RBGN REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS ISSN 1806-4892 © FECAP ÁREA TEMÁTICA: ESTRATÉGIA E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa Service Innovation: the state of the art and a proposal of a research agenda Innovación en Servicios: el estado del arte y una propuesta de programa de estudio Pedro Carlos Resende Junior1 Tomás de Aquino Guimarães2 Recebido em 16 de novembro de 2011 / Aprovado em 28 de setembro de 2012 Editor Responsável: João Maurício Gama Boaventura, Dr. Processo de Avaliação: Double Blind Review RESUMO setores de Indústria de Hospitalidade e de Enge- O setor de serviços tem assumido importância nharia e Tecnologia, correspondendo, respectiva- crescente na economia de países em geral, o que mente, a 24% e 31% dos textos. Os demais 45% vem impulsionando pesquisas sobre inovação em dos artigos descrevem pesquisas em setores como serviços, que se configura como um campo de Telecomunicações, Saúde, Varejo, Financeiro e estudos na área de administração. Este artigo tem Seguros e Serviços Públicos. As principais lacu- como objetivo propor uma agenda de pesquisa nas identificadas nesses textos referem-se às difi- para inovação em serviços, com base em uma dis- culdades de mensuração da inovação em serviços, cussão articulada de resultados de pesquisas que além da baixa quantidade de pesquisas no setor compõem o estado da arte sobre o conceito. público. Ao final, é apresentada uma agenda de Foram analisados 73 artigos empíricos, 33% pesquisa, que inclui o desenvolvimento de escala deles explorando o tema estratégias de inovação e de orientação para inovação em serviços e a iden- tecnologia; 18% abordando desempenho econô- tificação de fatores determinantes de inovação no mico e produtividade da firma; 16% tratando ambiente público. de antecedentes e determinantes da inovação e outros 16% de desenvolvimento de capacidades Palavras-chave: Serviços. Inovação. Inovação em em rede, alianças e colaboração entre organiza- serviços. ções; 9% explorando qualidade de serviços, taxonomias de inovação, sistemas flexíveis e sistemas regionais de inovação; e 8% abordando ABSTRACT temas como conhecimento intensivo, pesquisa e The service sector has acquired a growing desenvolvimento. As pesquisas concentram-se nos importance in every country economy, which 1. Doutor em Administração pela Universidade de Brasília UnB. [[email protected]] 2. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade de Brasília UnB. [[email protected]] Endereço dos autores: ICC ala norte, subsolo, módulo 25 Asa Norte, Brasília DF Cep. 70910-900 Brasil. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 293 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães has stimulated research in the field of service sobre el concepto. Se analizaron 73 artículos innovation, a new field in management studies. empíricos, de los cuales el 33% explotan el This text aimed to state a research agenda upon tema estrategias de innovación y tecnología, el service innovation, based on an articulated 18% tratan del desempeño económico y la discussion of the results of several articles that productividad de la empresa, el 16% hablan compose the state of the art of this concept. 73 de antecedentes y factores determinantes de empirical articles were analyzed, 33% of them la innovación, el 16% del desarrollo y las exploring the innovation strategies and technology; capacidades en red, alianzas y colaboración entre 18% of the articles describe research on economic organizaciones, el 9% de los textos estudian la performance and enterprise productivity; 16% are calidad de los servicios, taxonomías de innovación, related to antecedents and determinants of sistemas flexibles y sistemas regionales de innovation; another 16% about network capacity innovación, y el 8% tratan de temas como el development, alliances and collaboration among conocimiento intensivo, la investigación y el organizations; 9% of the articles explore service desarrollo. Las investigaciones se centran en los quality, innovation taxonomy, flexible systems and sectores de Ingeniería y Tecnología e Industria regional systems of innovation; and another 8% Hotelera, correspondiendo, respectivamente, are related to themes such as intensive knowledge, al 31% y al 24% de los textos. El 45% restante research and development. The researches were de los artículos describen investigaciones en concentrated in the Engineering & Technology sectores como Telecomunicaciones, Salud, Ventas and Hospitality Industries, which accounted al por Menor, Financiero y Seguros, y Servicios for 31% and 24% of the texts, respectively. The Públicos. Las principales lagunas identificadas remaining 45% of the articles referred to sectors en esos textos se refieren a las dificultades en such as Telecommunications, Health, Retail, la medición de la innovación en servicios, más Financial & Insurance and Public Services. The allá de la baja cantidad de investigaciones en el main gaps identified in these texts refer to the sector público. Al final se presenta una agenda de difficulties on measuring service innovation, investigación, que incluye el desarrollo de escala besides the small number of researches on the de orientación para innovación y la identificación public sector. At the end, a research agenda in the de los factores determinantes de innovación subject is presented, including the development en el sector público. of a scale for orientating the innovation and identifying the determining factors of the Palabras clave: Innovación. Servicios. Innovación innovation in the public environment. en servicios. Key words: Innovation. Services. Service innovation. 1 RESUMEN 294 INTRODUÇÃO Inovação é um dos temas transversais em El sector de servicios viene asumiendo una pesquisas na área de administração e seu conceito impor tancia creciente en la economía de é plural e multifacetado. Para a OECD (2005), prácticamente todos los países, lo que ha inovação pode ser definida como a introdução de impulsado las investigaciones sobre innovación en um bem ou serviço novo ou significativamente servicios, que se configura como un campo de melhorado em suas características ou usos previs- estudios en el área de administración. Este texto tos, podendo ser de quatro tipos: de produto (bens tiene como objetivo proponer un programa de e serviços), de processo (métodos de produção e investigación para la innovación en servicios, en de distribuição), organizacional (práticas de negó- base a un análisis articulado de resultados de cios) e de marketing (design, embalagem, promo- investigaciones que componen el estado del arte ção, disponibilização, precificação). Este artigo R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa trata de inovação em serviços, aqui delimitada como Brasileira de Inovação, Revista Eletrônica de Admi- o processo de busca, descoberta, experimentação, nistração e Revista de Gestão. desenvolvimento, imitação e adoção de novas Foram utilizadas, na busca, as palavras- características de serviços, processos e técnicas chave inovação e serviços, separadamente, de organizacionais em organizações de serviços. forma a ampliar o escopo da busca, bem como A inovação em serviços, inicialmente con- expressões em língua inglesa que correspondessem siderada na literatura como uma consequência da a esses termos. Para compor a amostra de artigos, inovação tecnológica ou da produção (BARRAS, foram adotados os seguintes critérios: (a) que abor- 1986), tem recebido espaço na literatura acadê- dassem o tema inovação em serviços; (b) que cons- mica nos últimos anos. Isso se deve à construção tituíssem relato de pesquisa empírica; e (c) que de um campo próprio para o tema, decorrente do tivessem sido publicados no período de janeiro crescimento da importância do setor de serviços de 2005 a agosto de 2011. Foram recuperados 73 na economia. Países como Alemanha, França, Itá- artigos, os quais constituem a base de análise uti- lia e Reino Unido, pertencentes ao G8, desde o lizada neste texto. A seguir, discute-se o conceito final da década de 1990 apresentavam o setor de de inovação em serviços e, na sequência, o estado serviços com participação acima de 70% no PIB, da arte desse tema. ao passo que no Brasil os serviços representam Essa busca tem limitações. O Portal Capes 67,4%, contra 26,8% da indústria e 5,8% da de Periódicos foi utilizado para acesso às bases de agropecuária, segundo o IBGE (2010). dados estrangeiras e há periódicos disponíveis Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) afir- nessas bases que não disponibilizam textos inte- mam que serviços são absolutamente indispensá- grais por intermédio desse Portal. Com isso, perió- veis para que uma economia possa funcionar a dicos com alto fator de impacto na área de Admi- contento e melhorar a qualidade de vida de uma nistração não foram consultados. Além disso, há comunidade, assim como sua multiplicidade pode periódicos brasileiros que eventualmente tratam acabar formando múltiplas redes de serviços. Ten- do tema deste artigo e que podem ter sido excluí- do em conta esse quadro, é importante discutir a dos da busca. De qualquer sorte, a revisão permi- magnitude da pesquisa sobre inovação em servi- tiu o acesso a um número de textos capaz de repre- ços, como esse conceito é tratado e como as pes- sentar o estado da arte do tema pesquisado no quisas sobre o tema são desenvolvidas, visando à período compreendido na busca. geração de agendas de pesquisa no tema. Nessa linha, este texto tem como objetivo propor uma agenda de pesquisa para inovação em 2 INOVAÇÃO EM SERVIÇOS serviços, com base em uma discussão articulada de resultados de pesquisas que compõem o esta- Para Lovelock e Wright (2004), serviços do da arte relacionado a esse conceito. Foi reali- são atividades econômicas que criam valor e for- zada busca nas seguintes bases de dados: SAGE necem benefícios para clientes em tempos e luga- Journal on Line, JSTOR, SpringerLink, Emerald res específicos, como decorrência da realização de and Oxford Journals, PROQUEST, ABI/Inform uma mudança desejada ou em nome do destina- Global e Scielo. Essas bases cobrem os periódicos tário do serviço. A literatura dessa área considera de maior impacto na literatura indexada. Adicio- que o produto do serviço é tido como algo in- nalmente, foram consultadas as páginas de perió- tangível e naturalmente instável. Os serviços são dicos brasileiros da área de Administração, não interativos, requerendo, muitas vezes, a partici- indexados nessas bases, classificados no Qualis/ pação conjunta do prestador e do consumidor e Capes no nível B2 ou superior e/ou que abordam podendo variar em cada execução, considerando o tema inovação em sua política editorial: Orga- a mudança do consumidor e do prestador. Essas nizações & Sociedade, Revista de Administração especificidades indicam que o fenômeno da ino- e Inovação, Revista de Administração, Revista vação em serviços requer abordagem específica, R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 295 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães 296 distinta daquela utilizada para a inovação na pro- (materiais ou imateriais), assim como os processos dução em geral. utilizados para produzir o produto; um terceiro Segundo Gallouj (1994), há três aborda- vetor indica as competências de fornecedores; e o gens que tratam da inovação aplicada aos servi- último define as competências do cliente-usuá- ços: tecnicista, orientada a serviços e integradora. rio. A resultante da entrega do serviço carrega A abordagem tecnicista reduz a inovação à intro- interface entre produtores e usuários, sendo defi- dução de sistemas técnicos (equipamentos, mate- nida como a simultaneidade da relação de traba- riais, comunicação) nas organizações. Duas lho, das características técnicas e competências, taxonomias são referenciadas nesta abordagem: a que geram valor ao usuário final. A inovação pode de Pavitt (1984), que classifica as organizações em ser definida de acordo com mudanças que afetam setores com firmas intensivas em escala (por exem- um ou mais vetores de características (técnica e plo, produção de aço, carro), fornecedores espe- de serviços) ou de competências. cializados (engenharia mecânica); firmas baseadas Na abordagem integradora, a inovação não em ciência (química, por exemplo), setores domi- é definida como resultado, mas como processo, e nados por fornecedores (serviço público, agricul- permite-se identificar diversos modelos de ino- tura) e a taxonomia de Miozzo e Soete (2001), vação, como resultado da dinâmica de suas carac- que adicionam à proposta de Pavitt (1984) orga- terísticas: a) inovação radical, com a criação de nizações que compõem redes informacionais (segu- um novo conjunto de vetores de competências, ros, comunicações, bancos) e redes de larga escala. características técnicas e de serviço, que, forne- A segunda abordagem, denominada abor- cendo o mesmo vetor de serviço, gera graus supe- dagem orientada aos serviços, busca identificar a riores de valor ao usuário; b) inovação de melhoria, natureza da inovação dos serviços e inclui, con- quando o conjunto de vetores de características forme Gallouj (1994), três tipos de inovação em do serviço permanece inalterado, mas melhora o serviços: ad hoc (processo de construção de solu- valor da qualidade de seus elementos individuais; ção para um problema especifico), antecipatória c) inovação incremental, quando uma nova (novo campo do conhecimento ou expertise a ser característica for adicionada, eliminada ou subs- explorado) e formalizada (conjunto de mecanis- tituída, mas deixando o conjunto de vetores inalte- mos que ajudam a definir contornos do serviço rado; d) inovação ad hoc, resultando em nova com certo grau de tangibilidade, como regras, solução para um problema do cliente, seja de políticas, modelos). natureza jurídica, estratégica, organizacional ou Também segundo Gallouj (1994), a ter- técnica; e) inovação por recombinação: associa- ceira abordagem, integradora, propõe uma visão ção ou dissociação de diferentes serviços e carac- de produtos e serviços sob uma mesma teoria da terísticas técnicas nesse contexto, a inovação inovação. Saviotti e Metcalfe (1991) descrevem incremental pode ser considerada como um caso produto como uma combinação de característi- particular de inovação de recombinação, pois cas técnicas e de serviços. Por exemplo, um carro envolve a adição de características típicas de dispõe de uma série de características de serviço, produtos preexistentes ; f ) inovação por forma- como velocidade, conforto, consumo; como lização: ocorre quando uma ou mais caracterís- características técnicas, a transmissão, suspensão, ticas melhoradas do serviço são formatadas ou o sistema elétrico, ou seja, o produto é uma com- padronizadas. binação de funções e tecnologias. Esses autores Portanto, a abordagem integradora pressu- consideram que um produto (bem ou serviço) põe que inovação, tanto em produto, no sentido pode ser representado por um conjunto de vetores físico do termo, como em serviço, tem caracterís- de características e competências interconectadas. ticas similares, o que poderia tornar a inovação Um dos vetores representa as características do em serviço apenas mais uma taxonomia. O que serviço ou valor para os usuários finais; outro vetor dá suporte à corrente que defende a especificidade representa as características técnicas do produto desse tipo de inovação, como é o caso de Gallouj R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa (1994), é que a inovação em serviço incorpora a entre organizações; 7 pesquisas, 8% de temas relação entre fornecedor e usuário ou cliente. De como conhecimento intensivo, pesquisa e desen- qualquer sorte, organizações de serviços também volvimento, e outros 9% exploraram temas diver- se valem de inovações em produtos, que alteram sos, como qualidade de serviços, taxonomias de os serviços prestados, como inovações em proces- inovação, sistemas flexíveis e sistemas regionais sos de gestão em saúde, que refletem em novos de inovação. Ainda conforme o Quadro 1, os padrões na prestação de serviços prestados por setores identificados nas pesquisas foram: enge- hospitais, conforme explorado por Isidro-Filho, nharia e tecnologia, com 22 artigos (32% do Guimarães e Perin (2011). total); indústria multissetorial de hospitalidade (cultura, hotelaria, alimentos e educação), com 3 18 artigos (24%); telecomunicações, com 9 arti- O ESTADO DA ARTE DAS PESQUISAS SOBRE INOVAÇÃO EM SERVIÇOS gos (12%); saúde, com 6 artigos (8%); comércio varejista, com 6 artigos (8%); financeiro e seguros, com 5 artigos (7%); administração pública Foram identificados 73 artigos empíricos com 4 artigos (5%); e serviços públicos, com 3 sobre inovação em serviços, publicados no perío- artigos (4%). do de janeiro de 2005 a agosto de 2011, recupe- A maioria dos trabalhos foi distribuída em rados na busca comentada na seção inicial deste países da Europa, com 35% dos artigos; Brasil, ensaio. O Quadro 1 indica a distribuição desses com 26%; Estados Unidos, com 24%; Austrália, artigos. China e Taiwan com 3%, cada um; Argélia, Como mostra o Quadro 1, 24 pesquisas Canadá, Gana, Hong Kong, Japão e Tailândia com sobre inovação em serviços, representando 33% 1%, cada um, do total de artigos. Ressalta-se que do total, exploraram o tema estratégias de inova- a diferença entre os percentuais de artigos brasi- ção e tecnologia; 18% referem-se a desempenho leiros e estrangeiros, denotando alto índice de econômico e produtividade da firma; 16% trata- artigos encontrados no Brasil, se deu em função ram de antecedentes e determinantes da inova- do critério de busca. As buscas a periódicos estran- ção; outras 11 pesquisas, equivalentes a 16% do geiros limitaram-se a periódicos indexados, ao total, exploraram temas como desenvolvimento passo que a busca nacional considerou também de capacidades em rede, alianças e colaboração periódicos não indexados, porém reconhecidos na 7HPDV Estratégias de Inovação e Tecnologia Desempenho Econômico e Produtividade da Firma Antecedentes e Determinantes de Inovação Desenvolvimento de Capacidades em Rede e Colaboração entre Organizações Conhecimento Intensivo, Pesquisa e Desenvolvimento 1 6HWRUHV 1 24 33% 18% Engenharia e Tecnologia Indústria de Hospitalidade (educação, cultura, hotelaria, alimentos) Telecomunicações 22 32% 18 24% 9 12% Médios e Grandes Varejistas 6 8% Saúde 6 8% Financeiro e Seguros 5 7% Administração Pública Serviços Públicos (óleo, gás, transporte, água) 7RWDO 4 5% 3 4% 13 12 11 16% 16% 6 8% Temas diversos: qualidade de serviços, taxonomias de inovação, sistemas flexíveis e sistemas regionais de inovação 7 7RWDO 9% Quadro 1 Artigos empíricos sobre inovação em serviços, publicados entre 2005 e 2011, segundo os temas e setores pesquisados. Fonte: dos autores com dados da pesquisa. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 297 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães área de Administração. A seguir, são apresenta- no relacionamento com os assinantes, na conver- dos esses resultados, agrupados por categorias gência de canais de relacionamento interativo e pesquisadas, constituídas por análise de conteú- na política de publicidade para cada público. do, segundo Bardin (2002). As categorias foram Edvardsson e Enquist (2011) estudaram construídas a posteriori, a partir daquelas com base estratégias de inovação em serviços em quatro em frequências de conteúdo dos títulos, resumo, companhias estadunidenses, apontando como introdução e resultados dos artigos encontrados. característica comum o compartilhamento de valores destas para com os clientes e usuários, con- 3.1 Estratégias de inovação e tecnologia siderando um aumento do nível de consciência dos consumidores quanto à responsabilidade socioambiental corporativa. Os resultados indi- 298 Esse agrupamento envolve artigos que cam que plataformas de negócios que oferecem investigam a relação entre inovação e estratégia experiências de serviços (físicas e virtuais) aos usuá- em organizações. Paswan, DSouza e Zolfagharian rios mesmo antes de comprá-los , exposição (2009) dedicam atenção às tipologias de inova- de marca e comunicação de marketing, alinhadas ção, estudando sete células em empresas de servi- aos valores da organização e dos clientes, compar- ços: dimensão externa, orientação para o cliente, tilhamento de valores internos entre lideranças incerteza do ambiente, incerteza e inovação, e empregados, provêm orientação de negócios orientação estratégica, orientação estratégica e ino- sustentáveis, considerando a cocriação de valor vação, e orientação de mercado. Os autores sin- junto a clientes e fornecedores. tetizam a proposta considerando as seguintes Weber, Haas e Scuka (2011) estudaram o dimensões: incerteza do ambiente, orientação setor de telefonia móvel europeu e apontam que estratégica e orientação para o mercado. Confor- as inovações nesse setor são, em sua maioria, ori- me os autores, embora seja o cliente quem deter- ginárias dos EUA e do Japão e que as organiza- mina o valor da inovação do serviço, a empresa ções de telefonia móvel europeias atuam com é responsável pela elaboração de proposição de baixos níveis de competitividade tecnológica e valor e gestão do processo de cocriação das inova- pouca orientação ao cliente. Schroth (2006), ao ções. Uma maior percepção de incerteza ambiental investigar bancos de investimentos, observou que é associada a riscos mais elevados, mas também a a estratégia de imitação aparentemente pode ser mais e novas oportunidades. Isso pode incentivar eficiente no curto prazo, no que tange à adoção de empresas de serviços a participar de atividades de inovações, mas que no longo prazo tal estratégia inovação radical, ao passo que, quanto menores torna-se menos atraente por não apresentar van- forem os níveis de incerteza do ambiente, meno- tagem competitiva para esses bancos. Já Victorino res serão os níveis de risco às variações de merca- et al. (2005) buscam compreender a relação entre do, e tal estabilidade pode induzir a processos de estratégias de adoção da inovação em serviços na inovações incrementais. indústria hoteleira e de entretenimento e a influên- Mesak et al. (2011) investigaram serviços cia de escolha dos clientes. A pesquisa ressalta que de assinatura de canais a cabo canadense com foco a estratégia deve ser operacionalizada por nichos, na política de publicidade. Essa indústria de entre- uma vez que a inovação percebida apresenta-se tenimento apresenta características peculiares, de forma diferenciada segundo as categorias de uma vez que há grandes receitas geradas por publi- clientes do setor. cidade, devendo as organizações buscar o ponto Carvalho Júnior, Silva e Zawislak (2008), ótimo para esse investimento, ou seja, o cresci- ao estudarem células de serviços de produção no mento ilimitado desse tipo de receita pode impli- setor automotivo, relatam que a estratégia de ino- car percepções negativas de assinantes. Os autores vação tende a traduzir a combinação do conheci- comentam que as inovações nesse setor registram- mento dos ambientes externo e interno e que a se na forma de oferta de novas grades de canais, constância de inovação fortalece e valoriza a mar- R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa ca de serviços da organização. Gavira et al. (2007) vação. Souza e Bastos (2009) analisaram a adoção analisaram ferramentas de operacionalização de de padrões de inovação e a política de gestão de estratégias de inovação, concluindo que o funil pessoas de organizações brasileiras, concluindo que de inovação mostrou-se adequado na subsidiária empresas consideradas muito inovadoras tendem da multinacional estudada, desde que se conside- a adotar políticas específicas de gestão de pessoas rem pequenos ajustes, como a adequação a dife- nas áreas de saúde e desenvolvimento profissional. rentes culturas e rotinas empresariais, a adoção Tingvall e Karpaty (2011) investigaram a de ferramentas de apoio e atividades de incentivo relação entre a inovação e a concorrência em fir- e a motivação dos funcionários. mas de serviços suecas. Os resultados indicam que, Judice e Baêta (2005) estudaram a relação quando a concorrência aumenta, as pequenas entre gestão da inovação, modelos empresariais empresas tendem a buscar alianças estratégicas e investimentos em empresas brasileiras de bio- com os concorrentes, ao passo que as grandes tecnologia. Os resultados obtidos indicam escas- empresas tendem a reduzir essa colaboração. O sez de inovações e investimentos nas empresas comportamento de grandes empresas pode ser pesquisadas, e que, embora haja forte dedicação à parcialmente explicado em razão de sua capaci- pesquisa e ao desenvolvimento, registra-se baixa dade de lidar com projetos de inovação interna- intensidade de inovação, conforme indicado por mente. As alianças estratégicas tendem a ser vis- obtenção de propriedade intelectual. Mussi e tas como uma ferramenta para gestão de riscos, Canuto (2008), ao investigarem a interpretação como redução de custos e complementaridades de usuários sobre a adoção de inovações tecno- de recursos. lógicas em sistema de transporte e frota, consta- Martin et al. (2011) pesquisaram em qua- tam que os usuários percebem como presente a tro hospitais os desafios da introdução de novas maioria dos atributos referenciados nessa revisão formas de trabalho no sistema de saúde na Ingla- de literatura. A pesquisa de Nascimento, Yu e terra, com foco na distância entre a geração da Sobral (2008) identificou orientações estratégi- ideia e a dificuldade de implantá-la ou de colher cas da inovação para o mercado de varejo popular resultados em um sistema complexo, identifi- no Brasil. Entre os resultados mais significativos cando um efeito evaporação de melhorias. Os estão a padronização de produtos/serviços baratos, resultados apontam que a estratégia de inovação aumento do conteúdo de autosserviço, oferta por só é eficaz se as mudanças organizacionais pude- canais de distribuição alternativos e extensão de rem ser sustentadas por gestores, médicos e pro- financiamento com prestações baixas. fissionais da linha de frente. Do contrário, a mais Santa et al. (2011) investigaram o valor valia do serviço não será percebida pelo usuário. efetivo gerado por inovações tecnológicas, como Ting et al. (2011) estudaram impactos da Enterprise Resource Planning (ERP) nos resulta- implantação de um prontuário eletrônico à base dos organizacionais de longo prazo. Observou-se de radiofrequência no sistema de saúde de Hong uma lacuna na mensuração dos benefícios da ino- Kong. Essa inovação permitiu uma nova forma vação para o sistema organizacional, enfraquecen- de acesso aos diagnósticos e tratamentos dos do a relação entre a eficácia dos sistemas imple- pacientes com o uso de sistemas compartilhados mentados com a eficácia operacional organizacio- de informação. Os resultados mostraram a per- nal. Perin, Sampaio e Faleiro (2005) buscaram cepção positiva dos usuários e pacientes diante compreender, em organizações de serviços, a rela- da inovação, em razão dos fatores acessibilidade, ção entre orientação para o mercado e orientação velocidade e segurança das informações disponi- para aprendizagem e inovação. Os resultados bilizadas, impactando a relação de serviço exis- demonstraram uma influência positiva e signifi- tente. Sutthijakra (2011) investigou a adoção de cativa da orientação para o mercado sobre a ino- padrões operacionais por subsidiárias de hotéis vação de produtos e serviços, além do impacto multinacionais na Inglaterra e em Taiwan. A ado- indireto da orientação para aprendizagem na ino- ção de inovações por meio da transferência de R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 299 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães melhores práticas, considerando o contexto, mini- e menos frequentemente orçada. E, como lacu- miza as tensões entre a definição de padrões glo- na, os autores reforçaram a necessidade de cria- bais e a adaptação local, promovendo um contí- ção de medições mais precisas para serviços. nuo processo de negociação. Concluiu-se que a Cainelli, Evangelista e Savona (2006) explo- necessidade de um controle rígido pela matriz deve raram a relação entre inovação e desempenho econô- ser mediada pelas adaptações locais. mico em organizações de serviços, utilizando dados Li (2011) estudou a inovação em sistemas longitudinais, oriundos da Community Innovation inteligentes nos serviços de governo eletrônico em Survey (1993-95) e de variáveis econômicas pre- instituições educacionais chinesas, comparando vistas pelo Sistema de Contabilidade Empresarial os resultados com países como a Austrália e o (1993-98). Os autores demonstram que a inovação Canadá. Foram avaliadas, em relação aos serviços é positivamente impactada pelo desempenho eco- de informação ofertados, a transparência e a qua- nômico pretérito e que as atividades de inovação lidade da decisão, a satisfação com a decisão, bem têm um impacto positivo sobre o crescimento e como o sentimento de controle, a percepção de produtividade da firma, agindo como um meca- poder na relação com o usuário e a imagem do nismo de autorreforço da economia. De igual for- governo. Concluiu-se que a transparência na ma, Canepa e Stonemany (2007), ao realizarem tomada de decisões e a satisfação com a tomada análise dos dados da Community Innovation Survey de decisão são fatores-chave na produção de um para os anos 1998-2000, verificaram que fatores maior senso de autoridade, incluindo uma maior financeiros geram impacto sobre a atividade inova- percepção na relação de poder com a agência do dora, sendo mais percebido nos setores de tecnolo- governo com a sensação de estar no controle. Essa gia e em pequenas empresas, e que o desempenho abordagem melhorou a percepção dos usuários das empresas pode ser afetado por restrições finan- das agências públicas prestadoras de serviços. Tsou ceiras ou de liquidez, impactando as atividades e Hsu (2011) estudaram a inovação em serviços de P&D. eletrônicos e sua relação com o desempenho da Masso e Vahter (2011) investigaram liga- firma. O estudo mostra que a inovação nos ser- ções entre inovação e produtividade em diversos viços eletrônicos tem uma relação positiva com ramos do setor de serviços na Estônia, conside- os valores globais da empresa, não necessariamente rando gastos com inovação, resultados, produti- financeiros, principalmente por meio de práticas vidade e exportações. Foi demonstrada associa- de cocriação de valores com clientes e com outras ção positiva entre inovação e produtividade, sen- redes de inovação. do mais forte em serviços menos intensivos em conhecimento. A variável exportação apresentou- 3.2 Desempenho econômico e produtividade da firma se com um impulso nas atividades inovadoras das firmas de serviços. Nos KIBs (Knowledge Intensive Business Services) embora os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) 300 Essa categoria trata da relação entre ino- sejam mais elevados e haja mais indicadores, houve vação, desempenho econômico e produtividade baixo índice de transformação dos resultados dos das organizações. Hertog, Gallouj e Segers (2012) processos de inovação. pesquisaram a adoção de inovação em firmas Eisingerich, Rubera e Seifert (2009) pes- holandesas ligadas à indústria de hospitalidade. quisaram como o relacionamento interorganiza- Os resultados apontam que a inovação nesse cional influencia a inovação e o desempenho da setor é maior e mais variada do que a regularmente firma, com base no pressuposto de que a rede de publicada e mostram que a maior intensidade de organizações funciona como um conjunto forma- inovação está associada ao melhor desempenho lizado de relações de cooperação entre concorren- da empresa. O setor apresentou a inovação de modo tes e colaboradores ao longo do tempo, a fim de menos formal, menos explicitamente gerenciada transmitir informações e transferir conhecimento. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa Concluíram que a extensão da heterogeneidade capacidade de conexão com clientes, ativos de entre parceiros favorece a aquisição e o emprego recursos humanos e capacidade de inovação. de diferentes capacidades competitivas e, conse- Os resultados indicam que além desses recursos, quentemente, influencia a capacidade de inova- ativos e habilidades empresariais influenciam o ção e desempenho da firma. Kleijnen, Ruyter e desempenho da inovação em organizações. Andreassen (2005) alinharam o desempenho da firma ao conceito de congruência de imagem (justaposição entre imagem da organização percebi- 3.3 Antecedentes e determinantes de inovação da por consumidores e a inovação) e concluíram que essa congruência tem um impacto na atitude Nessa categoria encontram-se artigos a res- de clientes e na intenção de uso de novos serviços. peito de organizações que dispõem de um ambien- Ordanini e Rubera (2010) defendem que com- te inovador, considerando características e fatores preender os efeitos das inovações relacionadas determinantes da inovação. Forsman (2011) com desempenho é crucial para a sustentabilidade investigou a capacidade de inovação de pequenas das empresas. manufaturas e empresas de serviços, conside- Petratos (2005), ao analisar o setor de saúde rando o investimento em Pesquisa e Desenvolvi- da Inglaterra, observa que, por meio da inovação, mento (P&D), as capacidades e a participação em tem-se aumentado a eficácia do sistema de saúde redes como forma de alimentar processos ino- e das respectivas organizações. Situação similar foi vadores. Foram avaliadas as inovações surgidas observada por Prieger (2009), ao analisar a nos últimos quatro anos e os respectivos graus de regulação, a inovação e a oferta de novos serviços radicalidade e de abrangência na organização. Os para o setor de telecomunicações. Quatraro padrões de desenvolvimento de inovação são tão (2009) associou o crescimento econômico em diversificados nos setores dos serviços como na indústrias italianas à inovação e à mudança estru- manufatura. Essa rica diversidade sugere a cria- tural. Ferigotti (2007), ao analisar a influência da ção de políticas destinadas a apoiar o desenvolvi- aprendizagem no desempenho das inovações, mento da inovação no respectivo contexto, uma registra que o acúmulo de competências tecnológi- vez que tanto a indústria transformadora como cas inovadoras resulta de fluxos de conhecimento os serviços não são internamente homogêneos. para inovação. Enquanto Segatto-Mendes e Lemos Já Chen, Tsou e Huang (2009) pesquisaram (2007) relacionam a adoção de inovações ao desem- três fatores antecedentes da inovação na presta- penho organizacional, medido por meio de resul- ção de serviços: colaboração com parceiros exter- tados financeiros e ambientais, em organização nos, orientação para inovação e capacidade de do setor público que atua na área de saneamento. tecnologia da informação este último, tendo Já Prajogo (2006) explorou a relação entre como suporte infraestrutura, recursos humanos e inovação (produto e processo) e desempenho do ativos intangíveis de Tecnologia da Informação negócio (crescimento de vendas, market share e (TI). Os resultados indicaram relação entre tais rentabilidade), comparando os setores industriais antecedentes e o desempenho da empresa, a aber- e de serviços, buscando analisar se a inovação ocor- tura organizacional a novas ideias e a propensão re em níveis diferentes em empresas de serviços e para a mudança por meio da adoção de novas em serviços, o que torna mais difícil identificar a ideias, tecnologias, recursos, habilidades e siste- existência de inovação, não significando dizer que mas administrativos e à capacidade de introduzir as empresas de serviços estão atrasadas em maté- algum novo processo, produto ou ideia. Especifi- ria de inovação em relação às indústrias. O traba- camente o fator colaboração com parceiros foi lho de Perin, Sampaio e Hooley (2007) avalia a entendido como um processo de interação, por relação de recursos da empresa com desempenho meio do qual ativos complementares são troca- de inovação, com ênfase em recursos, como orien- dos com parceiros externos, em que as organiza- tação para o mercado, capacidades gerenciais, ções tendem a cooperar quando seus recursos e R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 301 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães objetivos complementam um ao outro, e isso pode 302 são consideradas os direcionadores mais impor- incluir o compartilhamento de recursos materiais tantes do processo de inovação. O feedback dos e capacidades. clientes é a atividade mais importante para incen- Damanpour e Schneider (2008) estuda- tivar as inovações em serviços, ao passo que o ram a associação entre as características de inova- retorno dos investimentos é o fator mais impor- ção e a adoção da inovação no setor público. Fre- tante na tomada de decisão para analisar a viabili- quentemente, as inovações são observadas como dade da inovação. Os funcionários são a fonte mais respostas da organização às forças ambientais, importante de ideias de inovação. Ademais, inte- como crescimento populacional e condição da rações entre diferentes empresas, bem como o economia, bem como as características organiza- envolvimento de clientes, colaboradores e forne- cionais, como porte e sindicalização da força de cedores no processo de inovação, são cada vez mais trabalho. Os autores enfatizam que, além desses importantes. O estudo mostra ainda que os pres- fatores externos e internos, a adoção de inovação tadores de serviços e os clientes colaboram fre- no setor público também é influenciada por quentemente nos processos de inovação, e que características como custo, complexidade e van- muitas das atividades são realizadas simultanea- tagem relativa e seu impacto. Fleuren, Wiefferink mente. Os resultados dessa colaboração requerem e Paulussen (2005) desenvolveram estudo sobre a disponibilidade de recursos em gestão e coorde- determinantes de inovação, especialmente para a nação do processo de inovação de forma estru- área de saúde, definindo as principais fases dos turada, eficiente e eficaz. processos de inovação: difusão, adoção, imple- Tien e Berg (2007) também pesquisaram mentação e manutenção. A transição de uma fase antecedentes de inovação em serviços eletrônicos à seguinte pode ser afetada por vários fatores, nos Estados Unidos, encontrando como resultado: como: (i) características do contexto sociopolítico direcionadores de clientes (colaboração, custo- (regras, legislação e características dos clientes mização, integração e adaptação), direcionadores do processo); (ii) características da organização de negócio (foco na solução e na concorrência), (rotatividade de pessoal ou a tomada de decisão princípios de negócio (reconstrução de fronteiras na organização); (iii) características da pessoa que do mercado, ir além da demanda existente, obter adota as inovações usuário da inovação (conhe- sequência estratégica, superar barreiras organiza- cimentos, habilidades e percepção de suporte por cionais e construir a execução da estratégia), capa- parte dos colegas); e (iv) características da inova- citadores técnicos (algoritmos, automação, tele- ção (complexidade ou vantagem relativa). comunicações, colaboração, padronização, custo- Gebauer et al. (2008) pesquisaram ante- mização, organização e globalização), e atributos cedentes requeridos para a inovação em serviços e de decisão de informação (decisão direcionada, como tais requisitos diferem durante o desenvolvi- baseada em informações, em tempo real, continua- mento do processo produtivo e durante o uso do mente-adaptativa, centrada no cliente e compu- serviço. Os autores encontraram quinze anteceden- tacionalmente intensiva). Walker (2007) estudou tes que impactam a inovação no setor de serviços, antecedentes ambientais como estruturas orgânicas como a presença do envolvimento dos trabalha- do serviço em organizações públicas, verificando dores da linha de frente, o compartilhamento de que estes são sustentados por robustos processos informação, as equipes multifuncionais, a tecno- organizacionais e por tipos de inovação auxilia- logia da informação, a organização interna e for- res, considerando a complexidade do ambiente mação e a educação, que têm um impacto seme- público e do tipo de serviço prestado. lhante sobre o sucesso das inovações em serviços. Cabral (2007) identificou variáveis orga- Panesar e Markeset (2008) identificaram nizacionais que influenciam a probabilidade e a direcionadores da inovação para compreender a intensidade de inovações no Brasil, confirmando coordenação e a gestão da inovação em serviços. que os ativos para inovação investimento em O estudo indica que as necessidades do mercado tecnologia, investimento em P&D e alianças com R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa outras empresas, institutos de pesquisa e univer- cada vez mais criam ofertas inovadoras de serviços sidades para execução externa de P&D deter- provenientes de atuação em rede, resultando em minam significativamente a probabilidade de uma novas ofertas avançadas de serviços, derivadas de empresa inovar. Ainda sobre P&D como antece- parcerias ou de mérito individual organizacional. dente, Coutinho e Bontempo (2007) exploraram O conceito de OSE é uma oferta de serviço novo o processo de desenvolvimento de inovações em ou avançado que deriva de um acordo de colabo- empresa brasileira, apontando o investimento em ração, uma vez que não poderia ser entregue por P&D, a competência da equipe de P&D e o apoio méritos individuais organizacionais, gerando capa- da alta administração como fatores presentes para cidades de inovação, que permitem a exploração a mobilização do estoque de conhecimento acu- radical e incremental de novos produtos, serviços, mulado ao longo do tempo. processos e práticas de negócios. Além disso, as Machado e Vasconcelos (2007) verifica- constantes mudanças nas demandas de clientes ram a relação entre a constituição de um ambiente fazem que as organizações não só sejam inovado- inovador e a maneira pela qual elementos de cul- ras, mas ágeis e aderentes ao propósito do negócio. tura se relacionam nas organizações brasileiras Esses autores ainda destacam que a colaboração estudadas. Os elementos de cultura fortemente tem se mostrado como fator precursor da apren- observados foram: valores, crenças e pressupostos, dizagem organizacional, lidando com a cocriação ritos, rituais e cerimônias, estórias e mitos, tabus, de valor junto ao cliente no setor de serviços. heróis e comunicação. Artefatos e símbolos foram Alexander et al. (2009) analisam reações encontrados com menor incidência. Dessa for- de compradores no varejo e suas contribuições para ma, a pesquisa confirma que organizações inova- a inovação por meio de processos de cocriação de doras possuem elementos de cultura que podem valor, alterando ambiente físico, produtos e ser- propiciar e incentivar o desenvolvimento de inova- viços de autoatendimento, explorando o know- ções. Já Miguel e Teixeira (2009) investigaram a how de clientes para a inovação nos serviços. relação entre valores organizacionais e a criação do Arvanitis e Woerter (2009), com base em uma conhecimento para a inovação. Os resultados indi- amostra de 19 clusters de empresas suíças, estuda- cam que os valores organizacionais apresentaram- ram estratégias e atividades de transferência de se associados principalmente a aspectos de criação conhecimento e tecnologia entre empresas, uni- do conhecimento no âmbito interno das organi- versidades e instituições públicas de pesquisa, con- zações. Por fim, Lopes e Souza (2005) estudaram cluindo que as organizações procuram novas inovação sob a perspectiva do empreendedorismo, maneiras de conectar sua própria produção de observando os graus em que os fatores de planeja- conhecimento a recursos de conhecimentos mento, realização, poder e inovação são presentes externos, podendo se tornar fontes para as ativi- na atitude de gerentes de organizações varejistas. dades de P&D e de inovação. Esses autores alertam que as atividades de P&D entre empresas e uni- 3.4 Desenvolvimento de capacidades em rede e colaboração entre organizações versidades estão mais focadas na inovação radical e na criação de novos produtos, estimulando a produção de patentes industriais. Por outro lado, ainda segundo esses autores, as atividades de P&D Essa categoria trata de artigos que investi- entre empresas e fornecedores estão mais focadas gam a relação entre desenvolvimento de capaci- em reduzir custos de insumos e melhoria dos pro- dades inovadoras em rede, acordos de colabo- cessos, aumentando a produtividade do trabalho. ração no nível organizacional e outras interações. Fontana e Guerzoni (2007) estudaram Agarwal e Selen (2009) pesquisaram o impacto pequenas e médias empresas de sete países da da construção de capacidade dinâmica de inova- União Europeia (Dinamarca, França, Alemanha, ção por intermédio da oferta de serviços elevados Grécia, Itália, Holanda e Reino Unido) em cinco (OSE), descrevendo que as organizações de serviço setores: alimentos e bebidas, produtos químicos, R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 303 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães equipamentos de comunicações, serviços de tele- tida, interessante, instrutiva e inspiradora. comunicações e serviços de informática. Esses Concluiu-se que o contato estruturado e media- autores analisaram o impacto da demanda sobre do com representantes de toda a cadeia de valor a inovação, concluindo que a presença de incen- do serviço trouxe resultados relevantes para o pro- tivos econômicos estimula a inovação e a interação cesso de desenvolvimento das organizações. com clientes, permite a redução da incerteza da Westergren (2011) avaliou fatores contex- inovação, principalmente a radical, uma vez que tuais de criação de valor, cooperação, competên- empresas inovadoras veem os clientes como uma cia, complexidade e controle no processo de ino- das principais fontes de informação. Sunley et al. vação de uma firma sueca de serviços hidráulicos. (2008) abordam a questão da inovação e criativi- O estudo mostra que a inovação requer, além de dade em sistemas de produção cultural, consi- coerência com metas estabelecidas de qualidade, derando que relações entre clientes, rotinas da tempo e custos, a criação de valor mútuo e o desen- empresa e competências são mais importantes para volvimento de uma forte relação de confiança o desenho da inovação que a cooperação inter- interorganizacional. Ainda conforme esse autor, firmas. Após trazer a discussão sobre a capacidade também se deve considerar tanto a natureza da de gerar inovação em rede, o agrupamento refe- tecnologia da informação como o contexto social re-se às organizações que fazem uso de conheci- do ambiente. mento intensivo em seu portfólio, bem como à Tseng et al. (2011) estudaram a inovação tênue relação das atividades de P&D com a ino- na indústria de entretenimento de Taiwan, consi- vação, principalmente no setor de serviços. derando a convergência das características dos Mention (2011) identificou a influência parques culturais locais. Os resultados identifica- de práticas de cooperação e de uso de fontes de ram inovações de toda ordem, de acordo com o informação internas e externas na introdução de ambiente geográfico, variando desde o tipo de inovações no setor de serviços em países europeus. atividade oferecida à publicidade apresentada para Os resultados mostram que as empresas que dis- cada público. Tais inovações foram extraídas da põem de informações baseadas em fontes de mer- experiência com usuários ou desenvolvidas pelo cado e em fontes internas, bem como das empre- próprio governo. Fuglsang, Sundbo e Sorensen sas envolvidas em colaboração baseada na ciência (2011) buscaram identificar padrões e dinâmicas para as inovações de seus produtos, são mais pro- de inovação na experiência de empresas de servi- pensas a introduzir inovações para o mercado, ao ços de construção civil dinamarquesas. Os resul- passo que as informações provenientes dos con- tados indicam que a inovação nessas empresas correntes parecem ter influência negativa sobre o ocorre com base na abertura para interação com grau de novidade de serviços. Vê-se que, enquan- as partes interessadas em determinadas ativida- to algumas organizações se contentam em se des, como design de processos. O estudo mostrou beneficiar da difusão de conhecimentos, outras que empresas inovadoras também procuram necessitam envolver-se em atividades de coopera- diferenciar-se fortemente de outras empresas do ção para a inovação. Rexfelt et al. (2011) estuda- setor, caracterizando a inovação como interativa ram o serviço de cocriação com clientes, que repre- e situada. Essas características são vistas como for- sentavam uma indústria automobilística, uma ças complementares para beneficiar o processo empresa de transporte e uma universidade sueca. de inovação. Foram investigados métodos e práticas de traba- 304 Balestrin, Vargas e Fayard (2005), buscan- lho de análise de problemas, geração de ideias, do compreender o efeito rede nos processos de ino- desenvolvimento e avaliação dos serviços. Os resul- vação em polos de informática no Brasil e na Fran- tados apontaram que os usuários selecionados das ça, ratificam a importância da complementaridade organizações envolvidas mostraram-se acessíveis de conhecimentos nos processos de inovação e ao processo cocriativo, classificando impressões sugerem que o surgimento do efeito rede, em tais da atividade metodológica lúdica como diver- arranjos industriais, é muito mais complexo que R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa o simples fato de aproximar um grupo de atores camente no conhecimento tácito individual, em um mesmo espaço geográfico. Gava e Vidal podem ser inibidas. O conhecimento tácito cole- (2009) analisam a forma de gerar inovação tecno- tivo é mais estreitamente associado a inovações lógica no setor de telecomunicações por meio de radicais, exigindo competências em equipes e um sistema estruturado de interação com for- rotinas; e o conhecimento explícito coletivo está necedores de equipamentos, clientes, centros de associado a melhorias incrementais. pesquisa e universidades, observando um acú- Mudambi (2008), ao pesquisar ativos intan- mulo de competências voltadas para necessidades gíveis em organizações de uso de conhecimento dos clientes. intensivo, aponta que a criação de valor é baseada Cherchem (2011), ao estudar a inovação em em especialização, em atividades não rotineiras, bancos argelinos, buscou identificar os impactos que resultam em inovação contínua. Esse estudo de práticas de uma economia baseada no conhe- ratifica a importância de patentes, marcas, direito cimento no setor financeiro do país. Os resultados de propriedade, estruturas organizacionais inimi- apontaram para a interação informal de trabalha- táveis e relações interorganizacionais, conforme dores em comunidades de prática como fonte de já visto por Augier e Teece (2006). Reichstein e criação de conhecimento inovador, observando Salter (2006) investigaram o impacto de fontes que existem práticas passivas de aquisição e trans- de conhecimentos externos e os efeitos no pro- formação de novos conhecimentos. O autor identi- cesso de inovação, considerando fontes diversas ficou que nenhum entrevistado da pesquisa demons- tradicionais de atividades inovadoras, como P&D. trou ter contatos com instituições de pesquisa do Esses autores consideram o processo de inovação setor, inclusive com investigadores de universida- como a introdução de novos elementos em pro- des. Esses contatos, segundo o autor, poderiam pro- cessos produtivos da organização, na gestão dos jetar o aumento do conhecimento para resolução insumos, nas especificações de tarefas, nos fluxos de problemas e desenvolvimento do processo de de informações, nos equipamentos utilizados para inovação. Embora os entrevistados tivessem indi- produzir um produto ou prestar um serviço com cado que a criação e o lançamento de novos produ- o objetivo de reduzir os custos e/ou aumentar tos e serviços são importantes para o desenvolvi- a qualidade dos produtos, como proposto por mento de organizações, apontou-se a dificuldade Utterback e Abernathy (1975) e Rosenberg (1982). de conviver com riscos de inovação como a razão maior para a inércia inovativa. Gallaher e Petrusa (2006), ao pesquisarem o setor de telecomunicações dos Estados Unidos, observaram que uma ampla gama de empresas 3.5 Conhecimento intensivo e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) atua na exploração, manutenção, tratamento e transmissão de voz, dados, texto e imagens entre pontos de rede de telecomunicações local e de longa distância. Os autores consideraram, tam- Esse tema refere-se a pesquisas, em orga- bém, que os serviços de transmissão de voz e nizações, que fazem uso de conhecimento inten- dados internacionais estão se tornando as princi- sivo, bem como a relação das atividades de P&D pais fontes das receitas de serviços dessas empre- com a inovação. Leiponen (2006) examina os efei- sas, levando em consideração a natureza da P&D tos do conhecimento sobre o desempenho da ino- como fonte de inovação para esses serviços. Por vação em serviços, apontando que as empresas fim, Castro e Basques (2006) analisam o processo diferem em relação a suas abordagens de criação de mudança organizacional planejada em uma do conhecimento e que elas têm implicações para empresa familiar de base tecnológica e os fatores as atividades de inovação. O estudo constata que internos e externos mais relacionados ao processo, as melhorias na introdução de novos serviços são encontrando como fatores de impacto: gestão de significativamente associadas com o conhecimen- pessoas, estrutura organizacional, processos geren- to coletivo. As inovações, quando baseadas uni- ciais e as estratégias empresariais. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 305 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães 3.6 Temas diversos da estratégia, avaliação, decisão e implementação. Nyonator et al. (2005), ao pesquisarem serviços Nessa seção são discutidos estudos relacio- ofertados por programas nacionais de saúde no nados a temas diversos, como inovação em quali- continente africano, observaram que inovações dade de serviços, inovação em sistemas flexíveis e implementadas neste setor permitiram sua expan- sistemas regionais de inovação. Song, Song e Di são para a periferia por meio da mobilização de Benedetto (2009) discorrem sobre um modelo de voluntariado, recursos e instituições culturais para inovação em serviços para tomar decisões basea- a ampliação da mudança organizacional. das no desenvolvimento de novos produtos e na O único artigo que fez referência ao siste- literatura de qualidade do serviço. Os tomadores ma regional de inovação foi o de Petraite (2009), de decisão podem usar as medidas desenvolvidas cujo conceito de sistema regional de inovação repre- no estudo como um checklist para identificar pon- senta uma tendência na política de inovação, con- tos fortes na prestação de serviço a clientes, con- siderando a aprendizagem interativa de actantes, siderando o desenvolvimento e seleção de ideias, como institutos de pesquisa, universidades, agên- análise de oportunidade de mercado, desenho, cias de apoio à inovação, câmaras de comércio, teste e lançamento do produto. Essas etapas, asso- bancos e departamentos governamentais. ciadas à verificação da qualidade percebida do servido, preconizada na metodologia SERVQUAL, permitem a gestão do desempenho do serviço. Su (2011) explorou a inovação em serviços na experiência com consumidores de restaurantes 4 DISCUSSÃO E PROPOSTA DE AGENDA DE PESQUISA SOBRE INOVAÇÃO EM SERVIÇOS étnicos na China. Os resultados mostram influência positiva entre a percepção da inovação na rela- Reis (2003) aponta que uma agenda de ção de serviço e a intenção comportamental. Castro, pesquisa, além de se pautar nas respectivas sus- Montoro-Sanchez e Ortiz-De-Urbina-Criado tentações teóricas, a fim de modelar parâmetros (2011) compararam o comportamento de empre- e análises, por mais empíricas que sejam, deve, sas de serviços e empresas de manufatura espa- por premissa, identificar e privilegiar, por crité- nholas quanto às inovações tecnológicas, organi- rios ordenadores, temas e abordagens candentes. zacionais e comerciais. A análise mostrou que Para tal, a autora considera premente desenvolver empresas de manufatura têm maior tendência para uma moldura geral para envolver a discussão dos realizar inovações tecnológicas em produtos e pro- achados, tratando das potenciais tensões e con- cessos, ao passo que empresas de serviços são mais tradições entre os princípios orientadores da propensas à realização de inovações organizacio- investigação. A expressão agenda de pesquisa nais e atividades comerciais, passando pelo design pode ser entendida como um programa de tra- de serviços e produtos, que interagem com clientes. balho pertinente a uma comunidade científica A tendência futura deve ser determinada pelo uso e incluir, entre outras preocupações, o exame crí- de abordagens analíticas integradas, que propõem tico e analítico da interação entre o pesquisador e modelos para refletir todos os tipos de inovação, o fenômeno investigado. sem discriminação do setor a que pertencem. 306 Considerando a relativa escassez de estu- Sato e Fukunaga (2008) enfocam a gestão dos empíricos sobre inovação no setor de servi- da inovação para os serviços junto ao conceito de ços, principalmente no setor público, conforme arquitetura de inovação, utilizando a Metodologia demonstrado nas seções anteriores, este artigo de Sistemas Flexíveis para medir a inovação em oferece contribuições teóricas para esse campo de serviços em dois mercados no Japão (chapas de investigação. Sob a lente dos serviços, muitas pes- aço e alimentos), apontando cinco fases no pro- quisas alinhadas com Gallouj (2002) enxergam a cesso de formulação de inovação: inteligência inovação nas características finais dos serviços estratégica (coleta de informações), identificação como o resultado da mobilização da capacidade R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 Inovação em Serviços: o estado da arte e uma proposta de agenda de pesquisa técnica, das competências do fornecedor e das A maioria das pesquisas realizadas no Brasil próprias competências do cliente na prestação se deu por meio de estudos realizados em uma de serviço. única organização do setor privado. Isso sinaliza Os temas mais pesquisados foram estraté- a necessidade de que pesquisas brasileiras privile- gias de inovação e tecnologia, com 32% do total; giem estudos em grupos de organizações, tanto desempenho econômico e produtividade da fir- empresas quanto organizações públicas, de modo ma, com 18%; antecedentes e determinantes da a ampliar a capacidade de generalização dos resul- inovação, com 16% do conjunto de artigos; tados. Constatou-se também que 22 artigos, 41% desenvolvimento de capacidades em rede, alian- do total, utilizaram métodos quantitativos de aná- ças e colaboração entre organizações, com outros lise, sendo raras as pesquisas que utilizaram multi- 16%. Além desses temas, as pesquisas exploraram método na mesma investigação. Além dessas lacu- temas como qualidade de serviços, taxonomias de nas, percebeu-se a dificuldade de mensuração da inovação, sistemas flexíveis e sistemas regionais inovação em serviços. de inovação, conhecimento intensivo, pesquisa e Chama atenção a categoria que inclui pes- desenvolvimento. Observaram-se, nas pesquisas quisas que envolvem o construto inovação e desem- revisadas, tentativas de compreensão de temas penho organizacional. O conceito de desempe- recorrentes da área de inovação de produtos, como nho difundido neste grupo passa por resultados a relação entre inovação, rotina e trajetória; a alcançados, que refletem o atendimento às necessi- relação entre conhecimento, aprendizagem e ino- dades das partes interessadas e estão relaciona- vação; e a relação entre capacidade de mobilização dos às estratégias da organização. Essa concepção do estoque de conhecimentos acumulados pela denota o desempenho como a expressão resultante empresa e seu desempenho. de ativos da organização manifestada em seus resul- Alguns dos artigos revisados tiveram o obje- tados, assemelhando-se aos conceitos de Penrose tivo de descrever o efeito da presença de organi- (1959) e Figueiredo (2003). Analisando as cate- zações em rede nos processos de inovação, como gorias antecedentes de inovação e desempenho da ocorre a complementaridade de conhecimentos e firma, observa-se que não houve trabalho que habilidades nesse tipo de ambiente e suas influên- buscasse analisar os antecedentes ou determinantes cias nas dimensões dos processos gerenciais, da da inovação e do desempenho em uma mesma gestão de pessoas, da estrutura organizacional e pesquisa. E alguns desses estudos pautaram-se por das estratégias empresariais. Embora não tenha avaliar a percepção de alguns atores sobre desem- sido caracterizada dessa forma, algumas pesqui- penho ou sobre inovação, ignorando a existência sas assemelhavam-se ao estudo do construto de de resultados reais das organizações estudadas. Rede Tecnoeconômica (RTE), apontado por Pesquisas no tema inovação em serviços Callon (1991) por ocasião da avaliação da rela- poderiam, portanto, explorar as lacunas acima ção de recursos da empresa com a performance identificadas. Além disso, considerando a carên- de inovação, com ênfase nas capacidades geren- cia de estudos de inovação em serviços na admi- ciais dos recursos humanos e na capacidade de nistração pública, assim como a exploração de conexão com os clientes, fornecedores, univer- técnicas qualitativas e quantitativas em uma sidades e outros agentes. Os temas cultura e mesma pesquisa, conforme identificado na revi- valores organizacionais são tratados por apenas são da literatura, propõe-se o desenvolvimento de dois dos artigos revisados. A temática da cultura, uma agenda de pesquisas futuras sobre inovação com seus elementos e pressupostos culturais em em serviços, considerando o quê, como e qual ambiente inovador, potenciais características de escopo pesquisar com foco: a) em abordagens atitudes empreendedoras e identificação de orien- mistas, já que a ocorrência de técnicas qualita- tações estratégicas para inovação nesses mercados, tivas e quantitativas na mesma pesquisa foi rara; é considerada, nessa linha, como outra lacuna nas b) na identificação de fatores determinantes de pesquisas sobre inovação em serviços. inovação no ambiente público, uma vez que a gran- R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 14, n. 44, p. 293-313, jul./set. 2012 307 Pedro Carlos Resende Junior / Tomás de Aquino Guimarães de maioria das pesquisas se deu no ambiente priva- da indústria de alimentos do Brasil. Revista de do; c) no desenvolvimento de escala de orienta- Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, ção para inovação, por causa da constatação da v. 11, n. 4, p. 87-108, 2007. lacuna de mensuração das atividades e dos resultados deste construto; e d) na identificação de fato- CAINELLI, G.; EVANGELISTA, R.; SAVONA, res determinantes de desempenho no ambiente M. Innovation and economic performance in público, utilizando metodologia multinível. services: a firm-level analysis. Cambridge Journal of Economics, Oxford, v. 30, n. 3, p. 435-458, May 2006. REFERÊNCIAS CALLON, M. Réseaux technico-économiques AGARWAL, R.; SELEN, W. Dynamic capability et irréversibilités. In: BOYER, R.; CHAVANCE, building in service value networks for achieving B.; GODARD, O. (Eds.). service innovation. 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