MORFOMETRIA DO SORRISO NA PARALISIA FACIAL ANTIGA SMILE MORPHOMETRY IN THE LONG LASTING FACIAL PARALYSIS MARCOS R. O. JAEGER Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica e Serviço de Cirurgia da Mão e Microcirurgia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (HSL-PUCRS). Doutor em Medicina e Ciências da Saúde pela PUCRS. Membro Titular da Sociedade Americana de Microcirurgia Reconstrutiva (ASRM). NILO AMARAL NETO Estudante de Medicina. Doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (FAMED- PUCRS). JEFFERSON BRAGA DA SILVA Professor Livre- docente (UNIFESP- EPM). Chefe do Serviço de Cirurgia da Mão e Microcirurgia da PUCRS. PEDRO MARTINS Professor da Disciplina de Cirurgia Plástica da PUCRS. Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital São Lucas da PUCRS. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Dr. Marcos R.O. Jaeger. NOVAplastia Clínica de Cirurgia Plástica. Rua Mostardeiro 780 – 502. Porto Alegre – RS. CEP 90430-000. Tel/ Fax 51- 30288738. Home-page: www.NOVAplastia.com. E-mail: [email protected] DESCRITORES PARALISIA FACIAL, SORRISO, BOCA. KEYWORDS FACIAL PARALYSIS, SMILING, MOUTH. RESUMO Introdução: A lesão do nervo facial está relacionada a graves seqüelas funcionais e psicológicas. A percepção do grau de disfunção da boca é fundamental para a escolha do tratamento. O presente estudo traz uma análise morfométrica do sorriso de indivíduos com paralisia facial antiga unilateral em relação a indivíduos normais e avalia as implicações destas medidas. Objetivo: Estabelecer a distância entre marcas anatômicas da face de indivíduos com paralisia facial unilateral antiga e comparar com as medidas obtidas em uma amostra de normais. Considerar as implicações destas medidas no procedimento de reconstrução do sorriso. Método: Estudo prospectivo e seqüencial com 45 indivíduos. Trinta adultos normais e quinze com paralisia facial unilateral antiga. Medidas realizadas entre o sulco nasogeniano e a comissura bucal e a crista filtral, em repouso e na movimentação da boca. Resultados: Indivíduos com maior disfunção no sorriso apresentaram um aumento da distância entre a crista filtral e o sulco nasogeniano. A distância da comissura bucal em relação ao sulco nasogeniano pouco se alterou em relação ao grupo controle. Conclusão: A medida da cristal filtral e da comissura bucal em relação ao sulco nasogeniano demonstra de forma clara o grau de acometimento da boca na elaboração do sorriso. ABSTRACT Introduction: Facial nerve injury is related to severe functional and psychological impairment. Perception of mouth dysfunction helps to coordinate treatment. This paper focuses on the smile morphometric analysis in patients with old unilateral facial paralysis in comparison to a non affected group. Goal: To measure the distance between anatomic facial landmarks in comparison to a group of normal volunteers. To consider the implications of these measurements in the smile reconstruction. Method: Prospective and sequential study with 45 individuals. Thirty non affected adults and fifteen with old unilateral facial paralysis. Measurements were performed from the nasogenal sulcus to the mouth angle and to the philtral column, at rest and after spontaneous smile. Results: Patients with greater dysfunction with smile showed an increase in the distance between the nasogenal sulcus and the philtral column. The distance from the mouth angle to the nasogenal sulcus did not change significantly. Conclusion: The distance between the philtral column and the mouth angle in relation to the nasogenal sulcus together is strongly related to the severity of the smile disability. INTRODUÇÃO A caracterização do grau de paralisia facial é fundamental para a escolha do tratamento mais apropriado. O acometimento do sorriso é considerado na maioria das classificações das paralisias, mas usualmente refere-se a percepções subjetivas do paciente ou do examinador1,2,3,4,5. O presente estudo faz uma avaliação morfométrica de Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 1 pacientes com paralisia facial unilateral e compara às medidas obtidas em indivíduos não afetados. As implicações destas medidas na escolha do tratamento são então consideradas. OBJETIVO Medir a distância entre marcas anatômicas da face de indivíduos com paralisia facial unilateral antiga, em repouso e com a ativação do sorriso e comparar com as medidas obtidas em uma amostra de normais. Analisar as implicações destas medidas na eleição do procedimento de reconstrução do sorriso. MÉTODO Figura 2: Paciente com paralisia facial unilateral antiga em avaliação pré-operatória. Estudo prospectivo controlado e seqüencial no período de Janeiro de 2008 à Janeiro de 2009, com 45 indivíduos divididos em dois grupos: trinta voluntários normais sem queixas de movimentação da boca (Grupo 1) e quinze indivíduos com paralisia facial (Grupo 2). Critérios de inclusão: 1) indivíduos adultos entre 19 e 73 anos; 2) ausência de operação prévia na face, e 3) paralisia unilateral com pelo menos cinco anos de evolução de forma que já houvesse distorção facial óbvia em repouso (Figuras 1 e 2). As medidas da face foram realizadas em situação estática (repouso) e dinâmica (sorriso). Estabeleceu-se a medida em escala centimétrica entre a crista filtral e sulco nasogeniano (CF-SNG) e a comissura bucal em relação ao mesmo (CBSNG), bilateralmente. Para efeito de comparação entre os dois grupos, os dados foram pareados e comparados utilizando-se do programa SPSS versão 11.0 . RESULTADOS A medida da distância entre a crista filtral e o sulco nasogeniano (CF- SNG) alterou-se enormemente tanto em indivíduos normais, quanto em indivíduos com paralisia facial unilateral. Já a distância da medida da comissura bucal em relação ao sulco nasogeniano (CB-SNG) altera-se de forma bem mais modesta em ambos os grupos (Gráfico 1). Gráfico 1: Razão estática e Razão dinâmica comparando Grupo 1x Grupo 2. DISCUSSÃO Figura 1: Paciente portador de síndrome de Möebius. 2 Décadas atrás, House definiu achados clínicos comuns da lesão do VII par de forma a uniformizar a impressão dos observadores6. Brackmann então acrescentou modificações, obtendo a aprovação do Facial Nerve Committee of the American Academy of Otolaryngology que passou a sugeri-la para a avaliação de pacientes com paralisia facial7. Uma vez que é baseada na impressão do observador, a classificação de House-Brackmann conta com grande subjetividade, motivando diversos autores a acrescentar outras classificações, através Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 de questionários respondidos pelos pacientes7, classificações etiológicas8, escalas gráfico-visuais9 ou de estudos fotográficos10. O grau de movimentação da boca está presente na maior parte das classificações. Entretanto, usualmente esta modificação não é medida antes e após a intervenção – operação – a fim de se verificar o resultado obtido após a transferência muscular (Figura 3). 1 mostra a razão entre as medidas CF-SNG e CBSNG. A área de intersecção mostra um grupo de indivíduos normais cujas medidas se confundem com a de indivíduos com paralisia. Estes indivíduos com menor amplitude de movimento da boca provavelmente não necessitariam de grande quantidade de incursão muscular no sorriso reconstruído. É neste ponto em que se assenta a utilização das medidas da face. A partir da medida do sorriso obtido na face não afetada, poderemos decidir o método de reconstrução do sorriso mais apropriado para cada faixa etária e o grau de movimentação necessária para o equilíbrio da face. CONCLUSÃO Figura 3: Resultado obtido após reconstrução do sorriso com transferência muscular. O restabelecimento do equilíbrio dinâmico da face paralisada somente pode ser obtido através da reconstrução do sorriso do lado paralisado. Costumamos utilizar dois tipos distintos de transferências musculares para a reconstrução do sorriso nos pacientes com paralisias antigas: o transplante microcirúrgico para a face (Figura 4) e a transferência de músculos regionais da face, sendo comum a utilização em conjunto dos músculos masseter e temporal (Figura 5). Figura 4: Transplante do músculo gracilis. Figura 5: Transposição de músculo temporal. A medida obtida tendo como base a crista filtral reproduz de forma precisa o grau de movimentação da boca e fornece subsídios para a avaliação de pacientes com paralisia facial. Estas medidas poderão auxiliar na escolha do método de reconstrução do sorriso. Cabe ressaltar, entretanto, que essas medidas não conseguem diferenciar indivíduos normais com pouca incursão do sorriso de alguns indivíduos com paralisia facial unilateral. REFERÊNCIAS 1. Zuker R, Manktelow RT, Hussain G. Facial Paralysis. In: Mathes SJ, Hentz VR, Eds. Mathe’s plastic surgery. Philadelphia: Saunders-Elsevier, 2006: 883- 916. 2. Baker DC. Reconstruction of the paralyzed face. In: Aston SJ, Beasley SW, Thorne CHM, Eds. Grabb & Smith’s plastic surgery. Philadelphia:Lippincott-Raven, 1997: 547- 57. 3. Baker DC. Facial paralysis. In: McCarthy JG, May JW Jr, Littler JW, Eds. McCarthy’s plastic surgery. Philadelphia: WB Saunders, 1990: 2237- 319. 4. Lobbé D, Hualt M. Lengthening temporalis myoplasty and lip reanimation. Plast Recontr Surg 1999; 105(4): 1287- 97. 5. Wong GB, Stokes RB, Stevenson TR, Whetzel TP, Saunders CJ. Endoscopically assisted facial suspension for treatment of facial palsy. Plast Recontr Surg 1999; 103(3): 970- 1. 6. House JW. Facial nerve grading systems. Laryngoscope 1983; 93(8): 1056- 69. 7. Kahn JB, Gliklich RE, Boyev KP, Stewart MG, Metson RB, McKenna MJ. Validation of a patient graded instrument for facial nerve paralysis: the FaCe scale. Laryngoscope 2001; 111(3): 387- 98. 8. Westin LM, Zuker R. A new classification system for facial paralysis in the clinical setting. J Cranifac Surg 2003; 14(5): 672- 9. 9. Lazarini P, Mitre E, Takatu E, Tidei R. Graphic-visual adaptation of House-Brackmann facial nerve grading for peripheral facial palsy. Clin Otolaryngol 2006; 31(3): 192- 7. 10.Mitre EI, Lazarini PR, Dolci JE. Objective method for facial motricity grading in healthy individuals and in patients with unilateral peripheral facial palsy. Am J Otolaryngol 2008; 29(1): 51- 7. A escolha da técnica mais apropriada para a reconstrução do sorriso é fundamental. O Gráfico Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 3