XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. ANÁLISE DE CONVERGÊNCIA ENTRE INOVAÇÃO E ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO: ESTUDO A PARTIR DO MANUAL DE OSLO E DOS MODELOS TECHNOLOGY, ORGANIZATION AND ENVIRONMENT (TOE) E DIFFUSION OF INNOVATION (DOI) Rodrigo Cesar Reis de Oliveira (UFBA ) [email protected] Este ensaio tem como objetivo analisar a convergência entre as temáticas inovação e adoção de tecnologia da informação. Nesse sentido, são considerados o Manual de Oslo e os modelos teóricos Technology, Organization and Environment (TOE) e Diffusion of Innovation (DOI), referenciais relevantes em estudos de ambos os fenômenos. Evidencia-se que há convergência entre os temas nos três parâmetros de análise, pois, em algum momento, cada um dos modelos e o referido manual retratam a relação direta entre eles, transparecendo similaridade ou complementaridade. Sugere-se que pesquisas empíricas sejam desenvolvidas para um aprofundamento do entendimento das especificidades e fronteiras entre os fenômenos analisados na perspectiva do presente estudo. Palavras-chaves: Inovação; Adoção de Tecnologias da Informação; Análise de Convergência XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 1 Introdução Ao vivenciar o paradigma das tecnologias da informação, cujos impactos começaram a ser evidentes a partir da década de 80, é possível perceber que sua construção teórica tem evoluído rapidamente. Nessa evolução, as respostas teóricas aos processos de transformação tecnológica e organizacional não são triviais, já que são diversos os tipos de organizações presentes no capitalismo (TIGRE, 1998). A relevância das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC, aqui abordadas como sinônimo de Tecnologias da Informação – TI, leva a impactos além do nível organizacional. O impacto das delas chega a economia e a sociedade e traz consigo novos conceitos e práticas que passam a caracterizar novas formas de organização da produção, além de criar novos cenários competitivos, e transformar o ambiente social e produtivo (TIGRE, 2006). Diante de tal relevância, um dos aspectos que permeiam as organizações é a questão da adoção de tecnologia da informação, já que a constante inovação e rápida evolução dos recursos tecnológicos representa considerável aumento da diversidade de opções a serem adotadas. Desse modo, gestores precisam monitorar continuamente o ambiente, além de verificar novas alternativas tecnológicas. Assim, é possível descobrir ferramentas de TI que possam ser incorporadas ou mesmo substituir as utilizadas atualmente no ambiente organizacional. Ademais, empresários devem avaliar e decidir qual a melhor opção para adaptar à necessidade do negócio. Contudo, é preciso perceber que o processo de ADTI não é trivial, pois envolve decisões complexas, arriscadas e incertas, com pouca ou nenhuma garantia de sucesso (SUÁREZ; SILVA; SOUZA, 2011). A essencialidade das TI pode ser evidenciada a partir dos investimentos realizados para aquisição das mesmas. Os gastos são crescentes e pesquisas mostram que as organizações brasileiras irão investir 133,9 bilhões de dólares em TI em 2013, o que representa um aumento de 6% se comparado com a estimativa para 2012, de 126,3 bilhões de dólares (COMPUTERWORLD, 2012). Tal crescimento do uso das TI foi potencializado, principalmente, pelo uso crescente da internet em atividades comerciais, o que representou novo impulso em direção à chamada economia do conhecimento. Ao romper barreiras geográficas, as redes de computadores 2 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. possibilitaram o surgimento de cadeias globais de suprimentos, além de aproximar fornecedores e usuários que passaram a acessar informações on-line em qualquer localidade, o que deu nova dimensão ao processo de transformação. Assim, fatores dinâmicos como inovação, desenvolvimento de novas aplicações e crescente competição, combinados, contribuem para a redução de custos, viabilizando o crescimento e expansão das tecnologias da informação e comunicação não apenas nas nações desenvolvidas como também em países em desenvolvimento (TIGRE, 2005). Para Tigre (2002) apud Santos (2005, pg. 2) “o processo de inovação é incerto e, por isso, a direção assumida pela tecnologia pode apresentar variações”. Nesse sentido, a trajetória assumida pelas inovações depende de mudanças essencialmente sistêmicas, particularmente pela necessidade de consolidação de uma nova infraestrutura para que seja possível a promoção de mudanças organizacionais e a introdução de um processo de aprendizado contínuo. A partir desse contexto, a adoção de tecnologias da informação tornase um processo complexo e dependente de inúmeras variáveis, tanto objetivas quanto subjetivas, nem sempre conhecidas e/ou controladas. 2 Fundamentos conceituais 2.1 Tecnologia da informação O impacto da implantação da TI pode ser evidenciado pelo argumento de Amaral Filho (2012) que afirma que a década de 1990 assistiu ao uso intensivo das TI, por indivíduos, empresas e governos em suas rotinas de atividades. Isso implicou na troca de informações e imagens através das redes de computadores que gerou a relativização das distâncias espaciais. Desse modo, emerge um novo conceito, o da proximidade organizacional, viabilizado pela inserção de indivíduos e organizações nas redes de comunicação. A TI pode ser entendida como a combinação estruturada de hardware, software e redes de computadores, usados na execução de tarefas de processamento de dados, tais como: captura, transmissão, estocagem, recuperação, manipulação e exibição de dados (CORDENONSI, 2005). Tais tarefas têm sido essenciais às organizações, desde processos operacionais aos estratégicos, contribuindo para melhoria dos mesmos e para tomada de decisões mais consistentes, principalmente quando a TI é usada via sistemas de informação. 3 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Percebe-se um crescimento quantitativo e qualitativo na absorção da TI nas unidades de negócio. De fato, a evolução contínua das TI tem influenciado as possibilidades de inovação dos negócios. Para Batista (2004), a implantação de tecnologias da informação pode resultar em sucesso apenas se os gestores souberem lidar com três perspectivas que são inerentes ao contexto organizacional: organização, tecnologia e pessoas. 2.2 Adoção de tecnologias da informação Apesar do aumento evidente dos investimentos em TI no Brasil, ainda existem dúvidas entre pesquisadores e executivos sobre os tipos de benefícios proporcionados por ela. Nesse sentido, Beltrame e Maçada (2009) argumentam que a TI não é apenas uma ferramenta para automatização de processos existentes, mas também um facilitador das mudanças organizacionais que podem conduzir a organização a ganhos adicionais de produtividade. Suárez, Silva e Souza (2011) complementam os argumentos dos autores supracitados e afirmam que o papel das TI tem mudado, a partir do cenário global inerente aos negócios. Passam então a representar dispositivos estratégicos e competitivos de transformação das estruturas, processos e estratégias organizacionais. Desse modo, o processo de adoção de tecnologias da informação é considerado complexo, tornando-se necessária a adoção de ferramentas para auxiliar os gestores na avaliação do investimento em TI, aumentando a transparência da decisão em relação à adoção, possibilitando, por exemplo, a justificativa sobre o investimento. Ao revisar a literatura sobre os modelos de adoção de tecnologias da informação em organizações, Oliveira e Martins (2011) afirmam que dentre as muitas teorias usadas na área de sistemas de informação, as mais usadas para análise da adoção de TI são: o technology acceptance model (TAM), a theory of planned behaviour (TPB), unified theory of acceptance and use of technology (UTAUT), diffusion of innovation (DOI) e a technology, organization and enviroment (TOE). Entretanto, salientam que apenas os modelos DOI e TOE são para análise em nível organizacional, sendo os demais (TAM, TPB e UTAUT) para análises no nível dos indivíduos. 4 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. A Figura 1 apresenta as principais teorias usadas para análise da adoção de tecnologias da informação, indicando seus principais autores e o nível de análise de cada umas delas. Figura 1: Teorias usadas para análise da adoção de TI Teoria Teoria da Difusão da Inovação (DOI) Modelo de Aceitação de Tecnologia (TAM) Teoria do Comportamento Planejado (TPB) Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Principais autores Rogers (1995) Davis (1989) Ajzen (1991) Venkatesh et AL (2003) Nível de análise Organizacional Individual Individual Individual Tecnologia Tecnologia,(UTAUT) Organização e Ambiente (TOE) Tornatzky e Fleischer (1990) Organizacional Fonte: Adaptado de Oliveira e Martins (2011) 2.3 Inovação A centralidade da inovação no que se refere ao desenvolvimento de produtos e da produtividade é evidente nos diversos cenários organizacionais. Entretanto, embora tenha havido evolução no entendimento sobre as atividades de inovação e de seu impacto econômico, tal entendimento ainda é deficiente. Isso ocorre, pois o processo de inovação evolui constantemente, assim como a economia mundial (MANUAL DE OSLO, 2004). O fenômeno da inovação pode ser visto como o principal drive do capitalismo. Nessa visão schumpeteriana, que revoluciona a concepção da ciência econômica, cada ciclo, ou onda de crescimento econômico é único, devido a uma variedade de inovações técnicas que as inaugura e carrea (QUINTELLA E DIAS, 2000). As organizações podem realizar diversos tipos de mudanças em métodos de trabalho, fatores de produção e tipos de resultados que aumentam sua produtividade e/ou seu desempenho. O Manual de Oslo define quatro tipos de inovações que representam um amplo conjunto de mudanças nas atividades organizacionais, quais sejam: inovações de produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing (MANUAL DE OSLO, 2004). 5 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 3 Convergência entre inovação adoção de tecnologias da informação Para analisar a convergência entre inovação e adoção de tecnologia da informação (ADTI), foram extraídos todos os trechos do Manual de Oslo que tratam de tecnologias da informação, pois este manual, já em sua terceira edição, desde 1992 contempla as diretrizes para coleta e análise de dados sobre inovação. A partir dos trechos é tecida a análise do referido manual, na busca por aspectos que ressaltam a relevância das tecnologias da informação no contexto de análise da inovação. Vale relembrar também que neste ensaio a TI pode ser entendida como sinônimo das TIC tecnologias da informação e comunicação, principalmente quando considerado o uso de redes de comunicação. Em seguida, em 3.2 e 3.3, são analisados os modelos teóricos Diffusion of innovation – DOI e Technology, Organization and Environment TOE, também buscando evidencias as relações entre ADTI e inovação. Estes últimos foram escolhidos por serem, como evidenciado anteriormente, modelos que são adequados a análise no nível organizacional e por serem reconhecidamente relevantes para a análise dos dois fenômenos em pauta. 3.1 Análise do manual de oslo O manual evidencia que a abordagem sobre inovação ou mudança organizacional “tem sido utilizada também em análises empíricas, como a da relação entre inovação organizacional, investimento em Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) e produtividade” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 18). Assim, é possível perceber que o manual inicialmente já apresenta a relevância do entendimento da interrelação entre TIC e o fenômeno da inovação ou mudança organizacional. No trecho abaixo, o manual reafirma a relevância das TIC. Dessa vez, é possível perceber que para que os investimentos em tecnologia da informação (que estão dentro do escopo da adoção de TI) tenham efeito sobre a produtividade, é necessário que sejam realizadas mudanças organizacionais. Assim, é possível entender uma via de mão dupla entre ADTI e inovação, ou seja, não só é necessário adotar TI para que seja possível inovar nas organizações, mas também é necessário inovar, principalmente do ponto de vista dos 6 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. processos organizacionais, para que a TI e seu uso seja potencializado do ponto de vista da produtividade. “(...) o impacto das inovações de processo pode depender de mudanças organizacionais para tirar vantagem desses novos processos. Um exemplo bem documentado é a importância das mudanças organizacionais para o impacto dos investimentos em tecnologia da informação e da comunicação (TIC) sobre a produtividade” (BRYNJOLFSSON & JITT, 2000; OECD, 2004 APUD MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 125). No trecho abaixo, o termo é propriamente adoção de tecnologias da informação e comunicação, sendo relacionada ao desempenho organizacional, incorporando também a geração de TIC. De fato, como visto anteriormente, Lunardi, Dolci e Maçada (2010), argumentam que as organizações que planejam efetivamente a aquisição de TI possuem maior possibilidade de potencializar o desempenho em mercados cada vez mais competitivos. “(...) há outros meios de examinar as mudanças nas empresas que incrementam sua produtividade e desempenho. Alguns dos investimentos intangíveis mais relevantes são examinados: geração e adoção de tecnologias da informação e da comunicação (TIC), biotecnologia e gerenciamento do conhecimento” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 31). O Manual, ao definir TIC, contempla apenas hardware e software. Como visto no tópico sobre tecnologia da informação, seria essencial que incluísse redes, já que elas são essenciais para um entendimento atual das TIC. Por outro lado, a mesma passagem, da página 32, evidencia a relevância da difusão e consequente adoção de TIC na produção e nos empregos, o que é fato, já que, a partir da automação de processos organizacionais, os empregos foram transformados, principalmente com a maior especialização dos trabalhadores. É possível evidenciar ainda, a partir do manual, que a adoção de TI pode ser entendida em casos de incorporação de novas tecnologias, propriamente como uma inovação de processo, pois “as inovações de processo também abarcam técnicas, equipamentos e softwares novos ou substancialmente melhoradas em atividades auxiliares de suporte, como compras, contabilidade, computação e manutenção” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 59). É possível ainda ratificar o argumento da adoção de TI como inovação quando extrai-se do manual que “a implementação de tecnologias da informação e da comunicação (TIC) novas ou 7 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. significativamente melhoradas é considerada uma inovação de processo se ela visa melhorar a eficiência e/ou a qualidade de uma atividade auxiliar de suporte” (MANUAL DE OSLO, 2004, pg. 59). 3.2 Diffusion of innovation Segundo Rogers (1995), difusão é um processo pelo qual uma inovação é comunicada, através de certos canais, durante o tempo por membros de um sistema social. É um tipo especial de comunicação, no qual o conteúdo da mensagem é composto por novas ideias. Nesse contexto, comunicação é um processo no qual os participantes criam e compartilham informações, de forma a tornar possível o entendimento mútuo. Ademais, o caráter de inovatividade presente na difusão traz consigo também um certo aspecto de incerteza. Por outro lado, traz também a possibilidade de proporcionar uma mudança social, isso ocorre quando novas ideias são criadas, difundidas e adotadas ou rejeitadas, trazendo certas consequências, inclusive possibilitando mudanças sociais. Ainda de acordo com Rogers (1995), muitas das “novas ideias” analisadas no seu livro “Diffusion of innovation”, são, na verdade, inovações tecnológicas e o mesmo afirma que geralmente utiliza as palavras inovação e tecnologia como sinônimos. Entretanto, retrata a dificuldade de entendimento e estudo das inovações representadas por software, pois são intangíveis, diferentemente das representadas por hardware, pois este pode ser mensurado facilmente. Segundo Oliveira e Martins (2011), o modelo DOI analisa a inovação organizacional a partir da influência das seguintes variáveis: características individuais, relacionadas à atitude dos líderes para mudança; características internas da estrutura organizacional, incluindo aspectos como centralização, complexidade, formalização e tamanho e características externas da organização, relacionadas ao entendimento da mesma como um sistema aberto. Sendo que esta teoria tem sido aplicada e adaptada em pesquisas na área de sistemas de informação (ROGERS, 1995) Para Fichman(1992) apud Santos (2005), são necessárias modificações e extensões para que a teoria clássica da difusão seja aplicável ao estudo da adoção de inovações pelas organizações, conforme descrito abaixo: 8 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 1. algumas variáveis clássicas não se adequam ao nível de análise organizacional, como por exemplo, as características do adotante; 2. a adoção de uma inovação por parte de uma organização não é tipicamente um evento binário (aceitação ou rejeição), mas antes, um estágio de um processo que se desenvolve ao longo do tempo; 3. o processo de decisão organizacional, particularmente na ausência de um tomador de decisão individual dominante, frequentemente envolve interações complexas entre vários agentes. Para Rogers (1995) o processo decisório da inovação é um processo pelo qual um indivíduo ou grupo de decisores passa que inclui cinco etapas. Primeiramente toma-se conhecimento acerca da inovação, em seguida forma-se uma opinião sobre a inovação, assim é possível decidir pela adoção ou rejeição. Sequencialmente, parte-se para a implementação da nova ideia e por fim a avaliação da decisão tomada. Assim como a inovação é vista como processo decisório, a adoção de tecnologias da informação também pode ser vista por essa perspectiva. Santos (2005) afirma que diante das diversas nuances relativas à adoção de TI, tal processo exige que se tomem decisões de aquisição num contexto de riscos e incertezas, diante de tamanha diversidade de alternativas existentes em termos de tecnologia, padrões tecnológicos e fornecedores. Ainda segundo esse autor, a TI se apresenta como um dilema aos gestores que, de um lado, têm a TI como recurso essencial para obtenção de diferencial competitivo e, de outro, a velocidade das mudanças tecnológicas torna complexo o processo de tomada de decisão inerente a TI. Ainda segundo Fichman (1992) apud Santos (2005) uma das maiores limitações da teoria clássica da difusão é a hipótese implícita de que os indivíduos adotam inovações para seu próprio uso, em vez de considerar que eles são parte de uma comunidade maior de usuários interdependentes. Existem no mínimo duas formas em que uma tecnologia pode envolver importantes interdependências entre usuários. Primeiro, a tecnologia pode estar sujeita aos efeitos de rede, o que significa que o valor do uso dessa tecnologia, para qualquer usuário individual, é função do tamanho da rede de usuários. Segundo, o uso da tecnologia pode ser interrelacionada com as rotinas organizacionais, o que implica que qualquer interação dos indivíduos com o sistema deve estar de acordo com um processo organizacional maior. (KATZ; SHAPIRO, 1986; NELSON; WINTER, 1982 APUD SANTOS, 2005) 9 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 3.3 Technology, organization and environment Ao usar o modelo Technology, Organization and Environment (TOE), os estudos incorporam a análise dos componentes do modelo tanto para a análise da adoção de tecnologia da informação quanto para a análise do fenômeno da inovação tecnológica. Vale ressaltar que a adoção de TI pode ser vista, em alguns momentos como sendo um processo de inovação, mas vale ressaltar que nem sempre a adoção de TI deverá ser entendida como inovação, pois muitas vezes adotar TI não pressupõe a aquisição de produtos ou processos inovadores. O TOE identifica três aspectos no contexto organizacional que influenciam o processo pelo qual ocorre a adoção e implementação de uma inovação tecnológica, quais sejam: o contexto tecnológico, ou seja, aspectos internos e externos relacionados a tecnologias; contexto organizacional, refere-se a características como o escopo de atuação, tamanho e estrutura gerencial. Por fim, o contexto ambiental é analisado considerando a arena em que a empresa conduz o seu negócio, incluindo segmento de mercado, concorrentes e relações com o governo (BAKER, 2012). O TOE, desenvolvido por Tornatzky e Fleischer (1990) tem sido testado e validado por muitos estudos e é considerado um modelo aplicável à adoção e difusão de tecnologia, podendo ser usado inclusive para estudos em micro e pequenas empresas (RAMDANI; KAWALEK, 2008). Para Baker (2012), o modelo TOE representa um segmento de estudo, no contexto da área de pesquisa em inovação tecnológica. Afirma ainda que as pesquisas existentes têm demonstrado que o TOE possui aplicabilidade e poder explanatório em inúmeros contextos tecnológicos, industriais, em diferentes contextos culturais e de nacionalidade. Ademais, o TOE tem sido usado para estudos em diversos tipos de organizações, além de já ter sido testado em contextos da Europa, América e Ásia. 4 Considerações finais O presente estudo buscou analisar a convergência existente entre os fenômenos de inovação e a adoção de tecnologias da informação. De fato, fica evidente a existência de tal 10 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. convergência entre os temas que em alguns casos chegam a ser tratados como similares, mas precisam ser, em outros momentos, diferenciados a partir de suas especificidades. Nesse sentido, Tigre (2005, pg. 32) afirma que cabe uma analogia entre inovação e difusão de novas tecnologias, pois “as novas ideias, a exemplo das inovações tecnológicas, não alcançam sucesso enquanto não surgem condições econômicas, sociais e inovações complementares adequadas à sua aceitação”. Desse modo, é preciso que o fenômeno da adoção de TI seja devidamente conhecido e sistematizado, para que contribua também para uma difusão consistente de novas tecnologias. Cabe ressaltar que fica evidente a indissociabilidade entre difusão e adoção, pois uma alimenta a outra. Nesse sentido, Tigre (2005, pg. 12) afirma que embora a inovação abra oportunidades para empresas crescerem, criarem mercados e exercerem um poder monopolista temporário, somente sua difusão ampla tem impacto macroeconômico. Quando analisado o Manual de Oslo, foi possível evidenciar ainda que a adoção de TI pode ser propriamente uma inovação de processo, nos casos de doção de novas tecnologias da informação. Já na análise do modelo Diffusion of Innovation, a adoção é, de certo modo, entendida como sinônimo de inovação ou complementar a ela, com ressalva para as peculiaridades de análise para hardware e software, pois há dificuldade de mapeamento da difusão da inovação a partir de software, devido a sua intangibilidade, diferentemente da inovação de hardware que possibilita melhor análise de difusão. Por fim, verificou-se que no modelo TOE também há similaridade entre o entendimento da inovação e da adoção de tecnologias da informação,entretanto, é essencial que tal modelo seja revisitado e renovado a partir de novas pesquisas. Sugere-se que novos estudos sejam feitos a partir das reflexões e análises evidenciadas neste ensaio. Nesse rumo, propõe-se que a análise de convergência seja levada a campo, para que se verifique, em estudo empírico, o entendimento da inovação e da adoção de tecnologia da informação, pois os dois fenômenos, em alguns aspectos, transparecem similaridade em outros distinção, ou ainda evidenciam ser complementares. 5 Referências 11 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. AMARAL FILHO, Jair. É negócio ser pequeno, mas em grupo. In. Painel Micro, pequenas e médias empresas. 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