Curadoria de Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander
Texto e colaboração de Rodrigo Moura
exposição
30 de agosto a 11 de outubro de 2014
segunda a sexta, 11h às 19h
sábado, 11h às 15h
E você nem imagina que Epaminondas sou eu
Lorenzato
A Galeria Bergamin tem o prazer de apresentar a obra de Amadeo Luciano
Lorenzato na exposição E você nem imagina que Epaminondas sou eu,
dividindo com o público uma ampla seleção de pinturas do artista. Mineiro
autoditada, Lorenzato inicialmente teve enorme influência sobre colegas de
várias gerações, principalmente aqueles vivendo na mesma cidade, mas a
apreciação sobre sua obra se torna a cada dia mais universal.
Para nós é motivo de grande orgulho poder contar com os artistas Alexandre
da Cunha e Rivane Neuenschwander, atuando como curadores, e com o
curador Rodrigo Moura, colaborando no projeto e escrevendo o texto desta
publicação. Esse trio que tanto estimamos foi fundamental para trazer a esta
exposição uma dose de intimidade e aconchego. Todos os três há muitos
anos convivem com a obra de Lorezanto e generosamente dividiram conosco suas descobertas nas escolhas das obras e na sua visão sobre o artista.
Esta exposição também não seria possível sem o apoio de vários colecionadores. Mediante o empréstimo de suas obras, pudemos contar com um
grupo de trabalhos que, reunidos aqui pela primeira vez, pretendem mostrar
a complexidade do artista.
Por último e mais importante, gostaríamos de fazer um agradecimento
especial ao carinho e o apoio de Manoel Macedo, marchand histórico de
Lorenzato, que sempre nos ensinou, estimulou e principalmente trabalhou
para esta exposição desde o primeiro momento.
Thiago Gomide
Galeria Bergamin is pleased to present the work of Amadeo Luciano
Lorenzato in the exhibition E você nem imagina que Epaminondas sou eu
[And you can’t even imagine that I’m Epaminondas], sharing with the public
a wide selection of paintings by the artist. A self-taught painter from Minas
Gerais, Lorenzato initially had an enormous influence over his colleagues of
many generations, especially those living in the same city, but appreciation of
his work becomes more widespread every day.
We are very proud to have artists Alexandre da Cunha and Rivane
Neuenschwander acting as the show’s curators, and curator Rodrigo Moura
collaborating in the project and writing the essay for this catalogue. This trio,
which we hold in high esteem, was essential to add a dose of intimacy and
coziness to this exhibition. All three of them have had close contact with
Lorenzato’s work for many years and have generously shared with us their
discoveries by means of the choice of works and their own vision of the artist.
This exhibition would not be possible without the support of many collectors.
Their loans allowed us to display these paintings together for the first time,
showcasing the complexity of the artist.
Lastly, and most importantly, we would like to give a special thanks to
Manoel Macedo, Lorenzato’s longtime dealer, for his affection and support.
He has always taught and encouraged us and, most of all, worked hard for
this exhibition since the very first moment.
Thiago Gomide
Os trabalhos apresentados nesta mostra são resultado de uma seleção que
enfatiza a nossa relação afetiva com o trabalho de Lorenzato, bem como uma
identificação com o artista, enquanto artistas.
Ao invés de apresentar a sua obra de forma cronológica, temática ou formalista, o grupo de obras na exposição parece obedecer à uma sequência de
associações que acontecem de forma fluida e subjetiva e, portanto, imprevisível. As pinturas selecionadas tratam de figuração, abstração, natureza-morta,
paisagem, comunidade: temas do cotidiano – seja dentro ou fora de casa –
que o artista retrata em suas pinturas, quase como um cronista de sua época.
Procuramos mesclar representações que nos interessam mais diretamente e
que estão estreitamente ligadas ao nosso próprio trabalho (como, por exemplo, estabelecimentos comerciais, caminhos de lesmas, utensílios domésticos,
abstração geométrica, cultura popular etc.) com inegável qualidade e poder de
síntese das pinturas. Não tivemos a pretensão de abraçar toda a multiplicidade
da obra de Lorenzato, mas de dar nossa contribuição por meio desse recorte.
De tudo, o que nos parece mais importante, como artistas, é a liberdade com
a qual Lorenzato trabalhou, e a coerência que isso tinha com sua vida pessoal. Não há distinção entre popular e erudito, é um artista que não pertencia
a nenhuma igrejinha, que pintou o que lhe “deu na telha”, como ele mesmo
costumava dizer. Um artista íntegro e consciente em relação à construção de
sua própria obra.
Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander
The paintings presented in this exhibition are the result of a selection that emphasizes our emotional relationship with Lorenzato’s work, as well as our identification with the artist, being artists ourselves.
Instead of presenting his work in any chronological, thematic or formalist
order, the group of works on display seems to obey a sequence of associations that occur in a fluid and subjective, and therefore unpredictable manner.
The selected paintings deal with figuration, abstraction, still lives, landscapes
and community; everyday subjects (whether indoors or outdoors) that the artist
portrays in his paintings, almost as a chronicler of his time.
We sought to mix examples that interest us more directly and are closely
related to our own work (themes such as shops, slug trails, domestic utensils,
geometric abstraction, popular culture, etc.) with paintings of undeniable
quality and power of synthesis. We did not have the pretension of covering all
the various facets of Lorenzato’s work, but to make our contribution by means
of this selection.
Above all, what seems most important to us as artists is the freedom in
which Lorenzato worked and how coherent this was with his personal life.
There is no distinction between popular and erudite elements. He is an artist
who did not belong to any faction and who painted what he wanted to paint,
as he himself would say. An artist with integrity and cognizant of his own
artistic output.
Alexandre da Cunha e Rivane Neuenschwander
4 notas sobre Lorenzato
1. E
Como representante da espécie, sempre me fascinou a ambiguidade que
ronda o termo “autodidata”. Burro por
conta própria, iconoclasta, impostor,
mata-aulas são algumas das expressões que pesam para o aspecto negativo dessa condição, contrastadas
por gênio, obstinado, curioso, mestre
de si mesmo, vocábulos que fazem
a balança pender para o lado da superação e da independência. Assim,
a partir desta espécie de oposição
fundamental ou matricial, sempre me
fascinou igualmente o real sentido que
Amadeo Luciano Lorenzato
Pintor autodidata e
Franco atirador
Não tem escola
Não segue tendências
Não pertence a igrejinhas
Pinta conforme lhe dá na telha
1948
Amém
deu ao termo neste breve statement
escrito com pincel no verso de um
de seus poucos quadros dos anos
1940 que chegaram até nós.1 Será
que Lorezanto estava apenas reconhecendo que não tivera mestres e
que isso fazia dele um autodidata,
numa condição de aparente desvantagem ou pelo menos desigualdade com a maior parte dos artistas reconhecidos? Ou, por outro
lado, ao se levar em consideração a
menção a “escolas”, “tendências” e
“igrejinhas”, que essa sua condição
era uma espécie de salvo-conduto
para exercer sua atividade sem as
ortodoxias características do seu
tempo? Notem que, ao lado da expressão “autodidata”, que aparece
primeiro para definir “pintor”, aparece uma outra, que não esconde um
certo misto de autocrítica e autoelogio: “franco atirador”. Ao conjugar
estas duas expressões, surge uma
ênfase na partícula de ligação, autodidata e franco atirador.
2. Da gaveta de guardados
Quando conheci melhor a obra de
Lorenzato, cinco anos após sua morte, detectei um conjunto de oposições que me pareciam centrais para
sua compreensão. Dado o caráter
remoto do texto, publicado apenas
uma vez e em diário, permito-me fazer esta longa citação:
Então quando vemos nos seus quadros o
impulso de geometrização, a ordem compositiva construída, o questionamento da
perspectiva renascentista, a sublimação
da cor, a busca de suportes “não artísticos” e o uso de técnicas radicais, temos
a certeza de estar diante de um artista
moderno. E, por que não?, um artista moderno popular. Nesse sentido, as obras
de Lorenzato apontam para uma série de
dicotomias que ampliam ainda mais seu
poder de instigação. Velho e novo, riqueza e pobreza, fontes eruditas e populares,
contenção e explosão, Velho e Novo Mundos, simplicidade e complexidade, e por aí
adiante, são extremos que delimitam sua
obra e que aparecem nela com um poder
de síntese raro – mesmo entre muitos dos
nossos modernos mais incensados.2
A princípio o que me despertou interesse foi a condição conflitiva com
que o artista carregava a maior parte
desses termos, que então notei contraditórios. Passados quase 15 anos,
ao contrário, a singularidade me vem
hoje do poder de síntese, que já então
me pareciam raros e que mesmo assim acabei por não explorar. No texto,
a única deixa para um aprofundamento desses pontos seria na oposição a
artistas modernos canônicos, sobre
quem Lorenzato, lendo-me e lendo-o
agora, me parece estar numa espécie de vantagem – seja na liberdade
de linguagem não imposta a partir
de dogmas seja justamente por ter a
vivência em primeira pessoa de uma
série de questões importantes para a
modernidade, como a condição marginalizada e a identidade indefinida,
de onde advém um bocado desta
liberdade formal. O nó da questão
seria a deposição definitiva do termo
“artista popular”. De maneira débil,
eu já tateava esta possibilidade há 15
anos.
3. Pintor de quintais e arrabaldes
O quadro que traz aqueles ditos marcados no verso – que de resto não
sabemos se contemporâneo à assinatura do quadro – registra uma
cena bucólica, em que duas borboletas voam sobre um emaranhado de
troncos de árvores. As cores primárias no primeiro plano, no corpo das
borboletas, contrastam com o acorde de verdes no fundo, organizado
em linhas verticais e horizontais que
se cruzam e ajudam a compor o quadro em termos de sua divisão entre
céu e chão. A borboleta, que aparece em outros quadros de Lorenzato,
não é um tema fortuito. Suas apa-
rições efêmeras, assim como seu
simbolismo mutante, são uma chave
para se entender o ponto de vista
de sua pintura de natureza. Não é a
idealização da natureza em estado
selvagem que observamos nessas
obras, mas sua persistência no meio
urbano. Lorenzato, pintor de quintais
e de arrabaldes, observava a borboleta de onde seu universo girava. No
quintal de sua casa, nos limites onde
a urbanidade de Belo Horizonte esquentava e a ruralidade do entorno
mineiro evaporava, o encontro com
uma borboleta não era apenas a expressão da busca de um pintor por
uma narrativa original sobre a natureza, mas um encontro doméstico:
em que a cena acontece, a natureza
confina com o muro do vizinho, motivo geométrico que aparece em outra
pintura, sobre o qual a cidade coloca
sua pichação, que aparece em ainda
outra. Mais adiante estão a fábrica,
a favela vizinha, o botequim, a venda. Mas ainda aqui, no quintal, para
o tempo se fazer pintura é necessário observar o trajeto de uma lesma,
que deixa seu rastro no chão, mas o
vemos apenas se o muco tiver sido
despejado sobre o chão cimentado
ou sobre o muro de tijolos. O resultado, na pintura de Lorenzato, é uma
linha embaraçada, em que o movimento se sobrepõe e a tinta flui livre
das texturas a pente, garfo e cabo de
pincel, que são características. Esta
sucessão de curvas, esta forma orgânica que dá vida a estas pinturas,
são uma forma de o artista pensar
abstração – um assunto que nunca
está totalmente fora de sua pintura e
que, à medida que conhecemos mais
quadros, começa a ser mais evidente. O emaranhado dos galhos de árvore são outra forma de aproximar
a natureza da forma pura. Podemos
identificar a origem desses motivos
nos pomares de fundo de quintal,
mas também nas matas reflorestadas dos subúrbios industriaist.
4. Feixe de contradições
É grande a tentação de fazer uma
leitura de Lorenzato a partir de uma
ideia de luta de classes à brasileira.
A biografia do artista é cheia de momentos que convidam a esta leitura.
Amadeu Luciano Lorenzato (19001995), podemos arriscar a dizer, foi
uma das primeiras crianças a nascer
na Colônia Agrícola do Barreiro, um
bairro ainda hoje distante do centro
de Belo Horizonte, embora seja a
segunda região mais movimentada
da mesma. Filho de imigrantes italianos, seu pai trabalhou como carpinteiro na construção da capital,
tendo ajudado a montar os andaimes no Palácio da Liberdade, sede
do governo da então novíssima capital, primeira cidade planejada do
país. Lorenzato cresceu em BH,
mas se mudou aos 20 anos para a
Europa, com a volta de seu pai à
Itália. Antes disso, se iniciara como
pintor de paredes, tendo trabalhado
com empreiteiros da nova capital –
daí o apuro técnico nas texturas. Na
Itália teria, ao mesmo tempo, trabalhado na reconstrução de Vicenza e
frequentado aulas na sua Real Academia de Arte – daí uma presença
da forma clássica em sua obra (seu
autodidatismo não se criou sem algum nível de folclore e ambiguidade). A viagem de estudos através da
Europa, empreendida ao lado de um
amigo entre 1926 e 1930, é espécie
de marco em sua biografia – que
rendeu narrativas e pinturas sobre o
episódio.
Ao voltar ao Brasil, seguiu trabalhando como pintor de paredes, inicialmente no Rio de Janeiro, até que
um acidente o afastou, levando a
dedicação integral ao trabalho artístico – outro episódio que Lorenzato
sempre narrou. Em Belo Horizonte,
começa a criar reputação nos anos
1960, num contexto em que a pequena burguesia desejava consumir
a arte das classes dominadas, movimento que pode ser entendido na
esteira do CPC (Centro Popular de
Cultura) e do samba de raiz. Todo
cidadão poderia ser um artista, contanto que descoberto pela classe
dominante. Seria errado dizer que
Lorenzato, filho de operário, se sentia inteiramente à vontade nesse esquema de contextualização da sua
obra. Sua primeira exposição foi
no Minas Tênis Clube, que reunia a
“elite” da cidade – sua figura já se
criava. Artista primitivo, diziam. Lorenzato focava na parcela “artista”
da equação. No século 21, a necessidade de redefinir os cânones modernos brasileiros é premente. Daí
a importância de se continuar descobrindo mais e mais quadros seus
em exposições, para que o público
continue se familiarizando com seu
complexo repertório.
Rodrigo Moura
Sem título, 1948, óleo sobre tela, 33 x 40 cm.
Coleção Manoel Macedo, Belo Horizonte. Obra
reproduzida em Janaina Alves Melo (org.). Lorenzato: depoimento. Coleção Circuito Ateliê.
Belo Horizonte: C/Arte, 2004; e Maria Angelica Melendi. Lorenzato. Belo Horizonte: C/Arte,
2011.
2
Rodrigo Moura. “Atualidade de Lorenzato”. O
Tempo, Caderno Magazine. Belo Horizonte, 29
de outubro de 2000.
1
4 Notes on Lorenzato
1. And
As a representative of the species,
I’ve always been fascinated by the
ambiguity that surrounds the term
self-taught. Dim-witted on his own
account, iconoclast, imposter, truant are some of the expressions that
gravitate toward the negative aspect
of this condition, as opposed to genius, obstinate, curious, master of
himself, terms that tip the balance
toward the side of overcoming obstacles and being independent.
Consequently, based on this fundamental or underlying opposition, I’ve
been equally fascinated by the real
meaning that
Amadeo Luciano Lorenzato
Self-taught painter and
Free agent
He isn’t part of a school
He doesn’t follow trends
He doesn’t belong to cliques
He paints what he feels like painting
Amen
1948
gave to the term in this brief statement written with a paintbrush on
the back of one of his few surviving
paintings from the 1940s.1 Could it
be that Lorenzato was simply recognizing that he didn’t have any
masters and that this made him selftaught, a condition of apparent disadvantage or at least of inequality
compared to most renowned artists?
Or, on the other hand, considering
he mentions “schools”, “trends”
and “cliques”, could his situation be
a kind of safe-conduct to exert his
activity outside the orthodox characteristics of his time? Note that
next to the expression “self-taught”,
which first appears to define “painter”, there appears another term that
doesn’t conceal a certain mix of
self-criticism and self-praise: “free
agent”. By joining these two terms,
a stress appears on the conjunction.
Self-taught and free agent.
2. A drawer of keepsakes
When I became more familiar with
Lorenzato’s work, five years after his
death, I detected a set of oppositions
that seemed to me essential for understanding him. Given the remote
character of the text, published only
once in a daily newspaper, I allow
myself to make this long quote:
“So when we see the impulse of geometrization in his paintings, the compulsively
built order, the questioning of Renaissance perspective, the sublimation of color, the search for ‘non-artistic’ supports
and the use of radical techniques, we can
be sure that we are in the presence of a
modern artist. And why not? A popular
modern artist. In this sense, Lorenzato’s
works point to a series of dichotomies
that enhance even more his power to instigate. Old and new, wealth and poverty,
erudite and popular sources, contention
and explosion, Old and New Worlds, simplicity and complexity, and so forth, are
extremes that shape his work and appear
in it with a rare power of synthesis - even
compared to many of our more praised
modern painters.” 2
What caught my interest at first was
the conflictive condition with which
the painter loaded most of these
terms, which I thought was contradictory. Almost fifteen years later,
I realize today the uniqueness of
his power of synthesis that already
seemed uncommon to me back
then, but somehow I ended up not
exploring it. In the text, the only hint
for a deepening of this point would
be in the opposition to the canonic
modern artists over whom Lorenzato, reading now what I wrote then,
seemed to me to be at a sort of advantage - be it in his freedom from
dogmas or for having experienced
firsthand various important issues for
modernity, such as being an outsider and having an undefined identity
from which emerges much of this formal freedom. The heart of the matter
would be the definitive eviction of the
term popular artist. Timidly, I was already groping with this possibility 15
years ago.
3. A painter of backyards and suburbs
The painting that contains the inscription mentioned above – actually, we are not sure if it dates from
the same time the painting was done
- portrays a bucolic scene where two
butterflies fly over entangled tree
trunks. The primary colors of the butterflies on the foreground contrast
with the greens in the background,
organized in overlapping vertical
and horizontal lines that help create
the painting’s composition by dividing sky and ground. Also present in
other paintings by Lorenzato, butterflies are not a fortuitous theme. Their
ephemeral appearances, as well as
their mutant symbolism, are a key
to understanding the point of view
of his portrayals of nature. It is not
the idealization of nature in its wild
state that we observe in his works,
but its persistence in the urban environment. Lorenzato, painter of backyards and suburbs, observed butterflies from where his world revolved.
In his own backyard, on the edge of
where the urbanity of Belo Horizonte
heats up and the rural environment
of the surrounding Minas Gerais
landscape evaporates, the sighting
of a butterfly was not just the expression of the painter’s search for
an original narrative of nature, but
a domestic encounter: where the
scene takes place, nature bordering
on the neighbor’s wall, a geometric
motif that appears in another painting, on which the city scrawls its
graffiti, which appears in yet another
work. Further beyond is the factory,
the neighboring slum, the neighborhood bar, the store. But here, still in
the backyard, in order for painting to
capture time, we need to observe the
path of a slug that leaves its trace on
the ground, but we only see it if the
mucus is left behind on the cement
floor or on the brick wall. The result
in Lorenzato’s painting is an entangled line where movement with overlaps itself and paint flows freely from
his characteristic textures made with
combs, forks and brush handles.
This succession of curves, this organic form that gives life to these
paintings, are a way for the artist to
reflect on abstraction - a topic that
is never totally missing from his art
and that becomes more evident as
we begin to see more of his paintings. The entangled tree branches
are another form of approaching the
nature as pure form. We can identify
the origin of these motifs in the or-
chards in the backyard, but also in
the reforested woods of the industrial suburbs.
4. A bundle of contradictions
It is very tempting to see Lorenzato in
the light of a notion of class struggle,
Brazilian style. The artist’s biography
is full of moments that encourage this
interpretation. We can say that Amadeu Luciano Lorenzato (1900-1995)
was one of the first children to be
born in Colônia Agrícola do Barreiro,
a neighborhood that nowadays is still
far from downtown even though it is
the city’s second busiest district. The
son of Italian immigrants, Lorenzato’s father worked as carpenter in the
building of Belo Horizonte. He helped
install the scaffolding in the Palácio
da Liberdade, the seat of government
of the then fledgling state capital,
Brazil’s first planned city. Lorenzato
grew up in Belo Horizonte, but at age
20 he moved to Europe, returning to
Italy with his father. Before leaving,
he had worked as a wall painter with
contractors in the new state capital.
His technical expertise in textures
comes from that time. In Italy he
worked in the reconstruction of Vicenza and studied in the city’s Royal
Academy of Art, which resulted in the
presence of the classical figure in his
work (his self-taught status was not
created without some dose of folklore and ambiguity). Between 1926
and 1930, he went on a study journey
throughout Europe with a friend. The
trip is a sort of milestone in his biography, giving rise to many stories and
paintings on the episode.
Upon his return to Brazil, he got work
as a wall painter, initially in Rio de Janeiro, until an accident forced him to
retire and become a full time artist –
another story that Lorenzato always
relished telling. In Belo Horizonte,
his reputation began growing in the
1960s in an environment where the
petite bourgeoisie desired to consume the art of the dominated classes, a movement that can be traced to
the CPC (Popular Culture Center) and
authentic samba movements of the
day. Every citizen could be an artist,
as long as he or she was discovered
by the ruling class. It would be wrong
to say that Lorenzato, the son of a
worker, felt completely at ease with
this contextualization scheme of his
work. His first exhibition was at the
Minas Tennis Club, a meeting point
for the town’s “elite” – his reputation
was growing. A primitive artist, they
would say. Lorenzato focused on the
“artist” part of the equation. In the
21st century, the need for redefining
the canons of Brazilian modern artists is pressing. This is why it is important to continue discovering more
and more of his paintings in exhibitions so that the public can become
more familiar with his complex repertoire.
Rodrigo Moura
Untitled, oil on canvas, 33 x 40 cm, 1948. Manoel Macedo Collection, Belo Horizonte. Work
reproduced in Janaina Alves Melo (org.). Lorenzato: depoimento. Coleção Circuito Ateliê. Belo
Horizonte, C/Arte, 2004; and Maria Angelica
Melendi. Lorenzato. Belo Horizonte, C/Arte,
2011.
2
Rodrigo Moura. Atualidade de Lorenzato. “O
Tempo”, Belo Horizonte, 29 Oct. 2000. Caderno Magazine.
1
4
1
Sem título, 1986
Óleo sobre placa
40 x 33 cm
2
Sem título, sd
Óleo sobre placa
78 x 51 cm
5
6
Óleo sobre placa
50 x 39 cm
Óleo sobre tela
49 x 39 cm
Sem título, 1986
9
Sem título, 1982
Óleo sobre placa
30 x 22,5 cm
Sem título, sd
Sem título, 1994
Óleo sobre placa
72 x 46 cm
Sem título, sd
Óleo sobre tela
57 x 40 cm
7
Sem título, 1991
Óleo sobre placa
60 x 45 cm
10
Sem título, 1961
Óleo sobre tela
37 x 31 cm
11
14
15
Óleo sobre tela
72 x 60 cm
Óleo sobre placa
50 x 40 cm
Sem título, 1991
13
3
Sem título, 1989
Óleo sobre tela
78 x 52 cm
Sem título, 1974
Sem título, 1989
Óleo sobre placa
49 x 40 cm
8
Sem título, 1984
Óleo sobre placa
48,5 x 39,5 cm
12
Sem título,
1990/1991
Óleo sobre placa
40 x 30 cm
AGRADECIMENTOS / ACKNOWLEDGMENTS:
Adriana Damiani, Aecio Eduardo Coelho Simões, Alexandre Canonico,
Allen Roscoe, André Salazar, Ângela Gutierrez, Antonio Almeida,
Antonio Carlos Figueiredo, Antonio Celso Ribeiro, Antonio Eugenio de Salles Coelho,
Beatriz Terenzi Neuenschwander, Birger Lipinski, Carlos Dale, Carlos Melim,
Cecilia Ribeiro, Daniel Herthel, Edouard Fraipont, Emmanuelle Grossi
Giselli Gumiero, Hannah Neuenschwander Volz, Iatã Cannabrava, Joana Munné,
Jochen Volz, Jones Bergamin, Laercio Redondo, Luiz Carlos Macedo,
Luiz Eduardo Faria Silva, Manoel Macedo, Marcio Teixeira, Maria Fernanda Faria Silva,
Mateus Gomes Ferreira, Meire Gomide, Paulo Laborne, Paulo Laender, Paulo Nunes,
Pedro Hermmany, Regina Oliveira, Renata de Souza Guerra, Renato Madureira,
Ricardo Homen, Ricardo Sardenberg, Roberto Sampaio Ferreira, Rodrigo Mitre,
Theo Neuenschwander Volz, Veridiana Mott, Vilma Eid, Vivaildo de Almeida
Organização
Martha Verissimo
Iluminação
Lux Projetos
Expografia
Alexandre da Cunha
Alexandre Canonico
Rivane Neuenschwander
Montagem
Carlos Melim
Projeto Gráfico
Ekaterina Kholmogorova
Produção da pasta
Vitamina de Papel
Assessoria de Imprensa
Conteúdo Comunicação
Revisão de texto
Vanessa Ribeiro
Tradução
Roberto Teixeira
Esta publicação foi editada em São Paulo no inverno de 2014, por ocasião da exposição Amadeo Luciano
Lorenzato E você nem imagina que Epaminondas sou eu, na Galeria Bergamin, de 30 de agosto a 11 de
outubro. Foram impressos mil e duzentos exemplares na Printcrom Gráfica e Editora sobre papel Offset 90 g.
e Supremo Duo Design 300 g. e uso do tipo Helvetica.
Rua Oscar Freire, 379
São Paulo 11 3853 5800
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