Influências no Desempenho Inovador das Indústrias Paulistas: Uma Análise no Setor de Bens de Capital Autoria: Antônio Carlos Pacagnella Júnior, Carlos Alberto Grespan Bonacim, Sérgio Luís da Silva, Alexandre Pereira Salgado Júnior, Geciane Silveira Porto A proposta deste trabalho é analisar a inovação tecnológica nas indústrias do setor de Bens de Capital do Estado de São Paulo e os fatores que influenciam este fenômeno, utilizandose para este fim dados provenientes da Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (PAEP), realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) que considera o período de 1999 a 2001. Os resultados encontrados mostram que quando se trata de inovação tecnológica em produtos, os fatores que influenciam a probabilidade deste fenômeno ocorrer são a orientação exportadora, o salário médio, a idade da empresa, a maior parte do faturamento provir da venda de bens ou serviços industriais, a presença de laboratório ou departamento específico de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a cooperação em P&D e as fontes de informação para atividades inovativas, já quando se trata de inovação em processos os fatores de influência são a orientação exportadora, o salário médio, a empresa pertencer a um grupo empresarial, os recursos humanos alocados em P&D, a presença de laboratório ou departamento específico de P&D, a cooperação em P&D, o apoio governamental para atividades de inovação e as fontes de informação para atividades inovativas. 1. Introdução Pesquisas e estudos sobre inovação tecnológica se justificam em primeiro lugar por tratarem de um tema que, segundo Matesco (1993) é essencial para a promoção do progresso econômico de um país e da competição entre empresas, além de, segundo Franko (1989), ter sido o principal determinante do crescimento econômico do mundo no último século. Para Viotti e Macedo (2001) destacam-se três razões para o estudo da inovação tecnológica, a primeira, chamada de razão científica, baseia-se na idéia de que o estudo da inovação tecnológica pode contribuir para o entendimento de questões referentes à dinâmica da ciência e tecnologia, como os impactos do avanço tecnológico na sociedade, economia, emprego, na qualidade de vida e no meio ambiente. A segunda razão é chamada de razão política e está relacionada à identificação das necessidades científicas que podem levar à elaboração de políticas públicas mais eficazes e eficientes, o que segundo Archibugi, Howells e Michie (1999) pode permitir a um país obter vantagem no mundo globalizado. A última razão é chamada de pragmática e diz respeito à identificação de oportunidades tecnológicas e fundamentação de decisões de investimento, fornecendo subsídios para a elaboração das estratégias tecnológicas realizadas pelas empresas. Tendo em vista estes aspectos e o aumento da competitividade internacional nos últimos anos, torna-se fundamental para países em desenvolvimento como o Brasil, desenvolver estudos que levem a uma compreensão mais profunda das dinâmicas relativas a inovação tecnológica no país, contemplando as regiões e os setores de maior importância neste contexto. Por isso, a escolha pelo Estado de São Paulo se dá em virtude de se tratar do estado mais industrializado e de maior participação na economia brasileira, já o recorte setorial na indústria do Estado se justifica pela destacada contribuição do setor de Bens de Capital para a economia paulista, pelo seu desempenho tecnológico e por se tratar de um setor estratégico que fornece tecnologias para outros setores. Diante dos pontos apresentados, este artigo tem por objetivo realizar uma análise do desempenho inovador do setor de Bens de Capital e verificar que fatores influenciam a probabilidade da ocorrência de inovação tecnológica (seja em produtos ou processos) nas empresas. Espera-se que os resultados possam servir de subsídios para auxiliar o Estado a 1 preparar melhor suas políticas públicas no que tange ao fomento à inovação, bem como para fundamentar as decisões de investimento de suas indústrias, contribuindo com o desenvolvimento econômico e tecnológico do país. 2. A inovação tecnológica Em face das enormes mudanças observadas no âmbito social, político e principalmente econômico na era da globalização, as organizações têm operado em ambientes altamente competitivos e mercados cada vez mais exigentes. Com o objetivo de tornar-se competitiva neste contexto, a empresa moderna deve estar orientada para a introdução contínua de novos itens em seu portfólio de bens e serviços, bem como para o desenvolvimento de seus processos produtivos buscando torná-los mais eficientes. Neste âmbito se insere a inovação tecnológica, que segundo Shumpeter (1961), pode ser definida em um sentido amplo como a introdução de produtos novos ou significativamente melhorados no mercado, a criação ou o aperfeiçoamento de processos, a abertura de novos mercados, a conquista de novas fontes de suprimento de matéria-prima e a reestruturação organizacional. Dosi (1988), seguindo linha semelhante, afirma que a inovação tecnológica está fortemente relacionada com a descoberta, o desenvolvimento, a experimentação e a adoção de novos produtos, novos processos e novas estruturas organizacionais. Para Andreassi (1999) decorrem desta definição, cinco propriedades ou fatos relevantes para a compreensão da inovação tecnológica: • A inovação tecnológica pressupõe alguma incerteza já que os resultados provenientes do esforço inovador não são previamente conhecidos; • As novas oportunidades tecnológicas estão cada vez mais se baseando no conhecimento científico; • O nível crescente de complexidade nas atividades de inovação favorece as organizações formalizadas como universidades, laboratórios de P&D nas indústrias, centros de pesquisa, etc; • Uma parte da inovação tecnológica tem origem por meio do learning-by-doing e do learnig-by-using. Ou seja, as empresas aprendem como inovar em situações práticas como resolução de problemas de produção ou reuniões com clientes; • As mudanças tecnológicas não são puramente reativas as condições de mercado, derivando da experiência tecnológica acumulada pelas empresas. Para Francis e Bessant (2004) a inovação tecnológica pode ser conceituada de acordo com quatro categorias, que são a inovação em produtos, a inovação em processos, a inovação em posicionamento, que consiste em definir ou redefinir o posicionamento de uma empresa ou de um produto no mercado, e a inovação de paradigma que consiste em definir ou redefinir os paradigmas da organização, que podem ser internos (valores organizacionais e políticas de tomada de decisão) e externos (o modelo de negócios, a forma conceitual que a empresa utiliza para prosperar no mercado). Embora existam várias definições para o tema, uma das mais importantes é a do Manual de OSLO, principal fonte internacional de diretrizes para coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria e que será adotada por este trabalho, é o conceito de inovação tecnológica como sendo a introdução de um novo produto ou um novo processo, bem como qualquer melhoria significativa introduzida nos mesmos (OECD, 1992). 2 Um outro aspecto importante das inovações tecnológicas diz respeito à intensidade com que ocorrem e os impactos que causam no sistema econômico, que segundo Shumpeter (1961) podem ser: • Inovações radicais Em geral são causadoras de grandes revoluções tecnológicas que rompem radicalmente com o passado, são responsáveis por grandes transformações que podem afastar o sistema econômico do equilíbrio vigente. • Inovações incrementais As inovações incrementais são alterações significativas, porém não rompedoras com o passado e que ocorrem com maior freqüência provocando modificações marginais no funcionamento econômico. Ao se discutir o conceito de inovação tecnológica torna-se relevante destacar o conceito de tecnologia, que embora tenha seu sentido usualmente ligado a ferramentas concretas de transformação industrial, pode ser definida segundo Kruglianskas (1996, p.13) como “o conjunto de conhecimentos necessários para se conceber, produzir e distribuir bens e serviços de forma competitiva”. O conceito de tecnologia é importante porque segundo Dosi (1998), a origem da inovação tecnológica está na necessidade de solução de um problema tecnológico para o qual os conhecimentos disponíveis até o momento não são suficientes para resolver. O conceito exposto pelo autor leva a percepção de que um problema tecnológico demanda a necessidade ou cria a oportunidade para que aconteça a inovação, o que é corroborado por Caraynnis e Roy (2000) quando afirmam que a inovação tecnológica pode ser vista como uma resposta dos agentes desenvolvedores de tecnologia a uma demanda de mercado (feedback tecnológico). Os autores propuseram ainda que esta resposta realimenta o sistema gerando novas necessidades (ou problemas tecnológicos) que devem ser atendidas dando início a um novo ciclo. No que tange ao processo de inovação tecnológica, são encontradas na literatura diversas propostas teóricas que visam ilustrar o modo como este fenômeno acontece, entre estas pode ser citado como proposta inicial o chamado “modelo linear de inovação”, onde, de acordo com Viotti e Macedo (2001), a inovação é entendida como um conjunto seqüencial de etapas estanques que são a pesquisa básica, a pesquisa aplicada, o desenvolvimento experimental, a produção e a comercialização. Outra proposta teórica relevante sobre o processo de inovação tecnológica foi apresentado por Kline e Rosenberg (1986) e é chamado de modelo “elo-de-cadeia” ou originalmente “chain-linked model”, que adota a idéia de que a inovação tecnológica é o resultado de interações entre oportunidades de mercado e a base de competências por parte das empresas, sendo composta por diversos sub-processos como invenção, desenvolvimento e comercialização, porém sem uma seqüência claramente definida e com ocorrência de realimentações entre os subprocessos. Neste modelo, a empresa está posicionada no centro do processo de inovação tecnológica e a pesquisa é vista como uma fonte de solução dos problemas tecnológicos surgidos durante as etapas deste processo. Mais especificamente, quando surge um problema em uma das etapas do processo de inovação, como na invenção, no detalhamento de projeto ou na comercialização, a empresa recorre diretamente a sua base de conhecimentos e capacitações e quando esta não é suficiente recorre à pesquisa para ampliá-la. Embora o modelo “elo-de-cadeia” aborde alguns aspectos fundamentais a respeito da inovação tecnológica, estudos recentes têm buscado uma forma de análise mais complexa, dando origem ao modelo sistêmico de inovação tecnológica, que segundo Viotti e Macedo (2001), traz a idéia de que as empresas não inovam isoladamente, mas em um contexto de redes de relações com outras empresas (direta ou indiretamente), com infra-estrutura de 3 pesquisa pública e privada (instituições de ensino e pesquisa) e mesmo com a economia nacional e internacional. Esta proposta segue a linha de pensamento sobre sistemas nacionais de inovação propostos por Freeman (1995) e Lundvall (1992), que surgiram da necessidade de realizar um aporte teórico que ajudasse a entender porque alguns países conseguem atingir níveis de desenvolvimento tecnológico e econômico superiores a outros, destacando-se justamente por considerar de maneira simultânea aspectos institucionais, organizacionais e econômicos que caracterizam as dinâmicas inovativas de um país. Baseando-se nestas e em outras abordagens teóricas, diversos estudos empíricos têm sido realizados no intuito de avançar a fronteira do conhecimento sobre o assunto, podendo-se destacar os estudos realizados por Kannebley Júnior, Porto e Pazzelo (2005), cujos resultados apontam para a influência da orientação exportadora, a origem do capital controlador e do tamanho da empresa no desempenho inovador, Dosi (1988) que analisou os investimentos de recursos financeiros em pesquisa e desenvolvimento, Marsili e Verspagen (2002) e Hagedoorn (2002) que apontam para a importância da cooperação em P&D, Shefer e Frenkel (2005) que destacam a idade, o tamanho e a orientação exportadora da empresa, além de Quadros et alii (2005) cuja análise é relativa a importância dos diversos tipos de fontes de informação para as atividades inovativas das empresas. Da mesma forma, o presente estudo aborda a inovação tecnológica nas empresas do setor de Bens de Capital da indústria paulista, buscando determinar a influência de diversos fatores no desempenho inovador destas organizações, tomando como referência os estudos supra citados e outros, de modo a conjugar em um mesmo modelo teórico diversas variáveis que podem explicar o fenômeno. 3. O setor de Bens de Capital Presente na cadeia produtiva da maior parte dos setores industriais, a indústria de Bens de Capital constitui uma alavanca fundamental da economia e atua fortemente na difusão da tecnologia e da qualidade, fatores essenciais para a produção competitiva de bens de consumo e serviços de um País. O setor de Bens de capital é responsável por fornecer produtos que são utilizados para fabricar outros produtos, repetidamente. Distinguem-se, desta forma, dos insumos ou recursos que são transformados ao longo do processo produtivo sendo, usualmente associados com máquinas e equipamentos em geral. Assim, pode-se dizer que a indústria de Bens de Capital é a que fábrica as máquinas e equipamentos utilizados pelos demais setores para produzir bens e serviços. Podem ser considerados como Bens de Capital as máquinas, instalações, equipamentos e componentes que fazem parte do ativo fixo da empresa e que constituem os fatores de produção de bens e serviços. É possível dividir o setor em dois grandes grupos: • Bens de Capital seriados: podem ser definidos como produtos gerados de acordo com projetos padronizados e processos de produção de caráter repetitivo, sendo caracterizados pela produção de bens em séries ou lotes em um determinado período de tempo; • Bens de Capital não-seriados: tratam-se de produtos customizados, projetados individualmente para atender requisitos de desempenho específicos para um determinado processo produtivo ou instalação industrial. Estes projetos são feitos para a utilização do produto em diversos tipos de processos industriais, tendo porém especificações próprias, que visam atender necessidades ou exigências de cada cliente, sendo caracterizados pela fabricação sob-encomenda. 4 Como indústrias que fazem parte do setor de Bens de Capital podem ser destacadas a metalúrgica, a de material eletro-eletrônico, a mecânica e a de equipamentos de transporte, excluíndo-se destas indústrias os segmentos voltados para a produção de insumos e bens de consumo, como por exemplo os eletro-domésticos e os automóveis. O setor de Bens de Capital é também usuário dos itens que produz, dando origem de acordo com Vermulm e Erber (2002), a um círculo virtuoso de acumulação e crescimento. Ainda de acordo com os autores, este processo é ampliado pelo progresso técnico introduzido nos bens de capital, que faz com que as novas máquinas e equipamentos sejam mais produtivos que aqueles que os antecederam e ao incorporar o progresso técnico e sendo utilizados pelos demais setores da economia, atuam como difusores do desenvolvimento tecnológico pelo resto do sistema econômico. Por isso, o papel que o setor de Bens de Capital possui no processo de acumulação e na geração e difusão de tecnologias o torna estratégico do ponto de vista do desenvolvimento econômico. 4. Aspectos metodológicos Este item tem por objetivo apresentar os meios pelos quais se busca atingir os objetivos da pesquisa, levando-se em consideração o fato de que o método não deve ser mais importante do que o próprio problema de pesquisa. Desta forma, o presente trabalho é quantitativo e utiliza dados secundários provindos da Pesquisa de Atividade Econômica Paulista (PAEP), realizada no ano de 2002 e que abrange o período que vai de 1999 a 2001. Para a elaboração do plano amostral, a Fundação SEADE utilizou o Cadastro de Empresas (CEMPRE), fornecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde foram selecionados 1.006.037 registros, dando origem a uma amostra de 42.023 empresas dos setores industriais abordados pela PAEP. A amostragem da PAEP se deu de maneira estratificada que segundo Malhotra (2001) é um processo de dois estágios em que a população é dividida em subpopulações ou estratos, que correspondem neste caso a 21 setores industriais para os quais a pesquisa apresenta significância estatística além da indústria de forma agregada. O corte setorial deste trabalho utiliza um destes estratos, que representa o setor de Bens de Capital, ou de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) o setor 29, produtor de máquinas e equipamentos. A técnica de pesquisa utilizada foi a regressão logística que segundo Greene (1990) é a técnica estatística adequada quando o objetivo do pesquisador está relacionado com a analise dos efeitos de variáveis dependentes, tanto métricas como não-métricas, sobre uma variável dependente não-métrica (também chamada de “dummie”) que assume apenas valores inteiros, usualmente zero e um. A equação de regressão logística possui a forma: • y = β0 + β1x1 + β2x2 + β3x3 +...+ βnxn + ε Onde a variável dependente y é chamada de variável de resposta e as variáveis independentes x1... xn são chamadas de variáveis explicativas, sendo ε o termo de erro associado. Para a obtenção dos coeficientes β0... βn, que podem ser interpretados como a contribuição de cada variável independente para explicar a variável dependente, é utilizada a função máxima verossimilhança que de acordo com Maddala (1992) tem a forma: • p L(β) = ∑ y *ln (exp(xi β) / 1+ exp(xi β)) + (1-y)*ln (1/(1+ exp(xi β)) i=1 5 Para a seleção das variáveis que compõem o modelo de regressão, foi elaborado previamente o seguinte modelo conceitual: Variáveis independentes • Investimento de recursos financeiros em P&D • Investimento de recursos humanos em P&D • Presença de laboratório ou departamento específico de P&D • Cooperação em P&D • Apoio governamental para atividades de inovação • Fontes de informação para inovação • Tamanho da empresa • Idade da empresa • Orientação exportadora • Origem do capital controlador • Média salarial • Recursos humanos ligados diretamente à produção • Fazer parte de grupo empresarial • Receita provinda na maior parte de bens ou serviços industriais Variáveis intervenientes • Setor de Bens de capital (CNAE-29) Variáveis dependentes • Inovação tecnológica em produtos •Inovação tecnológica em processos Figura 1. Modelo conceitual utilizado pela pesquisa. O modelo conceitual ilustrado na figura 1 apresenta o conjunto de variáveis utilizado na pesquisa ilustrando a relação entre as vaariáveis independentes, as variáveis dependentes e a variável interveniente. Para a realização deste trabalho foram elaboradas as seguintes hipóteses: H1:Aumentar os recursos financeiros alocados em pesquisa e desenvolvimento aumenta a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; H2:Aumentar os recursos humanos alocados em pesquisa e desenvolvimento aumenta a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; H3:Empresas exportadoras tem maior chance introduzirem inovações tecnológicas; H4:Empresas que possuem laboratório ou departamento específico de P&D possuem maior chance de introduzirem inovações tecnológicas; H5:Empresas que realizam cooperação em pesquisa e desenvolvimento tem maior probabilidade de introduzirem inovações tecnológicas; H6:O apoio governamental contribui para aumentar a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; H7:A atribuição de importância à fontes de informação internas para atividades inovativas aumenta a probabilidade de ocorrer inovações tecnológicas. Para a aplicação da técnica estatística é necessário construir as variáveis de pesquisa, adequando-as de acordo com as necessidades deste trabalho a partir dos dados da pesquisa de atividade econômica paulista (PAEP), assim, para um maior detalhamento dos procedimentos utilizados foi construído o quadro 1, apresentado a seguir: 6 VARIÁVEL DEPENDENTE NOME Inovação em produtos Inovação em processos DESCRIÇÃO VARIÁVEIS PAEP Inovação tecnológica em produtos (0 se não inovou, 1 se inovou). EA004 Inovação tecnológica em processos (0 se não inovou, 1 se inovou). EA037 VARIÁVEIS INDEPENDENTES NOME Investimentos financeiros em P&D Investimentos de RH em P&D Laboratório de P&D Cooperação em P&D Apoio governamental Fontes internas Fontes ligadas ao mercado Fontes institucionais Outras fontes Tamanho Idade da empresa Orientação exportadora Origem do capital Salário Médio Grupo RH ligado a produção Produtos ou serviços DESCRIÇÃO Porcentagem da receita total das atividades investida em pesquisa e desenvolvimento. Porcentagem do total de pessoal ocupado alocado em pesquisa e desenvolvimento. Presença de laboratório ou departamento específico de P&D na empresa (0 se não possui, 1 se possui). Realização de cooperação em pesquisa e desenvolvimento (0 se não realizou, 1 se realizou). Obtenção de apoio governamental para a realização de atividades de inovação tecnológica (0 se não obteve, 1 se obteve). Fontes de informação internas para as atividades de inovação tecnológica. (0 se não atribuiu importância, 1 se atribuiu). Fontes de informação ligadas ao mercado para as atividades de inovação tecnológica. (0 se não atribuiu importância, 1 se atribuiu). Fontes de informação acadêmicas para as atividades de inovação tecnológica. (0 se não atribuiu importância, 1 se atribuiu). Outras fontes de informação para as atividades de inovação tecnológica. (0 se não atribuiu importância, 1 se atribuiu). Total de pessoal ocupado na empresa (logaritmo do total de pessoal ocupado, assalariado ou não). VARIÁVEIS PAEP EY053 / EY004 EA071 / EH025 EA075 EA060 EA044 EA046, EA047, EA048 EA049, EA050, EA051, EA052 EA053, EA054 EA055, EA056, EA057 LOG (EH025) Idade da empresa em anos EH005 Orientação exportadora da empresa (0 se não exporta, 1 se exporta). EY078 Origem do capital controlador da empresa (0 se nacional, 1 se estrangeiro). Média salarial paga pela empresa (total de salários pagos divididos pelo total de pessoal ocupado). Define se a empresa pertence a um grupo empresarial (0 se não pertence, 1 se pertence). Percentual do total de pessoal ocupado ligado diretamente à produção. Indica se a principal fonte de receita da empresa é a venda de bens ou de serviços industriais (0 se serviços, 1 se bens). EP001 LOG (EY159/EH025) EP009 EH027 / EH025 EY012 Quadro 1. Forma construtiva das variáveis de pesquisa 5. Descrição da amostra Nas tabelas abaixo são apresentados as características do estrato referente ao setor de Bens de Capital (CNAE 29) frente a amostra agregada da PAEP (que representa a indústria do estado de São Paulo) no que se refere ao tamanho das empresas (pessoal ocupado), total de empresas inovadoras, origem do capital controlador e orientação exportadora. Os dados da tabela 1 mostram que a distribuição de tamanho da amostra da PAEP no que tange a indústria de forma agregada apresenta 78,27% das empresas na faixa de 5 a 29 pessoas ocupadas, seguido por 14,05% de empresas que estão na faixa de 30 a 99 pessoas ocupadas, por 6,06% de empresas na faixa de 100 a 499 pessoas ocupadas e por apenas 1,62% de empresas na faixa de 500 ou mais pessoas ocupadas. 7 Setor versus Industria Faixas de pessoal ocupado agregada De 5 a 29 2.250 73,89 32.890 78,27 Setor de Bens de n Capital % Total de empresas n da amostra da PAEP % De 30 a 99 527 17,31 5.906 14,05 Total De 100 a 499 214 7,03 2.547 6,06 500 ou mais 54 1,77 680 1,62 3.045 7,25 42.023 100,00 Tabela 1. Distribuição de tamanho do estrato referente ao setor de Bens de capital e do total da amostra. Quanto às empresas do setor Bens de Capital é possível perceber uma distribuição em relação ao tamanho semelhante à distribuição da indústria de forma agregada, com 73,89% de empresas na faixa de 5 a 29 pessoas, 17,31% na faixa de 30 a 99 pessoas, 7,03% na faixa de 100 a 499 pessoas e apenas 1,77% na faixa de 500 ou mais pessoas ocupadas. Estes dados evidenciam a grande participação de micro e pequenas empresas na composição da amostra, seja quando se considera a indústria do estado como um todo ou quando se analisa o corte setorial para a indústria de Bens de capital. Setor versus Industria agregada Total do Setor de Bens de Capital Total de empresas da amostra da PAEP n % n % Empresas inovadoras em produtos 606 19,90 3364 8,01 Empresas inovadoras em processos 479 15,73 4843 11,52 Tabela 2. Inovação tecnológica no setor Bens de Capital e no total de empresas da amostra. Quando se analisa o desempenho tecnológico das indústrias do Estado, cujos dados são apresentados na tabela 2, é possível observar que das 42023 empresas da amostra, apenas 3364 introduziram inovações em produtos e 4843 em processos, representando no total apenas 8,01% e 11,52% respectivamente. Já quando se considera os dados sobre as empresas do setor de Bens de Capital percebe-se que das 3045 empresas do setor, 606 ou 19,90%, introduziram novos produtos, enquanto que 479 ou 15,73% introduziram novos processos, representando resultados bem superiores aos da indústria de forma agregada. Estes números evidenciam a importância do setor estudado no que tange a geração de novas tecnologias. Origem do capital controlador Setor de Bens de Capital Nacional Inovadoras em produtos Inovadoras em processos Total do Setor de Bens de Capital n % n % n % 531 87,62 412 86,01 2660 74,22 Internacional ou misto 75 12,37 67 13,99 241 7,9 Orientação exportadora Exporta Não exporta 196 32,34 196 40,91 670 22,00 410 67,66 283 59,08 2156 70,80 Tabela 3 Origem do capital controlador e orientação exportadora das empresas inovadoras Em relação à origem do capital controlador, a tabela 3 mostra que 74,22% das empresas do setor de Bens de Capital são de origem nacional enquanto que apenas 7,9% declararam possuir capital de origem internacional ou misto. Entretanto, ao se analisar os dados das empresas inovadoras, o percentual de empresas com capital controlador de origem 8 internacional é de 12,37% nas empresas que introduziram novos produtos e 13,99% nas empresas que introduziram novos processos. Quanto a orientação exportadora, o setor apresenta um total de 22% de empresas que exportam, porém este percentual é bem superior no caso das empresas inovadoras, onde 32,34% das empresas inovadoras em produtos e 40,91% das empresas inovadoras em processos exportam de maneira regular ou eventual. Estas duas características merecem destaque pois são dois fatores comumente encontrados na literatura como relacionados ao desempenho inovador das empresas, o que se confirma no setor de Bens de capital, que apresenta percentuais superiores tanto nas empresas inovadoras em produtos como nas inovadoras em processos. 6. Apresentação e discussão dos resultados Este item tem por finalidade apresentar e analisar as variáveis que são significativas para explicar a inovação tecnológica no setor de Bens de Capital da indústria de São Paulo, apresentados na tabela 4: Inovação em produtos Variáveis Explicativas Inovação em processos B EXP(Bx’) Efeitos Marginais B EXP(Bx’) Efeitos Marginais Tamanho 0,2959 1,4480 7,15% 0,0360 1,0000 0,90% Orientação exportadora 1,0331 1,3559 1,3559** 0,5987 1,8197 1,8197* Capital controlador 0,2356 1,2657 1,2657 0,4034 1,4969 1,4969 Salário médio 1,2442 0,0070 0,85%** 1,5971 1,0000 39,93%** Idade da empresa 0,0273 1,6822 0,64%* 0,0004 1,0000 0,01% Grupo -0,4053 0,6667 0,6667 -0,5617 0,5702 0,5702* RH ligado à produção -0,8558 0,5586 -19,68% 1,6379 1,0000 40,95%** Bens ou serviços 0,8790 2,4085 2,4085** -0,2346 0,7909 0,7909 Investimentos em P&D 10,1535 1,0046 253,84% 3,7443 1,0000 93,61% RH em P&D -1,1525 0,9629 -28,80% 5,9331 1,0000 14,83%** Laboratório de P&D 1,6774 5,3516 5,3516** 0,9158 2,4988 2,4988** Cooperação em P&D 0,7009 2,0157 2,0157* 1,2327 3,4306 3,4306** Apoio Governamental -1,6025 0,2014 0,2014 1,0101 2,7458 2,7458** Fontes internas 3,7839 43,9881 4,9881** 1,6356 5,1323 5,1323** Fontes de mercado 3,7453 42,3223 4,3223** 1,4261 4,1626 4,1626** Fontes institucionais -0,2989 0,7416 0,7416 -0,1982 0,8202 0,8202 Outras fontes -1,0997 0,3330 0,3330** 0,8639 2,3723 2,3723** Predito 0 Inovação tecnológica % Total Sumário 1 Predito % Observada 0 1 % Observada 0 1928 63 96,86 2033 111 95, 15 1 73 450 86,03 146 224 61,10 % Total -2 Log Likelyhood 836,4361 Cox & Snell R² 0,4986 96,67 % Total Nagelkerke R² 0,7784 **Significante a 1% -2 Log Likelyhood 1031,4085 Cox & Snell R² 0,3461 89,79 Nagelkerke R² 0,6112 *Significante a 5% Tabela 4. Resultados encontrados para a inovação tecnológica no setor de Bens de capital 9 O primeiro ponto relevante a ser destacado sobre os resultados apresentados na tabela 4 é o alto poder explicativo alcançado pelo modelo de regressão, representado pelo Nagelkerke R², que permite explicar 77,84% dos casos de inovações tecnológicas em produtos e de 61,12% dos casos de inovações tecnológicas em processos, indicando que modelo conceitual foi corretamente especificado em relação a suas variáveis explicativas. De acordo com os resultados, a primeira variável significativa para explicar a inovação tecnológica no setor estudado é a orientação exportadora, cuja influência faz com que empresas exportadoras tenham probabilidade de inovarem em produtos igual a 1,35 vezes e de inovarem em processos igual a 1,82 vezes a probabilidade de inovação das empresas não exportadoras. Este fato pode ser explicado pela maior competitividade do mercado internacional, o que leva as empresas exportadoras a buscar o desenvolvimento de melhores produtos e processos. Outra variável significativa dentro do modelo estudado é o salário médio, cujos efeitos marginais permitem afirmar que um incremento nesta variável aumenta a probabilidade de ocorrer inovação em produtos em 0,85% e de inovação em processos em 39,95%. Uma possível explicação para isto é que empresas com média salarial mais alta geralmente conseguem atrair profissionais mais qualificados, que são necessários para o sucesso das atividades inovativas. Já a idade da empresa é uma variável que permite explicar apenas a inovação em produtos e seus efeitos marginais mostram que um incremento nesta variável aumenta a probabilidade de ocorrência do fenômeno em 0,64%, o que pode estar relacionado com o fato de que com o passar do tempo a experiência acumulada e a aprendizagem organizacional que a empresa adquire com a realização de projetos e de outras atividades, como engenharia não rotineira favorece o desenvolvimento bem sucedido de novos produtos. A característica de pertencer ou não a um grupo empresarial explica de maneira significativa a inovação em processos, porém possui influência negativa, sendo que empresas pertencentes a grupos empresariais tem 0,57 vezes a probabilidade de inovação das que não pertencem. Uma possível explicação para esta diferença é que empresas que não pertencem a grupos possuem menos suporte financeiro e organizacional, por isso buscam aumentar a sua competitividade melhorando seus processos. O percentual de pessoas diretamente ligado à produção também é uma variável significativa estatisticamente, aumentando em 40,95% a probabilidade de inovar em processos quando sofre uma variação incremental, o que pode refletir duas coisas, a primeira é o fato de que empresas cuja área produtiva demanda grande parte de seus recursos humanos é estimulada a desenvolver novos e melhores processos produtivos e a segunda é que a experiência adquirida pelas pessoas alocadas em áreas técnicas e que trabalham diretamente com os processos produtivos influenciam positivamente a ocorrência deste tipo de inovação. No que tange a inovação em produtos, uma outra característica relevante para explicar o fenômeno é ter maior parte da receita provinda da venda de bens ou serviços industriais, onde empresas cuja maior parte da receita provenha da venda de bens tem 2,41 vezes mais chance de realizar este tipo de inovação. Este aspecto está relacionado com as características do setor, onde o negócio principal da maioria das empresas é fornecer bens industriais de alto valor agregado, competindo por qualidade, o que demanda o desenvolvimento de novos e melhorados produtos. Entre as variáveis do modelo, cabe destacar as relacionadas com a função de pesquisa e desenvolvimento (P&D), que é de suma importância para a análise da inovação tecnológica no setor de Bens de Capital, contribuindo de maneira relevante para a explicação do fenômeno. Dentro deste contexto, observa-se na tabela 4 que um incremento nos recursos humanos alocados em pesquisa e desenvolvimento eleva a probabilidade de ocorrência de 10 inovação em processos em 14,83%, o que se explica pelo fato de que alocar mais pessoas em pesquisa e desenvolvimento amplia a capacidade de geração de novas idéias e projetos para a evolução dos processos produtivos. A presença de laboratório ou departamento específico de P&D também aumenta a probabilidade de ocorrência deste fenômeno, sendo que empresas com este tipo de infraestrutura possuem probabilidade igual a 5,35 vezes a probabilidade de inovar em produtos e 2,49 vezes a probabilidade de inovar em processos das empresas que não possuem, o que mostra que as tecnologias e o conhecimento produzidos nestes locais estimulam a introdução de novos produtos e de novos processos. Outra variável relacionada com P&D que é relevante e estatísticamente significativa para explicar a inovação é a cooperação em pesquisa e desenvolvimento, sendo que a probabilidade de inovar das empresas que cooperam é de 2,01 vezes a das empresas que não cooperam, no caso de inovações em produtos e de 3,43 vezes no caso de inovações em processos, o que possivelmente é explicado pelo fato de que o conhecimento desenvolvido conjuntamente e a experiência compartilhada com concorrentes, fornecedores, clientes e institutos de pesquisa (ou universidades) estimula a inovação tecnológica no setor. O apoio governamental (na forma de investimento financeiro ou subsídios) também é estatisticamente significativo para a as empresas do setor de Bens de Capital, sendo que a probabilidade de inovação em processos de empresas que receberam este tipo de apoio é de 2,75 vezes a probabilidade das empresas que não obtiveram, o que pode refletir o fato de que o incentivo recebido do governo estimula a empresa a adquirir equipamentos ou “Know-how” que podem ser aplicados em novos processos. Quanto às fontes de informação para as atividades inovativas, as empresas que atribuíram importância às fontes internas possuem 4,99 vezes mais chance de inovar em produtos e 5,13 vezes mais chance de inovar em processos do que as empresas que não atribuíram, mostrando que o conhecimento gerado internamente (departamento de P&D ou outros departamentos) é um diferencial para a inovação em produtos e processos nas empresas deste setor. A atribuição de importância a fontes de informação ligadas ao mercado também influencia positivamente a probabilidade de inovação, sendo que empresas que atribuíram importância a este tipo de fonte de informação tem 4,32 vezes mais chance de inovarem em produtos e 4,16 vezes mais chance de inovarem em processos do que as empresas que não atribuíram. Este fato pode ser explicado pela própria característica dos produtos do setor de Bens de Capital, produzidos sob especificações fornecidas por clientes, o que influencia o projeto e o processo de produção destes itens. A última variável estatísticamente significativa para explicar a inovação tecnológica no setor de Bens de Capital é a atribuição de importância a outras fontes, que apontam para uma diminuição na probabilidade de inovação em produtos, pois empresas que atribuíram importância a estas fontes tem probabilidade de inovação de 0,33 vezes a probabilidade de empresas que não atribuíram. Porém os resultados também apontam para um aumento na probabilidade de inovação em processos, onde a atribuição de importância para estas fontes aumenta em 2,73 vezes a probabilidade de inovação. Este comportamento pode indicar que a aquisição de patentes e licenças é mais efetiva quando se trata de introdução de novos processos e de para novos produtos, posto que estes, devido a sua customização, são desenvolvidos internamente. A análise do modelo ainda permite observar que diversas variáveis citadas em trabalhos acadêmicos como condicionantes deste fenômeno não são estatisticamente significativas neste trabalho, como o tamanho da empresa, a origem do capital controlador e os recursos financeiros investidos em P&D, o que mostra que o setor de Bens de Capital 11 possui peculiaridades no que tange a inovação tecnológica justificando estudos sobre o setor que estejam relacionados com o tema. 6.1. Verificação das hipóteses Tendo em vista a análise dos dados da tabela 4 é possível realizar a verificação das hipóteses formuladas anteriormente: H1:Aumentar os recursos financeiros alocados em pesquisa e desenvolvimento aumenta a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese não pode ser aceita para inovação tecnológica em produtos e nem para inovação tecnológica em processos. Os resultados encontrados mostram que a variável referente a recursos financeiros alocados em P&D não é estatísticamente significativa para explicar o fenômeno, o que impede a aceitação da hipótese. H2:Aumentar os recursos humanos alocados em pesquisa e desenvolvimento aumenta a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em processos É possível aceitar a hipótese pois a variável é significante no nível de 1% e seus efeitos marginais mostram que um aumento de investimentos de recursos humanos em P&D aumentam em 14,83% a probabilidade de ocorrência de inovação em processos. H3:Empresas exportadoras tem maior chance introduzirem inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em produtos e também para a inovação tecnológica em processos. A hipótese pode ser aceita pois a variável é significante no nível de 1% para inovações em produtos e em 5% para inovações em processos, sendo que seus efeitos marginais mostram empresas exportadoras possuem 1,35 vezes mais chance de inovarem em produtos e 1,84 mais vezes de inovarem em processos. H4:Empresas que possuem laboratório ou departamento específico de P&D possuem maior chance de introduzirem inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em produtos e também para a inovação tecnológica em processos. Os resultados encontrados permitem aceitar a hipótese pois a variável do modelo que se relaciona com a presença de laboratório ou departamento específico de P&D é estatísticamente significativa ao nível de 5% para inovações em produtos e 1% para inovações em processos e seus efeitos marginais mostram que empresas que possuem este tipo de infraestrutura dedicada possuem probabilidade 5,35 vezes maior de realizarem inovações em produtos e 2,49 vezes maior de realizarem inovações em processos. H5:Empresas que realizam cooperação em pesquisa e desenvolvimento tem maior probabilidade de introduzirem inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em produtos e também para a inovação tecnológica em processos. Esta hipótese também pode ser aceita, pois a variável relativa a cooperação em P&D é estatisticamente significativa no nível de 5% para inovações em produtos e 1% para inovações 12 em processos, sendo que seus efeitos marginais mostram que a probabilidade de inovação tecnológica de empresas que realizam cooperação em P&D é igual a 2,01 vezes maior no caso de inovações em produtos e 3,43 vezes maior no caso de inovações em processos. H6:O apoio governamental contribui para aumentar a probabilidade de ocorrência de inovações tecnológicas; Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em processos. A variável relativa ao apoio governamental para as atividades inovativas é estatisticamente significativa (no nível de 1%) apenas quando o modelo é aplicado para inovações em processos, apresentando efeitos marginais que mostram que empresas que recebem este tipo de apoio possuem probabilidade de inovar em processos igual a 2,75 vezes a probabilidade de empresas que não recebem. H7:A atribuição de importância à fontes de informação internas para atividades inovativas aumenta a probabilidade de ocorrer inovações tecnológicas. Resultado: A hipótese pode ser aceita para inovação tecnológica em produtos e em processos É possível aceitar a hipótese pois apresenta significância no nível de 1% e seus efeitos marginais mostram aumento da probabilidade de ocorrência de inovação em produtos da ordem de 4,98 vezes para inovações em produtos e 5,13 vezes para inovações em processos. As hipóteses testadas foram elaboradas para verificar a influência de fatores considerados primordiais neste trabalho sobre a probabilidade de ocorrência de inovação tecnológica, sendo que os resultados encontrados permitiram aprovar a maioria das mesmas, fornecendo respostas importantes para este estudo, que por sua vez levaram às conclusões que serão apresentadas no próximo item. 7. Conclusões Este trabalho teve por objetivo analisar os fatores de influência no desempenho inovador das indústrias do setor de Bens de Capital (CNAE-29) da indústria do Estado de São Paulo. Para atingir este objetivo foi construído um modelo conceitual, baseando-se em diversos trabalhos sobre inovação tecnológica e que deu origem a um modelo de regressão logística, técnica utilizada neste trabalho. Os resultados mostram que o modelo utilizado possui um alto poder explicativo quando aplicado para explicar a inovação tecnológica no setor estudado, sendo capaz de explicar 77,84 % da ocorrência de inovações em produtos e 61,12% das inovações em processos, o que permite a conclusão de que o modelo foi corretamente especificado. Com respeito à inovação em produtos, é possível concluir que os fatores que possuem influência no desempenho inovador do setor de Bens de Capital são: a orientação exportadora, o salário médio, a idade da empresa, a maior parte da receita da empresa provir da venda de bens industriais, a presença de laboratório ou departamento específico de P&D, a realização de cooperação em P&D e a atribuição de importância para fontes internas, ligadas ao mercado e outras fontes de informação. Destas, apenas a última possui impacto negativo na ocorrência de inovação em produtos no setor, todas as outras aumentam a probabilidade de que o fenômeno ocorra. Já no que tange à inovação em processos, conclui-se que as influências no desempenho inovador são: a orientação exportadora, o salário médio, a empresa pertencer a um grupo empresarial, o percentual de recursos humanos alocados em atividades diretamente ligadas à produção, o percentual de recursos humanos em P&D, a presença de laboratório ou departamento específico de P&D, a realização de cooperação em pesquisa e desenvolvimento, o apoio governamental para inovação e a atribuição de importância para fontes internas, 13 ligadas ao mercado e outras fontes de informação. Onde apenas o fato da empresa pertencer a um grupo empresarial causa impacto negativo na probabilidade de ocorrer inovação em processos nas empresas do setor. A partir destes resultados foi possível aprovar a maior parte das hipóteses formuladas para auxiliar a investigação do fenômeno, tornando possível concluir que as empresas exportadoras, as empresas que possuem laboratório ou departamento específico de P&D, as empresas que realizam cooperação em P&D e as empresas que atribuem importância às fontes de informações internas e ligadas ao mercado tem maior chance de introduzirem novos produtos e novos processos no mercado. Tais constatações sugerem que empresas do setor devem atuar sobre estes fatores de influência de forma a maximizar a probabilidade de inovação tecnológica, seja em produtos ou processos. De modo geral, os resultados encontrados por este trabalho corroboram alguns resultados encontrados na literatura sobre inovação, trazendo entretanto algumas contribuições no que tange a forma de estudo, com a proposição de um modelo que relacione conjuntamente diversas variáveis que representam as características das empresas e analisando a contribuição líquida de cada uma para a ocorrência de inovação no setor de Bens de Capital. Em virtude dos resultados expressivos encontrados e devido a importância do setor de Bens de Capital, sugere-se a realização de trabalhos futuros neste setor com a investigação de outros fatores de influência que não foram relacionados nesta pesquisa ou da sua reprodução em surveys ou pesquisas que utilizem bases de dados como o da Fundação Seade (PAEP) ou do IBGE (PINTEC). 8. Referências Bibliográficas ANDREASSI, T. Estudo das relações entre indicadores de P&D e Indicadores de resultado empresarial em empresas brasileiras. 1999, 106f. 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