KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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DESEMPENHO DE INDIVÍDUOS NORMAIS E AFÁSICOS EM TESTE DE
JUÍZO DE GRAMATICALIDADE
SOBRE ORAÇÕES RELATIVAS PREPOSICIONADAS
Eduardo Kenedy
Faculdade de Formação de Professores – UERJ
Laboratório de Psicolingüística Experimental - UFRJ
Resumo:
Neste estudo, procura-se sustentar a Hipótese da antinaturalidade de Pied-piping na relativização por
meio de um teste de Juízo Automático de Gramaticalidade aplicado em indivíduos normais e afásicos.
Segundo tal hipótese e levando em consideração as condições de economia derivacional do Programa
Minimalista (Chomsky, 1995, 2000, 2001 e outros), relativas pied-piping não fazem parte da gramática
natural dos indivíduos e, portanto, estão sujeitas aos erros e hesitações comuns no uso de habilidades
culturais tardias, aprendidas no processo de letramento. Se a performance de indivíduos normais e
afásicos for idêntica nos juízos sobre pied-piping, então teremos começado a reunir evidências em favor
da hipótese apresentada, afinal o desempenho lingüístico de afásicos normalmente difere quantitativa e
qualitativamente do desempenho de normais (cf. Hickok et al., 1993).
Abstract:
In this paper I will try to support the Antinaturality of Pied-piping as a relativization strategy hypothesis
by means of a Speed Grammaticality Judgment applied in both normal and aphasic individuals.
According to that hypothesis and also taking into consideration the Noam Chomsky’s Minimalist
Program as a Framework, pied-piping cannot be part of a natural grammar, so it is exposed to many errors
and hesitations which take place when one uses artificial constructions acquired in school during literacy
process. If normal and aphasic judgments on pied-piping are similar, so initial evidence supporting the
Antinaturality hypothesis will be found, assuming that normal and aphasic individuals’ linguistic
performance differs quantitatively and qualitatively (cf. Hickok et al., 1993).
Palavras-chave:
Estratégias de relativização, pied-piping, prepositional-stranding.
Key words:
Relativization strategies, pied-piping, prepositional-stranding.
1. Introdução
Nos estudos de neuropsicologia da linguagem, assume-se que a observação do
comportamento verbal de indivíduos com déficits lingüísticos pode ser relevante na
tarefa de construir uma teoria explicativa sobre o conhecimento lingüístico de
indivíduos normais (cf. Grodzinsky, 1990). No presente trabalho, pretendemos explorar
esse tipo de correlação entre Neuropsicologia e Teoria da Gramática para apresentar
uma hipótese de solução para o problema que as orações relativas preposicionadas
representam para a teoria lingüística sustentada no Programa Minimalista (Chomsky,
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1995, 2000, 2001). As relativas preposicionadas foram primeiramente estudas pelas
pesquisas em variação lingüística, que catalogaram pelo menos quatro variantes para
esse tipo de estrutura: pied-piping (ou forma padrão), prepositional-stranding (ou
preposição-órfã), relativa copiadora (ou com pronome lembrete, ou resumptiva) e
relativa cortadora, ilustradas a seguir.
Inglês
(1) a. the person to whom I talked yesterday (pied-piping)
b. the person whom I talked to yesterday (prepositional-stranding)
c. the person whom I talked to him/her yesterday (copiadora)
Português
(2) a. a pessoa com a qual eu falei ontem (pied-piping)
b. a pessoa que eu falei com ela ontem (copiadora)
c. a pessoa que eu falei ontem (cortadora)
Para a Teoria da Gramática, a coexistência de duas ou mais dessas variantes num
mesmo sistema lingüístico pode ser um grande problema, pois, considerando-se as
condições de economia impostas ao processo derivacional (Chomsky, 1995: 262-64),
variantes como pied-piping e prepositional-stranding, por exemplo, deveriam
apresentar-se em distribuição complementar entre as línguas, o que contradiz o
conhecimento sintático atual sobre o inglês, segundo o qual essas construções se
encontram em variação livre ou estilística (cf. Alexiadou, 2000). Já em línguas como o
português do Brasil (PB), que não registram na fala natural nem pied-piping tampouco
prepositional-stranding (cf. Tarallo, 1983; Kato, 1993; Corrêa 1996; Kenedy, 2002; e
outros), a situação é ainda mais problemática, pois não se sabe se relativas cortadoras e
copiadoras são derivações sintáticas alternativas à derivação padrão e à preposição-órfã,
que com elas competem no processo derivacional, ou se são expedientes pós-sintáticos
que cumprem a função (vazia na gramática) de relativizar um constituinte regido por
preposição. Pretendemos, neste texto, apresentar essa problemática e formular uma
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hipótese que, acreditamos, poderá lançar luz sobre o problema: a hipótese da
antinaturalidade de pied-piping na relativização (APR). Tal hipótese será testada num
experimento de Juízo automático de gramaticalidade, que medirá o desempenho de
indivíduos normais e de um indivíduo com déficit de linguagem (afasia de Broca) na
tarefa de julgar a gramaticalidade de orações relativas preposicionadas. De um lado, a
hipótese APR prevê que indivíduos normais não diferenciarão ou terão dificuldades em
diferenciar relativas pied-piping gramaticais e agramaticais, já que esse tipo de estrutura
não faz parte do conhecimento tácito e automático (natural) que o um indivíduo tem
sobre a sua língua – trata-se de uma habilidade aprendida (ou não) durante o processo
de letramento, sujeita, portanto, a falhas e hesitações que nunca ocorrem em relação a
fenômenos gramaticais naturais (cf. Grodzinsky, 1990). De outro lado, indivíduos com
afasia de Broca tipicamente apresentam dificuldades no trato com estruturas lingüísticas
que envolvem movimento de constituintes (operação Move), portanto também não
diferenciarão ou terão dificuldades em diferenciar relativas pied-piping gramaticais e
agramaticais em seus juízos, já que estruturas pied-piping são derivadas pela aplicação
de Move pelo menos uma vez. Se o desempenho de indivíduos normais e com déficits
lingüísticos nos Juízos automáticos sobre relativas pied-piping for basicamente o
mesmo, então termos encontrado, ainda com uma metodologia off-line, as primeiras
evidências em favor da APR, afinal o desempenho lingüístico de indivíduos com afasia
apresenta diferenças quantitativas e qualitativas em relação ao desempenho de
indivíduos normais (cf. Hickok et al., 1993).
O texto está organizado da seguinte maneira: na seção 2 apresentaremos o
problema da relativização preposicionada em face das condições de economia
derivacional do Programa Minimalista; na seção 3, formularemos a hipótese da
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antinaturalidade da estratégia pied-piping como uma maneira de resolver os problemas
apresentados na seção 2; na seção 4, descrevermos o teste de Juízo automático de
gramaticalidade, um tipo simples de experimento que aplicamos com a intenção de
sustentar a hipótese formulada na seção 3; as previsões feitas sobre o teste de Juízo
automático a partir da hipótese APR são descritas na seção 5; nas seções 6 e 7
apresentaremos, respectivamente, os resultados e a discussão do experimento.
2. O problema das relativas preposicionadas para a Teoria da Gramática
A interpretação do estatuto das orações relativas preposicionadas na Teoria da
Gramática é bastante problemática quando levamos em consideração as condições de
economia do sistema computacional da linguagem humana, apresentadas, desde
Chomsky (1995: 262-64), como um dos pilares do Programa Minimalista. De acordo
com essas condições, a derivação de uma estrutura sintática não deve ser apenas
convergente, no sentido de preservar a gramaticalidade da construção, mas deve ser
também mínima, no sentido de ser econômica e envolver o menor número possível de
fases e/ou recursos computacionais. Desta forma, numa determinada Fase da derivação
de uma estrutura sintática e a partir de uma dada Numeração, o sistema computacional
optará cegamente pela derivação menos custosa possível. Por exemplo, se houver uma
opção entre aplicar Move ou Merge (juntar constituintes sintáticos), o sistema aplicará
Merge, visto que Move é uma computação mais custosa, já que envolve diferentes
suboperações sintáticas (Copy, Merge, Form Chain e Chain Reduction, cf. Nunes
(2004)); se houver a opção entre aplicar Move sobre um constituinte ou sobre dois, o
sistema aplicará Move sobre apenas um, e assim por diante. Raposo (1999: 30-5)
exemplificou clara e didaticamente de que maneira as condições de economia impõem
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restrições ao processo derivacional. Usando exemplos do inglês e do português o autor
demonstra o seguinte.
(3) a. therei seems [therei to be a man in the room]
b. there seems [a mani to be a man in the room]
(4) a. * pro parece [Maria estar triste]
b. Mariai parece [Mariai estar triste]
A derivação (3b) é considerada inaceitável pelos falantes do inglês, mas isso não
se deve à violação de algum preceito puramente gramatical daquela língua. (3b) é
inaceitável porque é uma derivação computacionalmente mais custosa que (3a), e por
ela é bloqueada na competência lingüística dos falantes. Em (3a) não ocorre Move na
fase indicada entre colchetes: [there] é inserido diretamente como especificador de [to
be] e [a man] é mantido em sua posição de base, ao passo que em (3b) [a man] sofre
Move para a posição de especificador de [to be], já que [there] será retirado da
Numeração apenas na próxima fase derivacional. Como Move torna a derivação mais
complexa, então o sistema computacional bloqueia (3b) e licencia apenas (3a). No caso
do português, (4a) é uma opção derivacional mais econômica se comparada a (4b), já
que não envolve Move. No entanto, sem a aplicação de Move sobre o constituinte
[Maria], esse sintagma não consegue valorar seu Caso Nominativo, o que redunda na
agramaticalidade de (4b). Logo, Move deve ser aplicado obrigatoriamente, como último
recurso para preservar a gramaticalidade da sentença, o que leva ao licenciamento de
(4b) e ao bloqueio de (4a). A conclusão mais importante a que chegam Raposo (1999) e
Chomsky (1995) é que Move só se aplica se for obrigatório, pois, sem ele, a sentença
estaria condenada à agramaticalidade, do contrário Move nunca se aplica, sob a pena de
tornar não-mínima a derivação e, conseqüentemente, deixá-la ilegível para o sistema
computacional.
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As condições de economia impostas ao processo derivacional impedem que, em
línguas como o inglês, pied-piping e prepositional-stranding possam ser interpretadas
como construções em variação livre, em competição estilística na competência dos
falantes, pois, a partir de uma mesma Numeração, prepositional-stranding será uma
estratégia derivacional sempre menos custosa (mínima) em relação a pied-piping (nãomínima), já que envolve o deslocamento apenas do sintagma regido pela preposição,
enquanto pied-piping envolve o alçamento não só desse sintagma mas também da
própria preposição,1 o que, em outras palavras, significa dizer que, de acordo com
Chomsky (1995: 262-64), prepositional-stranding deveria bloquear sistematicamente
pied-piping.
(5) a. pied-piping
the person [to [whom]i I talked [to [whom]]i yesterday
b. prepositional-stranding
the person [who]i I talked [to [whom]i] yesterday
No caso do português, ainda conforme Chomsky (1995: 263), a impossibilidade
gramatical do prepositional-stranding (já que preposições não regem categorias vazias
em nenhuma língua românica) deveria compelir o uso de pied-piping na relativização
preposicionada, como último recurso para assegurar a convergência da derivação. No
entanto, essa não é a realidade que se observa: pelo menos no português do Brasil, nem
pied-piping tampouco prepositional-stranding são mecanismos naturais de relativização
preposicionada, estrutura que é derivada pelo apagamento da preposição (relativa
cortadora).
1
A caracterização sintática da derivação de pied-piping e de prepositional-stranding depende do modelo
de descrição sintática adotado. Pode-se assumir o alçamento apenas do pronome relativo (prepositionalstranding) ou do pronome relativo e da preposição (pied-piping ) (cf. Chomsky, 1977) ou pode-se assumir
o movimento do próprio nome relativizado e do pronome relativo (prepositional-stranding ) ou do nome
relativizado, do pronome relativo e da preposição (pied-piping) (cf. Kayne, 1994). Em qualquer caso, o
problema das condições de economia permanece. No caso do modelo de Kayne, a situação é ainda pior,
pois pied-piping envolve duas operações Move, em contraste com uma única operação demandada na
derivação de prepositional-stranding (cf. Kenedy: 2002: 111-13).
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(6) a. pied-piping
a pessoa [com [a qual]]i eu falei [com [a qual]]i ontem
b. prepositional-stranding
* a pessoa [a qual]i eu falei [com [a qual]i] ontem
c. cortadora
* a pessoa [que]i eu falei [com [que]i] ontem
Ora, as condições de economia prevêem que (i) o bloqueio de prepositionalstranding numa dada língua deve licenciar pied-piping e (ii) o licenciamento
prepositional-stranding deve bloquear pied-piping. Contudo, dados como (6) acima
desconfirmam (i) ao mesmo tempo em que dados como (5) desabonam (ii). Portanto, há
aqui um problema na Teoria da Gramática que precisa ser desfeito: derivações
alternativas, mínimas e não-mínimas, não podem coexistir num sistema lingüístico
natural, como o inglês; relativas cortadoras, como as do português, devem ser
expedientes sintáticos de relativização, capazes de, ao mesmo tempo, bloquear piedpiping e prepositional-stranding, e não podem ser uma derivação completamente
independente, de natureza discursiva, cunhada pela gramática do PB, como sustentam
estudos paramétricos como Tarallo (1983), Kato (1993) e Corrêa (1996).
3. Uma hipótese
Para apresentarmos uma possível resposta aos problemas formulados na seção
anterior, assumiremos aqui a hipótese de que relativas preposicionadas não-mínimas
(pied-piping) não são uma construção natural na gramática do inglês ou do português –
e possivelmente em nenhuma língua humana (core-grammar) – hipótese que
denominamos Antinaturalidade de pied-piping na relativização (APR) . Em acordo com
as condições de economia derivacional, assumimos que, na competência lingüística dos
falantes, uma derivação não-mínima será bloqueada por uma derivação mínima sempre
que esta preservar a convergência da derivação. Dito de outra forma, pied-piping só
poderá ser uma derivação natural, numa dada língua, caso seja o último recurso pelo
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qual a gramática dessa língua assegure a convergência de uma relativização
preposicionada. Do contrário, isto é, caso a gramática da língua em questão licencie
prepositional-stranding ou o corte da preposição (derivações mínimas), pied-piping será
bloqueado.2 Segundo nossa hipótese, a existência de pied-piping na relativização de
línguas como o inglês e o português deve ser entendida como uma idiossincrasia da
cultura escrita, uma habilidade lingüística consciente que deve ser aprendida através de
treino e iniciação à escrita formal, artística e forense, cuja origem histórica ainda está
por ser detalhadamente estudada.3
4. Testando a hipótese
Para começa a testar a hipótese acima apresentada, formulamos um experimento
de Juízo automático de gramaticalidade, que visa a verificar (i) se falantes nativos de
língua portuguesa sem déficits de linguagem apresentam diferenças na percepção de
relativas pied-piping e cortadora e (ii) se falantes nativos de língua portuguesa com
déficits de linguagem apresentam diferenças em relação aos indivíduos normais na
percepção de relativas pied-piping e cortadora. De acordo com a hipótese APR, somente
relativas
cortadoras
devem
ser
processadas/derivadas
automaticamente
(pelo
parser/gramática), por ser esse tipo de estrutura natural ao sistema lingüístico, ao passo
que o processamento/derivação de pied-piping, uma construção artificial, deve
demandar esforço consciente do falante. Para encontrar evidências que sustentem ainda
indiretamente essa hipótese, podemos verificar, em primeiro lugar, como falantes
normais julgam relativas cortadoras e pied-piping em termos de aceitabilidade. Se as
2
Com essa argumentação, assumimos que relativas cortadoras, pied-piping e prepositional-stranding
sejam derivações assentadas numa mesma numeração. De que maneira o output fonético da cortadora não
manifesta a preposição é um problema que deixaremos de lado no presente trabalho.
3
Um esboço desse tipo de estudo diacrônico pode ser encontrado em Johansson (2000), que indica haver,
no período medieval do inglês, certa confusão entre a estruturação de interrogativas qu- e relativas de
preposição.
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cortadoras são uma estrutura natural, devemos esperar que os juízos acerca dessa
construção sejam precisos, no sentido de que o falante possa facilmente detectar
diferenças entre relativas cortadoras usuais (aceitáveis) e relativas cortadoras
deliberadamente alteradas, mal construídas (inaceitáveis), ao passo que o mesmo não
deve ocorrer com os juízos acerca de pied-piping, estrutura que deve ser julgada de
maneira menos precisa, no sentido de que os falantes não detectarão ou terão
dificuldades em detectar diferenças entre relativas pied-piping usuais (aceitáveis) e
relativas pied-piping deliberadamente alteradas, mal construídas (inaceitáveis). Em
segundo lugar, podemos verificar se a percepção desse mesmo tipo de estrutura em
indivíduos agramáticos é ou não significativamente diferente da percepção de
indivíduos
normais.
Assumindo
que
agramáticos
têm
dificuldades
para
produzir/compreender estruturas derivadas por Move (cf. Grodzinsky, 1990; Hermont,
1999), esperamos que eles não tenham problemas na identificação de relativas
cortadoras normais e anômalas, ao passo que o mesmo não deve ocorrer na percepção
de relativas pied-piping, já que estas (mas não aquelas) são derivadas via Move.
4.1. Design do experimento
No Juízo automático de gramaticalidade, o sujeito é apresentado a uma
construção lingüística e deve imediatamente emitir um juízo sobre ela, no qual diga se a
considera aceitável ou inaceitável. Juízos de gramaticalidade são um recurso
argumentativo caro à lingüística gerativa, aproveitados pela pesquisa experimental, que
confere maior cientificidade aos juízos submetendo-os a diversos falantes, de maneira
estatisticamente controlada. No caso do presente experimento, frases são apresentadas,
uma a uma, na tela de um computador. A tarefa do sujeito é ler atentamente cada uma
dessas frases e, tão rápido quanto termine a leitura, emitir um juízo (aceitável ou
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inaceitável) sobre elas. Um botão verde no teclado do computador deve ser rapidamente
pressionado caso o juízo seja aceitável, e um botão vermelho deve ser pressionado para
o caso do juízo inaceitável. Na apresentação das frases, recorremos a uma técnica
chamada Apresentação visual rápida e seriada (Rapid serial visual presentation –
RSVP). Nessa técnica, as palavras que compõe cada frase são apresentadas uma a uma
no centro da tela do computador, rapidamente (a 350 milésimos de segundo cada) e de
maneira não cumulativa, o que impede que o sujeito possa voltar atrás na leitura da frase
ou refletir sobre ela enquanto a lê. Tal técnica possibilita a hipótese de que o sujeito de
fato tenha de processar/derivar mentalmente as frases-estímulo e não apenas exercer sua
habilidade de leitura, já que, com apresentação rápida de palavra-por-palavra, ele não
terá pistas visuais sobre a estrutura sintática que deve construir na mente para poder
interpretar a sentença.
4.1.1. As frases
As relativas preposicionadas presentes nas frases experimentais da tarefa foram
divididas, primeiramente, em dois grupos: pied-piping (PP) e cortadora (C). Depois,
foram criadas duas versões para as relativas de cada grupo: pied-piping não-alterada
(PPN) e pied-piping alterada (PPA) & cortadora não-alterada (CN) e cortadora alterada
(CA). A versão não-alterada apresenta uma relativa usual como (7a-b) abaixo,
considerada gramatical na descrição sintática do português, e a versão alterada apresenta
uma relativa não-usual como (8a-b), deliberadamente mal formada conforme a
descrição sintática da língua.
(7) a. Dinheiro no bolso é uma coisa da qual todo mundo gosta (PPN)
b. Dinheiro no bolso é uma coisa que todo mundo gosta (CN)
(8) a. Dinheiro no bolso é uma coisa de qual todo mundo gosta (PPA)
b. Dinheiro no bolso é uma coisa que todo mundo gosta de realmente (CA)
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A versão alterada acrescenta à relativa uma modificação estrutural que provoca
estranheza na construção, aumentando a possibilidade do julgamento inaceitável para a
frase. No caso de pied-piping, a alteração consiste em substituir os pronomes relativos o
qual e a qual pelo pronome interrogativo correspondentes: qual. Numa relativização
não-preposicionada, a substituição de um pronome pelo outro é bastante evidente: Ele
me emprestou um livro, o qual é muito interessante VS. *Ele me emprestou um livro,
qual é muito interessante. No caso de pied-piping, deve-se verificar se essa diferença é
perceptível ou não pelos falantes. Em relação às cortadoras, a versão alterada é, na
verdade, uma pseudocortadora, pois a preposição não é suprimida, mas mantida em sua
posição de origem, na qual é regida pelo verbo da relativa. Em nenhum caso de CA, a
preposição foi deixada como última constituinte da frase, fato que evidenciaria
visualmente o caso de uma construção inaceitável em português.
Nosso experimento apresenta, portanto, 4 condições: PPN, PPA, CN e CA. Para
medição do comportamento dos sujeitos, consideramos duas variáveis independentes:
aceitabilidade (aceitável ou inaceitável) e tempo de resposta.
No total, foram constituídos 20 grupos de frases experimentais, cada qual com as
quatro condições da tarefa. Nossa intenção foi apresentar todas as condições a cada
sujeito pelo menos 5 vezes, mas nunca repetindo exatamente a mesma frase (método do
quadrado latino). Assim, um sujeito exposto, por exemplo, a PPN Dinheiro no bolso é
uma coisa da qual todo mundo gosta, veria como PPA a frase Boa vontade de políticos
é uma coisa de qual os cidadãos dependem infelizmente, como CN veria É preciso ter
cuidado com as pessoa que pedimos informações na rua atualmente e como CA, Não
consigo me lembrar do número da pessoa que liguei para agora mesmo. Desta forma,
cada sujeito é exposto 20 frases experimentais, 5 de cada condição. Um grupo de frases
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distratoras estruturalmente não relacionadas à relativização foi elaborado: 40 frases de
distratoras por 20 frases experimentais. As distratoras também foram balanceadas em
alteradas e não-alteradas. Cada frase, tanto as experimentais quanto as distratoras,
cotinha 13 palavras.4
4.2. Sujeitos
4.2.1. Sujeitos normais
Participaram do experimento 40 sujeitos, 20 homens e 20 mulheres, com idade
média de 20 anos de idade, todos com escolarização média completa e filhos de pais
também de escolarização média, residentes desde o nascimento na região metropolitana
do Rio de Janeiro, nos municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá. Todos os sujeitos
declararam não possuir qualquer tipo de problema visual ou qualquer distúrbio
relacionado à leitura.
4.2.2. Sujeito agramático
I., paciente do Instituto de Neurologia da UFRJ, onde realiza exames periódicos
e faz exercícios fisioterapêuticos, foi por seus médicos classificada como uma afásica de
Broca (lesão no lobo frontal e parietal do hemisfério esquerdo). A paciente I. foi
primeiramente estudada por Hermont (1999, p. 62-68) e Kenedy (2001: 6), tendo sido
submetida, entre outros tipos de avaliação diagnóstica, ao Teste de Boston. O diálogo
prévio com os médicos e com a própria paciente foi determinante para decidir se ela
tinha condições de compreender e executar a tarefa do experimento, que envolvia
habilidade de leitura rápida de palavras e o mínimo de coordenação motora para
pressionar botões num teclado de computador. I. tem 42 anos de idade, possui nível
superior e exercia a profissão de professora antes de seu AVC.
4
Foram também controladas as variáveis tipo de preposição e função do SP (argumento ou adjunto). No
entanto, tais variáveis não serão levadas em consideração no presente trabalho.
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4.3. Procedimentos
Os sujeitos foram conduzidos individualmente a uma sala apropriada para a
aplicação do experimento, na qual recebiam instruções orais informais sobre a tarefa.
Logo em seguida, liam as instruções formais na tela com computador e procediam a um
treinamento, julgando frases distratoras (semelhantes às distratoras do experimento)
como aceitáveis ou inaceitáveis. Esse treinamento continha até 20 frases, que podiam
ser abreviadas ou replicadas conforme o sujeito se declarasse seguro o suficiente para
iniciar a tarefa. O treinamento foi atentamente acompanhado pelo pesquisador, que
verificava se o sujeito havia de fato compreendido a tarefa e tinha condições de iniciála.
Todas as 13 palavras de cada frase foram apresentadas no centro da tela do
computador durante 350 milésimos de segundo (msec). A última palavra de cada frase
vinha acompanha de um ponto final, que indicava o término da seqüência de palavras.
Após a última palavra, um ponto de interrogação aparecia no centro da tela do
computador, o que indicava ao sujeito o momento de emitir o juízo sobre a frase lida. O
juízo era emitido por meio dois botões do teclado do computador. Um botão vermelho
deveria ser pressionado caso o sujeito considerasse a frase inaceitável, e um botão verde
deveria ser pressionado caso o sujeito considerasse a frase aceitável. Após o julgamento
da frase, o sujeito deveria pressionar um botão branco, também presente no teclado,
para dar início à nova seqüência de palavras. A mediação do tempo de reposta era feito
pelo relógio interno do computador, e se iniciava no momento do aparecimento da
interrogação na tela.
O experimento foi elaborado no programa Psyscope versão 1.2.5. e rodado no
computador PowerBook G4 (Laptop da Apple, Macintosh), monitor de 15''. Cada
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sujeito realizou sua tarefa de maneira individual e isolada, e levou cerca de 20 minutos
para concluí-la.
5. Previsões
De acordo com a hipótese da antinaturalidade de pied-piping, assumimos que os
sujeitos normais terão dificuldades para detectar diferenças entre PPN e PPA, julgando
ambas igualmente aceitáveis ou inaceitáveis. Já no caso das cortadoras, assumimos que
os sujeitos sistematicamente detectarão as diferenças entre CG e CA, julgando CG
aceitável e CA inaceitável regularmente. Para o sujeito agramático, prevemos um
desempenho semelhante aos indivíduos normais, quanto aos juízos acerca de C e PP.
6. Resultados5
6.1. Sujeitos normais
Os sujeitos não apresentaram problema para a identificação de distratoras
alteradas e não-alteradas. Distratoras não-alteradas apresentaram 93,6% de julgamentos
aceitáveis, e distratoras alteradas receberam 95,1% de julgamentos inaceitáveis.
Relativas CN apresentaram um nível alto de aceitação pelos sujeitos (84,5%).
Complementarmente, relativas CA apresentaram baixo nível de julgamentos aceitáveis
(19%).
Gráfico 1- precentual de aceitabilidade de
relativas cortadoras não-alteradas (CN) e
alteradas (CA) - Sujeitos Normais
100
CN
50
CA
0
aceitável
inaceitável
5
Infelizmente, não houve tempo hábil para a análise de variança (aNova), que poderia indicar se os
valores brutos aqui são de fato significativos para as condições estudadas. Submeteremos os resultados à
análise estatística brevemente.
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KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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Relativas PPN apresentaram um índice médio de aceitação (66,5%), relativamente
próximo do nível de aceitação de PPA, que teve 76,5% de juízos aceitáveis.
Gráfico 2 - percentual de aceitabilidade
de relativas pied-piping não-alteradas
(PPN) e alteradas (PPA) - Sujeitos
Normais
100
PPN
50
PPA
0
aceitável
inaceitável
Em relação ao tempo de julgamento, CN foi a condição mais rapidamente julgada,
com média de 951 msec., seguida de CA, com média de 1023 msec. PPN apresentou
tempo médio de julgamento superior aos tempos de C, com 1191 msec., seguido da
condição mais lentamente julgada, PPA com 1337 msec. Vê-se que relativas cortadoras
são julgadas mais rapidamente em relação a pied-piping: média para C 987 msec.;
média para PP 1398 msec.
Gráfico 3 - tempo médio de julgamento de piedpiping e cortadoras - Sujeito Normais
(em milésimos de segundo)
PP
C
0
500
1000
1500
6.2. Sujeito agramático
O sujeito não apresentou problemas na identificação de frases
distratoras
alteradas
e
não-alteradas.
Distratoras
não-alteradas
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KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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apresentaram 85,9% de julgamentos aceitáveis, e distratoras alteradas
receberam 79,6% de julgamentos inaceitáveis. 6
Relativas CN apresentaram nível de aceitação alto (73,2%), enquanto CA
apresentaram baixo nível de aceitação (35%).
Gráfico 4 - precentual de aceitabilidade de
relativas cortadoras não-alteradas (CN) e
alteradas (CA) - Sujeito Agramático
80
60
40
CN
20
CA
0
aceitável
inaceitável
Relativas PPN e PPA apresentaram basicamente os mesmos índices de aceitação
e rejeição: PPN com 54% de aceitação e PPA com 61%.
Gráfico 5 - percentual de aceitabilidade
de relativas pied-piping não-alteradas
(PPN) e alteradas (PPA) - Sujeito
Agramático
100
PPN
50
PPA
0
aceitável
inaceitável
Os tempos de julgamento do paciente apresentaram os seguintes resultados: CN
foi a condição julgada de maneira mais rápida, com média de 4798 msec. CA, com
tempo médio de 5232 msec, foi a segunda condição mais rapidamente julgada. Já PPN
apresentou tempo de julgamento superior aos tempos médios de resposta de C, com
6
Cabe ressaltar que as frases experimentais não apresentavam estruturas descontínuas como relativas,
interrogativas ou passivas. Como pode ser visto no anexo I, tais frases apresentavam orações absolutas,
coordenadas e subordinadas de diferentes tipos. Por não serem estruturas geradas via Move, acreditamos
que as distratoras não foram um problema para o sujeito.
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KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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média de 6733 msec., seguido da condição mais lentamente julgada, PPA com 6921
msec. O tempo médio de julgamento de C (5015) foi inferior ao de P (6827)
Gráfico 6 - tempo médio de julgamento de piedpiping e cortadoras - Sujeito Agramático
(em milésimos de segundo)
PP
C
0
2000
4000
6000
8000
7. Discussão
Os dados acima parecem confirmar indiretamente a hipótese da antinaturalidade
de pied-piping na relativização, uma vez que tanto os sujeitos normais quanto o sujeito
agramático são capazes de julgar diferentemente relativas CN e CA, mas não fazem
julgamentos distintos quando a relativa é PPN ou PPA. Como os resultados apontam,
tanto PPA quanto PPN são consideradas igualmente aceitáveis pelos falantes normais.
O fato interessante é que os sujeitos normais não rejeitaram PPN ou PPA, tampouco
agem de maneira aleatória, considerando-as ora aceitáveis ora inaceitáveis. PPN e PPA
são percebidas praticamente da mesma maneira pelos sujeitos normais. Uma explicação
plausível para esse comportamento é que os sujeitos normais, em razão de sua
escolarização, são capazes de reconhecer a estrutura pied-piping (ou algo semelhante,
como PPA), daí a maior aceitação e a menor rejeição dessa estratégia de relativização,
no entanto, esses mesmos sujeitos não são capazes de perceber inconsistências
estruturais nesse tipo de construção (a troca do pronome relativo pelo interrogativo),
pelo menos num juízo automático, na técnica RSVP, sem espaço para a reflexão mais
atenciosa. Como PPN e PPA são estruturas parecidas, os sujeitos não as distinguem. A
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KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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percepção dessas inconsistências ou demanda maior tempo de reflexão e/ou só é
acessível para indivíduos treinados nas nuanças da língua escrita formal, artística ou
forense. Já com o sujeito agramático a situação é um tanto diferente: ele também não é
capaz de distinguir PPN e PPA, no entanto, não aceita indiferentemente ambas as
construções, como fazem os sujeitos normais, mas parece oscilar aleatoriamente entre
aceitável e inaceitável, no nível da chance, portanto. Esse tipo de comportamento é
previsto se assumirmos (com Grodzinsky, 1990 e outros) que o afásico de Broca tem
dificuldade em processar/derivar estruturas que apresentam constituintes deslocados
(Move), como é o caso de relativas PP, mas não de relativas C. De forma resumida:
tanto sujeitos normais quanto o sujeito agramático não são capazes de distinguir PPN e
PPA: os sujeitos normais julgam PPN e PPA como igualmente aceitáveis e o sujeito
agramático julga esses estruturas ora como aceitáveis, ora como inaceitáveis, na chance.
A situação com as cortadoras é totalmente diferente, pois os sujeitos normais
reconhecem esse tipo de estrutura tão bem e, praticamente, com a mesma velocidade
com que detectam a inconsistência de uma preposição que deixou de ser apagada (CA).
A assimetria entre a percepção de cortadoras e de pied-piping pode ser explicada pela
hipótese da antinaturalidade de pied-piping: como cortadoras são uma construção
natural, os juízos de gramaticalidade acerca desse tipo de estrutura são precisos, capazes
de detectar rapidamente qualquer violação às condições de convergência ou de
processamento da sentença; já estruturas pied-piping são analisadas com menos precisão
e mais lentamente, como se fosse um julgamento acerca de uma frase de uma língua
estrangeira, que o sujeito aprendeu mediante treinamento explícito. O mesmo pode ser
dito sobre o desempenho do sujeito agramático. Ele foi capaz de diferenciar CN e CA
com grande precisão, embora para isso tenha despendido um tempo maior em relação
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KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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aos indivíduos normais (possivelmente em relação a dificuldades motoras). Esse
resultado parece indicar que a relativização cortadora permaneceu intacta na gramática
do sujeito, já que esse tipo de construção não envolve Move.
8. Considerações finais
Com o experimento apresentado neste trabalho, acreditamos ter reunido as
primeiras evidências que podem sustentar a hipótese da antinaturalidade de pied-piping
na relativização. Embora o desempenho de sujeitos normais e o sujeito agramático tenha
sido diferente (normais aceitam tanto PPN quanto PPA e o agramático oscila
aleatoriamente entre aceitação e negação dessas estruturas), todos tiveram em comum o
fato não distinguir estruturas pied-piping bem-formadas e seus correspondentes malformados, o que não acontece quando o tipo de relativa e cortadora. Ora, se indivíduos
normais e agramáticos apresentam desempenho semelhante em tarefas lingüísticas – nas
quais esperávamos desempenhos diferentes –, então há aqui algum problema que deve
ser detectado. Esse problema, segundo pensamos, são as relativas pied-piping, que são
tão estranhas à gramática de um indivíduo normal quanto à do indivíduo agramático.
9. Referências bibliográficas
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do Brasil.
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HERMONT, A. 1999. Compreensão de sentenças com vestígios de SN e de elemento –QU no
agramatismo. Rio de Janeiro: UFRJ/FL. (Dissertação de Mestrado)
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comprehension. Brain and Language. 45(3), 371-395.
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relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
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pp. 15 -37.
TARALLO, F. 1983. Relativization Strategies in Brazilian Portuguese. Philadelphia Univ. of
Pennsylvania (Doctoral dissertation).
ANEXO I (Frases do experimento)
Frases experimentais
1. João Paulo II foi o tipo de Papa no qual todo mundo confiava.
2. João Paulo II foi o tipo de Papa em qual todo mundo confiava.
3. João Paulo II foi o tipo de Papa que realmente todo mundo confiava.
4. João Paulo II foi o tipo de Papa que todos confiavam em realmente.
5. O Rio não é mais um lugar no qual podemos ir com tranqüilidade.
6. O Rio não é mais um lugar em qual podemos ir com tranqüilidade.
7. O Rio infelizmente não é mais um lugar que podemos ir com tranqüilidade.
8. O Rio não é mais um lugar que podemos ir em com tranqüilidade.
9. Político é o tipo de pessoa na qual os brasileiros não confiam mais.
10. Político é o tipo de pessoa em qual os brasileiros não confiam mais.
11. Político é o tipo de pessoa que os brasileiros realmente não confiam mais.
12. Político é o tipo de pessoa que os brasileiros não confiam em mais.
13. Ter muito dinheiro no bolso é uma coisa da qual todo mundo gosta.
14. Ter muito dinheiro no bolso é uma coisa de qual todo mundo gosta.
15. Ter muito dinheiro no bolso é uma coisa que todo mundo gosta mesmo.
16. Ter dinheiro no bolso é uma coisa que todo mundo gosta de muito.
17. O Rubem Fonseca é um escritor brasileiro moderno do qual temos poucas notícias.
18. O Rubem Fonseca é um escritor brasileiro moderno de qual temos poucas notícias.
19. O Rubem Fonseca é um escritor brasileiro moderno que nós temos poucas notícias.
20. O Rubem Fonseca é um escritor que temos poucas notícias de nos jornais.
21. Boa vontade de políticos e governantes é uma coisa da qual todos dependemos.
22. Boa vontade de políticos e governantes é uma coisa de qual todos dependemos.
23. Boa vontade de políticos e governantes é uma coisa que nós todos dependemos.
24. Boa vontade de políticos e governantes é uma coisa que dependemos de infelizmente.
25. É preciso cuidado com as pessoas a quem pedimos informação hoje em dia.
26. É preciso cuidado com as pessoas a quais pedimos informação hoje em dia.
27. É preciso ter cuidado com as pessoas que pedimos informação hoje em dia.
28. É preciso cuidado com as pessoas que pedimos informação a hoje em dia.
29. A pessoa para a qual você mostrou o caminho correto será sempre agradecida.
30. A pessoa para qual você mostrou o caminho correto será sempre muito agradecida.
31. A pessoa que você mostrou o caminho correto lhe será sempre muito agradecida.
32. A pessoa que você mostrou o caminho correto para será sempre muito agradecida
33. Parar em faixa de pedestre é um princípio ao qual nenhum motorista obedece.
34. Parar em faixa de pedestre é um princípio a qual nenhum motorista obedece.
35. Parar em faixa de pedestre é um princípio que nenhum motorista realmente obedece.
36. Parar em faixa de pedestre é lei que nenhum motorista obedece a realmente.
37. Não consigo lembrar do número do telefone para o qual acabei de ligar.
38. Não consigo mais lembrar do número do telefone para qual acabei de ligar.
39. Eu não consigo mais lembrar do número do telefone que acabei de ligar.
40. Não consigo lembrar do número do telefone que acabei de ligar para agora.
50
KENEDY, E. Desempenho de indivíduos normais e afásicos em teste de juízo de gramaticalidade sobre orações
relativas preposicionadas. In: Revista do ISAT, v. 06, p. 31-46, 2006.
____________________________________________________________________________
41.
42.
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
56.
57.
58.
59.
60.
61.
62.
63.
64.
65.
66.
67.
68.
69.
70.
71.
72.
73.
74.
75.
76.
77.
78.
79.
80.
A violência é o tipo de coisa com a qual aprendemos a conviver.
A violência é o tipo de coisa com qual nós aprendemos a conviver.
A violência é o tipo de coisa que infelizmente acabamos aprendendo a conviver.
A violência é o tipo de coisa que aprendemos a conviver com infelizmente.
Uma pessoa realmente chata é aquela com a qual ninguém gosta de sair.
Uma pessoa realmente chata é aquela com qual ninguém gosta muito de sair.
Uma pessoa muito chata é aquela que ninguém gosta mesmo de sair junto.
Uma pessoa muito chata é aquela que ninguém gosta de sair com realmente.
O vendedor com o qual a minha tia discutiu foi muito mal educado.
O vendedor com qual a minha tia discutiu foi mesmo muito mal educado.
O vendedor que a minha tia discutiu ontem foi mesmo muito mal educado.
O vendedor que a minha tia discutiu com foi mesmo muito mal educado
Morte é realmente um assunto sobre o qual ninguém gosta muito de falar.
Morte é realmente um assunto sobre qual ninguém gosta muito de ficar falando.
Morte é realmente um assunto que ninguém mesmo gosta muito de ficar falando.
Morte é um assunto que ninguém mesmo gosta muito de falar sobre realmente..
No meu quarto existe uma mesa sobre a qual sempre deixo meus livros.
No meu quarto existe uma mesa sobre qual eu sempre deixo meus livros.
No meu quarto existe uma mesa pequena que sempre eu deixo meus livros.
No meu quarto existe uma mesa que sempre eu deixo meus livros sobre.
Lula não conseguiu entender o problema para o qual seus ministros pediam atenção.
Lula não conseguiu entender o problema para qual seus ministros mais pediam atenção.
Lula não conseguiu entender o problema que seus ministros pediam cuidado e atenção.
Lula conseguiu entender o problema que seus ministros pediam atenção para na reunião..
O cartaz do show para o qual o rapaz estava olhando era colorido.
O cartaz do show para qual o rapaz estava olhando era mesmo colorido.
O cartaz do show que o rapaz estava olhando era mesmo todo colorido.
O cartaz do show que o rapaz estava olhando para era mesmo colorido.
Na verdade o professor durão é aquele pelo qual todos têm muito respeito.
Na verdade o professor durão é aquele por qual todos têm muito respeito.
Na verdade o professor durão é aquele que todos têm realmente muito respeito.
Na verdade o professor durão é aquele que todos têm respeito por realmente.
O filho voltou para casa e entrou pela mesma porta pela qual saiu.
O filho voltou para casa e entrou pela mesma porta por qual saiu.
O filho voltou para casa e entrou pela mesma porta que ele saiu.
O filho rebelde voltou e entrou pela mesma porta que saiu por antes.
A vida dos artistas é um tipo de informação pela qual me interesso.
A vida dos artistas é um tipo de informação por qual me interesso.
A vida dos artistas é um tipo de informação que me interesso muito.
Vida de artista é um tipo de informação que me interesso por muito.
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