Apostila básica do curso de Parapente Por: Carlos Henrique de Oliveira Carvalho Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br A proposta deste material é fornecer informações básicas e fundamentais aos iniciantes na prática do Voo Livre de Parapente. Um bom piloto perceberá que está em contínuo processo de aprendizagem, uma vez que a evolução do esporte conta com substancial contribuição dos avanços tecnológicos, que têm permitido a fabricação de equipamentos cada vez mais seguros, bem como o surgimento de novas técnicas de voo, através de experimentos realizados com frequência pelos pilotos mais antigos. Cabe ressaltar que a prática do voo livre é um esporte classificado como radical, oferecendo constante grau de risco à integridade física e à vida do praticante. Por tanto, esteja disposto a seguir rigorosamente às orientações do seu Instrutor de Voo, para reduzir ao máximo as possibilidades de acidentes. Reflexão: Deixo aqui a máxima que aprendi com meu mestre, o renomado Instrutor de Voo Livre LUCIANO MIRANDA - Niterói, RJ: "É melhor estar em baixo querendo estar em cima, do que estar em cima querendo estar em baixo". Carlos Henrique de Oliveira Carvalho Instrutor de Parapente 2 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br Palavras do mestre O melhor piloto não é o que acerta, mas o que conserta mais rápido os erros. Isso nos faz pensar que, no voo, nunca estamos totalmente certos. Há sempre o que corrigir. Há sempre o que aprender. Os que pensam assim alcançam mais rapidamente os níveis satisfatórios de segurança e progridem até chegar aos mais altos níveis do voo. Estou certo que os alunos do meu amigo Carlos Henrique estarão em boas mãos, pois ele, enquanto aluno, foi dedicado, estudioso, competente e, acima de tudo, humilde a ponto de reconhecer a cada passo o ato certo da correção. Luciano Miranda Machado Asas Ecológicas de Niterói, RJ Instrutor de Parapente / Paramotor 3 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br SUMÁRIO Capa...................................................................................... 01 Apresentação.......................................................................... 02 Palavras do mestre...................................................................03 Sumário................................................................................. 04 Programa do curso básico......................................................... 05 A história do parapente ........................................................... 06 Histórico ............................................................................... 07 O equipamento ...................................................................... 08 As modalidades de voo ............................................................ 11 Observando as nuvens ............................................................ 12 A vida de um Cumulus ............................................................ 14 Nuvens perigosas ................................................................... 15 Bibliografia / Contatos.............................................................. 16 4 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br Programa de aula para o Curso Básico de Parapente 1. 2. Apresentação do equipamento - condições psicológicas adequadas - condições meteorológicas adequadas - equipamentos adequados Protocolos de segurança 3. Treinamento prático de inflagem 4. Exercícios de decolagem 5. Exercícios de pouso 6. Voos duplo de instrução 7. Prova inicial 8. Voos Solo monitorado 9. Prova final 10. Carteira de Piloto Desportivo - métodos de inflagem - controle de pêndulos - exercícios de direção - slalom - postura ideal - anda e pára - subida do morrinho c/ vela inflada - aproximação segura - controle de stall - comportamento do equipamento em voo - controle de pêndulos, da direção etc. - controle da vela e deslocamentos em solo - decolagem e pouso do morrinho - rampas oficiais - decolagem, voo e pouso 5 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br A História do Parapente. Antes de falar do nosso equipamento propriamente dito, a primeira notícia de um voo experimental foi com um planador, aproximadamente 300 A.C., quando o filósofo Architas, de Taranto, fez uma tentativa frustrada com o seu pombo mecânico, baseado na força muscular do piloto. Na verdade foi uma tentativa com asas voadoras demasiadamente rudimentares, que o inventor julgara ser necessário o movimento de "bater" as asas, como fazem os pássaros. Ovídio, o brilhante escritor que viveu no século anterior a Cristo, havia concebido o homem voador, em sua obra Metamorfoses, Livro III, Cap. 3º, ao relatar as aventuras de Dédalo e seu filho Ícaro, na fuga de uma prisão de Creta, onde haviam sido feitos prisioneiros do rei Minos. Ícaro, desprezando as instruções de seu pai, subiu muito alto, com suas asas feitas de penas de pássaros, interligadas com cera de abelha. O calor solar derreteu a cera e causou a queda de Ícaro sobre o mar Egeu. Segundo a obra de Ovídio, Ícaro foi a primeira vítima da tentativa humana de alçar voo num par de asas. Ícaro passou a ser a figura mitológica representativa do homem voador. Sua imagem era um desafio aos seus pósteros. O Parapente (em francês) ou Paraglider (em inglês) é um aeroplano (aeronave mais pesada do que o ar), em cuja asa (inflável e semelhante a um paraquedas, que não apresenta estrutura rígida), são suspensos por linhas o piloto e possíveis passageiros. Costuma-se denominar paramotor o parapente no qual um motor é empregado para propelir o piloto. O voo de parapente é uma modalidade de voo livre que pode ser praticado tanto para recreação quanto para competição e é considerado esporte radical. O parapente pode ser descrito como um híbrido entre a asa delta e o paraquedas. Diferentemente do paraquedas o parapente oferece um voo dinâmico, onde o piloto pode controlar sua ascendência e direção, dependendo das condições meteorológicas, como velocidade do vento e termais. 6 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br Histórico. Tudo começou nas pesquisas com relação ao retorno de cápsulas espaciais à Terra. O paraquedista americano e engenheiro em aerodinâmica, chamado David Barish dedicou-se à concepção de um novo paraquedas especificamente destinado ao projeto Apollo. David produziu alguns protótipos, até que em 1965 ele construiu uma espécie de velame. A fim de fazer alguns ajustes, o americano decolou com o velame do monte Hunter nos EUA. Era um equipamento muito peculiar. Possuía uma forma diferente dos parapentes atuais, mas já contava com o bordo de ataque composto de extradorso e intradorso em dois painéis independentes. O tecido inferior cobria um terço da corda e ele era composto inicialmente de três e logo em seguida, de cinco grandes gomos. Ao voar daquela montanha perto de Nova York, David Barish colocou o nome de slope soaring na nova atividade. Ele chegou a construir um equipamento com um planeio absolutamente incrível para a época: 4,2:1! Somente vinte anos mais tarde os equipamentos teriam esta característica. Paralelamente, Domina Jalbert inventa um paraquedas cujo velame é composto por células (para gerar efeito asa). Este paraquedas com dorso e intradorso, separados pelas células, foi o ancestral dos atuais paraquedas, parapentes e kites (as velas do kitesurf). O parapente, propriamente dito, foi criado no Parachute Club d'Annemasse (França), em 1978 para treinar os paraquedistas na precisão da aterrissagem, sem a necessidade de se utilizar um avião. Em 1980 foi aí criado o primeiro estágio de vol de pente (voo de encosta) e três anos mais tarde o nome muda para parapente. Em 1985 é reconhecido como desporto pela "Fédération Française de Vol à Voile". Desde então passaram a evoluir separadamente e, atualmente, a diferença mais importante entre paraquedas e parapente é em relação ao chamado L/D (em inglês, Lift and Drag), ou coeficiente de planeio, que significa a distância horizontal que se pode atingir quando se parte de certa altura. Por exemplo: com um parapente de L/D 7, se decola de uma altura de 1 km, atinge-se 7 km de distancia horizontal. Nos parapentes atuais os L/D's são superiores a 8, já os paraquedas são muito inferiores a isto. 7 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br O Equipamento - Velame É feito de materiais como nylon e poliéster não porosos e impermeabilizados, para que o ar que entra não saia através do tecido, mantendo assim a pressão interna e o velame inflado. Quanto mais horas de voo e exposição ao sol, mais desgastado fica o velame causando a perda da impermeabilidade, aumentando a porosidade e tendo assim uma diminuição da performance. O velame varia de tamanho de acordo com o peso do piloto mais o equipamento, e para voos duplos a área da vela pode aumentar em até 50% o seu tamanho. - Células São os gomos do parapente e variam de quantidade de um modelo para outro, diferenciando assim a performance. - Extradorso É a parte de cima do velame, ou seja, as costas. - Intradorso É a parte de baixo do velame, ou seja, a barriga onde se prendem as fileiras de linhas. - Estabilizador É a ponta do velame e visa à estabilidade em torno do eixo vertical. Faz com que o parapente aproe para o vento e funciona impedindo a passagem de parte do ar do intradorso, que tem pressão maior, passe para o extradorso, que tem pressão menor, diminuindo assim o aumento do arrasto causado pelo turbilhonamento da ponta da asa. - Bordo de ataque É a parte da frente das células do velame onde se encontram as aberturas por onde o ar entra. - Bordo de fuga É a parte de traz do velame que é costurada para o ar não sair e onde as linhas do freio atuam para que se possa fazer as curvas, através da deformação de um dos lados, ou diminuir a velocidade, atuando dos dois lados simultaneamente. - Freios São a união dos batoques e linhas usadas para frear e direcionar o parapente. São usados para aumentar a sustentação na decolagem e, no pouso, para amortecer a chegada. O freio é muito importante, pois através dele é que sentimos a variação de 8 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br pressão do velame em voos turbulentos. É necessária uma pilotagem ativa aumentando e diminuindo a tensão na linha de freio, para compensar a variação de pressão. - Batoques São as argolas que o piloto usa para segurar, ligadas às linhas de freio. - Linhas São as linhas do parapente que unem o velame aos tirantes e são feitas de vários materiais como o dinema, aramida, tecnora e kevlar. - Suspensão É composta pelas linhas que unem os elevadores ao velame. A mais comum nos dias de hoje é a suspensão linear, tendo cada tirante uma fileira individual de linhas. - Elevadores ou Tirantes São as tiras que unem as linhas aos mosquetões e são formadas por 2 a 5 elevadores. São classificados como tirantes A, B, C e D. O tirante A pode se subdividir em dois: A e o chamado a (azinho), sendo este utilizado para fazer orelhas. - Acelerador É um dispositivo usado para encurtar o elevador dianteiro, ou tirante A, mudando o ângulo ALFA do parapente, chamado de ângulo de ataque da vela, o que altera a velocidade horizontal e vertical do parapente, fazendo com que ele voe mais rápido ou mais devegar. - Trimmer É um tipo de acelerador usado para alongar o elevador traseiro, ou tirante D do parapente. Este dispositivo atua mudando o ângulo ALFA, chamado de ângulo de ataque da vela, o que altera a velocidade horizontal e vertical do parapente, fazendo com que ele voe mais rápido ou mais devegar. - Mosquetinhos Feitos de aço. Ligam as linhas aos tirantes. - Selete ou Arnés ou Arnez É a cadeira de voo e existem vários tipos: As de escola, para iniciantes treinarem - São usadas para inflar e fazer pequenos voos a baixa altura. Também usadas para levar passageiros em voos duplos. Não possuem paraquedas reserva. As de voo duplo, projetadas para o piloto que carrega passageiro - Têm uma abertura permitindo maior mobilidade para as pernas e possuem um paraquedas reserva para duas pessoas. 9 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br As de voo solo, utilizadas por todos os níveis de pilotos - São vários modelos com e sem carenagem, possuem paraquedas reserva e variam nos itens de fabricação. - Paraquedas reserva Equipamento de uso obrigatório para segurança em voo. Usado para emergências no caso de colisão em voo, desinflagem com engravatamento irrecuperável, causando a perda de altitude irreversível. O tamanho do paraquedas reserva varia com o peso a ser sustentado. O tipo mais utilizado é o redondo, semelhante ao utilizado por militares, porém este modelo possui pouca ou nenhuma dirigibilidade (levado pelo vento). Existem outros tipos, como o Rogalo que tem a forma semelhante a de um triângulo e permite o controle do voo até o solo, podendo o piloto escolher um melhor local para pouso. - Óculos de sol Importante acessório para poder pilotar melhor sem que ao olhar para a vela o sol atrapalhe o piloto. É importante que as lentes tenham realmente proteção UV. - Capacete Item obrigatório de voo, para proteção do piloto e passageiro, caso haja algum acidente, ou incidente na decolagem e/ou pouso. - Botas de voo Geralmente tem proteção lateral para não torcer o tornozelo no caso de pouso forte, ou caminhadas em terrenos irregulares. - Rádio VHF O rádio para comunicação em frequência VHF é conhecido como HT (hand transmitter), de comprimento de onda de 2 metros. - Variômetro ou Vário Dispositivo que permite ao piloto identificar se está na presença de uma massa de ar ascendente ou descendente (termal ou térmica). - GPS Equipamento de orientação e navegação. O GPS é a forma mais eficiente do piloto ter uma noção da altura, direção e velocidade a que se desloca. 10 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br As modalidades de vôo Prego - Consiste em fazer uma decolagem e seguir diretamente para o pouso. É a modalidade praticada pelos alunos e tem como objetivo treinar justamente decolagem e pouso. É de curta, ou curtíssima duração. Lift - É o voo realizado em encostas, ou obstáculos de altura razoável, como: serras, morros e até prédios. Cross Country - É a modalidade mais popular do parapente, tendo como objetivo voar certa distância no menor espaço de tempo possível, ou apenas voar longas distâncias sem se preocupar com o tempo gasto no voo. Normalmente nos campeonatos de Croos Country existe uma comissão técnica que define uma prova (trajeto) com dois ou mais pontos a serem percorridos pelos pilotos. Cada piloto utiliza um GPS para seguir a rota definida pela comissão técnica e o vencedor é o piloto que chegar primeiro ao final da prova (goal). Acrobacia - É uma modalidade extremante radical e que exige muita técnica do piloto para ser realizada com segurança. O inicio da acrobacia como modalidade foi em meados de 2001, quando o piloto espanhol Raul Rodriguez inventou a manobra conhecida como SAT, onde o piloto gira de costas com um eixo vertical que fica entre o piloto e o parapente. A partir da descoberta desta manobra, foram inventadas varias outras manobras e então começaram a surgir os campeonatos de acro. Todos os campeonatos de acro são obrigatoriamente realizados sobre a água, onde os pilotos definem as manobras que irão realizar e os juízes analisam a velocidade, ritmo e conexão entre as manobras que o piloto realiza. Atualmente já existem cursos específicos para este tipo de modalidade e aprender a fazer acrobacia está se tornando cada vez mais fácil e seguro. 11 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br Observando as nuvens Qualquer que seja a aeronave com que se voa, é vital a compreensão e o respeito pelas condições meteorológicas. Este conhecimento afasta o medo e apreensão, tornando o piloto mais confiante. Neste sentido, vamos começar observando as nuvens e suas classificações: Cumulus Estratus Lenticulares Nuvens de várias camadas 11.000m11111 Camada Alta 6.000m Camada Média 3.000m Camada Baixa 0m 12 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br As fotos de cumulus em desenvolvimento e movimento das nuvens podem fornecer bastantes informações sobre o tempo. Quando temos certa quantidade de cúmulos de bom tamanho, pode-se esperar que pelo menos metade das nuvens tenha alguma ascendência quando você as alcançar. Uma pesquisa mostra que debaixo de alguns cúmulos, somente 10% do ar contém ascendência útil. A nuvem ideal está longe de ser rara e a maioria dos pilotos sabe como ela deve ser: tem a base chata, topo bem definido com voltas arredondadas, sem repuxos ou falhas, parecendo-se com um triângulo equilátero. Não é nem muito alta nem muito chata e são bem distribuídas como árvores num pomar. Para conseguir estes cumulus ideais é necessária uma instabilidade moderada, ar relativamente seco e vento vertical com poucas falhas. Na maior parte do verão temos que nos contentar com um tipo mais inferior de nuvens e aprender a tirar o melhor partido delas. O ar pode conter apenas uma quantidade limitada de água, na forma de vapor. Quanto mais quente estiver o ar, mais vapor d'água ele pode conter. Quando o ar arrefece, o excesso de vapor se condensa. A condensação tem início quando o ar arrefece abaixo do ponto de orvalho. Esta é a temperatura na qual o orvalho se forma sobre uma superfície fria. A maioria dos relatórios meteorológicos dos aeroportos fornece a temperatura do ar e o ponto de orvalho (Dew Point - DP). O arrefecimento do ar é geralmente devido à ascensão, mas pode ocorrer também quando o ar entra em contato com o solo frio, ou com o mar. Neste caso, forma-se uma camada de neblina acima da superfície, ou bem perto dela. No arrefecimento por ascensão, a pressão do ar diminui com a altitude. Assim, o ar a subir expande-se. A expansão consome energia e este processo arrefece o ar. Se o ar estiver seco, ele arrefece na razão de 3°C /1000 pés (9,8°C/km). Isto é conhecido como Gradiente de Temperatura Adiabático Seco (Dry Adiabatic Lapse Rate - DALR), que é constante. Adiabático significa que o processo acontece sem troca de calor com o ambiente exterior. O termo Gradiente de Temperatura (Lapse Rate) é usado para descrever a diminuição da temperatura em função da altitude. A figura acima mostra quatro estágios na vida de uma térmica. Em "A" e "B", a coluna está a forçar o ar para os lados, enquanto sobe. A seção inferior vai ficando cada vez mais apertada; quando o ar morno acaba, a coluna é cortada ("C") e a parte superior destaca-se na forma de uma bolha. A bolha mistura-se com o ar externo à medida que se 13 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br expande, ficando diluída. No ponto "D", ela perdeu todo o suprimento de ar morno e começa a deteriorar-se. Térmicas pequenas frequentemente ocorrem em sucessivos "disparos". A figura ao lado mostra a aparência de um cúmulo. O vento está soprando da direita para a esquerda. No minuto 3, uma nova célula começa a formar-se, à direita. No minuto 6, a célula original deteriorou-se. Agora, existe ar descendente no lado esquerdo do cúmulo, mas ainda existe ar ascendente no lado direito. No minuto 9, mais uma célula formase à direita da nuvem, enquanto o topo anterior fica ondulado pelo vento acima. No minuto 12, o topo da nuvem está com ganchos bem desenvolvidos a dissolverem-se no cisalhamento gerado pelo vento sobre a nuvem. No minuto 15, o contorno da nuvem torna-se "esfarrapado", mostrando que ela está quase a dissolver-se. Quanto maior o tamanho da nuvem, mais devagar acontece esta sequência de eventos. Grandes nuvens desenvolvem uma estrutura diferente. Quando as correntes ascendentes e descendentes se combinam, produzem uma circulação de ar de longa duração. A vida de um Cumulus Alguns pilotos têm uma idéia exagerada da duração de uma térmica. É bom estar ciente do tempo de vida de um cumulus, pois alguém pode ficar numa má posição ao esperar tempo demais numa térmica fraca, planejando saltar para outra nuvem com melhor aspecto depois de ganhar altura. Na altura em que você finalmente se mover, a próxima nuvem já pode estar em fim de ciclo de vida. Os cumulus têm sempre melhores aspectos vistos de lado. Se você olhar outra vez para a nuvem fraquinha que acabou de deixar para trás, ela deve parecer melhor agora! Possivelmente, isto se deve ao fato de ela ter recebido uma nova injeção de térmicas desde que você saiu dela. Fique atento, pois muitos cumulus parecem melhores vistos de lado do que por baixo. Algumas nuvens supostamente bem formadas têm uma boa aparência à distância, mas quando você chega por baixo delas, acabam sendo algo bem decadente. Entretanto, se a sua última nuvem perdeu toda a sustentação antes de você deixá-la, vai estar provavelmente a dissolver-se em farrapos quando você olhar para trás. É comum pufs efêmeros, ou mechas brancas aparecerem bem acima de uma forte inversão e desaparecerem num minuto. Na altura em que você as avistar, a térmica já terá acabado. Com sorte haverá outra logo em seguida. Entretanto, se o puf se formar logo por baixo da inversão (onde o ar é mais úmido) normalmente indica uma nova térmica que durará o suficiente para te dar uma boleia. 14 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br Cumulus altos e alongados quase sempre têm vida curta. Estas "nuvens relâmpagos" formam-se em cinco minutos, ou menos e se dissolvem dois minutos mais tarde. Cumulus com uma forma quase triangular têm um tempo de vida moderado. Muitas parecem viver por dez ou quinze minutos, mas podem ser reavivadas por novas térmicas. Quando isto acontece você poderá observá-las começarem a decair e serem realimentadas com uma nova forma. Cumulus que formam uma linha normalmente são uma série de pequenas torres lado a lado e podem durar meia hora ou mais, especialmente se se formaram sobre a linha de uma montanha com uma encosta ensolarada. O tempo de vida depende de: 1. A massa de ar da nuvem e a quantidade de térmicas que continuam a reavivá-la. Quanto maior uma nuvem se torna, mais ela demora a se dissipar, mas irá tornar-se quase inerte no final da sua vida. 2. Quão seco está o ar à volta. A evaporação é lenta no ar úmido, então os cumulus demoram a evaporar. Em contraste, cumulus que penetram no ar muito seco (normalmente encontrado acima da inversão) dissipam-se muito rapidamente. De manhã, dificilmente há uma grande reserva de calor para formar térmicas. Como resultado, as nuvens recebem apenas uma ou duas térmicas. A pobre nuvenzinha fica faminta de energia e logo desfalece. De tarde, os cumulus são normalmente alimentados por várias térmicas, então o seu tempo de vida é maior. Filmagens do tempo de vida mostram que estas nuvens são mantidas por vários novos reavivamentos. Qualquer térmica tem uma vida curta, mas o efeito geral é produzir uma nuvem de tamanho moderado com uma vida de 15 a 30 minutos. Ganchos, dentes pontiagudos e pufs esfarelados são normalmente sinais do vento seco a passar pelo topo da nuvem e evaporando as bolhas arredondadas em fiapos espaçados. O último estágio antes da nuvem desaparecer acontece quando todos os sinais de cumulus já desapareceram deixando uma massa esparramada apenas com descendentes por debaixo dela. Nuvens perigosas Cumulonimbus (CB) são monstros que desenvolvem "supercélulas" e não dependem apenas duma térmica individual. É uma nuvem de contornos bem definidos. Assemelha-se a uma couve-flor, de máxima freqüência sobre a terra de dia e sobre a água à noite. Os muitos desenvolvimentos são chamados de cumulus congestus. Quando apresentam seções fracionadas, são chamados de fracto cumulus. Quando apresentam precipitação em forma de pancadas e nuvem de trovoada, chamamos de cumulonimbus, de bases entre 700 e 1500 metros e quando bem desenvolvidos, os topos chegam de 9 a 12 km. Às vezes em forma de bigorna, são 15 Escola de Vôo Livre Asas da Serra "onde Voar é um estilo de vida" www.asasdaserraparapente.com.br nuvens mistas, formadas por cristais de gelo, gotas d’água, gotas super-resfriadas, flocos de neve e granizo. Produzem trombas de água e funil de rotação violenta (tornados), que possuem em seu interior, correntes de ventos que podem chegar a 180 km/h. Têm formação de atividade imprevisível e violenta, deixando rastros devastadores. Para a condição de voo, por exemplo, durante um dia de sol, quando a umidade do ar é média, por volta das dez horas, começa a atividade térmica. A seguir, começam as primeiras formações de nuvens em função da condensação. Este intervalo pode ser de uma hora e meia e segue durante todo o dia, até que cesse o aquecimento do solo. O aparecimento de cumulus é um bom sinal para a condição de voo. No entanto, quando a atividade térmica é muito intensa, estes “bons cumulus” podem se tornar cumulus congestus e até cumulonimbus (CB). Mas quando você já estiver decolando, voando e pousando com certa habilidade, o assunto relativo à meteorologia será mais amplamente abordado. Até lá e bom treinamento! Bibliografia: - Wikipédia, a enciclopédia livre; - Aeroclube de Tatuí, SP - Artigo da "Gliding & Motorgliding International Magazine" - Autor: Tom Bradbury Edição de Novembro/2001 - Texto traduzido da Revista Cross Country nº 63 - junho/julho de 1999. - 18ª Clínica de Pilotos e Instrutores da ABP, Atibaia, SP - março/abril de 2012. Contatos: [email protected] (24) 2484-1012 (24) 8117-7417 (24) 8107-7236 8*13987 www.asasdaserraparapente.com.br 16