tecnológicas16” para o
estudo da natureza evolucionária do “comportamento inovativo” das organizações,
enfatizando a importância de se investigar longos períodos de desenvolvimento. Tal
comportamento é considerado como uma propensão, mais para “seguir próximo”,
acompanhar, do que para restringir as possibilidades a rotas pré-definidas. Estas, por sua
vez, formam um tipo de estrutura de pensamento que se ajusta às restrições nas
oportunidades tecnológicas e provê guias para atividades exploratórias das firmas. Esta
“dependência da trajetória” está vinculada ao estoque de conhecimento, informação útil e
experiência, através do processo de aprendizagem coletiva. Isto é bastante relevante na
avaliação das dimensões do processo de ajustamento ao aumento da complexidade, que por
sua vez está associado à evolução de tecnologias.
Segundo Dosi (1988), as principais características das mudanças técnicas nas
firmas podem ser resumidas da seguinte forma:
16
O conceito de “trajetória tecnológica” está relacionado ao conceito de “dependência da trajetória”, e foi
primeiramente proposto em Nelson & Winter (1977). Posteriormente foi ampliado em Dosi (op.cit.).
Subseqüentemente, vários trabalhos passaram a adotá-lo representando “um conjunto de conhecimentos
vinculados a uma inovação radical, que através da difusão em massa em certos mercados, formam uma
estrutura de padrões caracterizada por efeito inercial dinâmico próprio (uma trajetória), levando a posteriores
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
86
1. Inovações e investimentos em novas tecnologias variam de acordo com o grau de
apropriabilidade e incerteza sobre seus resultados técnicos e comerciais;
2. A tecnologia incorpora um certo grau de conhecimento tácito (expertise,
experiência) específico a cada organização, localizado (espacialmente) e
cumulativo (temporalmente).
3. Inovações resultam de processos de busca e aprendizagem de indivíduos e
organizações. Atividades de resolução de problemas específicos e de aprendizagem
são caracterizadas por rotinas organizacionais e comportamentais;
4. Como resultado de 1 e 2 , tecnologias se desenvolvem ao longo de certo caminhos
ordenados (trajetórias) dentro dos limites das organizações ou de “paradigmas
tecnológicos17”.
5. Como resultado de 1, 2, 3 e 4, a diversidade de técnicas usadas dentro e entre
firmas e setores é uma característica fundamental de uma economia em face de
mudança tecnológica.
Nesta visão, aonde uma firma “pode ir” é função de sua posição atual, que por sua
vez é função da sua trajetória passada e de sua competência para seguir as potenciais
trajetórias futuras. A noção de “dependência da trajetória” reconhece que o passado
histórico influencia e restringe tais trajetórias18.
Dessa forma, algumas firmas consideradas altamente lucrativas e competitivas por
critérios neoclássicos, podem entrar rapidamente em uma “trajetória suicida” quando não
se adaptam às mudanças do ambiente, principalmente devido ao processo tecnológico de
“destruição criativa”.
inovações incrementais e ao desenvolvimento de uma gama de tecnologias e dispositivos técnicos e
organizacionais auxiliares vinculados”. Tal conceito é central na abordagem proposta nesse trabalho.
17
Paradigmas tecnológicos, segundo Dosi (1998), refere-se a um contexto coletivo que determina as práticas
de P&D e os padrões de desenvolvimento tecnológico com base em um projeto dominante de algum artefato.
Neste sentido, algumas tecnologias podem se tornar “atreladas” a certos paradigmas, devido aos “efeitos de
lock-in”, implicando um certo grau de irreversibilidade.
18
Esta hipótese contraria frontalmente a teoria econômica neoclássica, pela qual, é assumido que há uma
infinidade de caminhos a serem seguidos, tecnologias a serem adotadas livremente, e mercados sem barreiras
a serem ocupados, sem nenhuma relação com o passado (Teece & Pisano, 1994).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
87
Pela lente evolucionária, vantagens competitivas e retornos sustentáveis são
conseguidos através de competências organizacionais distintivas, tais como rotinas,
habilidades e ativos complementares difíceis de serem imitados. Um conjunto particular de
rotinas pode perder seu valor se não possuir alguma característica distintiva no mercado,
ou se puderem ser rapidamente replicado ou emulado pelos competidores. Segundo Teece
& Pisano (1994), imitação ocorre quando firmas descobrem e simplesmente copiam rotinas
e procedimentos organizacionais; e emulação, se dá quando firmas, através de meios
alternativos próprios, criam procedimentos ou dispositivos com a mesma funcionalidade
proporcionada por uma inovação.
Em um sistema evolucionário, os mecanismos de seleção guiam e restringem o
comportamento criativo e adaptativo e, portanto, determinam quais mudanças prosperam e
quais falham. Novas variedades (firmas, produtos, tecnologias) que não se ajustam dentro
do ambiente local (mercado, regras, normas culturais), estão fadadas a desaparecer. O
ambiente de seleção consiste de mercados (tais como o de capitais e de produtos), e de um
conjunto de fatores extramercado, os quais incluem oportunidades, instituições, valores,
normas, crenças, costumes e práticas aceitas socialmente (DOSI, 1982; MOKYR, 2000).
Nesse sistema, eventos estocásticos podem influenciar o ambiente, porém os “mecanismos
de seleção” limitam tal aleatoriedade a um certo conjunto de elementos “mais bem
adaptados”.
Em outras palavras, o ambiente local age como um tipo de mecanismo de seleção
que pode, ou não, prover condições favoráveis de se atingir novos requerimentos de
mudança. De acordo com Nelson & Winter (1982), esta é uma das principais
características da teoria evolucionaria.
De forma geral, podemos destacar quatro conceitos centrais da abordagem
evolucionária: variação, seleção, retenção e luta por recursos escassos. Estes podem ser
interpretados e sintetizados da seguinte forma:
Variação: refere-se a mudanças em rotinas, competências e nas estruturas
organizacionais. Este conceito não se restringe a uma simples analogia biológica
darwiniana, na qual não haveria espaço para intencionalidade humana e atividades
conscientes de busca por metas. Na abordagem econômica evolucionária não se pressupõe
ausência de propósitos na ação dos agentes, e uma das formas de variação é aquela gerada
por ações intencionais. Quando indivíduos agem na busca de alternativas e adaptações
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
88
(tentativa e erro) para solução de problemas concretos, o processo de aprendizagem pode
envolver fatores políticos (característicos do comportamento humano), gerando uma
variação intencional (ALLEN, 1987; METCALFE, 1994; SAVIOTTI, 1996). Variações
não intencionais podem resultar de fatores imprevisíveis e imprevistos, como acidentes,
acaso ou sorte, fruto do próprio processo criativo ou do que é, às vezes, denominado de
serendipity19. Do conjunto de alternativas geradas em um ambiente competitivo (de
adaptação e interação com o meio), certos tipos de variação são mais prováveis de obter
sucesso do que outros (inovações), configurando um processo de seleção. Neste processo,
a capacidade de recombinar recursos acumulados e de obter novos recursos é um fator
fundamental para a sobrevivência.
Seleção: refere-se à capacidade do ambiente de favorecer certas variações (ou tipos
de variação), em detrimento de outras. Neste processo de decisão, os mecanismos de
seleção priorizam e avaliam certos requisitos, características e tendências, através das quais
condicionam o meio. Segundo Lambooy (1988), três tipos principais de fatores
condicionam o processo de seleção: os econômicos (capital, demanda, padrão de
concorrência etc); os institucionais (leis, regras, normas etc) e os geográficos (clima,
recursos naturais, infra-estrutura etc). De acordo com a dinâmica do ambiente, os
mecanismos de seleção atuam em diferentes níveis de exigência, condicionados pela
disponibilidade de recursos (físicos, financeiros, de conhecimento) e pela adequação ao
meio (requisitos legais, regulamentares, demanda) que restringem certos tipos de variação.
Em cada nível, entretanto, tais mecanismos operam através de um processo de tentativa e
erro com várias iterações, o que caracteriza a aprendizagem. Informações sobre quais e em
que nível tais fatores serão priorizados são fundamentais na indicação das possíveis
direções do processo de mudança e adaptação.
Um processo evolucionário envolve um terceiro mecanismo. O de retenção seletiva
de certas variações. Este mecanismo provê a certos tipos de variação incentivos à
19
Segundo o The New Lexicon Webster’s Encyclopedic Dictionary of The English Language, este termo
significa, literalmente, “o dom de realizar ‘prazerosas’ descobertas por puro acaso”, originalmente cunhado
pelo escritor inglês Horace Walpole em uma carta de 28 de janeiro de 1754, baseado no título de um conto de
fadas persa chamado The Three Princess of Serendip. “Através de suas viagens, eles [tais príncipes] estavam
sempre sujeitos a novas descobertas (por acidente e sagacidade!) de coisas que não estavam em indagação...”.
Seu significado ajusta-se perfeitamente bem à natureza acidental de muitas descobertas científicas, feitas por
casualidade, mas somente tornadas possíveis através de uma visão aguçada, pela curiosidade e sagacidade
(ver, por exemplo, http://www.cienciateca.com/stsserend.html). Para um entendimento mais específico dos
fundamentos evolucionários do processo de inovação tecnológica e suas diferenças do processo evolutivo
biológico, ver Mokyr (2000) e outras contribuições reunidas em Ziman (2000).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
89
preservação, duplicação e outras formas de reprodução. Os genes (na biologia) exerceriam
um papel semelhante. Dentro de organizações, este mecanismo pode ser observado pela
tendência inercial na estabilidade de certas estruturas administrativas e atividades, como,
por exemplo, rotinas, padronizações, especializações (NELSON & WINTER, 1982), e
recursos físicos tais como prédios e máquinas. Este conceito assemelha-se à hipótese
central da ecologia organizacional, pelo qual, as organizações tendem a ser inertes
(HANNAN & FREEMAN, 1984), e à noção de inércia locacional na geografia econômica,
que atuam como forças centrípetas que favorecem a concentração geográfica de atividades
econômicas em certas regiões.
As variações selecionadas (retidas) podem também se difundir por meio de
imitação e adaptação (mimetismo), devido à mobilidade de pessoas, tecnologias e
organizações. Apesar dos avanços das telecomunicações e meios de transporte, a
proximidade espacial pode representar um fator fundamental para a transferência e difusão
de inovações, imitações e adaptações em certas atividades localizadas, devido aos aspectos
sociais e culturais envolvidos (BAUM & SINGH, 1994; ZIMAN, 2000).
A intensidade do processo de seleção, e a conseqüente pressão pela busca por
variação efetiva (novas soluções), é proporcional à escassez de recursos. A competição
entre os atores econômicos por suprimentos e insumos de produção é maior e mais acirrada
quando estes são limitados ou escassos (o que é compatível com a noção darwiniana de
“luta pela vida”).
Assim, a abordagem econômica evolucionária enfatiza principalmente o
desenvolvimento estrutural e de longo prazo, mais especificamente os parâmetros
estruturais do desenvolvimento, tais como composição de indústrias, tecnologias e
organizações. Por outro lado, ela também trata da relação dinâmica de atores econômicos e
seu ambiente pelo desenvolvimento concebido como resultante desta interação (POSSAS,
2002).
Apesar da atração que exerceu, e ainda exerce em pesquisadores de várias áreas
científicas, e dos avanços no campo metodológico, a analogia entre rotinas e genes, assim
como entre firmas e fenótipos, revela profundas diferenças da abordagem econômica em
relação à teoria evolucionária biológica (MOKYR, 2000). Por exemplo, as firmas não têm
uma duração de vida natural, não necessariamente morrem, e não têm tamanho natural,
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
90
algumas podem ser grandes, outras pequenas. Evidentemente que nesse aspecto há uma
ruptura de conceitos e um limite para a simples analogia.
No ambiente econômico, a seleção do “melhor”, “mais forte” ou “mais apto”, é um
processo que difere substancialmente do biológico, devido ao conteúdo político da
“intervenção humana”. Fatores como nepotismo, oligopólio, monopólio, cartelização,
lobby e tráfico de influências, entre outros, não encontram similares no processo biológico
(ZIMAN, 2000).
Porém, uma característica distintiva fundamental dos agentes no processo evolutivo
econômico, é sua capacidade em formular estratégias, baseadas na imaginação e no
raciocínio lógico aliada à capacidade intuitiva, acelerando os efeitos da competição e a
velocidade das mudanças. Dessa forma, as “intervenções humanas” alteram e direcionam o
curso “natural” da evolução do processo socioeconômico (HENDERSON, 1998).
Por outro lado, o processo econômico pode, muitas vezes, se comportar de maneira
caótica, não sendo apropriado considerá-lo como linear, pois pequenas mudanças nos
parâmetros iniciais podem resultar em grandes desvios dos resultados esperados (KEMP,
1997). Além disso, o ambiente de seleção e os agentes interagem em um processo
adaptativo com resultados incertos. Nesse sentido, tais intervenções não necessariamente
seguem uma trajetória pré-definida.
Contudo, uma vez que uma trajetória particular tenha começado a evoluir, atores,
tais como empreendedores e firmas, têm influência na trajetória do seu desenvolvimento.
De fato, há um crescente reconhecimento de que firmas podem co-determinar o processo
de seleção (METCALFE, 1994). Isto está vinculado à noção de “retornos crescentes”
devido ao processo cumulativo e de vantagens de auto-reforço de que as firmas desfrutam
quando sua tecnologia obtém uma posição dominante.
Arthur (1994) afirma que este processo de realimentação positiva pode surgir de
diferentes fontes, tais como economias de escala (os custos de produção por unidade
produzida decresce quando a escala aumenta) e pela natureza cumulativa do conhecimento
tácito (baseado no learning-by-using localizado). Além disso, a importância de redes de
externalidades e complementaridades - quanto mais usuários detêm uma nova tecnologia,
maior a disponibilidade e a diversidade de novos produtos vinculados e maiores as
tecnologias complementares e instituições auxiliares geradas (como associações, centros de
pesquisa, cursos etc.).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
91
Entretanto a criação deliberada de uma nova trajetória tecnológica é muito pouco
provável (exceto no campo militar, devido aos altos investimentos estratégicos).
Basicamente porque esta resulta muitas vezes de descobertas surpreendentes e inesperadas
(“serendipismo”), ou de um conjunto de decisões não coordenadas; e, também, devido às
muitas decisões estarem distribuídas no tempo e no espaço (DOSI, 1988).
Arthur (1989), afirma que pequenos eventos arbitrários, difíceis de se conhecer com
antecedência, podem provocar sérias mutações nas estruturas. Nestas circunstâncias, é
muito difícil planejar um novo caminho de desenvolvimento tecnológico ou
organizacional. O significado é que, “acasos”, em combinação com “retornos crescentes”,
implicam que múltiplos potenciais resultados são imagináveis e possíveis. O resultado é
indeterminado e imprevisível devido a outros eventos arbitrários que podem forçar a
história a tomar outro curso que aquele previsto. Ademais, os vencedores não
necessariamente possuem qualidades superiores, há assim uma ineficiência potencial
associada aos resultados do mercado. Uma vez que uma nova tecnologia se torna
dominante, os mecanismos de “retornos crescentes” geram efeitos de travamento ou
estagnação (lock-in) e “dependência da trajetória”, regulando os movimentos e resultados
seguintes (DOSI, 1988).
Neste processo, algumas vezes o “vencedor” nem sempre é “selecionado” pelo
ambiente. Por exemplo, como destacado por David (1985), não houve otimização nem
seleção na escolha do padrão de teclado QWERTY20 (para PC’s). Ele foi simplesmente
escolhido. Processo semelhante tem acontecido com a escolha do padrão tecnológico de
televisores digitais de alta resolução.
De forma a sintetizar os conceitos apresentados anteriormente, algumas
características distintivas da abordagem evolucionária foram resumidas no Quadro 3.1,
apresentado a seguir.
20
O padrão QWERTY foi escolhido pela indústria em detrimento do padrão DVORAK, o qual, segundo
experiências com digitadores, permitiria um desempenho na digitação entre 20 a 40% maior (Andersen,
2003).
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
92
Quadro 3.1 – Alguns aspectos gerais da abordagem evolucionária
Fatores
Mecanismos de regulação
Questão que busca
responder
Unidade de análise
Perspectiva analítica
Principais temas abordados
Variáveis de análise
Elementos
Variação, seleção, retenção, competição.
Porquê, das variações que emergem no processo econômico, somente
algumas são selecionadas?
A firma, principalmente, mas considerando a influência do ambiente, e
seus reflexos na indústria, cluster, complexos, região etc.
Principalmente sistêmica e a posteriori, mas com ênfase no processo
evolutivo histórico.
A variação gerada através dos processos de busca local;
O processo de seleção e os efeitos de condicionamento das metaheurísticas (por exemplo, os paradigmas tecnológicos);
As características, capacidades e competências das firmas para adaptação
à mudança e à expansão;
As estruturas institucionais específicas e seus padrões de evolução.
Diferenças entre posições das firmas, setores, indústrias.
Principalmente, as que alteram a estrutura competitiva.
3.5 Considerações finais sobre o Capítulo
Segundo a literatura evolucionária, a abordagem neoclássica não trata de forma
satisfatória a diversidade microrregional e local, nem fornece meios para se captar a
dinâmica tecnológica interfirmas e as contribuições próprias de firmas que geram
diversidade técnica-organizacional. Nesse sentido, seus fundamentos teóricos não seriam
consistentes para se abordar questões referentes ao processo de mudança tecnológica e a
dinâmica de sistemas industriais locais, importantes para o desenvolvimento de certas
microrregiões e localidades.
Por outro lado, pela visão evolucionária, afirmar ou identificar os locais onde novas
tecnologias terão seus principais impactos locacionais é incerto. Estratégias de
desenvolvimento bem sucedidas em uma determinada região não necessariamente obterão
o mesmo resultado em outras regiões.
Dessa forma, um dos principais problemas para políticas regionais, de forma geral,
é que as novas trajetórias de desenvolvimento não seguem necessariamente aqueles
caminhos planejados, nem os aparentemente “mais prováveis”. Obviamente que esta
imprevisibilidade é proporcional à complexidade e à dinâmica competitiva do sistema. Ou
seja, o comportamento dos atores está sujeito a uma certa racionalidade, porém ela é
limitada e dependente das características locais e específicas do ambiente em questão.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
93
Neste Capítulo, apresentou-se uma síntese das características principais da
abordagem econômica evolucionária e seus elos com as questões do desenvolvimento
econômico. Buscou-se destacar a relevância de se abordar o processo socioeconômico e o
desenvolvimento local através de uma abordagem evolucionária. Neste caso, uma questão
estratégica
está
em
se
investigar
até
que
ponto
o
futuro
de
uma
região/microrregião/localidade pode ser determinado ou previsto, e como se avaliar a
dinâmica do sistema, contornar as dificuldades envolvidas e direcionar investimentos
públicos.
Como vimos, agentes políticos executam um papel importante na dinâmica regional
e local, cujas decisões devem ser voltadas para se criar e se sustentar um ambiente
favorável ao surgimento de atividades econômicas variadas.
Muitas microrregiões dispõem de oportunidades para melhorar seu ambiente local e
atrair empreendedores e trabalhadores qualificados capazes de desenvolver novas idéias e
atividades econômicas que podem se tornar núcleos de novo ciclo de desenvolvimento.
Isto é especialmente válido para microrregiões altamente dinâmicas cujas economias de
aglomeração e de urbanização oferecem vantagens de flexibilidade asseguradas pela
diversidade de atividades que tendem a prevenir um processo de saturação.
Conseqüentemente, políticas de desenvolvimento local têm mais possibilidades de sucesso
quando seus objetivos estão fortemente vinculados às características do ambiente. Neste
caso, há a necessidade de políticas específicas, afinadas com os recursos e as carências de
cada microrregião. Desse modo, deve-se considerar principalmente a configuração das
instituições locais na construção de redes de capacitação, através da conexão de firmas e
outras instituições baseadas em conhecimento (universidades, centros de tecnológicos,
laboratórios etc.), fortalecendo o processo de aprendizagem interativa e os padrões
competitivos setoriais e locais.
Todavia, políticas de desenvolvimento baseadas em princípios evolucionários,
divergem de alguns princípios neoclássicos até então pouco questionados. Pela visão
evolucionária, os agentes econômicos são vistos como “adaptadores” e não como
“otimizadores”. Isto é atribuído ao fato de se assumir um ambiente complexo, no qual a
racionalidade é limitada e a informação para a tomada de decisões ser imperfeita, ou não
simétrica a todos os atores. Neste caso, algumas trajetórias de desenvolvimento não podem
ser planejadas ou previstas pelos decisores. Por outro lado, pode-se afirmar, com uma certa
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
94
dose de certeza, onde determinadas atividades não vão ser localizadas. Em tais locais,
alternativas próprias devem ser criadas, e para isso, é fundamental a atuação conjunta de
órgãos de governo, entidades sociais, centros de tecnologia e de pesquisa.
Além disso, os mecanismos de seleção não determinam isoladamente o sucesso ou
fracasso de certas regiões em gerar e desenvolver novas tecnologias ou novas
combinações. A intervenção humana (política) pode exercer um papel fundamental neste
processo, principalmente para reverter ou atenuar efeitos negativos em ambientes
fortemente afetados pela dependência da trajetória.
Na visão evolucionária, o ambiente e os agentes humanos interagem em um
processo dinâmico, com resultados futuros incertos. Entretanto, em casos onde as
trajetórias estão defasadas em relação a outras regiões, com acentuado gap tecnológico, em
um primeiro estágio, trajetórias de desenvolvimento de outras regiões podem servir de
referencial para um processo de benchmarking e absorção de tecnologias mais avançadas,
com considerações às características e especificidades locais e regionais.
Neste contexto, as alternativas para políticas de estímulo a criação de variedade e
de determinação de desenvolvimento futuro estariam de certa forma limitadas, levando a
questões para as quais dificilmente há respostas gerais: Quando as alternativas de
adaptação são limitadas pelas fronteiras históricas do sistema, é possível mudar o curso do
desenvolvimento microrregional para uma trajetória de sucesso? De que forma? Como, por
exemplo, evitar uma situação de saturação ou estagnação, causadas pela dependência da
trajetória local? Como construir uma rede de capacidades (conforme amplamente sugerido
na literatura) em regiões periféricas, cuja inércia institucional e a falta de confiança são
mais regra do que exceção? Como proceder para tornar mais capazes os decisores para
avaliar o grau de adequação e os efeitos das interações entre os aspectos regionais/locais,
mudança tecnológica e desenvolvimento? Responder a estes questionamentos constitui um
dos principais desafios para o desenvolvimento econômico evolucionário no futuro
próximo.
Nesse sentido, um passo crucial é a criação e adoção de ferramentas de abordagem
de sistemas produtivos locais que permitam visualizar seu comportamento de forma
realista, captando especificidades e elementos de diversidade, não tratando como unidade o
que é fragmentado, heterogêneo e difuso.
CAPÍTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONÁRIA DA DINÂMICA COMPETITIVA EM APL’S
95
Contribuições a essas, e a outras questões vinculadas, podem servir de “luzes guia”
para um tratamento mais efetivo de elementos do desenvolvimento local e da
competitividade interna de arranjos produtivos locais não captados pela abordagem
mainstream.
A partir dessa revisão da teoria evolucionária, a proposta desse trabalho é adotar
uma abordagem da competitividade não como um meio eficiente de adaptação ao meio e
uma forma de predizer o futuro, mas principalmente como uma forma de se captar,
explorar e caracterizar as diversidades e ineficiências inerentes ao processo competitivo,
através de uma perspectiva de se entender a “engenharia da competitividade” em arranjos
locais.
Dessa forma, no próximo Capítulo o foco centra-se na busca e definição de uma
unidade de análise do comportamento da firma que represente ao mesmo tempo: (i) um
elemento de ligação entre fatores endógenos e exógenos, entre o específico e o geral e,
conseqüentemente; (ii) um parâmetro de comparação que expresse o desempenho da firma,
se refletindo na competitividade coletiva do respectivo arranjo produtivo local.
CAPÍTULO 4
ROTINAS ORGANIZACIONAIS, TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS E O
CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA”
Resumo
Neste Capítulo, os conceitos evolucionários apresentados no Capítulo anterior, são
combinados com conceitos da teoria comportamental e da competência da firma para o
desenvolvimento de uma abordagem evolucionária da dinâmica competitiva em arranjos
produtivos locais. Pela abordagem desenvolvida, essa dinâmica é dependente do nível de
recursos e do desempenho de cada indivíduo (firma), os quais, condicionam seus
respectivos comportamentos. Estes, por sua vez, são influenciados por uma série de fatores
internos e externos, entre os quais, a sua capacidade de transformar recursos, habilidades e
capacidade em competências e de tomar decisões estratégicas para sua sobrevivência e
desenvolvimento. Entretanto, tais decisões ocorrem em vários níveis, desde aquelas mais
freqüentes do dia-a-dia, até outras, eventuais, mas que podem alterar a competitividade e a
sobrevivência futura da firma. Internamente, o conjunto de regras, procedimentos, rotinas e
os vários padrões de comportamento, carregam as impressões e os “caracteres” que podem
revelar à verdadeira fonte de vantagens que a firma dispõe e emprega no jogo competitivo.
Nesse sentido, considera-se que a identificação de padrões de comportamento, embutidos
em tais elementos intrínsecos à firma, é um meio consistente de se entender e se captar os
reais valores competitivos e, ao mesmo tempo, um parâmetro representativo para análise
competitiva e o estudo do sistema. A partir dos conceitos de dependência da trajetória,
trajetória tecnológica, rotinas e do comportamento das firmas em arranjos produtivos
locais, ao final, introduz-se o conceito de “trajetória competitiva”.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 97
4.1 Introdução
O comportamento da firma tem como elemento-chave os recursos humanos que,
através da realização de diferentes atividades e de diversas interações, adquirem
habilidades específicas e desenvolvem competências próprias, caracterizando um
comportamento adaptativo de luta pela sobrevivência em um ambiente seletivo. Ao longo
do tempo, este processo cria um tipo de “herança genética organizacional”. Por outro lado,
certas firmas podem também influenciar a mudança de certas características do ambiente.
Assim, a amplitude de variações dessas características fica limitada a um certo conjunto de
alternativas “selecionadas”. Aquelas firmas que as possuem, ou que mais rapidamente
conseguem incorporá-las, adquirem vantagens competitivas frente aos concorrentes, se
colocando como as “mais prováveis” de obter sucesso. Esse processo (evolucionário) não é
determinístico. O que é determinado, principalmente devido aos efeitos da dependência da
trajetória, é a distribuição de probabilidade de mudança para outras trajetórias, em um
certo período de tempo (NELSON & WINTER, 1982).
Nesse sentido, é assumida uma certa capacidade de antecipação, uma racionalidade
limitada (à la Simon, ver MARCH, 1988; FRASMAN, 1998). Assim, a capacidade de
antever as trajetórias mais adequadas tende a crescer proporcionalmente com o número de
rotinas na execução de atividades internas dos agentes. Coase (1937), já destacava a
importância da redução de incertezas como objetivo de todo empresário ao investir em
mais e melhores modos de organizar as firmas. Para Penrose (1959; 1995), a firma
constitui-se a partir de dois pilares básicos, que são, uma coleção de recursos produtivos
(físicos e humanos) e uma organização administrativa, para implementar e aperfeiçoar
produtos e serviços oferecidos aos consumidores.
Nesses termos, o aumento de atividades realizadas segundo uma certa rotina,
possibilita maior eficiência na utilização dos recursos e facilita a administração dos
procedimentos organizacionais, contribuindo para o aumento da capacidade da firma em
adotar novas rotinas.
Sob a denominação genérica de “rotina” pode ser encontrada na literatura uma
ampla gama de conceitos, entre os quais: “um modo de fazer as coisas”, regras de decisão,
técnica, procedimentos operacionais, habilidade, prática, programa e política gerencial,
sistema de informação, estratégia, roteiro, entre outros (ver, por exemplo, CYERT &
MARCH, 1963; NELSON & WINTER, 1982; COHEN et al., 196; REYNAUD, 2000;
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 98
BECKER, 2001). Ao longo do texto, é desenvolvida uma concepção de rotina mais
apropriada ao escopo deste trabalho.
4.2 Tipos de problemas organizacionais
Um “problema organizacional” é um fator negativo que impede a firma de atingir
seus objetivos ou de atender uma certa demanda sem incorrer em prejuízos ou prejudicar
seu desempenho. Nesse sentido, fatores que atrapalhem a execução de rotinas são
problemas. A solução de tais problemas envolve restabelecer os padrões normais, ou seja,
as rotinas.
De acordo com Zawislak (1994), os problemas do âmbito interno da firma podem
ser de três tipos: relativos ao projeto, relativos ao produto e relativos ao processo.
Os problemas de projeto, ou “agenda de pesquisa”, são todos aqueles ligados à
definição do produto (protótipos) e do respectivo processo produtivo, desde os métodos até
a disponibilidade de matéria-prima, passando pela adequação da mão-de-obra, a elaboração
das ferramentas, a aquisição das máquinas (por compra ou fabricação) etc. Nesse processo,
para se atingir um nível “aceitável” do projeto, barreiras técnicas e organizacionais deverão
ser enfrentadas e superadas, o que pressupõe a definição de rotinas adequadas para se
alcançar metas e objetivos dentro de um cronograma previamente definido.
Os problemas de produto referem-se ao nível de solução imediata de problemas.
Incluem problemas que aparecem durante a fabricação do produto ou quando o produto já
foi lançado no mercado. O problema de produto que aparece durante o processo produtivo
é basicamente aquele que foge da rotina, mas que está incluído no espectro de “problemas
de rotina” previstos pela atividade de projetos. Trata-se de um tipo de problema que não
exige retorno à etapa de projetos, pois pode ser resolvido in loco no chão-de-fábrica. É o
caso da matéria-prima inadequada, das falhas humanas, dos problemas causados pelas
máquinas e ferramentas, e demais exemplos que necessitam de um esforço de retrabalho. O
problema de falta de controle de qualidade no produto, em muitos casos, só é percebido
após as vendas, o que pode representar custos de fracasso e comprometer a imagem da
empresa (ver, por exemplo, RUSSEL & TAYLOR III, 1999).
Finalmente, os problemas de processo são aqueles que exigem um verdadeiro
esforço de resolução de problemas, diferente da solução de rotina, pois envolvem
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 99
problemas que ainda não foram previstos. Certamente, existe também um espectro de
problemas de processo que são transformados em rotina (e.g., substituição de peças gastas
em máquinas, realimentação, manutenção, paradas etc), mas são aqueles que surgem de
modo inesperado que acabam por exigir o esforço maior de resolução. Este tipo de
problema tende a bloquear o processo sem que se tenha uma noção exata do retorno à
normalidade, ou seja, à rotina. A correção se faz fora da ação e das normas de correção de
problemas. Geralmente trata-se de uma atividade que envolve o elemento diretamente
ligado ao problema, ou seja, quem o identifica, além de elementos auxiliares (como
mecânicos, mestres, técnicos) que contribuem na interpretação e identificação da melhor
solução e das correções apropriadas.
Segundo Zawislak (1994), grande parte dessas soluções são encontradas sem a
necessidade de se mobilizar toda a estrutura formal da firma. É neste nível que, em casos
de ausência da atividade de P&D, se tem o maior fluxo de soluções de sucesso para serem
adicionadas às rotinas das firmas. Empresas, setores e países com déficit na atividade de
P&D sustentam o fluxo de novas soluções apoiados nessa atividade de resolução de
problemas, as quais, são conduzidas pelos próprios elementos humanos diretamente
ligados ao processo produtivo. Estas, mesmo não se convertendo em fluxo de novos
conhecimentos e novas habilidades, garantem o funcionamento da tecnologia em uso com
adaptações próprias e mudanças incrementais. Lazonick (1992) explica este processo de
resolução de problemas através da atividade de levar a produtividade de um sistema, com
uma certa tecnologia, ao seu limite máximo, o que pode resultar no “esgarçamento” dos
recursos e em sobretensões na força de trabalho.
Devido à importância da atividade de transformação de problemas em rotinas, a
atividade de resolução de problemas (e de inovação lato sensu), pode ser considerada como
parte do conjunto que forma o verdadeiro motor do crescimento capitalista (BOYER,
1989).
4.3 Rotinas como unidade de análise competitiva entre firmas
Para o estudo da organização econômica, existem vários conceitos e teorias, cada
qual como uma visão particular da firma, através da ênfase em aspectos específicos,
adotando para isso uma unidade de análise característica. Simon (1957 apud
WILLIAMSON, 1998), por exemplo, considerava o conceito de “premissa de decisão”
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 100
como parâmetro fundamental de análise. Para a corrente denominada “economia dos
direitos autorais e de propriedade”, a unidade de análise mais representativa é a
“apropriabilidade”. A organização industrial adota a “indústria” como parâmetro de análise
através da abordagem estrutura-conduta-desempenho. O “indivíduo” tem sido assumido
como unidade de análise na “teoria da agência”. A “teoria dos custos de transação” toma os
diversos tipos de transação (formais e informais) entre as firmas como unidade básica de
análise (WILLIAMSON, 1998). Para a teoria evolucionária proposta por Nelson & Winter
(1982), a unidade de análise são as “rotinas organizacionais”.
A unidade de análise deve ser compatível com a base teórica e a respectiva
abordagem adotada, considerando-se suas dimensões críticas e fatores específicos. O
Quadro 4.1 apresenta um resumo comparativo entre as unidades de análise anteriormente
mencionadas.
Quadro 4.1 – Comparação entre unidades de análise da firma
Unidade de análise
Dimensões críticas
Problema focal
Premissa de Decisão
Papel, informação, idiossincrasias
Relacionado a RH
Apropriabilidade
Onze características específicas
Externalidades
Indústria
Concentração, barreiras de entrada
Margens custo-preço
Indivíduo
Não declarada
Incentivos
Transação
Freqüência, incerteza, ativos específicos
Integração vertical
Rotina
Aprendizagem e mudança
Comportamentos e interações
Fonte: baseado em Williamson (1998, p. 37)
Diferentemente da abordagem taylorista da “rotina no trabalho”, um conceito
estático, Nelson & Winter (1982) adotaram um conceito dinâmico-evolutivo de rotina,
segundo o qual, as rotinas constituem um tipo de memória com que as firmas armazenam
conhecimento. Assim, uma rotina pode ser definida como “um padrão repetitivo de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 101
execução de tarefas e procedimentos para a solução de um determinado tipo de problema,
que no processo de aprendizagem, vai sendo incorporado e adaptado à estrutura das
organizações através execução do trabalho dos indivíduos”.
Em Nelson & Winter (1982), o conjunto de rotinas de uma firma é visto como uma
impressão genética (técnicas e procedimentos recorrentes), a partir da qual, a firma é capaz
de adaptações ao ambiente, segundo suas necessidades de sobrevivência em um
determinado nível de funcionamento e qualidade. De acordo com tal conceito, as rotinas
podem ser divididas em três tipos básicos, que são as rotinas de operação, de decisão e de
inovação, as quais podem ser caracterizadas da seguinte forma:
Rotinas de Operação – envolvem a produção, administração e processo de vendas,
relativas à articulação da capacidade tecnológica da firma, que se refletem nos
custos unitários de produção, na produtividade do processo e na qualidade dos
produtos;
Rotinas de Decisão – englobam as decisões de investimento e alocação de recursos,
métodos e técnicas de tomada de decisão que refletem as estratégias de
comportamento da empresa frente aos concorrentes;
Rotinas de Inovação – compreendem as estratégias e a forma de agir da empresa
orientadas para o melhoramento das rotinas anteriores, através da inovação e
imitação. As rotinas deste tipo interagem entre si e com as demais.
Como visto no Capítulo anterior, na literatura evolucionária, a analogia com o
sistema biológico serve como referencial do ambiente e de comportamento da firma.
Entretanto, as semelhanças encontram limite na questão do “instinto de sobrevivência”.
Em termos biológicos, “tentar sobreviver” significa uma “reação natural”, e por isso,
previsível. Porém, o ato de sobreviver no indivíduo racional (homem) e, por conseqüência,
para as firmas, envolve escolhas (políticas, estratégicas etc.), com base em atributos
característicos da natureza e da inteligência humanas (CYERT & MARCH, 1963;
NELSON & WINTER, 1982).
A situação característica de fazer uma escolha surge paralelamente à situação de
enfrentar algum tipo de problema, como as alternativas de saída de uma certa rotina, ou
uma mudança necessária em alguma técnica empregada. Uma vez que a firma tem poder
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 102
sobre suas rotinas, ela pode modificar e adaptar seus conteúdos, tornando-as compatíveis
com as mudanças do ambiente externo. Neste ponto, a questão de como tratar a tecnologia
envolve aspectos endógenos e exógenos à firma, e a teoria evolucionária é perfeitamente
compatível com as características desse modelo, oferecendo subsídios e riqueza de
conceitos para fundamentar o entendimento e a análise da dinâmica desse sistema.
Em função de uma escolha (de uma solução), indivíduos e firma levam consigo os
“traços” de um processo que lhes dará características específicas para o desempenho de
suas atividades (uma certa “herança genética”). Logo, o contínuo processo de resolução de
problemas leva a determinadas escolhas que, por conseqüência, delineiam os contornos dos
comportamentos de um indivíduo e de grupo de indivíduos (firma), condicionando assim
as bases específicas para a definição de rotinas (técnicas) particulares. Cada firma, face aos
diferentes problemas, faz uma escolha que é fortemente baseada em suas experiências e
escolhas passadas (dependência da trajetória) e em suas expectativas futuras (intuição).
Estas características e expectativas são, geralmente, aquelas de um comportamento
dominante dentro da firma (paradigma). Neste ponto, a teoria evolucionária encontra total
acordo com a teoria do comportamento da firma (ver CYERT & MARCH, 1963).
Quanto mais uma firma for pressionada a “escolher”, mais ela estará sendo forçada
a resolver problemas, o que significa realizar adaptações e, em última instância, inovações.
O processo de resolução de problemas e, por conseqüência, o processo de inovação, é uma
característica que irá se mostrar diferente de uma firma para outra, caracterizando a lógica
do mecanismo de seleção. Cada firma (como um grupo interativo de seres humanos) tem
um modo diferente de resolver problemas, adotando procedimentos próprios. Estes,
algumas vezes levam ao sucesso, outras não. Algumas tomam uma direção e atingem uma
certa posição de destaque, enquanto outras, na mesma direção não conseguem se destacar,
ou tomam uma trajetória diferente. Informações, interpretações e conhecimentos diferentes
levam a comportamentos distintos. Logo, o que se tem é a existência de uma racionalidade
limitada, escolhas equivocadas (imperfeitas), resultando em diversidade e histórias
individuais específicas (SIMON & MARCH, 1958; NELSON & WINTER, 1982;
MARCH, 1988; FRASMAN, 1998).
Dosi (1991) apresenta uma sistematização do processo descrito anteriormente
através de conceitos da teoria evolucionária de mudança técnica e organizacional,
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 103
fortemente influenciado pelos autores descritos no parágrafo anterior. Seus fundamentos
podem ser resumidos da seguinte forma:
(i) O sistema assiste à persistente emergência de inovações, isto é, à aplicação de novas
soluções técnicas em produtos, processos e organizações. Desta forma a tecnologia
é considerada como sendo uma variável parcialmente endógena às firmas.
(ii) A busca de novas soluções é também endógena e contínua (“mutação”). Isto
implica, para cada firma, um empecilho para atingir um mesmo e único estado
geral de equilíbrio, pois as oportunidades de pesquisa e as soluções dificilmente
serão as mesmas de uma firma para a outra, dadas as diferentes competências e
história (“herança genética”) de cada uma.
(iii) O sistema envolve processos descentralizados de sucessos e de fracassos (na busca
e aplicações de novas soluções) entre as firmas: trata-se de um conjunto de
descobertas úteis e inúteis, de tentativa e erro, de aprendizados produtivos e
improdutivos e várias formas de competição que acabam por recompensar, ou
punir, agentes heterogêneos (“seleção natural”).
(iv) O sistema é, assim, caracterizado pela interação destes agentes heterogêneos. Disto
resulta uma provável regularidade de evolução do sistema, explicada pelo conjunto
dos comportamentos destes agentes.
O modelo acima descrito reconhece a existência de sistemas que exibem evolução
não linear e caminhos dinâmicos múltiplos (DOSI et al., 1994). A partir de um sistema
econômico referencial, os setores que o compõem apresentarão comportamentos
produtivos e de resolução de problemas diferenciados e localizados; mesmo que os
contornos de cada setor sejam os de um mesmo paradigma tecnológico.
Os fatores que, segundo a teoria evolucionária, justificariam a heterogeneidade
entre as firmas são a habilidade, o aprendizado e a rotina. O mecanismo que as interliga é
apresentado por Nelson & Winter (1982) de forma bastante simples. A partir de uma dada
habilidade, um indivíduo qualquer (e, por substituição, uma firma) estará, ou não, apto(a) a
realizar uma atividade. Se não estiver, deverá adquirir o conhecimento mínimo necessário
para realizar a atividade, ou seja, deverá aprender. Possuindo as capacidades para realizar a
atividade, poderá executá-la segundo um roteiro prescrito de ações e reações. Com o
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 104
tempo, este roteiro terá sido transformado em uma rotina pelo indivíduo (ou pela firma),
que executará suas devidas tarefas de modo recorrente desprendendo menos energia
(menor esforço mental).
Porém, como foi mencionado anteriormente, existe um volume permanente de
fatores aleatórios e imprevistos que vêm de encontro a tal processo. Nestes momentos, o
indivíduo, ou a firma, sofre pressões para sair da rotina e, conscientemente, tentar
contornar o fator aleatório. Com o tempo, um determinado conjunto desses fatores também
poderá ser transformado em rotinas e incluído no roteiro de execução da atividade. Existirá
sempre, porém, para cada sistema, um determinado volume de fatores que continuará
sendo aleatório e imprevisto, e que posteriormente poderá ou não ser transformado em
rotina. Fatores aleatórios sempre ocorrerão, porém em graus variados de imprevisibilidade.
O grau de imprevisibilidade de cada problema varia em função do conjunto de
conhecimentos específicos dominado através de eventos passados (memória) e da
capacidade criativa intrínseca a cada agente (NELSON & WINTER, 1982; DOSI, 1988).
Este mecanismo de transformar um fator aleatório em uma rotina nada mais é do que o
processo de aprendizado, de acúmulo de novos conhecimentos tácitos, competências
qualificações, que acontece no chão-de-fábrica (on-the-job)1 e que integra novas soluções à
rotina dos indivíduos e, por conseqüência, o conjunto de rotinas (técnica) das firmas.
As diferentes qualificações dos recursos humanos constituem a “memória”, a
competência produtiva da firma. Neste sentido, elas são uma espécie de “depósitos de
conhecimentos” (WINTER, 1994). O conjunto de conhecimentos diferentes dá corpo ao
“conhecimento técnico da firma como entidade organizada e não reduzida ao que cada um
dos seus indivíduos sabe (...)” (NELSON & WINTER, 1982, p.63).
A essência da heterogeneidade entre as firmas está no fato de nenhum agente ser
perfeitamente racional, devido à impossibilidade de se formar um padrão geral, rígido,
universalmente aceito, para tratar de forma genérica processos formados localmente
através de ilimitadas contribuições e experiências individuais. Logo, stricto sensu,
nenhuma firma possui um capital humano idêntico ao de outra. Sendo assim, não só o
volume de competências individuais que compõe a competência da firma será diferente,
mas também seu processo de aprendizado. Dessa forma, mesmo para dois processos
1
Um aprendizado caracterizado pelo acúmulo de experiências adquiridas pelo trabalhador e pela organização
com a sucessiva realização da atividade produtiva e da interatividade (ZAWISLAK, 1994).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 105
inicialmente idênticos (por exemplo, supondo duas firmas que adquiriram as mesmas
máquinas e organizaram a produção exatamente como prescrito no manual do fabricante),
as rotinas que serão incrementadas com o desenrolar das atividades, serão diferentes e
específicas a cada um deles. Em outras palavras, uma mesma técnica, adotada por duas
firmas, com o desenrolar do processo de competição e sobrevivência de cada uma delas
sofrerá modificações, resultando em rotinas potencialmente diferentes (DOSI et al., 1994).
A atividade de solução de problemas nas modernas sociedades industriais se
apresenta de diferentes formas e em diferentes graus de complexidade, notadamente, na
forma de atividade formal de inovação, descrevendo assim diferentes níveis de capacitação
tecnológica e trajetórias de resolução de problemas. Nesse caso, “inovação” é entendida
como “solução de um problema”, o que implica em assumir “problema” como “tudo aquilo
que impede um agente ou uma organização qualquer de atingir, dentro de um ritmo
esperado, seus objetivos”. Nesse processo, tais problemas são tratados de acordo com sua
relevância no processo produtivo e seu grau de risco para a atividade, o que envolve
atividades objetivas e subjetivas. A atividade de “resolução de problemas” em uma firma é
uma atividade subjetiva que visa encontrar novas e melhores formas de realizar a atividade
objetiva que é constituída por rotinas. O resultado positivo desta atividade de resolução de
problemas é a solução propriamente dita ou, mais especificamente, a criação de uma nova
rotina, um novo método, um novo objeto técnico que traga implícita a possibilidade de
resolução do problema antes observado (ZAWISLAK, 1994).
Pela própria abordagem de Nelson & Winter (1982), a atividade de resolução de
problemas pode ser vista como a atividade específica e deliberada para fazer evoluir o
conjunto de rotinas, ou seja, a técnica. Nestes termos, o mecanismo de funcionamento de
toda e qualquer atividade de resolução de problema é a essência de todo e qualquer tipo de
atividade de inovação nas técnicas empregadas.
Nesse sentido, nem todo processo de resolução de problemas stricto sensu é um
processo de inovação lato sensu, mas todo o processo de inovação stricto sensu (e.g.,
P&D) pode ser considerado como um processo de resolução de problemas lato sensu.
Ademais, o processo de inovação lato sensu pode ser considerado como um processo de
resolução de problemas lato sensu. Novas soluções (adaptações e/ou melhoramentos),
guardadas as devidas proporções, podem ser vistas como inovações. Se uma nova solução,
por menor que tenha sido o problema, for de sucesso, ela terá incrementado um plus de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 106
qualidade à técnica original (ZAWISLAK, 1994). Neste sentido, existem “inovações”
mesmo em ambientes informais de resolução de problemas (por exemplo, empresas com
processo rudimentar).
Pode-se dizer que toda atividade produtiva, mesmo que subjetiva, subentende a
aplicação consciente de conhecimentos acumulados para atingir um resultado esperado.
Em um processo qualquer, para que um indivíduo (ou uma firma) seja considerado capaz
de executar uma tarefa, ele deverá possuir uma certa habilidade.
Para Nelson & Winter (1982), a habilidade é “a capacidade de realizar uma
seqüência de comportamentos coordenados que é normalmente eficaz com relação aos seus
objetivos, dentro de um contexto que normalmente se repete”. Dessa forma, a habilidade
está vinculada diretamente com a idéia de “técnica”, constituída a partir da experiência de
enfrentamento de algum tipo de desafio de caráter rotineiro (não aleatório).
Nelson & Winter (1982) consideram três características associadas à idéia de
habilidade que podem ser atribuídas à técnica e ao estabelecimento de rotinas:
(a) Por se tratar de uma “seqüência de comportamentos coordenados”, toda habilidade
pode ser programada (adquirida em um nível mínimo, por exemplo, através de
treinamento2);
(b) Além dos conhecimentos mínimos necessários para realizar uma atividade, ter
habilidade subentende a existência de conhecimentos tácitos, adquiridos com a prática;
(c) A construção de uma habilidade supõe a existência de escolhas feitas e por fazer.
Segundo Zawislak (1994), o paralelo entre habilidade e técnica serve para melhor
ressaltar o mecanismo de progresso das habilidades, das técnicas e do próprio processo de
resolução de problemas e inovação. A dinâmica de acúmulo de habilidades é contínua e
diretamente originada do processo de resolução de problemas específicos de toda e
qualquer atividade produtiva. Na medida em que a habilidade evolui, a técnica também
evolui, pois a habilidade, na forma de rotina, incorpora soluções de sucesso ao método e/ou
aos objetos técnicos, o que fecha um ciclo de aprendizagem organizacional (NELSON &
WINTER, 1982).
2
Aqui não é mencionado, mas subentende-se que exista um caráter idiossincrático na habilidade, o talento
individual, como traço da “herança genérica organizacional”, que limita tal programação.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 107
Em suma, toda atividade produtiva pode ser entendida como um processo de
aprendizado, formal e codificado (volume mínimo de conhecimento que habilita a
execução da atividade de modo eficiente) e informal e tácito (parcela de conhecimento
memorizado, característica de cada indivíduo que o diferencia na execução de atividades
supostamente idênticas), que será realizado através de uma rotina. A cada rotina,
corresponde um determinado volume de problemas, mais ou menos estáveis e freqüentes,
mas com variáveis imprevisíveis. Logo, o controle de cada problema envolve encontrar
novas soluções, as quais, uma vez aplicadas com sucesso, implicarão em um processo de
aprendizado e, posteriormente, em novas rotinas. Este é o mecanismo central da atividade
de resolução de problemas, da evolução das habilidades, das técnicas organizacionais e,
das rotinas (ZAWISLAK, 1994). A Figura 4.1 mostra uma ilustração de tal processo,
quando observada da esquerda para a direita.
Figura 4.1 - O mecanismo da atividade de resolução de problemas/atividade de
inovação (reproduzida de Zawislak, 1994)
Na referida Figura, este mecanismo pode também ser visto sob uma ótica diferente.
Supondo que haja demanda para solução de algum problema futuro (i.e. a inexistência de
um produto ou de um processo, previsão de alguma falha em um processo ou da falta de
matéria-prima), uma primeira iniciativa seria montar um plano de tratamento do problema,
definindo métodos e objetos, ou seja, uma forma de rotina. O aprendizado organizacional,
por conseqüência, surge da freqüência de execução dessa rotina e de sua difusão coletiva
aos agentes do processo de produção.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 108
Com a inversão no sentido desse mecanismo de resolução de problemas, ocorre um
processo ex-ante de resolução de problemas que é o chamado processo de inovação stricto
sensu, ou inovação tecnológica formal (realizada em departamentos de engenharia e P&D
nas empresas). Dessa forma, é que se dá a construção de uma atividade deliberada de
inovação, não só para resolver, mas principalmente para prever problemas. Investir nesse
mecanismo pressupõe um nível de organização e assimilação de funções e atividades da
organização que envolve a existência da atividade de resolução de problemas stricto sensu
(ZAWISLAK, 1994). Esta é uma visão particular da micro-dinâmica da inovação,
caracterizada pela interação de mecanismos science push/technology pull (ver, por
exemplo, ROSENBERG, 1982; MOWERY & ROSENBERG, 1989).
4.4 Aprendizado e adaptação
O aprendizado pelas próprias firmas engloba os diversos processos pelos quais os
conhecimentos científicos e empíricos mínimos e as habilidades são adquiridos e
dominados pelos indivíduos (KING, 1984). Segundo Dosi et al. (1994) “o aprendizado é
um processo pelo qual a rotina e a experiência permitem a realização das tarefas de um
modo cada vez mais rápido e melhor, que possibilita a identificação das novas
oportunidades de produção” (p.191).
O aprendizado pode se dar de duas maneiras, segundo o tipo de conhecimento
requerido. Segundo Nelson (1990), tal aprendizado pode ser prático, do tipo informal,
como por exemplo, aqueles adquiridos on-the-job (learning by doing), ou formal, quando
obtido em escolas, universidades, treinamentos, estágios, pesquisas e interações (learning
by searching, by interacting, by learning).
Na essência deste mecanismo está, obviamente, o processo de resolução de
problemas onde, com base nos conhecimentos acumulados, os indivíduos são levados a
tomar decisões, ou seja, a fazer escolhas para manter o processo em funcionamento e, com
isso, a acumular novos conhecimentos através de uma relação contínua entre estoque e
fluxo de conhecimentos.
Como resultado da soma dos aprendizados informais e formais dos recursos
humanos vinculados à firma e transformados em procedimentos técnicos e organizacionais,
cada firma pode adicionar uma contribuição própria à “tecnologia” adquirida
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 109
externamente. Nesse sentido, “o aprendizado pode ser entendido como toda e qualquer
contribuição de uma firma que aumente sua capacidade de utilizar e realizar mudanças em
técnicas, métodos e práticas em uso” (BELL, 1984, p.189).
Fica evidente pois, o caráter evolucionário e heterogêneo dos agentes (indivíduos e
firmas), onde “cada processo de modificação particular é específico, principalmente
quando visto como expressão de um aprendizado que possibilita aos recursos humanos
mobilizados
adquirirem
progressivamente
novas
competências
e
qualificações”
(AMENDOLA & GAFFARD, 1988, p.XI).
4.5 Mudança de rotinas
No processo produtivo de uma firma existe uma grande quantidade de fatores que
são plenamente conhecidos, outros que são de freqüência conhecida e aqueles que são
desconhecidos e, portanto, eventos que envolvem incerteza. Logo, há a necessidade de um
tratamento especial desses fatores, para eliminá-los ou reduzi-los a um nível aceitável ao
funcionamento normal da firma.
Devido à incerteza, não é possível que se tenha pleno e total conhecimento dos
rumos a serem seguidos pela firma e, por conseqüência, quais técnicas e métodos a serem
antecipados. Assim, é impossível se prever com total exatidão quais serão as trajetórias de
aprendizado e de solução de problemas que uma firma adotará. Nesse sentido, as rotinas
delineiam uma determinada trajetória passo a passo. Em outras palavras, as rotinas se
tornam mais completas, à medida que elas sistematizam as respostas às ocorrências
aleatórias, reduzindo a distribuição de freqüência das incertezas. Nesse sentido, quanto
maior for o volume de rotinas em uma certa trajetória, maior a probabilidade dos
problemas freqüentes serem resolvidos com sucesso.
Segundo Zawislak (1994), uma vez que uma rotina tenha sido estabelecida, abre-se
espaço para a solução de problemas não previstos, desconhecidos. Uma rotina é
estabelecida no processo de transformação gradual de uma variável aleatória em um fator
específico (com variância conhecida), permitindo sua memorização e posterior aplicação
repetitiva. A redução de variabilidade de erros no processo produtivo é um exemplo prático
dessa atividade, no qual, causas especiais de desperdícios, devem ser eliminadas e as
causas comuns, reduzidas ao máximo (ver, por exemplo, RUSSEL & TAYLOR III, 1999).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 110
Na análise da “natureza da firma” (COASE, 1937; FRASMAN, 1998;
GRANOVETTER, 1999), a criação de rotinas, com soluções de sucesso, seriam
alternativas para contornar os custos transacionais, reduzindo “atritos” e contribuindo para
a organização formal da firma. Nesse sentido, rotinas são os “caminhos de interação que
representam soluções de sucesso para problemas específicos” (DOSI et al., 1994, p.191).
Com o desenvolvimento desse processo, surgem novos problemas que deverão ser
enfrentados e resolvidos. Logo, a rotina vai evoluindo com o acréscimo de novas variáveis,
cujas variâncias passam também a ser conhecidas. Enfim, com as novas rotinas, a
organização e a tecnologia da firma evoluem, o que resulta na própria evolução da firma.
Apesar do reconhecimento do seu importante papel dentro das organizações,
pesquisas empíricas sobre rotinas são muito recentes na literatura científica. De acordo
com Becker (2001), somente a partir da década de 90 (ver WEICK, 1990 apud BECKER,
2001) é que surgiram os primeiros trabalhos empíricos tocando aspectos conceituais de
rotinas (ver, por exemplo, COHEN & BACDAYAN, 1992; PENTLAND, 1994;
PENTLAND & RUETER, 1994).
“Como as rotinas influenciam o desempenho das organizações?” e “Quais os
aspectos relevantes para serem tomados como critérios de seleção para futuras pesquisas?”
Em termos metodológicos, estas são, entre outras, questões a serem respondidas com base
em estudos empíricos (BECKER, 2001).
A importância do conceito de rotinas foi destacada em um recente trabalho
empírico demonstrando as diferenças de desempenho entre firmas (KNOT &
MCKELVEY, 1999). Nesse trabalho foi feita uma comparação de rotinas entre diferentes
firmas franqueadas e os padrões exigidos pelo franqueador. Os resultados mostraram que
naquelas firmas em que os gerentes buscaram gerar, selecionar, incorporar e exigir rotinas
superiores (funções de produção), com adaptações próprias, a eficiência era maior do que
naquelas naquelas firmas que buscaram seguir um único padrão de recomendações passado
pelo franqueador, e que as prescrições para maximização da eficiência através do
desenvolvimento de rotinas operacionais podem oferecer mais possibilidade de sucesso do
que exigências e incentivos de alinhamento aos padrões do franqueador.
Uma série recente de casos de estudo em diversos setores da economia concluem
que as rotinas são um valioso conceito para o entendimento do processo de mudança
técnica nas organizações (ver, por exemplo, COSTELLO, 2000; BECKER, 2001), e que
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 111
podem servir como uma unidade de análise útil para comparações do desempenho entre
firmas.
4.6 Comportamento e competição
Uma firma, como agente de negócios, assume riscos na tomada de decisão na
alocação de recursos, e para sobreviver ou crescer perante as condições impostas pelas
mudanças no ambiente (mercado), apóia-se em suas vantagens competitivas baseadas em
recursos e estratégias. Desse modo, a firma sofre pressões para se engajar em um processo
de busca por novas soluções, reavaliando e adequando sua estrutura interna para absorver
novas capacidades e habilidades (técnicas, rotinas, processos etc), para competir pela
conquista das oportunidades geradas pelas mudanças através de novas soluções (produtos e
serviços) (NELSON & WINTER, 1982). Nesse processo competitivo e adaptativo
(evolucionário), o êxito da firma é manifestado através de suas conquistas e vantagens
obtidas frente aos concorrentes.
Como um processo evolucionário, as propriedades estatísticas da população de
agentes do sistema são afetadas pela freqüência e evolução na mudança de seus
comportamentos, que alteram a estrutura do sistema (METCALFE, 1998). Dessa forma,
sua evolução pode ser avaliada através do estabelecimento de determinadas “regras de
comportamento” (ALCHIAN, 1950) ou “regras de decisão” (CYERT & MARCH, 1963:
121-135).
O conceito de “concepção populacional” oferece uma boa distinção entre a
abordagem evolucionária moderna e as teorias de seleção lamarckiana tradicionais. A base
da “concepção populacional” contém implícita a idéia de que processos determinísticos
surgem de mudanças estatísticas. Conseqüentemente, não é uma teoria probabilística, mas
uma teoria de como pontos dispersos de uma distribuição estatística evoluem no tempo sob
pressões do ambiente (MAYR, 1959 apud METCALFE et al., 2000). Tais momentos não
são representativos de qualquer indivíduo, mas sim da sua porção relativa na população.
Dessa forma, eles são um conjunto descritivo agregado construído a partir de dados sobre
toda a população. Tal visão não é compatível com variações estocásticas nas características
das diversas entidades envolvidas, muito menos com o funcionamento do processo de
seleção. Nesse sentido, não se deve considerar as vantagens acumuladas no processo
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 112
seletivo com o decorrer do tempo como características distribuídas pela média da
população.
Essa visão leva em conta a existência de variabilidade nas características dentro da
população, reforçando as noções de mudança e diversidade. Nesse caso, a diversidade é
fruto do escopo de variedade, que contribui para o processo de evolução, e não como um
complicador, como no conceito lamarckiano/darwiniano. De acordo com Metcalfe (1998),
nessa visão, a atenção se volta para a variedade de características dentro da população e, no
ritmo tipológico, pois variedade não é um nuisance (empecilho) que esconde a realidade.
Assim, a distribuição de variedade na população, que é a condição para o processo de
mudança, adaptação e evolucão, é o que importa.
Entretanto, essa abordagem menospreza a diferença de adaptabilidade entre os
agentes. Se todos os agentes forem perfeitamente adaptáveis em todos os estratos da
população não haveria escopo para o processo de seleção, pois os agentes se adaptariam de
forma idêntica, ajustando seus comportamentos de acordo com as imposições do ambiente.
Este ponto evidencia uma clara distinção de abordagem com relação aos métodos de
classificação do processo competitivo baseados em conceitos neoclássicos (METCALFE,
1998; METCALFE et al., 2000).
Outro ponto importante dessa abordagem da população está no “critério de
demarcação”, que pode ser entendido através das unidades de seleção e do ambiente de
seleção. As unidades de seleção são entidades com características que se mantém
relativamente estáveis com o tempo para preservar suas identidades. Na concepçao de
Nelson & Winter (1982), tais unidades são atividade de negócios freqüentemente
específicas, que produzem um conjunto particular de itens utilizando métodos
característicos. Esse tratamento da população também contrasta com a visão tradicional da
teoria econômica de assumir o comportamento de um agente médio representativo,
estilizado de maneira uniforme. Pela “concepção populacional” o desempenho do agente é
relativo à mudança nas freqüências que revelam suas características. O critério pelo qual
um agente é considerado estatisticamente representativo tem a vantagem de exibir as
características emergentes na população do sistema. Essas características não são
propriedades específicas à indivíduos, mas sim ao sistema, fruto de diversas interações
com outros agentes através de fluxos internos e externos (troca de informações,
experências, conhecimento etc). Entretanto, a consideração de um comportamento como
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 113
representativo deve ser um corolário não uma hipótese, ou seja, um produto de análise, não
uma consideração prévia, apesar das evidências que possam existir (METCALFE, 1998).
Nesse sentido, um comportamento representativo em uma população pode evoluir
mesmo quando certos comportamentos individuais permaneçam constantes (o que, em um
mundo de agentes de comportamentos uniformes, seria obviamente impossível). Na
presença de diversos microcomportamentos individuais, o que é representativo em
qualquer dado contexto são certos padrões recorrentes que se sustentam ao longo do tempo
(“caracteres fortes”), que, por sua vez, dependem da maneira como são afetados pelos
mecanismos de coordenação coletiva, pelo mercado e por instituições reguladoras. Assim,
uma metodologia para captar tais caracteres fortes deve ser bastante sofisticada, mas
sobretudo, coerente com as hipóteses de uma abordagem evolucionária, adaptativa e não
reducionista.
Quais seriam os critérios necessários para incluir agentes em um mesmo padrão? É
possível estabelecer uma demarcação qualitativa entre os grupos? Quais as características
que os agentes compartilham? Quais as mais promissoras em termos competitivos?
O melhor caminho para responder a tais questionamentos é definir os membros da
população não em termos de suas características per se, mas como entidades sujeitas a um
ambiente comum de pressões competitivas (BRANDON, 1990 apud METCALFE, 1998).
Na abordagem evolucionária, os mecanismos de variedade não podem ser baseados em
populações com entidades idênticas. Apesar dos agentes nesse sistema compartilharem
certos atributos, e estarem expostos as mesmas oportunidades e incentivos, agem de forma
independente, com estratégias próprias, de acordo com suas capacidades e limitações
(principalmente de recursos de capital e de conhecimento).
O ambiente de seleção é, na realidade, a arena competitiva na qual os agentes
disputam mercados, que avaliam as várias entidades e transformam suas características
seletivas em vantagens seletivas. O que é verificado na forma de “estruturas de mercado”.
No processo competitivo, formam-se grupos específicos de indivíduos dentro da população
que tornam suas características seletivamente relevantes. Como conseqüência, segundo
Metcalfe (1998), tais grupos não podem ser identificados, a menos que se definam
anteriormente quais as características relevantes.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 114
Dessa forma, os agentes não podem ser classificados segundo seus atributos
individuais, mas pelo fato de atuarem em uma arena competitiva comum, estão sujeitos às
mesmas forças seletivas que revelam certas características predominantes.
Nesse sentido, pode-se definir a dinâmica competitiva entre firmas em um
determinado sistema, como um processo interativo de mudança e adaptação, condicionado
por mecanismos de rivalidade e cooperação entre os agentes, buscando compatibilizar suas
características internas, através de diferenciações em produtos e processos, às exigências
externas (de mercado), que possibilitem vantagens perante seus concorrentes.
4.7 Evolução e complexidade
Um grupo de agentes pode ser representado por seu conjunto de regras específicas
(METCALFE et al. 2000). Tais “regras” podem ser definidas como um conjunto de
padrões recorrentes de interações formados a partir de um processo de aprendizagem, no
qual são tomadas microdecisões em um ambiente fortemente imprevisível resultando em
ações de sucesso e fracasso (tentativa e erro). Quase como um mecanismo de defesa, no
tempo, este processo de aprendizagem condiciona os agentes a adotarem certas decisões
baseados na memória passada, formando regras de comportamento ou rotinas. Tais rotinas
são influenciadas pelos mecanismos de seleção (leis, regulações, normas, incentivos, crises
econômicas etc) e pela estrutura de mercado (pressões competitivas) através de um
conjunto de variáveis do sistema. Estas, por sua vez, em um processo interativo, levam a
novos comportamentos (adaptação) das firmas ao ambiente.
As atividates dentro das firmas são desenvolvidos com base em práticas e métodos
testados no processo de busca por soluções para os problemas internos (NELSON &
WINTER, 1982). Quando o mecanismo de busca é ativado (devido a um problema
qualquer), primeiramente são testadas as alternativas já existentes (rotinas existentes) e,
posteriormente, se busca alguma outra solução (inovações). O resultado surge pelo melhor
trade-off entre as velhas (rotinas) e as novas alternativas (novas rotinas). Neste processo
está embutido uma atividade de benchmarking (interno e externo) entre as práticas
adotadas pelos melhores concorrentes. Porém, o processo de tomada de decisão de sair de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 115
uma rotina envolve incertezas, logo, é limitado por fatores internos/externos e gerais/
específicos do ambiente que caracterizam o grau de aversão da firma ao risco3.
No conceito de Nelson & Winter (1982), “regras” e “rotinas” são ilustradas não
somente em termos de aderência a normas e convenções, mas também como emergência
de novos padrões de comportamento. O conjunto de regras e rotinas que caracteriza as
firmas pode ser definido de acordo com parâmetros de continuidade e regularidade. Assim,
tal conjunto pode compreender elementos de dois tipos: (i) estáticos, se associados com a
capacidade reprodutiva de tarefas previamente executadas ; ou, (ii) dinâmicos, quando
vinculados à busca por novas respostas para mudanças e tendências verificadas no
ambiente externo, ou a iniciativas de auto-adaptação, devido à ocorrência de circunstâncias
imprevistas. Emergência pode ser definida como um ajuste dinâmico no conjunto base de
rotinas internas que são modificadas e refinadas no processo interativo de busca por novas
alternativas com base em experiência passadas (NOOTEBOOM, 2000).
A descrição anterior corresponde a definição de Sistemas Evolutivos-Adaptativos
(HOLLAND, 1998; ARTHUR, 1997). Porém, o ponto de partida neste caso são os agentes
que podem ser representados através de suas regras de conduta no processo de adaptação e
seleção. Nesse sentido, o estudo da dinâmica competitiva interfirmas deve considerar as
relações institucionais (vínculos formais e informais) e os efeitos dos mecanismos de
dependência da trajetória que crescem em complexidade quando analisados sistemas de
múltiplos agentes (NOOTEBOOM, 2000).
Se as características de um certo grupo de indivíduos podem corresponder a um
processo não-linear, então o comportamento coletivo não pode ser deduzido pela soma dos
comportamentos de agentes isolados. Nesse contexto, alguns conceitos se tornam
importantes para o entendimento do funcionamento do sistema, entre os quais, os de
adaptação contínua, auto-organização (não manipulado) e dinâmica fora do equilíbrio.
Segundo Holland (1998), a emergência de padrões de comportamento reforça a idéia de
uma coleção diversificada de agentes, caracterizada pela diversidade, pelo potencial
agregado, pelo encadeamento (networking) e pela não-linearidade do processo. Estas
3 Tais fatores compreendem, por exemplo, a política econômica (taxas de juros, câmbio etc), a dependência
da trajetória (inércia estrutural e organizacional), o nível de recursos físicos e humanos vigentes (por
exemplo, capital, qualificação e flexibilidade dos recursos humanos etc), coalizões (como: contratos com
fornecedores e clientes estratégicos, regulamentação de impostos especiais, normas trabalhistas e ambientais
específicas), e características específicas do mercado (Cyert & March, 1963; Teece & Pisano, 1998).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 116
características podem ser consideradas como as bases para a evolução da estrutura do
sistema.
Em sistemas complexos com múltiplos agentes pode-se observar características
como diversidade em habilidades, adaptação e reação frente aos padrões estabelecidos e ao
ritmo de mudanças impostas pelo ambiente. As rotinas podem ser simples e às vezes
limitadas inicialmente, mas quando consideradas em relação à mudanças e alterações na
estrutura do sistema, surgem níveis distintos de agregação e hierarquia. Com o aumento no
escopo das rotinas, surgem padrões recorrentes de interações. Quanto mais agregado,
maior e mais sofisticado se torna o conjunto de rotinas, comportamentos e estratégias.
Dessa forma, grupos de agentes podem ser representados pelo conjunto de rotinas,
comportamentos e estratégias específicos de cada sistema. A Figura 4.2 ilustra esse
processo.
AGENTE
INDIVIDUAL
META-AGENTE
ORGANIZAÇÕES
Agente
Conjunto de regras
simples
Meta-Agente
Modos de comportamento
(grupos)
Organizações
Meta–regras (estratégias)
Figura 4.2 – Diferentes níveis de regras de comportamento
(baseado em Metcalfe et al., 2000; Fonseca, 2001)
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 117
Segundo Metcalfe et al. (2000), um conjunto de regras tornam-se uma estratégia
quando:
1. Definem uma seqüência de decisões;
2. Revelam alguma forma de antecipar acontecimentos, no sentido de “o que
fazer” quando surge uma situação inesperada;
3. Desenvolvem-se dentro de organizações.
Nesse sentido, quanto mais complexas as interações entre os agentes, mais
eficientes devem ser as regras. Nesse nível de complexidade, os vínculos funcionais entre
os agentes podem também ser definidos como uma “organização”, caracterizado por um
processo contínuo de legitimação coletiva.
4.8 Padrões e recursos da firma
Dentro de cada mercado, as firmas buscam se diferenciar das concorrentes através
de diferentes estratégias. O ambiente competitivo leva a adoção de comportamentos
diversos, influenciado pelas competências internas da firmas e por elementos aleatórios do
ambiente. A adaptação a essa dinâmica constitui a base para o desenvolvimento
competitivo sustentável de uma organização (SAVIOTTI & METCALFE, 1991;
LEVINTHAL, 1994). Nesse sentido, a abordagem evolucionária e a teoria dos recursos da
firma consideram que as firmas são heterogêneas em relação à recursos, capacidades,
competências e estratégias.
Segundo Hadjimanolis (2000), a teoria dos recursos da firma complementa e
integra contribuições de muitas vertentes teóricas, entre as quais e especialmente, a
organização industrial e a teoria dos custos de transação. “A visão baseada em recursos da
firma busca interligar as teorias das capacitações internas e das estratégias competitivas da
firma” (op.cit.: 264). Por essa visão, os recursos são ativos tangíveis e intangíveis
utilizados pelas firma no ambiente competitivo, os quais compreenderiam os recursos
físicos, humanos, tecnológicos e de reputação (imagem), incluindo o emprego de
tecnologia interna para as atividades do dia-a-dia e pessoal qualificado na execução de tais
atividades, o que envolve treinamento e aprendizagem. As capacitações são habilidades
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 118
gerenciais e fatores internos da firma formadores das rotinas organizacionais, que baseadas
nos recursos, possibilitariam vantagens competitivas específicas, difíceis de imitar.
Nesse sentido, as capacitações dinâmicas podem ser entendidas como as
habilidades da firma de integrar, construir e rearranjar competências internas e externas de
acordo com as mudanças e exigências do ambiente (TEECE et al., 1997). As rotinas
específicas às firmas são dependentes de eventos e decisões ao longo do tempo (path
dependence). As combinações específicas de recursos e capacitações (técnicas e
gerenciais) contribuem para diferenciar certas firmas de seus competidores. A interação
entre recursos e capacitações dinâmicas é que formariam as competências de cada firma4.
(HADJIMANOLIS, 2000).
As capacidades referem-se à habilidade de mobilização de recursos (humanos,
capital, coalizões etc.) necessários na definição de padrões de comportamento individuais e
coletivos, os quais definem suas estratégias para absorver novos conhecimentos (COHEN
& LEVINTHAL, 1990; AGUILAR-ZAMBRANO, 2001). O desempenho nessa dinâmica é
função da eficiência e eficácia na articulação entre recursos, capacidade e estratégias para
explorar as oportunidades do ambiente e dos diversos tipos de conhecimento disponíveis.
Uma série de autores têm destacado a importância das organizações desenvolverem
habilidades específicas para absorver mudanças e gerar novas competências a partir da
combinação de fontes exógenas e endógenas à organização (HAMEL & PRAHALAD,
1990; NONAKA, 1994 ; TEECE & PISANO, 1994; 1998). Tais habilidades referem-se ao
talento que certos entes possuem que os qualificam a “fazer algo”. A competência decorre
da habilidade de fazer “tal coisa”, em um certo grau de qualidade e efetivamente, i.e., um
certo número de vezes, com um percentual de acerto acima da média, por exemplo
(AGUILAR-ZAMBRANO, 2001).
O conjunto de habilidades da firma inclui técnicas e métodos que caracterizam a
capacidade das firmas em poder ou não fazer algo “com competência”. Competência aqui
pode ser vista de duas maneiras: (i) técnica, associada à rotinas de manipulação de
artefatos, técnicas de execução e elementos de um processo produtivo (trabalhadores,
equipamentos etc) e; (ii) organizacional, referente à rotinas que envolvem habilidade de
administração e gerenciamento do processo, métodos de fabricação, relacionamento como
4
Uma crítica feita a essa abordagem é que, pela subjetividade e complexidade de aplicação, “poderia levar a
práticas inadequadas de gerenciamento e decisões estratégicas” (sic!) (MacGrath et al., 1992).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 119
clientes e fornecedores. Nesse sentido, esse conjunto de habilidades reflete o que as firmas
sabem e podem fazer. Entretanto, os recursos, capacidades e competências da firma apenas
são explicitados através das estratégias adotadas frente às circunstâncias do ambiente. Cada
circunstância exige uma conjugação diferente desses fatores. Um grau de conhecimento
reduzido sobre tais fatores (que inclui saber como, quando e o quanto utilizá-los) pode
levar a decisões equivocadas. Erros de avaliação podem provocar comportamentos não
apropriados a certa situação. Neste caso, as reais habilidades, capacidades e competências
da firma não são explicitados (METCALFE, 2001).
Isso explica porque uma firma com baixo nível de recursos, mas que os utiliza
eficazmente (com uma melhor estratégia), eventualmente pode levar vantagens
competitivas frente a um concorrente mais bem dotado de recursos, capacidade e
competências, porém, com baixo grau de conhecimento e de desempenho desses fatores.
Neste caso, seus ativos estariam sendo subutilizados.
Os recursos, capacidades e competências da firma constituem ativos estratégicos
quando são utilizados para um determinado propósito ou objetivo. Dessa forma, uma
estratégia tecnológica pode ser entendida como um processo em que a organização
desenvolve capacidades tecnológicas constantemente, de modo a obter e sustentar
vantagens competitivas específicas (TEECE & PISANO, 1998).
Nessse processo dinâmico e evolutivo, nenhuma organização pode ser reduzida
simplesmente a seus padrões de ação, pois a sabedoria interna de seus indivíduos e o que
eles podem fazer, depende do contexto específico e da habilidade coletiva em operar
capacidades em conjunto para atingir determinados propósitos. Entretanto, tais padrões se
constituem em um importante parâmetro para análises de desempenho, pois são o
repositório de competências e a fonte de estratégias sustentáveis no médio e longo prazo
(METCALFE, 2001).
Diferenças de comportamento aparecem como resposta das firmas de uma indústria
ao aparecimento de uma tecnologia que provê um novo meio de executar determinadas
funções de importância central para o desempenho competitivo. Em grande escala, tais
episódios ocorrem pela substituição de equipamentos mecânicos e eletromecânicos por
dispositivos eletrônicos em diversos tipos de equipamentos e em praticamente todas as
indústrias. Em menor escala, cada tecnologia tem seu próprio ritmo de substituição. No
caso dos microprocessadores para computador, cada vez mais velozes, e dos aparelhos de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 120
telefonia celular, cada vez menores, até atingir limites técnicos de qualidade para o
consumidor (utilidade e adequação ao uso), tecnológicos (saturação do padrão de certa
tecnologia em ampliar serviços ou de compatibilidade com outras tecnologias) e de escala
(saturação do mercado) (ver, por exemplo, DOSI, 1982; PEREZ, 1983; ABRAMOVITZ,
1986; DOSI, 1988; MYTELKA, 1998; GU, 2000).
Um padrão comum que se verifica em tais episódios é que as firmas líderes em uma
indústria freqüentemente parecem reagir mais lentamente aos desafios, o que, no futuro
pode comprometer sua posição frente aos concorrentes. Com o tempo e o ritmo de
inovações, a tendência é que a liderança seja assumida por algum competidor pioneiro em
uma nova tecnologia. Algumas vezes, um firma anteriormente líder, passa a ter
dificuldades para sobreviver ou, em última instância, entrar em processo de falência. Este
“padrão” de comportamente é, obviamente, uma ilustração da metáfora schumpeteriana de
“destruição criativa” da mudança tecnológica, a qual era vista por ele como um aspecto
essencial da estratégia de negócios frente ao “constante vento forte das inovações”
(LEONARD-BARTON, 1998).
Geralmente “padrões de ação” são entendidos como rotinas. Entretanto, há outros
tipos de ação no comportamento das firmas, como procedimentos de busca (métodos de
tentativa e erro, heurísticas5), “regras do polegar6”, estratégias, paradigmas, estruturas
cognitivas, hábitos e procedimentos operacionais recorrentes na organização, que fogem a
esse escopo. Tais padrões podem ser considerados como individuais ou coletivos, porém
são interdependentes entre si. Em termos evolucionários, ações recorrentes são
considerados como características “quasi-genéticas”, pois, devido a um processo de
feedback cumulativo, permanecem invariantes na firma por um período de tempo
indeterminado (NELSON & WINTER, 1982).
5
O termo “heurística”, amplamente utilizado no campo da Pesquisa Operacional e da Engenharia da
Computação (para tratamento de problemas de difícil solução ou, sem solução ótima), pode ser entendido
como “um mecanismo de busca, característico do processo criativo, que através de procedimentos lógicos
estruturados levam a uma solução aproximada para um determinado problema”. Segundo Altshuller (1999, p.
38), o termo foi criado pelo matemático grego Alexandria, que viveu na segunda metade do século 3, sendo,
posteriormente popularizado pelos cientistas Leibnitz e Descartes. Pode ser definido, no sentido amplo, como
“um método de processamento estruturado do pensamento criativo”, mais eficiente em termos de tempo e
energia, em contraposição ao método convencional de tentativa e erro. Nesse sentido, pode-se falar em
heurísticas de baixo nível e heurísticas de alto nível, de acordo com a complexidade dos problemas e nível de
exigência do processo criativo (Altshuller, 1999).
6 Um tipo de heurística de baixo nível, utilizada para problemas gerais de pouca complexidade e que exigem
solução precisa. Um exemplo de “regra do dedo polegar” consiste em fixar um certo gasto em P&D,
proporcionalmente ao retorno esperado (Lazaric & Denis, 2001).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 121
4.9 Regras, procedimentos e rotinas
Recentemente tem crescido o interesse no estudo de rotinas no meio acadêmico,
especialmente entre os que utilizam a abordagem evolucionária, devido ao potencial do
conceito como elemento de ligação entre os níveis micro e macroeconômico (REYNAUD,
2000). Entretanto, a literatura sobre rotinas não é consistente na definição e
estabelecimento de diferenças entre conceitos aparentemente semelhantes, o que podem
levar a equívocos e dificuldades na sua interpretação. Nesse sentido, é importante definir
mais precisamente conceitos como “regra”, “procedimento operacional padrão” e “rotina”.
4.9.1 Regra
Uma regra pode ser considerada como um relacionamento no qual indivíduos
“disparam” uma ação quando certas condições se apresentam (COHEN et al., 1996). A
reação a estas condições pode ser automática ou deliberada e consciente.
Outra definição considera regras como padrões de comportamento ou ação a serem
adotados de forma consciente ou não por certos indivíduos sob certas circunstâncias, que
tem como principal característica sua estrutura lógica (por exemplo, em caso de X, fazer
Y). Nesse caso, rotinas podem ser um tipo de regra de ação, quando colocadas em prática.
Ou seja, regras são códigos representativos que definem ações, e não as ações em si
(AGUILAR-ZAMBRANO, 2001).
Na prática, regras formais especificam tarefas e competências de decisão entre
membros de uma organização em termos de hierarquias, funções e procedimentos
operacionais (técnicos e administrativos), reduzindo o escopo de atribuição das decisões.
Por outro lado, as regras não definem como os agesntes (trabalhadores) devem executar
uma tarefa “bem feita”, ou como fazer melhor. Em condições de mudança do ambiente, as
regras estão sempre defasadas do contexto, pois são estáticas, impondo severas restrições
ao comportamento organizacional adaptativo-evolutivo (WINTER, 1994).
De forma similar a Cohen et al., (1996), Reynaud (2000), define regras como
relações permanentes entre uma hipótese ou antecedente e sua conseqüência, que através
de uma estrutura lógica do tipo condição-ação, disparam uma ação sob certas
circunstâncias. Nesse sentido há dois tipos de regras: (i) regras acabadas (“prontas para
uso”) e regras semiacabadas, que requerem interpretação antes de colocadas em prática. O
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 122
primeiro tipo envolve comportamento rotinizado, já o segundo, requer um comportamento
interpretativo.
4.9.2 Procedimento Operacional Padrão (POP)
O conceito de procedimento operacional padrão (POP) foi cunhado por Cyert &
March (1963), no clássico livro A behavioral theory of the firm. Nesta obra, um POP é
considerado como um padrão de comportamento, e portanto, engloba tanto regras como
rotinas. Na definição de Egidi (1994) um POP é descrito como um conjunto de instruções
que determinam ações a serem tomadas sob certas circunstâncias, que são formalizadas
através de normas descritivas em manuais, roteiros de procedimentos e tarefas.
Dessas definições conclui-se que: (i) POP’s são restritos por regras (como estrutura
lógica: condição-ação) e; (ii) uma vez que uma regra tenha sido estabelecida, os POP’s
possuem resultados finitos para cada ação (i.e., uma condição corresponde sempre a um
conjunto definido de ações). O Gráfico 4.1, a seguir, ilustra de forma particular a diferença
entre Regra e POP.
Amplitude
regra
POP
Freqüência
Gráfico 4.1 – Diferença entre Regra e POP
(adaptado de Aguilar-Zambrano, 2001)
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 123
Quando um, ou um conjunto de POP’s, é definido para resolução de um certo tipo
recorrente de problema (através de uma regra), não é necessário que os indivíduos
desenvolvem novas soluções a cada vez que aquele tipo de problema se apresenta, pois um
procedimento padrão será adotado como solução. Entretanto, a literatura mostra, através de
estudos empíricos realizados no chão-de-fábrica, que os comportamentos reais divergem
substancialmente dos padrões descritos nas normas (manuais de procedimento, roteiros
preestabelecidos etc). Logo, os POP’s são descritores mais precisos dos comportamentos
reais.
Em outras palavras, alguns padrões de ação podem ser considerados como regras
estabelecidas por estruturas lógicas do tipo condição-ação e, em outras, podem ser rotinas
em termos de ações comportamentais (COHEN et al., 1996; AGUILAR-ZAMBRANO,
2001). Porém, “o fato de uma rotina constituir-se em um padrão de ação, não significa que
todo padrão de ação seja uma rotina” (REYNAUD, 2000, p. 251).
4.9.3 Rotina
A noção de rotina foi pioneiramente desenvolvida no campo da Inteligência
Artificial (IA), entretanto, deve-se sobretudo a Herbert Simon, e também a Friedrich
Hayek, dois pesquisadores laureados com o prêmio Nobel em Economia, sua introdução
nas ciências sociais e econômicas. Simon era ao mesmo tempo um téorico das
organizações (ver, por exempo, MARCH & SIMON, 1958) e um especialista em
psicologia cognitiva, enquanto Hayek foi um dos fundadores do campo da cibernética.
Uma das maiores contribuições do amplamente citado trabalho de Nelson & Winter
(1982) foi introduzir o conceito de rotinas como unidade de análise do comportamento
econômico das firmas. Entretanto, muitas ambigüidades e inconsistências ainda
prevalecem no tratamento empírico de rotinas. Não existe uma visão acadêmica unificada
sobre a noção de rotina. Esta situação é agravada pelo fato de serem bastante raras as
contribuições ao conceito de rotinas e, quando ocorrem, terem impacto limitado
(REYNAUD, 1998; BECKER, 2001).
Dosi et al. (1994) consideram rotinas como padrões de interação relativos ao
comportamento de um grupo. Tais padrões dependem que cada membro do grupo satisfaça
certas condições: (i) que não tenha dúvidas a respeito de sua função e trabalho no grupo;
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 124
ii) que interprete de forma correta as mensagens passadas pelos colegas; (iii) que, a partir
do conjunto de rotinas prestabelecidas, seja capaz de fornecer a resposta certa para cada
probrema sem reflexão desnecessária (de forma quase imediata). As respostas de cada um
são interdependentes entre si. De acordo com essa perspectiva, rotinas só existem pela
interação de indivíduos.
Tal concepção é compatível com a definição de Nelson & Winter (1982), na qual,
rotina corresponde a uma forma de conhecimento tácito da firma, funcionando como uma
“memória organizacional”. Nesse sentido, rotinas dão uma identidade à organização, pois
são idiossincráticas e, como elemento tácito, mantém-se como atributo retido pela firma.
Um conjunto de características processuais de rotinas têm sido identificado: tempo de impacto, evolução, manutenção, resistência, discrepâncias, tempo de aquisição,
dependência, condições para que mudanças ocorram em saltos ou de forma incremental,
confiabilidade etc (ver, por exemplo, WEICK, 1990 e BECKER, 1992). Cada uma dessas
dimensões pode ser útil para o avanço do entendimento do papel das rotinas nas
organizações, de acordo com os objetivos almejados.
Uma rotina pode ser considerada um padrão de comportamento regular e previsível
das firmas, que é parte do processo recursivo que constitui uma organização. Cada rotina
relaciona uma determinada atividade a um procedimento específico operacional (cognitivo
ou físico), provendo ações de acordo com instruções previamente definidas por regras para
certas circunstâncias. Nesse caso, uma rotina é definida como um meio pragmático para a
resolução de um problema, para a qual, uma certa regra dá uma resposta teórica e geral.
Assim, as regras formam os parâmetros para a definição das rotinas. Isto implica que não é
possível adotar rotinas sem anteriormente estabelecer regras, pois rotinas são baseadas em
regras de comportamento (COHEN et al., 1996; REYNAUD, 2000).
Estabelecer diferenças entre regras e rotinas não é simples, pois envolve a redução
de todas as atividades complexas da organização àquelas essenciais e representativas de
uma descrição condição-ação (regras). A complexidade do conjunto de regras esbarra nos
limites da racionalidade (COHEN et al, 1996).
Rotinas são descritas como a memória organizacional e práticas recorrentes
executadas em uma organização. Tal memória é constituída, em parte, pelos repertórios de
conhecimento ativado pelos membros da organização e, em parte, pelo conhecimento
mobilizado por tais membros. Dois tipos de conhecimento são conjugadas para formar uma
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 125
rotina: - um inerte e latente, e outro explícito, mobilizado e utilizado diariamente. Esta
definição bidimensional de rotina se contrapõe à noção tradicional de um “menu fixo”, ou
seja, um padrão recorrente, automaticamente executado pelos membros da organização
sem qualquer ação consciente e deliberada (LAZARIC & DENIS, 2001).
Devido à restrições cognitivas na transmissão do conhecimento no processo de
aprendizagem, a memorização das regras pelos indivíduos não é total. Entretanto, eles
recriam formas particulares de interpretação das regras, gerando rotinas baseadas em regras
genéricas (limites).
Nesse sentido, em um processo convencional, as regras estabelecem as bases para a
criação de rotinas7. O Gráfico 4.2, busca mostrar a diferença entre regra e rotina.
rotina
Amplitude
regra
Freqüência
Gráfico 4.2 - Diferença entre Regra e Rotina
(Adaptado de Aguilar-Zambrano, 2001)
Teoricamente, para que “rotinas” tornem-se “regra”, tal processo deveria ser invertido (difusão do
conhecimento particular para o coletivo). Padrões particulares podem se tornar regra quando, demonstradas
sua adequação e seu desempenho em um caso particular, são aceitos e interpretados corretamente de forma
coletiva. Isso pode ocorrer, por exemplo quando certos trabalhadores desenvolvem métodos, técnicas e
procedimentos particulares mais eficientes que rotinas e regras anteriormente estabelecidas para execução de
alguma atividade. Este é um tipo ideal e altamente elaborado de inovação incremental (adaptações), pois são
melhorias baseadas em contribuções próprias sobre modelos amplamente testados e estabelecidos
coletivamente em outros contextos (regra). Quando mais uma firma conseguir tornar tais eventos esporádicos
em processo (converter rotinas em regras), mais estará próxima de um tipo ideal de organização, que alguns
autores denominam de organização do conhecimento (ver, por exemplo, Nonaka, 1994; Leonard-Barton,
1995; Lastres & Albagri, 1999; Nonaka & Takeuchi, 1999), na qual uma grande parcela do conhecimento
tácito e individual seria transformado em conhecimento codificado e coletivo. Nesse caso, sua eficiência na
utilização dos recursos intangíveis seria substancialmente maior.
7
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 126
Na prática, o conceito de rotina pode ser observado em dois níveis, conforme
sugerido por Cohen et al. (1996):
Em um sentido restrito, que vê rotinas como um processo organizante e
automatizante8;
Em um sentido amplo, como uma “regra do dedo polegar”, isto é, uma resposta
em primeria instância, que reduz toda a quantidade de informação disponível a
um conjunto útil, resultando em uma primeira aproximação para um problema de
decisão.
Tal concepção amplia o enfoque do conceito de rotinas e concede flexibilidade no
seu tratamento, dependendo do quê se quer capturar e o quê se pode observar. De acordo
com essa concepção, o conceito de rotina pode ser definido como “a capacidade de
execução repetitiva de um desempenho como uma resposta à pressões seletivas, com base
no aprendizado de uma organização sob um certo contexto” (COHEN et al. 1996, p. 683).
Conforme essa definição, a análise de rotinas envolve observação de padrões no
nível operacional, sem ignorar o fato de que tais padrões foram aprendidos em algum
contexto específico. Assim, o processo de aprendizagem e o seu resultado (a rotinização)
são dois lados de um mesma moeda, que é sustentado pela coevolução e interação das
dimensões cognitivas e sociais de rotinas (LAZARIC & DENIS, 2001).
Reynaud (2000) propõe a classificação de rotinas segundo distinções entre o tipo de
comportamento (individual ou organizacional) e a capacidade de aprendizagem (estática ou
dinâmica). Segundo tal proposta, as rotinas podem assumir quatro tipos diferentes:
(I)
Rotinas individuais estáticas - são baseadas nas habilidades do trabalhador.
Tal habilidade refere-se a capacidade de executar as mesmas tarefas
repetidamente em um nível satisfatório;
(II) Rotinas organizacionais estáticas - são procedimentos e regras de decisão
adotados pelas firmas com base em informações simples do dia-a-dia,
amplamente difundidas a todos os trabalhores;
8
Esta noção está de acordo com March & Simon (1958), que define rotinas como programas e ações, com
base em regras como “resposta fixa a um estímulo definido (p. 142)”.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 127
(III) Rotinas dinâmicas operacionais - são relativas a capacidade de busca
individual por melhores práticas através de tentativa e erro, que o coloca em
um nível acima do satisfatório (acima da média).
(IV) Padrões dinâmicos de comportamento (meta-rotinas) – são caracterizados por
autonomia e capacidade de reformular as rotinas estabelecidas, através de
novos padrões de comportamento.
A definição das rotinas segundo essa concepção permite uma melhor caracterização
dos tipos de rotinas (Quadro 4.2).
Quadro 4.2 – Diferentes concepções de rotina
Tipo de
Comportamento
Individual
Organizacional
Estática
(I)
Habilidade ou rotina no sentido
restrito
(II)
POP ou
“regras do polegar”
Dinâmica
(III)
Capacidade de busca; heurística
(IV)
Meta-rotinas
Capacidade de
Aprendizagem
Fonte: Reynaud (2000)
A distinção entre rotinas individuais e procedimentos tampouco é trivial. Segundo
Reynaud (2000, p. 254), “procedimentos são explícitos e codificados, rotinas são tácitas. A
execução de um procedimento não requer qualquer interpretação, pois este está no domínio
da sintaxe e do cálculo. Já a aplicação de rotinas requer interpretação, mesmo que mínima,
pois está no domínio pre-delimitado por uma interpretação, como a rotina de interpretar e
usar os resultados de certos procedimentos”. O Quadro 4.3 fornece alguns elementos de
distinção entre procedimentos e rotinas individuais.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 128
Quadro 4.3 – Características de procedimentos e de rotinas individuais
Procedimento
Rotina
Lista finita de instruções a serem seguidas
Um mecanismo local de transformação de
em uma certa ordem que leva a resultados
algum recurso com um objetivo específico (um
reproduzíveis;
processo para solucionar algum problema);
Não limitado pelo contexto (desde que as
Limitada pelo contexto local;
possibilidades sejam exploradas);
Informação tácita, não codificada;
Informação explícita, codificada ;
Executada automaticamente,
Não requer interpretação;
Requer interpretação mínima ;
Envolve racionalidade processual (Simon,
Envolve racionalidade adaptativa (Cyert &
1976, apud Reynaud, 2000)
March, 1963)
Fonte: Reynaud (2000)
Resultados de pesquisas empíricas sustentam que as rotinas emergem como efeito
de “um processo distribuído gerado pela interação9 de diversos padrões e regras individuais
de produção” (EGIDI & NARDUZZO, 1997). Por não possuírem todo o conhecimento
necessário para executar a melhor estratégia, os agentes exploram apenas uma pequena
parte das regras potenciais existentes. Por essa razão, eles aprendem e memorizam apenas
um limitado conjunto pessoal de meta-regras (EGIDI & NARDUZZO, 1997; FONSECA,
2001).
As vantagens competitivas embutidas em competências adquiridas ao longo do
processo de melhoria gradual (adaptações e inovações incrementais) das rotinas
organizacionais são menos acessíveis à agentes externos, logo, são mais difíceis de serem
transferidas a outros contextos e menos suscetíveis à imitação pelos concorrentes. Nesse
sentido, as estratégias competitivas baseadas em rotinas internas são mais consistentes e, as
vantagens delas advindas, mais sustentáveis no longo prazo.
9
Nesse caso, questões sobre a “observabilidade” e “não-observabilidade” de rotinas obviamente não podem
ser captados por pesquisas baseadas apenas em observações.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 129
4.10 Dependência da trajetória (do contexto local)
Resultados de pesquisas empíricas mostram que as rotinas estão intimamente
ligadas ao contexto social, cultural e econômico local, no qual as firmas foram criadas, se
desenvolveram e coexistem. Isso pode ser entendido como uma “dependência do
contexto”. Contudo, ainda não é possível estabelecer em que níveis, pois não há evidências
claras a esse respeito (ver, por exemplo, COSTELLO, 1996; DUBUISSON, 1998). Essa é
uma questão aberta do ponto de vista acadêmico e merece maior aprofundamento teórico
para estabelecer um marco conceitual mais consistente.
Apesar da literatura apresentar estudo de casos de transferência de rotinas10,
avanços recentes indicam que apenas alguns aspectos das rotinas são transferíveis para um
contexto diferente, mesmo assim, somente em um grau bastante limitado. Casos muito
específicos, de sistemas produtivos isolados, indicam a transferência de rotinas entre
ambientes completamente distintos (como em montadoras de automóveis através de
fábricas modulares, nas quais, praticamente todas as tarefas rotineiras são executadas por
máquinas e robôs). Isso é devido ao fato do conhecimento embutido nas rotinas envolver
características idiossincráticas, tácitas e processuais (“não empacotáveis”), com fortes
vínculos com a memória passada específica de cada contexto (dependência da trajetória)
(ver BECKER, 2001; LAZARIC & DENIS, 2001; COHENDET & LLERENA, 2001).
Cohen & Bacdayan (1994) demonstraram os efeitos da dependência da trajetória e
das especificidades locais nas rotinas das firmas. Apesar do estabelecimento de regras para
homogeneizar procedimentos e tarefas internos às firmas, a heterogeneidadade persiste
devido ao caráter peculiar do ambiente no qual as rotinas são estabelecidas dentro das
firmas (unidades e setores específicos). Isto é explicado pelo fato do processo de adoção de
novas rotinas envolver diversas etapas (interpretação, adaptação, aplicação, difusão) e se
basear em interpretações particulares (individual ou em conjunto) de procedimentos e
tarefas específicos, resultando em diversidade e heterogeneidade de práticas (BECKER,
2001).
10 Kostova (1998) e Fernandes & Prochnik (2001), por exemplo, apresentam estudos sobre casos de
transferência internacional de rotinas entre fábricas (matriz/filiais), com base em alguns modelos específicos.
Nesse caso, como a transferência é entre países, as diversas barreiras (culturais sociais e econômicas) já
existentes nesse tipo de proposta são bastante acentuadas. Nesses casos, pela abordagem assumida aqui, o
que se transfere de fato são atividades e funções com objetivos específicos (por exemplo, redução de custos),
e não rotinas. No novo ambiente, de acordo com o contexto e a realidade local, são estabelecidas novas
rotinas (mesmo que adaptações).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 130
O aumento da rotinização tem o papel de estabilizar certas atividades das firmas,
reduzindo a complexidade das decisões diante de problemas recorrentes. Em momentos de
crises ou de situações inesperadas, as rotinas possibilitam decisões rápidas através de
eventos já memorizados, diminuindo consideravelmente o tempo de resposta (mobilizando
menos esforço mental e recursos cognitivos). Esse papel é particularmente importante
quando os atores não podem decodificar toda a informação disponível, sendo mais
eficiente uma resposta rotinizada (EGIDI & NARDUZZO, 1997).
Por outro lado, o efeito inercial da dependência da trajetória implica em certa
inflexibidade nas rotinas estabelecidas, o que explica a resistência à mudança. Em casos
extremos, isso pode levar a uma negativa transferência do foco organizacional, do objetivo,
que é o desempenho, através de melhoria nas rotinas, para os meios, que são as próprias
rotinas.
Padrões habituais de trabalho podem se converter em características inerciais muito
fortes (por exemplo, aspectos culturais, religiosos, leis trabalhistas etc.), sobrepondo
inclusive incentivos à mudança (LAZARIC & DENIS, 2001). Se por um lado, as rotinas
habilitam as firmas a trabalhar, elas também limitam sua propensão a aceitar a substituição
de certos padrões. Nesse sentido, as firmas enfrentam o paradoxo entre renovação e
preservação. Nesse caso, a inércia da organização pode ser analisada em termos de
eficiência e desempenho. Se as práticas internas das firmas são eficientes, a inércia é
benéfica. Caso contrário ela se constitui em um problema.
Assim, o repertório de rotinas da firma restringe seu comportamento futuro porque
suas reações e decições são tomadas mais com base em interpretações do passado do que
em antecipações do futuro. Desse modo, é mais provável que o comportamento futuro de
uma firma seja compatível com as rotinas que tenham sido adotadas no passado (NELSON
& WINTER, 1982; FRASMAN, 1998; CORIAT & DOSI, 1999)
Com o processo de internacionalização da produção e comercialização de produtos,
de modo a evitar a propagação de padrões idiossincráticos por cada cliente, passou a ser
requerido uma padronização dos produtos, de modo a permitir uma avaliação não apenas
da qualidade dos produtos mas também do processo e dos procedimentos gerais de
produção. Com a criação das normas ISO (International Standartisation Organization), a
partir do final da década de 70, as organizações foram forçadas a estabelecer certos
padrões de conformidade e qualidade para atender a exigência dos clientes e facilitar a
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 131
produção de itens uniformes independente da procedência. Isso exerceu um importante
papel para a difusão de práticas mais eficientes e para a melhoria de rotinas técnicoorganizacionais.
Lazaric & Denis (2001), por exemplo, discutem os efeitos da implantação de
normas de qualidade nas rotinas das organizações da indústria de alimentos, fortemente
baseada em tradições artesanais de produção, na qual, as práticas de produção evoluem
muito lentamente, devido ao fato de ser uma atividade intensiva em mão-de-obra e baseada
em representações tradicionais.
De um ponto de vista técnico, uma certificação de qualidade requer tornar uma
tarefa explícita por meio de seu registro no manual de qualidade11. Desse modo, a
organização descreve as características de seu processo produtivo, construindo uma
representação coletiva de seus repertórios de conhecimento. Esse processo é usualmente
feito por trabalhadores que conhecem o conteúdo das tarefas e procedimentos, porém não
seu gerenciamento, implicando assim um relevante afastamento do modo taylorista de
controle da produção12. A diferença é que os operadores coletam primeiro os
procedimentos e, então, um gerente de qualidade prepara uma proposta inicial do conteúdo
do trabalho a ser incluída no manual da qualidade, o qual é revisto pelos operadores, que
podem questionar ou refutar qualquer ponto. Em seguida, há um processo de discussão
para dirimir conflitos até se chegar a um consenso. Isso contribui para identificar pontos
passíveis de melhoria posterior. Evidentemente que esse processo se dá de maneira própria
em cada contexto e, por razões diversas, em muitos casos a organização não consegue
implementá-lo com sucesso. Apesar de ser um assunto instigante, a discussão sobre tais
razões fogem ao escopo deste trabalho.
11
As normas ISO 9001, 9002 e 9003, inicialmente usadas como referência na relação cliente/fornecedor, são
hoje adotadas como referência de qualidade. O processo de certificação ISO 9000 requer o registro formal
dos procedimentos em documento denominado de “manual de qualidade”. As práticas associadas a um certo
processo produtivo devem ser identificadas, questionadas, documentadas e, posteriormente, revisadas e
atualizadas periodicamente. Este sistema não garante qualidade de um produto, mas a do processo produtivo
em produzir aquilo que é requerido. A certificação somente é obtida após uma série de procedimentos (testes,
avaliações, auditorias), e quando realizados por institutos autônomos transmitem maior credibilidade. As
organizações podem optar por três padrões referenciais. A norma 9001 é o modelo mais completo de garantia
da qualidade, envolvendo atividades desde o projeto, produção e testes no produto final. A 9002 cobre a
produção e os testes nos produtos finais e a 9003 cobre apenas os testes nos produtos finais.
12 Uma das características do taylorismo é a definição do conteúdo das tarefas pelo gerente, que através da
codificação dos procedimentos dos operadores por setores específicos, tende a racionalizar o trabalho e impor
severas restrições à autonomia na execução das tarefas (LAZARIC & DENIS, 2001).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 132
Entretanto, o documento produzido (manual da qualidade) não deve ser
excessivamente específico em suas prescrições para que não imponha limitações que
impeçam contribuições individuais ao processo. Os procedimentos devem ser
suficientemente gerais para dar autonomia aos trabalhadores e permitir um certo
comportamento discricionário na solução de novos problemas (RUSSEL & TAYLOR III,
1999).
Na prática, mudanças organizacionais associadas com a implementação de novos
procedimentos, geralmente estão vinculadas à introdução de novos equipamentos,
máquinas e dispositivos tecnológicos que permitem medidas mais precisas e um maior
controle do processo. Essas mudanças podem causar um certo desconforto nos
trabalhadores e conflitos na adesão a novos métodos de trabalho, o que pode representar
um elemento inercial na organizacão. Tais barreiras são denominadas por Leonard-Barton
(1995) de “core rigidities”, quando indivíduos ou grupos com competências estabelecidas
para certos padrões maduros, demonstram resistência à novas competências, devido à
dificuldades de adaptação ou por sentirem-se ameaçados pela exigência de aprendizagem
vinculada à novos padrões técnicos. De fato, a perda de poder relativo de grupos devido às
mudanças em padrões estabelecidos é um fator que perpassa toda a dinâmica competitiva
econômica.
O problema das firmas é encontrar a melhor maneira de administrar tais conflitos,
tanto na absorção de novas informações, na melhoria de rotinas atuais e na adoção de
novos procedimentos organizacionais, possibilitando melhores condições de trabalho e
maior eficiência na execução das tarefas. Paralelamente, investimentos em treinamento e
qualificação dos trabalhadores são fundamentais para a sistematização de um processo
(cultural) de melhoria contínua que permita à organização atingir um estado positivo de
propensão à mudança (inércia dinâmica) (ver, WINTER, 1994; BECKER, 2001;
LAZARIC & DENIS, 2001).
De uma forma geral, a evolução dos padrões de rotinas associa-se ao próprio
processo de evolução da organização industrial e das condições de comércio vigentes em
cada contexto.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 133
Segundo Lazaric & Denis (2001), no processo de mudança organizacional, a firma
adota certas soluções típicas, que podem ser classificadas de acordo com três instâncias13:
(i) Uma solução passiva, na qual os trabalhadores seguem os procedimentos prescritos
no manual da qualidade sem exercer qualquer iniciativa própria ou prestar atenção
à eventuais problemas que possam vir a ocorrer. Neste caso, as rotinas são
executadas automaticamente evitando qualquer perda de tempo extra. A motivação
é mínima e o sistema de qualidade é visto simplesmente como uma regra a mais a
ser seguida. Os eventuais incentivos não são atrativos para os trabalhadores. A
possibilidade de advirem contribuições próprias na melhoria de rotinas obviamente
são mínimas, senão nulas;
(ii) Uma solução inovativa, requer uma percepção da implementação da norma de
qualidade como uma oportunidade de aprendizagem. Os trabalhadores percebem a
introdução do sistema de qualidade como uma oportunidade de aprendizagem e
crescimento profissional e tentam exercer uma função discricionária utilizando sua
experiência e conhecimento tácito na resolução dos problemas. Desse modo, obtêm
maior autonomia na definição das tarefas e podem ampliar seu escopo com
menores dificuldades.
(iii)Uma solução de monitoramento, os gerentes não percebem qualquer possibilidade
de atrair contribuições dos trabalhadores em relação ao sistema de qualidade,
exercendo sua força discricionária codificando eles próprios os procedimentos,
reforçando sua função supervisora e aumentando o controle sobre cada tarefa. Tal
situação está longe de ser a ideal, sendo adotada quando os gerentes não crêem na
capacidade dos operadores em mudar antigas rotinas, e tentam exercer sua
autoridade para introduzir novas práticas utilizando algum sistema de incentivo ou
de pressão sobre os empregados.
Como instâncias esquemáticas, a solução do segundo tipo (inovativa), seria a mais
satisfatória, por revelar um ambiente integrado de cooperação entre gerentes e operadores,
sendo mais propício à implementação de mudanças e ao sucesso na introdução de
melhorias. Neste caso, a participação dos operadores nas rotinas vai além de uma simples
13
Por exemplo, com relação a iniciativas exigidas na implantação de um sistema de qualidade.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 134
execução para uma tentativa de contribuição na resolução dos problemas. O terceiro tipo solução de monitoramento – é o mais problemático e ineficiente, devido à relutância dos
trabalhadores em questionar os procedimentos atuais e em aprender novas tarefas, o que
pode levar a uma situação de conflito mais acentuado.
De acordo com os conceitos marxistas de “máquina ideal” e “contradição técnica”,
seria possível controlar substancialmente o processo de resolução de problemas, inclusive
os criativos. A “máquina ideal” indicaria a direção de busca, enquanto a “contradição
técnica” apontaria os obstáculos a serem removidos. Entretanto, ocasionalmente, alguma
contradição poderia se encontrar camuflada pelo ambiente ou, se tornar despercebida por
trás de equívocos na declaração de um problema (ou seja, é dependente da interpretação e
da qualidade da descrição). Remover tal “contradição” envolveria encontrar um meio,
caminho ou direção que leve a uma solução. Tal caminho, por sua vez, tanto poderia ser
percorrido através de poucos passos ou exigir uma seqüência complexa de procedimentos,
com mudanças pontuais de direção, retrocessos e desvios. Quanto mais complexo o
caminho escolhido (trajetória), maior seria o esforço exigido para se chegar à solução,
podendo requerer recursos racionais (táticos e estratégicos), de modo a reduzir o esforço,
economizando energia e tempo para se atingir o objetivo, ou seja, encontrar uma solução.
Proposto pelo cientista russo Genrich Altshuler (1926-1998), as idéias contidas no
parágrafo anterior descreve um método para o tratamento criativo de problemas técnicos.
Funciona como um tipo de “algoritmo14” do processo criativo denominado ARIZ
(Algorithm for ReSolution Inventive Problems), adaptável às condições específicas do
objeto em questão. Tal método foi publicado em livro originalmente no idioma russo (em
1969), sendo posteriormente traduzido para o inglês, publicado sob o título The Innovation
Algorithm (ALTSHULLER, 1999). O ARIZ foi a base para a futura construção da
chamada Teoria da Solução de Problemas Criativos (TRIZ – Theory of ReSolving Inventive
Problems), descrita em tal publicação.
Segundo Atshuller (1999), o processo técnico criativo pode ser traduzido por meio
de múltiplos níveis e diferentes estágios da atividade criativa. O Quadro 4.4 apresenta um
14
Aqui o termo “algoritmo” é usado no sentido amplo, como um processo constituído por um conjunto
seqüencial de ações estruturadas para se chegar a um determinado objetivo. Na Matemática, significa uma
seqüência de passos, estritamente regulada, necessários para se chegar à solução de um problema, de acordo
com certas condições preestabelecidas.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 135
diagrama estruturado do processo criativo, conforme os níveis e seus estágios propostos
pelo referido autor.
Quadro 4.4 – Evolução do processo criativo técnico
Estágio
Nível
A
B
C
D
E
F
Escolha da
tarefa/
rotina
Escolha de
um método
de busca
Coleta de
informações
gerais
Busca por
uma idéia
Idéia obtida
Implementação
em um caso
prático
Utilização de um
modelo padrão
Produção de um
produto/ modelo
padrão
Escolha de um
modelo
alternativo
Produção de um
produto/ modelo
modificado
Mudança no
modelo padrão
Produção de novo
produto/ modelo
1
Utilização
de uma
tarefa/
rotina
dominada
2
Escolha de
uma rotina
alternativa
Utilização de Utilização de Utilização de
um método
informações uma solução
dominado
dominadas
padrão
Escolha de
um método
de busca
alternativo
Coleta de
informações
aprofundadas
Escolha de
uma déia
alternativa
Informações
Mudança no
obtidas
padrão
3
satisfatórias a
dominado
nova rotina
Novo método
Coleta de
Nova
de busca
informações
Busca por
4
satisfatório a
relativas a
Rotina
nova solução
nova rotina
nova rotina
Coleta de
Busca por
informações
Novo
Busca por
novo
relativas a
5
conceito/
problema novo método
novo
princípio
problema
Fonte: adaptado de Altshuller (1999)
Mudança
da rotina
original
Modificação
para novo
método
Difusão e
utilização de
forma diferente
do novo modelo
Modificação em
todos os sistemas
Desenvolvimento
através da
de novo conceito
aplicação do novo
conceito
Desenvolvimento
de novo modelo
No Quadro anterior, as letras (A, B, C ...) representam os estágios a serem
percorridos no processo criativo. Os números (1, 2, 3 ...) correspondem aos níveis que, não
necessariamente, são seqüênciais. Tais níveis apresentariam as seguintes características:
1. Utilização de um objeto existente, de forma independente (sem necessidade de
considerar outros);
2. Escolha de um objeto alternativo;
3. Implementar pequenas mudanças no objeto selecionado (incrementais);
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 136
4. Desenvolvimento de um novo objeto, ou a completa modificação no objeto atual;
5. Desenvolvimento de um sistema completamente novo.
Para cada nível, há uma escala de complexidade composta por seis estágios. Para
cada estágio, existe um certo tipo de problema característico, e uma forma típica (padrão)
de tratá-lo, de acordo com a dimensão do sistema que o abrange.
Em termos quantitativos, a complexidade nos diferentes níveis pode ser
interpretada (ou avaliada) pela quantidade mínima de iterações requerida para se chegar a
uma solução de primeira ordem (através de um método de tentativa e erro, por exemplo).
Para os problemas de primeira ordem (nível 1), já haveria um domínio popular de pelo
menos uma forma de resolução, devendo esta ser interpretada em função de cada objeto em
questão. No caso dos problemas de mais alta ordem (nível 5), não haveria nenhuma forma
de resolução conhecida. Nesse caso, um novo método heurístico seria requerido.
Altshuller (1999) também propôs uma escala de complexidade para interpretar e
classificar problemas de acordo com sua dimensão e seu conteúdo, através da seguinte
taxonomia:
Nível 1 – Um problema, e seu respectivo meio de resolução, abrangem uma
determinada área profissional (um setor industrial específico);
Nível 2 – Um problema, e seu meio de resolução correspondente, abrangem uma
certa indústria (por exemplo, problemas relativos a máquinas e equipamentos sendo
resolvidos pela aplicação de métodos dominados dentro dessa indústria, e apenas
transferidos de uma área a outra)
Nível 3 - Um problema, e seu meio de resolução, existiriam dentro de uma área da
ciência (como um problema mecânico, que é resolvido por meio da engenharia mecânica);
Nível 4 – Um problema, e sua solução, que transpõem a fronteira da ciência onde se
originaram (como, por exemplo, um problema mecânico solucionado através de engenharia
química ou eletrônica). Seria o caso de soluções multidisciplinares (e.g.);
Nível 5 (e acima) – Nesse caso, problema e solução estariam fora dos limites da
ciência comtemporânea, requerendo nova descoberta ou invenção. Na realidade, tal tipo de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 137
problema surge a partir de uma descoberta, sendo necessária uma solução criativa e um
procedimento inovador.
Obviamente, que esse é apenas um quadro esquemático geral de tipos de problemas
e meios comuns de solução. Não quer dizer haja uma divisão de problemas e soluções e
que estes sigam sempre uma mesma lógica. Hoje em dia, devido à facilidade de acesso à
informação e difusão de conhecimento, as fronteiras entre as ciências não ficam claras,
com uma tendência crescente em se romper os limites de cada área. Assim, o leque de
soluções possíveis tende a ser crescente.
Apesar de pouco conhecido, e não ter sua autoria reconhecida no meio acadêmico
ocidental, vários dos conceitos desenvolvidos por Altshuller (como, por exemplo, o
conceito de Engenharia Reversa) sobre o processo criativo, estão atualmente difundidos
pelos diversos campos e processos da Engenharia, principalmente embutidos em Métodos
Cognitivos, Inteligência Artificial e Melhoria Contínua da Qualidade.
4.11 O Vínculo entre rotinas e trajetórias tecnológicas
Através da memória passada do processo decisório de implementação de cada
rotina, as tarefas e procedimentos podem ser executados da próxima vez (repetidos) com
menor esforço intelectual. Desse modo, recursos intelectuais podem ser concentrados na
solução de novos problemas e no estabelecimento de novas rotinas para problemas ainda
pouco conhecidos. Entretanto, para cada etapa de uma rotina já estabelecida, sempre há
uma certa “folga” (truce, no conceito de Nelson & Winter 1982), ou seja, há espaço para
melhorias até que se atinja um “ponto de saturação” (p*, no Gráfico 4.3). A partir deste
ponto, o investimento em uma nova rotina passa a ser mais conveniente (por reduzir
desperdícios, por exemplo), ou a ser exigido (devido à pressão competitiva de firmas
concorrentes, por exemplo), implicando em um investimento total menor (I*),
comparativamente àquele em investir em melhoria da rotina atual.
A partir do ponto p*, os custos envolvidos em continuar melhorando uma
determinada rotina (trajetória em azul) passam a não se justificar devido a uma saturação
técnica do padrão atual de rotinas (r*), ou à perda de competitividade frente ao padrão
atingido pelos concorrentes (linha verde). Ou seja, a partir desse ponto, se torna mais
conveniente adotar um novo padrão tecnológico, passando a investir na melhoria de novas
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 138
rotinas associadas a este, através da implantação de tecnologias mais avançadas ou de
I n v e s t i me n t o s
contribuições técnicas próprias, que caracterizariam um novo padrão de rotinas.
I*
Investimento total
Padrão Atual
Novo Padrão
Região onde o custo de
melhoria na rotina atual é
menor do que o investimento
em nova rotina
p*
∆T
Região onde o custo de
melhoria na rotina atual
supera o investimento em
nova rotina
r*
Melhoria na Rotina
Gráfico 4.3 – Trade-off entre diferentes padrões de rotinas
Além disso, o custo da transição de um certo padrão de rotinas a outro, mais
avançado, é diretamente proporcional à defasasem técnica (∆T, gap tecnológico) entre o
padrão atual de rotinas e o novo. Logo, no ponto p*, a firma atingiu o limiar para o
próximo padrão (gap mínimo), o que implica no custo de transição mínimo. O Gráfico 4.3
resume essas idéias, supondo, para fins ilustrativos, uma simetria no trade-off entre dois
padrões consecutivos de rotinas.
O aperfeiçoamento das rotinas organizacionais cresce passo a passo por intermédio
de habilidades e contribuições individuais na execução de pontos específicos de
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 139
determinadas tarefas e procedimentos. Este é um processo heurístico e “possibilístico15”,
no qual, uma rotina estabelecida pode ser entendida como uma solução viável, mas não
única (não ótima), já que, para obtenção dos mesmos objetivos, é possível que haja outras
rotinas que satisfaçam aos mesmos requisitos para o problema em questão (inclusive
melhores soluções implementadas por outras firmas).
Nesse sentido, teoricamente, toda rotina poderia ser melhorada até um determinado
ponto, a partir do qual, uma mudança substancial passaria a ser requerida, caracterizada
pelo estabelecimento de um novo padrão de rotinas. Assim o ritmo de estabelecimento de
novas rotinas (que implica no ciclo de vida das rotinas estabelecidas) seria função da
pressão competiva do ambiente local em que a firma atua, da sua capacidade em descobrir
e absorver soluções inovadoras (novas rotinas, atingindo padrões técnicos de melhor
desempenho) e do seu grau de dependência das rotinas e dos padrões anteriores (aqui,
considerando-se efeitos de dependência da trajetória).
Na prática, esses conceitos se aplicam à problemas de trade-off entre alternativas
complementares, típicos da área de Engenharia de Produção, como por exemplo, na Gestão
de Estoque e da Qualidade Total. Os investimentos no controle da qualidade de um certo
produto ou processo (que envolve rotinas) se justificam até o ponto em que os custos de
substituição por um novo sejam menores (investimento no controle da qualidade:
prevenção + avaliação) ou, que o padrão de concorrência específico do mercado admita seu
repasse para os preços (custos externos: perda de competitividade em relação a firmas com
melhores rotinas, por exemplo). Situação similar também ocorre quando se deseja saber o
“melhor” momento de se fazer uma nova encomenda para estoque, sob condições de
incerteza da demanda. O trade-off nesse caso se daria entre os custos de não atender ao
pedido e os custos de estocagem, caso o pedido não aconteça (ver, por exemplo, RUSSEL
& TAYLOR III, 1999).
O “ponto de viabilidade da mudança” entre dois padrões de rotinas é mais
facilmente identificado quanto maior for o gap (∆T) existente entre tais padrões (ver,
15 Esse termo é adotado por alguns autores para denominar certos tipos de problemas que não se enquadram
na divisão tradicional de problemas determinísticos e probabilísticos (ou estocásticos), nem tampouco são
considerados em ambiente de incerteza total. Apesar de não haver dados históricos e informações suficientes
para inferir probabilidades e tratamento formal, considera-se que os agentes mais aptos (ou privilegiados
pelas condições do sistema) podem captar sinais do ambiente que lhes permitam, através de recursos
intelectuais e intuitivos, eleger e trabalhar com um leque de soluções possíveis. Está vinculado aos problemas
tratados por meio de lógica nebulosa (fuzzy theory) e conjuntos aproximativos (rough sets). Ver Heene &
Sanchez (1997) e Inuiguchi & Ramik (2000).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 140
Gráfico 4.3). Quando o gap é considerável, pelo processo de “destruição criativa”,
inovações tecnológicas tornam obsoletos certos padrões vinculados a uma tecnologia
madura, ou provocam uma bifurcação entre duas plataformas tecnológicas diferentes.
Contudo, no caso de inovações incrementais, ou processos de mudanças mais sutis, pode
não haver um ponto específico, mas sim uma seqüência de pontos (um segmento). Nesse
caso, a mudança de padrões é mais suave, podendo se tornar clara somente a posteriori.
Essa concepção é compatível com o conceito dialético de “contradição” do
progresso técnico de Marx (apud ALTSHULLER, 1999, p. 91): “O processo de melhoria
em determinada caraterística de um artefato técnico sempre leva a um conflito com alguma
outra característica ou fator desse artefato, baseado na estrutura anterior. Para que a
melhoria ocorra e funcione, tal característica ou fator também deve acompanhar a trajetória
da mudança. A remoção dessa “contradição” é condição fundamental para que o processo
de mudança, invenção e inovação aconteça. A necessidade por mudança cresce na medida
que os problemas apresentam demandas adicionais (contradições, barreiras). A formação e
superação de uma contradição é uma das principais características do progresso técnico”.
Nesse parágrafo está contida a idéia básica marxista sobre mudança técnica, a qual,
fundamentou o conceito schumpeteriano de destruição criativa16.
Nesse sentido, a passagem de um certo padrão estabelecido de rotinas para outro,
envolveria um processo de trade-off entre os elementos constituintes do sistema, o que
poderia influenciar o ritmo e a trajetória de mudança. No sentido amplo, tais elementos
podem incluir diversos fatores (desde econômicos, sociais, culturais, políticos até
religiosos).
De certa forma, o modelo descrito anteriormente, também é compatível com a
noção de “mudança estrutural” da abordagem econômica “estruturalista”17. Pela
16 Geralmente, as bases que sustentaram tal concepção da mudança técnica são atribuídas na literatura apenas
ao economista russo Kondratieff, e aos longos períodos de crescimento econômico descritos por ele. Tais
períodos (ciclos, ondas ou fases), definidos a partir de uma avaliação histórica do desenvolvimento
econômico, levariam em torno de meio século para se completarem. O Primeiro (1780-1840), seria
caracterizado pela revolução industrial e a produção têxtil; o segundo (1840-1890), pela era da máquina a
vapor e estradas; o terceiro (1890-1940), seria marcada pela era da eletricidade e do aço; o quarto (19401990), pela produção em massa de automóveis e materiais sintéticos; e o quinto (1990 - ?), vinculado era da
microeletrônica e das redes de computadores (ver Freeman & Soete, 1997: 18-19).
17
Na abordagem estruturalista, formulada com base em contribuições de Schumpeter e Kusnetz, mudanças
estruturais seriam causas e não efeitos do processo de crescimento. Este seria pontuado por períodos de
mudanças discretas na alocação de recursos (por exemplo, devido à ‘destruição criativa’), o que poderia
acelerar bastante a taxa de crescimento. Estas hipóteses contrariam a visão neoclássica de que mudanças
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 141
abordagem estruturalista, a mudança tecnológica influencia as trajetórias agregadas de
setores e regiões. Em termos macroeconômicos, investimentos em infraestrutura para
superar certas barreiras e defasagens de infra-estrura regionais ou setoriais gerariam
“dobras ou disrupções” na função de produção agregada. Tais dobras seriam “nós” e
“junções” que tornariam viáveis as “mudanças estruturais”. Contudo, considerando que a
estrutura econômica seja incapaz de implementá-las, para que tais mudanças ocorram, seria
necessária uma “violenta realocação de recursos de modo a alterar os padrões vigentes
(inovações schumpeterianas) através de planejamento e coordenação, para evitar situações
de estagnação social e econômica” (JUSTMAN & TEUBAL, 1991, p. 1178). Este processo
pode ser interpretado como uma mudança (de rota ou trajetória) de um padrão tecnológico
tradicional para um mais avançado. O Gráfico 4.4 ilustra a visão estruturalista de
“mudança tecnológica”, onde k* representa a “junção” (condição) na qual a mudança
tecnológica seria ótima18.
Como as tecnologias, os padrões tecnológicos a elas associados e estabelecidos
cumprem um determinado ciclo de vida, o qual, após um certo período de tempo, chegam a
seu limite, se esgotam. De acordo com as exigências do ambiente, aqueles já em ponto de
saturação em termos de desempenho ou de compatibilidade com padrões de outras
tecnologias, sofrem progressivamente um processo de substituição por tecnologias de
padrões que permitem um desempenho superior.
Os dispositivos ligados aos padrões obsoletos podem sofrer um prolongamento de
seu ciclo, sobrevivendo no mercado vinculados a alguma atividade econômica, atendendo
à aplicações específicas (como é o caso das máquinas de escrever, os meios de transporte
estruturais adviriam do crescimento, como efeitos do processo (lento e suave, quase automático) de
acumulação de capital e crescimento da renda per capita (Justman & Teubal, 1991). Nesse sentido, haveria
fortes barreiras ao crescimento de certas regiões e setores, requerendo coordenação e intervenções pontuais
na economia (por exemplo, com substanciais investimentos em infraestrutura), de modo a superar tais
desequilíbrios. Esse pensamento influenciou fortemente trabalhos sobre a economia de países pobres e em
desenvolvimento, principalmente na América Latina, gerando inclusive outras derivações como a corrente
denominada “cepalina” (ver, por exemplo, CEPAL, 1992; Costa & Arruda, 1999).
18
No nosso caso, a idéia de “otimalidade” seria como a “condição mais satisfatória”. A noção de
“otimalidade” não se aplica ao caso de mudanças entre dois padrões de rotinas devido, por exemplo, aos
chamados “custos da oportunidade”. Um caso similar típico é o que ocorre na decisão de investimentos em
mercados futuros, quando o trade-off entre sair de um portfólio de investimentos, e passar para outro, se dá
sem confiabilidade de sucesso, pois a probabilidade é desconhecida, não havendo garantias de que a trajetória
passada irá se repetir, da mesma forma. Contudo, em tais situações, considera-se que certos agentes são mais
capazes que outros em obter no ambiente (mercado) informações úteis ou captar certos “sinais” (padrões)
que, quando interpretados de forma correta, permitem decisões que podem fazer a diferença entre sucesso e
fracasso (lucrar muito ou ter prejuízo) (ver, por exemplo, Winter, 1994).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 142
com tração animal, o barco a vapor, o sistema operacional DOS, dos aparelhos de TV em
preto e branco, entre outros19).
Padrão
tecnológico
mais avançado
y
Padrão
tecnológico
convencional
k*
k
Gráfico 4.4 – Mudança tecnológica pela visão estruturalista
(adaptado de Justman & Teubal, 1991, p. 1178)
Paralelamente à adoção de novas tecnologias e à substituição dos dispositivos
técnicos obsoletos, as rotinas e os padrões técnicos e organizacionais, se tornam
incompatíveis com os padrões da nova estrutura, requerendo mudança e adaptação
(BURGELMAN et al., 1995; UTTERBACK, 1996).
Uma vez que um certo estágio tecnológico tenha sido alcançado, forças
competitivas limitam o tempo de vantagem que uma determinada tecnologia pioneira tenha
obtido em determinado sistema. A partir de uma inovação, e de sua posterior difusão,
diversas melhorias incrementais e adaptações adicionadas ao produto original, criam
19
A esse respeito, Utterback (1996) apresenta vários exemplos de evolução tecnológica em longo da história
contemporânea, além de uma visão geral da dinâmica da inovação.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 143
ramificações que levam a resultados imprevisíveis, podendo vir a ser bem ou mal
sucedidas no mercado. A partir do momento em que estas são amplamente dominadas, os
resultados econômicos e os benefícios para a sociedade começam a se esgotar e,
conseqüentemente, uma nova plataforma tecnológica (um conjunto de atividades agregadas
pela utilização de um mesmo padrão tecnológico) pode encampar ou suplantar aquela já
madura.
Se o progresso tecnológico se configurasse como uma sucessão de eventos
aleatórios, não seria possível estabelecer uma relação entre a taxa de avanço tecnológico no
tempo, o que tornaria qualquer previsão a respeito inconsistente20 (BURGELMAN et al.,
1995:143). Veja uma representação no Gráfico 4.5.
Performance tecnológica
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
tempo
Gráfico 4.5 – Série histórica do desenvolvimento de uma tecnologia genérica
(baseada em Burgelman et al., 1995)
Entretanto, por outro lado, as empresas vivem em um tipo de sistema onde as
oportunidades, em maior ou menor grau, se apresentam e se vão, em um ritmo específico
de cada ambiente. Estruturas de influência política e econômica, tradições sócio-culturais e
20
Nesse caso, apesar de haver um aumento da performance no decorrer do tempo, esta não seguiria um
padrão regular. Tal informação não permitiria aproximar uma curva que fornecesse uma previsão consistente
do futuro. Se os parâmetros tecnológicos seguissem um caminho errático, não seria possível uma previsão.
Entretanto, tal situação raramente acontece (Burgelman et al., 1995).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 144
outros fatores ligados à evolução histórica específica e ao poder exercido por certos grupos
dominantes (coalizões, no conceito de BIANCHI & MILLER, 1996) podem condicionar as
alternativas tecnológicas disponíveis e limitar as possibilidades de exploração de novas
oportunidades, reduzindo o espectro de trajetórias tecnológicas possíveis a um conjunto
mais provável, de acordo com recursos e competências específicas.
Nesse sentido, a análise de dados históricos de um certo conjunto de fenômenos
mostra que o progresso não é tão aleatório e descontínuo como poderia sugerir, mas sim,
que ele percorre uma certa trajetória, um padrão regular quando analisado em relação a
algum critério selecionado, tal como desempenho funcional (velocidade, por exemplo, para
aeronaves), um parâmetro técnico (por exemplo, a força de tensão pela taxa de densidade
para um material), ou uma medida de desempenho econômico (custo por kilowatt-hora,
para geração elétrica). Tais parâmetros, quando plotados em relação ao tempo,
caracterizam um padrão de evolução da forma denominada de Curva-S (BURGELMAN et
al. 1995). A Figura 4.6 mostra uma ilustração.
Parâmetro de performance
Limite devido a restrições naturais
**
2
**
* *
*
*
1
* *
* *
*
*
*
*
*
*
* * *
* 3
* *
*
*
*
*
*
tempo
Gráfico 4.6 – Modelo de Curva-S
Como se pode perceber, a Curva-S é similar ao modelo de ciclo de vida do produto.
Pela Curva-S da ilustração mostrada no Gráfico 4.6, pode-se observar que há um período
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 145
inicial, caracterizado por um crescimento lento (1), seguido por um período de crescimento
acelerado (2), após o qual, ocorre uma redução na velocidade de crescimento, com uma
inversão na curva (3). Nesta fase, a curva atinge um limite assintótico21 de saturação,
normalmente devido a restrições de alguma propriedade física do sistema.
Apesar dos efeitos inerciais, tais idéias não querem dizer que, a partir de uma
trajetória estabelecida, o progresso siga uma rota contínua, sem perturbações, até um ponto
específico, determinado. Considerando-se um sistema aberto (como visto no Capítulo 3),
nenhum progresso tecnológico acontece sem capacitação e competência nas decisões de
investimento e na alocação de recursos. Dessa forma, seria mais correto falar em uma
família de Curvas-S, trajetórias possíveis geradas a partir de decisões estratégicas nos
pontos de trade-off entre uma melhoria e mudança de padrões técnicos a partir de uma
oportunidade tecnológica (como por exemplo, o ponto p*, no Gráfico 4.3, ou ponto k*, no
Gráfico 4.4). Uma interpretação do processo de mudança na forma da Curva-S pode ser
visualizada no Gráfico 4.7.
C2
A2
Parâmetro de performance
C1
A1
B
O
tempo
t1
t2
Gráfico 4.7 – Trajetórias tecnológicas possíveis
(adaptado de Burgelman, 1995: 144)
21
Referente à “assíntota”, definida como uma reta tangente à curva em um ponto tendendo ao infinito.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 146
Admitindo-se que o estímulo ao investimento para se atingir um padrão de alto
desempenho seja baixo, uma curva típica para tal processo descreveria uma forma similar
ao segmento OB (Gráfico 4.7). Por outro lado, o segmento OC2 revelaria uma taxa de
progresso muito maior, devido a condições favoráveis de mercado, o que justificaria
maiores investimentos em P&D. Considerando que, uma tecnologia tendo alcançado A1,
no tempo t1, seja alvo de inovações22, receptora de vultosos investimento extras (por
exemplo, devido à incentivos públicos estratégicos substanciais) ou devido à mudanças
estruturais favoráveis na política econômica (sobrevalorização da moeda, investimento
militar etc). Neste caso, O trade-off passaria a ser favorável à mudança, e uma trajetória
típica seria aquela representada pelo segmento A1C1C2, sendo limitada pelo tamanho dos
recursos disponíveis ou pela taxa em que este poderia ser empregado de forma útil
(lucrativa).
Com base em tais informações, no ponto t1, tal processo poderia ser descrito como
muito provável de assumir uma trajetória semelhante ao segmento OA1A2, a menos que
ocorram interferências de fatores do ambiente que alterem os parâmetros estruturais ao
sistema. Neste caso, a trajetória mais provável seria OA1C1. Na prática, tais interferências
estruturais não são freqüentes e, quando ocorrem, não acontecem de forma abrupta. As
correlações entre os dados fornecem tendências que revelam para onde as mudanças são
mais prováveis de ocorrer (BURGELMAN et al., 1995).
Pela aprendizagem e implementação de inovações incrementais, uma firma pode
melhorar seu nível tecnológico através da adoção de padrões técnicos de melhor
desempenho dentro de um certo limite da tecnologia adotada (regime tecnológico). Quando
uma firma está mais próxima de tal limite, pela saturação nas possibilidades de melhorar
seu nível tecnológico dentro daquele regime, esta é pressionada a buscar alternativas de
mudança para novos padrões. Através de uma inovação radical, as firmas podem mudar de
uma trajetória tecnológica para outra, que permita melhor desempenho, considerando a
absorção de recursos vinculados, tais como tecnologias, equipamentos e dispositivos
auxiliares, treinamento e qualificação para aprendizagem de novas rotinas e padrões de
melhor desempenho.
Uma contribuição que sustenta esse tipo de interpretação foi realizado por Calssom
et al., (1997), que desenvolveram módulos de simulação computacional, utilizando os
22
Aqui se aplicam os cinco tipos de inovação no conceito schumpeteriano (ver Capítulo 5, seção 5.2).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 147
conceitos de “sistemas tecnológicos23”, inovações (radical e incremental) e trajetórias
tecnológicas. No caso, consideram-se os seguintes regimes tecnológicos: Mecanização
convencional (C); Produção em massa (M); Produção flexível (F). Cada um destes,
consiste de quatro “técnicas”. Por exemplo, as “técnicas” representam (através de uma
variável booleana) elementos com um certo parâmetro de desempenho operacional
vinculado ao regime correspondente. Em uma representação vetorial do tipo (X,Y,Z,W)K,
onde:
K – Regime tecnológico (C, M ou F);
X - Tipo de ferramenta de corte (1, em caso de alta velocidade de corte; 0, caso
contrário);
Y - Velocidade de corte (1, se igual ou superior a 3600 rpm; 0, caso contrário);
Z - Alimentação do corte (1, se 10 cm/min; 0, caso contrário);
W - Tipo de resfriamento (1, se água; 0, caso contrário).
No Gráfico 4.8 é apresentada uma ilustração desse trabalho24. Considera-se que o
mais alto desempenho (correspondente ao mais alto nível tecnológico) é aquele obtido
pelos parâmetros de desempenho das técnicas especificadas. Dessa forma, as melhores
práticas (técnicas, procedimentos, rotinas) para o primeiro regime, corresponderiam a um
vetor na posição (1,1,1,1)C. Por outro lado, uma firma que adote as melhores práticas no
regime de produção flexível (F), potencialmente, obteria uma melhor performance do que
uma outra com melhores práticas, mas adotando o regime convencional (C). Entretanto,
uma firma posicionada no regime de médio desempenho (M), adotando as melhores
práticas, porém, não utilizando uma ferramenta que possibilite uma velocidade de corte
23
No Capítulo seguinte, tal conceito será explicado em detalhes.
24 O processo de evolução é um tema que fascina e atrai cada vez mais adeptos no meio acadêmico de vários
campos da ciência. Matematicamente, a complexidade de tratamento formal de tal abordagem sempre
dificultou seu tratamento computacional. Porém, nos últimos anos, com o avanço da tecnologia dos
computadores, tem crescido substancialmente o número de trabalhos que utilizam métodos que buscam
associar princípios evolucionários aos modelos e métodos de resolução computacional, como por exemplo,
“algoritmos genéticos” e “redes neuronais”. No trabalho citado, os autores utilizam uma heurística
implementada através de algoritmos genéticos para simular a evolução das tecnologias genéricas dos meios
de produção. A notação adotada é típica de tais modelos. O vetor, no caso (X,Y,Z,W)K, representa um gene,
onde as variáveis podem assumir um número 0-1, são os denominados “alelos”. A posição que cada “alelo”
ocupa na estrutura do gene é denominada de “lócus”. Para uma introdução aos modelos de algoritmos
genéticos ver, por exemplo, Goldberg (2000).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 148
apropriada (de acordo com as especificações para o regime), é representada pelo vetor
(1,0,1,1)M.
Nível
tecnológico
(1,1,1,1)F
(1,1,1,1)M
(0,0,1,0)F
(1,0,1,1)M
(1,1,1,1)C
(1,1,0,1)C
(1,1,0,0)C
(0,1,0,0)C
tempo
Inovações radicais (duas alternativas)
Inovações incrementais
Gráfico 4.8 – Trajetórias e inovações
(adaptado de Carlssom et al., 1997: 260)
No caso, uma “inovação radical” significa uma mudança de um regime para outro
(C⇒M⇒F). Quando uma firma consegue tal mudança (uma inovação radical), ela tentará
descobrir e aprender os elementos apropriados (melhores práticas) que possibilitem alto
nível de desempenho25.
25
Em nossa abordagem, este é dos principais elementos da diversidade tecnológica no arranjo a ser estudado,
devido às diferenças de competência das firmas em absorver e adaptar tecnologias externas e adotar rotinas
que possibilitem melhor desempenho técnico e organizacional.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 149
O Gráfico 4.8 mostra uma associação entre os três regimes através das trajetórias
das firmas em um processo de inovação e aprendizagem. A firma no ponto (0,1,0,0)C está
posicionada no padrão mais baixo (utiliza tecnologia convencional, mas adota as melhores
práticas apenas para a ferramenta de corte), os demais padrões correspondentes às
melhores práticas não estão no nível mínimo especificado para tal regime. Como tal firma
está distante da linha correspondente ao próximo regime (1,1,1,1)C, uma trajetória possível
seria investir em melhorar seu desempenho através de inovações incrementais no regime
em que está, por exemplo, até o ponto (1,1,0,1)C. Quando as possibilidades de melhorias se
exaurem, ou se saturam, passa a ser conveniente uma mudança para outro regime (através
de uma inovação radical). A partir desse ponto, na ilustração são mostrados duas trajetórias
possíveis (1,0,1,1)M e (0,0,1,0)F. Observe que a firma não irá adotar a tecnologia de
produção flexível (0,0,1,0)F, pois tal opção apresenta menor desempenho que o ponto
(1,1,0,1)C (devido a, por exemplo, sua estrutura de produção não possuir as condições
mínimas necessárias para um bom desempenho com tal sistema), apesar daquele apresentar
um potencial muito superior. Assume-se que as firmas não conhecem o potencial de
crescimento das novas tecnologias (ou seja, suas trajetórias futuras). A comparação entre
diferentes tecnologias é feita apenas com base em informação disponível (limitada).
4.12 O conceito de “trajetória competitiva”
A partir dos conceitos apresentados nas seções anteriores, pode-se, finalmente,
introduzir o conceito de “trajetória competitiva” para o comportamento da firma em
arranjos produtivos locais. Uma “trajetória competitiva” é uma interpretação particular da
vinculação entre a dinâmica competitiva das firmas e o conceito de trajetórias tecnológicas
em nível global. Na “trajetória competitiva”, a “inovação radical” é apenas uma mudança
inserida pela primeira vez entre as firmas do arranjo. O ponto de vista passa para a análise
do comportamento das firmas e inovações incrementais, através de melhoria e mudança
nas rotinas dominadas, da adoção de novas tecnologias disponíveis (trajetórias) e da
incorporação de novas rotinas, compatíveis com os padrões de desempenho exigidos no
novo contexto. Logo, o foco de análise se transfere da tecnologia e da inovação em si,
como convencionalmente adotado no conceito de trajetória tecnológica, para o ambiente
específico do arranjo local, com suas trajetórias específicas, regimes tecnológicos
peculiares e seus diferentes padrões de desempenho.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 150
Por esse conceito, busca-se refletir a forma com que as firmas, representativas de
um determinado arranjo produtivo local, se comportam face às trajetórias tecnológicas
disponíveis. Tal comportamento é dependente de fatores tanto externos quanto internos.
Entre os fatores externos incluem-se aqueles vinculados ao poder de influência que tal
segmento exerce sobre instituições, autoridades e a sociedade local, como forma de obter
incentivos, vantagens específicas, minimizar custos de transação através de melhores
contratos, de modo a superar barreiras estruturais, os quais, possibilitam às firmas adotar
tecnologias de mais alto desempenho disponíveis para seus respectivos processos
produtivos.
Por outro lado, assume-se que não basta um ambiente externo em condições
favoráveis para que uma firma obtenha sucesso na adoção de novas tecnologias. Seu nível
de desempenho interno (referente principalmente a recursos, rotinas e POP’s) é um
parâmetro que restringe suas possibilidades de sucesso na adoção de nova tecnologia e no
processo de mudança para outra trajetória tecnológica.
O processo inicia-se através de uma busca por uma solução para um problema ou
conjunto de problemas (por exemplo, pela elevação dos custos associados a algum insumo
específico, mercado mais restritivo quanto à qualidade, aumento da concorrência etc) que
levam uma firma a tentar uma nova solução. Considera-se que tal busca se dá através de
um método de tentativa e erro, onde uma primeira firma (ou um grupo reduzido delas)
assume maiores riscos na implementação da mudança para uma nova trajetória (devido ao
novo contexto ser incerto, e exigir outras mudanças vinculadas, por exemplo, novos
produtos, novos mercados). Porém, tal firma pioneira adquire primeiro as experiências
necessárias, se colocando em um novo padrão de desempenho, à frente das demais. O
comportamento e desempenho dessa firma pioneira (ou grupo), influencia às demais firmas
concorrentes do arranjo a se arriscar na nova trajetória, de acordo com suas competências e
estratégias, fornecendo sinais de como se comportar (melhores práticas), e as alternativas a
seguir, desencadeando um processo que se poderia denominar de “corrida pela
mudança26”.
Entretanto, por um lado, dependendo das condições do mercado, suas segmentações
e peculiaridades, e, por outro, das rotinas, recursos, capacidade e competências de cada
firma, os níveis de desempenho possibilitados pela nova tecnologia variam, e dificilmente
26
Compatível ao princípio evolucionário de “luta pela vida”. Vide Capítulo 3.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 151
tal mudança será conveniente a todas as firma em um mesmo momento (ou um pequeno
período de tempo). Em conjunto, tal processo de mudança, adaptação e melhorias, adotado
por um grupo de firmas, face à mudança de uma trajetória tecnológica para outra, forma
uma trajetória de transposição de padrões entre os regimes adotados pelas firmas do
arranjo.
Dessa forma, associado à dinâmica de mudança tecnológica e da segmentação do
mercado, admite-se que ocorra nessa “corrida para um novo regime tecnológico”, um
processo de estratificação entre as firmas27. Esse processo de transição de uma trajetória
tecnológica a outra (de melhor conjugação de fatores de competitividade, como, por
exemplo, recursos, desempenho, capacidade, competências, mercado) revela as
características (padrões) que as firmas devem adotar nesse percurso. Nesse processo, as
firmas “alocam” tais características, formando o que aqui se denomina de “Trajetória
Competitiva” das firmas do arranjo.
Para interpretação do conceito de Trajetória Competitiva em arranjos produtivos
locais, considera-se j trajetórias tecnológicas (TTj), composta por n regimes tecnológicos28
(RTn). Cada Regime, por sua vez, compreende m padrões técnicos (PTm), cujo grau de
domínio pelas firmas caracteriza as rotinas correspondentes necessárias para operar em tal
regime. Para fins ilustrativos, considera-se, a seguir, respectivamente nos Gráficos 4.9,
4.10 e 4.11, o caso de três trajetórias tecnológicas (j={1,2,3}), três regimes tecnológicos
(m={1,2,3}) e três padrões técnicos (n={1,2,3}). Subentende-se que a passagem de uma
trajetória a outra é dependente de um conjunto de fatores da competitividade no arranjo
(como por exemplo, desempenho, aprendizagem (know-how), recursos, padrão de rotinas,
condições de mercado etc) que estabelecem um nível mínimo de viabilidade para a
27
O processo de estratificação é decorrência da hipótese evolucionária de “variação” (vide Capítulo 2), que é
adotada na metodologia proposta, a ser apresentada nos capítulos subseqüentes.
28 De forma resumida, este conceito é aqui considerado como uma seqüência de padrões técnicos e
organizacionais vinculados a certas tecnologias que formam trajetórias diferentes de desenvolvimento
técnico, através de um processo de aprendizagem e aplicação prática (Van de Poel, 2000). Assume-se que
cada regime é composto por m padrões técnicos e organizacionais, os quais são estabelecidos no processo de
aprendizagem e absorção tecnológica, específicos de cada unidade. Na passagem de um padrão técnico a
outro, em cada regime, considera-se “períodos estacionários” que representam lapsos temporais (certos
vácuos), necessários à superação de barreiras endógenas (ineficiência ou incapacidade própria), e exógenas
(desequilíbrios de preços relativos, políticas industriais desfavoráveis, crises econômicas, sociais etc). Tais
conceitos são baseados, principalmente, em Nelson & Winter (1982); Dosi (1988); Carlsson & Stankiewicz
(1991); Carlsson et al., (1997); Bell & Albu (1999); Reynaud (2000); Van de Poel (2000); Squazzoni &
Boero (2002).
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 152
transição para uma trajetória de padrão competitivo superior (no caso, três regimes
distintos, cada qual em uma trajetória específica). Tais fatores são representados através da
correlação entre Rotinas e Desempenho29 (Gráfico 4.9) e Rotinas e Recursos30 (Gráfico
4.10).
No Gráfico 4.9, no ponto representativo do nível de Rotinas que habilita uma firma
à mudança para uma trajetória de desempenho superior (R1,2), em um regime apropriado
(segmento em verde), exige que esta adquira um diferencial de desempenho (∆D1,2) que a
habilite a operar no nível mínimo de competitividade admitido em tal regime (D2,1), para
àquele conjunto de rotinas. Observe que tal ponto corresponde àquele de melhor trade-off
para a decisão de mudança para a trajetória seguinte (no caso, os pontos p*, no Gráfico 4.3,
e k*, no Gráfico 4.4), a partir do qual, a defasagem de desempenho entre os padrões tende
a aumentar, e a mudança, no decorrer do tempo, a exigir uma melhoria adicional. A
interpretação é a mesma na mudança para as trajetórias seguintes (no caso da próxima,
representada pelo segmento em vermelho). Como a passagem é dependente da trajetória,
tal processo é realizado passo a passo, ou seja, não se considera a possibilidade de
mudanças através de “saltos” de um regime para outro. Portanto, os períodos estacionários
considerados (PE(j-1,j)), representam recursos ou desempenho adicionais que demandam
tempo e esforço para serem adquiridos e implementados, como, por exemplo, tecnologias e
novos métodos que demandam aprendizagem formal, informal, treinamentos etc.
29
Assume-se aqui que a dinâmica competitiva do sistema em questão possa ser sintetizada e representada
pela conjugação de fatores expressos através dessas duas variáveis. O que não quer dizer que não se possa
expressar a dinâmica do sistema através de outras variáveis.
30 Recurso aqui é tomado em sentido amplo, envolvendo desde físicos (tecnologias específicas,
equipamentos etc), financeiros (capital e direitos) e humanos (trabalho e conhecimento), englobando
também, as rotinas e os padrões técnico-organizacionais de cada firma. Rotina seria um tipo específico de
recurso dinâmico.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 153
Desempenho (Dmn)
TT3
D3,1
TT2
PE2,3
∆D2,3
D2,3
TT1
D2,1
PE1,2
∆D1,2
D1,3
D1,2
PTn
D1,1
PT2
PT1
R1,2
Legenda:
TTj – Trajetórias tecnológicas (j)
RTm – Regimes Tecnológicos (m)
PTn – Padrões Técnicos (n)
PE(j-1, j) - Períodos Estacionários
R2,3
Rotinas (Rmn)
⇒ j={1,2,3}; m={1,2,3}; n={1,2,3}
RT1
RT2
RT3
TT1
TT2
TT3
Trajetória competitiva do arranjo
Gráfico 4.9 –Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/1
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 154
No Gráfico 4.10, o raciocínio é idêntico. Nesse caso, demonstrando uma correlação
entre as variáveis Rotinas e Recursos. Quando um certo padrão de Rotinas, em um certo
regime, atinge o ponto limite de saturação da capacidade de melhoria, para que uma firma
possa mudar para um novo regime, passa a ser requerido um determinado conjunto de
Recursos (como, por exemplo, investimento em equipamentos e dispositivos técnicos
auxiliares, treinamento dos trabalhadores, organização etc), para que a firma possa operar
no padrão técnico mínimo desse regime. Ou seja, nesse caso, o diferencial de desempenho
nas rotinas é dependente de um certo conjunto mínimo de recursos.
Recursos (Remn)
TT3
Re3,1
TT2
PE2,3
∆Re2,3
Re2,3
TT1
Re2,1
PE1,2
∆Re1,2
Re1,3
Re1,2
PTn
Re1,1
PT2
PT1
R1,2
R2,3
Gráfico 4.10 –Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/2
Rotinas (Rmn)
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 155
O Gráfico 4.11 mostra uma ilustração na forma de vetores unitários que
representam a posição em que o trade-off de mudança para a nova trajetória se tornaria
mais favorável, considerando os fatores desempenho e recursos.
TT3
Desempenho (Dmn)
TT2
TT1
Recursos (Remn)
Gráfico 4.11 –Trajetória Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/3
O comportamento da firma, e sua capacidade de conjugação própria desses fatores,
condicionariam sua aptidão ou não à mudança. No ponto em que uma firma se torna apta,
sua posição em relação aos padrões do regime seguinte, definiriam o diferencial necessário
(recursos, rotinas, competências etc) a ser adquirido e a direção a ser tomada para a
mudança. Um certo período de tempo (PE(j-1, j)) para tal processo está subentendido. Nesse
sentido, tal ponto corresponderia ao “ponto de menor dependência da trajetória”. Como se
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 156
considera que tal comportamento se dá em um sistema aberto, devido às incertezas do
ambiente, fatores como, por exemplo, as condições de mercado e elementos do ambiente
micro, meso e macroeconômico, e a própria estrutura de decisão de investimento,
específica de cada firma, interferem e, conseqüentemente, dificultam sua modelagem e a
determinação de tal ponto. Teoricamente, uma aproximação a esse ponto poderia ser dada
pelo momento em que a taxa de crescimento da curva entra em saturação31.
No caso da firma permanecer na trajetória anterior, por não adquirir as condições
necessárias à mudança ou, por exemplo, por opção pela estratégia de redução de custos, tal
trajetória poderia ser definida como potencialmente autodestrutiva, com a tendência de
crescimento das barreiras a uma mudança futura devido à crescente dependência da
trajetória.
A partir dos conceitos anteriores, Trajetória Competitiva pode ser definida como
“uma linha de evolução de padrões de produto, processo e estratégias de mercado, definida
a partir dos comportamentos das firmas no processo de adoção, absorção e aprendizagem
de novas rotinas vinculadas a novas tecnologias na dinâmica competitiva de certos
sistemas produtivos locais”.
O modelo introduzido de Trajetória Competitiva se baseia em uma interpretação
particular do processo de mudança tecnológica e da dinâmica competitiva das firmas em
arranjos produtivos locais, considerando fatores endógenos e exógenos, específicos e
gerais do ambiente. As hipóteses consideradas, com base na abordagem evolucionária e
nos conceitos dos recursos e competências da firma, são as seguintes:
i) Os recursos, experiência, habilidades, competências, estratégias e o conhecimento
útil, próprios de cada firma e incorporados em suas rotinas e técnicas, se refletem
no desempenho competitivo das firmas;
ii) As oportunidades de melhoria técnica e o acesso às trajetórias tecnológicas, através
dos respectivos regimes tecnológicos e padrões técnicos e organizacionais, são
disponíveis a todas às firmas, porém apenas aquelas que conseguem atingir um
padrão mínimo de recursos, rotinas e desempenho, se tornam aptas a migrar para o
novo regime (está vinculado ao item i);
31
Apesar de não explorada aqui, devido às contradições com a abordagem evolucionária adotada, essa é uma
hipótese com potencial promissor para futura investigação.
CAPÍTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, ... E O CONCEITO DE “TRAJETÓRIA COMPETITIVA” 157
iii) O padrão de concorrência específico do arranjo, elementos micro-mesodinâmicos
do ambiente e as condições de mercado e de infraestrutura da indústria local,
condicionam os comportamentos das firmas no processo de mudança.
4.13 Considerações finais sobre o Capítulo
A abordagem e os conceitos evolucionários e dos recursos e competências da firma
apresentados neste Capítulo constituem a base teórica para a construção e proposição de
uma metodologia para o estudo da Trajetória Competitiva de arranjos produtivos locais.
Esse será o viés adotado a partir do próximo Capítulo.
CAPÍTULO 5
ESTRATIFICAÇÃO TECNOLÓGICA E TRAJETÓRIA COMPETITIVA
EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS:
UMA METODOLOGIA
Resumo
O ritmo de incorporação de tecnologias mais avançadas é um dos principais fatores
condicionantes da competitividade das empresas no ambiente atual. Entretanto, esta
incorporação não se dá de maneira homogênea nem simétrica a todas às firmas,
provocando um processo que se pode denominar de “estratificação tecnológica
competitiva”. Este é decorrente do desempenho de cada empresa em incorporar mudanças
técnicas e organizacionais e em adotar estratégias de adaptação às variações de mercado.
Pela abordagem evolucionária, tais fatores podem ser captados pela identificação de
“traços” (padrões) que se repetem em certos grupos de diferentes de empresas. Como visto
no capítulo anterior, tais caracteres ficam embutidos nas rotinas técnicas e organizacionais
da empresa, como um tipo de impressão genética que, quando são ativados, se convertem
em vantagens ou desvantagens no jogo competitivo.
Neste sentido, propõe-se uma abordagem e uma metodologia próprias para o estudo
da estratificação tecnológica em arranjos produtivos locais, a partir de uma perspectiva
evolucionária da mudança tecnológica e do conceito de trajetória competitiva, definido no
capítulo anterior. Inicialmente é apresentada uma revisão das abordagens mais recentes
para análise de sistemas produtivos locais, regionais e setoriais. São destacados alguns
enfoques para o problema da estratificação de atividades tecnológicas, no âmbito da firma,
de setor industrial e em termos de nação. Ao final, são traçadas as considerações prévias
sobre a aplicação da metodologia ao caso de um arranjo produtivo específico.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 159
5.1 Introdução
O ambiente competitivo, cada vez mais intenso, tem pressionado as empresas a uma
rápida absorção de novas tecnologias para manter ou ampliar mercados e sustentarem
vantagens competitivas. Dessa forma, o desempenho econômico local, regional e nacional,
depende cada vez mais do grau de utilização das bases existentes de tecnologia, de
treinamento profissional e científico, e da exploração econômica eficiente dessas bases.
Nesse sentido, a competitividade das firmas é cada vez mais determinada pela tecnologia
dominada e pela capacidade de auto-organização (DOSI, 1988; BAUM & SINGH, 1994;
DOSI et al.,1995, FAGERBERG, 1995, FREEMAN & SOETE, 1997).
Nesse contexto, o desenvolvimento de produtos e processos tecnológicos mais
avançados, eventualmente inovadores, é um dos principais pilares para uma empresa obter
vantagens competitivas, respondendo às contínuas mudanças exigidas pelo mercado.
No debate teórico, novas alternativas de abordagem do sistema econômico têm sido
desenvolvidas. Resultados de pesquisas recentes têm sustentado a hipótese de que o
ambiente econômico não pode ser considerado como um sistema isolado do sistema social
e ambiental (WHISTON, 1994; CLARK et al., 1995; STORPER, 1997; MASKELL et
al,.1998; MEYER-STAMER, 1998; SACHS, 2001; WILKINSON, 2002). Por outro lado,
aquelas mais tradicionais têm passado por algumas modificações para incorporar novas
variáveis e restrições. Contudo, pelas próprias características do método científico
tradicional, ao menos nesse campo da ciência, o avanço tem sido mais consistente na
destruição de velhas convicções do que na afirmação de antigas teorias. Outro aspecto é
que os modelos conceituais, muitas vezes, só sofrem mudanças a partir de constatações
empíricas. Isto pode ser atribuído ao fato da dinâmica das mudanças no ambiente
socioeconômico ser sempre mais veloz e mais abrangente que sua incorporação aos
modelos conceituais. Esta é uma contradição que tem condicionado este campo científico
(CLARK et al., 1995).
Nesse sentido, os conceitos tradicionais de algumas variáveis também têm sido
revistos. A “tecnologia”, antes vista como simples elemento residual, tem agora seu
conceito ampliado, passando a envolver múltiplas facetas. O avanço tecnológico tem
movido o conceito padrão de choques exógenos para um crescente entendimento dos
elementos endógenos na criação de novas tecnologias e estímulos ao crescimento
(STORPER & ALLEN, 1992; LUNDVALL, 1992; CHANDLER Jr. et al., 1999).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 160
Pela visão econômica Neoclássica tradicional1, todas a firmas estariam em
igualdade de condições para implementar e competir com uma nova tecnologia. Por este
ponto de vista, a implementação desta nova tecnologia se daria de forma uniforme através
do setor ou segmento, tendendo para um ponto de convergência onde todas as firmas
dominariam de maneira completa a referida tecnologia. Esta visão não contempla
diversidades de espaço-tempo, nem capacidades próprias e competências específicas
regionais e locais.
Pelo enfoque do Crescimento Econômico Endógeno (também Neoclássico), fatores
internos podem levar ao sucesso ou ao fracasso na implementação de uma nova tecnologia,
que ocasionaria certos desníveis ou atrasos, e justificaria períodos de estagnação. Porém,
não pressupõe diversidade e vínculos não comerciais que afetem o desempenho das firmas
(MULDER et al., 2001).
Alternativamente, a abordagem pela Teoria Evolucionária pressupõe um ambiente
seletivo e dinâmico, onde a capacidade de adaptação à mudança dos agentes, pode
determinar quais serão bem sucedidos e quais estarão fadados à “exclusão”. Isto não quer
dizer que esta adaptação deve ser autóctone e independente. A idéia neoclássica de
otimalidade de uma função de utilidade é substituída por um comportamento de busca
passo a passo de melhores condições e de uma disputa pela sobrevivência, onde a
satisfação é apenas temporária. Nesta visão, o ambiente competitivo é condicionado,
principalmente, pelo grau de variedade, pela eficiência e eficácia dos mecanismos de
seleção, e pelos efeitos do processo de “destruição criativa” e de “dependência da
trajetória2” (NELSON & WINTER, 1982; DOSI, 1988; ALLEN, 1994; MEYERSTAMER, 1998; VERSPAGEN, 2001).
Um aspecto característico nessa linha de pensamento é que a visão tradicional de
inovação tecnológica linear e unidimensional, baseada nos conceitos de science push and
technology pull (ou marketing pull), tem sido ampliada, e, em alguns casos, substituída por
uma apreciação mais complexa, incorporando diferentes aspectos além daqueles
tradicionais de alta e baixa tecnologia e de tecnologia do produto e de processo (NORTH
1
Nos modelos neoclássicos tradicionais, considera-se que os atores econômicos buscam a maximização dos
seus objetivos. Além disso, aquisição e absorção de novas tecnologias se dão de maneira uniforme e
simétrica, indistintamente a todas as firmas (Mulder et al., 2001). Ver também, Capítulo 2 em Malecki
(1997).
2
Esse conceito é abordado em detalhes no Capítulo 3.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 161
& SMALLBONE, 2000). Neste aspecto, tecnologia e inovação são cada vez mais vistos
mais como um processo interativo entre homem, organização e contexto ambiental, e
relacionados a ativos invisíveis e a conceitos evolucionários (DOSI, 1988; BAUM &
SINGH, 1994; EDQUIST, 1997; PAVITT, 1999; ZIMAN, 2000; SAVIOTTI &
NOOTEBOOM, 2000). Assim, conceitualmente, o termo “inovação tecnológica” muda de
sentido, pois a “inovação” descola-se do conceito tradicional de “tecnologia” para uma
visão mais ampla e sistêmica, incorporando aspectos ambientais, políticos, sociais e
culturais, além dos de mercado.
Nesse contexto, a mudança tecnológica no âmbito da firma pode ser entendida
como um processo de crescimento, influenciado por fatores endógenos (trajetórias, rotinas
organizacionais, estratégias etc), bem como pela configuração local onde elas se situam
(clusters, distritos, setores, blocos etc.). A dinâmica deste processo envolve busca e adoção
de novas tecnologias, exploração, adaptação e imitação (DOSI, 1982). Pressões
competitivas de novas tecnologias, ou correlatas, e desafios ou ideais visionários dos
lideres, além das características do ambiente no qual se inserem, contribuem para acelerar
o processo de mudança e inovação. Novos estudos, principalmente empíricos, têm
procurado refletir este novo ambiente econômico (NELSON, 1993; DOSI, 1995;
CHANDLER Jr. et al., 1999; PACI & USAI, 2000).
Por outro lado, a infra-estrutura e o ambiente regional assumem papel determinante
nas novas abordagens do desenvolvimento econômico3. Muitos estudos nesse sentido têm
tido destaque na literatura (ver, por exemplo, PORTER, 1989; BENKO & LIPIETZ, 1994;
NELSON, 1993; MALECKI, 1997; COOKE et al., 1997; MALECKI & ÖINAS, 1998).
Entretanto, estes estudos focam quase que apenas em países centrais e exclusivamente em
setores industriais altamente avançados, que poderiam ser posicionados no nível mais
elevado de uma escala de evolução tecnológica hipotética, cujo fator determinante da
3
A distinção entre o conceito de “desenvolvimento” e “crescimento” econômicos nem sempre é tratada de
forma explícita na literatura. As teorias tradicionais (neoclássicas) tratavam o “desenvolvimento” como
sinônimo ou conseqüência natural do “crescimento econômico” (aumento total da riqueza, no sentido
vertical, hoje medido pelo PIB). Uma visão geral das teorias que tratam deste tema é apresentada em Souza
(1999). Essa discussão voltou a ganhar destaque a partir da I Conferência Mundial para o Desenvolvimento
Sustentável (RIO-ECO92), realizada no Rio de Janeiro, há dez anos, quando foi proposta e aprovada a
chamada Agenda 21 (um ambicioso conjunto de recomendações e ações para preservar as condições de vida
futura no planeta, baseada num modelo de desenvolvimento apoiado em três pilares: avanço econômico,
progresso social e proteção do meio ambiente). Atualmente, tem crescido a convicção de que o
“desenvolvimento” não pode ser tratado apenas de forma macroeconômica, necessitando de soluções
regionais e locais (Meyer-Stamer, 1998; Sachs, 2001; Wilkinson, 2002). Para um ensaio conceitual do
desenvolvimento regional, sob o ponto de vista da abordagem evolucionária, ver Souza (2002).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 162
competitividade é a inovação. O emprego dessas abordagens e metodologias, ipsis litteris,
ao estudo de arranjos produtivos locais (aglomerados de forma geral) de indústrias
tradicionais, menos densos em termos de tecnologia, tem gerado um vazio na interpretação
e pouco contribuído para o entendimento da dinâmica do desenvolvimento de sistemas
produtivos locais, principalmente de regiões periféricas. Há a necessidade de criação de
abordagens que captem as diversidades locais e regionais e as diferenças entre firmas de
um mesmo arranjo produtivo em termos de dinâmica competitiva e tecnológica.
Permanece, entretanto, uma lacuna entre as teorias e conceitos evolucionários e os
métodos empregados para a análise de ambientes pouco evoluídos tecnologicamente, mas
fundamentais para a economia de certas regiões periféricas, cuja mudança se dá de maneira
lenta e, muitas vezes, somente induzidas pelo poder público. Metodologias e abordagens
adequadas para a análise desses micro-sistemas produtivos, e a consideração de conceitos
não-estáticos em nível microrregional e/ou meso-econômico, necessitam ser adaptadas
(VERSPAGEN, 2001). Uma dificuldade é que não existem metodologias gerais que
considerem aspectos dinâmicos evolutivos e, ao mesmo tempo, características locais e
setoriais. Abordagens específicas têm de ser construídas. Nestes casos, há a necessidade de
estudos empíricos de elementos intrafirma e das relações interfirmas e de segmentos de
cadeias industriais que permitam a análise dos agentes e, ao mesmo tempo, do contexto no
qual se inserem.
Na análise de problemas de segmentos microrregionais e de aglomerados
industriais pouco competitivos fora da esfera regional, algumas questões ainda persistem.
Uma das principais é como analisar estes sistemas produtivos locais empregando conceitos
de sistemas dinâmicos (evolucionários), se as metodologias de análise tradicionais são
estáticas (como, as matrizes de insumo-produto e outras técnicas de análise de fluxos
comerciais entre setores em cadeias produtivas, ou o Diamante de Porter). Estas
abordagens não permitem uma visão da tendência evolutiva do sistema, nem captam a
dinâmica de micro-segmentos de cadeias, como os pequenos arranjos produtivos locais,
principalmente aqueles típicos de regiões periféricas, quando tal dinâmica é pouco
expressiva em termos comerciais (MYTELKA, 2000).
Sob esse ponto de vista, propõe-se uma metodologia própria para o estudo da
competitividade de firmas em arranjos produtivos locais, a partir de uma abordagem
evolucionária da estratificação tecnológica nesses ambientes. Inicialmente é feita uma
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 163
revisão de metodologias para caracterização tecnológica de países, setores e empresas, para
análise de sistemas produtivos locais, regionais ou setoriais. Logo após, são apresentadas
algumas abordagens do problema da estratificação de atividades tecnológicas,
respectivamente, no âmbito da firma, do setor industrial e em termos de nação. A
abordagem é baseada em conceitos da teoria evolucionária de mudança técnica e
econômica (ver, por exemplo, NELSON & WINTER, 1982; DOSI, 1982; ARTHUR, 1994;
DOSI & NELSON, 1996; CLARK et al., 1995), na perspectiva dos recursos, competências
e comportamento das firmas (principalmente, PENROSE, 1959; CYERT & SIMON, 1963;
COHEN & LEVINTHAL, 1990; GRANT, 1991; TEECE & PISANO, 1994; REYNAUD,
2000) e de novos avanços no estudo da economia regional e do desenvolvimento
econômico local (neste caso, STORPER, 1997; MALECKI & ÖINAS, 1998; MASKELL
et al., 1998; WILKINSON, 2002).
A metodologia proposta é apresentada ao final, com uma ilustração para arranjos
produtivos típicos. São utilizados dois referenciais como parâmetros comparativos: (i) um
intrínseco à própria firma (endógeno), a partir da mudança tecnológica e os efeitos em suas
rotinas e competências internas; e outro, (ii) relativo ao arranjo (exógeno), para a análise da
trajetória e regimes tecnológicos, em relação a um referencial competitivo externo (outros
arranjos típicos, do mesmo segmento, com trajetória similar).
5.2 A Análise de sistemas industriais e a abordagem evolucionária
Para se estudar, entender e caracterizar a dinâmica da infra-estrutura científica,
tecnológica, econômica e social, envolvida no processo de avanço tecnológico, novos
conceitos e abordagens metodológicas têm sido propostos, principalmente em nível
nacional (PORTER, 1989; LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993). Mais recentemente,
vários autores têm tentado estender estes conceitos para análise de regiões (sub-nacionais)
e setores (COOKE et al., 1997; de la MOTHE & PAQUET, 1998). Uma característica
comum a todas estas abordagens, é que a “força-motriz” do desenvolvimento econômico
está nas inovações, e pressupõe um sistema tecnológico, como pioneiramente defendido
por Schumpeter (1934) e, posteriormente ampliado pelos neo-schumpeterianos4.
4
De fato, como o próprio Schumpeter reconheceu, a visão do crescimento econômico baseado na competição
tecnológica (inovação e difusão) tem raízes na “Economia de Marx”. Neste caso, é assumido que tanto a
inovação como a imitação (catching-up) conduzem ao crescimento. Porém, a estratégia de imitação não
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 164
Schumpeter (1934), em seus estudos seminais sobre o papel do avanço tecnológico
sobre a economia, distinguiu cinco tipos de inovações: (i) introdução de um novo produto
ou uma modificação qualitativa em um já existente; (ii) novo processo para uma indústria;
(iii) abertura de um novo mercado; (iv) desenvolvimento de novas fontes de suprimento de
matéria-prima ou outros insumos; e (v) mudanças em uma organização industrial. Na
análise evolucionária ou neo-schumpeteriana, o processo de inovação das firmas é
determinado por seu comportamento, através de sua capacidade de absorver conhecimento,
aprender a partir de experiências exógenas e endógenas, individuais e coletivas, de
concepção, produção e comercialização de bens e serviços e de interações com outras
organizações e instituições (FREEMAN, 1994; METCALFE, 1995; DOSI & NELSON,
1996; SAVIOTTI & NOOTEBOOM, 2000; VERSPAGEN, 2001).
Erik Dahmém, ao incorporar uma visão de sistema em seu estudo épico sobre as
dinâmicas das concentrações urbanas industriais na Suécia, as quais denominou de “Blocos
de Desenvolvimento”, provavelmente tenha realizado o primeiro trabalho com uma
abordagem
baseada
(CARLSSOM,
1997).
em
conceitos
Segundo
da
dinâmica
Carlssom (1997),
evolucionária
Dahmén
schumpeteriana
definiu
“bloco
de
desenvolvimento” como “seqüências de complementaridades que, através de uma série de
tensões estruturais (desequilíbrios), podem resultar em uma situação balanceada”. Ele
focou no papel do empreendedorismo e dos empreendedores, e nas condições requeridas
para se poder tirar vantagem de novas oportunidades de negócios, o que provocaria tensões
entre recursos disponíveis e a capacidade de explorá-los comercialmente. Depois do estudo
pioneiro de Dahmém, houve um longo período até surgirem novas abordagens de sistemas
na literatura econômica industrial.
Porém, no final da década de 80 e ao longo da década de 90, foi publicada uma
série de estudos utilizando o conceito de “Sistema Nacional de Inovação” (DOSI et al.,
1988; NIOSI, 1991; LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993).
Nestes trabalhos, há uma ênfase nas interações entre instituições e atores,
principalmente aqueles ligados à área de Ciência e Tecnologia (C&T). A análise foca no
papel da política tecnológica em diferentes países, considerando um certo período de
permitiria se sobrepor aos “líderes tecnológicos” e, de uma certa forma, sua adoção perpetuaria a condição de
mero agente seguidor. Por outro lado, os riscos assumidos seriam menores, o que poderia justificar sua
adoção em certas condições. A esse respeito, ver Rosenberg (1984), Fagerberg (1995) e Freeman & Soete
(1997).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 165
tempo. Estas análises envolvem instituições de P&D, Universidades, Institutos de
Pesquisa, agencias e políticas de governo. A firma é apresentada como um núcleo de
habilidades, competências e conhecimentos tecnológicos e organizacionais (FREEMAN,
1994; DOSI et al., 1995).
A partir desta abordagem, os autores desta corrente identificaram, e passaram a
considerar, formas diferentes de aprendizado (learning by doing, by using, by interacting,
by searching, entre outras). Posteriormente, foi observado também que a taxa de
aprendizado depende fundamentalmente de um conjunto de interações com múltiplas
fontes internas e externas de informações e de conhecimento. Essas interações criariam
uma interdependência sistêmica, não formal, nos sistemas produtivos dos respectivos
atores, dando origem ao que passou a ser denominado de “Sistema de Inovação” (ver, por
exemplo, LUNDVALL, 1988; EDQUIST, 1997). Conseqüentemente, a estrutura produtiva
do ambiente considerado (país ou região), com seus aspectos históricos e culturais,
condicionaria tal sistema (COOKE et al., 1997).
Outra abordagem amplamente conhecida, e talvez a mais empregada para análise de
aglomerados e clusters, é o chamado “Diamante de Porter5”, descrita no livro de Michael
Porter “A vantagem competitiva das nações” (PORTER, 1989), a partir de estudos
empíricos em diversos países. Esta foca essencialmente em aglomerados industriais
(clusters), suas estratégias e competitividade. Os quatro lados do diamante são constituídos
por condições de fatores (habilidades, tecnologias, capital, etc.), condições de demanda,
elos para relacionar e auxiliar indústrias e estratégia das firmas, estrutura e competição.
Cada atividade econômica é vista como parte de um cluster de atividades e agentes, ao
invés de isoladamente.
Seguindo o pensamento schumpeteriano, Carlsson & Stankiewicz (1991) propõem
o conceito de “Sistema Tecnológico”, locus do progresso técnico e do impulso econômico.
Uma das hipóteses básicas consideradas é que as oportunidades tecnológicas que se
apresentam aos agentes econômicos são ilimitadas, sendo que o trabalho destes agentes
está em identificá-las e explorá-las, de acordo com suas capacidades e competências. Nesse
aspecto, algumas áreas do conjunto de oportunidades globais têm sido amplamente
exploradas e mapeadas, outras não. A natureza do conhecimento em cada área determina
os modos pelos quais novas descobertas são feitas a partir de novas combinações do
5
Tal abordagem é comentada em detalhes no Capítulo 2.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 166
conhecimento previamente dominado. Identificar novas oportunidades e encontrar novos
modos de explorá-las pode requerer a combinação de busca ou monitoramento global e
pesquisa e desenvolvimento local. Esta dinâmica forma o que eles denominam de Sistema
Tecnológico. Este sistema que é caracterizado por quatro fatores: (i) a natureza do
conhecimento e mecanismos disseminadores ou difusores (spillovers), (ii) a capacidade de
absorver competências de várias fontes, (iii) o grau de conectividade entre as várias partes
do sistema e (iv) o vigor da criação de variedade e mecanismos de seleção.
Saxenian (1994), utiliza uma abordagem em torno do conceito denominado de
“Sistemas de Inovação Local”. Através de um estudo da indústria eletrônica do Vale do
Silício, Califórnia, e ao longo da Route 128 em Massachussets, seu trabalho focou nas
diferenças de cultura e competição, grau de hierarquia e concentração, experimentação,
colaboração e no aprendizado coletivo, o que têm provocado diferenças na capacidade de
ajuste a mudanças nas circunstâncias de mercado naqueles dois pólos tecnológicos
americanos. Contudo, esse trabalho não propôs nem adotou uma abordagem própria para o
estudo desses sistemas, limitando-se apenas ao estudo e descrição das diferenças dos
processos de surgimento e de crescimento dos aglomerados estudados.
Outra proposta para análise da competitividade de clusters setoriais é denominada
de “Sistemas Setoriais de Inovação” (BRESCHI & MALERBA, 1997; ESSY, 2001;
MALERBA, 2001). Este conceito baseia-se na idéia de que diferentes setores, ou
indústrias, operam sob certos “regimes tecnológicos”6 que são caracterizados por
combinações particulares de oportunidades e condições de apropriabilidade, graus de
cumulatividade de conhecimento tecnológico e fatores relativos às características
específicas do conhecimento requerido em certos setores econômicos.
Apesar da denominação, esta proposta é mais próxima, e até similar em alguns
pontos, à análise de Porter, focando nas relações competitivas entre firmas e procurando
considerar explicitamente o papel da seleção pelo ambiente.
Vale destacar que no Brasil, uma série de estudos tem sido desenvolvida sob a
denominação de “Arranjos e Sistemas Produtivos Locais”, utilizando o conceito geral de
Sistemas de Inovação, aplicado a aglomerados locais (CASSIOLATO & LASTRES,
6
Referindo-se aos padrões técnicos vinculados a certas tecnologias que caracterizam grandes setores
industriais, o qual é mais amplo que o conceito de “regime tecnológico” adotado neste trabalho (vide Seção
final do Capítulo 4).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 167
2000). Estes trabalhos dão destaque para o levantamento histórico de formação desses
arranjos, a análise da influência das instituições de suporte às atividades de ciência e
tecnologia e a proposição de políticas públicas de apoio e sustentação desses sistemas.
Neste caso, os principais fatores considerados são: (i) a dimensão local do
aprendizado, da capacitação e da inovação; (ii) o processo de globalização e os sistemas
nacionais, supra e subnacionais de inovação; (iii) o papel de arranjos produtivos locais e
sua capacidade; e (iv) o novo papel e objetivos das políticas de desenvolvimento científico
e tecnológico, tendo em vista as dimensões supranacional, nacional, regional, estadual e
local (CASSIOLATO et al., 2000). Encontram-se também incluídos nessa série, outros
trabalhos que utilizam a abordagem de cadeias produtivas7 e redes8 (ver, por exemplo,
BERNARDES, 2000).
Entretanto, nesses estudos não há uma proposta conceitual adaptada às questões
locais, e a análise limita-se à esfera empírica. Em muitos casos, a configuração e a
existência de um “Sistema de Inovação Local” não fica clara, e conseqüentemente, a
contribuição para o entendimento da dinâmica do arranjo torna-se vaga.
Apesar da ênfase nas inter-relações entre instituições e no processo histórico, o
emprego da abordagem de Sistemas Inovação para o estudo de arranjos produtivos locais
pouco dinâmicos, principalmente aqueles localizados em regiões periféricas, também
requer adaptações. O próprio conceito de “inovação” nesses ambientes não pode ser o
mesmo de clusters de alta tecnologia de países avançados9.
7
Cadeia produtiva, no conceito amplo, refere-se ao conjunto de etapas consecutivas pelas quais diversos
insumos vão sendo transformados e transferidos, em um ou vários processos produtivos, até chegar aos
consumidores finais. Outra definição, mais especifica, o considera como a seqüência de setores econômicos
unidos entre si por atividades significativas de compra e venda. Ou seja, trata especificamente de fluxos
comerciais. A origem deste conceito é atribuída a uma derivação do termo filière (literalmente, “teias”),
concebido por economistas franceses, entre os quais, Toledano (1978) e Truel (1980), apud Dosi (1988); e
Perroux (1977) e Bellon (1983), apud Haguenauer & Prochnik (2000).
8
O conceito de “redes de firmas” é uma ampliação do conceito de cadeias. Geralmente é considerado como
“arranjos interorganizacionais baseados em vínculos sistemáticos – muitas vezes de caráter cooperativo –
entre firmas formalmente independentes, que dão origem a uma forma particular de coordenação das
atividades econômicas” (Britto, 1999:3). Neste trabalho, são apresentados os diversos tipos de redes, seus
desdobramentos nas relações industriais e uma sistematização das abordagens teóricas sobre redes.
9
Neste caso, como afirma Cantwell (2001) a própria teoria schumpeteriana de inovação precisa ser
revisitada, pois, a formulação original enfatizava a necessidade de se identificar fontes originais de inovação
em oposição ao processo de difusão e de imitação subseqüente, de modo a determinar a distribuição de
“lucros inovativos”, ou seja, aqueles apropriados pelo empreendedor pioneiro. Essa ênfase no papel do
“primeiro inovador”, e a conseqüente tendência em se negligenciar o papel dos seguidores, considerando-os
como meros “imitadores”, levam a obscurecer muitos fatores importantes da dinâmica competitiva, como os
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 168
Em um artigo publicado em meados da década de 90, Meyer-Stamer (1995) já
questionava a existência de um “Sistema” de Inovação Industrial no Brasil. Sua
argumentação baseia-se no fato de haver pouca interação entre as universidades e centros
de pesquisa e o meio empresarial, o que, segundo o autor, justificaria o baixo desempenho
do país em termos de inovações e patentes. Adotando conceito de Sistemas Regionais de
Inovação, o trabalho de Maculan & Carleial (1999) levou a conclusões semelhantes,
através do estudo do processo de aprendizagem em redes de sub-contratação de micro e
pequenas empresas e incubadoras em regiões do sul do Brasil.
Apesar de representar importantes contribuições do ponto de vista de divulgação da
necessidade de estudos empíricos para se entender a dinâmica de tais configurações
produtivas, as abordagens anteriormente citadas, demonstram que há necessidade de se
avançar mais em termos conceituais e metodológicos para se entender a dinâmica interna
das aglomerações produtivas locais, principalmente em relação à análise de fatores de
diversidade, como, por exemplo, o desempenho relativo entre as empresas, os efeitos de
dependência da trajetória, as estratégias competitivas e as segmentações de mercado. Nesse
sentido, há a necessidade de se ir além da proposição de novas denominações e taxonomias
para se estudar tais ambientes.
A seguir, as três primeiras abordagens anteriormente apresentadas, por serem as
que mais apresentam contribuições conceituais, a seguir, são consideradas em mais
detalhes.
5.2.1 Sistemas de inovação e o diamante de Porter
A abordagem de Sistemas de Inovação (SI) não assume como hipótese básica uma
relação de causa e efeito, determinística, nem pretende prover respostas, por si mesma, de
como o sistema evolui no tempo. Conseqüentemente, não indica ferramentas ou métodos a
empreender na análise dos sistemas10. O conceito de SI é visto como “holístico”, e como
efeitos de dependência do contexto local, as capacidades individuais de absorção de novas tecnologias,
adaptações e contribuições próprias (DOSI et al., 1994).
10
Uma proposta recente, sob o conceito de Triple Helix, busca caracterizar a inovação em um ambiente
evolucionário e socialmente construído, baseado na interação das instituições do tripé governo-universidadeempresa, a partir de fluxos de informação e comunicação. Neste caso, assume-se a reformulação dos papeis e
atribuições das instituições pilares do modelo (ver, por exemplo, Leydersdorff & Etzkowitz, 1998a;
Leydersdorff & Etzkowitz, 1998b).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 169
tal, em termos metodológicos surgem dificuldades analíticas para sua aplicação. Entre as
questões problemáticas11, na conceituação dessa abordagem, dois podem ser considerados
os principais: (i) a definição dos limites do sistema; e (ii) o tratamento da diversidade
institucional. De modo a entender melhor as similaridades e diferenças entre a abordagem
de SI e as mais tradicionais, utilizaremos como referencial o modelo “diamante de Porter”
(1989), amplamente conhecido e empregado na análise de competitividade. Como aspectos
disciplinares distintivos entre as duas abordagens, podemos citar que, enquanto a
abordagem de SI está mais vinculada ao processo de inovação tecnológica (IT) e ao campo
da ciência e tecnologia (C&T), o diamante de Porter, refere-se essencialmente à arena
competitiva comercial e à gestão empresarial. Como métodos analíticos, ambas abordagens
compartilham similaridades, como na tendência em focar os fundamentos para entender o
comportamento dos sistemas.
Em sua abordagem, Porter (PORTER, 1989: xvi) busca uma nova visão da
vantagem competitiva centrada na habilidade de uma nação em utilizar produtivamente
seus insumos e recursos. Pelo desenvolvimento do conhecimento como uma vantagem
competitiva dinâmica, que, para ele pode ser criada, a análise é efetuada em vários níveis,
através de elementos da economia de uma nação, focalizando clusters industriais e as
interações entre os fatores do “diamante”. Dessa forma, é presumido que para uma
economia nacional, o estado do sistema, ou seja, seu desempenho comercial e sua
prosperidade podem ser razoavelmente explicados pela análise dos estados dos seus
elementos e suas relações complexas. Entretanto, ficam evidentes outras preocupações: “...
meramente usar os recursos disponíveis, ou reunir mais recursos não é suficiente para
alcançar prosperidade. Nem redistribuir as riquezas da nação entre grupos de interesse”
(Porter, 1989: xii). Há uma forte atenção na busca dos micro-fundamentos dos fenômenos
macroeconômicos: “... Reformas macroeconômicas são necessárias, mas não suficientes...”
tão importantes são os micro-fundamentos do desenvolvimento para responder às seguintes
questões: Qual o próximo passo? O que fazer após o ajuste macroeconômico e a
estabilização...”(PORTER, 1989: xvi). O Quadro 5.1 sintetiza as características analíticas
entre SI e o “Diamante”.
11
Para uma avaliação conceitual, e detalhes das deficiências específicas dessa abordagem, ver Radosevic
(1998).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 170
Quadro 5.1 - Aspectos característicos distintivos entre SI e o modelo de Porter
Critério
Sistemas de Inovação
Diamante de Porter
A melhoria na eficiência da aprendizagem é O crescimento da produtividade é a
a fonte para a “inovatividade” de uma
fonte da prosperidade de uma nação.
nação
Nação;
Nação, região, setor; Cluster (indústria,
região);
Cluster (indústria, região);
Firma; Instituições de conhecimento
Firma.
público (infra-estrutura educacional e de
Unidade analítica
C&T);
Redes de transferência de conhecimento;
Sistema tecnológico
Entre tecnologia e instituição:
Entre os elementos do diamante:
Processo
Trajetórias tecnológicas;
Estratégia da firma; estrutura e
dinâmico/causa
concorrência;
Teoria do ciclo de vida da tecnologia;
Condições
de fatores;
Dependência da trajetória (pathIndústrias vinculadas e auxiliares.
dependence);
Learning by doing, by using, and by
interaction;
Transferência de conhecimento
Disciplina vinculada
Inovação tecnológica
Gestão empresarial
Direcionamento
C&T
Comércio e negócios
Fonte: Porter (1989); Edquist (1997); Carlsson, (1997), Gu (2000)
Hipótese central
De uma forma geral, a abordagem de Sistemas de Inovação enfatiza os aspectos
institucionais e histórico-culturais de certas regiões que formam um ambiente fértil em
idéias e as interações entre atores público-privados, que tornam tais regiões mais propícias
ao surgimento de inovações que outras (ver ACS, 2000). Nessa abordagem há um
predomínio absoluto de pesquisas empíricas que buscam identificar e diagnosticar fatores e
características que proporcionaram o surgimento do denominado “sistema de inovação
local/regional”, em regiões como o Vale do Silício (SAXENIAN, 2000), País Basco
(COOKE et al., 1997), Emília Romagna e Baden-Württemberg (COOKE & MORGAN,
1998), Catalunha, Toscana, País de Gales (BRACZYK et al., 1998), e outros casos de
regiões prósperas a partir de atividades industriais baseadas em tecnologia, conhecimento e
cooperação institucional.
Por outro lado, há uma dificuldade de se trabalhar estas abordagens em sistemas
produtivos tecnologicamente defasados, nos quais não se pode considerar um “sistema de
inovação” ou os fatores do “diamante” não são plenamente estabelecidos. Nestes
ambientes, fatores mais “primitivos”, mas importantes para a formação da competitividade
das empresas e o fortalecimento dos aglomerados, são condições essenciais para o
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 171
crescimento econômico do sistema, e não podem ser negligenciados. Entre tais fatores,
pode-se incluir, aspectos operacionais, como a redução dos desperdícios, o aumento da
produtividade e da qualidade dos produtos e serviços, e outros mais estruturais, como a
formação de coalizões para a eliminação de barreiras à absorção de novas tecnologias e
promoção da cooperação institucional.
5.2.2 Sistemas tecnológicos
Na visão de Leoncini (1998), um sistema tecnológico é constituído por quatro
principais pilares: (i) fontes de conhecimento científico e tecnológico; (ii) uma constelação
de sistemas técnicos; (iii) o ambiente mercadológico; e (iv) uma interface institucional.
Esta estrutura está em um subsistema aberto, constantemente exportando entropia de modo
a manter a estabilidade, e seu comportamento auto-organizado resulta da microdiversidade do ambiente. Fluxos de matéria e informação são, assim, os principais
determinantes do comportamento do sistema (ver ilustração na Figura 5.1).
Fontes de conhecimento
Interface institucional
Sistema técnico
Interface institucional
Mercado (demanda)
Figura 5.1 – Representação de um Sistema Tecnológico
(adaptado de Leoncini, 1998)
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 172
Uma das hipóteses básicas da abordagem de Sistemas Tecnológicos é que as
oportunidades tecnológicas e o conjunto global de possibilidades disponíveis aos agentes
econômicos são ilimitados. Nesse aspecto, entretanto, o primeiro problema que cada agente
enfrenta é como identificar e explorar sucessivamente um pequeno subconjunto de
oportunidades. Uma das principais restrições é que “ganhar competência” é um processo
contínuo no qual não se pode “queimar etapas”.
O estudo de sistemas tecnológicos sugere que há quatro fatores principais em tais
sistemas que determinariam sua performance, isto é, o grau de exploração bem sucedida
das oportunidades econômicas, de acordo com alguns elementos característicos: (1) a
natureza do conhecimento e mecanismos spillovers; (2) a competência receptiva (ou
capacidade de absorção, na terminologia de Cohen & Levinthal (1990)), por parte de
vários atores; (3) a conectividade entre várias partes do sistema; (4) o vigor de mecanismos
de seleção e de criação de variedade. O Quadro 5.2 sintetiza tais conceitos.
Como destacado por Carlssom (1997), em algumas áreas, o conhecimento
requerido para exploração satisfatória das oportunidades é altamente específico
(permanecendo restrita a uns poucos atores), enquanto que em outras, onde é necessário
apenas um conhecimento mais geral (na forma de um vasto conjunto de habilidades), fica
acessível e disponibilizada a muitos atores. Entretanto, algumas vezes, novas descobertas
alteram radicalmente o potencial econômico e a acessibilidade de uma tecnologia, gerando
amplas mudanças em um ou vários Sistemas Tecnológicos. Estas idéias estão vinculadas
ao conceito de dependência da trajetória.
Em determinadas áreas, devido às suas próprias características dinâmicas e
perspectivas de lucro, apoiadas em estruturas socioeconômicas, políticas e regulatórias, as
oportunidades globais têm sido amplamente mapeadas e exploradas (por exemplo, as
indústrias de telecomunicações, microeletrônica, automóveis, petróleo etc), seguindo uma
certa trajetória de desenvolvimento definida (CARLSSOM, 1997). Em outras (aquelas que
dependem ainda de maior viabilidade técnica e econômica ou avanço científico), as
oportunidades ainda permanecem inexploradas. Algumas áreas são altamente acessíveis,
com rotas de acesso bem construídas e regras e normas bem estabelecidas. Nessas áreas, o
conhecimento é altamente codificado e potenciais usuários com os equipamentos
apropriados, principalmente o financeiro, podem ter acesso à tecnologia. Isto resulta em
uma curta distância entre a fronteira da ciência e as práticas industriais de ponta. Outras
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 173
áreas são pouco exploradas e conhecidas pelo homem, e não são ainda plenamente
incorporadas às atividades econômicas (como fusão nuclear, engenharia genética,
possibilidade de variação da velocidade da luz etc). Nesse caso, o acesso é mais difícil e o
sucesso comercial fruto de grandes investimentos em pesquisa experimental e o risco
muito maior, pois sofre influências de fatores imprevisíveis.
Quadro 5.2 – Estrutura analítica de Sistemas Tecnológicos
Fatores
1. Natureza do conhecimento e
mecanismos spillovers
2. Receptividade de competência
3. Conectividade
4. Mecanismos de criação de
variedade
Elementos
1.1 Definição do sistema
1.2 A natureza do conhecimento:
1.2.1Tácito x codificado ou articulado
1.2.2 Componentes arquiteturas
1.2.3 Incorporado x desincorporado
1.3 Mecanismos spillovers: quem? como?
2.1 Pioneiros (prime movers):
2.1.1 Quem gera/expande a visão?
2.1.2 Quem toma as iniciativas iniciais?
2.1.3 Empreendedorismo
2.2 Como se cria a massa crítica?
2.3 Falhas de mercado/obstáculos?
2.4 Como foram superados os obstáculos?
2.5 O papel das instituições e políticas públicas:
2.5.1 Fonte e papel do capital de risco
2.5.2 Papel das finanças e do mercado financeiro
2.5.3 Papel da academia
2.5.4 Papel da política educacional:
2.5.4.1 Proativa x reativa
2.5.5 Elos internacionais
3.1 Importância da proximidade/aglomeração e em qual sentido?
3.2 Relações fornecedor-usuário
3.3 Redes de resolução de problemas
3.3.1 Características das redes
3.3.2 Quem construiu as redes?
3.3.3 Instituições-ponte
3.3.4 Papel dos grupos de negócios/empresas
3.3.5 Papel das políticas públicas
3.5 Redes formais/pessoais
4.1 Visão avançada – como se caracteriza?
4.2 Dependência da trajetória; efeitos de “travamento” (lock-in)
4.3 Entrada e saída
4.4 Impulsos internacionais
4.5 Papel das políticas públicas
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 174
Nesse sentido, a natureza do conhecimento em cada área determina os modos pelos
quais novas descobertas são feitas. Além disso, novas combinações são baseadas,
principalmente, no estoque de conhecimento previamente acumulado (dependência da
trajetória). Isto significa que o potencial para spillovers tecnológicos, e seus pré-requisitos,
variam entre diferentes áreas. Assim, identificar novas oportunidades e meios (tecnologias)
para explorá-las podem requerer uma combinação de busca global e P&D local
(CARLSSOM, 1997; LEONCINI, 1998).
Uma consideração a respeito dessa abordagem é que seu foco principal é em uma
tecnologia em particular, a partir da qual se analisam as várias dimensões que tocam o
ambiente econômico e suas interações. Conseqüentemente, não são considerados aspectos
de natureza regional e local, que influenciam a localização de empresas e a formação de
aglomerados e clusters industriais, e suas contribuições para o desenvolvimento econômico
local.
Seguindo implicitamente uma abordagem baseada na concepção de Sistemas
Tecnológicos (ver CARLSSOM, 1997), Squazzoni & Boero (2002)12 afirmam que este
campo de estudo representa “uma nova agenda de pesquisa”, para onde convergem
conceitos da abordagem evolucionária, da economia regional e da organização industrial.
Nesse trabalho, os autores propõem o conceito de “engenharia institucional” para tratar
problemas específicos a certas tecnologias (SQUAZZONI & BOERO, 2002: 2).
Considerando seu limite de escopo, o trabalho ora apresentado busca contribuir
para o estabelecimento e a consolidação desta nova agenda de pesquisa. O desbravamento
desse novo campo implica no estudo da dinâmica competitiva e na caracterização da
evolução de certas trajetórias tecnológicas que afetam as trajetórias competitivas de
aglomerados produtivos locais.
12
Nesse trabalho é proposto um tratamento computacional (através de simulações) do comportamento de
distritos industriais, através da avaliação de mudanças nos padrões técnicos na adoção de terminadas
tecnologias e no processo de aprendizagem técnica e organizacional. Estes autores se baseiam nos conceitos
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 175
5.3 Estratificação tecnológica
O estudo da formação da competitividade de empresas, setores, indústrias e países,
devido ao caráter estratégico que representa para o crescimento industrial e para o
desenvolvimento socioeconômico regional/local, tem sido alvo de crescente interesse tanto
no meio acadêmico como por parte dos organismos governamentais e internacionais. Nesse
contexto, entender a formação de segmentações e a dinâmica competitiva de clusters,
aglomerados e arranjos produtivos industriais é fundamental para superar barreiras
comerciais, direcionar novos investimentos e preservar condições sócio-ambientais
satisfatórias.
Por razões metodológicas, porém, tradicionalmente, as políticas de incentivo e os
programas de apoio tecnológico são distribuídos de forma genérica regionalmente ou, por
setor, tratando aglomerados industriais como um bloco homogêneo e integral, ignorando
suas diversidades internas. As diversidades internas dos aglomerados e as estratificações
entre empresas não são captadas, o que torna tais iniciativas pouco eficientes e, muitas
vezes, ineficazes. Um dos efeitos desse tratamento às atividades econômicas é que muitas
empresas não conseguem se capacitar para serem incluídas em tais programas. Estas
acabam perdendo competitividade e, em último caso, sendo excluídos do mercado. Para
outras, tais iniciativas não satisfazem suas necessidades ou não contribuem para que elas
superem suas barreiras organizacionais e tecnológicas.
Como destaca Harrison (1994), por trás do fenomenal crescimento recente de certos
pólos industriais, tidos como receita de sucesso para o desenvolvimento econômico local e
regional, foram geradas substanciais desigualdades entre as empresas envolvidas, com
fortes reflexos na divisão do trabalho e na geografia local. Citando os casos do Vale do
Silício e dos distritos industriais italianos, Saxenian (1994) mostra que empresas situadas
no núcleo desses aglomerados, intensivas em tecnologia, contam com atribuições de mais
alto nível, pagando maiores salários e amplos benefícios, como planos de saúde familiar. Já
aqueles trabalhadores de empresas fornecedoras de insumos ou de serviços terceirizados,
mesmo trabalhando dentro das mesmas unidades industriais dos primeiros, recebem
salários muito menores e, praticamente, sem qualquer tipo de benefício. Como resultado,
observa-se uma estratificação na ocupação do espaço urbano, com a proliferação de
de Sistemas Tecnológicos e Trajetórias Tecnológicas (Carlssom et al., 1997), com a tecnologia sendo tratada
em termos globais. A questão territorial não é tocada.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 176
verdadeiros guetos em áreas periféricas, ocupados por trabalhadores de baixa renda
(geralmente imigrantes latinos e asiáticos), e a criação de condomínios de alto padrão
próximos às empresas dominantes.
Em um artigo clássico, Pavitt (1984) propôs uma tipologia geral para classificação
da indústria em quatro tipos distintos, de acordo com sua fonte predominante de inovação
tecnológica: (i) Setores dominados por fornecedores; (ii) Fornecedores especializados; (iii)
Indústrias intensivas em escala; e, (iv) Setores baseados em tecnologia. Estes tipos
correspondem aos meios com os quais (e onde), o conhecimento é acumulado e utilizado
na inovação.
Posteriormente alguns autores propuseram alterações na classificação original de
Pavitt (op.cit.), como, por exemplo, acrescentar um quinto setor baseado em informações,
representado principalmente por Bancos e firmas correlatas, bastante impulsionado pelo
processo de globalização financeira. O Quadro 5.3 resume esta classificação.
A interação entre setores na abordagem de Pavitt sugere a presença de um difusor
de inovações, que beneficiaria ambos setores usuários e fornecedores. Estes “linkages”
intersetoriais dentro de indústrias são a chave da acumulação de vantagens competitivas de
regiões e nações (De BRESSON, 1989; PORTER, 1989).
Quadro 5.3 - Classificação tecnológica de firmas
Classificação das Firmas
Características
Setores típicos
Principais
fontes de
acumulação
tecnológica
Principais
canais de
transferência
tecnológica
Dominadas por
fornecedores
Agricultura,
construção civil,
serviços privados,
manufatura
tradicional.
Fornecedores
Compra de
equipamentos e
serviços correlatos
Intensivo em Intensivo em Baseado em
escala
informações tecnologia
Aço, vidro,
Bancos e
Eletrônica,
Automóveis,
Financeiras
química.
Bens consumo
vendas a
duráveis
varejo.
Fornecedores
especializados
Bens de capital,
Instrumentos,
software.
Indústria de
transformação
Desenho e
desenvolviment
o
Softwares
corporativos
e eng. de
sistemas
Compra de
Compra de
equipamentos e equipamentos
licenças de
e software
know-how
Fonte: Baseado em Pavitt (1984: 360-1, Tabela 29.1)
P&D,
corporações
Engenharia Treinamento de
reversa;
usuários
P&D;
avançados
cientistas e
engenheiros.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 177
Entretanto, a taxonomia proposta por Pavitt (1984), e suas derivações, passaram a
ser criticadas por adotarem uma visão muito geral e estática dos padrões industriais,
omitindo fluxos dinâmicos entre setores e as especificidades intra-setoriais (ver
MYLTELKA, 2000).
De um ponto de vista mais microeconômico, Williamson (1985) afirma que, quanto
maior for o volume de custos transacionais de uma empresa, maior será sua rede de
contratos (nexus of treaties), e que estes, por sua vez, levariam as empresas a investir em
novas soluções (inovações) de modo a reduzir tais custos.
Investir em novas soluções implica em buscar alternativas organizacionais e
tecnológicas viáveis, o que por outro lado, requer redução da incerteza e, por
conseqüência, diminuição também do risco do investimento (COASE, 1937). Em outras
palavras, investir em mais organização e tecnologia requer processos e produtos mais
homogêneos, o que passa pela redução da distribuição de freqüências de fatores aleatórios
(erros), que ocasionam desperdícios de custos e tempo13.
Assim, de maneira simplificada, podemos considerar que quanto maior for o
volume de informações documentadas, maior será a necessidade de formalmente organizálas; não somente em nível da produção (gestão e funcionamento), como da própria
inovação em si (geração e aplicação). Conseqüentemente, quanto mais organizada for a
atividade de resolução de problemas, teoricamente, maior será a contribuição da própria
firma à tecnologia em uso.
No decorrer de um certo período, este processo proporcionaria uma passagem
gradativa de um nível de adaptação tecnológica para um nível de geração de tecnologia
própria (adaptada). Em outras palavras, quanto mais uma firma se organiza, mais o
balanceamento entre fontes externas e internas tende para o lado interno (ZAWISLAK,
1994).
Na passagem do artesão para a grande indústria, ou de uma empresa menos
organizada para uma mais organizada, existe um processo de despersonalização da
atividade organizacional da “inovação”, e esta despersonalização exige o estabelecimento
de uma estrutura de gestão que administre tal processo.
13
Para mais detalhes a esse respeito, vide Capítulo anterior.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 178
Tomando-se como referência sistemas produtivos que se enquadrem no paradigma
taylorista de divisão do trabalho, utilizando-se como variável proxy o grau de
documentação de uma firma pode-se analisar o aumento do nível de organização de uma
firma. Com o crescimento da organização, o volume de rotinas documentadas também
aumenta, e com o aumento do grau de documentação, as estruturas (organizadas) tendem a
se tornar cada vez mais despersonalizadas, em detrimento da participação dos indivíduos
em novas soluções. Por outro lado, é possível encontrar uma maior participação das fontes
internas na geração da nova tecnologia específica à empresa (ZAWISLAK, 1994).
A partir de estudos empíricos nas indústrias de calçados e aeronáutica no Sul do
Brasil, Zawislak (op.cit.) mostra que neste processo, há uma mudança no peso relativo da
participação dos indivíduos (trabalhadores) e das estruturas organizadas (diversos
departamentos internos de uma firma), em relação à quantidade de novas soluções
realizadas pela firma em seus processos e produtos.
Pelo Gráfico 5.1, pode-se observar que, na medida em que aumenta o grau
de “documentação” (informação organizada segundo certos critérios) da empresa, ocorre
uma substituição da participação relativa de cada um dos elementos considerados (SOLmo
e SOLorg), no total de novas “soluções” de uma firma.
Legenda: SOLmo - Participação da soluções originadas da mão-de-obra no total de soluções de uma empresa
SOLorg - Participação da soluções originadas da estrutura organizada no total de soluções de uma empresa
1 --- 5 - Tipos de estruturas segundo o grau de documentação
Gráfico 5.1 - Diferentes trajetórias de organização da atividade de inovação
(Zawislak, 1994)
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 179
Por “soluções originadas da mão-de-obra” (SOLmo) entende-se àquelas soluções
essencialmente de ordem técnica e incremental, adicionadas de forma irregular e informal
à tecnologia original. Nestes casos, é muito mais difícil se encontrar inovações stricto
sensu. O que se vê são adaptações que, no entanto, permitem o bom funcionamento da
tecnologia original (tecnologia de base) e, eventualmente, uma modificação mais sensível
no corpo tecnológico original (ZAWISLAK, 1994).
À medida que o grau de organização da empresa aumenta, ela estará mais
capacitada a contribuir com inovações, ou seja, teoricamente isto deve ocorrer
proporcionalmente ao seu grau de documentação. Uma maior organização permite um
maior domínio da tecnologia de base, bem como um maior conhecimento das necessidades
específicas da empresa. A conjunção de ambos é o pano de fundo para novas soluções. A
constatação desse tipo de fenômeno pode ser feita pela análise da variação do peso relativo
das diferentes fontes de tecnologia de uma empresa. Quanto mais organizada ela for, mais
apta estará para efetuar sua própria contribuição à tecnologia em uso, isto é, mais
modificações específicas esta empresa poderá inserir na tecnologia adquirida. Uma
tipologia para essa proposta é mostrada no Quadro 5.4.
Quadro 5.4 - Classificação de atividades de inovação dentro das firmas
Tipo
1
Documentação
Realização de
ordens de serviços
Soluções Org.
Quantidades
produzidas
Realização de fichas Qualidade do que é
técnicas
produzido
Balanceamento da
Programação e
3
produção
controle da
produção (PCP)
Instrução de
Soluções de
4
fabricação
engenharia
Relatórios
Soluções de P&D
5
completos de P&D
Fonte: Zawislak (1994)
2
Soluções MO
Perda de poder
sobre as
quantidades
Perda de poder
sobre a Qualidade
Perda de poder
sobre o tempo de
execução
Perda de poder
sobre a técnica
Simples atividade
de execução
Tipo de empresa
Pequena empresa
intensiva em MO
PME intensiva em
MO
Grande empresa
intensiva em MO
Empresas intensivas
em capital
Empresas intensivas
em tecnologia
MO – Mão-de-Obra
Essa estratificação representa uma visão bastante rígida da forma como o processo
de inovação irá se organizar e de sua influência no conjunto da empresa. Mas tais relações
servem justamente para reforçar a idéia de que, a cada tipo de organização da atividade de
inovação (de 1 a 5), a empresa deverá gerenciar a produção da tecnologia de modo
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 180
diferente, utilizando instrumentos adaptados à passagem de um extremo ao outro, ou seja,
adaptadas à despersonalização da atividade respectiva.
Dessa forma, para cada tipo de organização, existirá um balanceamento próprio
diferente entre fontes externas e fontes internas de tecnologia. O tipo 5, reflete uma firma
que estará adicionando características tecnológicas próprias à tecnologia absorvida
originalmente. Em suma, quanto mais próximo de uma estrutura de P&D (tipo 5) estiver
uma empresa, maior será o seu volume de documentos e menor será a participação dos
trabalhadores na realização destes documentos e das novas soluções. Nestes termos, quanto
mais próximo de P&D, mais explícita é a necessidade de gestão da inovação tecnológica.
No entanto, as estruturas menos organizadas não necessariamente dispensam a gestão da
inovação, embora esta seja conduzida de modo diferente.
“Este processo é uma constatação não-histórica, mas é igualmente pertinente a
estruturas ou ao momento histórico do paradigma tecnológico e organizacional fordista. O
aumento de participação de estruturas impessoais, em detrimento da dos indivíduos nas
atividades de rotina, é o resultado da divisão do trabalho, tanto do ponto de vista funcional,
como social e internacional, e do uso de técnicas tayloristas de organização do trabalho”
(ZAWISLAK, 1994).
Tal classificação, entretanto, não permite traçar nenhum paralelo entre o ambiente
organizacional interno da firma e sua posição competitiva no seu setor ou mercado, nem
estabelecer uma relação desta classificação com a competitividade da firma.
Outra ressalva que pode ser feita à abordagem descrita anteriormente diz respeito a
sua inadequação a estruturas organizacionais fortemente baseadas no conhecimento, que
não se enquadram no paradigma fordista/taylorista de divisão do trabalho. Além disso, as
sinergias e interações entre firmas variam de acordo com o mercado, o setor econômico em
questão e o modo pelo qual a atividade de inovação acontece.
O Quadro 5.5 mostra uma proposta de adaptação da classificação de Zawislak
(op.cit.), associada às características de segmentação do mercado (SOUZA & ARICA,
2001).
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 181
Quadro 5.5 - Tipologia de firmas segundo a segmentação do mercado
TIPO
1
2
Foco
estratégico
Quantidades
produzidas
Influência da MO
nas decisões
Inversamente
proporcional às
Quantidades
produzidas
Qualidade do
Inversamente
produto
proporcional à
qualidade do produto
Inversamente
proporcional ao
tempo de execução
das tarefas
Engenharia
Inversamente
4
proporcional ao
aumento da
complexidade do
produto
P&D
Mero executor de
5
tarefas
Fonte: Souza & Arica (2001)
3
PCP
Característica
interna
Micro, reduzida
MO, Ramo:
comércio e
serviços
Pequena e Média,
intensiva em MO
Ramo: comércio,
serviços
Grande, intensiva
em MO
Ramo: pequena
indústria
Intensivas em
capital
Ramo: Média e
grande indústria
Característica do Mercado
Pouca concorrência. Excesso
de demanda ou nichos
inexplorados,
FD*: preço
Poucos concorrentes,
segmentado. Excesso de
demanda
FD: Preço, Custos
Forte concorrência,
FD: custos e qualidade do
produto
Concorrência pela capacidade
de inovação
FD: custos, qualidade,
flexibilidade e confiabilidade
do produto
Intensivas em
FD: idem + novidade e
tecnologia
inovação
FD: Fator determinante da competitividade
A partir de uma visão evolucionária dos processos de inovação de longo prazo,
Fujimoto (2001), propôs uma tipologia original para classificação das atividades, rotinas e
padrões organizacionais de empresas. Neste caso, o foco central da análise é nas trajetórias
de processos de inovação de grande escala, que criam novos e competitivos sistemas de
manufatura entre si (como os sistemas Ford e Toyota de produção). Esta proposta inclui
uma análise baseada em conjuntos de rotinas organizacionais e padrões técnicos
previamente definidos, para a qual, o autor propõe o conceito de “sistemas emergentes de
multi-trajetórias”.
Entre os conceitos evolucionários considerados nesta abordagem estão: (i) retenção
- associado à idéia de rotinas, conhecimento tácito e informações retidas ou apropriadas
por grupos ligados diretamente à execução de certas tarefas; (ii) variação - vinculado ao
conceito lamarckiano de adaptação de certas rotinas através de feedbacks com o ambiente,
mesmo que imperfeitamente; e (ii) seleção - firmas com baixa performance podem ser
eliminadas da competição pelos mercados, considerando, entretanto que, sendo
pressionadas a se aperfeiçoar e a mudar suas rotinas no longo tempo estas firmas ainda
conseguem permanecer no mercado por algum tempo.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 182
A tipologia de Fujimoto (2001) divide as classes de rotinas e capacidade
organizacionais em três níveis diferentes:
1) Capacidade de manufatura rotinizada – um conjunto de rotinas organizacionais que
afetam o desempenho competitivo em uma determinada posição;
2) Capacidade de aprendizagem rotinizada - um conjunto de rotinas organizacionais que
afetam o ritmo das melhorias contínuas, bem como, assimilação rápida em momentos
críticos e a recuperação do ritmo normal;
3) Capacidade de aprendizagem evolucionária – habilidades e capacidades não rotinizadas
que afetam o desempenho das outras capacidades.
Adicionalmente, como “capacidades auxiliares”, o autor indica que devem ser
avaliados padrões que caracterizem as atividades organizacionais mais básicas, como a
identificação de problemas, suas soluções, e a retenção (aprendizagem e aplicação) das
soluções obtidas. O que implica na necessidade do estudo dos padrões técnicos e das
rotinas organizacionais14.
O Quadro 5.6 mostra um resumo da tipologia proposta por Fujimoto (op.cit.).
Quadro 5.6 - Classes de capacidade de manufatura
Classes organizacionais Característica
Influência
básica
Estática e
No nível de
Capacidade de
desempenho
manufatura rotinizada rotineira
competitivo
Dinâmica e
Nas mudanças
Capacidade de
rotineira
ou recuperação
aprendizagem
do desempenho
rotinizada
competitivo
Dinâmica e
Mudanças nos
Capacidade de
não rotineira
padrões de
aprendizagem
rotinas e
evolucionária
capacidades
Fonte: Fujimoto (2001)
14
Interpretação
Padrão do sistema de informação, específico a
cada firma, em termos de eficiência e precisão
na transmissão de informações repetitiva.
Habilidade específica a cada firma, de
manipular ciclos de solução de problemas
repetitivos ou um padrão rotinizado de
mudanças no sistema.
Habilidade de manipular sistemas emergentes
ou padrões não rotinizados de mudanças no
sistema, criando capacidades de definição de
novas rotinas.
Para uma discussão resumida do conceito de “rotinas organizacionais”, ver Reynaud (2000). Um
tratamento mais denso e elaborado sobre o conceito de “rotinas” na abordagem evolucionária encontra-se no
trabalho pioneiro de Nelson & Winter (1982). Vide Capítulo anterior.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 183
5.4 Uma proposta para a análise da estratificação tecnológica em arranjos produtivos
locais
Como já mencionado, a abordagem de Zawislak (op. cit.) permite uma classificação
das firmas de acordo com seu estágio de organização documental e sugere que este esteja
vinculado ao tamanho e às atividades essenciais desenvolvidas pela firma. Contudo,
pressupõe um ambiente estático, e não leva em consideração sua contextualização no
ambiente. Como estas firmas se comportam e qual seu posicionamento no ambiente
competitivo e em relação ao setor e à região onde atuam?
Como verificado por Abramovitz (1986), através da análise do crescimento da taxa
de produtividade em diversos países, um fenômeno que ocorre em ambientes econômicos
competitivos é a estratificação em grupos.
Assumindo um ambiente evolutivo, onde as firmam nascem, crescem e morrem,
Abramovitz (op.cit.) propôs uma classificação de países de acordo com sua capacidade de
desenvolver e se apropriar de conhecimentos científicos e inovar tecnologicamente. Nesse
trabalho, foi verificado que as taxas de crescimento da produtividade entre países
industrializados tendiam a variar inversamente com seus respectivos níveis de
produtividade. Especificamente, aqueles de menor produtividade tendiam a ter uma taxa de
crescimento da produtividade maior que os que apresentavam produtividade maior. Esta
classificação divide os países em três grandes grupos, de acordo com seu domínio e
postura tecnológica, respectivamente, os inovadores, os imitadores (ou seguidores) e “os
que ficam para trás”. Ou, como na denominação original: forging ahead, catching-up e
falling behind. Esta abordagem, bem difundida na literatura sobre inovação e progresso
técnico, é geralmente referida como “perspectiva catching-up” (FAGERBERG, 1995;
FREEMAN & SOETE, 1997; CIMOLI, 1998; MYTELKA, 1998; SOUZA & ARICA,
2001).
Utilizando essa mesma abordagem, Cimoli (1998), em um interessante trabalho,
propõe uma vinculação da perspectiva catching-up de países com a estrutura e dinâmica
dos Sistemas Nacionais de Inovação.
Mytelka (1998), por sua vez, adota uma tipologia semelhante para estratificar as
estratégias de inovação e características das firmas quanto às capacidades, tipos de
conhecimento crítico, parcerias e objetivos políticos requeridos no processo de
aprendizagem e inovação.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 184
Aqui, assume-se que, no processo competitivo de mudança tecnológica em
determinados arranjos, ocorre um processo de estratificação de firmas semelhante à
perspectiva catching-up de países. Nesse sentido, conforme proposto por Souza e Arica
(2001), pode-se considerar a estratificação tecnológica de firmas, segundo suas
características de desempenho e seus respectivos “graus de evolução tecnológica interna do
arranjo”, da seguinte forma:
A – Forging ahead - compreende aquelas que “pulam na frente” do processo tecnológico e
organizacional e se mantêm como as mais competitivas no seu respectivo mercado. Estas
desenvolvem e dominam conhecimentos específicos e geram, a partir destes, adaptações e
melhorias técnicas e organizacionais próprias, incluindo inovações incrementais, de acordo
com as exigências do mercado, antecipando tendências de produtos através de
benchmarking externo com unidades similares de outros arranjos. Competem
externamente, imitando, adaptando e assimilando tecnologia externa, desenvolvendo
soluções próprias. Despontam no cenário competitivo loca/regional/setorial, sustentando
suas vantagens competitivas.
B – Catching-up - caracterizado por aquelas que buscam acompanhar o processo evolutivo
tecnológico e organizacional das empresas líderes (Grupo A), porém não dominam
soluções técnicas, ou dominam, mas não têm competência de convertê-lo em tecnologia
útil e desempenho competitivo. Apesar de absorvem tecnologias externas, não geram
soluções
próprias,
porém,
conseguem se
destacar
comercialmente
em alguns
segmentos/setores/regiões. Não investem em melhorias substanciais, concentrando-se em
adaptar e desenvolver produtos substitutos (por exemplo, através de engenharia reversa e
imitações simples), e não chegam a liderar por restrições de competência interna.
C – Falling Back - Este grupo caracteriza empresas que não conseguem acompanhar o
avanço tecnológico e as exigências do mercado, competem principalmente pelo preço e
tendem a se tornar cada vez mais defasadas tecnologicamente e “desaparecer” da arena
competitiva, perdendo a parcela mais significativa do seu mercado. Estas tenderiam a ser
meros clientes de tecnologias maduras e, seguindo nesta trajetória, estariam fadados a
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 185
pagar um preço cada vez mais alto por isso, com tendência de serem excluídas do mercado.
Na prática, muitas vezes acabam encontrando uma saída temporária na exploração de
nichos de baixo poder aquisitivo e tecnologias com demanda decrescente ou já em fase de
obsolescência, porém com mercado restrito.
De maneira análoga, assumindo condições semelhantes e adotando-se métodos de
análise competitiva, como, por exemplo, o Modelo de Porter, e a análise de agregação de
valor (por exemplo, Cadeia de Valor), tal hipótese pode ser testada em arranjos produtivos
locais15.
Essa abordagem, de certa forma, conjuga a taxonomia das estratégias da firma
diante de mudanças técnicas no ambiente, proposta por Freeman & Soete (1997). Tal
taxonomia divide as estratégias da firma em “inovativas ofensivas”, “inovativas
defensivas”, “imitativas dependentes” e “oportunistas tradicionais” (ver op.cit., Capítulo
11). Por outro lado, a abordagem proposta também resgata a idéia porteriana de
“agrupamentos estratégicos16”, porém de um ponto de vista local e dinâmico.
Miles et al. (1978) também já indicava uma taxonomia para diferentes estratégias
adotadas pelas empresas dentro de uma indústria ou segmento industrial, no caso,
defensores, prospectores, analisadores e reagentes.
Leontides (1982, apud HAWES & CRITTENDEN, 1984), por exemplo, descreveu
três tipos amplos de estratégias de negócios adotadas pelas firmas, que seriam as
“defensivas”, as “ofensivas” e as “de vanguarda” 17.
15
Aqui, o ambiente competitivo é analisado apenas em termos locais. Obviamente que, em graus variados, as
empresas disputam mercados com unidades de outros arranjos, porém, se supõem que tal concorrência
também se dê de forma mais acentuada por grupos estratificados. Essa é uma questão que está incluída nas
hipóteses consideradas na abordagem e será alvo de exploração futura.
16
“Uma indústria, pode assim ser vista como sendo composta de... grupos de firmas, onde cada grupo
consiste de firmas seguindo estratégias similares em termos das variáveis de decisão chave... Eu defino tais
grupos como grupos estratégicos. Firmas, dentro de cada grupo, se assemelham umas às outras em termos de
estratégias... Entre grupos, entretanto, a situação é diferente” (Porter, 1979: 215, apud Hawes & Crittenden,
1984).
17
A qual, poderia ser considerada uma redução da taxonomia de Freemam & Soete (1997), obra publicada
pela primeira vez em 1974.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 186
Segundo Hawes & Crittenden (1984), o desenvolvimento do conceito de “grupos
estratégicos” foi uma importante contribuição para o entendimento do comportamento das
firmas.
Este entendimento avançou bastante na direção da identificação e análise de fatores
externos, de mercado, que condicionam o comportamento das firmas. Entretanto, ainda
permanece aberta a questão dos fatores internos da firma que emulam sua capacidade,
competências, estratégias e comportamento em vários setores industriais (ver, por
exemplo, CARLSSOM et al., 1997; ALBINO et al., 1999; BRAGLIA & PETRONI, 2000;
SQUAZZONI & BOERO, 2002).
Na abordagem proposta utilizar-se-á como referencial endógeno, procedimentos
operacionais-padrão (POP’s), padrões técnicos e organizacionais e as rotinas da empresa18.
Neste caso, as classificações de Zawislak (1994), Souza & Arica (2001) e Fujimoto (2001),
servirão de referência para a elaboração de uma tipologia específica para o caso estudado.
A seguir, adotando-se a abordagem proposta, um arranjo típico local é utilizado
para uma demonstração de sua aplicação e análise.
5.5 Considerações preliminares sobre a mudança tecnológica em arranjos produtivos
locais: o caso do pólo de cerâmica vermelha do Norte Fluminense
5.5.1 Análise geral e contextualização do arranjo
Os dois principais pólos da atividade de manufatura de cerâmica vermelha no
Estado do Rio de Janeiro são os aglomerados de Campos e de Itaboraí-Manilha. Um
terceiro aglomerado, com grande crescimento nos últimos anos, encontra-se no município
de Três Rios.
O pólo da baixada campista, em termos da economia local, responde por cerca de
5% dos postos de trabalho da população economicamente ativa do município, o que
representa algo em torno de 5000 empregos diretos, distribuídos nas cerca de 110
cerâmicas do setor. Além da relevância em termos da economia local, associada ao
18
Por razões técnicas e metodológicas, neste caso, Rotinas e POP’s serão assumidos sob o mesmo conceito,
apesar das diferenças existentes entre ambos, como destacado no Capítulo 4.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 187
segmento, há uma forte conotação social e ambiental vinculada à atividade, devido às
precárias condições de trabalho e ao impacto ambiental provocado (SILVESTRE, 2001).
Quanto à educação formal, a grande maioria dos trabalhadores do setor não
consegue ocupação em atividades mais dinâmicas como o comércio varejista local. Muitos
deles são provenientes do setor agrícola da cana-de-açúcar, quando dos períodos de
entressafra. Neste sentido, o setor funciona como uma “válvula de escape” do setor
sucroalcooleiro local, contribuindo para regular o quadro de mobilidade da mão-de-obra
regional.
No aspecto ambiental, o desenvolvimento de programas de recuperação e de
zoneamento de áreas de exploração são fundamentais para garantir a sustentabilidade
futura da atividade e das comunidades locais.
Por outro lado, a escolha do Pólo de Cerâmica Vermelha de Campos para este
estudo justifica-se, em primeiro lugar, pelo fato deste segmento da atividade econômica
local apresentar características similares às da maioria dos aglomerados não-intensivos em
tecnologia de microrregiões periféricas do Brasil, entre as quais, pode-se destacar: a baixa
produtividade, mão-de-obra pouco qualificada, produtos de baixo valor agregado,
processos produtivos rudimentares etc (SILVESTRE, 2001).
De uma forma geral, excetuando algumas características dinâmicas, poder-se-ia
afirmar que este segmento encontra-se em um ciclo vicioso, determinado, basicamente,
pela competição pelo preço, pela incapacidade de incorporar tecnologias mais avançadas, e
pela dificuldade de explorar novos mercados.
Porém, algumas “janelas de oportunidade” podem ser vislumbradas, já exploradas
em aglomerados ceramistas locais de outras regiões, como em Seto (Japão) (ver IZUCHI
1997), Sassuolo (Itália), Castellón (Espanha), Criciúma e Blumenau (Santa Catarina), de
cerâmica de revestimento (ver MEYER-STAMER et al., 2001); e Itu e região (São Paulo),
de cerâmica estrutural.
A disponibilidade do gás natural na região Norte Fluminense, e sua respectiva
tecnologia de queima como combustível nos processos produtivos de diversos setores
industriais, grosso modo, representam uma fonte exógena de mudança tecnológica, pois
pode ser adquirida e implementada, desde que provada sua viabilidade técnica e
econômica. Porém, para viabilizar sua implementação, diversos fatores endógenos estão
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 188
envolvidos, como a estrutura organizacional, a eficiência do processo, a logística e o
padrão de concorrência, a estrutura de custos, competências etc.
O processo tradicional, de queima à lenha, está baseado em um modelo de processo
produtivo cuja estrutura de custos e cadeia de valor específica, apesar de fundamentais do
ponto de vista do padrão da competição local no curto prazo, mostra-se saturado do ponto
de vista tecnológico e de novos mercados. A tecnologia atual impossibilita a diversificação
de produtos (como telhas e revestimentos) devido a limitações técnicas inerentes ao
processo de queima a lenha (temperatura, uniformidade etc.). Devido a estas restrições
técnicas, outros fatores de aumento da competitividade, como o mix de produtos, a
qualidade, a diferenciação, novos mercados, entre outros, praticamente inexistem com a
tecnologia de queima a lenha.
Uma característica específica do segmento é que o mercado para tijolos e blocos
cerâmicos é pouco exigente quanto à uniformidade, resistência, textura e outros atributos
aparentes do produto. Neste mercado, o preço é quase o único diferencial. Como o
processo não possui muitas etapas de transformação (compreende basicamente extração,
corte, moldagem e secagem) não há margens suficientes para diluição dos custos, assim,
qualquer elevação nos custos é, inexoravelmente repassada aos preços.
Contudo, a mudança tecnológica envolvida na implementação da queima a gás
natural não pode ser analisada somente pelo ponto de vista dos custos, pois esta
possibilitará a transformação de toda, ou de grande parte, da cadeia de valor e da
configuração organizacional da indústria local. Se por um lado, esta mudança eleva os
custos do processo produtivo, e comparativamente seria hoje “menos lucrativa” em relação
à lenha, por outro, permitiria outra carteira de produtos, com novas margens de lucros e a
abertura de novos mercados, representando, assim, um processo de mudança tecnológica e
inovação local.
Neste sentido, a implementação do gás natural no segmento de cerâmica vermelha
na região Norte Fluminense, por exemplo, não deve ser vista com base na estrutura
produtiva atual (com o insumo lenha), o que certamente se revelará inviável
economicamente para muitas unidades (como já verificado para alguns casos, por estudos
de viabilidade do Instituto Nacional de Tecnologia - INT). Ela deve levar em consideração
a trajetória competitiva do setor e a dinâmica dos mercados consumidores e dos produtos
substitutos e dos novos produtos.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 189
A princípio, através da mudança do processo produtivo e dos produtos, os fatores
para viabilizar a implementação do gás estariam mais nas mãos dos próprios empresários,
através de um maior controle sobre o processo, aumento da eficiência, redução do
desperdício de matéria prima, novos produtos, novos mercados etc., do que externamente,
através de políticas públicas de incentivos. Porém, do pondo de vista do desenvolvimento
socioeconômico local, em um período de transição e adaptação, uma concentração maior
de esforços pode ser fundamental para superar barreiras históricas dos efeitos de
dependência da trajetória e o ciclo vicioso em que se encontra a indústria. Neste caso,
incentivos específicos a certos grupos (admitindo-se uma estratificação) podem representar
um fator fundamental para encorajar e impulsionar à mudança e possibilitar um salto
tecnológico e de qualidade na indústria, considerando as diversidades do meio.
A escolha do pólo de cerâmica vermelha de Campos-RJ é paradigmática. Devido a
suas características quase artesanais, em termos tecnológicos o aglomerado pode ser visto
como um “enclave de atraso tecnológico”. Este seria como um “pior caso”, para se
observar e verificar aspectos da dinâmica evolucionária em aglomerados locais. Com isso,
acredita-se que, inclusive, adicionalmente, possam surgir contribuições conceituais para a
abordagem de micro-sistemas evolucionários “quase-estáticos”.
Nesse aspecto, algumas questões sobressaem: Se há um processo de estratificação
tecnológica, quais seus reflexos na estrutura do segmento? Qual a configuração desta
estratificação? Qual o impacto da inserção do gás natural nessa estratificação? Quais os
critérios que caracterizam o grupo dos mais aptos e mais competitivos, os intermediários e
os mais defasados? Qual a influência dos efeitos, e as principais características, da
“dependência da trajetória?” Quais as alternativas mais apropriadas para atenuar seus
efeitos?
5.5.2 Um esboço de aplicação da abordagem proposta
O impacto da mudança tecnológica provocada pela implementação do gás natural,
em comparação à queima a lenha, pode ser avaliado através da identificação e análise dos
padrões técnicos de ambas as tecnologias, considerando–se também um sistema híbrido, de
transição de uma para outra tecnologia.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 190
Através de uma variável referencial, a tecnologia, conceitualmente considerada
como “uma forma de fazer as coisas”, pode-se estabelecer uma taxonomia do “nível
tecnológico”, a partir da diferenças nos padrões técnicos identificados no sistema
produtivo.
Na análise, dois referenciais são estabelecidos: (i) um exógeno, representando a
contribuição externa para a mudança tecnológica, como por exemplo, incentivos
governamentais, recursos naturais etc; outro, (ii) endógeno, representando fatores internos,
como por exemplo, a competência no processo de adaptação da tecnologia, esforços
próprios à empresa, contribuições técnicas, etc, para melhor caracterizar o balanço entre
fontes externas e internas na mudança tecnológica. Também se propõe o estabelecimento
um “índice de desempenho”. Neste caso, devido a pouca dinâmica competitiva e à
verticalidade do processo produtivo, uma alternativa é considerar algum critério de
produtividade.
A partir desta estrutura metodológica, pretende-se estabelecer vínculos entre os
fatores de mudança tecnológica e seus efeitos na estrutura do arranjo.
Dessa forma, espera-se que programas específicos de apoio e incentivos e políticas
e estratégias de benchmarking e up-grading tecnológico e organizacional, possam ser mais
precisos e adequados às características de cada grupo de empresas identificado na
estratificação.
Na Seção seguinte apresenta-se uma metodologia proposta para o estudo da
estratificação tecnológica e das trajetórias competitivas em arranjos produtivos locais.
5.6 Uma proposta metodológica para o estudo da estratificação tecnológica e da
trajetória competitiva em arranjos produtivos locais
5.6.1 Pesquisa empírica
Nesta etapa, pretende-se caracterizar um segmento industrial específico,
identificando os fatores de formação da competitividade e a estratificação de grupos com
competências específicas. No caso, para o Pólo de Cerâmica Vermelha de Campos-RJ.
A metodologia pressupõe uma etapa prévia de levantamento de informações e
dados gerais sobre a atividade, o processo produtivo, a organização industrial do arranjo
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 191
para identificação e definição das trajetórias e regimes tecnológicos a serem considerados.
A hipótese da estratificação é testada como um passo inicial, uma condição prévia para que
possa existir uma certa trajetória.
As etapas da metodologia proposta são apresentadas a seguir.
5.6.1.1 Etapas da metodologia
1) Definição de uma amostra representativa da diversidade tecnológica no arranjo;
2) Levantamento de uma cadeia-padrão de valor (qualitativa) do arranjo;
3) Identificação de regimes tecnológicos e padrões técnicos e organizacionais pela
análise das diversidades e similaridades qualitativas nas cadeias de valor;
4) Estabelecimento e levantamento de índices de “recursos” e de “desempenho”;
5) Plotagem dos dados com a correlação entre os índices levantados no item anterior;
6) Análise da estratificação e agrupamentos;
7) Cálculo da taxa de variação do índice de desempenho em função do índice de
recursos técnicos.
5.6.1.2 Detalhamento de cada etapa
1) Levantamento e coleta de amostras de unidades representativas dos diferentes
regimes tecnológicos considerados no arranjo;
1.1) Reunir, proporcionalmente, as amostras representativas de cada um dos
regimes tecnológicos (RTn)19, para o segmento da trajetória competitiva
considerado para o sistema (arranjo).
1.2) Identificação dos padrões técnicos nos regimes considerados;
1.3) Análise de agrupamentos e homogeneidade de padrões técnicos;
19
RTn – Regimes tecnológicos, representam segmentos na trajetória tecnológica considerada (Vide Capítulo
4). No caso: n = {1,2,3}; RT1 = [lenha]; RT2 = [regime misto]; RT3 = [gás].
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 192
2) Levantamento da Cadeia-Padrão de Valor do Segmento.
2.1) Assume-se que, em havendo uma estratificação, esta se refletirá em variações
na estrutura da cadeia de valor das empresas. Esta hipótese baseia-se na constatação
(difundida por Porter, entre outros autores), de que as raízes da competitividade
estão refletidas na cadeia de valor da empresa (ver, por exemplo, PORTER,
1989:51-65).
2.2) Para se verificar as variações nas cadeias de valor, pode-se estabelecer como
referencial, uma cadeia-padrão20, a partir de uma análise qualitativa da estrutura
produtiva do arranjo e do perfil do mercado em questão. Veja uma ilustração deste
procedimento na Figura 5.2.
Seqüência de processos de produção
Matéria-Prima/Insumos
insumos logística
interna
logística
externa
Transformação
capital
humano
finanças
Comercialização
informação
marketing. . .
(vendas)
Atividades de Gestão
CVA
CV padrão
CVB
CVC
Figura 5.2 – Exemplo simplificado de Cadeia-Padrão de Valor
20
Esta é uma generalização do conceito tradicional de cadeia de valor que, na realidade, é individual para
cada unidade empresarial. Aqui, não se intenta chegar aos custos específicos do processo de agregação de
valor aos produtos de cada unidade. O que se propõe é estabelecer quanto representa “qualitativamente” cada
etapa em relação ao valor final agregado aos produtos. Para se estabelecer uma estrutura padrão, será
assumida uma unidade típica do segmento.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 193
3) Análise das Diversidades e Similaridades Qualitativas nas Cadeias de Valor.
3.1 Em virtude da hipótese do item anterior, espera-se que a estratificação (se
confirmada), admita uma configuração do tipo forging ahead (A), catching-up (B)
e falling back (C) (SOUZA & ARICA, 2001), ou alguma variante dessa
conformação.
3.2 Admite-se que para cada um desses grupos estratificados, haja certos padrões, e
que estes, se refletem na cadeia representativa (Por exemplo, CA, CB, CC, na Figura
5.3).
Observação 3 - Na prática, serão analisadas as diferenças nas cadeias de valor
entre as empresas representativas de cada Regime Tecnológico (os RTn
considerados), e as características da cadeia de valor. Espera-se identificar fatores e
aspectos que apresentem padrões semelhantes dentro de cada regime tecnológico
considerado. No caso, CVA, CVB e CVC, corresponde respectivamente à RT1, RT2 e
RT3.
4) Estabelecimento de índices de “recursos” e de “desempenho” para a amostra
em questão21;
4.1) Índice de Recursos (IRT) – Posição definida em uma escala numérica gerada
a partir de uma taxonomia da evolução dos padrões técnicos, nos regimentos
tecnológicos considerados. Compreende as rotinas, os procedimentos técnicos e
organizacionais repetitivos e outras tarefas que caracterizam cada um dos regimes
considerados. Adicionalmente, podem também ser considerados critérios
subjetivos, característicos do processo produtivo (como, por exemplo, qualidade,
flexibilidade, rapidez), além de outras variações nos padrões técnicos e
organizacionais característicos de cada regime.
Observação 1 – Pode-se, por exemplo, utilizar como referência uma taxonomia
reunindo alguns dos critérios utilizados nas classificações de Zawislak (1994),
Souza & Arica (2001) e Fujimoto (2001), que devem ser convertidos em uma
escala numérica.
21
Para o detalhamento da modelagem dos índices para o caso pesquisado, vide Apêndice B.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 194
4.2) Índice de Desempenho (ID) – Posição definida em uma escala numérica, que
representa todo o espectro de desempenho das amostras consideradas. A
identificação das empresas posicionadas nos extremos define os limites da escala.
Observação 2 - No caso específico do Pólo estudado, pelo fato das características
do processo produtivo serem quase artesanais e, de um modo geral, o processo ser
pouco eficiente, assume-se que o fator mais representativo e consistente para este
índice, seja alguma medida de desempenho do processo produtivo (produtividade
[produção/mês], [produção/insumo], [produção/no. trabalhadores].
5) Plotagem dos dados
5.1) Para cada uma dos elementos da amostra (no caso, olarias e cerâmicas),
levantar os respectivos índices IRT e ID. O Gráfico 5.2 mostra uma ilustração para o
caso em questão. Assume-se que haja uma estratificação na amostra, e que esta, pode
ser captada através da correlação entre os índices de recursos e desempenho, definidos
anteriormente. A estratificação das unidades estabelecida por tal correlação definiria a
Trajetória Competitiva do arranjo, de acordo com os respectivos regimes considerados.
Na ilustração, RT1 (em azul), RT2 (em verde) e RT3 (em vermelho), conforme a notação
utilizada no Capítulo 4.
Estratificação Tecnológica
Índice recursos (irt)
Pólo Cerâmica Campos-RJ
5
4
3
2
1
0
0
1
2
3
4
5
Índice desempenho (id)
Gráfico 5.2 – Estratificação tecnológica hipotética no arranjo
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 195
6) Identificação e análise de fatores determinantes da estratificação e
agrupamentos.
7) Cálculo da taxa de variação do índice de desempenho em função do índice de
recursos técnicos (IDRTn / IRTRTn).
5.6.1.3 Agenda Futura
Admitindo-se a possibilidade de aplicação dessa metodologia a outros arranjos,
futuramente poder-se-á ter uma visão comparativa da evolução, tendências e defasagem
tecnológica existente entre diversos arranjos de regimes tecnológicos semelhantes.
No caso da cerâmica vermelha, por exemplo, como referencial comparativo, poderse-á utilizar uma amostra do aglomerado de Criciúma - Santa Catarina, o do Rio Grande
Norte ou o de Itu – São Paulo. Optou-se, neste caso, por tomar como referência o pólo de
Itu.
No Gráfico 5.3, apresenta-se uma simulação para o caso do Pólo da indústria de
cerâmica vermelha de Campos-RJ, usando como comparação o mesmo segmento de ItuSP.
Trajetória evolutiva
id/irt
cerâmica vermelha
7
6
5
4
3
2
1
0
Campos-RJ
Itu-SP
1
2
3
tempo
Gráfico 5.3 – Trajetórias evolutivas hipotéticas de dois arranjos locais
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 196
Na ilustração anterior (Gráfico 5.3), apresenta-se uma idéia do comportamento
esperado das trajetórias evolutivas de dois arranjos. Através da identificação de padrões e
rotinas associados a cada trajetória, espera-se poder estabelecer tendências e diferenças
pontuais (gaps tecnológicos22) existentes para os regimes tecnológicos considerados. Com
estudos específicos das dinâmicas competitivas de cada um e das variações nas estruturas
relativas de tecnologias, custos e de mercado, espera-se que possam ser identificados os
gargalos, os pontos críticos e deficiências estruturais, que expliquem as causas da
assimetria entre as trajetórias representadas e indiquem problemas específicos a serem
tratados.
5.7 Considerações finais sobre o Capítulo
Avanços no estudo do desenvolvimento econômico local e das novas organizações
produtivas industriais locais têm mostrado que há a necessidade de se desbravar uma nova
fronteira de pesquisa nesse campo. Neste caso, a visão tradicional de divisão dos
fenômenos econômicos em microeconomia e macroeconomia precisa ser substituída pela
visão de uma outra dimensão (mesoeconômica), vinculada especificamente aos aspectos de
localização, aglomeração e organização industrial e da economia regional. Esta dimensão
interage com as dimensões micro e macro do ambiente econômico, social e ambiental
(sendo condicionada por este), mas que não é captada pelas abordagens tradicionais.
Através das abordagens descritas nas seções anteriores, pode-se perceber a
importância do desenvolvimento de novos enfoques para análise e caracterização das
atividades tecnológicas tanto para firmas, setores, regiões e países. Inicialmente,
apresentou-se uma proposta de classificação do grau de organização interna da firma,
considerando a tecnologia como variável endógena, enfatizando a perda de poder relativo
da mão-de-obra nas soluções de problemas internos à organização, à medida que esta
documenta e organiza suas atividades.
A partir dos diversos conceitos desagregados e de adaptações de novas abordagens,
propôs-se analisar a competitividade em arranjos produtivos locais por uma visão
evolucionária. Como proposta metodológica, apresentou-se uma estrutura analítica para o
estudo de sistemas produtivos locais, com base em dois níveis de análise competitiva:
22
No caso, tais gaps representariam defasagens entre pontos específicos das trajetórias evolutivas dos
respectivos arranjos, considerando regimes tecnológicos similares, em um determinado momento no tempo.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 197
interno ou endógeno, referente à firma (organizacional) e externo ou exógeno, referente ao
arranjo (setor/local).
A viabilidade de aplicação desta metodologia foi verificada em um estudo campo
(no caso, o Pólo de Cerâmica Vermelha de Campos), o qual é descrito no próximo
capítulo. Como agenda de pesquisa futura, pretende-se estender tal abordagem a outros
arranjos, para que se possa estabelecer qual a relação entre o grau de evolução de certas
firmas e o estágio tecnológico em que estas e seu arranjo se encontram, através da análise
das suas respectivas trajetórias competitivas.
Cabe ressaltar, que a estrutura analítica proposta tanto pode ser aplicada
isoladamente como de forma complementar aos métodos mais gerais existentes para a
análise do desenvolvimento de regiões e localidades, como os modelos de análise
competitiva das “Cinco Forças” (PORTER, 1986), o “Diamante da Competitividade”
(PORTER, 1989), a abordagem de “Sistemas de Inovação” (EDQUIST, 1997), “Sistemas
Tecnológicos” (CARLSSON, 1997) e o modelo “Quatro R’s da lucratividade” (WINTER,
2000). Além disso, pode ser agregada à metodologia de estudo de Cadeias Produtivas (ver
HAGUENAUER & PROCHNIK, 2000), explorando a dinâmica interna das indústrias e os
fatores que sustentam a competitividade nos diversos segmentos envolvidos ao longo da
cadeia, o que não é coberto pela metodologia citada. Pode também ser vinculada ao
Planejamento Estratégico Regional e Local (ver SOUZA & ARICA, 2002b).
Por outro lado, devido à escassez de informações e dados desagregados, deve-se
levar em conta a dificuldade de se trabalhar com segmentos de cadeias e arranjos de pouca
densidade, principalmente com aqueles mais defasados em termos organizacionais e
tecnológicos. Para um levantamento inicial, diagnósticos do perfil técnico, econômico,
organizacional e mercadológico devem ser considerados, que podem ser complementados
pelo levantamento de informações diretas de dados primários.
5.7.1 Hipóteses da abordagem proposta
A base teórica da proposta se fundamenta em conceitos evolucionários. Nesse
sentido, algumas hipóteses, de um conjunto geral, estão subentendidas. O Quadro 5.7, a
seguir, resume tais hipóteses.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 198
Quadro 5.7 - Hipóteses da abordagem
Hipótese
Descrição
H1
A dependência da trajetória influencia a capacidade de absorção de novas tecnologias;
H2
A competição é condicionada por mecanismos de seleção;
H3
O domínio e utilização das tecnologias disponíveis provocam uma diversidade entre os atores;
H4
A ocorrência de contribuições próprias (adaptações, alterações) que afetam o desempenho (esta
é uma característica mais próxima ao conceito lamarckiano de evolução que ao darwiniano23);
H5
Na dinâmica do processo de adaptação e mudança, verifica-se uma característica de autoorganização do sistema, provocada, principalmente, pela competição pela sobrevivência. Esta
hipótese representa uma certa “racionalidade” dos agentes (diferentemente do ambiente
biológico).
Na abordagem proposta, partimos do pressuposto de que, as oportunidades e
mudanças tecnológicas proporcionadas pelo ambiente, provocam um processo de
estratificação competitiva entre as empresas concorrentes de um mesmo arranjo. Esta é
uma derivação de uma das hipóteses anteriores (H3), portanto, esta é a hipótese básica da
abordagem proposta (H3.1). As demais hipóteses estão relacionadas ao contexto, sendo
consideradas de forma inter-relacionada na metodologia.
O levantamento e a análise da estratificação em arranjos produtivos é relevante
tanto do ponto de vista da Organização Industrial e da Inovação, como para a Economia
Política e a “Engenharia Institucional” (no conceito de SQUAZZONI & BOERO, 2002),
possibilitando a priorização e o direcionamento de ações, programas e políticas industriais
de desenvolvimento econômico-social e ambiental.
Indústrias, setores, clusters, e, inclusive, pequenos arranjos locais, compreendem
empresas com graus diferenciados de evolução tecnológica e organizacional. Entretanto,
por razões metodológicas, são tratados de forma idêntica por programas governamentais de
apoio tecnológico e organizacional.
O que se propõe é uma nova alternativa de se abordar tal problema. Se as
especificidades internas das firmas em relação à sua cadeia de valor, produtividade,
qualidade, e outros parâmetros de formação da competitividade, seguem certos padrões e
formam agrupamentos característicos em termos de arranjo, poder-se-á propor programas
específicos e soluções diferenciadas para cada grupo, de acordo com suas características e
23
Vide Capítulo 3.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 199
necessidades, seu estágio tecnológico, e suas dificuldades, considerando suas competências
próprias.
Com relação ao caso específico do arranjo escolhido, o processo de mudança
tecnológica foi considerado através de três regimes tecnológicos:
RT1 – Unidades que utilizam somente queima a lenha;
RT2 – Unidades que utilizam queima a lenha e queima a gás;
RT3 – Unidades que utilizam somente queima a gás.
Será assumido que cada um desses regimes representa um estágio de
desenvolvimento tecnológico no tempo (entretanto, na prática eles coexistem). E que, além
disso, cada regime compreende certos padrões técnicos e organizacionais característicos,
os quais, devem ser assimilados na transição entre dois regimes tecnológicos diferentes. Os
padrões técnicos e organizacionais, que caracterizam cada um desses regimes, foram
levantados em uma investigação específica.
Uma análise prévia da estrutura geral do aglomerado de cerâmica vermelha permite
supor que as trajetórias futuras passam por um certo tipo de trade-off entre os efeitos de
“destruição criativa” e de “dependência da trajetória”24. Os primeiros, provocados pela
pressão competitiva do mercado e pela disponibilidade das condições necessárias para
implementação da tecnologia do gás natural. De uma certa forma estes se opõem aos
efeitos da “dependência da trajetória”, devido às características históricas de
subdesenvolvimento, à lenta evolução técnica e organizacional do segmento, e à cultura
empresarial específica do arranjo. Tais fatores são fortemente condicionados pela
efetividade e eficácia das intervenções de ajuste na atividade, através de políticas
institucionais e governamentais (programas, incentivos e isenções) e normas de
regulamentação (fiscalização ambiental e social), que tradicionalmente representam apenas
um caráter assistencialista aos ceramistas.
A princípio, o contexto do sistema apresentado no parágrafo anterior se mostra
perfeitamente compatível com os conceitos e hipóteses da abordagem proposta.
24
Vide Capítulos 3 e 4.
CAPÍTULO 5 - ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS ... LOCAIS: UMA METODOLOGIA 200
No Capítulo seguinte, apresenta-se a aplicação da metodologia proposta ao Pólo de
Cerâmica Vermelha do Norte Fluminense (Campos-RJ), através de uma pesquisa de campo
exploratória, para levantamento de dados e informações diretas.
CAPÍTULO 6
ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO
PRODUTIVO LOCAL: O CASO DO PÓLO DE CERÂMICA
VERMELHA DO NORTE FLUMINENSE
Resumo
A dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais é influenciada, entre outros
fatores, pela freqüência e impacto de novas tecnologias e pelas características específicas
do mercado, que pressionam as empresas a uma constante reavaliação de suas estratégias,
métodos e rotinas organizacionais, provocando um processo de estratificação tecnológica
no arranjo. No nível micro-dinâmico, essa estratificação pode ser verificada através da
dotação de recursos e dos índices de desempenho de cada empresa, os quais, afetam suas
estratégias de mercado. A abordagem proposta, sintetizada na metodologia definida no
capítulo anterior, foi adotada em um projeto de pesquisa realizado junto ao Pólo de
Cerâmica Vermelha do Norte Fluminense (RJ). Neste Capítulo, apresenta-se uma síntese
desse trabalho, cujo objetivo é o analisar o impacto provocado pelo processo de mudança
tecnológica na dinâmica competitiva do pólo, empregando-se tal metodologia. Os
resultados obtidos confirmam a hipótese da estratificação e sustentam a tese da Trajetória
Competitiva.
6.1 Introdução
A indústria de cerâmica no Brasil, que inclui os setores de cerâmica vermelha,
cerâmica branca e revestimentos, fatura em média cerca de US$ 5 bilhões por ano, o que
equivale a aproximadamente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O crescimento
econômico de alguns segmentos cerâmicos na década de 90 chegou a 10% ao ano, em
média, enquanto que o crescimento do PIB no Brasil, não chegou a 3% no mesmo período
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
202
(MOTTA et al., 2001).
Segundo Bustamante & Bressiani (2000), o número de empresas do segmento da
cerâmica vermelha no Brasil corresponde a aproximadamente 11.000 unidades, que
empregam em média de 25 a 30 funcionários. No total, geram entre 250.000 a 300.000
postos de trabalho e consomem cerca de 60 milhões de toneladas de matéria-prima por
ano. Um dos grandes desafios que o setor cerâmico enfrenta é o de produzir uma grande
quantidade de peças praticamente idênticas, com as mesmas características técnicas e
estéticas, a partir de matérias-primas com características amplamente variáveis
(TEIXEIRA et al., 2002; NOGUEIRA, 2002).
No Estado do Rio de Janeiro, destacam-se os pólos ceramistas de Campos dos
Goytacazes, localizado na região do Norte Fluminense, o de Itaboraí/Rio Bonito, o da
Baixada Fluminense (Nova Iguaçu) e o pólo do Médio Vale do Paraíba/Três Rios
(HOLLANDA & VIEIRA, 2002).
O pólo campista é que concentra o maior número de empresas e o de maior
produção no estado. Segundo o Sindicato dos Ceramistas da região de Campos, o pólo
local conta atualmente com aproximadamente 120 empresas, entre cerâmicas e olarias,
localizadas em sua maioria na região denominada de Baixada Campista. Destas, apenas 62
estão sindicalizadas. Para a região, essa atividade econômica representa uma importante
fonte geradora de receita tributária, além de contribuir para a geração de um substancial
número de postos de trabalho no município, estimado pelo sindicato patronal em torno de
5.000 diretos e outros 25.000 indiretos (SILVESTRE, 2001). Além do ponto de vista
estritamente econômico, este segmento representa importante papel regulador do mercado
de trabalho local, especialmente no período de entressafra do setor sucroalcoolerio,
empregando grande parte da mão-de-obra proveniente dessa indústria, que de outra forma,
provavelmente estaria na informalidade ou engrossando os índices de desemprego.
Do ponto de vista interno da indústria, algumas mudanças tecnológicas têm sido
verificadas pela transformação dos fornos de queima a lenha para queima a gás (natural).
Tal combustível possibilita maior uniformidade na queima e a produção de itens de maior
valor agregado (como telhas, blocos estruturais, revestimentos etc), e conseqüentemente, a
abertura de novos mercados. Entretanto, tal mudança tecnológica requer outros
investimentos paralelos em melhorias no processo produtivo, como por exemplo, na
redução de desperdícios e na qualificação do pessoal. Segundo Mafra (2002), a
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
203
produtividade da mão-de-obra alocada diretamente na produção seria um importante
indicador de desempenho para a cerâmica vermelha, porém para melhorar tal indicador é
necessário investir em treinamento.
Adicionalmente, a utilização do gás natural como combustível em substituição à
lenha pode representar uma potencial redução dos impactos ambientais. A prevenção e o
combate à poluição, em particular de fontes industriais, são objeto de leis específicas
nacionais e internacionais cada vez mais restritivas, afetando diretamente a
competitividade das empresas (PALMONARI & TIMELLINE, 2002).
Na região Norte Fluminense (RJ), a utilização em maior escala do gás natural é
reforçada pelo fato da Bacia Petrolífera de Campos ser responsável atualmente por algo em
torno de 40% da produção dessa fonte energética (SILVESTRE 2001). De acordo com o
Sindicato dos Ceramistas local, 18 indústrias já contam com fornos instalados para a
queima a gás, através de convênio entre a Secretaria Estadual de Energia e a companhia
local de gás, porém nem todas elas o têm utilizado efetivamente em seus fornos
atualmente. Um dos fatores que impedem uma maior adesão ao uso do gás é a indefinição
com relação à política de preços para o combustível, que sofre efeitos da variação cambial
em relação ao dólar, tornando os custos do seu consumo, dependente da cotação da moeda
americana, excessivamente altos quando comparados aos da lenha. Segundo alguns
empresários do ramo, um outro fator é o alto custo do investimento inicial necessário para
implantação dos sistema (em torno de R$ 150.000,00).
Análises preliminares sobre a dinâmica competitiva do pólo local indicam que as
diferentes estratégias competitivas das empresas do arranjo são fortemente condicionadas
pela tecnologia adotada no processo de queima. Observa-se um efeito de estratificação em
grupos de acordo com a tecnologia, métodos e rotinas adotados, produtos fabricados e
estratégias de mercado (SOUZA & ARICA, 2002).
Como forma de se captar as diversidades internas e a competitividade de segmentos
de cadeias e sistemas produtivos locais, tem crescido o interesse no enfoque da
mesoanálise para o estudo da dinâmica competitiva desses tipos de arranjos, tanto do ponto
de vista de pesquisa como para o direcionamento de políticas públicas e iniciativas de
apoio tecnológico e à competitividade de setores locais (KLIEMANN & HANSEN, 2002).
Nesse sentido, surgem algumas questões importantes: O processo de mudança
tecnológica causa uma estratificação em grupos entre as empresas do arranjo? Quais os
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
204
fatores que condicionam tal estratificação? Quais as principais características de cada
grupo? Que tipo de barreiras impedem o avanço de cada grupo? Quais as alternativas para
superá-las? Que tipo de apoio ou incentivo seria mais indicado a cada grupo? De modo a
contribuir com algumas respostas a esses questionamentos, a seguir, apresenta-se uma
metodologia adotada para a análise da competitividade interna do Pólo de Cerâmica
Vermelha de Campos, que poderá ser estendida a outros arranjos produtivos com
características similares.
6.2. Metodologia e etapas do estudo
O processo de mudança tecnológica em arranjos produtivos locais provoca ou
acentua um efeito de dispersão entre as empresas envolvidas que, de acordo com seus
recursos e rotinas internos, competências e desempenho, caracterizam a dinâmica
competitiva desses sistemas. Tal estratificação pode ser analisada em termos de
agrupamentos de empresas com diferentes estágios tecnológicos e competitivos. A
taxonomia adotada classifica as empresas em três grupos distintos, a saber: (1) as líderes;
(2) as intermediárias; e, (3) as retardatárias, conforme a abordagem proposta no capítulo
anterior. A hipótese assumida é que, através da metodologia proposta tal estratificação
pode ser captada e analisada. A tese é que tal estratificação define a “Trajetória
Competitiva”1 do arranjo. A seguir, apresenta-se um resumo da pesquisa realizada junto ao
Pólo Ceramista de Campos empregando-se tal metodologia.
6.2.1 Método de abordagem
Para a realização de tal trabalho, num primeiro momento, buscou-se informações e
dados publicados a respeito de pólos similares de outras regiões de forma a definir o tipo e
especificidade das informações a serem levantadas para o caso em estudo. Em seguida este
mesmo procedimento foi realizado para o Pólo local. Tais informações serviram para um
mapeamento geral das empresas do Pólo e do tipo de informação não disponível sobre elas.
Dessa forma, foi definido um conjunto de informações que deveriam ser levantadas através
de pesquisa direta.
Para tanto, foi elaborado previamente um questionário para seleção de uma amostra
1
Para a interpretação desse conceito, ver Capítulo 4. A descrição da metodologia encontra-se no Capítulo 5.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
205
representativa da diversidade tecnológica do pólo. Foram consultados profissionais e
pesquisadores de instituições da área na região, entre os quais: o Sindicato dos Ceramistas,
os Laboratórios de Materiais Avançados e de Engenharia Civil (ambos da UENF), além de
técnicos do Parque de Alta Tecnologia do Norte Fluminense (TECNORTE), do Centro
Federal de Ensino Tecnológico (CEFET-Campos), do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) local e dos próprios ceramistas.
Os entrevistados responderam a pergunta de quais as empresas eles enquadrariam
em cada grupo, adotando como parâmetro o tripé tecnologia x produto x mercado. Sugeriuse que baseassem suas escolhas em critérios como (i) modernização do processo produtivo,
(ii) produtos de melhor qualidade e (iii) agregação de valor. Após as indicações, foram
identificadas as empresas mais citadas, em cada um dos grupos previamente definidos. O
total de empresas selecionadas foi de quinze (15), sendo 4 em cada grupo (líderes,
intermetiárias e retradatárias) e outras três (3) escolhidas de forma aleatória entre aquelas
citadas. Na amostra assim levantada, pode-se considerar que as empresas selecionadas para
o primeiro grupo, correspondem a praticamante 100% do seu estrato na população, e as do
segundo grupo, cerca de 80%. O terceiro grupo, apesar de a amostra para esse segmento
ser baixa em relação ao seu correspondente populacional (cerca de 5%), verificou-se
através de um mapeamento prévio e visitas informais a uma dezena de outras unidades
aleatórias, que a diversidade tecnológica captada através destas, não justificava incluir
mais unidades nesse grupo. Considerando que a população total do arranjo é de
aproximadamente 110 unidades, pode-se considerar a amostra das 15 unidades
selecionadas como altamente representativa da diversidade do arranjo.
6.2.2 Método de procedimento
Essa etapa compreendeu o levantamento de informações e dados primários através
de entrevistas técnicas e observações diretas nas empresas do referido Pólo. A pesquisa de
campo propriamente dita, envolveu duas fases: uma, (i) de entrevistas com o proprietário
ou gerente da empresa; e outra, (ii) de acompanhamento do processo produtivo. Na
primeira fase, o proprietário (ou gerente) respondeu a um questionário-padrão2, com
informações gerais sobre a empresa, dados relacionados à administração, produtos,
mercado, investimentos e estratégias. Na segunda fase, fez-se um acompanhamento in loco
2
Vide Apêndice C.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
206
de todas as etapas do processo produtivo em cada empresa, desde a extração nas jazidas,
passando pelas etapas de preparação da massa e fabricação, até o estoque do produto
acabado, com ênfase nos pontos diferenciais, com o preenchimento de um segundo
questionário-padrão. Além das observações das etapas do processo, cada ponto
representativo de diversidade em termos de equipamento, método, técnica ou rotina, foi
avaliado e fotografado. Com tais informações elaborou-se um Relatório da Pesquisa de
Campo3, com uma investigação empresa por empresa, etapa por etapa, cujos resultados
fundamentaram a aplicação e a análise da metodologia, os quais são apresentados a seguir.
6.3. Apresentação dos dados e informações
Para se preservar o sigilo das informações coletadas, os verdadeiros nomes das
empresas são omitidos, adotando-se uma notação alfabética para denominar cada empresa
avaliada, da seguinte forma: Cerâmica A, Cerâmica B, e assim por diante, até a Cerâmica
O.
6.3.1 Considerações preliminares
A maioria das empresas visitadas possui trabalhadores provenientes da indústria da
cana de açúcar, devido à redução do número de emprego nesse setor nos últimos anos. Tal
mão-de-obra é pouco qualificada e carente de formação técnica, com grande incidência de
analfabetos, o que compromete iniciativas de melhoria da qualidade no processo de
fabricação. Além disso, a maioria das empresas possui como característica peculiar a
administração familiar.
Das 15 cerâmicas visitadas, apenas 8 empresas (A, B, D, G, H, K, L, M) utilizavam
efetivamente o gás natural em seus fornos. Essas empresas estão entre as que têm maior
capacidade de queima e produzem maior volume de peças por mês. Devido ao padrão mais
homogêneo proporcionado por esse combustível, os produtos desse grupo apresentam
características mais uniformes e de melhor qualidade4. A seguir, apresenta-se um resumo
da pesquisa com as informações mais relevantes do ponto de vista da aplicação da
metodologia proposta.
3
4
O relatório completo da pesquisa de campo encontra-se no Apêndice A.
A qualidade aqui referida é a aparente e comparada. Por ainda não existir normas técnicas para todos os
tipos de produtos fabricados pelas empresas do arranjo, não foram realizados testes nos produtos.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
207
6.3.2 Análise de padrões, rotinas e recursos
A Cerâmica A, produtora de blocos cerâmicos (tijolos), é uma das 3 empresas que
implantaram no processo de fabricação etapas seqüenciais semi-automatizadas (as outras,
são a C e a L). Neste caso, a interferência humana acontece somente na etapa do
abastecimento do caixão dosador e na parte do transporte das peças do secador para os
fornos.
A Cerâmica L tem como principal produto as telhas revestidas (ver Fotos 6.1 e 6.2).
Tal produto passa por um processo de tratamento de impermeabilidade que aumenta a
durabilidade e a resistência do material. A empresa chega a oferecer uma garantia da
qualidade de 10 anos para esses produtos. Além disso, foi introduzido no processo um
equipamento para resfriamento da água antes da extrusão (maromba), o que, segundo o
gerente operacional, deixa a massa mais “solta”, reduzindo a frequência de interrupções do
processo produtivo para limpeza do equipamento, além de proporcionar melhor textura nas
peças. Segundo o proprietário, a empresa L é uma das três no Brasil (uma tem sede em
Santa Catarina e outra em São Paulo) a empregar tal tecnologia na fabricação de telhas.
Essa tecnologia tem patente detida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), que recebe royalties da empresa.
Pelos dados analisados pode-se verificar que a empresa L consegue um maior valor
agregado nas peças fabricadas, com uma diferença no preço do milheiro que pode triplicar
em relação ao preço das produzidas tradicionalmente (telhas naturais). Vale lembrar que o
uso de tecnologia patenteada é um caso atípico para as empresas estudadas.
Um dos pontos mais interessantes observados no processo produtivo da cerâmica L
é a utilização de um cortador mecânico (sem fios de corte), no qual um tipo de pá faz o
corte na massa, sendo acionado pelo próprio movimento da massa extrudada (ver Foto
6.3). Nos cortadores convencionais (automáticos), utilizados em todas as demais unidades
estudadas, o corte é realizado por fios metálicos (arames), que constantemente se partem
devido ao desgaste, ocasionando paradas não programadas e perdas no processo (ver
exemplo na Foto 6.4). Esta “inovação” possibilitou uma substancial redução no número de
paradas no processo dessa empresa.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
208
Foto 6.1 - Telhas revestidas e embaladas
(Cerâmica L)
Foto 6.2 – Revestimento em diversas cores
(idem)
Foto 6.3 – Cortador mecânico giratório
(idem)
Foto 6.4 – Exemplo de cortador
convencional (com arames)
Além da Cerâmica L, outras empresas, como as Cerâmicas B, E, K, também têm
como diferencial o tratamento pós-extração da massa (argila). Essas empresas realizam um
tratamento diferenciado nesta etapa do processo, devido à dupla laminação e à posterior
estocagem em silos da massa trabalhada, inclusive, com a utilização de testes em
laboratórios credenciados.
As Cerâmicas C e F investem em equipamentos modernos e na diversificação de
produtos (ver Fotos 6.5 e 6.6, respectivamente). Segundo o proprietário da Cerâmica F, a
reestruturação do seu setor administrativo, fez com que sua empresa adquirisse uma
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
209
melhor integração entre as partes da gestão e do processo produtivo, através de melhorias
nas operações, o que aperfeiçou e melhorou o fluxo de informações entre os setores de
administração da produção e de chão-de-fábrica. A diversificação de produtos é também
uma estratégia adotada pela Cerâmica E, a pioneira local na produção de plaquetas vazadas
e de revestimentos rústicos.
Foto 6.5 – Prensas modernas para
produção de telhas
(Cerâmica C)
Foto 6.6 – Bloco vazado aparente e
plaquetas de revestimento
(Cerâmicas F)
As Cerâmicas F, I, J, N e O, trabalham com uma composição da massa muito
heterogênea (ver Foto 6.7, como exemplo) e não realizam tratamento pós-extração das
argilas. Outra característica comum é a não utilização de termopares (sensores para o
controle da temperatura interna dos fornos). Além disso, os equipamentos de produção são
muito antigos, pouco eficientes, e o lay-out da planta e as instalações em geral
(especialmente as elétricas) são improvisadas. A não realização de inspeção em nenhuma
das etapas do processo contribui para que a massa com resíduos orgânicos acentue as
perdas totais no processo. Tais fatores comprometem a qualidade de seus produtos (ver
Foto 6.8).
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
Foto 6.7 – Massa muito heterogênea
(Cerâmica O)
210
Foto 6.8 - Blocos danificados
(idem)
As fotos a seguir apresentam um quadro geral da diversidade de padrões verificados
nas unidades pesquisadas, como por exemplo, em relação à logística interna e à
organização do trabalho (Fotos 6.9 e 6.10), no processo de secagem (Fotos 6.11 e 6.12) e
na tecnologia de queima (Fotos 6.13 e 6.14) e na organização da produção (Fotos 6.15 e
6.16).
Foto 6.9 – Transporte braçal das peças
(Cerâmica I)
Foto 6.10 – Utilização de microtrator para
o transporte das peças
(Cerâmica M)
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
211
Foto 6.11 – Secagem natural (ao ar livre)
(Cerâmica N)
Foto 6.12 - Ventiladores móveis para
secagem (Cerâmica D)
Foto 6.13 – Forno tipo circular (secular)
(Cerâmica J)
Foto 6.14 - Forno túnel (moderno)
(Cerâmica K)
Foto 6.15 – Processo produtivo caótico
(Cerâmica J)
Foto 6.16 – Layout limpo e organizado
(Cerâmica F)
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
212
6.4 Cálculo e plotagem dos índices de recursos e de desempenho
Nesta etapa, primeiramente é verificada a hipótese da estratificação e se esta é
captada pela metodologia, e em seguida, se a tese da Trajetória Competitiva se confirma.
Conforme a metodologia proposta, através dos dados e informações coletados pôde-se
levantar os índices de recursos (IRTk1) e de desempenho (IDk1), para cada unidade da
amostra5. A seguir são apresentadas as distribuições de padrões para a amostra e as
correlações apresentadas por tais índices para os parâmetros considerados.
6.4.1 Tratamento e interpretação das informações
O Gráfico 6.1 apresenta a distribuição da amostra, segundo IRTk. Neste caso, no
extremo superior encontram-se as unidades L (líder) e B. As unidades F, M, E e A estão
em um padrão próximo, porém, abaixo. No outro extremo, as unidades J, I, O e N estão no
padrão mais baixo verificado. As demais estão em uma zona intermediária.
Distribuição
1,00
L
B
IRTk
0,80
A
C
F
E
D
M
G
0,60
K
H
N
0,40
I
0,20
O
J
0,00
1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
Unidades (k)
Gráfico 6.1 – Padrão de recursos para as unidades da amostra
5
O detalhamento do cálculo dos índices está no Apêndice B. Os dados utilizados nos cálculos dos índices
para cada unidade estão no Apêndice A.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
213
O Gráfico 6.2 mostra a distribuição da amostra para IRTk1 e dois parâmetros
diferentes tomados como índice de desempenho. O parâmetro PEk1 (em azul claro) é a taxa
de produtividade energética, medido pela relação entre a produção (peças/mês) pelo
consumo médio de energia elétrica (kWh/mês). O parâmetro PQk1 (em verde), é a taxa de
produtividade da queima de combustível, medido pela relação entre a produção
(peças/mês) e o consumo médio de combustível (m3/mês).
Distribuição
Amplitude
1,00
0,80
IR Tk1
0,60
PQ k1
0,40
PEk1
0,20
0,00
A B C D E F G H I
J K L M N O
Unidades (k)
Gráfico 6.2 – Distribuição de padrões da amostra (segundo IRTk1, PEk1 e PQ k1)
Os Gráficos 6.3 e 6.4, a seguir, mostram a correlação entre cada um deles e IRTk1.
Desempenho(PEk1 )
Correlação
1,00
G
D
0,80
0,60
0,40
F
I
J
M
C
O
N
H
K
EA
0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
B
L
1,00
Recursos (IRTk1)
Gráfico 6.3 – Correlação: Recursos (IRTk1) x Produtividade energética (PEk1)
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
214
Desempenho(PQ K1 )
Correlação
K
1,00
0,80
0,60
0,40
J
O
I
N
H
M
C
F
E
A
G
D
0,20
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
B
L
1,00
Recursos (IRTk1)
Gráfico 6.4 – Correlação: Recursos (IRTk1) x Produtividade na queima (PQk1)
Apesar de demonstrar agrupamentos em determinadas áreas, apresentando uma
média correlação com IRTk1 (respectivamente R=0,44 e R=0,56, calculados a partir do
Excel), tais parâmetros não são boas referências para uma amostra estratificada, devido ao
fato das concessionárias cobrarem preços diferenciados de acordo com determinadas faixas
de consumo. Entretanto, a partir de tais gráficos, algumas informações relevantes foram
captadas, como veremos a seguir,
No Gráfico 6.3, pode-se perceber as diferenças entre as unidades que queimam
lenha e aquelas que utilizam gás. Aquelas que queimam lenha e produzem tijolos
conseguem um alto desempenho, mesmo com baixo padrão de recursos (como é o caso da
unidade I). Enquanto aquelas que queimam gás e fabricam telhas (por exemplo, L e B),
estão entre as unidades de desempenho mais baixo, apesar de apresentarem alto padrão de
recursos. Isso deve-se ao fato da queima a gás e produção de telhas, exigir maior consumo
de energia na planta (inclusive com maior número de horas trabalhadas por mês, pois
geralmente funcionam em turnos). Por tal parâmetro, as unidades que queimam lenha
sempre teriam vantagem sobre as que queimam gás.
Pelo referido gráfico, a unidade E é a que estaria melhor posicionada com relação
ao padrão de recursos, merecendo um comentário à parte. Tal unidade é fabricante de
produtos rústicos (tijolos e plaquetas de revestimento)6, com alto valor agregado e,
justamente a queima a lenha é que prossibilita a obtenção das características diferenciais de
seus produtos.
6
Vide Apêndice A.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
215
A interpretação anterior é semelhante para o Gráfico 6.4. Com o desempenho
medido pela produtividade na queima (PQk1), como os gastos com o consumo de gás
natural são substancialmente mais elevados que com a lenha, há uma distorção em favor
das unidades que fabricam tijolos, utilizando tal insumo, devido aos baixos custos
verificados hoje nessa configuração. Porém, há uma tendência de crescimento dos custos
associados à madeira de um modo geral, por restrições ambientais e de mercado.
Entretanto, conclui-se que os parâmetros anteriores não são consistentes para
refletir o desempenho competitivo das empresas do arranjo, distorcendo a interpretação por
não incluir uma noção de valor agregado na produção.
Tecnicamente nesse caso, o fator de produtividade mais significativo em termos de
desempenho competitivo deve embutir as diferenças de preço dos produtos e do gasto na
produção por unidade de combustível consumido (insumo de maior peso nos custos totais
da produção). Dessa forma, pode-se tratar todas as unidades do arranjo independentemente
do tipo de combustível e dos produto que fabricam. Tal fator, que reflete o valor agregado
na produção, é aqui denominado pela sigla PVPK1 (relação entre o valor da produção pelos
gastos com consumo de combustível).
Os gráficos, a seguir, mostram as respectivas distribuições e correlações desses
parâmetros com relação a IRTk1, para cada unidade da amostra. Primeiramente, o Gráfico
6.5 apresenta a distribuição de PVPk1 comparado a IRTk1.
IRTK1
PVPK1
Distribuição
Amplitude
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
A
B
C D
E
F
G
H
I
Unidades (k)
J
K
L
M N O
Gráfico 6.5 – Distribuição de padrões da amostra (segundo IRTk1 e PVPk1)
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
216
Desempenho(PVP k)
Trajetória
1,00
L
0,80
B
0,60
K
0,40
J
0,20
I
N
H
C
D
G A
O
0,00
0,10
0,30
0,50
E
0,70
M
F
0,90
1,10
Recursos (IRTk1)
Gráfico 6.6 – Correlação: Recursos (IRTk1) x Produtividade na queima (PVPk1)
O Gráfico 6.6 apresenta a correlação entre IRTk1 e PVPk1. Nesse caso, a correlação
é bastante acentuada (R=0,90), captando nitidamente a estratificação e a trajetória definida.
A distribuição dos grupos na trajetória fica bem clara, confirmando a estratificação dos
grupos de acordo com os três regimes tecnológicos propostos7, definindo a trajetória
competitiva do arranjo (Gráfico 6.7).
desempenho
recursos
Gráfico 6.7 – Trajetória competitiva hipotética
No Gráfico 6.6, pode-se observar que as unidades L e B (que utilizam a tecnologia
7
RT1 = lenha (em azul), RT2 = transição lenha/gás (em verde), RT3 = gás (em vermelho).
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
217
do gás natural e fabricam telhas) estão no topo. As unidades I, J e O (que queimam lenha e
produzem tijolos) estão na região de pior desempenho, estagnadas. As demais encontramse em uma região intermediária. As unidades N e H em pior situação, muito próximas das
que estão estagnadas. Já K e E estão bem próximas das líderes. Porém, segundo o conceito
de Trajetória Competitiva, a unidade K estaria em um período estacionário8. A unidade E,
entretanto, não se enquadra no regime RT2, nem no RT3 (gás). A princípio, esta se
enquadraria no regime RT1 (lenha), porém, devido suas características específicas de
produção (fabrica itens rústicos, de alto valor agregado) está em uma condição
diferenciada em termos de recursos e desempenho. Uma hipótese é que estaria abrindo
uma outra trajetória, com um regime RT1’ (lenha + produtos rústicos), intermediário entre
RT1 e RT2. Entretanto, como este se constitui em um caso isolado, o contexto atual do
arranjo não permite saber, ainda, se tal hipótese se confirmará ou não. Caso haja um maior
número de unidades nesse regime (que represente mais um tipo de diversidade), uma
pesquisa futura em tais unidades pode ser acrescentada ao estudo.
Um outro fator representativo da produtividade, que evita as distorções provocadas
pelas diferenças de combustível e o valor da produção, é a tradicional produtividade do
trabalho (valor da produção pelo número de homens-hora), aqui denominada de PHhk1.
A seguir, os Gráficos 6.8 e 6.9, respectivamente, mostram a distribuição e a
correlação entre IRTk1 e PHhk1.
IRTk1
PHhk1
Distribuição
Amplitude
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
A
B
C D
E
F G
H
I
J
K
L M N O
Unidades (k)
Gráfico 6.8 – Distribuição de padrões da amostra (para IRTk1 e PHhk1)
8
PE2,3 na denominação adotada no conceito de trajetória competitiva. Vide Capítulo 4, Seção 4.12 e Gráficos
4.9 e 4.10.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
218
Desempenho(PHh )
Trajétória
1,00
L
B
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,10
JO
I
0,30
N
0,50
H
K
A
D
F
C M
G
E
0,70
0,90
1,10
Recursos (IRTk1)
Gráfico 6.9 – Correlação: Recursos (IRTk1) x Produtividade Homem-hora (PHhk1)
A correlação nesse caso é fortíssima (R=0,96). Também por esse parâmetro, a
hipótese da estratificação e a tese da Trajetória Competitiva são confirmadas, o que
fortalece a consistência da metodologia proposta.
O item 7 da metodologia proposta (Capítulo 5), constitui uma agenda futura da
pesquisa.
6.4.2 Análise dos resultados
Como pode-se observar através dos Gráficos anteriores, a hipótese da estratificação
foi plenamente confirmada pela metodologia proposta. Ademais, tal estratificação
confirma a tese da Trajetória Competitiva. A estratificação em grupos segundo padrões
recorrentes de recursos e desempenho, reflete os padrões de comportamento das empresas
do arranjo frente à mudança tecnológica. Essa estratificação não se dá maneira
desordenada. O trade-off de cada unidade no balanceamento entre recursos e desempenho
é revelado pelas correlações apresentadas. Essa informação mostra que há um certo
caminho na transição de padrões tecnico-organizacionais do arranjo, no qual, dependendo
da capacidade e competência de cada uma em absorver e desenvolver os recursos
adquiridos, as empresas procuram se alocar, definindo uma trajetória. Tal processo,
caracteriza a dinâmica competitiva do arranjo revelada pela trajetória definida, que se
constitui na trajetória competitiva do arranjo (conforme proposto no Capítulo 4).
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
219
6.5 Grupos estratificados para o arranjo
De acordo com os padrões verificados na pesquisa, pelo critério de similaridade
foram as seguintes as características identificadas por cada grupo:
No primeiro grupo (Grupo 1), constituído por aquelas unidades consideradas as mais
dinâmicas (L e B), encontram-se as cerâmicas que estão à frente do processo competitivo
local. Dominam técnicas de produção que possibilitam uma melhor qualidade dos produtos
e diversificação de peças. Tais empresas adquirem conhecimentos específicos através de
congressos e revistas especializadas, utilizando-os de acordo com suas necessidades e
restrições. Suas estratégias estão voltadas para a produção de itens de maior valor agregado
e a ampliação do mercado em nichos específicos, atendendo a uma parcela do mercado de
maior poder aquisitivo e com demanda crescente. Este grupo representa aproximadamente
2% das empresas do Pólo estudado.
Nas empresas do segundo grupo (Grupo 2), as intermediárias, estão as unidades que
buscam acompanhar ou se integrar ao grupo líder, mas que ainda apresentam barreiras e
limitações internas, tanto no processo produtivo quanto nas atividades de gestão da cadeia
de valor que impedem um melhor desempenho (no caso, A, C, D, F, G, K e M).
Apresentam deficiência com relação ao controle de custos do processo e não utilizam
técnicas adequadas de controle da produção. Como conseqüência, suas margens de lucro
são muito menores que as do grupo 1. Apresentam estratégias de mercado desfocadas,
tentando se posicionar para atender aos consumidores em geral, investindo na
diversificação de produtos sem estabelecer nichos específicos. Este grupo representa em
torno de 5% das empresas do arranjo.
Já no último grupo (Grupo 3), encontram-se aquelas empresas caracterizadas por não
conseguir acompanhar o processo competitivo e as mudanças tecnológicas nem melhorias
incrementais significativas (H, I, J, N e O). Tal grupo abrange empresas que atendem a
uma grande parcela do mercado, porém em condições de “concorrência predatória”
sofrendo, como conseqüência, forte pressão sobre os preços. Estas, não conseguem nem
mesmo se tornar “receptoras” de tecnologia externa (como no caso, a implantação de
queima a gás), e, a manterem-se nesse padrão, tendem a se tornar cada vez mais excluídas
pelo processo competitivo, sem perspectivas de sustentabilidade. Contudo, ainda
conseguem vender seus produtos para consumidores pouco exigentes, em nichos de baixo
poder aquisitivo. Este grupo compreende o restante das empresas do Pólo.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
220
A Tabelas 6.1 e 6.2, a seguir, apresentam um resumo com as características
verificadas em cada grupo na estratificação tecnológica para o pólo estudado. Na Tabela
6.1, são indicados (para o caso em que se aplicam) os valores menor e maior,
respectivamente, encontrados para o parâmetro correspondente A Tabela 6.2, mostra uma
síntese dos padrões verificados para cada grupo, segundo características de processo,
produto e estratégias de mercado.
Tabela 6.1 – Características dos grupos estratificados
Parâmetro
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Início da produção
1973 - 1997
1961-1996
1973-1993
Capacidade de produção
540.000 - 1.500.000
1.200.000 - 1.800.000
450.000 - 1.500.000
Volume produzido
(peças/mês)
330.000 - 2.2000.000
900.000 - 1.500.000
300.000 - 900.000
Tipo de forno
Túnel, Hoffman, Caieira,
Câmara
Vagão, Paulistinha,
Hoffman, Circular
Circular, Hoffman
Combustível (queima)
lenha* e gás
lenha** e gás
lenha
Tipo de secagem
natural/artificial
natural/artificial
natural
Produtos fabricados
tijolos, telhas naturais e
revestidas, tijolos
maciços,
tijolos, plaquetas e
telhas naturais
tijolos
Preço do produto principal R$ 115 (Ti) - R$ 900 (Tr) R$ 90 (Ti) - R$ 300 (T)
Nº de funcionários
30 - 110
Principais mercados
RJ, Região dos Lagos,
Grande Rio
35 – 54
R$ 95 - R$ 100
17 - 18
RJ, Campos, Grande
Grande Rio, RJ,
Rio, Região dos Lagos, Campos, ES, Região
Volta Redonda
dos Lagos
Ti – tijolo; Tr – telha revestida; T – telha natural.
* Usada para aquecer o forno.
** Neste grupo, em alguns casos, a lenha é usada apenas para aquecimento do forno, e em outros, como
único combustível nos fornos.
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
221
Tabela 6.2 – Estratificação em grupos para o arranjo estudado
Estratificação
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Unidades
Principais Características
Processo
Produto
Realização de
Unidades mais compactas;
ensaios de
Maior produtividade;
conformidade;
Queima mais eficiente;
B, L
média
Realização de testes nas argilas;
variabilidade de
Tratamento pós-extração;
padrões;
Reaproveitamento do calor dos
Diversificação
fornos para secagem.
direcionada.
Testes informais
de conformidade;
Ampla
Investimentos na modernização
variabilidade de
dos fornos; Substituição (lenta)
A, C, D, F, G, K, M
padrões;
da lenha pelo gás; Iniciativas de
Diversificação
redução dos custos.
não direcionada a
nichos
específicos.
Não realização
Administração familiar; Fornos
de testes nem
ineficientes; Equipamentos
inspeção;
rudimentares; Baixa
variabilidade de
H, I, J, N, O
produtividade;
padrões fora de
Desconhecimento das perdas no
controle;
processo e dos seus custos.
Peças de baixa
qualidade.
Mercado
Exploração de
nichos
específicos (de
maior poder
aquisitivo);
demanda pouco
variável.
Estratégias
indefinidas;
Não vende para
nichos
específicos de
mercado;
Demanda muito
variável.
Vende para
nichos de baixo
poder
aquisitivo;
pouco variável.
6.6 Considerações finais sobre o Capítulo
Devido ao fato de atuarem em um mercado pouco restritivo quanto à qualidade,
com forte pressão por menores preços, o que se observa é que, tanto as empresas do Grupo
1 (que detém maior controle na especificação de seus produtos), quanto aquelas do
secundo e terceiro grupos, conseguem vender seus produtos por uma pequena variação de
preços. Tal fato pode ser explicado por não existir uma regulamentação quanto às normas
de qualidade e conformidade dos produtos (normalização). Como resultado, tanto aquelas
empresas que realizam testes (como, por exemplo, de absorção d’água, resistência,
conformidade nas dimensões e análise granulométrica da argila), quanto aquelas que não
realizam nenhum tipo de ensaio, competem com preços próximos no caso dos tijolos,
porém com grande defasagem de custos operacionais e na qualidade dos produtos.
O gás natural, apesar de representar o principal condicionante na estratificação do
arranjo, não é o único. As estratégias de diversificação de produtos e o emprego de
CAPÍTULO 6 – ESTRATIFICAÇÃO E TRAJETÓRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
222
métodos de redução de desperdícios e controle do processo, paralelamente, têm forte e
decisiva influência no processo de transição para sustentação desse regime.
Um caso particular é o da cerâmica E, que, apesar de utilizar lenha como
combustível, devido aos investimentos no controle do processo (principalmente na seleção
de argilas e na temperatura de queima) e na exploração de mercados alternativos, de maior
valor agregado (produtos rústicos) é a pioneira neste segmento no arranjo. Por outro lado, a
grande maioria das empresas do Pólo (Grupo 3) apresenta claras deficiências técnicas e
organizacionais na utilização do mesmo processo de queima. Apesar disso, estas ainda
encontram mercado em nichos de baixa renda, especialmente nas favelas da cidade do Rio
de Janeiro e áreas de periferia de municípios do Grande Rio e da cidade de Campos-RJ.
Através da abordagem proposta pôde-se estabelecer vínculos entre os fatores de
mudança tecnológica e seus efeitos na dinâmica competitiva do arranjo e o processo de
estratificação em grupos. Foram idenficadas característica particulares que afetam o
desempenho das empresas de cada grupo em termos do processo produtivo e atividades de
gestão, ao longo das cadeias de valor. Com os resultados desse trabalho, espera-se oferecer
subsídios para que programas específicos de apoio e incentivos, e políticas e estratégias de
benchmarking e up-grading tecnológico e organizacional possam ser mais precisos e
adequados às características de cada grupo de empresas, ao invés de distribuídos
genericamente para o setor como um todo.
CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES
7.1 Considerações Finais
Atualmente, o termo competitividade é amplamente empregado nas mais diversas
situações e, em muitos casos, não há rigor na definição do conceito, o que tem gerado um
verdadeiro mosaico de definições, dificultando o entendimento e, muitas vezes, induzindo
conflitos de interpretação. Buscando avançar no marco conceitual sobre o tema, procurouse desenvolver, no Capítulo 2, uma avaliação sobre as principais visões sobre a
“competitividade”, contrapondo diversos enfoques, de modo a prover uma interpretação
sintética das dicotomias e divergências mais destacadas.
Vimos que o conceito de competitividade está associado a uma visão teórica do
processo econômico e da finalidade de sua mensuração. Nesse sentido, duas correntes se
destacam tradicionalmente pelos distintos enfoques da competitividade: uma, a qual, para
efeitos de contraposição de conceitos, poder-se-ía denominar de “industrial-otimizante”,
centrada na eficiência e nos aspectos endógenos da empresa; e outra, com enfoque
“mercadológico”, que sustenta uma abordagem centrada na eficácia, cujos parâmetros de
desempenho são os resultados obtidos no mercado, independente de suas fontes, sendo
portanto, exógena. Em ambas, o enfoque está relacionado ao desempenho da empresa.
Observamos
também,
que
um
conceito
mais
representativo
do
termo
competitividade deveria integrar os critérios de avaliação da eficiência e do desempenho
presente, com sua evolução e perspectivas de sustentação futura. Dessa forma, seria
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
224
importante responder a uma pergunta fundamental: Onde estariam as fontes das vantagens
competitivas?
Ressaltamos que para responder a esta pergunta, seria necessário adotar uma
perspectiva dinâmica, a partir de uma visão em que o desempenho no mercado e a
eficiência produtiva decorrem da capacitação acumulada pelas empresas que, por sua vez,
reflete as estratégias competitivas adotadas em função de suas percepções quanto ao
processo concorrencial e ao meio ambiente onde estão inseridas. Desse modo, ao invés de
entendida apenas como um fator intrínseco de um produto ou de uma firma, a
competitividade surgiria também como uma característica extrínseca, relacionada ao
padrão de concorrência vigente em cada mercado.
Nessa abordagem, o processo de tomada de decisão estratégica concentraria os
fatores primordiais da competitividade. Porém, devido às incertezas do ambiente, e
conseqüentemente, pela impossibilidade de se conhecer antecipadamente as estratégias dos
concorrentes, as empresas definiriam seu comportamento e suas estratégias competitivas
baseadas em experiências passadas e de sua perspectiva quanto ao futuro. Dessa forma, tal
visão vincula-se a conceitos econômicos evolucionários.
Nesta linha, alguns fatores a serem avaliados, além da produtividade, seriam: o
tamanho das firmas, a estrutura produtiva, o padrão de concorrência, as tecnologias
utilizadas e alternativas presentes e futuras, as economias de escala e de escopo, as
competências específicas, entre outros mais específicos à região, ao setor e às próprias
firmas, como a história específica e à cadeia de valor.
Vimos que na análise da competitividade estão envolvidos vários níveis, internos e
externos, que, em suma, buscam captar o comportamento da firma no ambiente.
Entretanto, a divisão tradicional da análise competitiva nos níveis organizacional,
estrutural, geográfico e sistêmico, negligencia certos arranjos produtivos locais, pouco
competitivos fora da esfera regional. Nesse sentido, para quando esta análise envolver
pólos de indústrias locais, propôs-se a consideração de um quinto nível, o qual foi
denominado de nível “segmental”. Tal denominação foi adotada devido a certos segmentos
de cadeias produtivas, pouco representativos em termos de fluxos comerciais, não serem
captados pelos níveis tradicionais. Entretanto, em muitos casos, arranjos produtivos locais
embutidos em tais segmentos, exercem papel fundamental na economia regional/local,
sendo suscetíveis a propostas de desenvolvimento específicas.
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
225
Concluímos que a competitividade, como o próprio processo produtivo é,
essencialmente, comportamental e dinâmica.
No Capítulo 3, exploramos os fundamentos teóricos da competitividade, em busca
de uma abordagem que permitisse e sustentasse a identificação e diferenciação de
características específicas das firmas, considerando padrões de comportamento na
obtenção de vantagens competitivas em determinados ambientes. Vimos que, a visão
neoclássica não permitiria uma abordagem que captasse contribuições próprias na geração
de diversidade técnica e a dinâmica tecnológica interfirmas em arranjos produtivos locais.
Portanto, seus fundamentos teóricos não seriam compatíveis com os propósitos desse
trabalho.
Em seguida, apresentamos uma síntese das características principais da abordagem
econômica evolucionária e seus elos com as questões do desenvolvimento econômico
local. Buscou-se destacar sua relevância no estudo do processo socioeconômico e o
desenvolvimento local e, especificamente, para os propósitos desse. Nesse sentido, uma
questão estratégica seria investigar até que ponto o futuro de um determinado sistema local
poderia ser determinado ou previsto, e como se avaliar a dinâmica desse sistema, de modo
a contornar barreiras e induzir investimentos públicos e privados. Pelas hipóteses
evolucionárias, concluiu-se que a diversidade de recursos e competências, assim como o
desempenho, poderiam ser critérios de identificação de méritos e deficiências dos agentes
em arranjos produtivos locais.
Como vimos, diversas microrregiões dispõem de oportunidades para melhorar seu
ambiente local e atrair empreendedores e trabalhadores qualificados capazes de
desenvolver novas idéias e atividades econômicas que poderiam se tornar núcleos de novas
ondas de desenvolvimento. Nesse grupo, se enquadrariam especialmente aquelas altamente
dinâmicas, cujas economias de aglomeração e de urbanização oferecem vantagens de
flexibilidade asseguradas pela diversidade de atividades, as quais, tenderiam a prevenir um
processo de saturação e estagnação. Por outro lado, em microrregiões que não apresentem
tais condições, a disponibilidade de oportunidades não é condição suficiente para evitar
uma inércia na estrutura econômica local. Nesses casos, políticas de desenvolvimento têm
mais possibilidades de sucesso quando seus objetivos estão fortemente vinculados às
características do ambiente local. Conseqüentemente, haveria a necessidade de políticas
específicas, afinadas com os recursos e as carências de cada contexto.
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
226
Desse modo, devería-se considerar principalmente a configuração das instituições
locais na construção de redes de capacitação, através da conexão de firmas e outras
instituições baseadas em conhecimento (universidades, centros de tecnológicos,
laboratórios etc.), de modo a fortalecer o processo de aprendizagem interativa e os padrões
competitivos dos arranjos locais.
Neste contexto, as alternativas para políticas de estímulo à criação de variedade e
de determinação de desenvolvimento futuro estariam de certa forma limitadas, levando a
questões para as quais dificilmente haveria respostas gerais: Quando as alternativas de
adaptação são limitadas pelas fronteiras históricas do sistema, seria possível mudar o curso
do desenvolvimento para uma trajetória de sucesso? De que forma? Como, por exemplo,
evitar uma situação de saturação ou estagnação, causadas pela dependência da trajetória
local? Como construir uma rede de capacidades (conforme amplamente sugerido na
literatura) em regiões periféricas, cuja inércia institucional e a falta de confiança são mais
regra do que exceção? Como proceder para tornar mais capazes os decisores para avaliar o
grau de adequação e os efeitos das interações entre os aspectos regionais/locais, mudança
tecnológica e desenvolvimento?
De acordo com os autores citados, observamos que responder a tais
questionamentos constituiria, no futuro próximo, um dos principais desafios da abordagem
evolucionária do desenvolvimento econômico e tema de crescente interesse acadêmico.
Na visão evolucionária, o ambiente e os agentes humanos interagiriam em um
processo dinâmico, com resultados futuros incertos. Entretanto, em casos onde as
trajetórias se mostram defasadas em relação às de setores similares de outras regiões, com
acentuado gap tecnológico, em um primeiro estágio, estas últimas poderiam servir de
referencial para um processo de benchmarking e absorção de tecnologias mais avançadas,
considerando características e especificidades de cada contexto.
Todavia, observamos também que políticas de desenvolvimento baseadas em
princípios evolucionários, concebem os agentes econômicos como “adaptadores” e não
como “otimizadores” (como na visão neoclássica). Assim, algumas trajetórias de
desenvolvimento não estariam suscetíveis ao planejamento ou previsão pelos decisores.
Por outro lado, em muitos casos, podería-se afirmar com uma certa dose de certeza onde
determinadas atividades não seriam localizadas. Nesse caso, seria fundamental a integração
e atuação conjunta de órgãos de governo, entidades sociais, centros de tecnologia e de
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
227
pesquisa para a criação de alternativas próprias de desenvolvimento. Além disso, ressaltouse também que os “mecanismos de seleção” não determinariam isoladamente o sucesso ou
o fracasso de certas agentes e arranjos em gerar e desenvolver novas tecnologias ou novas
combinações para superar barreiras do ambiente. A intervenção humana (política) poderia
exercer um papel fundamental em tal processo, principalmente quando dirigida a reverter
ou atenuar efeitos negativos da “dependência da trajetória”. Para se contornar os efeitos de
“dependência da trajetória” local é necessário direcionar investimentos que proporcionem
mudanças estruturais, contudo passo-a-passo e de forma sustentável.
Nesse sentido, um passo crucial seria a criação e adoção de ferramentas de
abordagem da competitividade que permitissem visualizar o comportamento dos agentes
em sistemas produtivos locais, de forma realista, captando especificidades e elementos de
diversidade, não tratando como unidade o que é fragmentado, heterogêneo e difuso.
Contribuições nesse sentido podem ser consideradas como “luzes guia” para um
tratamento mais efetivo da competitividade interna de arranjos produtivos locais e do
desenvolvimento de certas localidades, não captadas no tratamento mainstream.
No Capítulo 4, a partir dos conceitos evolucionários introduzidos previamente,
enfatizou-se a busca e definição de uma unidade de análise do comportamento da firma
que representasse: (i) um elemento de ligação entre fatores endógenos e exógenos (entre o
específico e o geral) e, conseqüentemente, servisse como; (ii) um parâmetro de
interpretação do desempenho de cada firma, refletindo as posições relativas de cada uma
de acordo com a dinâmica coletiva do arranjo. Nesse sentido, o passo seguinte foi integrar
os fundamentos evolucionários com conceitos da teoria comportamental e da competência
da firma, para o desenvolvimento de uma abordagem evolucionária competitividade em
arranjos produtivos locais que captasse elementos externos e internos à firma, de forma
combinada.
Assumimos, através dos conceitos explorados, que a dinâmica competitiva e a
evolução, nesse tipo de sistema, são fatores dependentes do padrão de recursos e do
desempenho das firmas, os quais, condicionam seu comportamento. Tal comportamento,
por sua vez, seria condicionado por sua capacidade de transformar recursos, habilidades,
capacidade e rotinas, em competências, aplicando-as na tomada de decisões estratégicas de
sobrevivência e desenvolvimento. Um aspecto considerado em tais decisões, é que estas
ocorrem em vários níveis, desde aquelas mais freqüentes, do dia-a-dia, até outras,
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
228
eventuais, mas estratégicas para a sustentabilidade da firma.
Internamente à firma, o conjunto de regras, procedimentos, rotinas e os vários
padrões de comportamento carregariam suas impressões e “caracteres” incorporados no
processo de adaptação ao meio. Estes, quando captados e interpretados coerentemente,
poderiam contribuir para revelar à verdadeira fonte das vantagens e desvantagens
competitivas de cada firma. A identificação de padrões embutidos em tais elementos,
intrínsecos à firma, foi o método adotado para se entender e se analisar seu comportamento
e a dinâmica competitiva do arranjo.
Como conseqüência da interpretação particular do processo de mudança
tecnológica e da dinâmica competitiva das firmas em arranjos produtivos locais, ao longo
dos Capítulos apresentados, introduziu-se o conceito de “Trajetória Competitiva”. Com
base nos mecanismos evolucionários, os elementos considerados foram:
i)
Os recursos, experiência, habilidades, competências, estratégias e o conhecimento
útil, próprios de cada firma e incorporados em suas rotinas e técnicas, se refletem
na posição competitiva da firma no arranjo;
ii)
As oportunidades de melhoria técnica e o acesso aos “regimes tecnológicos” e seus
respectivos padrões técnicos e organizacionais, estariam disponíveis a todas às
firmas através de trajetórias tecnológicas definidas no ambiente externo, porém,
apenas aquelas que conseguem atingir um padrão mínimo de recursos, rotinas e
desempenho, se tornam aptas a migrar para um novo regime;
iii)
Os efeitos de “dependência da trajetória”, os “mecanismos de seleção”, o padrão de
concorrência específico do arranjo e as condições de mercado e de infraestrutura
local, condicionam o comportamento das firmas no processo de mudança e
adaptação.
No Capítulo 5, vimos que avanços no estudo do desenvolvimento econômico local
e das novas organizações produtivas industriais têm revelado a necessidade de se romper a
tradicional fronteira de divisão dos fenômenos econômicos em microeconomia e
macroeconomia. A abordagem da competitividade em arranjos produtivos locais requer um
ponto vista da dimensão mesoeconômica do ambiente, vinculada especificamente ao
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
229
contexto local e setorial de cada ambiente. Entretanto, fatores internos às firmas
geralmente são ignorados ou não são captados pelas abordagens tradicionais.
Através
das
abordagens
descritas,
pôde-se
perceber
a
importância
do
desenvolvimento de novos enfoques para análise e caracterização das atividades
tecnológicas, principalmente para o tipo de sistema abordado.
Na abordagem proposta, considerando um arranjo produtivo local, partimos do
pressuposto de que as oportunidades e mudanças tecnológicas proporcionadas pelo
ambiente provocariam um processo de estratificação competitiva entre as empresas. Esta
foi uma derivação da hipótese evolucionária de diversidade no ambiente, a qual se
constituiu na hipótese básica da abordagem proposta. Uma proposição foi que tal
estratificação poderia revelar a “Trajetória Competitiva” do arranjo (como vimos no
Capítulo 4), a qual, constituiu a base da metodologia desenvolvida.
Vimos que o levantamento e a análise da estratificação em arranjos produtivos
locais é relevante tanto do ponto de vista da Organização Industrial e da Inovação, como
para a Economia Política e a “Engenharia Institucional” (no conceito proposto por
SQUAZZONI & BOERO, 2002), o qual, poderia possibilitar a priorização e o
direcionamento de ações, programas e políticas industriais de desenvolvimento desses
ambientes. Indústrias, setores, clusters, e, inclusive, pequenos arranjos locais,
compreendem
empresas
com
graus
diferenciados
de
evolução
tecnológica
e
organizacional. Entretanto, por razões metodológicas, são tratados de forma idêntica por
programas governamentais de apoio tecnológico e organizacional.
Nesse sentido, propomos uma nova alternativa para se abordar tal problema. Se as
especificidades internas das firmas em relação à sua cadeia de valor, produtividade,
qualidade, e outros parâmetros de formação da competitividade, seguem certos padrões e
formam agrupamentos característicos em termos de arranjo, poder-se-ia propor programas
específicos e soluções diferenciadas para cada grupo, de acordo com suas especificidades,
seu padrão tecnológico e suas dificuldades, considerando suas competências próprias.
Com relação ao caso específico do arranjo escolhido para ilustrar a aplicação da
metodologia (Pólo de Cerâmica Vermelha de Campos-RJ), o processo de mudança
tecnológica foi considerado através de uma interpretação particular do conceito de regime
tecnológico aplicado à tecnologia de queima no processo produtivo.
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
Cada
regime
compreenderia
certos
padrões
técnicos
e
230
organizacionais
característicos, os quais, deveriam ser assimilados por cada firma na transição entre dois
regimes tecnológicos diferentes (no caso, lenha e gás natural). Portanto, tais padrões,
característicos dos respectivos regimes, deveriam ser identificados e levantados. Uma
investigação empírica foi realizada com esse propósito. Para o estudo de campo, foi
selecionada uma amostra estratificada representativa da diversidade tecnológica do arranjo,
englobando proporcionalmente unidades em cada um dos regimes.
Assumimos que cada regime era representativo de um certo estágio de
desenvolvimento tecnológico no tempo, sabendo, entretanto, que na prática, estes
coexistem, sendo por isso incluído um regime misto, de transição. A estrutura geral do
arranjo de Cerâmica Vermelha permitiu supor que as trajetórias futuras passam por um
certo tipo de trade-off entre os efeitos de “destruição criativa” e de “dependência da
trajetória”. Os primeiros, provocados pela pressão competitiva do mercado e pela
disponibilidade das condições necessárias para implementação da tecnologia do gás natural
em substituição ao sistema de queima à lenha. De uma certa forma, estes se oporiam aos
efeitos da “dependência da trajetória”, devido às características históricas de
subdesenvolvimento, à lenta evolução técnica e organizacional do segmento, e à cultura
empresarial específica do arranjo. Tais fatores são fortemente condicionados pela
efetividade e eficácia das intervenções de ajuste na atividade, através de políticas
institucionais e governamentais (programas, incentivos e isenções), que tradicionalmente
exercem um caráter assistencialista aos agentes (empresários), ou favorecem apenas a
certos grupos específicos, além de normas de regulamentação (fiscalização ambiental e
social).
Verificamos que os conceitos e hipóteses assumidos na abordagem, e incorporados
na metodologia, se mostraram perfeitamente compatíveis com o contexto, dado que os
primeiros foram justamente definidos a partir do segundo.
A aplicação-ensaio da metodologia proposta foi apresentada no Capítulo 6, com o
objetivo de se avaliar sua consistência e as hipóteses levantadas. Nesse Capítulo,
apresentou-se uma síntese da pesquisa de campo realizada, cujo objetivo foi o de analisar o
impacto provocado pelo processo de mudança tecnológica na dinâmica competitiva no
Pólo de Cerâmica Vermelha do Norte Fluminense.
Observamos que a dinâmica competitiva no arranjo estudado provoca um processo
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
231
de estratificação interfirmas. Tal estratificação foi captada pela metodologia proposta, e os
conceitos evolucionários adotados mostraram-se suficientemente consistentes para explicar
tal dinâmica, confirmando as hipóteses assumidas.
Mostramos que a estratificação acima referida pode ser classificada em, pelo
menos, três grupos distintos de firmas, a saber: (i) Líderes; (ii) Intermediárias e (iii)
Retardatárias. Adicionalmente verificamos que tal estratificação se dá através da uma certa
trajetória representativa da dinâmica competitiva do arranjo, a qual, corresponde à
Trajetória Competitiva do arranjo, cuja metodologia proposta, como vimos, foi capaz de
captar.
7.2 Contribuições
As contribuições deste trabalho podem ser agrupadas da seguinte forma:
Como uma iniciativa multidisciplinar, através da conjugação de uma série de
conceitos, como evolução, entropia, trajetórias tecnológicas, dependência da
trajetória e rotinas, entre outros, envolvendo várias áreas de conhecimento, entre as
quais, especialmente, a Economia Regional e Local, Teoria da Firma/Organização e
a Engenharia de Produção.
Pela incursão em um campo acadêmico embrionário, que é o da vinculação de
elementos micro e mesoeconômicos do ambiente competitivo, através de uma
abordagem evolucionária do desenvolvimento local.
Pela introdução do conceito de “Trajetória Competitiva”, para a abordagem da
dinâmica competitiva em arranjos produtivos locais.
Pela proposição de um modelo geral para se estudar a dinâmica competitiva nos
sistemas em questão, flexível suficientemente para adaptação e aplicação a outros
sistemas.
Pela quebra de uma visão paradigmática de se explorar diversidades onde,
aparentemente, não haveria, como no caso estudado.
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
232
7.3 Perspectivas para Futuros Trabalhos
Considera-se, a partir das contribuições destacadas no item anterior, a possibilidade
de aprofundamento na linha de pesquisa. A abordagem e metodologia desenvolvidas nesse
trabalho, com as devidas adaptações, podem ser estendidos a uma série de arranjos
similares ao pesquisado.
Especificamente, a partir da grande quantidade de dados e informações obtidos
através dessa pesquisa, e com a conclusão dos trabalhos no referido pólo local, em uma
segunda etapa, pretende-se realizar um estudo similar nos demais pólos estaduais de
Cerâmica Vermelha, a fim de se avançar na comparação dos respectivos padrões e
Trajetórias Competitivas. Em uma etapa seguinte, pólos similares de outros estados, como
o de Itu-SP (citado no esboço de aplicação da metodologia, Capítulo 5), podem servir
como referências comparativas. Também há a possibilidade de realização de estudo similar
em arranjos de outras atividades econômicas. O Pólo de Pedras Decorativas de Santo
Antônio de Pádua-RJ, por exemplo, seria um arranjo potencialmente relacionado para
futuro trabalho.
A princípio, não haveria restrições de aplicabilidade da abordagem aqui proposta a
arranjos produtivos locais de uma forma geral, desde que satisfeitas algumas condições.
Tais condições estão relacionadas aos princípios evolucionários e a certas particularidades
do ambiente, como por exemplo, a coexistência de regimes tecnológicos com diversidade
técnica suficientemente suscetível de identificação através da análise de padrões técnicos e
rotinas organizacionais, ao longo do processo de agregação de valor aos produtos. Uma
outra, é que as empresas do arranjo concorram entre si, pelo menos em alguns tipos de
produtos. Arranjos do tipo “distritos industriais”, redes flexíveis de manufatura,
cooperativas e aglomerados verticais, com o domínio de uma empresa-cliente, na ausência
de livre concorrência entre as empresas-fornecedoras, exceto em casos muito especiais,
não se enquadrariam nas hipóteses assumidas. Ou, de forma dialética, desde que o
ambiente (arranjo) possa ser modelado em uma perspectiva evolucionária e satisfaça a
certas condições, seria suscetível de aplicação. Tais condições seriam: 1. A existência de
variedade (diversidade tecnológica) de espécies (empresas); 2. A existência de
“mecanismos de seleção” (padrões concorrenciais de mercado e marcos regulatórios), e; 3.
Mecanismos de retenção (oportunidades de aprendizagem e interações externas).
Através da constatação da diversidade se identificam um fator principal ou conjunto
CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES
233
de fatores de diversidade tecnológica e seus efeitos no mecanismo de seleção local. O
passo seguinte é a identificação dos padrões retidos no processo de mudança e adaptação.
No modelo de Trajetória Competitiva introduzido, a dinâmica do sistema foi
assumida como explicável através de uma correlação XY. Uma hipótese intrínseca é que
as variáveis “Recursos” e “Desempenho” são representativas e consistentes para expressar
tal dinâmica, a qual, foi confirmada pelos resultados do estudo empírico. Isso não quer
dizer que a dinâmica do sistema seja exclusivamente explicada por tais variáveis.
Generalizando, pode-se considerar que outras trajetórias possam ser expressas por outro
conjunto de variáveis, inclusive aquelas denominadas autodestrutivas. Estas só não
representariam a dinâmica competitiva do arranjo como um todo, mas sim, de certos
grupos específicos.
Como pontos passíveis de avanço na metodologia proposta, pode-se citar, por
exemplo, a utilização de métodos de classificação e de análise multicritério na modelagem
dos índices utilizados, além de outras abordagens no tratamento das informações e dados
como modelagem de empresas, métodos estatísticos, mapas cognitivos entre outros.
Considera-se também como potencial linha de pesquisa a exploração do conceito de
Trajetória Competitiva através de modelagem matemática, para simulação de possíveis
trajetórias, apesar da abordagem adotada neste trabalho não sugerir tal hipótese.
Enfim, a proposta desse trabalho foi a de adotar uma abordagem da competitividade
não como uma concepção de adaptação eficiente dos agentes ao ambiente, nem tampouco
como uma forma de predizer o futuro, mas essencialmente como um meio de se captar,
explorar as diversidades e heterogeneidades inerentes ao ambiente onde tais agentes
competem. Em suma, como uma estrutura analítica para se interpretar a “engenharia
competitiva” que caracteriza a dinâmica de determinados ambientes competitivos locais.
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APÊNDICE A
PESQUISA DE CAMPO REALIZADA NO PÓLO DE
CERÂMICA VERMELHA DO NORTE FLUMINENSE1
Resumo
Neste Apêndice, apresenta-se um resumo da pesquisa de campo realizada no Pólo
de Cerâmica Vermelha de Campos (Norte do Estado do Rio de Janeiro), através de um
estudo exploratório realizado no período de dezembro de 2002 a maio de 2003.
Primeiramente, é apresentada a metodologia da pesquisa de campo e, em seguida, uma
visão geral da atividade e do processo produtivo. A seguir, são destacados os principais
detalhes verificados in loco, unidade por unidade. As informações e os dados mais
relevantes para a pesquisa são concentrados em uma tabela-resumo, apresentada ao final da
avaliação de cada unidade. Além da análise objetiva, através de dados e informações
coletados, também foi realizada uma avaliação subjetiva, com base nos padrões, rotinas e
procedimentos internos verificados, a qual é relacionada ao final.
1 Objetivo
Levantar a diversidade e as principais mudanças tecnológicas e seus efeitos no Pólo
de Cerâmica Vermelha do Norte Fluminense, principalmente devido à disponibilidade e
implantação de queima a gás natural, identificando os principais fatores condicionantes da
dinâmica competitiva interna do arranjo, especialmente aqueles que contribuem para um
1
Parte integrante do Projeto Avaliação do Impacto da Mudança Tecnológica no Aglomerado de Cerâmica Vermelha do
Norte Fluminense, vinculado ao Núcleo de Estudos Estratégicos e Planejamento (NEEPLAN). Pesquisa idealizada no
escopo deste trabalho, sob a coordenação do autor e do Prof. José Arica, do Laboratório de Engenharia de Produção da
UENF, com financiamento de uma bolsa de extensão/UENF para o aluno de graduação em Eng. CivilDavid Eler.
APÊNDICE A
253
melhor desempenho das unidades, focando questões relativas à gestão, características dos
produtos, melhorias observadas ao longo do processo produtivo e seus reflexos no mercado.
2 Metodologia e Etapas
2.1 Método de Abordagem
Para a realização de tal trabalho, num primeiro momento, buscou-se informações e
dados publicados a respeito de arranjos similares do mesmo segmento, que passaram por
tal processo, em teses, livros, sites especializados, jornais e revistas especializadas, para
que se pudesse definir que tipo e quais as informações a serem levantadas para o caso em
questão.
A partir de questionários previamente elaborados, foram consultados profissionais
de instituições e órgãos com trabalhos e pesquisas vinculados à área na região, tais como:
Sindicato dos Ceramistas, LAMAV (Laboratório de Materiais Avançados), LECIV
(Laboratório de Engenharia Civil) da UENF, TECNORTE e CEFET-Campos, além dos
próprios ceramistas. Após as indicações, foram identificadas as unidades mais citadas, em
cada um dos grupos previamente definidos. O total de unidades selecionadas foi de 12
(doze), sendo 4 (quatro em cada grupo). Outras 3 (três) unidades foram escolhidas de forma
aleatória entre as indicadas, totalizando 15 (quinze).
2.2 Método de Procedimento (Pesquisa de Campo)
A pesquisa de campo2 propriamente dita compreendeu duas fases: uma de
acompanhamento do processo produtivo; e outra, de entrevistas com o proprietário ou
gerente da unidade, cobrindo as atividades de gestão. Na primeira fase, o proprietário (ou
gerente) respondeu a um questionário-padrão3, com informações gerais sobre a unidade,
dados relacionados à administração, produtos, mercado, secagem, queima e estratégias. Na
segunda fase, fez-se um acompanhamento de todas as etapas do processo produtivo, desde
a extração nas jazidas, passando pelas etapas de preparação da massa e fabricação, até o
estoque do produto acabado. Todos os pontos observados foram anotados em um segundo
2
A pesquisa durou cerca de seis meses (de dezembro de 2002 a maio de 2003).
3
Os questionários aplicados estão no Apêndice C.
APÊNDICE A
254
questionário-padrão. Além das observações das etapas do processo, cada ponto foi
fotografado. Todas as informações obtidas, assim como as fotos, foram arquivadas para
posterior análise e para que se pudesse, em uma segunda etapa, interpretar e formalizar as
informações coletadas.
Nessa etapa do trabalho, através das entrevistas feitas com os proprietários (ou
gerentes) das unidades, foram analisadas as atividades referentes à gestão e as rotinas do
processo produtivo, com a observação in loco de cada etapa nas unidades da amostra do
Pólo. Além das 15 unidades selecionadas, uma outra, também relacionada, foi uma unidade
criada pelo desmembramento de uma já existente, a qual não será comentada.
Foram feitas observações a respeito das seguintes etapas: extração, preparação da
massa, beneficiamento, secagem, queima e estocagem do produto final. Para se preservar a
integridade das fontes e o sigilo das informações obtidas, utilizar-se-á denominações
fictícias para cada unidade, da seguinte forma: Unidade A, Unidade B, Unidade C e assim
por diante, até a Unidade O.
2.3 Etapas do processo produtivo
De forma genérica, na produção oleiro-cerâmica existem fases comuns para todos
os tipos de produtos, que vão desde a retirada da argila nos barreiros, seu transporte para as
olarias, moldagem e secagem dos produtos, até a queima nos fornos, sendo esta última fase
a que requer melhor conhecimento e habilidade, pois pode comprometer todas as etapas
anteriores. Todas estas fases duram em média, de 8 a 14 dias, pois há uma significativa
variação de acordo com a época do ano, ocorrendo com que no período das chuvas a
secagem seja mais demorada, até duas vezes mais que no verão.
Em relação às etapas do processo produtivo, a ilustração da Figura AP1, mostra o
fluxograma do processo. Porém, de acordo com as características de cada unidade, há
variantes nesse modelo geral. Há unidades, por exemplo, que não fazem um estoque de
matéria-prima ou a mistura da argila na área da empresa. Outras, não realizam inspeção
após a queima, mesmo sendo esta uma fase onde se tem a maior porcentagem de perdas do
processo. Outro detalhe importante a ser relatado é que algumas unidades realizam uma
laminação dupla.
Nesse caso, a argila passa por todas as etapas até uma primeira
laminação, a partir da qual, é desviada do fluxo do processo, seguindo para um estoque
APÊNDICE A
255
específico, no qual permanece por um certo período (“descanso”), após o qual, é
reutilizada no processo, laminando então uma segunda vez, seguindo para as etapas
subseqüentes.
Figura AP1 – Etapas do processo produtivo da cerâmica vermelha
Nessa indústria, no processo de produção se empregam técnicas bastante
rudimentares, devido à própria característica da atividade de extração e manufatura. As
etapas do processo produtivo são praticamente as mesmas, exceto pela diferença de
produção de tijolos e telhas, para a qual, há a adição da etapa de prensagem. Aqui,
destacaremos cada fase para que se possa ter um melhor esclarecimento sobre as
características da atividade analisada neste trabalho. As etapas descritas, a seguir, referem-
APÊNDICE A
256
se ao padrão verificado no Pólo local da baixada campista. Veja a localização do referido
Pólo no Mapa AP14.
Mapa AP1 – Localização geográfica do arranjo estudado
2.3.1 Extração da argila: é realizada a céu aberto (Foto 2.3.1), geralmente com a
utilização de uma máquina do tipo retroescavadeira (que atinge maior profundidade de
extração) ou outra máquina semelhante, como um trator-esteira (que extrai lâminas
horizontais de argila). Dependendo das características do solo e do tratamento pós-
4
Apenas uma das unidades da amostra se localiza fora do aglomerado mostrado no Mapa.
APÊNDICE A
257
extração, tal etapa pode ser realizada através de extração vertical ou horizontal.
Normalmente, a jazida encontra-se próxima à empresa e é transportada por caminhões.
Foto 2.3.1 – Jazida de exploração
2.3.2 Estoque de matéria-prima: geralmente é feito a céu aberto, ou em silos cobertos
(como na Foto 3.2.2), conforme as características do material e o produto a ser produzido.
Foto 2.3.2 – Estoque de argila
APÊNDICE A
258
2.3.3 Caixão dosador: normalmente as unidades possuem dois caixões (ver Foto 2.3.2),
um destinado ao chamado barro “forte” (com maior concentração de argila) e outro
destinado ao barro “fraco” (mais concentrado em areia).
Foto 2.3.3 – Argila abastecendo o caixão dosador
2.3.4 Desintegrador: localizado logo após o caixão dosador, é um equipamento que,
através de movimentos circulares (Foto 2.3.4), permite a quebra de torrões e a
homogeneização da massa em pedaços menores.
Foto 2.3.4 – Redução dos blocos de argila
APÊNDICE A
259
2.3.5 Misturador: equipamento que adiciona água às matérias-primas desintegradas para
se obter as características de plasticidade e homogeneidade (Foto 2.3.5) necessárias à
extrusão.
Foto 2.3.5 – Argila sendo revolvida
2.3.6 Laminador: é um equipamento composto de dois cilindros (Foto 2.3.6),
responsáveis pela compactação e transformação da massa em “laminas” de argila. Este
processo permite uma significativa redução do consumo de energia. Além disso, a massa é
adensada, eliminando ou reduzindo as bolhas de ar.
Foto 2.3.6 – Homogeneização da massa de argila
APÊNDICE A
260
2.3.7 Extrusão ou maromba: a argila homogeneizada entra no extrusor (maromba) que a
comprime contra a boquilha, dando o formato à massa da seção desejada (Foto 2.3.7), com
o ar comprimido retirado por uma câmara de vácuo, isto é, uma chapa com pequenas áreas
geométricas vazadas que formam bastões na dimensão correta para o corte e ou prensagem.
Na produção de vasos e elementos de decoração a argila vai para um torno, em
lugar de ir ao extrusor. O torno é acionado por motor elétrico, e o trabalho é totalmente
manual.
Foto 2.3.7 – Extrusão da massa
2.3.8 Corte: a barra contínua de material extrusado é cortada automaticamente em
dimensões padronizadas (Foto 2.3.8) para cada tipo de produto.
Foto 2.3.8 – Corte da massa estrusada
APÊNDICE A
261
No caso da produção de telhas, a etapa seguinte é a de prensagem. Caso contrario, a etapa
seguinte é a secagem.
2.3.9 Prensagem: para a fabricação de telhas os elementos extrusados e cortados em
formato favorável são prensados em prensa (Foto 2.3.9) dotada de matrizes que
comprimem os elementos cortados dando forma final ao produto.
Foto 2.3.9 – Prensagem de telhas
2.3.10 Secagem: a céu aberto, protegido apenas por algum tipo de protetor contra as ações
intempéries ou feita em galpão coberto, contendo prateleiras fixas ou móveis. Feita
naturalmente, a secagem pode durar de 1 a 4 dias. São também utilizadas, por algumas
unidades, estufas para este fim, conhecida como secagem artificial (Foto 2.3.10),
aproveitando o calor residual dos fornos, quando do seu resfriamento ou então o calor
gerado por fornalhas, reduzindo bastante o tempo de secagem.
O material permanece na estufa por um período que pode variar de 12 a 36 horas. A
umidade final desejada, dependendo do produto, é da ordem de 3 a 4%, ocorrendo uma
contração que pode variar de 4 a 10%, porém tais números não puderam ser comprovados
nas unidades.
APÊNDICE A
262
Foto 2.3.10 – Entrada de um secador artificial
2.3.11 Queima: o material proveniente da secagem é carregado até o forno. Os fornos
podem utilizar como fonte de energia a lenha ou gás natural. O processo de queima pode
durar até 72 horas, dependendo do combustível utilizado. A Foto 2.3.11 mostra um tipo de
forno muito comum na região.
Foto 2.3.11 – Forno tipo Hoffman
Os tipos de fornos utilizados são: o convencional, com variações que recebem nomes
como, Hoffman (Fig. 2.3.11), vagão, paulistinha, paulista de crivo, entre outros, além de
fornos contínuos ou fornos túneis, considerados mais avançados em termos de tecnologia,
pela alta produção e características térmicas que proporcionam aos produtos.
APÊNDICE A
263
2.3.12 Inspeção: é realizada principalmente na saída do forno, rejeitando material
quebrado, trincado, lascado, queimado em excesso e, no caso das telhas, as que possuem
som “chocho” são descartadas. No entanto, na amostra estudada, não foi verificado
nenhum caso de rotina formal para registro de tal procedimento.
2.3.13 Estoque: é feito em área coberta ou ao tempo (Foto 2.3.13), permanecendo aí até a
expedição. Em grande parte da amostra visitada, o estoque das unidades não é constante,
variando de acordo com a demanda do mercado. Normalmente, nos meses de verão, o
estoque médio permanece no menor patamar do ano.
Foto 2.3.13 – Estoque a céu aberto
2.3.14 Expedição: efetuada através de caminhões (ver Foto 2.3.14) por via rodoviária,
utilizando veículos próprios ou de “fretistas”.
Foto 2.3.14 – Entrega de tijolos
APÊNDICE A
264
Avaliação Unidade por Unidade
Por razões metodológicas, as fases do processo descritas anteriormente foram
rearranjadas e agrupadas em seis etapas: 1. Extração; 2. Preparação da Massa; 3.
Beneficiamento; 4. Secagem; 5. Queima; e, 6. Estocagem (produto final).
A seguir, apresenta-se um resumo detalhado da avaliação dessas etapas na pesquisa
realizada em cada unidade, destacando-se os pontos mais relevantes da cadeia de valor, do
processo produtivo e das atividades de gestão, em termos de diversidade técnica e
organizacional, rotinas e padrões de processo e do produto.
Unidade A
Extração
! Esta unidade extrai cerca de 140m³/dia de argila (com autorização da FEEMA).
! A escolha da jazida é feita com o auxílio de um geólogo, e tem a participação
direta do proprietário da unidade.
! Não há uma seleção das argilas e estas são retiradas por uma retroescavadeira e,
posteriormente, são transportadas em um caminhão do tipo “caçamba”.
! Após a extração, o procedimento de tratamento do solo é feito através do
plantio de capim para a pastagem de gado.
! Segundo o proprietário, um plano em estudo é reflorestamento com eucalipto.
Preparação da massa
! A argila retirada das jazidas segue para um pequeno estoque dentro da unidade
e, após, para os caixões-dosadores (Foto A1).
APÊNDICE A
265
Foto A1 - Alimentação do caixão dosador
Beneficiamento
! Há uma separação da argila em dois tipos, a forte e a fraca e, dependendo do
tipo, segue para um caixão dosador correspondente (utiliza dois).
! A dosagem é feita de acordo com a qualidade especificada para o produto a ser
fabricado. Após passar pelo caixão dosador, a argila segue para o desintegrador,
misturador, laminador e maromba.
! A instalação de uma esteira rolante na etapa da extrusão, quando necessário,
desvia o barro da maromba (ver Foto A2), pela inversão de sentido (através de
um dispositivo mecânico), retornando com o barro de volta para o início do
processo. Este foi o principal diferencial observado no seu processo. Essa
alternativa
permite
a
paralisação
do
processo
quando
necessário,
proporcionando uma matéria-prima de melhor qualidade. Devido ao maior
tempo de espera, há uma maior homogeneização da argila. Ao sair da maromba,
a massa tem a forma do produto desejado e é cortada de acordo com as
dimensões das peças.
APÊNDICE A
266
Foto A3 – Sistema de desvio de massa da maromba
Secagem
! As peças passam por um secador artificial, composto por 400 estantes com
capacidade para 92 tijolos cada, que reaproveita o calor gerado pelo forno
através de uma tubulação instalada entre o forno e o secador (Foto A4),
sofrendo a ação de ventilação forçada.
Foto A4 – Tubulação de condução do calor para o secador artificial
APÊNDICE A
267
Queima
! A queima é feita em um forno tipo túnel com capacidade para 24.000 peças e
utiliza como combustível o gás natural.
! A temperatura atingida gira em torno dos 650º (Foto A5) e é mantida por 24
horas.
Foto A5 – Medidor de temperatura
Estoque
! A unidade não mantém um estoque regular, que varia de acordo com a demanda
do mercado (Foto A6).
Foto A6 – Estoque elevado
APÊNDICE A
268
Obs.: Esta cerâmica, produtora de blocos cerâmicos (tijolos), é uma das 3 unidades
que implantaram no processo de fabricação etapas seqüenciais semi-automatizadas
(as outras, são a C e a L). Esta situação pôde ser observada na etapa do transporte
das peças (Foto A7) após a saída da maromba até as estantes automáticas (Foto
A8), que abastecem o secador com capacidade para 400 estantes com 92 tijolos
cada. Neste caso, a interferência humana acontece somente na etapa do
abastecimento do caixão dosador e na parte do transporte das peças do secador para
os fornos.
Foto A7 – Esteira transportadora
Foto A8 – Empilhadora automática
APÊNDICE A
269
A seguir é apresentado um resumo dos principais dados da unidade A:
Tabela A1 – Resumo das informações e dados da unidade A
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade A
1986
tijolos
46.000
24.000
R$ 200
E.S, R. Lagos, G. Rio
720.000
Dez-Fev
Jul-Set
34
85.000 - 90.000
própria
5
3
artificial
túnel
sim
lenha e gás
N/D
E.S
5%
sim
Obs.: Esta unidade apresenta um padrão mais elevado quando comparado à
unidade I, por exemplo, devido a reutilização de peças com defeito (ver Foto I1)
durante o processo. Assim como as unidades B, E e L, essa cerâmica possui maior
controle na parte de gerenciamento nas etapas de produção e na administração.
Unidade B:
Obs: O proprietário não permitiu que as instalações da unidade fossem
fotografadas.
APÊNDICE A
270
Extração
! Extração terceirizada;
! Execução de sondagem a trado da jazida a ser explorada
! Realiza análise granulométrica em laboratório especifico de solos na UENF
(Universidade Estadual do Norte Fluminense).
Preparação da massa
! Tratamento pós-extração: homogeneização.
1º - estocagem de vários caminhões de argila fraca separada por corredores que
são preenchidos com argila forte;
2º - Um trator faz a mistura e homogenização da massa.
Beneficiamento
! Passagem da massa passa pelo caixão dosador, desintegrador, laminador,
maromba e prensa, que dá a forma a massa que saiu da maromba.
! As sobras que resultam da prensagem voltam para o caixão dosador para que
possa ser reaproveitada.
Secagem
! Secagem das peças feita de duas formas: a secagem artificial e a natural. Na
secagem natural as peças ficam estocadas sob um galpão aberto permitindo a
livre circulação de ar por um período de aproximadamente 30 h. Já na secagem
artificial, as peças recebem o calor gerado por uma caldeira, que também utiliza
como fonte de calor o gás natural e o período é de 12 h.
Queima
! Utiliza-se gás natural como combustível em um forno Hoffman e a temperatura
de queima é rigorosamente controlada por termopares, atingindo os 1020ºC
APÊNDICE A
271
(temperatura ideal para telhas) por 6 horas. Essa temperatura garante às telhas
baixa absorção d’água e boa resistência.
Estoque
! A unidade não mantém um estoque regular, variando de acordo com o mercado.
A seguir tem-se um resumo de alguns dados da unidade:
Tabela B1 – Resumo das informações e dados da unidade B
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
* Consumo de gás, principal combustível.
Unidade B
1991
telhas
50.000
40.000
R$ 340
R.J e R.dos Lagos
1.200.000
Dez-Fev
Mai-Out
110
93.000
arrendada
15
9
artificial e natural
Hoffman
não
lenha e gás
3*
29,2 m
E.S e S.P
5%
sim
APÊNDICE A
272
Unidade C
Extração
! O processo de seleção das argilas a serem extraídas é visual e não há um
planejamento formal.
Preparação da massa
! Para a fabricação de tijolos, a argila é depositada diretamente no caixão
dosador.
! Para a fabricação de telhas, a argila é estocada em um silo (Foto C1) e
permanece neste por um período de no mínimo 30 dias antes de ser utilizada no
processo produtivo. Esse “descanso” da matéria-prima dá a mesma uma
característica mais homogênea.
Foto C1 – Estocagem em silo para “descanso”
Beneficiamento
! Pelo fato da unidade fabricar tanto tijolos quanto telhas, os processos são
semelhantes até uma certa parte.
APÊNDICE A
273
! As etapas de extração, estoque, dosagem, desintegração, mistura, laminação e
extrusão, são semelhante as outras unidades que produzem tijolos.
! Quando da produção de telhas, o processo segue da mesma forma até a chegada
na maromba. Neste ponto, há uma esteira rolante que joga o barro para um silo
e quando necessário retornar a produção deste tipo de peça, o material (barro)
passa também por um primeiro laminador e posteriormente por um segundo
mais fino. E por último, a prensagem. A Foto C2 mostra o laminador.
Foto C3 – Interior do laminador
Secagem
! Feita tanto naturalmente quanto artificialmente em estufa (ver Foto C4), onde
há um reaproveitamento do calor gerado no forno com o uso de um exaustor
que reaproveita o calor gerado pelo forno, as peças permanecem por 24 h.
APÊNDICE A
274
Foto C4 – Secador artificial
Queima
! Feita em três tipos de fornos: tipo Hoffman para tijolos, outro paulistinha
reversível (Foto C5) para telhas e um terceiro para lajes e tijolos, tipo vagão.
! Em todos os fornos a lenha é o combustível para a queima.
Foto C5 – Foto da parte da frente do forno (“vagão”)
Estoque
! Não é regular (Foto C6), variando de acordo com o mercado.
APÊNDICE A
Foto C6 – Estoque de blocos cerâmicos (reduzido)
A seguir tem-se um resumo dos dados da unidade:
Tabela C1 – Resumo das informações e dados da unidade C
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (Km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
* Produção em caráter experimental.
** Preço referente às telhas
Unidade
1974
tijolos e telhas*
60.000
40.000
R$ 110 e R$ 310**
R.J e G. Rio / R. dos Lagos
900.000
Out-Jan
Mai-Jul
54
40.000
própria
30
1,5
artificial
vagão
sim
lenha
0,83 m3
R.J e R. dos Lagos
10,00%
sim
275
APÊNDICE A
276
Unidade D
Extração
! A empresa faz um planejamento para a extração: divisão por área e por
material, isto é, um estudo geométrico, qualitativo e quantitativo. Porém a
seleção das argilas é visual, por experiência.
Preparação da massa
! Para a fabricação de tijolos a argila vai direto para o caixão dosador e segue
para as demais etapas do processo produtivo.
! Para a fabricação de telhas, a argila passa por todo o processo até a laminação.
A partir daí segue para um estoque separado, servindo como “descanso” (Foto
D1) para a fabricação das telhas. Após permanecer nesse estoque, volta para um
caixão dosador especifico e repete a laminação, fazendo assim a laminação
dupla.
Foto D1 – Estoque de argila destinada à produção de telhas
Beneficiamento
! Segue o mesmo processo para a fabricação de tijolos e telhas em relação às
demais unidades. Na figura abaixo (Foto D2), observa-se a prensa para as
telhas.
APÊNDICE A
277
Foto D2 – Forma da prensa usada para fabricação de telhas
Secagem
! Reaproveita o calor gerado pelo forno para o secador na secagem artificial
(Foto D3). Este tipo de secagem destina-se somente às telhas, uma vez que os
tijolos secam naturalmente. Os ventiladores forçam a circulação do ar quente
entre as peças, reduzindo substancialmente o tempo de secagem.
Foto D3 – Secador com ventiladores móveis
APÊNDICE A
278
Queima
! Para as telhas, a queima é em um forno tipo paulistinha (Foto D4) e utiliza a
madeira como combustível. A queima de tijolos é feita no forno tipo Hoffman
(Foto D5) e utiliza-se o gás natural como combustível.
Foto D4 – Forno tipo paulistinha
Foto D5 – Forno tipo Hoffman
APÊNDICE A
279
Estoque
! Mantém um estoque mínimo de tijolos e de aproximadamente 20.000 peças para
telhas.
Tabela D1 – Resumo das informações e dados da unidade D
Tipo de informação
Unidade D
Início da produção
1993
Produto
tijolos e telhas
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
80.000 / 6.500*
Volume produzido/dia (nºde peças)
40.000 / 3500*
Preço (principal produto)
R$ 120 / R$ 300*
Principais mercados
Niterói, G. Rio e R. dos Lagos
Volume de vendas/mês (nº de peças)
800.000
Meses de maior venda
Mar-Jun
Meses de menor venda
Dez-Jan
Nº de funcionários
34
Consumo de energia (KWA)
15.000 - 20.000
Jazida
própria
Autonomia para extração (anos)
10
Distância média da jazida (km)
8
Tipo de secagem
natural
Tipo de forno
Hoffman / paulistinha**
Reaproveitamento de calor p/ secagem
não
Combustível
lenha e gás
3
20 m ***
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
R.J, Campos / S.P*
Perda total
10%
Utiliza microcomputador
não
* Referente a telhas.
** Forno Hoffman: queima de tijolos. Forno paulistinha: queima de telhas.
*** Valor referente ao consumo de gás.
Unidade E
Obs.: Esta unidade produz exclusivamente tijolos aparentes (produtos rústicos).
Extração
! Utiliza 3 (três) tipos de argila (Foto E1): duas da região de Campos, e outras do
município de Silva Jardim-RJ;
APÊNDICE A
280
! O proprietário retirada amostra para análise granulométrica, que é feita na
UENF ou na FUNDENOR (Fundação de Desenvolvimento do Norte
Fluminense). A análise química da área a ser explorada é feita em um
Laboratório em Santa Catarina.
! O processo de seleção é visual.
Foto E2 – Foto de uma das argilas utilizadas pela unidade
Preparação da massa
! Na fabricação de pisos e tijolos de quatro faces (Foto E3), a argila passa pelo
laminador e em seguida segue para um estoque separado das demais matériasprimas, permanecendo neste local por aproximadamente 7 meses antes de ser
utilizada no processo produtivo.
! Para as demais peças, não há esse período de espera.
APÊNDICE A
281
Foto E3 – Tijolos de 4 faces (plaquetas, produto diferenciado)
Beneficiamento
! Mesmo fabricando um produto diferente das demais unidades da região, as
etapas do processo produtivo são as mesmas para a fabricação dos tijolos
maciços aparentes.
Secagem
! A secagem é natural (galpão coberto), e dura aproximadamente 30 dias no
verão e 60 dias no inverno (Foto E4).
Foto E4 – Secagem dos tijolos aparentes vazados
APÊNDICE A
282
Queima
! Possui 3 fornos tipo caieira e a temperatura é controlada através de um
termopar. Após o forno atingir a temperatura ideal, monitorada através de um
medidor temperatura, uma cancela localizada na chaminé (Fotos E5 e E6) é
fechada e as peças permanecem por mais 24 horas para que sofram sinterização.
Devido ao tipo de produto fabricado, somente a lenha é usada como
combustível.
Fotos E5 - Detalhe da cancela na parte superior
E6 – Detalhe do medidor de temperatura (termopar)
APÊNDICE A
283
Estoque
! Mantém um estoque em torno de 200.000 peças (Foto E7).
Foto E7 – Estoque de tijolos maciços tipo mesclados
Obs.: A cerâmica E, apesar de não utilizar o gás como combustível na queima e de
não produzir telhas, se apresenta como uma unidade com grande potencial, uma vez
que os produtos fabricados possuem alto valor agregado, que são os tijolos
aparentes. Além da qualidade das peças, devido ao conhecimento técnico
demonstrado pelo proprietário e ao padrão de controle do processo estar acima da
média verificada nas unidades da amostra. Essa unidade é pioneira na região na
exploração de tal nicho de mercado e a única a produzir tal tipo peça. Outras
unidades já tentam fabricar esse tipo de produto, porém ainda sem sucesso.
Segundo o proprietário, um procedimento adotado no processo (citado na etapa da
queima) é a sinterização, processo pelo qual, se reduz a porosidade e a absorção
d’água pelo material, aumentando sua resistência mecânica. Essa medida evita
também que as peças sofram trincas comprometendo a qualidade do material (Foto
E8).
APÊNDICE A
Foto E8 – Trincas visíveis surgidas na queima sem sinterização
Tabela E1 – Resumo das informações e dados da unidade E
Tipos de Informação
Unidade E
Início da produção
1997
Produto
tijolos maciços aparentes
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
30.000
Volume produzido/dia (nºde peças)
11.000
Preço (principal produto)
R$ 250
Principais mercados
R.J, G. Rio, Juiz de Fora, Vitória Niterói
Volume de vendas/mês (nº de peças)
300.000
Meses de maior venda
Mai-Jun
Meses de menor venda
Fev-Mar
Nº de funcionários
30
Consumo de energia (KWA)
4.000
Jazida
arrendada
Autonomia para extração (anos)
1
Distância média da jazida (km)
5 – 250*
Tipo de secagem
natural
Tipo de forno
caieira
Reaproveitamento de calor p/ secagem
não
Combustível
lenha
Consumo de combustível/milheiro
10 m3
Localização dos principais concorrentes
Itaboraí, Campos, Santa Catarina
Perda total
10%
Utiliza microcomputador
não
* A distância de 5 km refere-se à argila extraída da região. E a distância de 250 km quando da
utilização de argila de Silva Jardim.
284
APÊNDICE A
285
Unidade F
Extração
! Assim como a maioria das unidades pesquisa, esta não possui um planejamento
formal para a extração e a seleção é visual.
Preparação da massa
! Não há um preparo da massa. A argila seque para um estoque da unidade,
depois direto para o caixão dosador (Foto F1) e daí para as demais etapas.
Foto F1 – Argila já no caixão dosador
Beneficiamento
! Não há diferença em relação às demais unidades (Foto F2). No entanto, nesta
etapa, a unidade se diferencia das demais, pois executa uma programação na
para troca dos arames da cortadeira (segundo o gerente, o fio é trocado no inicio
do expediente, às 07:00h, no intervalo para o almoço, as 11:00h, e à tarde, às
16:00h). Dessa forma, evita-se paralisações da produção.
APÊNDICE A
Foto F2 – Visão geral do processo produtivo
Secagem
! O tipo de secagem é natural, cobertas apenas por placas metálicas (Foto F3).
Foto F3 – Área destinada à secagem natural
Queima
! Feita em um forno tipo Hoffman (ver Foto F4) e o combustível é a lenha.
286
APÊNDICE A
Foto F4 – Detalhe da lenha utilizada (acima do forno)
Estoque
! Mantém um estoque de 200.000 peças, mas que em meses como os do verão
reduz e nos meses de inverno são mais elevados.
Tabela F1 – Resumo das informações e dados da unidade F
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade F
1992
tijolos
54.000
40.000
R$ 110
G. Rio, Volta Redonda, Itaperuna
1.200.000
Set-Dez
Jan-Abr
50
30.000
arrendada
2
4
natural
Hoffman
não
lenha
N/D
Campos
3%
sim
287
APÊNDICE A
288
Obs.: Apesar desta unidade apresentar um layout bem organizado (Foto F2), por
exemplo, que a unidade I (Foto I2), está, porém, apresenta um padrão mais baixo
em relação à unidade E. Os dados fornecidos pelo proprietário não foram precisos.
Unidade G
Extração
! O processo de seleção das argilas é visual.
! Não regularmente, a argila é levada para a UENF para análises (granulometria,
plasticidade, teor de ferro e potássio e de matéria orgânica).
Preparação da massa
! Não há um preparo da massa a ser utilizada no processo produtivo, uma vez que
a argila segue para um pequeno estoque e posteriormente para o caixão dosador
(Foto G1).
Foto G1 – Alimentação de argila no caixão dosador
APÊNDICE A
289
Beneficiamento
! Não foram observadas características relevantes nesta etapa.
Secagem
! A secagem é natural e leva em média 24 h (Foto G2).
! Pelo fato dessa unidade fabricar também tijolos estruturais, nessa fase, o tempo
de secagem dessas peças normalmente é maior. No processo de secagem, esse
tipo de tijolo pode chegar a perder até 8% do seu peso.
Foto G2 – Galpão coberto destinado para secagem natural
Queima
! A temperatura de queima para os tijolos estruturais é maior, chegando aos
850ºC, enquanto que os demais vão à 650ºC. O forno é o tipo Hoffman (Foto
G3) e o gás é o combustível utilizado.
APÊNDICE A
290
Foto G3 – Forno tipo Hoffman
Estoque
! Não mantém um estoque (Foto G4) regular, variando de acordo com o mercado.
Foto G4 – Estoque elevado de peças
Obs.: Essa unidade utiliza para o transporte das peças do forno para o estoque, um
sistema mecânico composto por “carro-vagão” que leva as peças até a área de
estoque. A utilização desse sistema faz com que o número de peças perdidas seja
menor em relação ao transporte manual. Ao mesmo tempo, este tipo de
procedimento proporciona uma melhor disposição e organização do estoque.
APÊNDICE A
291
Tabela G1 – Resumo das informações e dados da unidade G
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade G
1989
tijolo
60.000
44.000
R$ 90
Grande Rio e E.S
1.300.000
Out-Nov
Dez-Fev
40
28.000
própria
7
3
natural
Hoffman
não
lenha e gás
N/D
Campos, Itaboraí, E.S
5%
sim
Unidade H
Extração
! Como à maioria, esta unidade não realiza planejamento formal para a extração
das argilas e a escolha é visual.
Preparo da massa
! Não há no preparo da massa um tratamento diferenciado, uma vez que a argila
retirada da jazida segue direto para o caixão dosador (Foto H1), onde também
são reutilizadas peças defeituosas e assim para as demais fases do processo
produtivo.
APÊNDICE A
292
Foto H1 - Caixão dosador
Secagem
! A secagem é natural (Foto H2) e dura aproximadamente 12 h no verão e 5 dias
no inverno.
Foto H2 – Galpão coberto para secagem natural
Queima
! Feita em um forno Hoffman, usando o gás natural, e outro chamado de
“Paulista de Crivo” (Foto H3, semelhante a um “caieira” moderno) que pode
atingir uma temperatura de 850ºC.
APÊNDICE A
Foto H3 – Forno tipo paulistinha de crivo
Estoque
! O estoque médio é de cerca de 50% da produção.
Tabela H1– Resumo das informações e dados da unidade H
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
* Consumo de gás.
Unidade H
1984
tijolos
40.000
30.000
R$ 110,00
Volta Redonda, Barra Mansa, e G. Rio
450.000
Dez-Fev
Jun-Ago
35
23.000
própria
20
10
natural
Hoffman e paulista de crivo
não
lenha e gás
20 m3*
Campos
2%
sim
293
APÊNDICE A
294
Unidade I
Extração
! A seleção da argila é tátil, feita, inclusive, pelo proprietário.
Preparo da massa
! A argila extraída segue direto para o caixão dosador e assim para as demais
fases do processo produtivo.
! Observou-se o retorno de grande número de material ao início do processo,
devido à ineficiência das etapas seguintes (Foto I1). As peças com problemas
de conformação retornam ao caixão dosador.
Foto I1 – Reaproveitamento de peças
Beneficiamento
! O layout das etapas do processo é bastante desorganizado, comprometendo a
eficiência em várias fases (Foto I2).
APÊNDICE A
Foto I2 – Visão de parte do processo produtivo
Secagem
! A secagem é natural (Foto I3) e o tempo médio é de 4 dias.
Foto I3 - Área de secagem natural
295
APÊNDICE A
296
Foto I4 – Transporte de peças
Obs.: O transporte das peças para a etapa da secagem é feito por um funcionário,
como pode ser observado na Foto I4. Este procedimento gera uma situação de
ociosidade, uma vez que o trabalhador fica a espera da fabricação das peças (ver
Foto I2) para apenas então, efetuar seu transporte para a secagem.
Queima
! O proprietário afirmou desconhecer a temperatura máxima do forno;
! Tal fato pode estar comprometendo a qualidade dos produtos;
! A madeira usada como combustível é muito heterogênea (ver Foto I5).
Foto I5 – Qualquer tipo de madeira é utilizada para abastecer o forno
APÊNDICE A
297
Estoque
! O estoque da unidade é, em média, de 20% da produção (ver figura I6).
Foto I6 – Estoque elevado
Obs.: Assim como o processo produtivo, que é controlado pelo proprietário, a
administração da unidade é de responsabilidade da integrantes da própria família.
A tabela a seguir apresenta um resumo dos principais dados da unidade:
APÊNDICE A
298
Tabela I1 – Resumo das informações e dados da unidade I
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade I
1993
tijolos
14.000
10.000
R$ 100
G. Rio, R. dos Lagos, Campos e Macaé
240.000
Abr-Dez
Jan-Mar
18
7.000
própria
10
5
natural
Hoffman
não
lenha
0,5m3
Campos, Itaboraí
7%
não
Obs.: A administração é familiar. As rotinas observadas nesta etapa enquadram-se
no padrão mais baixo entre as unidades avaliadas. Uma comparação visual, por
exemplo, pode ser feita com aquele observado na Unidade F. Isto pode ser
verificado pela comparação entre as Fotos F2 e I2. A desorganização da planta e a
falta de controle do processo impedem que o proprietário conheça os custos do
processo. Apresenta-se em um padrão bem inferior às unidades anteriores.
Unidade J
Extração
! A unidade possui uma jazida, mas ainda não a utiliza. Sua extração é feita em
uma área para exploração arrendada (uma outra jazida). A estratégia do
proprietário é manter seu estoque de argila preservado, vislumbrando um
esgotamento do recurso na região em um futuro próximo.
APÊNDICE A
299
Preparo da massa
! A argila segue direto da jazida para um pequeno estoque (Foto J1) da unidade e
depois o caixão dosador.
Foto J1 – Estoque de argila da unidade (ao fundo)
Beneficiamento
! Segue as mesmas etapas para as unidades do setor, porém, as instalações são
antigas (Foto J2).
! Devido à utilização de uma argila heterogênea, com resíduos, o processo é
interrompido constantemente para retira-los.
Foto J2 – Equipamento sem conservação e cobertura inadequada
APÊNDICE A
300
Secagem
! Esse processo é natural (Foto J3).
Foto J3 – Área de secagem das peças
Queima
! O proprietário estima, uma vez que não possui equipamento para medição, que
a temperatura de queima de seu forno (Foto J4) gire em torno dos 700ºC (vale
lembrar que o combustível utilizado é a lenha).
! A temperatura é controlada de acordo com a experiência dos forneiros.
Apresenta um produto com características visuais bastante heterogêneas.
Foto J4 – Forno tipo circular
APÊNDICE A
301
Estoque
! Idem (Foto J5).
Foto J5 – Estoque reduzido
Obs.: Esta unidade, além das cerâmicas I e O, utiliza em seu processo produtivo,
uma argila com características visuais bastante heterogêneas (Foto J6). Neste ponto,
apresenta um padrão bem inferior a outras unidades que realizam tratamento pós
extração, como, por exemplo a unidade K (Foto J7)
Foto J6 - Argila heterogênea (Cerâmica J)
APÊNDICE A
302
Foto J7 – Argila tratada (Cerâmica K)
Obs.: No local destinado ao abastecimento do caminhão das peças a serem
expedidas, há uma região de desnível (Foto J8), que permite que a carroceria do
caminhão fique no mesmo nível do solo, evitando assim, que as peças sejam
“jogadas” para cima da carroceria do caminhão, o que pode reduzir o número de
peças danificadas. Essa melhoria proporciona um aumento na produtividade do
trabalho nesta etapa. A unidade L também possui tal atributo.
Foto J8 – Local para expedição dos produtos
APÊNDICE A
303
Tabela J1 – Resumo das informações e dados da unidade J
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido/dia (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
* Utilizada no momento.
Unidade J
1973
tijolos
50.000
20.000
R$ 100
Vitória, Cabo Frio, Campos
500.000
Abr-Dez
Dez-Fev
17
18.000
própria / arrendada*
10
4
natural
Hoffman/Circular
não
lenha
N/D
Vitória, Itaboraí
10%
não
Obs.: Esta unidade caracteriza-se pela administração familiar. Através da Foto J2,
pode-se notar que as instalações da unidade são de um padrão bem inferior, por
exemplo, às das cerâmicas A e L. Devido à deficiência na organização interna e das
rotinas, o proprietário não possui conhecimento preciso dos principais dados da
unidade.
Unidade K
Extração
! A escolha da argila é visual. Porém a unidade possui em estoque (Foto K1),
pelo fato do proprietário acreditar que a qualidade da argila melhore uma vez
deixada por um período de “descanso”.
APÊNDICE A
304
Foto K1 – Estoque de argila mantido em “descanso” (ao ar livre)
Preparo da massa
! Nessa fase, há uma divisão: numa primeira etapa, a argila já misturada (barro
forte e barro fraco) e homogeneizada passa pelo caixão dosador, desintegrador,
misturador e laminador. Na segunda etapa, segue para um estoque em um silo.
(Foto K2), onde permanece por 24 h ou até que seja requisitada na produção.
Foto K2 – Classificação e estocagem de argila em silos
Beneficiamento
! O material retirado do estoque em questão passa novamente pelas quatro etapas
iniciais do processo (caixão dosador, laminador, misturador e maromba), e daí,
para o cortador (Foto K3). A argila é homogeneizada duas vezes, o que
possibilita um produto de melhor qualidade.
APÊNDICE A
305
Foto K3 – Etapa de corte
Secagem
! A secagem é feita tanto naturalmente quanto artificialmente, sendo que para
este último caso há um reaproveitamento do calor, em torno de 120ºC, gerado
pelo forno túnel. Além disso, a unidade está construíndo mais um secador (Foto
K4), com capacidade para 50.000 peças com um tempo provável de secagem de
aproximadamente 24 h, uma vez que também reaproveitará o calor gerado pelo
forno.
Foto K4 – Secador em fase de construção
APÊNDICE A
306
Queima
! A queima é feita em dois fornos: um tipo Hoffman, onde a temperatura atinge
cerca de 600ºC, e um outro, tipo túnel (Foto K5), cuja a temperatura chega a
800ºC. As temperaturas são controladas por termopares e o combustível
utilizado é o gás natural. A Foto abaixo mostra o forno túnel.
Foto K5 – Forno túnel (moderno)
Estoque
! Estoque a céu aberto de tijolos (Foto K6).
Foto K6 – Estoque elevado
APÊNDICE A
307
Tabela K1 – Resumo das informações e dados da unidade K
Tipo de informação
Unidade K
Início da produção
1972
Produto
tijolo
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
90.000
Volume produzido dia (nºde peças)
18.000
Preço (principal produto)
R$ 100
Principais mercados
G Rio, R. dos Lagos, Vitória
Volume de vendas/mês (nº de peças)
14.000
Meses de maior venda
Mai-Out
Meses de menor venda
Dez-Fev
Nº de funcionários
35
Consumo de energia (KWA)
35.000 - 90.000
Jazida
própria e arrendada
Autonomia para extração (anos)
30
Distância média da jazida (km)
8
Tipo de secagem
natural e artificial
Tipo de forno
Túnel e Hoffman
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Sim. Forno túnel
Combustível
lenha e gás*
Consumo de combustível/milheiro
N/D
Localização dos principais concorrentes
Itaboraí e Cachoeiro de Itapemirim
Perda total
13%
Utiliza microcomputador
sim
*Possui instalações, mas não queima gás há 2 anos
Unidade L
Extração
! A argila também é extraída por retro-escavadeira e transportada por caminhão
caçamba até a unidade, que possui um estoque considerável (Foto L1) da
matéria-prima a ser utilizada.
APÊNDICE A
308
Foto L1 – Argila estocada (grande volume)
Preparo da massa
! A argila retirada da jazida é depositada em um depósito a céu aberto (estoque)
na área da própria cerâmica, ficando neste, segundo o gerente, por, no mínimo,
6 (seis) meses (Foto anterior). Depois segue para um caixão dosador,
desintegrador, misturador, laminador e depois para um silo (Foto L2). Após o
período de 6 meses, e a 1ª laminação, é subdividida em 5 (cinco) tipos com
depósitos separados, um para cada dia da semana. Posteriormente, são
utilizadas conforme o tipo de produto requerido (tijolos tipo laje e telhas).
! A matéria-prima já homogenizada permanece neste silo por 3 ou 4 dias antes de
ser utilizada.
Foto L2 – Silos para estoque de argila
APÊNDICE A
309
Beneficiamento
! Depois do período neste silo, a massa passa novamente pelo processo (caixão
dosador, desintegrador, misturador, laminador, outro laminador), caracterizando
assim a laminação dupla, e, por último, pela maromba. Um detalhe relevante
verificado, é que a unidade adicionou ao processo um equipamento resfriador
da água (Foto L3), a ser adicionada à massa na maromba, o que contribui para
uma maior homogeneização da massa.
Foto L3 – Resfriador de água (antes da extrusão)
Obs.: Quando da produção de tijolos de lajes, o processo realiza a seqüência
convencional das outras unidades. Porém no caso das telhas, é realizada uma etapa
extra para o revestimento das telhas, que consiste na etapa final para a fabricação
deste tipo de material. Esse revestimento constitui na aplicação de um tipo especial
de esmalte (ver Fotos L4 e L5) a base de poliéster, após a queima. Este
revestimento faz com que, segundo o proprietário, a telha fique totalmente
impermeável, aumentando assim a durabilidade e a resistência do material.
APÊNDICE A
Fotos L4– Aplicação do esmalte às telhas
Foto L5 - Ventiladores para acelerar a secagem
Secagem
! Natural, para tijolos de laje, e artificial, para telhas.
! O calor é gerado por uma fornalha (Foto L6).
310
APÊNDICE A
311
Foto L6 – Fornalha para geração de calor para secagem artificial
Queima
! A unidade possui dois fornos tipo câmara. Na queima das telhas a temperatura
atingida é de cerca de 970ºC e na queima de tijolos de laje de 800ºC, ambos
utilizando o gás como combustível. A Foto L17 mostra a temperatura interna de
um dos fornos quando a temperatura ainda não era a ideal de queima. A
temperatura atinge 919ºC no início da queima, utilizando o gás natural.
Foto L7 – Equipamento de controle da temperatura
APÊNDICE A
312
Estoque
! A unidade demonstra um cuidado com a qualidade. As peças são embaladas de
acordo com a cor do revestimento (Fotos L8). Quanto ao número de peças, nos
meses de junho e julho não há estoque. No restante dos meses, é mínimo, como
observado (Foto L9).
!
Foto L8 – Peças prontas para expedição
Fotos L9 – Estoque reduzido
Obs.: A Cerâmica L tem como principal produto as telhas revestidas, cuja produção
consiste na passagem da telhas já prontas (queimadas), por um processo de
tratamento de impermeabilidade que aumenta a durabilidade e a resistência do
APÊNDICE A
313
material. A unidade chega a oferecer uma garantia da qualidade de 10 anos para
esses produtos. Além disso, a unidade introduziu no processo um equipamento para
resfriamento da água (Foto L3) antes da extrusão (maromba), o que, segundo o
gerente operacional, deixa a massa mais “solta”, reduzindo a freqüência de
interrupções do processo produtivo para limpeza do equipamento, além de
proporcionar melhor textura das peças. Essa unidade é a única da região a utilizar
um cortador mecânico giratório, que utiliza o próprio movimento do processo para
executar o corte. Segundo o proprietário, a unidade L é uma das três no Brasil
(uma tem sede em Santa Catarina e outra em São Paulo), a empregar tal tecnologia
na fabricação de telhas. Essa tecnologia tem patente detida pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que recebe royalties da unidade. Pelos
dados analisados, verifica-se que a unidade consegue um maior valor agregado nas
peças fabricadas, com uma diferença no preço do milheiro que pode triplicar em
relação ao preço daquelas produzidas tradicionalmente (telhas naturais).
Ao contrário de muitas unidades do setor e da amostra visitada, a cerâmica L, assim
como as cerâmicas A, B, E, K, demonstram um maior cuidado com a argila a ser
utilizada no processo produtivo, que, como pode-se ver, apresentam menor
heterogeneidade (Foto L10), resultando em um produto de valor e padrão bem
acima das demais unidades avaliadas.
Foto L10 – Argila homogênea
A Tabela L, a seguir, mostra um resumo dos principais dados da unidade:
APÊNDICE A
314
Tabela L1 – Resumo das informações e dados da unidade L
Tipo de informação
Unidade L
Início da produção
1985
Produto
tijolo de laje* e telhas
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
18.000
Volume produzido/dia (nºde peças)
18.000
Preço (principal produto)
R$ 360 / R$ 840-R$ 960**
Principais mercados
R.J, M.G e E.S
Volume de vendas/mês (nº de peças)
18.000
Meses de maior venda
Nov-Fev
Meses de menor venda
Jun-Jul
Nº de funcionários
60
Consumo de energia (KWA)
50.000 - 60.000
Jazida
própria / arrendada***
Autonomia para extração (anos)
30
Distância média da jazida (km)
3
Tipo de secagem
natural e artificial
Tipo de forno
câmara
Reaproveitamento de calor p/ secagem
sim
Combustível
lenha e gás
Consumo de combustível/milheiro
N/D
Localização dos principais concorrentes
R.S e S.C
Perda total
2%
Utiliza microcomputador
sim
* Somente por encomenda.
** Preço referente à telha natural e à revestida, respectivamente.
*** Utilizada no momento.
Unidade M
Extração
! A unidade possui um estoque de matéria-prima (argila).
Preparo da massa
! Não há um preparo diferenciado em relação às demais unidades, porém a argila
depositada no estoque da unidade é homogeneizada por um trator esteira antes
de abastecer o caixão dosador (ver Foto M1), que retira camadas horizontais do
material. O resultado é uma homogenização superior em relação àquelas que
APÊNDICE A
315
movimentam seu material verticalmente, por retro-escavadeira. Tal detalhe
pode ser observado na Foto mencionada.
Foto M1 – Trator esteira “trabalhando” a argila
Beneficiamento
! Não há diferença no que diz respeito às etapas da produção para outras
unidades. A Foto M2 apresenta um detalhe do corte.
Foto M2 – Tijolos tipo laje
Secagem
! A secagem das peças é feita naturalmente, porém em local coberto.
APÊNDICE A
316
Obs.: Um “pequeno trator” transporta as peças para o local de secagem (ver Fotos
M3 e M4). Este procedimento representa uma redução no tempo de realização das
tarefas e de perda nessa etapa. Este tipo de rotina é um fator relevante na
caracterização dos padrões verificados nas unidades pesquisadas, pois revela um
tipo de melhoria organizacional. Diferentemente das unidades I, J, O, N e O, que
empregam trabalho braçal em tal tarefa (ver, por exemplo, Fotos I4 e N4).
Fotos M3 – Trator para transporte das peças
Foto M4 – Galpão para secagem das peças
Queima
! A queima das peças é feita em um forno tipo circular (Foto M5).
APÊNDICE A
317
Foto M5 – Forno utilizado para a queima das peças
Estoque
! Como nas demais unidades, o estoque da unidade varia de acordo com os meses
do ano. O período mais baixo se dá nos meses de outubro a fevereiro. Foi
observada uma quantidade reduzida de peças em estoque (Foto M6).
Foto M6 – Estoque reduzido (em local coberto)
A tabela, a seguir, resume os principais dados levantados:
APÊNDICE A
318
Tabela M1 – Resumo das informações e dados da unidade M
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
* Consumo de gás
Unidade M
1961
tijolos
64.000
50.000
R$ 180
R.dos Lagos, Campos, outros
1.200.000
Mar-Abr
Dez-Jan
40
29.000
própria
5
4
natural
contínuo
não
lenha e gás
3
36 m *
Campos
7%
não
Unidade N
Extração
! A argila é extraída da jazida e segue direto para o caixão dosador, sem nenhum
tipo de tratamento.
Preparo da massa
! A massa é algumas vezes estocada na unidade ou então depositada direto no
caixão dosador (Foto N1).
APÊNDICE A
Foto N1 – Momento em que o caminhão-caçamba abastece o caixão dosador
Beneficiamento
! Seque as etapas tradicionais das unidades que fabricam tijolos (Foto N2).
Foto N2 – Planta do processo produtivo da unidade
Secagem
! Feita naturalmente, tanto ao ar livre (Foto N3) quanto sob um galpão.
319
APÊNDICE A
320
Foto N3 – Secagem natural
Queima
! O forno é do tipo Hoffman (Foto N4). O combustível utilizado é a lenha. Não
utiliza medidor da temperatura.
Foto N4 – Forno Hoffman (de grande extensão)
Estoque
! O estoque elevado (em torno das 250.000 peças) (ver Foto N5).
APÊNDICE A
Foto N5 – Estoque elevado de tijolos
Abaixo, apresenta-se a tabela dos dados coletados na unidade:
Tabela N1 – Resumo das informações e dados da unidade N
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade N
1996
tijolos
44.000
34.000
R$ 110
G. Rio, R. dos Lagos e Campos
25.500
Abr-Dez
Jan-Mar
40
N/D
própria
3
1
natural
contínuo
não
lenha
17 m3
Campos
5%
sim
321
APÊNDICE A
322
Unidade O
Extração
! A argila extraída vai para uma área de estoque (Foto O1) existente na unidade,
onde permanece até ser solicitada no processo produtivo.
Foto O1 – Estoque externo de argila
Preparo da massa
! Não há preparo da massa e a argila é bastante heterogênea (ver Foto O2).
Foto O2 – Argila depositada no caixão-dosador
APÊNDICE A
323
Beneficiamento
! Similar às demais unidades. Porém, como pode ser observado (Fotos O3 e O4),
os equipamentos são antigos e apresentam desgastes. Na Foto abaixo e à
esquerda, o detalhe da esteira (danificada) que transporta o material no
processo.
Foto O3 – Esteira desgastada
Foto O4 - Maromba antiga (manutenção falha)
Secagem
! Feita naturalmente, sob galpões (Foto O5).
APÊNDICE A
324
Foto O5 – Secagem natural (coberta)
Queima
! Feita em um forno circular (Foto O6) e o combustível utilizado para a queima é
a lenha.
! Não há medidores de temperatura instalados.
Foto O6 – Forno circular (sem controle de temperatura)
Estoque
! Estoque reduzido. (Foto O7). A unidade apresenta também um estoque de peças
com defeito, como pode ser observado na Foto O8.
APÊNDICE A
325
Fotos O7– Estoque reduzido de peças
Foto O8 - Peças de baixa qualidade (aparente)
Obs.: Devido aos equipamentos antigos e à massa heterogênea, a unidade produz
peças com defeitos aparentes (Foto O8) que comprometem a qualidade do produto,
principalmente quando comparado, por exemplo, com as unidades A, B e L. Apesar
do conhecimento técnico do gerente de produção, a unidade apresenta baixo padrão
comparado ao mesmo quesito apresentado na unidade E, por exemplo.
APÊNDICE A
Tabela O1 – Resumo das informações e dados da unidade O
Tipo de informação
Início da produção
Produto
Capacidade de produção/dia (nºde peças)
Volume produzido (nºde peças)
Preço (principal produto)
Principais mercados
Volume de vendas/mês (nº de peças)
Meses de maior venda
Meses de menor venda
Nº de funcionários
Consumo de energia (KWA)
Jazida
Autonomia para extração (anos)
Distância média da jazida (km)
Tipo de secagem
Tipo de forno
Reaproveitamento de calor p/ secagem
Combustível
Consumo de combustível/milheiro
Localização dos principais concorrentes
Perda total
Utiliza microcomputador
Unidade O
1976
tijolos
50.000
30.000
R$ 100
R.J. e S.P.
30.000
Mar-Dez
Jan-Mar
18
10.000
arrendada
1
8
natural
contínuo
não
lenha
1,2 m3
Rio Bonito e Itaboraí
5%
não
326
APÊNDICE A
327
Avaliação Subjetiva (Análise Qualitativa)
Conforme a metodologia adotada para este trabalho, foram identificados padrões,
rotinas e recursos característicos de cada unidade da amostra, em termos do processo
produtivo e das atividades de gestão, ao longo das respectivas cadeias de valor.
Das 15 cerâmicas visitadas, oito (8) unidades (A, B, D, G, H, K, L, M) utilizam
efetivamente o gás natural em seus fornos. Entre essas unidades encontram-se aquelas que
têm maior capacidade de queima e que produzem maior volume de peças/mês, como
mostrado pelas tabelas apresentadas anteriormente. Devido ao padrão mais homogêneo
proporcionado por esse combustível, os produtos desse grupo apresentam características
mais uniformes, de melhor qualidade e de maior valor agregado.
Através das observações in loco na pesquisa de campo realizada em cada unidade, e
após a avaliação da cadeia de valor de cada unidade, atribuiu-se notas5 a cada etapa
individualmente, quanto aos fatores vinculados às atividades de gestão e às etapas do
processo produtivo, segundo critérios específicos (vide Apêndice B).
A seguir, para cada unidade, apresenta-se a média das notas das etapas avaliadas.
Unidade A
Atividades de Gestão
5
Cadeia de Processos
Insumos:
3
Procedimentos e métodos:
5
Capital humano:
4
Organização e controle:
4
Logística (interna e externa):
3
Melhorias:
4
Finanças:
4
Informação:
4
Marketing e vendas:
3
As notas consideradas sofreram uma ponderação entre as notas atribuídas pelos dois observadores (o autor e
o bolsista) e pelo gerente ou proprietário de cada unidade, comparativamente às demais unidades da amostra,
segundo uma escala de Likert de 5 pontos (vide Apêndice B para os detalhes).
APÊNDICE A
Unidade B
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos: 4
Logística (interna e externa):
5
Organização e controle:
4
Capital humano:
4
Melhorias:
4
Finanças:
4
Informação:
4
Marketing e vendas:
5
Unidade C
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
3
Procedimentos e métodos: 4
Logística (interna e externa):
5
Organização e controle:
5
Organização e controle:
3
Melhorias:
3
Finanças:
3
Informação:
4
Marketing e vendas:
3
Unidade D
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos: 3
Logística (interna e externa):
3
Organização e controle:
4
Capital humano:
3
Melhorias:
3
Informação:
4
Marketing e vendas:
3
Finanças:
3
328
APÊNDICE A
Unidade E
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos: 4
Logística (interna e externa):
3
Organização e controle:
3
Capital humano:
3
Melhorias:
5
Finanças:
4
Informação:
5
Marketing e vendas:
4
Unidade F
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
3
Procedimentos e métodos:
4
Logística (interna e externa):
3
Organização e controle:
3
Capital humano:
3
Melhorias:
4
Finanças:
4
Informação:
4
Marketing e vendas:
4
Unidade G
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos:
4
Logística (interna e externa):
3
Organização e controle:
3
Capital humano:
4
Melhorias:
3
Finanças:
3
Informação:
3
Marketing e vendas:
3
329
APÊNDICE A
Unidade H
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
2
Logística (interna e externa):
3
Capital humano:
4
Finanças:
3
Informação:
2
Marketing e vendas:
3
Procedimentos e métodos:
3
Organização e controle:
3
Melhorias:
3
Unidade I
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
1
Procedimentos e métodos:
1
Logística (interna e externa):
2
Organização e controle:
1
Capital humano:
2
Melhorias:
1
Finanças:
2
Informação:
1
Marketing e vendas:
1
Unidade J
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
2
Procedimentos e métodos:
1
Logística (interna e externa):
1
Organização e controle:
1
Capital humano:
1
Melhorias:
1
Finanças:
1
Informação:
1
Marketing e vendas:
1
330
APÊNDICE A
Unidade K
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos:
3
Logística (interna e externa):
5
Organização e controle:
3
Capital humano:
3
Melhorias:
3
Finanças:
3
Informação:
3
Marketing e vendas:
4
Unidade L
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos:
5
Logística (interna e externa):
4
Organização e controle:
5
Capital humano:
4
Melhorias:
5
Finanças:
5
Informação:
5
Marketing e vendas:
5
Unidade M
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
4
Procedimentos e métodos:
4
Logística (interna e externa):
4
Organização e controle:
4
Capital humano:
3
Melhorias:
4
Finanças:
4
Informação:
3
Marketing e vendas:
4
331
APÊNDICE A
Unidade N
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
2
Procedimentos e métodos:
3
Logística (interna e externa):
2
Organização e controle:
3
Capital humano:
3
Melhorias:
2
Finanças:
3
Informação:
1
Marketing e vendas:
1
Unidade O
Atividades de Gestão
Cadeia de Processos
Insumos:
2
Procedimentos e métodos:
1
Logística (interna e externa):
2
Organização e controle:
1
Capital humano:
2
Melhorias:
1
Finanças:
1
Informação:
1
Marketing e vendas:
1
332
APÊNDICE B
MODELO E MÉTODO DE CÁLCULO DOS ÍNDICES
DE RECURSOS E DE DESEMPENHO PARA O ARRANJO ESTUDADO
Resumo
Neste apêndice é apresentada a modelagem para cálculo dos índices utilizados na
metodologia proposta. O índice de recursos é baseado no conceito de cadeia de valor,
compreendendo recursos técnicos e operacionais, ao longo das etapas da cadeia de
processos, e recursos organizacionais e estratégicos, envolvendo as atividades de gestão da
cadeia. Para a avaliação, foram estabelecidos critérios específicos para estas duas
perspectivas. O índice de desempenho foi levantado segundo várias taxas de produtividade.
Após os cálculos, ambos os índices são normalizados.
B1 Índice de Recursos (IRTk)
B1.1 Etapas da Cadeia de Processo (execução)
B1.1.1 Extração
B1.1.2 Preparação da massa
B1.1.3 Moldagem (extrusão, corte e prensagem (telhas))
B1.1.4 Secagem
B1.1.5 Queima
B1.1.6 Estoque
APÊNDICE B
334
B1.2 Critérios considerados
B1.2.1 Procedimentos e métodos (execução de tarefas e operações)
B1.2.2 Organização e controle (leiaute e asseio)
B1.2.3 Melhorias (inovações e adaptações no processo)
IRTCP =
n
m
i=1
j=1
∑ ∑ CPij
Cpij - Nota atribuída ao critério i ={1...n}, para a etapa j={1...m} da cadeia de processos;
n – número de critérios considerados, m – número de etapas da cadeia de processos;
Para o caso estudado: n = 3, m = 6.
B1.3 Atividades de Gestão
B1.3.1 Insumos
B1.3.2 Logística (interna e externa)
B1.3.3 Capital humano
B1.3.4 Finanças
B1.3.5 Informação
B1.3.6 Marketing e vendas
Fatores considerados
Critérios
Operações e métodos
Indicadores
1. Controle do processo e do produto
Infra-estrutura
2. Organização e controle de custos
Tecnologia
3. Modernização e desempenho
Estratégias e relações
4. Foco e diferenciação
IRTAG =
z
w
p=1
v =1
∑ ∑ AGpv
AGpv - Nota atribuída ao indicador p ={1...z} da atividade v = {1...w} de gestão da cadeia;
z – número de indicadores considerados, w – número de atividades de gestão da cadeia.
Para o caso estudado: z = 4, w = 6.
Com os dados coletados através dos questionários-padrão 1 e 2, as empresas foram
avaliadas em relação a cada etapa, pelos respectivos critérios e indicadores.
APÊNDICE B
335
O Índice de Recursos (IRTk) foi calculado para cada elemento da amostra, pelo somatório
das notas atribuídas a cadeia de processos (CPk) e as atividades de gestão (AGk):
IRTk = IRTCP + IRTAG
n
IRTk = ∑
i=1
m
∑ CPij
j=1
+
z
w
p=1
v=1
∑ ∑ AGpv
Cpij – Nota atribuída ao critério i ={1...n}, para a etapa j ={1...m} da cadeia de processos;
n – número de critérios considerados, m – número de etapas da cadeia de processos;
AGpv - Nota atribuída ao indicador p={1...z} da atividade v ={1...w} de gestão da cadeia;
z – número de indicadores considerados, w – número de atividades de gestão consideradas
na da cadeia.
k – Elemento da amostra, k={1... a}; no caso, a = 15.
IRTk1 (normalizado) = IRTk/IRTMax (0 < IRTk1 < 1)
IRTMax (IRT de maior valor da amostra)
Observação: Na atribuição de notas a Cpij e AGpv utilizou-se uma escala tipo Likert de 5
pontos.
B2 Índice de Desempenho (IDK)
O índice de desempenho (IDk) foi avaliado utilizando as seguintes taxas de produtividade:
i) produtividade da mão-de-obra (PMk); ii) produtividade da queima (PQk); iii)
produtividade energética (PEk); e, iv) produtividade do valor agregado à produção, em
relação aos gastos com combustível (PVk), onde:
k – Elemento da amostra, k={1... a}; no caso, a = 15.
PMk – taxa entre a produção e o total de funcionários (Prodk/NFk);
PQk – taxa entre a produção e o consumo médio de combustível (Prodk/CMCk);
PEk – taxa entre a produção e o consumo médio de energia (Prodk/CMEk);
PVPk – taxa entre o valor da produção e os gastos na queima ($Prodk/$CMCk);
Prodk – Produção (Número de peças/mês);
$Prodk – Valor da produção ($);
NFk – Número de funcionários;
CMCk – Consumo de combustível (m3/mês);
$CMCk – Gasto com o consumo de combustível ($);
CMEk – Consumo médio de energia (kWh/mês);
IDk1 (normalizado) = IDk/IDMAX (0 < IDk1 < 1)
IDMAX (maior valor da amostra)
APÊNDICE C
QUESTIONÁRIOS APLICADOS
Questionário Padrão 1 – Cerâmicas
Informações gerais sobre empresa visitada (Gestão e Administração da Produção)
Método de coleta de dados: entrevista com o proprietário ou gerente
1. Produto
1.1 Tipos
Tijolo
Tipos:
Telha
Tipos:
Lajota
Tipos:
Outro
Tipos:
1.2 Capacidade de produção/dia
Tijolo:
Telha:
Lajota:
Outros:
1.3 Volume produzido/dia
Tijolo:
Telha:
Lajota:
Outros:
Telha:
Lajota:
Outros:
1.5 Indicador de qualidade (preço, aparência, forma etc.)
Tijolo:
Telha:
Lajota:
Outros:
1.4 Preços
Tijolo:
1.6 Principais mercados (indicador percentual)
APÊNDICE C
Tijolo:
1.7 Volume de vendas
Tijolo:
337
Telha:
Lajota:
Outros:
Telha:
Lajota:
Outros:
1.8 Em relação ao preço final de cada produto, quanto representa cada um dos seguintes
fatores:
1.8.1 Impostos e encargos:
1.8.2 Matéria-prima:
1.8.3 Energia elétrica:
1.8.4 Combustível:
1.8.5 Mão-de-obra:
1.9 Preço do Frete:
2.0 O que muda no processo de produção para cada tipo de produto?
2.1 Quais os meses de pico da produção? Qual a média de produção no mês de maior
produção?
2.2 Quais os meses de menor produção? Qual a média de produção no mês de menor
produção?
2. Processos
A. Extração
2.1 Jazida
Própria
Arrendada
De quanto é o estoque?
3
2.2 Preço da argila (m )
2.3 Capacidade de extração/dia?
2.4 Há planejamento formal para extração?
2.5 Qual o processo de seleção das argilas?
2.6 Volume extraído/dia
2.7 Há tratamento pós-extração? Qual? Custo?
2.8 Qual o percentual estimado de perdas entre o material extraído e o processado?
2.10 Percentual estimado do custo total de extração no produto final
2.11 Distância média da jazida para a cerâmica (planta)
2.12 Qual o meio de transporte da argila para a cerâmica?
2.13 No. trabalhadores envolvidos na extração?
2.14 Há algum tipo de habilidade específica requerida para este trabalho?
2.15 Há técnicas mais avançadas que poderiam ser empregadas? Quais? Qual o
impedimento para utiliza-las?
2.16 A argila extraída serve para qualquer tipo de produto?
2.17 Como é feita a composição entre argilas diferentes? Qual o fator verificado?
APÊNDICE C
338
B. Secagem
2.18 Tipo de secagem
Natural
Artificial
2.19 Tempo médio de secagem de cada produto:
2.20 Faz reaproveitamento do calor do forno? De que forma?
C. Queima
2.21 Qual a temperatura média de queima?
2.22 Qual o percentual estimado de perdas?
2.23 Faz pré-aquecimento? De que forma? Qual o rendimento?
2.24 Tempo de queima médio p/ produto
2.25 Consumo combustível/dia
2.26 Preço combustível (m3)
2.27 Percentual estimado do custo total de queima no preço do produto final
2.28 No. trabalhadores envolvidos no processo?
2.29 Há algum tipo de habilidade específica requerida para este trabalho?
2.30 Há técnicas e métodos (não equipamentos) mais avançadas que poderiam ser
empregadas? Quais? Qual o impedimento para utiliza-las?
2.31 Há tecnologias disponíveis que poderiam ser empregadas? Quais? Qual o
impedimento para utiliza-las?
3. Mercado
3.1 Qual a distribuição de suas vendas por região?
3.2 Qual a localização dos principais concorrentes?
3.3 Como é sentida receptividade dos clientes pelos produtos?
3.4 Fatores de maior sensibilidade para venda do produto:
Baixo preço
Produtos diferenciados
Entrega
Qualidade
Outro
Qual o fator? ___________
Qual? _________________
Obs. De 1 a 5 quais os pesos para cada um deles?
4. Estratégias e outros aspectos
4.1 Há previsão de investimento em melhorias do processo? Em qual parte? De que forma?
4.2 Há previsão de investimento em novos produtos? Quais?
4.3 Quais os fatores limitantes para o aumento da produção?
4.4 Quais os fatores limitantes para a melhoria dos produtos?
4.5 Quais fatores poderiam proporcionar maior lucratividade para a empresa?
4.6 Seus empregados são eficientes? Qual o ponto fraco? Que aspecto poderia melhorar?
4.7 Que tipo de programa e política de apoio seria benéfico para sua empresa?
APÊNDICE C
339
4.8 Em relação ao seu principal mercado, ele tem crescido, se mantido inalterado ou
diminuído? Qual o motivo?
4.9 Em relação ao Pólo Ceramista Regional (Campos e região), em uma escala de 1 a 5,
quais empresas para você seriam nota 5? Nesta escala, que nota você daria a sua empresa?
4.10 Houve a implementação de alguma técnica ou método que tenha melhorado o
desempenho da empresa nos últimos anos? Qual foi? Qual o impacto em termos de custo e
benefício para a empresa?
5. Administração
5.1 Escolaridade do Proprietário:
5.2 Ano de início da produção:
5.3 No. total de funcionários:
5.4 Utiliza microcomputador na administração?
5.5 Trabalha em turnos? Qual o no. de horas trabalhadas/turno?
6. Produtividade
6.6 Qual o consumo de combustível por tonelada (ou m3) produzida por produto?
6.7 Qual o consumo de energia elétrica por tonelada (ou m3) produzida por produto?
APÊNDICE C
340
Questionário Padrão 2 – Cerâmicas
Informações sobre o processo produtivo da empresa visitada
Método de coleta das informações: observação direta (in loco)
1. Extração da Argila
1.1 Como é feita a escolha da argila?
1.2 Qual o maquinário utilizado?
1.3 Qual o no. trabalhadores envolvidos?
1.4 È feito um planejamento prévio?
1.5 Qual o meio de transporte da argila?
1.6 Qual o volume extraído?
1.7 Os procedimentos adotados estão em conformidade com a norma técnica?
OBS. 1 Descrever quais as tarefas e procedimentos de extração e transporte da argila. Dar
uma nota de 1 a 5 para o nível de organização na execução das tarefas e procedimentos
(observar principalmente fatores como limpeza, se os equipamentos e materiais são
adequados, cuidado com os materiais, desperdício de material e tempo, fluidez do
processo)
OBS.2 Verificar e anotar os pontos onde há inspeção, de que tipo e quais os fatores
avaliados.
2. Transformação (Fabricação)
Descrever de forma resumida as seguintes etapas do processo:
2.1 Preparação da massa
2.1.1 Estocagem
2.1.2 Secagem
2.1.3 Moagem
2.1.4 Dosagem
2.1.5 Desintegração
2.1.6 Misturador
2.1.7 Laminação
2.1.8 Homogeneização
2.1.9 Estocagem
2.1.10 Laminação
2.1.11 Extrusão
2.1.12 Corte
2.1.13 Prensagem (telhas)
2.1.14 Secagem
2.1.15 Estocagem
2.1.16 Os procedimentos adotados estão em conformidade com a norma técnica?
2.1.17 Há automação no processo? Em que parte?
APÊNDICE C
341
OBS. 1 Descrever quais as tarefas e procedimentos de preparação da massa. Dar uma nota
de 1 a 5 para o nível de organização na execução das tarefas e procedimentos (observar
principalmente fatores como limpeza, cuidado com os materiais, desperdício de material e
tempo, fluidez do processo)
OBS.2 Verificar e anotar os pontos onde há inspeção, de que tipo e quais os fatores
avaliados.
2.2 Queima
Descrever de forma resumida as seguintes etapas do processo:
2.2.1 Tipo de Forno
2.2.2 Capacidade
2.2.3 Trabalhadores envolvidos
2.2.4 Combustível utilizado
2.2.5 Os procedimentos adotados estão em conformidade com a norma técnica?
OBS. 1 Descrever quais as tarefas e procedimentos de preparação para a queima. Dar uma
nota de 1 a 5 para o nível de organização na execução das tarefas e procedimentos
(observar principalmente fatores como limpeza, cuidado com os materiais, desperdício de
material e tempo, fluidez do processo)
OBS. 2 Verificar e anotar os pontos onde há inspeção, de que tipo e quais os fatores
avaliados.
3. Produto acabado
Descrever de forma resumida as seguintes etapas do processo:
3.1 Seleção
3.2 Classificação
3.3 Estocagem
3.4 Percentual de peças rejeitadas
3.5 Volume/dia expedido
3.6 Preço
3.7 Os procedimentos adotados estão em conformidade com a norma técnica (caso haja)?
OBS. 1 Descrever quais as tarefas e procedimentos na manipulação dos produtos acabados.
Dar uma nota de 1 a 5 para o nível de organização na execução das tarefas e procedimentos
(observar principalmente fatores como limpeza, cuidado com os materiais, desperdício de
material e tempo, fluidez do processo)
OBS. 2 Verificar e anotar os pontos onde há inspeção, de que tipo e quais os fatores
avaliados.
APÊNDICE C
342
Questionário Padrão 3 – Distribuidores
1. Localização:
2. Compra produtos das cerâmicas de Campos - RJ? Quais produtos e de quais
cerâmicas?
3. (Em caso afirmativo) Qual sua opinião sobre os produtos das cerâmicas de
Campos? Quais os fatores positivos e quais os negativos?
4. (Em caso negativo) Porquê não?
5. Qual a localização dos principais fornecedores?
6. Quais os produtos comercializados?
7. Qual o produto mais vendido?
8. Qual a média de vendas/mês:
9. Quais os meses de maior venda? E os de menor venda? Qual a média de vendas
nesses meses?
10. Quais os preços dos produtos?
11. Seus principais clientes são firmas ou pessoas físicas? Qual a proporção?
12. Quais os fatores que mais influenciam nas vendas?
13. Em relação aos seguintes fatores, quais são os mais importantes para os clientes:
Qualidade, preço, produtos diferenciados, prazo de entrega. Há algum outro fator
que seria importante? Qual? Porque?
14. Como é verificada a qualidade dos produtos?
15. Quais as principais reclamações dos clientes em relação aos produtos?
16. Nos últimos anos, o mercado tem crescido, permanecido no mesmo patamar ou
diminuído?
Download

uma abordagem evolucionária da dinâmica competitiva em