Perfil epidemiológico das intoxicações acidentais e acidentes no Hospital Pediátrico David Bernardino César M. Freitas(1), Vitoria E. Santo(1), RESUMO Objectivo Descrição do perfil epidemiológico das intoxicações acidentais e acidentes nas urgências do Hospital Pediátrico David Bernardino (HPDB). Metodologia Registo de todos os casos declarados de intoxicações acidentais e/ou acidentes observados nas urgências do HPDB e recolha de informações sobre a identificação da criança, circunstancias da ocorrência, características dos produtos, apresentação clínica, as medidas tomadas (no domicilio e na urgência), e o desfecho. Os dados recolhidos foram analisadas através do programa epiinfo.. Resultados Foram registados 202 (0,33%) ocorrências de intoxicações acidentais e acidentes dos quais 87,6 % por intoxicação, 11,9% ingestão de corpo estranho e traumatismo 1% sendo 70% entre eles constituídos por crianças de 1 a 3 anos, num universo de 61646 crianças observadas nas urgências do Hospital ao longo do período referido. 61,4% dos pais das crianças registadas tinham menos de 12 anos de escolarização e 98,1% sem remuneração fixa. As exposições ocorreram na sua maioria por via oral, na residência familiar, com um adulto nas proximidades e os produtos geralmente guardados em locais impróprios. O intervalo médio entre a ocorrência da exposição e o recurso aos serviços de urgências foi de 6 horas. Os derivados de hidrocarbonetos foram os produtos mas implicados nas intoxicações (50,5%). Diversos objectos foram encontrados na ingestão de corpo estranho com destaque para as moedas As principais manifestações clínicas foram a dispneia para ingestão de derivados de hidrocarbonetos e lesões das mucosas oral para ingestão de cáusticos. Após exposição, em 95,5 % dos casos foi tentada uma indução de vómito no domicilio, e 22% fizeram uma lavagem gástrica nas urgências. Foram internados 32 (15,3%) casos dos 202 registados sem nenhuma ocorrência de óbito. Conclusão: As intoxicações acidentais são ocorrências frequentes nas urgências do HPDB provocadas na sua maioria por ingestão de produtos derivados de hidrocarbonetos. As crianças de 12 a 24 mês constituem a faixa etária mas vulnerável e as exposições ocorrem em geral num contexto familiar. O tempo médio para recurso aos serviços de saúde é prolongado e as medidas tomadas após exposição tanto no domicilio como nas urgências são geralmente inadequadas sendo provocados em 74,6 % por produtos cuja remoção gástrica é contra-indicada. Recomendações: 1. Promoção da prevenção através da educação tanto dos pais como das crianças 2. Restrição e/ou condicionamento de uso domestico de produtos potencialmente tóxicos 3. Elaboração de protocolos para triagem e manuseamento das intoxicações acidentais e acidentes a todos níveis de atendimento do nosso sistema de saúde Palavra chaves: Intoxicações accidentais, acidentes, criança, perfil, urgências, Hospital Pediátrico 1 Perfil epidemiológico das intoxicações e acidentes no Hospital Pediátrico David Bernardino Fundamento Com a constante evolução da industrialização as intoxicações e acidentes constituem, em particular nos pais subdesenvolvidos onde as medidas preventivas são precárias, um problema de saúde pública. Em 2000, no Estados Unidos de América, a traves do National Health Interviews Survey data, Danesco e al. estimaram em cerca de 25 % (20,6 milhões de casos / ano) a incidência dos acidentes e intoxicações nas crianças e jovens menores de 21 ano de idade.1,2 A SINITOX, Sistema Nacional de informmações toxicológico e farmacológico Brasilero registou em 2002, 75212 casos de intoxicações 25,4% dos quais eram criança de menores de 5 anos de idade.3 Em Africa sub-sahariana, a escassez dos dados epidemiológicos é o reflexo das dificuldades que apresentam os pais desta região no controlo deste fenómeno. Contudo, em 2002, num estudo retrospectivo de 2 anos sobre os registos de crianças atendidas nos serviços de urgências do Obafemi Awolowo University Teaching Hopital, Adejuyigbe EA. e al. encontraram uma incidência de 0,52% casos de intoxicações.4 E reconhecido que a aquisição dos reflexos psicomotores em diversas etapas de desenvolvimento constituem para as crianças um factore de risco, e os aspectos socioeconómicos, geográficos e culturais determinam perfis diferentes entre as regiões.5-10 O conhecimento das especificidades epidemiológicas em cada região é indispensável para planificar as medidas preventivas e proporcionar uma abordagem clínica eficiente.11 Em Angola são escassos ou si não inexistentes os dados epidemiológicos disponíveis relativos a este fenómeno. No âmbito de esboçar um perfil epidemiológico ilustrativo e incentivar a criação de uma futura base de dados a nível do pais, realizou-se no Hospital Pediátrico David Bernardino um teste piloto de recolha e analises de dados a partir dos casos intoxicação e acidentes registados nos seus serviços de urgências. O Hospital Pediátrico David Bernardino (HPDB), unidade hospitalar de referência em pediatria a nível de Luanda, capital de Angola, é dotado de 300 camas de internamento. Os seus serviços de urgências, sem a cirurgia, traumatologia e ORL, atende em media 400 crianças de 0 a 15 anos diariamente. A figura 1 representa a projecção da distribuição por faixa etária das crianças atendidas neste serviços de urgências onde cerca de 45% tem entre 1 a 5 anos de idade entre os quais 37% de 1-3 anos e 8% de 4-5 anos, 30% de 1 a 11 meses, 14% de 0 a 30 dias. As crianças com idade superior a 5 anos representam 11%. A população atendida neste hospital é maioritariamente de nível socio-económico baixa e media. A escolarização em Angola esta estruturada em 4 níveis principais ou seja o primeiro, segundo, terceiro nível e o médio. A conclusão do 3° nível corresponde a 8 anos de escolarização e do médio a 12 anos. A duração do ensino superior varia com as especialidades. A traves do perfil epidemiológico pretendemos avaliar especificamente a incidência, a distribuição por idade, alguns aspectos socio-económicos e culturais, e, as características da ocorrência do fenómeno. 2 Fig.1 Distribuição por faixa etaria das criança atendida nas urgencia do Hospital Pediatrico David bernardino (HPDB) 4-5a 8% 1-3a 37% >5a 11% 0-1 m 14% 1 - 11 m 30% Metodologia Foi realizado um estudo prospectivo baseado na recolha de dados a traves uma ficha de inquérito predefinida de todos os casos de intoxicações e acidentes atendidos nas urgências do HPDB durante um período de 7 mês, do 2 de Fevereiro a 2 de Setembro de 2006, submetida depois a uma analise descritiva. A traves da ficha de inquérito foram recolhidas informações sobre a identidade da criança (nome, idade, morada), ocupação e nível de escolarização da criança e dos pais, circunstancias da ocorrência (data, hora, local e via de exposição, presencia de um adulto), características dos produtos, avaliação clínica a entrada (baseado no protocolo de atendimento na triagem das urgências do hospital), medidas tomadas a domicilio e nas urgências, como também o desfecho. Os registos e preenchimentos das fichas foram realizados pelo médico responsável da triagem logo a entrada nas urgências. Em função da gravidade, as crianças eram encaminhados para o internamento, o nas consultas de seguimento após a alta Para a descrição do nível de formação definimos 5 grupos diferentes em função dos anos de escolarização ou seja: os não escolarizados (sem formação), 3° nível não concluído (menos de 8 anos de escolarização), médio não concluído (menos de 12 anos de escolarização), médio concluído (12 anos de escolarização) e superior (mas de 12 anos de escolarização). Avaliamos o nível socio-económico individual baseando-se na prática de uma actividade remunerada e na sua constância no tempo. Desta forma definimos 3 grupos distintos: desempregado (sem nenhuma actividade remunerada), actividade sem remuneração fixa e actividade com remuneração fixa. Consideramos produtos derivados de hidrocarbonetos todos produtos resultantes de diversos de processos de refinamento do petróleo e como produtos cáusticos todos produtos com efeitos corrosivos sobre as mucosas e peles As informações recolhidas foram analisadas a traves da base de dados do epiinfo 2000. O texto e os quadros elaborados através dos Microsoft Office Word Office e excel 2003. 3 Resultados Durante o período referido foram registados 202 (0,33%) ocorrências de intoxicações e acidentes num universo de 61646 crianças observados nas urgências, dos quais 176 (87,6 %) por intoxicações, 26 (12%) por ingestão de corpo estranho e 2 (1%) por traumatismo (fig2) 169(83,6%) Crianças tinham idade incluída na faixa etária de 1a 5 anos (69,8% de 1 a 3 anos e 12,8 % de 4 a 5 anos), 19 (9,4%) de 1 a 11 meses e 14 (6,9%) maior de 5 anos. (fig.3). O quadro 1 resume o nível de escolarização das crianças com idade escolar, das mães e dos pais. Foram registadas 14 crianças com idade para escolarização e entre eles 11 estavam em 3° nível, e 3 não escolarizados. Das 152 mães com informação sobre o nível escolar, 10 (6,5 %) eram não escolarizados, 75 (49,3%) não tinham concluído o 3° nível, 33 (21,7%) com curso médio não concluído, 27 (17,7 %) com médio concluído, e 7 (4,6%) com formação superior. Em relação aos pais, dos 126 registados, houve 2 (1,5 %) não escolarizados, 24 (18,7%) com 3° nível não concluído, 40 (31,2 %) com curso médio não concluído, 49 (38,2 %) com médio concluído, e 13 (10,4%) com formação superior. Fig. 2 Ocorrencia das intoxicações e acidentes no Hospital pediatrico David Bernadino (HPDB) FevSet 2006 n =202 12% 1% 87% Intoxicação corpoestranho Traumatismo Fig.3 Distribuição por faixa etaria das crianças atendidas nas urgencis do HPDB por intoxicações e/o acidentes (fev-set 2006) 4-5a 13% >5a 7% 1 - 11 m 9% 1-3a 70% 4 Q1. Distribuição das crianças com idade escolar e dos pais por grupos em função dos anos de escolarização Nível Escolar Criança Mãe Pai 3 10 2 11 75 24 Médio não concluído 33 40 Médio concluído 27 49 7 13 152 128 Não escolarizado 3° Nível não concluído Formação superior Total 14 Foram registados a profissão de 173 pais, 4 (2,8%) entre eles eram desempregados, 102 (58,9%) tinham uma actividade Professional sem remuneração fixa e 67 (38,6 %) com uma actividade Professional e remuneração fixa. Das 175 mães, 71 (40,5 %) eram desempregadas, 85 (48,5 %) com uma actividade Professional sem remuneração fixa, 19 (9,9%) com uma actividade Professional e remuneração fixa. (Q.3) Q.2 Distribuição dos pais por grupo de actividade Professional Grupo de actividade Professional (GAP) Mãe Desempragado 71(40,5%) GAP sem remuneração fixa 85(48,5%) GAP com remuneração fixa 19(9,9%) Total 155 Pai 4(2,8%) 102(58,9%) 67(38,6%) 112 5 87(81%) Dos 107 casos registados com identificação do local de exposição ocorreram em diversos locais dentro da residência familiar. (Q.4) A sua distribuição ao longo do dia, 35% de exposição ocorreram de manha, 41% a tarde e 23 % a noite. (fig. 3) Q.3 Distribuição da frequência das intoxicações e/o acidentes por local da exposição (n=107) Local Dentro da Residência familiar Quarto 18 Sala 17 Cozinha 16 Casa de banho 2 Quintal 34 Fora da Residência familiar 15 Rua 4 Lixeira 1 Total 87 (81%) 19(19%) Fig.3 Distribuição de caso de intoxicações e/o acidentes por periodo da exposição 41% 35% 23% Manha Tarde Periodo Noite 6 Os produtos tóxicos eram guardados em diversos locais como garrafas (10), latas de refrigerentes (6), Saladeira (16), Frasco próprio do produto (2) (Q.3) 60 % Dos acompanhantes declararam a presença dum adulto nas proximidades do local onde ocorreu a exposição. O intervalo médio de tempo entre a exposição e recursos aos serviços de urgências foi de 6 horas. (limite entre 3 a 24 horas). Q.5 Lista dos Locais onde habitualmente são guardados os produtos Garrafas (refrigerantes, agua mineral, cerveja) 10 Latas (refrigerantes, agua mineral, cerveja) 6 Canecas 1 Saladeira 16 Frascos próprios do produto 2 Em 99 % (n = 202) de caso a via de exposição foi oral, 1,5 % respiratória e 0,5% percutanea. O único caso de traumatismo referido foi por uma queda ao solo. Os derivados de hidrocarbonetos foram implicados em 89 casos (50,5 %) dos 177 registados por intoxicações, em seguida as lixívias com 14,2%, medicamentos 11,9%, produtos cáusticos 9,7%, plantas 5,1%, pesticida 1,7%, monóxido de carboneo 1,1%, álcool 1,1%, água da fossa 0,5%. Em 3,9 % de casos os produtos eram desconhecidos. (fig.5;anexo1). Em relação a ingestão de corpos estranhos, diversos objectos foram identificados dos quais 6 moedas, 3 brincos e vários outros objectos singulares especificados nos quadros 5,6 e7. Os quadros 5,6,7 relacionam a idade das crianças com tipo e causa da exposição. Observamos que a ocorrência das exposições inicia aos 2 meses de idade atinge um pico ao 1 ano de idade para estabilizar-se a partir dos 6 anos de idade. A intoxicação por produtos derivados de hidrocarboneto foi a exposição mas frequente nas faixas etárias de 1 a 11 meses e 1 a 5 anos. Aparece aos 5 meses de idade, atinge um pico aos 12 a 23 meses e desaparece a partir dos 4 anos de idade. O único caso de intoxicação registada numa criança de 2 meses de idade foi causado por um adulto. A ingestão de corpo estranho inicia aos 9 meses de idade com um pico aos 5 anos de idade. As causas das intoxicações e accidentes são heterogéneos na faixa etária superior aos 5 anos de vida. 7 Fig.5 Frequencia dos produtos implicados nas intoxicações (n = 177) Desconhecido Agua fossa 3,90% 0,50% Alcool 1,10% CO 1,10% Pesticidas Plantas Causticos Medicamentos Lixivias 1,70% 5,10% 9,70% 11,90% 14,20% Derivados hidracarbonatos 50,50% Q. 5 Características das exposições por idade (1 – 11 mês) Idade 2M 5M 7M 8M 9M 10 M 11 M Tot Intoxicação Lixívia Hidrocarboneto Hidrocarboneto Desconhecido Comprimido desfrisante desfrisante Lixívia Hidrocarboneto Hidrocarboneto Intoxicação freq 1 1 1 2 1 1 2 1 3 1 14 Tipo de exposição Corpo estranho freq Trauma. freq Tot 1 1 3 Queda Caco garrafa Moedas Brinco Corpo estranho 2 1 1 1 3 4 3 6 Trauma. 2 1 19 8 Q. 6 Características das exposições por idade (1 – 5 anos) Idade Intoxicação Hidrocarboneto lixívia Caustico 12-23 M Medicamento (1 anos) Pesticida Planta Desconhecido Hidrocarboneto Lixívia Caustico 24 -35 M Pesticida (2 anos) Medicamento Plantas Desconhecida Hidrocarboneto Lixívia Medicamento 36 -47 M Caustico (3 anos) Pesticida Plantas Desconhecido Medicamento Plantas Caustico 47 -59M Lixívia (4 anos) CO Hidrocarboneto Agua da fossa Caustico CO 59-71 M Medicamento (5 anos) Plantas Lixívia Desconhecido Tot Intoxicação freq 66 6 5 4 1 1 1 10 8 4 3 3 2 1 5 5 3 1 1 1 1 3 2 1 1 1 1 1 3 2 1 1 1 2 152 Tipo de exposição Corpo estranho freq Mola de ferro 1 Moeda 2 Trauma. freq Tot 87 Mola de ferro Gancho de cabelo Desconhecido 1 1 1 34 Brinco Moeda Desconhecido 1 1 2 21 Agulha 1 11 Brinco Gancho de cabelo Prego metálico Objecto metálico Pau de madeira Ponta de lápis Corpo estranho 1 1 1 1 1 1 17 16 Trauma. 169 9 Q. 7 Características das exposições por idade (maior de 5 ano) Idade 6A Intoxicação Lixívia Comprimido Álcool etílica Caustico Plantas Caustico Comprimido Álcool etílica Comprimido Lixívia Caustico 7A 8A 9A 10 A 11 M Tot Tipo de exposição Corpo estranho freq Pilha de relógio 1 freq 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 freq Tot 7 2 2 Caco garrafa Corpo estranho 12 Intoxicação Trauma. 1 2 1 1 1 14 Trauma. Fig.6 Distribuição das causas de esposição por idade 90 80 70 50 40 30 20 10 an o an o 3 s an o 4 s an o 5 s an o 6 s an o 7 s an o 8 s an o 9 s an 10 os an 11 os an os 2 M 1 M 11 M M M 10 9 8 M 7 5 M 0 2 freq 60 idade hidricarb lixivia medic caustico corpo estr total 10 98 (48%) dos 202 casos apresentaram manifestações clínicas a entrada nas urgências. O quadro 6. descreve a distribuição das manifestações por tipo de exposição no qual 46 (22,7%) crianças apresentaram dispneia cuja a principal causa foi a ingestão de hidrocarbonetos (40), seguida da inalação de monóxido de carbono (3) e ingestão de corpo estranho. 22 (10%) crianças apresentaram lesões da mucosa oral dos quais 19 por ingestão de cáusticos, 13 (6,4%) sialorreia provocados por ingestão de corpo estranho (7), ingestão de caustico (3), monóxido de carbono (2). 11(5,4) Crianças apresentaram comas após ingestão de medicamentos (3), hidrocarboneto (4), álcool etílico (1) e por ingestão de caustico (3), por fim 6(2,9%) crianças apresentaram lesões cutâneos. Q. 8 Distribuição das manifestações clínicas por tipo de exposição Tipo de exposição Hidrocarboneto Monóxido de C Álcool etílico Caustico Medicamentos Corpo estranho Trauma. Desconhecido Coma Dispneia 4 40 3 1 1 4 1 Sintomas Sialorreia Lesões mucosas orais 2 3 1 2 Lesões cutâneos 2 19 3 3 1 7 1 Ao domicílio houve 95,5% indução de vómitos em 177 casos de intoxicação e para o efeito foi usado em 95,5 % uma mistura a base de óleo, leite e ovo. Nas urgências realizaram 22 (15%) lavagens gástricas em 145 casos de intoxicações dos quais 9 por ingestão de medicamentos, 4 por ingestão de plantas, 3 por produtos cáusticos, 4 por pesticidas, 2 por hidrocarboneto. Foram realizadas 67 radiografias seja 45 na sequencia de ingestão dos produtos derivados de hidrocarbonetos, 18 por ingestão de corpo estranho, 3 por inalação de fumo e 1 por traumatismo. 32 Das 45 radiografias de tórax realizadas por ingestão de produtos derivados de hidrocarboneto apresentaram lesões sugestivas de pneumonias. Realizaram se 21 endoscopias entre os quais 13 por ingestão de produtos cáusticos, 8 por ingestão de corpo estranho. 12 das 13 casos que foi realizada endoscopia por ingestão de cáusticos apresentaram lesões esofágicas e/o gástrica leve e 1 tinha lesões de 3° grau. Foram internados 32 (15,3%) casos dos 202, entre os quais 13 por ingestão de produtos derivados de hidrocarboneto, 9 por ingestão de produtos cáusticos, 4 por ingestão de corpo estranho, 3 por inalação de monóxido de carbono e 2 por ingestão de comprimido. Não foi registado nenhuma ocorrência de óbito na população do estudo. 11 Q.8 Descrição dos produtos envolvidos nas intoxicações Produtos Frequência Produtos derivados de hidrocarboneto Petróleo Gasolina Gasóleo Diluente 82 3 1 3 Lixívia diluida 22 Medicamentos Diazepam co Anaflan co Ibupofren co Prometazina co Amodiaquina co Cloroquina co Bom apetit co Adalat co Ferro acido folico Methylergotamina Trihexifenidil 2 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 Cáusticos Desfrsante de cabelo Po de pilha Produto de limpeza piscina Produto de limpeza forgão Permanganato de K Cal Soda caustica 3 2 1 2 3 2 7 Pesticida Dragão Amistix Adubo Álcool Wisky 1 1 2 2 12 Q.9 Descrição dos grupos de actividade profissional dos pais Tipo de actividade Actividade sem remuneração fixa Vendedor Motorista Pedreiro Empregado domestica Pescador Electricista Pintor Costureira Actividade com remuneração fixa Medico Economista Gerente de empresa Professora Jornalista Enfermeira Tec. Laboratório Farmacêutico Função publica Bancária Balconista Contabilista Operadora de caixa Recepcionista Policia Militar Segurança Mãe Pai 69 17 23 26 12 1 5 2 1 2 4 2 2 2 1 1 5 5 1 1 2 1 2 2 2 2 12 7 12 13 Comentários As intoxicações acidentais e acidentes em criança constituem um problema de muito maior amplitude que a nossa população de estudo deixa transparecer. A falta do atendimento de cirurgia, traumatologia e ORL nas urgências do HPDB justifica a fraca incidência dos acidentes registada neste estudo. Este facto, juntos as prováveis perdas de informações por falha de registo de alguns casos no próprio inquérito, são indícios para considerar que os 0,33 % de incidência registada representam a ponta de iceberg dum fenómeno subavaliada, e que há necessidade de realizar no pais estudos com abordagem multicentrico, quiçá, a criação no futuro de um sistema para o controle e recolha de dados, essencial para desenvolver politicas coordenadas e objectivas de prevenção. A maioria dos pais da nossa população de estudo não tinham remunerações estáveis e com menos de 12 anos de escolarização. Apontado para algumas publicações como factor de risco9-20, a avaliação do nível socio-económico de uma população é um exercício difícil sobretudo quando se trata de uma sociedade onde predomina a actividade profissional informal como principal fonte de recurso. Apesar que o estilo de vida de uma população possa influir na susceptibilidade as exposições, a descrição dos níveis de escolarização e socioeconómico servem sobre tudo para adaptar os programas de prevenção. As crianças menores de 5 anos de idade são neste trabalho, como em muitos outros na literatura, as principais vitimas destes fenómenos, cujos a intoxicação representa a principal forma de exposição, ocorrendo na sua maioria por via oral, dentro do domicílio familiar, com um adulto nas proximidades e os produtos encontrados em locais impróprios. Estes dados implica a necessidade dos programas de prevenção informar aos pais, dum lado sobre o potencial risco tóxico de muitos produtos de uso domestico e a forma de mantê-los fora do alcance das crianças, do outro, encontrar junto as empresas fornecedora, tanto as medidas de restrição de uso para alguns, como de protecção de embalagem para outros. A ingestão dos derivados de hidrocarbonetos, causa comum de intoxicação nas zonas urbanas dos pais subdesenvolvidos,14-17 foi responsável de mais da metade do total das intoxicações ocorridas na nossa população de estudo. Facto que podemos considerar como o reflexo da influencia dos aspectos socio-económico e culturais na ocorrência das intoxicações e acidentes. O uso doméstico e quotidiano dos produtos acima referidos na nossa sociedade e em particular pelas famílias de baixa renda é a provável causa desta elevada incidência. Uma diminuição do índice de intoxicação por produtos derivados de hidrocarbonetos resultaria a uma redução da incidência global das intoxicações. A analise do tipo exposição por idade e revelou para os produtos derivados de hidrocarbonetos, uma curva cuja as exposições iniciam aos 5 mês de idade com um pico aos 12-23 meses e uma queda aos 4 anos compatível com as fases de desenvolvimentos psicomotor da criança. As intoxicações por lixívia e produtos caustico tem uma distribuição relativamente constante em relação as idade provavelmente por ser inodoro e cujo aspecto confunde-se facilmente com sal ou agua. A ingestão de corpo estranho inicia aos 9 meses de idade e mantém-se constante ate aos 11 anos de idade. Estes factos ilustram a importante influencia da idade e do estado de desenvolvimento psicomotor na ocorrência e tipo de exposição, de modo que devemos sempre questionar a implicação de um adulto em todos casos de intoxicações e acidentes que ocorrem antes dos 5 meses de idades e a integridade psíquica da criança nas intoxicações depois dos 6 anos de idade.6,7 O esvaziamento gástrico, método frequentemente usado para nossa população de estudo para descontaminação gástrica, tanto a domicilio (auto-indução de vómitos), como na urgência (lavagem gástrica) contribuem a aumentar os riscos de complicações atendendo que, por um 14 lado, as intoxicações neste estudo são causado em mais de 70 % de casos por produtos cujos a remoção gástrica e contra-indicada, e por outro, todos casos chegam as urgências no mínimo 3 horas após ingestão questionando a eficiência mesmo do procedimento. 18-22 Considerando estes aspectos, seria benéfico neste contexto promover protocolos de manuseamento e triagem tanto a nível primário como hospitalar para dum lado minimizar o intervalo entre a exposição e o acesso ao serviço de saúde como proporcionar um manuseamento eficiente e racional após a intoxicação. A benignidade da maioria dos casos registados, a clara definição dos sinais de alarme reforçam a ideia de que os centros de saúde devem constituir, em benefício do doente e do sistema de saúde, o primeiro ponto para atendimento. BIBLIOGRFIA 1. Agran PF, Craig A, et al. Rates of Pediatric and Adolescent Injuries by Year of Age Pediatrics 2001;108(3). 2. Danseco ER, Miller TR, et al. Incidence and Costs of 1987–1994 Childhood Injuries Demographic Breakdowns Pediatrics 2000; 105(2). 3. Bucaretchi F, Baracatz ECE . Acute toxic exposure in children: an overview. J Pediatr (Rio J). 2005; 81(5 Suppl):S212-S222 4. Adeyuyibge EA, Onayade AA. Sembanjo IO. Childhood poisoning at the Obafemi Awolowo University Teaching Hospital, Holfe, Nigeria. Niger J Med 2002;11(4):183-6 5. Spady DW, Saunders D L, Schopflocher DP. Patterns of Injury in Children: A Population-Based Approach Pediatrics 2004;113:522–529 6. Agran PF et al. 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