Ficha Catalográfica Artigo – trabalho final Professor PDE/2010 Título O Conselho de Classe como espaço de reflexão e tomada de decisões sobre as práticas pedagógicas Autor Claudineia de Cassia Pacheco Silva Escola de Atuação Colégio Estadual Hermínia Lupion-E.F.M.N. Município da escola Ribeirão do Pinhal Núcleo Regional de Educação Jacarezinho Orientador José Carlos da Silva Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) Área do Conhecimento/Disciplina Pedagogia Relação Interdisciplinar (indicar, caso Todas as disciplinas haja, as diferentes compreendidas no trabalho) disciplinas Público Alvo ( indicar o grupo com o Professores do ensino fundamental anos finais, ensino qual o professor PDE desenvolveu o médio, educação profissional, pedagogos e gestores trabalho: professores, comunidade...) alunos, Localização (identificar nome e Colégio Estadual Hermínia Lupion- E.F.M.N. endereço da escola de Rua Antonio Rosa, nº 1228 implementação) O presente artigo tem por finalidade o estudo da ou 200 palavras, fonte Arial ou Times instância colegiada Conselho de Classe e o seu New Roman, tamanho 12 e redimensionamento, compreendendo-o como o espaço de reflexão pedagógica e tomada de decisões coletivas espaçamento simples) sobre as práticas avaliativas. Cabe ao pedagogo, em consonância com a equipe gestora e professores das turmas, propor e articular ações que conduzam a possível transformação do trabalho escolar desenvolvido na escola, rompendo com práticas conservadoras e excludentes do ensino reducionista. Como procedimento metodológico, foi empregado os pressupostos teóricos da pesquisa-ação, com ênfase na observação e na Resumo: (no máximo 1300 caracteres, revisão bibliográfica de conceituados autores no campo da temática Conselho de Classe. Urge nestes conselhos o estabelecimento de critérios claros quanto à avaliação praticada na escola, não limitando o Conselho de Classe ao julgamento do aluno associado ao desempenho escolar e a indisciplina, identificando os problemas de aprendizagem apenas, mas sem apresentar ações concretas que viabilize a apropriação do saber, tornando burocráticas e cansativas estas reuniões, desconsiderando as diferenças individuais e promovendo o fracasso escolar. Aponta para a necessidade da implantação de um conselho dinâmico, representativo, transparente, que avalia mas simultaneamente se auto-avalia, não eximindo-se de sua responsabilidade como uma instância coletiva de caráter consultivo e deliberativo. Este conselho intitula-se Conselho de Classe Participativo, uma experiência ainda estudada pelos profissionais da escola. Palavras-chave ( 3 a 5 palavras) Conselho de Classe. Pedagogo. Avaliação da Aprendizagem. Processo pedagógico. O CONSELHO DE CLASSE COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO E TOMADA DE DECISÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS SILVA, Claudineia de Cassia Pacheco¹ [email protected] SILVA, José Carlos da² [email protected] RESUMO O presente artigo tem por finalidade o estudo da instância colegiada Conselho de Classe e o seu redimensionamento, compreendendo-o como o espaço de reflexão pedagógica e tomada de decisões coletivas sobre as práticas avaliativas. Cabe ao pedagogo, em consonância com a equipe gestora e professores das turmas, propor e articular ações que conduzam a possível transformação do trabalho escolar desenvolvido na escola, rompendo com práticas conservadoras e excludentes do ensino reducionista. Como procedimento metodológico, foi empregado os pressupostos teóricos da pesquisa-ação, com ênfase na observação e na revisão bibliográfica de conceituados autores no campo da temática Conselho de Classe. Urge nestes conselhos o estabelecimento de critérios claros quanto à avaliação praticada na escola, não limitando o Conselho de Classe ao julgamento do aluno associado ao desempenho escolar e a indisciplina, identificando os problemas de aprendizagem apenas, mas sem apresentar ações concretas que viabilize a apropriação do saber, tornando burocráticas e cansativas estas reuniões, desconsiderando as diferenças individuais e promovendo o fracasso escolar. Aponta para a necessidade da implantação de um conselho dinâmico, representativo, transparente, que avalia mas simultaneamente se auto-avalia, não eximindo-se de sua responsabilidade como uma instância coletiva de caráter consultivo e deliberativo. Este conselho intitula-se Conselho de Classe Participativo, uma experiência ainda estudada pelos profissionais da escola. Palavras-chave: Conselho de Classe. Pedagogo. Avaliação da Aprendizagem. Processo pedagógico. __________________________________ ¹ Professora Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional em 2010/2011. ² Professor do Centro de Ciências Humanas e da Educação, UENP, Universidade Estadual do Norte do Paraná -Campus Jacarezinho. ABSTRACT This article aims to study the collegial body and its Board of Class resizing, embracing it as the space of pedagogical reflection and collective decision making about assessment practices. It is for the teacher, in line with the administrative team and teachers in classrooms, and propose joint actions that can lead to transformation of the school work developed at the school, breaking with conservative and exclusionary practices of teaching reductionistic. As a methodological procedure was employed theoretical assumptions of action research, with emphasis on observation and literature review of respected authors in the field of thematic Class Counsel. Urge the establishment of these councils clear criteria for assessment practiced in school, but not limited to Class Counsel to the judgment of student performance associated with the school and indiscipline, identifying learning problems alone, but without providing concrete actions that will deliver the knowledge acquisition making these meetings and tiresome bureaucratic, ignoring individual differences and promoting school failure. Points to the need for the establishment of a council dynamic, representative, transparent, but which assesses both self-assessment, not exempting himself from his responsibility as a collective body of consultative and deliberative. This council is entitled Participatory Class Council, an experience even studied by school personnel. Keyword: Class Counsel. Pedagogue. Assessment of Learning. Educational process. INTRODUÇÃO O presente artigo é resultado de um estudo aprofundado sobre a instância colegiada Conselho de Classe, embasado em discussões, observações, pesquisas, reflexões e orientações, relacionadas ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado de Educação do Paraná, com o referencial teórico pautado em autores como Dalben (1994,2004), Cruz (2005), Rocha (1986) e Mattos (2005), que contribuíram na busca de perspectivas a serem incorporadas na práxis educativa. A escolha desta temática surgiu da insatisfação e do inconformismo dos profissionais da escola com os conselhos de classe ali praticados. Esta instância, que deveria ser o espaço de reflexão pedagógica sobre as trajetórias das ações sobre a aprendizagem, transformou-se num mero ritual burocrático de entrega de notas e “julgamento dos alunos”, constituindo-se em um verdadeiro “diálogo de surdos”, pois de fato não se discute o processo de ensino-aprendizagem, apenas validam a impressão negativa que se construiu sobre o aluno. O que se privilegia e legitima é o seu fracasso, favorecendo o ensino reducionista, desconsiderando as diferenças individuais, prevalecendo a questão pontual e não o educando em sua totalidade. Este tempo tão precioso de tomada de decisões não está sendo utilizado para definir ou redefinir práticas pedagógicas, como o processo da avaliação da aprendizagem, ou oportunizar formas diferenciadas de apropriação do conhecimento. Todavia, cabe ao pedagogo, respaldado pela equipe gestora, articular e organizar junto a comunidade escolar o fazer pedagógico da escola e uma de suas maiores atribuições é a organização e a mediação do Conselho de Classe, onde iremos ater-nos. Mas para alcançarmos tal intento, houve a necessidade primeira de se discutir junto aos professores qual o papel do pedagogo e a sua relação com o Conselho de Classe, e para nossa surpresa, poucos associavam-nos ao trabalho pedagógico, restringindo nossa prática a esfera administrativa, mostrando-nos que temos que difundir nosso trabalho de fato e aprender a dizermos ‘não”, sem culpa, ao que não é de nossa alçada, caso contrário, nunca saberão com certeza qual o papel por nós desempenhado, gerando desconfiança e antagonismo entre professores e pedagogos. Como mediador e articulador na interação professor / aluno / comunidade, cabe ao pedagogo “captar” os conflitos existentes nas relações de trabalho e propor em conjunto com o coletivo, ações que conduzam a qualidade e melhoria do processo ensino-aprendizagem, objetivando o redimensionamento da organização do trabalho pedagógico, em especial a instância Conselho de Classe. O desafio que se propõe é como conseguir junto aos profissionais da escola, uma nova postura mediante a concepção fragmentada e distorcida que se tem da instância Conselho de Classe. Para tanto, faz-se necessário por parte dos professores, direção e pedagogos, o comprometimento e o conhecimento acerca de uma concepção progressista de educação, colocando-a em prática, transformando o Conselho de Classe em espaço de avaliação diagnóstica na busca da ressignificação da prática escolar, garantindo assim a efetivação do processo ensino-aprendizagem de qualidade, rompendo com o autoritarismo das práticas pedagógicas avaliativas, tornando-as mais democráticas. Acrescentamos ainda o investimento na qualificação profissional em virtude de que o diploma universitário não significa o término da formação do professor, mas apenas o começo para uma outra etapa em sua vida, o que é oferecido pela mantenedora nos programas de formação continuada, tais como seminários, simpósios, cursos à distância on-line e presenciais, entre outros. A escola precisa desconstruir as atrocidades praticadas em antigos conselhos, construindo processos democráticos de participação, que permita maior leveza aos integrantes desse processo, vendo nesta instância coletiva um instrumento facilitador do trabalho pedagógico, que busca coletivamente, de forma consistente, reparar os equívocos e distorções cometidos ao longo do processo educativo, tarefa desgastante com certeza, pois resistências existem, mas não são perpétuas e em algum momento, as defesas ruirão, porque educação se faz com movimento, comprometimento e dedicação e não sejamos hipócritas a ponto de imaginar que o curto prazo de duração desta implementação pedagógica foi suficiente para tornar os próximos conselhos condizentes com o que prevê a legislação vigente, pois uma mudança de tamanho porte clama pela superação de uma cultura elitista, autoritária e discriminadora, tendo consciência que somente a longo prazo as mudanças se efetivarão. Outrossim, ficamos profundamente satisfeitos com os pequenos avanços obtidos. Para a condução deste trabalho, consideramos os pressupostos teóricosmetodológicos da pesquisa-ação e dividimos o texto em quatro capítulos para melhor compreensão, descritos a seguir: A construção da identidade do pedagogo, descrevendo a sua trajetória de especialista da educação a professor pedagogo; Origem do Conselho de Classe, resgatando a sua história, desde o surgimento na França até a implantação e regulamentação no Brasil; Os atuais Conselhos de Classe, retratando como são constituídos estes conselhos, evidenciando a prática pedagógica adotada e o Conselho de Classe Participativo como proposta de reorganização; Buscando alternativas para o redimensionamento do Conselho de Classe, apresentando os resultados da implementação pedagógica. 1 A construção da identidade pelo pedagogo Segundo Dalben (1994), a figura do especialista em educação surge com a implantação da Lei Nº 5692/71, no período da ditadura militar, onde contradições se revelaram quanto à formação destes profissionais, de um lado o orientador educacional, pautado numa concepção escolanovista, de caráter clínico-terapêuticoassistencialista, de outro lado, o supervisor pedagógico, amparado pela linha da concepção tecnicista de ensino, o que provocou alguns embates no âmbito das escolas, devido a suas complexas relações sociais e pedagógicas. Eram vistos pelos professores como “fiscalizadores” do regime militar, estando nas escolas apenas para espionar, já que gozavam de certo prestígio perante a hierarquia educacional, o que desagradava os docentes, pois muitas vezes viam-se obrigados a executar programas de ensino já prontos pelo especialista em educação. Esses episódios arraigaram a desconfiança sentida pelos professores quanto a presença dos especialistas nas escolas e devido a este caráter controlador que se impôs com a ditadura militar, ainda nos dias atuais essas diferenças se fazem presentes. Mas de fato, quem é o especialista em educação? A sua identidade vem sendo discutida e construída desde longa data, recebendo uma nova denominação: professor pedagogo. Desta feita, aboliu-se a distinção de funções entre orientadores educacionais e supervisores pedagógicos. Com dois concursos públicos realizados para o provimento de vagas, um no ano de 2004 e outro em 2007, um grande avanço na trajetória desse profissional tão questionado, oprimido e discriminado foi alcançado, ou seja, a sua valorização profissional. Para Libâneo, o pedagogo (2010, p. 52) é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação humana definidos em sua contextualização histórica. Em outras palavras, pedagogo é um profissional que lida com fatos, estruturas, contextos, situações, referentes à prática educativa em suas várias modalidades e manifestações. O pedagogo é ainda visto nas escolas como um profissional distante, fiscalizador, desvinculado do processo educativo, descaracterizado de suas funções de cunho pedagógico, porque passou a executar tantas atividades do cotidiano escolar por falta de pessoal que essas ações foram a ele atribuídas pela comunidade escolar como se fossem suas de fato, secundarizando o sentido pedagógico. Discutir sua identidade significa antes de mais nada rever posições, conceitos, preconceitos, fazer opções, lutar por espaço para cumprir seu real papel, romper barreiras dicotômicas arraigadas entre professores e pedagogos, para que uma nova relação de trabalho e respeito mútuo surja entre os sujeitos, transcendendo a funções burocráticas, disciplinadoras, controladoras, autoritárias e fragmentadoras do processo educativo, levando a um pensar coletivo sobre as ações a serem executadas na escola, tendo claras as especificidades e generalidades da função pedagógica, Inquestionavelmente, cabe a este profissional articular e mediar ações que promovam no processo ensino-aprendizagem, abertura no interior da escola onde pais, alunos, professores, funcionários, como um todo, possam discutir, refletir e avaliar o trabalho pedagógico em sua totalidade. Em outras palavras, Brandão et al (1986) constata que este profissional precisa sair de seu enclausuramento e assumir a sua prática educativa como uma dimensão da vida social, como uma prática política, considerando-se acima de tudo um educador e não um especialista a serviço da classe dominante, agente transformador do processo educativo. Dentre as diversificadas atividades elencadas no Edital Nº 10/2007 – GS/SEED, do Concurso Público para o provimento de vagas no cargo de Professor Pedagogo, enfocamos a organização e mediação do Conselho de Classe pelo pedagogo, instância colegiada de caráter avaliativo e espaço de tomada de decisões, de forma a garantir um processo coletivo de formulação do trabalho pedagógico desenvolvido pela escola e em sala de aula, tendo o cuidado de detectar práticas avaliativas autoritárias e combatê-las, além de coordenar a elaboração de propostas de intervenção decorrentes desse processo, medidas necessárias que proporcionarão transparência e qualidade ao processo educativo (PARANÁ, 2007). 2 Origem do Conselho de Classe Originário da França, em meados de 1945, o Conselho de Classe surgiu devido a necessidade de um trabalho interdisciplinar com classes experimentais francesas. Em 1959 houve uma reforma no ensino francês, onde foi instituído três Conselhos : o Conselho de Classe, no âmbito da turma; o Conselho de Orientação, no âmbito do estabelecimento; e o Conselho Departamental de Orientação, em esfera mais ampla. O objetivo dessa reforma era “organizar um sistema escolar fundado na observação sistemática e contínua dos alunos, com vistas a oferecer, a cada um, o ensino que corresponda a seus gostos e aptidões” (Institute de Recherche et Documentation Pedagogiques–IRDP,1971; apud Rocha, 1986, p.19). O Conselho de Classe francês selecionava e distribuía o alunado no sistema dualista implantado com a reforma, conforme as “aptidões” e o “caráter” descritos nos pareceres emitidos por este Conselho, onde predominava a avaliação classificatória . A ideia de Conselho de Classe foi trazida ao Brasil por três orientadoras educacionais e sete professoras brasileiras que estagiavam em Sévres, com o intuito de estudar as classes experimentais francesas e implantado em algumas turmas do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp), em 1959, estendendo-se posteriormente a todas as turmas, devido ao sucesso alcançado, recebendo inclusive financiamento do MEC, já que as suas potencialidades impregnaram o meio educacional da época, mas ainda não se apresentava como instância instituída. O Conselho de Classe somente passou a ser uma instância formalmente instituída na escola a partir da implantação da Lei Nº 5692/71, de forma espontânea em escolas que se dispunham a enxergá-la como parte integrante do processo pedagógico (ROCHA,1986). Embora a Lei Nº 5692/71 não possuísse nenhum artigo ou parágrafo específico que criasse ou regulamentasse o Conselho de Classe, em seu artigo 14, a redação preocupava-se com a reformulação dos critérios de avaliação e com os aspectos qualitativos do processo ensino-aprendizagem, surgindo daí a posterior institucionalização dos Conselhos de Classe . No depoimento de uma professora a Rocha (1986), esta afirmava que o Conselho de Classe “contribuiu para formar no professor uma consciência profissional e rompeu o isolamento do professor levando-o a sentir a sua força enquanto grupo”, sendo o único momento de troca de vivências, possibilitando-lhe a reflexão acerca do seu trabalho, na busca da integração profissional e social. Mas tal intento não aconteceu de fato, pois o sistema educacional neste período estruturava-se num clima político pautado no regime militar, que excluía a participação dos setores de representatividade da sociedade. Dalben (1994, p. 41) assim descreve o surgimento da instância Conselho de Classe: É nesse cenário – no qual as contradições são emergentes, no qual a questão da dicotomia teoria x prática e as divergências entre as diferentes concepções pedagógicas estão postas, no qual a implantação da racionalidade da organização segundo um modelo capitalista de produção, que se impõe através da divisão técnica do trabalho, dá ensejo à luta pelo poder – que nasce o Conselho de Classe, como instância coletiva de avaliação na organização da escola, portando em si as lutas pedagógicoinstitucionais. A implantação do Conselho de Classe foi um momento histórico no meio educacional brasileiro, possibilitando aos educadores uma visão crítica e melhor percepção dos aspectos históricos e sociais de luta . Com a homologação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 ( LDBEN), houve a necessidade de atualização das legislações existentes pelo Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná, sendo instituída a Deliberação Nº 007/99, prevendo a indicação de um órgão pelo Regimento Escolar para acompanhar o processo de avaliação escolar. Este seria composto, obrigatoriamente, pelos professores, direção e pedagogos, sendo recomendável a participação de um representante dos alunos. Deste modo, constitui-se os Conselhos de Classe nos termos regimentais, um órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa, cuja finalidade é intervir no processo ensino e aprendizagem em tempo hábil, propiciando ao aluno formas diferenciadas de apropriação de conteúdos, constituindo-se em um espaço de reflexão pedagógica, onde todos os sujeitos do processo educativo discutem coletivamente as tomadas de decisões quanto às ações pedagógicas, reunindo-se ao menos quatro vezes por ano, uma vez a cada bimestre, ou extraordinariamente, sempre que se fizer necessário. 3 Os atuais Conselhos de Classe A instância colegiada Conselho de Classe constitui na escola um dos espaços mais ricos e dinamizadores da transformação da prática pedagógica e tem como objeto de estudo a avaliação da aprendizagem do aluno, conferindo a ação educativa um rigor metodológico e uma dimensão participativa, instrumentos efetivos das transformações desejadas. Segundo Dalben ( 2004, p. 31 ) : O Conselho de Classe é um órgão colegiado, presente na organização da escola, em que os vários professores das diversas disciplinas, juntamente com os coordenadores pedagógicos, ou mesmo os supervisores e orientadores educacionais, reúnem-se para refletir e avaliar o desenvolvimento pedagógico dos alunos das diversas turmas, séries ou ciclos. O curioso, de acordo com Cruz ( 2005), é questionar se a denominação Conselho de Classe é pertinente, porque primeiramente só se reúnem professores, pedagogos e direção, não a classe a ser discutida e avaliada, no caso os alunos que compõem a turma. Em segundo lugar, trata-se mais de um Conselho Disciplinar, em detrimento da avaliação diagnóstica, sem a adoção de critérios específicos, centrando-se mais nas questões disciplinares do que nas de ensino-aprendizagem, reforçando a ideia equivocada de que o aluno é objeto de trabalho e não sujeito do conhecimento. Em outras palavras, transformou-se num espaço insignificante, inoportuno, contraditório, visto mais como um acréscimo da jornada de trabalho do professor, devido a sua realização aos sábados, o que realmente é desgastante, do que instrumento de transformação da cultura escolar nos processos avaliativos. Reclamam com razão os professores quando dizem que o tempo destinado a realização destes conselhos é insuficiente, não se discutindo como deveria as questões do ensino: processos, métodos, conteúdos, relação professor/aluno, o significado e consequências para a aprendizagem do aluno e a pertinência dessas dimensões com o Projeto Político-Pedagógico da escola, prevalecendo muitas vezes a avaliação classificatória. Os relatos são sempre os mesmos: que o aluno deveria prestar mais atenção nas explicações, estudar mais, conversar menos, ser assíduo, realizar as tarefas. O que predomina nos atuais conselhos é a má impressão que o colega construiu do aluno, sendo rara sua defesa por parte de outro membro participante. Considerado o centro do processo avaliativo, o aluno é um elemento que não participa, não opina, não compartilha, não interage, pois sua presença física é inexistente nos atuais conselhos de classe e quando, em raríssimas ocasiões, é convidado a participar, sente-se acuado, com medo muitas vezes de represálias e da postura autoritária do educador, que não aceita ter o seu método de trabalho questionado, principalmente a sua forma de avaliar, resistindo bravamente às mudanças que se operam no processo educativo. Luckesi (2004) atribui a esta resistência às mudanças três razões: a primeira delas seria de ordem psicológica, de caráter pessoal e biográfico, porque os educadores foram assim educados e repetem em sua prática educativa o que com eles aconteceu; a segunda razão, de caráter histórico, estaria enraizada na própria história da educação, porque os exames escolares ainda praticados são herança das pedagogias jesuítica e comeniana e por fim, vivemos em um modelo de sociedade excludente, onde os exames reproduzem esse modelo de sociedade, classificando, selecionando e excluindo os sujeitos do conhecimento. Ora, se a função dos conselhos é avaliatória, deve-se avaliar o todo : quem ensina e quem aprende, não apenas o aluno, que na maioria das vezes nem sabe qual o critério de avaliação adotado pelo professor no processo avaliativo, sendo que além dos problemas de aprendizagem, há também os problemas de ensinagem, que nem sempre são produzidos dentro da sala de aula, daí a necessidade da qualificação do trabalho docente, seja na formação inicial ou continuada. Estudos realizados por Mattos (2005), apontam grande vulnerabilidade no funcionamento dos Conselhos de Classe. Os professores eximem-se de sua culpa quando afirmam que o fraco desempenho escolar está quase sempre associado a fatores psicológicos, delegando a serviços especializados a possível solução para o problema, quando projetam a culpa do fracasso da interação pedagógica sobre o nível de inteligência do aluno, além de responsabilizarem a família por não acatarem as sugestões escolares. Por outro lado, atribui-se a isso, as dificuldades inerentes ao processo de aprendizagem, que parecem insuperáveis aos nossos olhos. Entretanto, não colocam em momento algum que a metodologia de ensino empregada e a forma como avaliam possam ser inadequadas. Ou seja, a escola isenta-se de suas responsabilidades ao encaminhar o problema que é seu a outrem, maquiando o processo pedagógico. A resistência em ter seu trabalho avaliado é grande por parte do professor, do pedagogo e da direção e há poucos mecanismos que levam ao questionamento da prática docente. Todavia, é importante para o educador reconhecer que o resultado da avaliação obtido por seus alunos significa muitas vezes o resultado da sua própria prática pedagógica. Este é talvez o momento mais importante do Conselho de Classe, onde pensar, refletir, mudar, ousar, auto-avaliar-se, podem fazer toda a diferença, trazendo ao processo educativo intervenções inovadoras que viabilizem o aprender do aluno, buscando uma nova postura diante do conhecimento produzido durante o processo de avaliação. A avaliação, tão aclamada e discutida entre o meio educacional, retrata ainda uma prática recorrente ao manter o foco no conteúdo em detrimento da cultura, promovendo a exclusão e a estagnação da construção da cidadania pelo aluno (MATTOS, 2005). Luckesi (2005) afirma que a habitual prática da avaliação da aprendizagem não constitui avaliação de fato, prioriza-se provas/exames/notas, implicando em julgamento, exclusão e compara a verdadeira avaliação a um “ato amoroso”, porque não julga, simplesmente acolhe a situação como se apresenta na realidade e nela intervém. De acordo com Guerra (2006), as transformações no âmbito escolar só ocorrem se houver um processo colaborativo entre pedagogos e professores, mediante um processo reflexivo crítico sobre as próprias ações, vendo no Conselho de Classe a possibilidade dos sujeitos desenvolverem este processo, percebendo as influências de seu contexto sócio-cultural e questionando as visões tácitas do mundo, verbalizando suas experiências, concordâncias e discordâncias relacionando seus pensamentos aos discursos dos outros e vice-versa. Nesse contexto, Esteban (2002) diz que a avaliação deve passar por um processo de reconstrução, onde seu conceito seja redimensionado, tendo por característica a atividade participativa, desenvolvida por meio de um processo contínuo, assinalando para o trabalho docente estratégias que auxiliem alunos e professores a compreenderem e intervirem no processo coletivo de construção de conhecimentos. No processo de construção de uma nova ação avaliativa, surge a necessidade de que a mesma seja voltada em benefício do aluno, deixando de ter o professor o controle total acerca dessa nova relação que desponta entre ele e o aluno, para coletivamente tomarem decisões pertinentes ao processo ensinoaprendizagem, respeitando que o tempo dos alunos não apresenta homogeneidade e que possuem diferentes vivências pessoais, compreendendo que o papel da escola é incluir a todos sem distinção, promovendo crescimento , desenvolvendo possibilidades para que os sujeitos realizem aprendizagens vida afora, socializando experiências, construindo e perpetuando cultura, vendo a avaliação como a promotora desses princípios. Cruz (2005) aponta que a avaliação realizada de forma participativa, construída conjuntamente, cumpre a função de auxiliar a formação da subjetividade e criticidade do professor e do aluno, refletindo uma ação pedagógica que não se atém a notas, conceitos ou problemas disciplinares dos alunos. Na busca da construção de um novo entendimento acerca do processo de avaliação da prática educativa que se desenvolve no Conselho de Classe, surgem parâmetros que vêm em socorro a esta empreitada, como a auto- avaliação dos profissionais da escola, a análise diagnóstica da turma, a proposta de ação individual e coletiva e análise dos casos relevantes e dessa feita, surge um outro conselho denominado Conselho de Classe Participativo. Neste conselho, abre-se espaços de diálogos em relação ao processo ensino-aprendizagem entre alunos e professores de uma mesma turma, onde discutem a metodologia trabalhada em sala de aula e a interação professor/aluno, não se prendendo a questões pontuais. Primeiramente falam os alunos e a seguir o professor, evitando-se dessa forma possíveis constrangimentos aos alunos e os professores mais ouvem do que falam, pois esta prática possibilita ponderar com os alunos os pontos que merecem reflexão. O Conselho Participativo é uma realidade em muitas escolas, mas na escola pesquisada ainda apresenta-se como uma proposta a ser aprofundada seu estudo, pois o professor não absorveu totalmente a organização deste conselho, estruturado em três dimensões: pré-conselho; conselho de classe e pós-conselho de classe. Configura-se o pré-conselho como o levantamento de dados obtidos junto ao aluno e ao professor acerca do processo ensino-aprendizagem, como diagnóstico da realidade, mediado pelo pedagogo, em momentos distintos ou coletivamente, dependendo da cultura escolar, compilados e submetidos a análise da instância colegiada, com o objetivo de proposição de ações que conduzam ao redirecionamento das práticas pedagógicas. No Conselho de Classe propriamente dito reúne-se o grande grupo de professores e discute-se os diagnósticos e as proposições de ações apontadas no pré-conselho, estabelecendo-se parâmetros em relação aos conselhos anteriores da turma analisada, investigando as causas que levaram o educando ao insucesso, não se comparando o nível de aprendizagem entre os alunos, mas entre as diferentes turmas, constatando possíveis avanços ou não, definindo novas ações a serem empreendidas quanto à metodologia, plano de trabalho docente e avaliação escolar, registradas em atas, em consonância com o coletivo desta instância colegiada. De preferência, que ocorram em tempo hábil, antes do término do bimestre, dando ao aluno a oportunidade em recuperar o conteúdo defasado. Após este momento coletivo, os encaminhamentos previstos e registrados em ata são repassados aos alunos e pais, constituindo assim o Pós-Conselho de Classe. Como tal, este conselho carece de ajustes para seu funcionamento a contento e melhor aceitação por parte dos professores, mas como consequência possibilitou o aumento do espaço de participação como construção conjunta, transformações na cultura docente, gerou tensões e conflitos e mostrou que esse processo é necessário para o crescimento do grupo como equipe de trabalho, deixando de ser um ato isolado. Esquecemos muitas vezes que o Conselho de Classe é uma das etapas do processo avaliativo, sendo considerado por Cruz (2005) como “a avaliação praticada pela escola no seu dia-a-dia”. O que não pode mais ocorrer é a omissão por parte de pedagogos, docentes e diretores em não intervir nessa realidade discriminatória e excludente dos processos avaliativos, classificando o aluno quanto ao desempenho, embasado em dados numéricos, legitimando um processo educativo reducionista, não se constituindo a avaliação em um olhar crítico sobre o que se está fazendo, ao passo que ao empregarmos a avaliação diagnóstica até atingirmos a sua perspectiva emancipatória, contribuiremos para o fortalecimento de um Conselho de Classe que se pretenda participativo. O papel do pedagogo será oportunizar no âmbito da escola, discussões que instiguem aos profissionais da educação a refletirem sobre o real significado da instância coletiva Conselho de Classe, posicionando-se acerca do processo educativo, articulando ações e mediando situações com o intuito de inspirar a ruptura do processo avaliativo promotor da reprovação e evasão escolar. Entretanto, esta necessidade precisa ser comum a todos, pois é na coletividade que se constroem argumentações sólidas que permitirão a transformação da escola e do aluno, representando um projeto coletivo. 4 Buscando alternativas para o redimensionamento do Conselho de Classe A implementação deste projeto efetivou-se em um colégio da rede estadual da região norte do Estado do Paraná, no segundo semestre de 2011, com o acompanhamento da equipe diretiva e pedagógica, cujo público alvo foram os professores de todas as modalidades de ensino, a equipe gestora e pedagogas da escola. Na Semana Pedagógica realizada no período de 20/07/2011 a 22/07/2011, com a devida autorização da equipe gestora, o projeto de intervenção pedagógica foi socializado com a comunidade escolar que se fez presente. Nesta apresentação, buscamos sensibilizar os colegas para a necessidade de repensarmos a organização dos conselhos de classe praticados na escola em questão, motivo pelo qual originou-se este projeto, dizendo-lhes da necessidade de ressignificação e redimensionamento desta instância, pois apenas constata-se a dificuldade de aprendizagem, sem a intervenção pedagógica necessária na busca de soluções que propiciem ao aluno uma aprendizagem siginificativa, que lhe garanta avançar nos estudos, privilegiando a nota e o fracasso escolar, não considerando o processo avaliativo como parte integrante do processo educativo, mas sim como um fim em si mesmo, não considerando as causas que originaram a não construção da aprendizagem pelo aluno. Diante dessas considerações, foram comunicados de que seriam necessários alguns encontros para estudarmos, analisarmos, refletirmos e propormos ações que futuramente conduzam a melhor organização do trabalho docente e dinamização do Conselho de Classe, sendo utilizados espaços em reuniões pedagógicas e em horas atividades. Os estudos durante a Hora Atividade com grupos menores obtiveram melhores resultados em interação e participação, porque o professor sentiu-se mais à vontade ao expor seus anseios e dúvidas quanto aos atuais conselhos. Do quadro de setenta professores e três pedagogas, sendo duas com jornada de quarenta horas, houve a participação em pelo menos um dos dois encontros convocados pela direção da escola em forma de reunião pedagógica e um grupo de vinte e cinco pessoas se fez presente em todos os momentos da implementação. Atribuímos a esse fato três hipóteses: sobrecarga de trabalho/ descomprometimento com o trabalho docente/ incompatibilidade de horários. São tantas as atividades exigidas do professor pelo cotidiano escolar que às vezes não sobra-lhe tempo para dedicar-se a outras questões do ensino. Trabalhos a serem avaliados, atividades avaliativas a serem elaboradas, corrigidas e socializadas com os alunos, notas a serem entregues no término do bimestre, preenchimento de livros, jornada de trabalho em duas ou mais escolas, dificultando a questão do tempo ainda mais, mas para nossa inquietação, o descompromisso de alguns colegas perante a necessidade de mudanças emerge como um sinal de resistência contra os novos posicionamentos referentes a uma nova prática pedagógica veiculada na escola, significando a revisão de concepções e novos caminhos a percorrer. Os textos selecionados para estudos, provocaram polêmicas e um certo constrangimento, já que os autores apontam em suas pesquisas a fragilidade existente nas práticas avaliativas que por sua vez refletem-se nos conselhos, pois a avaliação e o conselho de classe são indissociáveis. Deixamos claro que a intenção deste trabalho era a promoção da redescoberta da real função do Conselho de Classe, atribuindo-lhe novos significados, culminando com a sua reconstrução coletiva, não cabendo o julgamento e nem críticas aos professores da escola. Pesquisamos no Projeto Político Pedagógico e no Regimento Escolar a concepção de avaliação e Conselho de Classe fundamentada pela escola pesquisada, que é condizente com a legislação vigente, mas não com a realidade escolar dos nossos conselhos e práticas avaliativas, aproximando-se mais do cumprimento de um protocolo, não constituindo o Conselho de Classe como o espaço de reflexão pedagógica e tomada de decisões coletivas sobre as práticas avaliativas e a avaliação é reduzida a aplicação de “trabalhos e provas”, não havendo na maioria das vezes a reorganização do tempo para a retomada de conteúdos. Veja a seguir, alguns relatos dos professores nestes momentos de estudos, que retratam com propriedade a realidade escolar após a apreciação da unidade didática, produzida como resultado da produção didático-pedagógica. A professora (A) relata que: Tenho preocupado-me em relação ao Conselho de Classe, sinto-me insatisfeita quando de sua realização, pois fala-se muito das notas baixas dos alunos, que não fez isto ou aquilo, o colega querendo saber do outro se fulano obteve bom desempenho com ele, mas quando pergunta-se o que fazer com este aluno, quais ações podem ser aplicadas para a sua recuperação, há um silêncio, como se não coubesse a nós professores dar conta do que fazer em sala de aula. Verificamos neste relato a preocupação da professora com a recuperação da aprendizagem pelo aluno e a busca de novos rumos para sua ação pedagógica, pois sente-se insatisfeita com o atual sistema de ensino, que concebe a avaliação da aprendizagem como classificatória, desconsiderando seu aspecto diagnóstico, mas frustra-se ao não encontrar no Conselho de Classe da escola pesquisada decisões que primem pela real aprendizagem do educando, focando apenas a questão da nota. O relato feito pela professora (B) em relação ao Conselho de Classe evidencia a necessidade de mudanças nos conselhos praticados, mas é categórica ao afirmar que a presença física do aluno no conselho ainda é constrangedora para ambas as partes. A conscientização feita em relação ao Conselho de Classe é extremamente importante por fazer parte do nosso trabalho. Hoje temos certeza que como ocorre, não atende a objetivos reais, bem como seria prematuro a participação de alunos no mesmo. As orientações recebidas nos direcionam para a construção de um novo conselho em nossa escola, que sabemos não ser tarefa fácil. Percebemos na argumentação da professora (C), a ênfase dada ao processo avaliativo e a auto avaliação pelos docentes, práticas que requerem especial cuidado pelos sujeitos envolvidos no ato educativo, pois a nota, muitas vezes, é um referencial para os professores e pedagogos intervirem nas situações de ensino e aprendizagem com eficácia. A maior contribuição destes estudos sobre o Conselho de Classe se dá pela reflexão entre a comunidade escolar para a melhoria na avaliação da aprendizagem pelo aluno e mudança de postura frente ao conselho, abolindo o caráter de julgamento, onde o professor se auto avalia (metodologia, práticas avaliativas) com o intuito de propor novas formas de avaliação. Observamos no discurso dos professores que o Conselho de Classe tem sua função definida, mas contraditoriamente sua prática não constitui um momento propício na busca de soluções eficazes para os problemas vivenciados no cotidiano escolar, apenas validam-se as notas, atribuindo a elas um grande significado, não considerando a prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos da avaliação da aprendizagem e não se sentem satisfeitos com os conselhos praticados. Verificamos ainda que a queixa contra o pouco tempo destinado a estes conselhos é verdadeira, não havendo a reorientação necessária quanto a atuação dos professores, focando apenas o aluno, mas o professor consciente do trabalho docente auto avalia-se e reelabora a sua prática pedagógica. Consideraram prematura ainda a presença física do aluno nestes conselhos, sem a devida conscientização por parte de todos os envolvidos no processo educativo, vislumbrando futuramente esta possibilidade de integração. Num trabalho coletivo desenvolvido com as pedagogas da escola, realizamos a organização, a mediação e a observação do conselho de classe referente ao terceiro bimestre do ano letivo de 2011. Procuramos neste espaço de discussão referirmo-nos apenas a questões alusivas ao processo ensino-aprendizagem, sendo definidos no início de cada conselho os critérios para que nossos objetivos fossem alcançados. Estabelecemos que situações de alunos já solucionadas não seriam expostas novamente; analisaríamos os casos somente de aprendizagem, haja vista que as questões disciplinares são resolvidas no momento em que surgem, pela equipe pedagógica e Conselho Escolar; as notas de alunos deveriam ser entregues na secretaria e não durante o conselho, pois esta era uma prática corriqueira na escola em questão e que tomava o tempo destinado a discussão, análise e tomada de decisões coletivas quanto ao processo pedagógico; registrassem no Livro Registro de Classe os apontamentos pedagógicos sugeridos pelo coletivo em relação ao aluno cuja aprendizagem era mais comprometida para acompanhamento pedagógico. Os critérios adotados não satisfizeram a todos, especialmente os professores que não participaram de toda a implementação e que não tiveram o entendimento necessário, ocasionando uma certa tensão entre os pares, comprometendo o êxito almejado, mas partindo da premissa de que o sucesso advém com o tempo e vontade férrea, não se construindo ao acaso, sentimos neste momento que a possibilidade de reorganização deste conselho era passível de mudança, bastando continuarmos com as reflexões em todos os espaços que a escola disponibilizar, propiciando o enriquecimento de nossa prática docente. A aproximação do final do ano e consequentemente do Conselho de Classe Final, traduziu-se na inquietude em trabalhamos em uma reunião pedagógica importantes considerações sobre este conselho, pois não se têm discutido os casos de alunos relacionados ao último bimestre, mas apenas os alunos que não alcançaram a média final 6,0 (seis) para serem aprovados, restringindo o desempenho do aluno a nota. Neste momento, discutimos e refletimos sobre as decisões finais pertinentes ao processo ensino e aprendizagem, com a adoção de critérios qualitativos sobre os quantitativos, levando em consideração o progresso do aluno e suas limitações em todas as disciplinas, a realização das adaptações curriculares previstas ao aluno da Sala de Recurso Multifuncional e a todas as situações de inclusão, o que fez o professor para o aluno avançar na aprendizagem, o comprometimento do aluno em aprender, o acompanhamento pedagógico deste aluno posteriormente e não as questões comportamentais e disciplinares, prática que precisa ser abolida da escola, deixando o Conselho de Classe de ser visto como o espaço que apenas reprova ou aprova o aluno, ou seja, o “juízo final” formado pelo “conselho das bruxas”, como assim ficou conhecido em muitas escolas brasileiras, mas como “a avaliação praticada na escola no seu dia a dia”, valendo-me da afirmativa de Cruz (2005). Esgotadas todas as possibilidades de intervenção pedagógica quanto a este aluno, aí sim o conselho decidirá sobre sua aprovação ou retenção. Constatamos que cometemos falhas em relação ao processo educativo, mas que podemos vir a mudar nossa prática pedagógica, tornando-a mais atrativa ao aluno e também ouvindo-o como elemento que compõe este processo. Sentimos que estão receptivos às mudanças, mas a mesma será lenta e gradativa, não se muda concepções fortemente enraizadas na cultura escolar de um momento para o outro, mas à longo prazo, com tolerância e perseverança, com a continuidade destas reflexões acerca dessa instância colegiada para que na coletividade, proponham ações que viabilizem a apropriação da aprendizagem pelos alunos que dela padecem. Esta implementação, ao mesmo tempo que provocou nos professores o desconforto em relação às práticas vivenciadas e executadas por eles, levando-os a um repensar de sua ação didático-pedagógica, mostrou também que como pedagogas, podemos e devemos intervir no trabalho educativo didático do professor, dando-lhe suporte em suas necessidades e que a nossa prática passa a ter uma nova conotação, um olhar crítico onde antes não nos percebíamos coniventes com as situações de exclusão e de fracasso escolar e que podemos dizer ” não” sem sentir-nos culpa das a funções que não são nossas de fato, mas que esperam que as façamos simplesmente porque “acham” que o pedagogo, por não ter uma sala de aula, não é habilitado a emitir pareceres sobre a aprendizagem do aluno. Temos que anunciar que o nosso papel é desempenhar funções de cunho estritamente pedagógico e não meramente burocráticas e impositoras, dependendo da nossa postura em face da mudança esperada que ocorra na concepção de nossa função por parte dos profissionais da escola. Considerações Finais Com esta discussão, pretendemos a ressignificação do Conselho de Classe por parte dos colegas professores e gestores e o reconhecimento e a valorização do pedagogo pelos segmentos da escola, haja vista que ele é o articulador de todo o processo pedagógico . A partir das práticas observadas nos Conselhos de Classe, é comumente importante revermos a organização do mesmo, iniciando um processo de transformação das relações que permita aos protagonistas do processo pedagógico conhecer e compreender cada elemento a ser considerado no processo avaliativo no interior da escola, criando oportunidades de aprendizagem dentro de uma sociedade mais justa e democrática, aprendizagem essa que deveria ser considerada única, singular, pois os indivíduos são distintos uns dos outros e requerem tempos e espaços diferentes e, segundo as considerações de Cruz (2005), o conselho de classe, democraticamente orientado pela equipe pedagógica e gestora, constituiráse em um importante mecanismo da gestão democrática, considerada como princípio consagrado pela Constituição Brasileira, enaltecendo as experiências praticadas pelos professores, incentivando a ousadia para mudar a fim de transformar o processo autoritário da cultura escolar sobre avaliação. Ensinar é um ato intencional e uma escola que se preocupa com o ensino público de qualidade e com a democratização da educação, requer professores que dominem o processo de seu trabalho, ou seja, a especificidade do trabalho docente. Para que as mudanças ocorram efetivamente, é necessário investir na formação dos professores numa linha mais reflexiva, tendo recontextualizadas sua identidade e responsabilidade profissional, possibilitando-lhe o discernimento para enfrentar e resolver os problemas oriundos da prática cotidiana das escolas, enquanto sujeito do seu próprio trabalho, tendo a seu favor o respaldo da equipe pedagógica e gestora da escola ( ALARCÃO, 2010 ). Para intervirmos no processo ensino-aprendizagem, primeiramente temos que compreendê-lo em todas as suas nuances e para que isto ocorra é preciso pensar em todas as possibilidades que o contexto histórico apresenta e propor medidas que enalteçam este processo, privilegiando a aprendizagem do educando. Lamentar-nos apenas não contribuirá para o surgimento de um novo conselho que pretenda inovador, ético, criterioso na tomada de decisões e nas práticas avaliativas. Continuaremos com os estudos de reflexão e promoveremos em reuniões pedagógicas e no próprio conselho discussões sobre o Conselho Participativo, já que uma mudança deste porte requer consistência para um posicionamento que se almeja crítico e participativo, pois acreditamos que o grande desafio para desmistificarmos e transformarmos nossas práticas pedagógicas no processo avaliativo está na desconstrução de práticas tradicionalmente arraigadas em nossa cultura como educadores, impedindo a reestruturação de ações onde todos possam interagir, optando por decisões coletivas e compartilhadas, permitindo a análise global de todos os envolvidos no processo educativo. Aos colegas que ainda resistem ao processo evolutivo da educação, fica uma lacuna: a função do professor educador é viabilizar o aprender do aluno ou privá-lo deste direito? REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. – 7. ed. – São Edições Graal, 1986. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 5692/1971. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Disponível em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/5692_71.htm > Acesso em 07/05/2011. ___________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm> Acesso em 07/05/2011. CRUZ, Carlos Henrique Carrilho. Conselho de Classe: espaço de diagnóstico da prática educativa escolar. Coleção Fazer e Transformar.São Paulo: Loyola, 2005. DALBEN, Angela Imaculada Loureiro de Freitas. 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