FILOSOFIA DA IDADE CONTEMPORÂNEA
Juán Manuel NAVARRO CORDÓN; Tomás CALVO
MARTÍNEZ
História da Filosofia, 3º vol., p.
7-9
Consideramos como contemporânea a filosofia que se estende, dentro da
imprecisão cronológica própria das produções culturais, ao longo da segunda
metade do século XIX e da primeira metade do século XX. A filosofia
contemporânea, nas suas linhas mais fundamentais e características, só pode
ser adequadamente compreendida em relação com a obra de Hegel. Com
efeito, a filosofia contemporânea constitui em grande medida uma reacção
contra o sistema hegeliano, ao mesmo tempo que retoma poucas das suas
análises e interrogações.
A mais notável e radical reacção contra o sistema de Hegel é feita por Marx,
pelo marxismo. O marxismo, entroncado originalmente na esquerda hegeliana,
distingue e separa o sistema hegeliano (idealista) do método dialéctico.
Aceitando e transformando este último, a filosofia marxista "inverte" o sistema
de Hegel, propondo uma visão dialéctica-materialista da consciência, da
sociedade e da história.
Outra reacção contra o hegelianismo - reacção estreitamente vinculada à
situação económica, social e intelectual resultante da revolução industrial - é
representada pelo positivismo, especialmente o de Comte. Neste caso, reagese contra o "racionalismo" hegeliano naquilo que possa ter de menosprezo
daexperiência, com a pretensão de instaurar um saber positivo, capaz de
fundamentar
uma
organização
político-social
nova.
Como Marx, Comte conserva, no entanto, embora transformando-o, um
momento importante do hegelianismo: a ideia de "espírito objectivo".
O positivismo (tomado, em geral, como uma atitude renitente à especulação
filosófica e propenso a considerar a ciência como forma de conhecimento, não
só modelar, mas exclusiva) constitui, além disso, uma constante na história do
pensamento. Apesar das suas notáveis diferenças na maneira de pôr os
problemas, é possível reconhecer esta linha no empirismo do século XVIII, no
positivismo do século XIX e no positivismo lógico ou empirismo lógico do
século XX. Oempirismo lógico ou positivismo lógico do séc. XX constitui um
dos movimentos (juntamente com o "atomismo lógico" e a filosofia analítica)
integrantes da corrente analítica dos nossos dias, cuja máxima originalidade
consiste em haver transformado o próprio conceito de filosofia: para a corrente
analítica, a filosofia não tem por objecto a realidade, mas a análise
da linguagem acerca da realidade, quer se trate da linguagem ordinária ou
comum, ou da linguagem científica acerca da realidade.
Outras correntes da filosofia contemporânea tomaram como objecto principal
de consideração o fenómeno da história, da vida e da irreductibilidade da
existência pessoal: as filosofias historicistas, vitalistas, existencialistas e
personalistas. O existencialismo constitui, originalmente, uma reacção contra o
hegelianismo e em favor da individualidade, colocando em primeiro plano a
categoria de singularidade, preferida pelo "sistema dialéctico" de Hegel
(Kierkegaard). No seu desenvolvimento no século XX (Heidegger, Sartre), a
par da reacção anti-hegeliana já apontada, o existencialismo depende
directamente da fenomenologia deHusserl, no tocante às suas análises da
existência humana. Quanto ao vitalismo de Nietzsche, representa uma
reacção não apenas contra Hegel, mas contra toda a tradição intelectualistareligiosa que se opôs à vida e aos valores vitais, desde que se verificou a
aliança do platonismo com o cristianismo.
Mesmo quando as correntes filosóficas que mencionámos remetem directa ou
indirectamente para Hegel, seria errado deduzir dele, por oposição ou
continuação (ou por ambas as coisas), todo o pensamento contemporâneo. O
descrédito geral da especulação filosófica subsequente ao hegelianismo
conduziu a atitudesrelativistas e cépticas contra as quais se levantou também a
filosofia. Este enfrentamento com o relativismo e o cepticismo tornou-se
patente
a
partir
de
diferentes
posições,
tanto
na fenomenologia de Husserl (intento de fazer da filosofia uma ciência de
rigor), como nas investigações acerca da vida e da histórialevadas a cabo
por Dilthey e Ortega y Gasset. Estes dois filósofos pretendem compreender a
vida e a história com base em categorias especificas rigorosas.
Talvez a característica externa mais saliente da filosofia contemporânea seja a
disparidade de enfoques, sistemas e escolas, face ao desenvolvimento, de
certo modo mais uniforme e linear, da filosofia moderna (racionalismo,
empirismo, Kant, idealismo hegeliano). Para esta proliferação de pontos de
vista e de escolas, contribuíram, em grande medida, factores sócio-culturais,
como: a crise contemporânea dos sistemas políticos, o avanço espectacular
das ciências naturais e lógico-formais e o desenvolvimento das ciências
humanas, cujos métodos e resultados tiveram repercussões e consequências
de interesse no campo e nos problemas da filosofia (psicanálise,
estruturalismo).
Extraído de: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/fcntmpor.htm
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