Curadoria de Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander Texto e colaboração de Rodrigo Moura exposição 30 de agosto a 11 de outubro de 2014 segunda a sexta, 11h às 19h sábado, 11h às 15h E você nem imagina que Epaminondas sou eu Lorenzato A Galeria Bergamin tem o prazer de apresentar a obra de Amadeo Luciano Lorenzato na exposição E você nem imagina que Epaminondas sou eu, dividindo com o público uma ampla seleção de pinturas do artista. Mineiro autoditada, Lorenzato inicialmente teve enorme influência sobre colegas de várias gerações, principalmente aqueles vivendo na mesma cidade, mas a apreciação sobre sua obra se torna a cada dia mais universal. Para nós é motivo de grande orgulho poder contar com os artistas Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander, atuando como curadores, e com o curador Rodrigo Moura, colaborando no projeto e escrevendo o texto desta publicação. Esse trio que tanto estimamos foi fundamental para trazer a esta exposição uma dose de intimidade e aconchego. Todos os três há muitos anos convivem com a obra de Lorezanto e generosamente dividiram conosco suas descobertas nas escolhas das obras e na sua visão sobre o artista. Esta exposição também não seria possível sem o apoio de vários colecionadores. Mediante o empréstimo de suas obras, pudemos contar com um grupo de trabalhos que, reunidos aqui pela primeira vez, pretendem mostrar a complexidade do artista. Por último e mais importante, gostaríamos de fazer um agradecimento especial ao carinho e o apoio de Manoel Macedo, marchand histórico de Lorenzato, que sempre nos ensinou, estimulou e principalmente trabalhou para esta exposição desde o primeiro momento. Thiago Gomide Galeria Bergamin is pleased to present the work of Amadeo Luciano Lorenzato in the exhibition E você nem imagina que Epaminondas sou eu [And you can’t even imagine that I’m Epaminondas], sharing with the public a wide selection of paintings by the artist. A self-taught painter from Minas Gerais, Lorenzato initially had an enormous influence over his colleagues of many generations, especially those living in the same city, but appreciation of his work becomes more widespread every day. We are very proud to have artists Alexandre da Cunha and Rivane Neuenschwander acting as the show’s curators, and curator Rodrigo Moura collaborating in the project and writing the essay for this catalogue. This trio, which we hold in high esteem, was essential to add a dose of intimacy and coziness to this exhibition. All three of them have had close contact with Lorenzato’s work for many years and have generously shared with us their discoveries by means of the choice of works and their own vision of the artist. This exhibition would not be possible without the support of many collectors. Their loans allowed us to display these paintings together for the first time, showcasing the complexity of the artist. Lastly, and most importantly, we would like to give a special thanks to Manoel Macedo, Lorenzato’s longtime dealer, for his affection and support. He has always taught and encouraged us and, most of all, worked hard for this exhibition since the very first moment. Thiago Gomide Os trabalhos apresentados nesta mostra são resultado de uma seleção que enfatiza a nossa relação afetiva com o trabalho de Lorenzato, bem como uma identificação com o artista, enquanto artistas. Ao invés de apresentar a sua obra de forma cronológica, temática ou formalista, o grupo de obras na exposição parece obedecer à uma sequência de associações que acontecem de forma fluida e subjetiva e, portanto, imprevisível. As pinturas selecionadas tratam de figuração, abstração, natureza-morta, paisagem, comunidade: temas do cotidiano – seja dentro ou fora de casa – que o artista retrata em suas pinturas, quase como um cronista de sua época. Procuramos mesclar representações que nos interessam mais diretamente e que estão estreitamente ligadas ao nosso próprio trabalho (como, por exemplo, estabelecimentos comerciais, caminhos de lesmas, utensílios domésticos, abstração geométrica, cultura popular etc.) com inegável qualidade e poder de síntese das pinturas. Não tivemos a pretensão de abraçar toda a multiplicidade da obra de Lorenzato, mas de dar nossa contribuição por meio desse recorte. De tudo, o que nos parece mais importante, como artistas, é a liberdade com a qual Lorenzato trabalhou, e a coerência que isso tinha com sua vida pessoal. Não há distinção entre popular e erudito, é um artista que não pertencia a nenhuma igrejinha, que pintou o que lhe “deu na telha”, como ele mesmo costumava dizer. Um artista íntegro e consciente em relação à construção de sua própria obra. Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander The paintings presented in this exhibition are the result of a selection that emphasizes our emotional relationship with Lorenzato’s work, as well as our identification with the artist, being artists ourselves. Instead of presenting his work in any chronological, thematic or formalist order, the group of works on display seems to obey a sequence of associations that occur in a fluid and subjective, and therefore unpredictable manner. The selected paintings deal with figuration, abstraction, still lives, landscapes and community; everyday subjects (whether indoors or outdoors) that the artist portrays in his paintings, almost as a chronicler of his time. We sought to mix examples that interest us more directly and are closely related to our own work (themes such as shops, slug trails, domestic utensils, geometric abstraction, popular culture, etc.) with paintings of undeniable quality and power of synthesis. We did not have the pretension of covering all the various facets of Lorenzato’s work, but to make our contribution by means of this selection. Above all, what seems most important to us as artists is the freedom in which Lorenzato worked and how coherent this was with his personal life. There is no distinction between popular and erudite elements. He is an artist who did not belong to any faction and who painted what he wanted to paint, as he himself would say. An artist with integrity and cognizant of his own artistic output. Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander 4 notas sobre Lorenzato 1. E Como representante da espécie, sempre me fascinou a ambiguidade que ronda o termo “autodidata”. Burro por conta própria, iconoclasta, impostor, mata-aulas são algumas das expressões que pesam para o aspecto negativo dessa condição, contrastadas por gênio, obstinado, curioso, mestre de si mesmo, vocábulos que fazem a balança pender para o lado da superação e da independência. Assim, a partir desta espécie de oposição fundamental ou matricial, sempre me fascinou igualmente o real sentido que Amadeo Luciano Lorenzato Pintor autodidata e Franco atirador Não tem escola Não segue tendências Não pertence a igrejinhas Pinta conforme lhe dá na telha 1948 Amém deu ao termo neste breve statement escrito com pincel no verso de um de seus poucos quadros dos anos 1940 que chegaram até nós.1 Será que Lorezanto estava apenas reconhecendo que não tivera mestres e que isso fazia dele um autodidata, numa condição de aparente desvantagem ou pelo menos desigualdade com a maior parte dos artistas reconhecidos? Ou, por outro lado, ao se levar em consideração a menção a “escolas”, “tendências” e “igrejinhas”, que essa sua condição era uma espécie de salvo-conduto para exercer sua atividade sem as ortodoxias características do seu tempo? Notem que, ao lado da expressão “autodidata”, que aparece primeiro para definir “pintor”, aparece uma outra, que não esconde um certo misto de autocrítica e autoelogio: “franco atirador”. Ao conjugar estas duas expressões, surge uma ênfase na partícula de ligação, autodidata e franco atirador. 2. Da gaveta de guardados Quando conheci melhor a obra de Lorenzato, cinco anos após sua morte, detectei um conjunto de oposições que me pareciam centrais para sua compreensão. Dado o caráter remoto do texto, publicado apenas uma vez e em diário, permito-me fazer esta longa citação: Então quando vemos nos seus quadros o impulso de geometrização, a ordem compositiva construída, o questionamento da perspectiva renascentista, a sublimação da cor, a busca de suportes “não artísticos” e o uso de técnicas radicais, temos a certeza de estar diante de um artista moderno. E, por que não?, um artista moderno popular. Nesse sentido, as obras de Lorenzato apontam para uma série de dicotomias que ampliam ainda mais seu poder de instigação. Velho e novo, riqueza e pobreza, fontes eruditas e populares, contenção e explosão, Velho e Novo Mundos, simplicidade e complexidade, e por aí adiante, são extremos que delimitam sua obra e que aparecem nela com um poder de síntese raro – mesmo entre muitos dos nossos modernos mais incensados.2 A princípio o que me despertou interesse foi a condição conflitiva com que o artista carregava a maior parte desses termos, que então notei contraditórios. Passados quase 15 anos, ao contrário, a singularidade me vem hoje do poder de síntese, que já então me pareciam raros e que mesmo assim acabei por não explorar. No texto, a única deixa para um aprofundamento desses pontos seria na oposição a artistas modernos canônicos, sobre quem Lorenzato, lendo-me e lendo-o agora, me parece estar numa espécie de vantagem – seja na liberdade de linguagem não imposta a partir de dogmas seja justamente por ter a vivência em primeira pessoa de uma série de questões importantes para a modernidade, como a condição marginalizada e a identidade indefinida, de onde advém um bocado desta liberdade formal. O nó da questão seria a deposição definitiva do termo “artista popular”. De maneira débil, eu já tateava esta possibilidade há 15 anos. 3. Pintor de quintais e arrabaldes O quadro que traz aqueles ditos marcados no verso – que de resto não sabemos se contemporâneo à assinatura do quadro – registra uma cena bucólica, em que duas borboletas voam sobre um emaranhado de troncos de árvores. As cores primárias no primeiro plano, no corpo das borboletas, contrastam com o acorde de verdes no fundo, organizado em linhas verticais e horizontais que se cruzam e ajudam a compor o quadro em termos de sua divisão entre céu e chão. A borboleta, que aparece em outros quadros de Lorenzato, não é um tema fortuito. Suas apa- rições efêmeras, assim como seu simbolismo mutante, são uma chave para se entender o ponto de vista de sua pintura de natureza. Não é a idealização da natureza em estado selvagem que observamos nessas obras, mas sua persistência no meio urbano. Lorenzato, pintor de quintais e de arrabaldes, observava a borboleta de onde seu universo girava. No quintal de sua casa, nos limites onde a urbanidade de Belo Horizonte esquentava e a ruralidade do entorno mineiro evaporava, o encontro com uma borboleta não era apenas a expressão da busca de um pintor por uma narrativa original sobre a natureza, mas um encontro doméstico: em que a cena acontece, a natureza confina com o muro do vizinho, motivo geométrico que aparece em outra pintura, sobre o qual a cidade coloca sua pichação, que aparece em ainda outra. Mais adiante estão a fábrica, a favela vizinha, o botequim, a venda. Mas ainda aqui, no quintal, para o tempo se fazer pintura é necessário observar o trajeto de uma lesma, que deixa seu rastro no chão, mas o vemos apenas se o muco tiver sido despejado sobre o chão cimentado ou sobre o muro de tijolos. O resultado, na pintura de Lorenzato, é uma linha embaraçada, em que o movimento se sobrepõe e a tinta flui livre das texturas a pente, garfo e cabo de pincel, que são características. Esta sucessão de curvas, esta forma orgânica que dá vida a estas pinturas, são uma forma de o artista pensar abstração – um assunto que nunca está totalmente fora de sua pintura e que, à medida que conhecemos mais quadros, começa a ser mais evidente. O emaranhado dos galhos de árvore são outra forma de aproximar a natureza da forma pura. Podemos identificar a origem desses motivos nos pomares de fundo de quintal, mas também nas matas reflorestadas dos subúrbios industriaist. 4. Feixe de contradições É grande a tentação de fazer uma leitura de Lorenzato a partir de uma ideia de luta de classes à brasileira. A biografia do artista é cheia de momentos que convidam a esta leitura. Amadeu Luciano Lorenzato (19001995), podemos arriscar a dizer, foi uma das primeiras crianças a nascer na Colônia Agrícola do Barreiro, um bairro ainda hoje distante do centro de Belo Horizonte, embora seja a segunda região mais movimentada da mesma. Filho de imigrantes italianos, seu pai trabalhou como carpinteiro na construção da capital, tendo ajudado a montar os andaimes no Palácio da Liberdade, sede do governo da então novíssima capital, primeira cidade planejada do país. Lorenzato cresceu em BH, mas se mudou aos 20 anos para a Europa, com a volta de seu pai à Itália. Antes disso, se iniciara como pintor de paredes, tendo trabalhado com empreiteiros da nova capital – daí o apuro técnico nas texturas. Na Itália teria, ao mesmo tempo, trabalhado na reconstrução de Vicenza e frequentado aulas na sua Real Academia de Arte – daí uma presença da forma clássica em sua obra (seu autodidatismo não se criou sem algum nível de folclore e ambiguidade). A viagem de estudos através da Europa, empreendida ao lado de um amigo entre 1926 e 1930, é espécie de marco em sua biografia – que rendeu narrativas e pinturas sobre o episódio. Ao voltar ao Brasil, seguiu trabalhando como pintor de paredes, inicialmente no Rio de Janeiro, até que um acidente o afastou, levando a dedicação integral ao trabalho artístico – outro episódio que Lorenzato sempre narrou. Em Belo Horizonte, começa a criar reputação nos anos 1960, num contexto em que a pequena burguesia desejava consumir a arte das classes dominadas, movimento que pode ser entendido na esteira do CPC (Centro Popular de Cultura) e do samba de raiz. Todo cidadão poderia ser um artista, contanto que descoberto pela classe dominante. Seria errado dizer que Lorenzato, filho de operário, se sentia inteiramente à vontade nesse esquema de contextualização da sua obra. Sua primeira exposição foi no Minas Tênis Clube, que reunia a “elite” da cidade – sua figura já se criava. Artista primitivo, diziam. Lorenzato focava na parcela “artista” da equação. No século 21, a necessidade de redefinir os cânones modernos brasileiros é premente. Daí a importância de se continuar descobrindo mais e mais quadros seus em exposições, para que o público continue se familiarizando com seu complexo repertório. Rodrigo Moura Sem título, 1948, óleo sobre tela, 33 x 40 cm. Coleção Manoel Macedo, Belo Horizonte. Obra reproduzida em Janaina Alves Melo (org.). Lorenzato: depoimento. Coleção Circuito Ateliê. Belo Horizonte: C/Arte, 2004; e Maria Angelica Melendi. Lorenzato. Belo Horizonte: C/Arte, 2011. 2 Rodrigo Moura. “Atualidade de Lorenzato”. O Tempo, Caderno Magazine. Belo Horizonte, 29 de outubro de 2000. 1 4 Notes on Lorenzato 1. And As a representative of the species, I’ve always been fascinated by the ambiguity that surrounds the term self-taught. Dim-witted on his own account, iconoclast, imposter, truant are some of the expressions that gravitate toward the negative aspect of this condition, as opposed to genius, obstinate, curious, master of himself, terms that tip the balance toward the side of overcoming obstacles and being independent. Consequently, based on this fundamental or underlying opposition, I’ve been equally fascinated by the real meaning that Amadeo Luciano Lorenzato Self-taught painter and Free agent He isn’t part of a school He doesn’t follow trends He doesn’t belong to cliques He paints what he feels like painting Amen 1948 gave to the term in this brief statement written with a paintbrush on the back of one of his few surviving paintings from the 1940s.1 Could it be that Lorenzato was simply recognizing that he didn’t have any masters and that this made him selftaught, a condition of apparent disadvantage or at least of inequality compared to most renowned artists? Or, on the other hand, considering he mentions “schools”, “trends” and “cliques”, could his situation be a kind of safe-conduct to exert his activity outside the orthodox characteristics of his time? Note that next to the expression “self-taught”, which first appears to define “painter”, there appears another term that doesn’t conceal a certain mix of self-criticism and self-praise: “free agent”. By joining these two terms, a stress appears on the conjunction. Self-taught and free agent. 2. A drawer of keepsakes When I became more familiar with Lorenzato’s work, five years after his death, I detected a set of oppositions that seemed to me essential for understanding him. Given the remote character of the text, published only once in a daily newspaper, I allow myself to make this long quote: “So when we see the impulse of geometrization in his paintings, the compulsively built order, the questioning of Renaissance perspective, the sublimation of color, the search for ‘non-artistic’ supports and the use of radical techniques, we can be sure that we are in the presence of a modern artist. And why not? A popular modern artist. In this sense, Lorenzato’s works point to a series of dichotomies that enhance even more his power to instigate. Old and new, wealth and poverty, erudite and popular sources, contention and explosion, Old and New Worlds, simplicity and complexity, and so forth, are extremes that shape his work and appear in it with a rare power of synthesis - even compared to many of our more praised modern painters.” 2 What caught my interest at first was the conflictive condition with which the painter loaded most of these terms, which I thought was contradictory. Almost fifteen years later, I realize today the uniqueness of his power of synthesis that already seemed uncommon to me back then, but somehow I ended up not exploring it. In the text, the only hint for a deepening of this point would be in the opposition to the canonic modern artists over whom Lorenzato, reading now what I wrote then, seemed to me to be at a sort of advantage - be it in his freedom from dogmas or for having experienced firsthand various important issues for modernity, such as being an outsider and having an undefined identity from which emerges much of this formal freedom. The heart of the matter would be the definitive eviction of the term popular artist. Timidly, I was already groping with this possibility 15 years ago. 3. A painter of backyards and suburbs The painting that contains the inscription mentioned above – actually, we are not sure if it dates from the same time the painting was done - portrays a bucolic scene where two butterflies fly over entangled tree trunks. The primary colors of the butterflies on the foreground contrast with the greens in the background, organized in overlapping vertical and horizontal lines that help create the painting’s composition by dividing sky and ground. Also present in other paintings by Lorenzato, butterflies are not a fortuitous theme. Their ephemeral appearances, as well as their mutant symbolism, are a key to understanding the point of view of his portrayals of nature. It is not the idealization of nature in its wild state that we observe in his works, but its persistence in the urban environment. Lorenzato, painter of backyards and suburbs, observed butterflies from where his world revolved. In his own backyard, on the edge of where the urbanity of Belo Horizonte heats up and the rural environment of the surrounding Minas Gerais landscape evaporates, the sighting of a butterfly was not just the expression of the painter’s search for an original narrative of nature, but a domestic encounter: where the scene takes place, nature bordering on the neighbor’s wall, a geometric motif that appears in another painting, on which the city scrawls its graffiti, which appears in yet another work. Further beyond is the factory, the neighboring slum, the neighborhood bar, the store. But here, still in the backyard, in order for painting to capture time, we need to observe the path of a slug that leaves its trace on the ground, but we only see it if the mucus is left behind on the cement floor or on the brick wall. The result in Lorenzato’s painting is an entangled line where movement with overlaps itself and paint flows freely from his characteristic textures made with combs, forks and brush handles. This succession of curves, this organic form that gives life to these paintings, are a way for the artist to reflect on abstraction - a topic that is never totally missing from his art and that becomes more evident as we begin to see more of his paintings. The entangled tree branches are another form of approaching the nature as pure form. We can identify the origin of these motifs in the or- chards in the backyard, but also in the reforested woods of the industrial suburbs. 4. A bundle of contradictions It is very tempting to see Lorenzato in the light of a notion of class struggle, Brazilian style. The artist’s biography is full of moments that encourage this interpretation. We can say that Amadeu Luciano Lorenzato (1900-1995) was one of the first children to be born in Colônia Agrícola do Barreiro, a neighborhood that nowadays is still far from downtown even though it is the city’s second busiest district. The son of Italian immigrants, Lorenzato’s father worked as carpenter in the building of Belo Horizonte. He helped install the scaffolding in the Palácio da Liberdade, the seat of government of the then fledgling state capital, Brazil’s first planned city. Lorenzato grew up in Belo Horizonte, but at age 20 he moved to Europe, returning to Italy with his father. Before leaving, he had worked as a wall painter with contractors in the new state capital. His technical expertise in textures comes from that time. In Italy he worked in the reconstruction of Vicenza and studied in the city’s Royal Academy of Art, which resulted in the presence of the classical figure in his work (his self-taught status was not created without some dose of folklore and ambiguity). Between 1926 and 1930, he went on a study journey throughout Europe with a friend. The trip is a sort of milestone in his biography, giving rise to many stories and paintings on the episode. Upon his return to Brazil, he got work as a wall painter, initially in Rio de Janeiro, until an accident forced him to retire and become a full time artist – another story that Lorenzato always relished telling. In Belo Horizonte, his reputation began growing in the 1960s in an environment where the petite bourgeoisie desired to consume the art of the dominated classes, a movement that can be traced to the CPC (Popular Culture Center) and authentic samba movements of the day. Every citizen could be an artist, as long as he or she was discovered by the ruling class. It would be wrong to say that Lorenzato, the son of a worker, felt completely at ease with this contextualization scheme of his work. His first exhibition was at the Minas Tennis Club, a meeting point for the town’s “elite” – his reputation was growing. A primitive artist, they would say. Lorenzato focused on the “artist” part of the equation. In the 21st century, the need for redefining the canons of Brazilian modern artists is pressing. This is why it is important to continue discovering more and more of his paintings in exhibitions so that the public can become more familiar with his complex repertoire. Rodrigo Moura Untitled, oil on canvas, 33 x 40 cm, 1948. Manoel Macedo Collection, Belo Horizonte. Work reproduced in Janaina Alves Melo (org.). Lorenzato: depoimento. Coleção Circuito Ateliê. Belo Horizonte, C/Arte, 2004; and Maria Angelica Melendi. Lorenzato. Belo Horizonte, C/Arte, 2011. 2 Rodrigo Moura. Atualidade de Lorenzato. “O Tempo”, Belo Horizonte, 29 Oct. 2000. Caderno Magazine. 1 4 1 Sem título, 1986 Óleo sobre placa 40 x 33 cm 2 Sem título, sd Óleo sobre placa 78 x 51 cm 5 6 Óleo sobre placa 50 x 39 cm Óleo sobre tela 49 x 39 cm Sem título, 1986 9 Sem título, 1982 Óleo sobre placa 30 x 22,5 cm Sem título, sd Sem título, 1994 Óleo sobre placa 72 x 46 cm Sem título, sd Óleo sobre tela 57 x 40 cm 7 Sem título, 1991 Óleo sobre placa 60 x 45 cm 10 Sem título, 1961 Óleo sobre tela 37 x 31 cm 11 14 15 Óleo sobre tela 72 x 60 cm Óleo sobre placa 50 x 40 cm Sem título, 1991 13 3 Sem título, 1989 Óleo sobre tela 78 x 52 cm Sem título, 1974 Sem título, 1989 Óleo sobre placa 49 x 40 cm 8 Sem título, 1984 Óleo sobre placa 48,5 x 39,5 cm 12 Sem título, 1990/1991 Óleo sobre placa 40 x 30 cm AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGMENTS: Adriana Damiani, Aecio Eduardo Coelho Simões, Alexandre Canonico, Allen Roscoe, André Salazar, Ângela Gutierrez, Antonio Almeida, Antonio Carlos Figueiredo, Antonio Celso Ribeiro, Antonio Eugenio de Salles Coelho, Beatriz Terenzi Neuenschwander, Birger Lipinski, Carlos Dale, Carlos Melim, Cecilia Ribeiro, Daniel Herthel, Edouard Fraipont, Emmanuelle Grossi Giselli Gumiero, Hannah Neuenschwander Volz, Iatã Cannabrava, Joana Munné, Jochen Volz, Jones Bergamin, Laercio Redondo, Luiz Carlos Macedo, Luiz Eduardo Faria Silva, Manoel Macedo, Marcio Teixeira, Maria Fernanda Faria Silva, Mateus Gomes Ferreira, Meire Gomide, Paulo Laborne, Paulo Laender, Paulo Nunes, Pedro Hermmany, Regina Oliveira, Renata de Souza Guerra, Renato Madureira, Ricardo Homen, Ricardo Sardenberg, Roberto Sampaio Ferreira, Rodrigo Mitre, Theo Neuenschwander Volz, Veridiana Mott, Vilma Eid, Vivaildo de Almeida Organização Martha Verissimo Iluminação Lux Projetos Expografia Alexandre da Cunha Alexandre Canonico Rivane Neuenschwander Montagem Carlos Melim Projeto Gráfico Ekaterina Kholmogorova Produção da pasta Vitamina de Papel Assessoria de Imprensa Conteúdo Comunicação Revisão de texto Vanessa Ribeiro Tradução Roberto Teixeira Esta publicação foi editada em São Paulo no inverno de 2014, por ocasião da exposição Amadeo Luciano Lorenzato E você nem imagina que Epaminondas sou eu, na Galeria Bergamin, de 30 de agosto a 11 de outubro. Foram impressos mil e duzentos exemplares na Printcrom Gráfica e Editora sobre papel Offset 90 g. e Supremo Duo Design 300 g. e uso do tipo Helvetica. Rua Oscar Freire, 379 São Paulo 11 3853 5800 galeriabergamin.com.br