IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica LACUNAS E AUSÊNCIAS NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE PEDAGOGIA NO QUE DIZ RESPEITO ÀS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS) E CÊNCIAS COGNITIVAS Arnaldo Nogaro1 RESUMO O artigo “Lacunas e ausências nos currículos dos cursos de Pedagogia no que diz respeito às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e Ciências Cognitivas,” resulta de pesquisa que investigou currículos dos Cursos de Pedagogias das Universidades com sede no RS, analisando lacunas ou ausências que os mesmos apresentam em relação às TICs e Ciências Cognitivas, tomando por base de referência as Diretrizes Curriculares Nacionais, a dinâmica do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, o progresso das Ciências Cognitivas e o perfil de criança e adolescente que frequentam a escola hoje. A pesquisa é documental e de campo. Foram coletadas informações sobre as matrizes curriculares nos sítios da cada IES e feito enviado questionário às coordenações de curso. O que se pode depreender é que as matrizes curriculares dos cursos estudados apresentam estrutura bastante conservadora, centrada nas áreas tradicionais com presença marcante de disciplinas relacionadas ao uso do computador, não necessariamente abordando novas tecnologias da comunicação e informação. No tocante às Ciências Cognitivas a situação é mais complexa, pois aprecem em poucas matrizes curriculares e os conteúdos relacionados a esta área, quando abordados, são feitos em disciplinas generalistas, sem aprofundamento específico. As respostas dos questionários demonstram que são poucas as ações e atividades desenvolvidas que complementam a formação do Pedagogo nesta perspectiva. Os estudos, quando existentes, estão vinculados à Pós-Graduação. Em síntese, há muito que se fazer para que as TICs e Ciências Cognitivas possam estar efetivamente contempladas nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia das universidades Gaúchas. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologias. Ciências Cognitivas. Formação de professores. Introdução O artigo “Lacunas e Ausências nos Currículos dos Cursos de Pedagogia no que diz respeito às Tecnologias da Informação e Comunicação (Tics) e Ciências Cognitivas”, resulta de pesquisa de campo e documental que buscou investigar os currículos dos cursos de Pedagogia das Universidades com sede no RS, 1 Professor da URI –Campus de Erechim. Doutor em Educação – UFRGS. Integrante do Grupo de Pesquisa Ética e Educação. [email protected] 1 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica ponderando sobre quais as lacunas ou ausências encontradas em relação às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e Ciências Cognitivas. Realizouse o mapeamento das Universidades com sede no Rio Grande do Sul que oferecem curso de Pedagogia, a partir de então, analisou-se os currículos dos referidos cursos identificando as disciplinas relacionadas às Ciências da Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) e Ciências Cognitivas, buscando-se fazer a análise das ementas e conteúdos programáticos das disciplinas relacionadas ao interesse da pesquisa. Procedeu-se o contato com as coordenações dos Cursos para o envio dos questionários. Os dados2 provenientes do questionário foram compilados, organizados e analisados, juntamente com as ementas que tratam das Ciências Cognitivas e das TICs. Foram criadas três categorias para análise: Abordagem das ementas das disciplinas diretamente vinculadas às Ciências Cognitivas; Abordagem das ementas das disciplinas diretamente vinculadas às TICs; Disciplinas, ações ou projetos desenvolvidos nos cursos de Pedagogia indiretamente vinculadas às Ciências Cognitivas e TICs. A arquitetura deste texto está desenhada para tratar dos resultados e análises na sequência acima descrita. Abordagem das ementas das disciplinas diretamente vinculadas às ciências cognitivas A triagem e análise das ementas das disciplinas relacionadas às Ciências cognitivas demonstram que são abordados conteúdos tradicionais e costumeiros, visto que diferentes matérias abordam o tema de maneira parecida voltada, principalmente, para o estudo das teorias da aprendizagem e compreensão do sujeito que aprende, considerando os processos evolutivos normais e patológicos. Ainda possuem estudos dirigidos para a Anatomo-fisiologia e Psicofisiologia do Sistema Nervoso e mecanismos Neuropsicológicos, podendo ser observados nas seguintes disciplinas: Psicologia da educação/da aprendizagem; Estudos 2 Do total de dezenove Cursos os dados sistematizados são referentes às ementas de 13 que foram retirados das páginas das IES ou nos foram enviados pelos coordenadores. Do total dos questionários enviados para as coordenações de cursos retornaram 7. Enfrentamos dificuldades para termos o retorno dos questionários por parte dos coordenadores. Sendo que para alguns coordenadores os mesmos foram enviado três vezes. 2 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica neuropsicopedagógicos; Aprendizagem: princípios psicopedagógicos - pesquisa e prática; Fundamentos biológicos e psicopedagógicos da aprendizagem; Sistema nervoso e aprendizagem; Neuropsicologia. Como podemos perceber a quantidade de disciplinas específicas que tratam da temática de nossa pesquisa é muito reduzida ao compararmos com o número total de ementas de cada curso e no cômputo total de todos os cursos. Estas evidências comprovam nossa hipótese inicial e demonstram a reduzida inserção destes conhecimentos na formação do Pedagogo. Também refletem a natureza conservadora das matrizes curriculares destes cursos e apontam para a necessidade de repensar as matrizes curriculares dentro de uma visão mais atualizada e contemporânea do conhecimento e das descobertas que as Ciências Cognitivas nos possibilitam e nos estendem. Abordagem das ementas das disciplinas diretamente vinculadas às TICs As disciplinas e conteúdos referentes às TICs enfrentam situação um tanto diferente daquela encontrada nas matrizes curriculares referentes às Ciências Cognitivas, uma vez que praticamente todos os cursos de Pedagogia pesquisados oferecem alguma disciplina voltada diretamente para a área da informática, novas tecnologias ou linguagens. As disciplinas aparecem com denominações diferentes (alguns casos iguais em uma ou mais IES), no entanto, os conteúdos estão voltados, em sua maioria, para a aquisição de ferramentas vinculadas ao uso do computador, processamento de dados, banco de dados, programação e equipamentos de multimídia, cultura midiática, parâmetros teórico-práticos para a elaboração e execução de projetos de atividades envolvendo a informática educacional, identificação da relação comunicação e educação na sociedade contemporânea. Relações entre mídia, cultura e subjetividade, utilização da mídia como instrumento didático-pedagógico, sendo que a carga horária varia de 30 a 90 horas. Trazemos os conteúdos das ementas na íntegra, bem como o nome da disciplina para podermos ter noção e conhecimento dos conteúdos tratados e da nomenclatura que identifica cada disciplina. Podendo ser observado nas disciplinas: Educação a distancia; Mídias e educação; Introdução à computação; Educação e tecnologia da informação e comunicação na escola; Educação e tecnologia; Mídia, tecnologias digitais e 3 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica educação; Computador na educação; Educação á distancia e ambientes de aprendizagem; Microcomputador na escola; Mídias e tecnologias digitais em espaços escolares; Tecnologias da informação e da comunicação na educação. Temos a convicção de que a escola precisará descobrir qual será seu papel, quais atividades propor-se-á a desenvolver em seu espaço e como interagirá com a “geração digital”. Ela não poderá querer fazer o mesmo que outros espaços, quanto ao uso das TICs, pois já deu mostras que terá dificuldades de fazê-lo e se o fará será com menor poder de persuasão. Quem sabe, nós educadores, não pensemos em uma tarefa que represente o resgate da função da escola como alfabetizadora agora “digital” e como construtora de uma consciência reflexiva e de avaliação das informações que circulam na rede, desfazendo-nos da ideia de “ensinar” a operar com as TICs superando a visão instrumental, para oportunizar formação de mentes autônomas e capazes de leitura crítica dos artefatos culturais e do mundo digital, referenciando para a escola um propósito mais proativo e fecundo para a vida das pessoas. Disciplinas, ações ou projetos desenvolvidos nos cursos de pedagogia indiretamente vinculadas às ciências cognitivas e TICs A análise das matrizes curriculares procurou abranger componentes curriculares que abordassem o tema de pesquisa de forma também indireta. Assim foram identificadas disciplinas que contribuem para o desenvolvimento das habilidades mais amplas de expressão e comunicação humanas e também aquelas relacionadas à aprendizagem e compreensão dos processos de aquisição de conhecimento. Conteúdos que abordassem o processo de aquisição de linguagem, as implicações pedagógicas, aproximação dos saberes das Artes Plásticas, pensamento e a linguagem oral e escrita na infância, busca do desenvolvimento da consciência corporal e ampliação dos recursos pessoais, com vista ao exercício da prática pedagógica. Legislação e inclusão. Língua, culturas comunidades e identidades surdas. Aquisição de Linguagem e a LIBRAS, também se procurou o engajamento destas Universidades em projetos de investigação de professores e alunos pós-graduandos ligados à linha de pesquisa do Laboratório de Estudos em Linguagem, Interação e Cognição, estudo de diferentes infâncias em nossa 4 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica sociedade e seus modos de educação. Estes assuntos encontram-se presentes nas ementas das Universidades dando ideia de como os conhecimentos científicos destas áreas próximas chegam à formação do pedagogo. Abaixo citamos, a título de exemplo, algumas das disciplinas que abarcam estes conteúdos nas ementas: Psicolinguística; Arte e linguagens na educação; Educação e produção cultural: artes plásticas; Educação e produção cultural: artes cênicas; Linguagem, interação e cognição; Linguagem de sinais; Infância e educação. Os dados coletados na pesquisa das matrizes curriculares e os provenientes dos questionários demonstram que as Ciências Cognitivas e as TICs ainda não possuem espaço significativo na formação do Pedagogo. Todas as descobertas da área da neurologia, neurociência, fisiologia, neuroanatomia, neuropsicologia, psicologia cognitiva não sensibilizam gestores e dirigentes responsáveis pela organização curricular dos cursos. Estes novos conhecimentos ainda não são percebidos como importantes, ao menos não possuem lugar seguro nas matrizes curriculares. Nossa constatação é que há um fosso que separa as ciências que tratam, da mente e de seu funcionamento e as ciências pedagógicas. Na última década foram grandiosos os avanços da neurociência e campos afins e isso nos permite afirmar que possuem contribuições importantes para a área da educação, mais especificamente com o trabalho do professor. Nossa dúvida está em se estes conhecimentos e descobertas, por serem recentes e pouco conhecidos ainda, não chegaram até os educadores ou se há uma resistência em relação a eles? Por que ainda estão ausentes ou são incipientes nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia? Para constatar se nos cursos de Pedagogia ocorrem atividades e projetos complementares à formação recebida por meio das matrizes curriculares (conteúdos), enviamos questionário para coordenações com o objetivo de investigar a presença e natureza de ações e projetos voltados às Ciências Cognitivas e TICs. Os dados provenientes destes questionários apontam que as instituições valorizam e consideram importante tratar das Ciências Cognitivas e TICs, no entanto, demonstram que ainda são incipientes as ações e projetos que tratam desta questão nos curso de formação de pedagogos. Somente alguns cursos possuem projetos que abordam as Ciências Cognitivas e TICs. 5 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica As respostas recebidas estão voltadas à dinâmica da reconfiguração curricular e às tentativas de inserção de disciplinas com caráter inovador para acompanhar as mudanças na sociedade do conhecimento, não necessariamente relacionadas, estritamente, com os temas acima apontados. Em algumas IES há projetos de pesquisa, que tratam do assunto, vinculados aos Programas Stricto Sensu, cursos de extensão, bem como participação de educadores e acadêmicos em eventos externos. Apontamentos conclusivos da pesquisa Segundo as perspectivas apontadas por Peixoto e Araújo (2012), ao desenvolverem estudo a respeito do estado da arte da produção teórica contemporânea sobre o uso do computador na educação, há duas categorias que agregam os estudos que tratam do tema e definem a finalidade dos artefatos tecnológicos: o computador como recurso didático – pedagógico e o computador como político – pedagógico. Em outras palavras, o uso do computador pode se dar com a finalidade didática ou política. O recorte adotado pelos pesquisadores leva em consideração um campo mais restrito que é do uso do computador na educação o que se configura como tendência nas matrizes dos cursos de Pedagogia analisados em nossa pesquisa. Ainda está ausente a preocupação com as TICs como um todo. Embora a sociedade e a cultura contemporânea estejam secundarizando a função e a importância do professor, sabe-se que ele é agente estratégico e interferente qualificado para auxiliar na construção de visão crítica e educar as novas gerações dentro de uma lógica que seja menos selvagem que a sociedade do consumo. Os conhecimentos referentes à mídia, processos de comunicação de massa, novas tecnologias devem fazer parte do cabedal de saberes da formação do professor para que ele esteja suficientemente preparado para enfrentar as contendas e disputas que a sociedade contemporânea lhe apresenta. Ao se falar na educação de crianças e jovens e por extensão, não se pode falar em formação de professores, hoje sem considerar-se a positividade da mídia, em geral, e da publicidade, em particular, na produção de crianças e jovens que acolhemos em nossas escolas. 6 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica É necessário avançar além da visão que concebe a tecnologia ou seu uso como uma forma de instaurar novos paradigmas pedagógicos. A tecnologia é instrumento, oportuniza mediação. Por si só não instaura novas “pedagogias”. Desta forma faz-se necessário definir qual o lugar das TICs nos processos de ensino e aprendizagem, para não cairmos no engodo da solução fácil e de que resolverão os problemas que a educação enfrenta hoje, pois estes vão muito além de sua alçada. Com base nos dados da pesquisa fazermos as seguintes ponderações: - As novas tecnologias inventadas pelo homem, em diferentes períodos históricos, sempre provocaram alvoroço e suscitaram previsões otimistas de transformação do homem e do mundo. Muitas se confirmaram, mas outras tantas não efetivaram o que as previsões profetizavam. As TICs também correm esse risco e a julgar pelo uso que está sendo dado nos ambientes escolares e sua inserção nos processos de formação de professores (predominantemente instrumental), não se visualiza bons prognósticos. Muitas previsões de estudiosos da história das TICs ainda estão por ser confirmadas ou caminham a passos lentos; - O cenário educacional contemporâneo está mais revestido de questionamentos e dúvidas do que de soluções. Os “marqueteiros” e “reformistas” partidários das TICs prescrevem um quadro alardeador maior que os resultados efetivos. Quem tem se interessado realmente por esta questão são os que possuem interesse financeiro no “negócio” tecnologia, estudiosos da área e apaixonados pelas novas descobertas da ciência neste campo, fazendo-nos crer que os professores e gestores estão um tanto distante, o que nossa pesquisa comprova. Buckingham (2010, p. 40) afirma que os dados de pesquisas e estudos demonstram “[...] que a maioria dos professores são céticos em relação aos benefícios educacionais da tecnologia computacional e que o investimento em tecnologia nem sempre resulta em formas novas e criativas de aprendizagem, nem mesmo em progressos nos resultados das provas.” - Os professores que fazem uso das TICs em sala de aula, o fazem, em boa parte, por empiria e sem um preparo adequado para explorar todos os recurso e suas potencialidades, além de usar equipamentos e programas mais como forma de descontração dos estudantes, para pesquisar na WEB e recuperar informações, utilizando-as em menos escola como forma de aprimorar e otimizar a aprendizagem do estudante. 7 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica - Gestores públicos e dirigentes educacionais têm feito grandes investimentos para modernizar os espaços escolares adquirindo equipamentos e tecnologias de última geração, mas têm destinado poucos recursos e investido pouco na formação dos professores para trabalhar utilizando as TICs. - Muitas dificuldades técnicas ainda são enfrentadas no cenário educacional com problemas bastante primários como softwares pouco atrativos aos estudantes ou inadequados para o uso educacional, além de “[...] formatos incompatíveis, equipamentos defeituosos, software mal-escrito e/ou que exige a constante compra de atualizações” (BUCKINGHAM, 2010, p. 41), que se somam às decisões equivocadas e precipitadas de gestores, além da ausência de consulta aos professores, que estão na condução dos processos educativos. - Falta de conhecimento pedagógico mais profundo ou utilização de assessorias profissionais capacitadas, por parte dos elaboradores do material (equipamentos, programas) que chega às escolas. Comparativamente a outros materiais, jogos, programas que as crianças utilizam fora do espaço escolar, deixa muito a desejar em atratividade e criatividade, tornando-se pouco profícuos para despertar o interesse das crianças e adolescentes e tornar-se um recurso para aprendizagem. As crianças e adolescentes desfrutam de ambientes interativos e estimulantes em suas casas, lan house ou cyber cafés, quando vão fazer uso dos recursos disponíveis na escola acabam por desinteressar-se diante da pouca atratividade e das atividades desestimulantes programadas, além de sofrerem certa “estafa” de experiências multimídias que usufruem em outros ambientes. A sala de aula acaba sendo vista e sentida como mais atrativa para conversar e desfrutar do convívio dos colegas do que para fazer uso de uma rotina em que passam horas de seu dia fora da escola. Temos a convicção de que a escola precisará descobrir qual será seu papel, quais atividades propor-se-á a desenvolver em seu espaço e como interagirá com a “geração digital”. Ela não poderá querer fazer o mesmo que outros espaços, quanto ao uso das TICs, pois já deu mostras que terá dificuldades de fazê-lo e se o fará será com menor poder de persuasão. Quem sabe, nós educadores, não pensemos em uma tarefa que represente o resgate da função da escola como alfabetizadora agora “digital” e como construtora de uma consciência reflexiva e de avaliação das informações que circulam na rede, desfazendo-nos da ideia de “ensinar” a operar 8 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica com as TICs superando a visão instrumental, para oportunizar formação de mentes autônomas e capazes de leitura crítica dos artefatos culturais e do mundo digital, referenciando para a escola um propósito mais proativo e fecundo para a vida das pessoas. No pensar de Perissé (2008, p. 44) não basta à escola tornar os estudantes hábeis usuários do computador e de outros equipamentos. Devem eles tomar consciência de como o mundo foi e está sendo reinventado pelo computador, e de que por trás de um personal computer há uma filosofia [...] uma política, uma economia que transformam nossa maneira de lidar com conceitos fundamentais como “pessoa”, “cidadão”, “trabalho”, “cultura”. Devem eles saber que somente como protagonistas, debatedores e inventores poderão contribuir para corrigir o rumo dos acontecimentos, segundo uma visão humanizadora. Os argumentos a favor do uso, por parte do professor e dos gestores públicos, dos conhecimentos científicos vindos das mais diversas áreas, especialmente da neurociência, são cada vez mais consistentes e convincentes. Um estudo recente realizado no ano de 2011 por um grupo de estudiosos da área da neurociência, sob a orientação da Academia Brasileira de Ciências, demonstra a urgência de levar a quem trabalha ou atua como gestor na educação os conhecimentos novos desta área como suporte para otimização dos processos de alfabetização e aprendizagem da leitura e escrita. A sistematização final do estudo aponta como objetivo primordial atualizar e divulgar os conhecimentos de como o cérebro atua durante o processo de aprendizado da leitura, de modo que esses dados possam ter um papel significativo como aliado dos educadores, no sentido de facilitar o ensino, seja na escolha de determinada estratégia de ensino, seja na mudança da opção escolhida, quando diante de alunos que, por causas diversas, possam apresentar limitações em um determinado tipo de aprendizado. (ARAÚJO, 2011). As recentes pesquisas demonstram que a formação do professor, especialmente aquele que atua no princípio da escolaridade da criança, precisa alicerçar-se também nos conhecimentos advindos de áreas que apresentam importantes descobertas sobre a mente humana, como é o caso da Neurociência, Ciências Cognitivas, Neuropsicologia, dentre outras, pois cada vez mais fica evidente que ensinar e aprender não é apenas uma questão de utilização de método 9 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica adequado, entram em cena outros fatores que influenciam estes processos que precisam ser conhecidos pelos educadores. Sommer e Schmidt (2010, p. 216) ao falar dos cursos que preparam professores e da necessidade de inserir discussões em torno da mídia e das TICs nestes cursos, constatam que estes temas aparecem quando muito como temas transversais e não recebem a importância que lhe é devida nos currículos destes cursos. Para eles há que proceder a “[...] uma revisão urgente nos currículos de nossos cursos de formação de professores”. Para Toffler (2012) estamos nos aproximando de muitas novidades e acontecimentos importantes propiciados pela tecnologia e a baixo custo, o que não significa dizer que não permanecerão muitos desafios. Como vem ocorrendo em muitos países trata-se de uma época de [...] “escolarização inversa”, quando as crianças ensinam o que aprenderam na escola aos pais, ajudando a reduzir as desconfianças em relação ao novo. Aqui, também, a tecnologia sozinha não oferece uma solução pronta para derrotar a ignorância. Afinal, é preciso que as forças políticas, econômicas e sociais sejam mobilizadas para educar as gerações do futuro (TOFFLER, 2012, p. 410-411). A tecnologia tem muito a contribuir, mas há necessidade de mobilizar outros atores para responder aos apelos de um futuro que imitará o passado em poucos aspectos. A tecnologia tão propalada talvez seja a parte mais fácil se comparada com obstáculos de outras naturezas que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas como a fome, a pobreza, doenças, guerras, só para exemplificar. O objetivo de nossa pesquisa não é definir-nos em um dos antagonismos presentes nos discursos sobre as TICs e Ciências Cognitivas, ou seja, adotar uma postura defensivista em relação à presença destes conhecimentos nas matrizes curriculares ou uma posição fatalista, ou seja, estes conhecimentos não estão presentes e, portanto, tudo está perdido, nada mais pode ser feito em relação ao fato de muitos cursos não os terem inserido ou estarem ausentes, mas trilharmos a via que nos parece mais prudente que é demonstrar sua necessidade diante do contexto humano e social contemporâneo. Não se trata de absolver ou condenar, mas de chamar a atenção dos educadores e futuros educadores o quanto importante são estes conhecimentos para o exercício da profissão e o sucesso de seu trabalho. 10 IV Congresso Internacional de Educação VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica REFERÊNCIAS BUCKINGHAM, David. Cultura digital, educação midiática e o lugar da escolarização. Educação & Realidade. Porto Alegre: UFRGS, v. 35, p. 37-58, set./dez., 2010. FRANCO, Maria Amélia do Rosário S. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012. LIBÂNEO, José C. e ALVES, Nilda. Temas de Pedagogia: diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Cortez, 2012. MEIER, Marcos. Futuro exigirá professores aptos a lidar com as diferenças. In: Impressão Pedagógica. Curitiba: Expoente, ano XIII, nº 36, 2004. MOLL, Jaqueline (org.). Ciclos na escola, tempos na vida: criando possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2004. PEIXOTO, Joana e ARAÚJO, Cláudia dos Santos. 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