Perfil epidemiológico das intoxicações acidentais e acidentes no
Hospital Pediátrico David Bernardino
César M. Freitas(1), Vitoria E. Santo(1),
RESUMO
Objectivo
Descrição do perfil epidemiológico das intoxicações acidentais e acidentes nas urgências do
Hospital Pediátrico David Bernardino (HPDB).
Metodologia
Registo de todos os casos declarados de intoxicações acidentais e/ou acidentes observados nas
urgências do HPDB e recolha de informações sobre a identificação da criança, circunstancias
da ocorrência, características dos produtos, apresentação clínica, as medidas tomadas (no
domicilio e na urgência), e o desfecho. Os dados recolhidos foram analisadas através do
programa epiinfo..
Resultados
Foram registados 202 (0,33%) ocorrências de intoxicações acidentais e acidentes dos quais
87,6 % por intoxicação, 11,9% ingestão de corpo estranho e traumatismo 1% sendo 70% entre
eles constituídos por crianças de 1 a 3 anos, num universo de 61646 crianças observadas nas
urgências do Hospital ao longo do período referido.
61,4% dos pais das crianças registadas tinham menos de 12 anos de escolarização e 98,1%
sem remuneração fixa.
As exposições ocorreram na sua maioria por via oral, na residência familiar, com um adulto
nas proximidades e os produtos geralmente guardados em locais impróprios.
O intervalo médio entre a ocorrência da exposição e o recurso aos serviços de urgências foi de
6 horas.
Os derivados de hidrocarbonetos foram os produtos mas implicados nas intoxicações (50,5%).
Diversos objectos foram encontrados na ingestão de corpo estranho com destaque para as
moedas
As principais manifestações clínicas foram a dispneia para ingestão de derivados de
hidrocarbonetos e lesões das mucosas oral para ingestão de cáusticos.
Após exposição, em 95,5 % dos casos foi tentada uma indução de vómito no domicilio, e 22%
fizeram uma lavagem gástrica nas urgências.
Foram internados 32 (15,3%) casos dos 202 registados sem nenhuma ocorrência de óbito.
Conclusão: As intoxicações acidentais são ocorrências frequentes nas urgências do HPDB
provocadas na sua maioria por ingestão de produtos derivados de hidrocarbonetos.
As crianças de 12 a 24 mês constituem a faixa etária mas vulnerável e as exposições ocorrem
em geral num contexto familiar. O tempo médio para recurso aos serviços de saúde é
prolongado e as medidas tomadas após exposição tanto no domicilio como nas urgências são
geralmente inadequadas sendo provocados em 74,6 % por produtos cuja remoção gástrica é
contra-indicada.
Recomendações:
1. Promoção da prevenção através da educação tanto dos pais como das crianças
2. Restrição e/ou condicionamento de uso domestico de produtos potencialmente tóxicos
3. Elaboração de protocolos para triagem e manuseamento das intoxicações acidentais e
acidentes a todos níveis de atendimento do nosso sistema de saúde
Palavra chaves: Intoxicações accidentais, acidentes, criança, perfil, urgências, Hospital
Pediátrico
1
Perfil epidemiológico das intoxicações e acidentes no Hospital
Pediátrico David Bernardino
Fundamento
Com a constante evolução da industrialização as intoxicações e acidentes constituem, em
particular nos pais subdesenvolvidos onde as medidas preventivas são precárias, um problema
de saúde pública. Em 2000, no Estados Unidos de América, a traves do National Health
Interviews Survey data, Danesco e al. estimaram em cerca de 25 % (20,6 milhões de casos /
ano) a incidência dos acidentes e intoxicações nas crianças e jovens menores de 21 ano de
idade.1,2 A SINITOX, Sistema Nacional de informmações toxicológico e farmacológico
Brasilero registou em 2002, 75212 casos de intoxicações 25,4% dos quais eram criança de
menores de 5 anos de idade.3 Em Africa sub-sahariana, a escassez dos dados epidemiológicos
é o reflexo das dificuldades que apresentam os pais desta região no controlo deste fenómeno.
Contudo, em 2002, num estudo retrospectivo de 2 anos sobre os registos de crianças atendidas
nos serviços de urgências do Obafemi Awolowo University Teaching Hopital, Adejuyigbe
EA. e al. encontraram uma incidência de 0,52% casos de intoxicações.4
E reconhecido que a aquisição dos reflexos psicomotores em diversas etapas de
desenvolvimento constituem para as crianças um factore de risco, e os aspectos socioeconómicos, geográficos e culturais determinam perfis diferentes entre as regiões.5-10
O conhecimento das especificidades epidemiológicas em cada região é indispensável para
planificar as medidas preventivas e proporcionar uma abordagem clínica eficiente.11
Em Angola são escassos ou si não inexistentes os dados epidemiológicos disponíveis relativos
a este fenómeno. No âmbito de esboçar um perfil epidemiológico ilustrativo e incentivar a
criação de uma futura base de dados a nível do pais, realizou-se no Hospital Pediátrico David
Bernardino um teste piloto de recolha e analises de dados a partir dos casos intoxicação e
acidentes registados nos seus serviços de urgências.
O Hospital Pediátrico David Bernardino (HPDB), unidade hospitalar de referência em
pediatria a nível de Luanda, capital de Angola, é dotado de 300 camas de internamento. Os
seus serviços de urgências, sem a cirurgia, traumatologia e ORL, atende em media 400
crianças de 0 a 15 anos diariamente.
A figura 1 representa a projecção da distribuição por faixa etária das crianças atendidas neste
serviços de urgências onde cerca de 45% tem entre 1 a 5 anos de idade entre os quais 37% de
1-3 anos e 8% de 4-5 anos, 30% de 1 a 11 meses, 14% de 0 a 30 dias. As crianças com idade
superior a 5 anos representam 11%.
A população atendida neste hospital é maioritariamente de nível socio-económico baixa e
media.
A escolarização em Angola esta estruturada em 4 níveis principais ou seja o primeiro,
segundo, terceiro nível e o médio. A conclusão do 3° nível corresponde a 8 anos de
escolarização e do médio a 12 anos. A duração do ensino superior varia com as
especialidades.
A traves do perfil epidemiológico pretendemos avaliar especificamente a incidência, a
distribuição por idade, alguns aspectos socio-económicos e culturais, e, as características da
ocorrência do fenómeno.
2
Fig.1 Distribuição por faixa etaria das criança
atendida nas urgencia do Hospital Pediatrico
David bernardino (HPDB)
4-5a
8%
1-3a
37%
>5a
11%
0-1 m
14%
1 - 11 m
30%
Metodologia
Foi realizado um estudo prospectivo baseado na recolha de dados a traves uma ficha de
inquérito predefinida de todos os casos de intoxicações e acidentes atendidos nas urgências do
HPDB durante um período de 7 mês, do 2 de Fevereiro a 2 de Setembro de 2006, submetida
depois a uma analise descritiva.
A traves da ficha de inquérito foram recolhidas informações sobre a identidade da criança
(nome, idade, morada), ocupação e nível de escolarização da criança e dos pais, circunstancias
da ocorrência (data, hora, local e via de exposição, presencia de um adulto), características dos
produtos, avaliação clínica a entrada (baseado no protocolo de atendimento na triagem das
urgências do hospital), medidas tomadas a domicilio e nas urgências, como também o
desfecho.
Os registos e preenchimentos das fichas foram realizados pelo médico responsável da triagem
logo a entrada nas urgências. Em função da gravidade, as crianças eram encaminhados para o
internamento, o nas consultas de seguimento após a alta
Para a descrição do nível de formação definimos 5 grupos diferentes em função dos anos de
escolarização ou seja: os não escolarizados (sem formação), 3° nível não concluído (menos de
8 anos de escolarização), médio não concluído (menos de 12 anos de escolarização), médio
concluído (12 anos de escolarização) e superior (mas de 12 anos de escolarização).
Avaliamos o nível socio-económico individual baseando-se na prática de uma actividade
remunerada e na sua constância no tempo. Desta forma definimos 3 grupos distintos:
desempregado (sem nenhuma actividade remunerada), actividade sem remuneração fixa e
actividade com remuneração fixa.
Consideramos produtos derivados de hidrocarbonetos todos produtos resultantes de diversos
de processos de refinamento do petróleo e como produtos cáusticos todos produtos com
efeitos corrosivos sobre as mucosas e peles
As informações recolhidas foram analisadas a traves da base de dados do epiinfo 2000.
O texto e os quadros elaborados através dos Microsoft Office Word Office e excel 2003.
3
Resultados
Durante o período referido foram registados 202 (0,33%) ocorrências de intoxicações e
acidentes num universo de 61646 crianças observados nas urgências, dos quais 176 (87,6 %)
por intoxicações, 26 (12%) por ingestão de corpo estranho e 2 (1%) por traumatismo (fig2)
169(83,6%) Crianças tinham idade incluída na faixa etária de 1a 5 anos (69,8% de 1 a 3 anos e
12,8 % de 4 a 5 anos), 19 (9,4%) de 1 a 11 meses e 14 (6,9%) maior de 5 anos. (fig.3).
O quadro 1 resume o nível de escolarização das crianças com idade escolar, das mães e dos
pais. Foram registadas 14 crianças com idade para escolarização e entre eles 11 estavam em 3°
nível, e 3 não escolarizados. Das 152 mães com informação sobre o nível escolar, 10 (6,5 %)
eram não escolarizados, 75 (49,3%) não tinham concluído o 3° nível, 33 (21,7%) com curso
médio não concluído, 27 (17,7 %) com médio concluído, e 7 (4,6%) com formação superior.
Em relação aos pais, dos 126 registados, houve 2 (1,5 %) não escolarizados, 24 (18,7%) com
3° nível não concluído, 40 (31,2 %) com curso médio não concluído, 49 (38,2 %) com médio
concluído, e 13 (10,4%) com formação superior.
Fig. 2 Ocorrencia das intoxicações e acidentes no
Hospital pediatrico David Bernadino (HPDB) FevSet 2006 n =202
12%
1%
87%
Intoxicação
corpoestranho
Traumatismo
Fig.3 Distribuição por faixa etaria das crianças
atendidas nas urgencis do HPDB por intoxicações
e/o acidentes (fev-set 2006)
4-5a
13%
>5a
7%
1 - 11 m
9%
1-3a
70%
4
Q1. Distribuição das crianças com idade escolar e dos pais por grupos em
função dos anos de escolarização
Nível Escolar
Criança
Mãe
Pai
3
10
2
11
75
24
Médio não concluído
33
40
Médio concluído
27
49
7
13
152
128
Não escolarizado
3° Nível não concluído
Formação superior
Total
14
Foram registados a profissão de 173 pais, 4 (2,8%) entre eles eram desempregados, 102
(58,9%) tinham uma actividade Professional sem remuneração fixa e 67 (38,6 %) com uma
actividade Professional e remuneração fixa. Das 175 mães, 71 (40,5 %) eram desempregadas,
85 (48,5 %) com uma actividade Professional sem remuneração fixa, 19 (9,9%) com uma
actividade Professional e remuneração fixa. (Q.3)
Q.2 Distribuição dos pais por grupo de actividade Professional
Grupo de actividade
Professional (GAP)
Mãe
Desempragado
71(40,5%)
GAP sem remuneração fixa
85(48,5%)
GAP com remuneração fixa
19(9,9%)
Total
155
Pai
4(2,8%)
102(58,9%)
67(38,6%)
112
5
87(81%) Dos 107 casos registados com identificação do local de exposição ocorreram em
diversos locais dentro da residência familiar. (Q.4)
A sua distribuição ao longo do dia, 35% de exposição ocorreram de manha, 41% a tarde e
23 % a noite. (fig. 3)
Q.3 Distribuição da frequência das intoxicações e/o acidentes por local da
exposição (n=107)
Local
Dentro da Residência familiar
Quarto
18
Sala
17
Cozinha
16
Casa de banho
2
Quintal
34
Fora da Residência familiar
15
Rua
4
Lixeira
1
Total
87 (81%)
19(19%)
Fig.3 Distribuição de caso de intoxicações
e/o acidentes por periodo da exposição
41%
35%
23%
Manha
Tarde
Periodo
Noite
6
Os produtos tóxicos eram guardados em diversos locais como garrafas (10), latas de
refrigerentes (6), Saladeira (16), Frasco próprio do produto (2) (Q.3)
60 % Dos acompanhantes declararam a presença dum adulto nas proximidades do local onde
ocorreu a exposição.
O intervalo médio de tempo entre a exposição e recursos aos serviços de urgências foi de 6
horas. (limite entre 3 a 24 horas).
Q.5 Lista dos Locais onde habitualmente são guardados os produtos
Garrafas (refrigerantes, agua mineral, cerveja)
10
Latas (refrigerantes, agua mineral, cerveja)
6
Canecas
1
Saladeira
16
Frascos próprios do produto
2
Em 99 % (n = 202) de caso a via de exposição foi oral, 1,5 % respiratória e 0,5% percutanea.
O único caso de traumatismo referido foi por uma queda ao solo.
Os derivados de hidrocarbonetos foram implicados em 89 casos (50,5 %) dos 177 registados
por intoxicações, em seguida as lixívias com 14,2%, medicamentos 11,9%, produtos cáusticos
9,7%, plantas 5,1%, pesticida 1,7%, monóxido de carboneo 1,1%, álcool 1,1%, água da fossa
0,5%. Em 3,9 % de casos os produtos eram desconhecidos. (fig.5;anexo1).
Em relação a ingestão de corpos estranhos, diversos objectos foram identificados dos quais 6
moedas, 3 brincos e vários outros objectos singulares especificados nos quadros 5,6 e7.
Os quadros 5,6,7 relacionam a idade das crianças com tipo e causa da exposição. Observamos
que a ocorrência das exposições inicia aos 2 meses de idade atinge um pico ao 1 ano de idade
para estabilizar-se a partir dos 6 anos de idade.
A intoxicação por produtos derivados de hidrocarboneto foi a exposição mas frequente nas
faixas etárias de 1 a 11 meses e 1 a 5 anos. Aparece aos 5 meses de idade, atinge um pico aos
12 a 23 meses e desaparece a partir dos 4 anos de idade. O único caso de intoxicação registada
numa criança de 2 meses de idade foi causado por um adulto.
A ingestão de corpo estranho inicia aos 9 meses de idade com um pico aos 5 anos de idade. As
causas das intoxicações e accidentes são heterogéneos na faixa etária superior aos 5 anos de
vida.
7
Fig.5 Frequencia dos produtos implicados nas intoxicações
(n = 177)
Desconhecido
Agua fossa
3,90%
0,50%
Alcool
1,10%
CO
1,10%
Pesticidas
Plantas
Causticos
Medicamentos
Lixivias
1,70%
5,10%
9,70%
11,90%
14,20%
Derivados hidracarbonatos
50,50%
Q. 5 Características das exposições por idade (1 – 11 mês)
Idade
2M
5M
7M
8M
9M
10 M
11 M
Tot
Intoxicação
Lixívia
Hidrocarboneto
Hidrocarboneto
Desconhecido
Comprimido
desfrisante
desfrisante
Lixívia
Hidrocarboneto
Hidrocarboneto
Intoxicação
freq
1
1
1
2
1
1
2
1
3
1
14
Tipo de exposição
Corpo estranho
freq
Trauma.
freq
Tot
1
1
3
Queda
Caco garrafa
Moedas
Brinco
Corpo estranho
2
1
1
1
3
4
3
6
Trauma.
2
1
19
8
Q. 6 Características das exposições por idade (1 – 5 anos)
Idade
Intoxicação
Hidrocarboneto
lixívia
Caustico
12-23 M
Medicamento
(1 anos)
Pesticida
Planta
Desconhecido
Hidrocarboneto
Lixívia
Caustico
24 -35 M
Pesticida
(2 anos)
Medicamento
Plantas
Desconhecida
Hidrocarboneto
Lixívia
Medicamento
36 -47 M
Caustico
(3 anos)
Pesticida
Plantas
Desconhecido
Medicamento
Plantas
Caustico
47 -59M
Lixívia
(4 anos)
CO
Hidrocarboneto
Agua da fossa
Caustico
CO
59-71 M Medicamento
(5 anos) Plantas
Lixívia
Desconhecido
Tot
Intoxicação
freq
66
6
5
4
1
1
1
10
8
4
3
3
2
1
5
5
3
1
1
1
1
3
2
1
1
1
1
1
3
2
1
1
1
2
152
Tipo de exposição
Corpo estranho
freq
Mola de ferro
1
Moeda
2
Trauma.
freq
Tot
87
Mola de ferro
Gancho de cabelo
Desconhecido
1
1
1
34
Brinco
Moeda
Desconhecido
1
1
2
21
Agulha
1
11
Brinco
Gancho de cabelo
Prego metálico
Objecto metálico
Pau de madeira
Ponta de lápis
Corpo estranho
1
1
1
1
1
1
17
16
Trauma.
169
9
Q. 7 Características das exposições por idade (maior de 5 ano)
Idade
6A
Intoxicação
Lixívia
Comprimido
Álcool etílica
Caustico
Plantas
Caustico
Comprimido
Álcool etílica
Comprimido
Lixívia
Caustico
7A
8A
9A
10 A
11 M
Tot
Tipo de exposição
Corpo estranho
freq
Pilha de relógio
1
freq
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
1
freq
Tot
7
2
2
Caco garrafa
Corpo estranho
12
Intoxicação
Trauma.
1
2
1
1
1
14
Trauma.
Fig.6 Distribuição das causas de esposição por
idade
90
80
70
50
40
30
20
10
an
o
an
o
3 s
an
o
4 s
an
o
5 s
an
o
6 s
an
o
7 s
an
o
8 s
an
o
9 s
an
10 os
an
11 os
an
os
2
M
1
M
11
M
M
M
10
9
8
M
7
5
M
0
2
freq
60
idade
hidricarb
lixivia
medic
caustico
corpo estr
total
10
98 (48%) dos 202 casos apresentaram manifestações clínicas a entrada nas urgências.
O quadro 6. descreve a distribuição das manifestações por tipo de exposição no qual 46
(22,7%) crianças apresentaram dispneia cuja a principal causa foi a ingestão de
hidrocarbonetos (40), seguida da inalação de monóxido de carbono (3) e ingestão de corpo
estranho. 22 (10%) crianças apresentaram lesões da mucosa oral dos quais 19 por ingestão de
cáusticos, 13 (6,4%) sialorreia provocados por ingestão de corpo estranho (7), ingestão de
caustico (3), monóxido de carbono (2). 11(5,4) Crianças apresentaram comas após ingestão de
medicamentos (3), hidrocarboneto (4), álcool etílico (1) e por ingestão de caustico (3), por fim
6(2,9%) crianças apresentaram lesões cutâneos.
Q. 8 Distribuição das manifestações clínicas por tipo de exposição
Tipo
de
exposição
Hidrocarboneto
Monóxido de C
Álcool etílico
Caustico
Medicamentos
Corpo estranho
Trauma.
Desconhecido
Coma
Dispneia
4
40
3
1
1
4
1
Sintomas
Sialorreia Lesões mucosas
orais
2
3
1
2
Lesões
cutâneos
2
19
3
3
1
7
1
Ao domicílio houve 95,5% indução de vómitos em 177 casos de intoxicação e para o efeito foi
usado em 95,5 % uma mistura a base de óleo, leite e ovo.
Nas urgências realizaram 22 (15%) lavagens gástricas em 145 casos de intoxicações dos quais
9 por ingestão de medicamentos, 4 por ingestão de plantas, 3 por produtos cáusticos, 4 por
pesticidas, 2 por hidrocarboneto.
Foram realizadas 67 radiografias seja 45 na sequencia de ingestão dos produtos derivados de
hidrocarbonetos, 18 por ingestão de corpo estranho, 3 por inalação de fumo e 1 por
traumatismo. 32 Das 45 radiografias de tórax realizadas por ingestão de produtos derivados de
hidrocarboneto apresentaram lesões sugestivas de pneumonias.
Realizaram se 21 endoscopias entre os quais 13 por ingestão de produtos cáusticos, 8 por
ingestão de corpo estranho. 12 das 13 casos que foi realizada endoscopia por ingestão de
cáusticos apresentaram lesões esofágicas e/o gástrica leve e 1 tinha lesões de 3° grau.
Foram internados 32 (15,3%) casos dos 202, entre os quais 13 por ingestão de produtos
derivados de hidrocarboneto, 9 por ingestão de produtos cáusticos, 4 por ingestão de corpo
estranho, 3 por inalação de monóxido de carbono e 2 por ingestão de comprimido. Não foi
registado nenhuma ocorrência de óbito na população do estudo.
11
Q.8 Descrição dos produtos envolvidos nas intoxicações
Produtos
Frequência
Produtos derivados de hidrocarboneto
Petróleo
Gasolina
Gasóleo
Diluente
82
3
1
3
Lixívia diluida
22
Medicamentos
Diazepam co
Anaflan co
Ibupofren co
Prometazina co
Amodiaquina co
Cloroquina co
Bom apetit co
Adalat co
Ferro acido folico
Methylergotamina
Trihexifenidil
2
1
1
1
2
1
1
1
2
1
1
Cáusticos
Desfrsante de cabelo
Po de pilha
Produto de limpeza piscina
Produto de limpeza forgão
Permanganato de K
Cal
Soda caustica
3
2
1
2
3
2
7
Pesticida
Dragão
Amistix
Adubo
Álcool
Wisky
1
1
2
2
12
Q.9 Descrição dos grupos de actividade profissional dos pais
Tipo de actividade
Actividade sem remuneração fixa
Vendedor
Motorista
Pedreiro
Empregado domestica
Pescador
Electricista
Pintor
Costureira
Actividade com remuneração fixa
Medico
Economista
Gerente de empresa
Professora
Jornalista
Enfermeira
Tec. Laboratório
Farmacêutico
Função publica
Bancária
Balconista
Contabilista
Operadora de caixa
Recepcionista
Policia
Militar
Segurança
Mãe
Pai
69
17
23
26
12
1
5
2
1
2
4
2
2
2
1
1
5
5
1
1
2
1
2
2
2
2
12
7
12
13
Comentários
As intoxicações acidentais e acidentes em criança constituem um problema de muito maior
amplitude que a nossa população de estudo deixa transparecer. A falta do atendimento de
cirurgia, traumatologia e ORL nas urgências do HPDB justifica a fraca incidência dos
acidentes registada neste estudo. Este facto, juntos as prováveis perdas de informações por
falha de registo de alguns casos no próprio inquérito, são indícios para considerar que os 0,33
% de incidência registada representam a ponta de iceberg dum fenómeno subavaliada, e que
há necessidade de realizar no pais estudos com abordagem multicentrico, quiçá, a criação no
futuro de um sistema para o controle e recolha de dados, essencial para desenvolver politicas
coordenadas e objectivas de prevenção.
A maioria dos pais da nossa população de estudo não tinham remunerações estáveis e com
menos de 12 anos de escolarização. Apontado para algumas publicações como factor de
risco9-20, a avaliação do nível socio-económico de uma população é um exercício difícil
sobretudo quando se trata de uma sociedade onde predomina a actividade profissional
informal como principal fonte de recurso. Apesar que o estilo de vida de uma população possa
influir na susceptibilidade as exposições, a descrição dos níveis de escolarização e socioeconómico servem sobre tudo para adaptar os programas de prevenção.
As crianças menores de 5 anos de idade são neste trabalho, como em muitos outros na
literatura, as principais vitimas destes fenómenos, cujos a intoxicação representa a principal
forma de exposição, ocorrendo na sua maioria por via oral, dentro do domicílio familiar, com
um adulto nas proximidades e os produtos encontrados em locais impróprios. Estes dados
implica a necessidade dos programas de prevenção informar aos pais, dum lado sobre o
potencial risco tóxico de muitos produtos de uso domestico e a forma de mantê-los fora do
alcance das crianças, do outro, encontrar junto as empresas fornecedora, tanto as medidas de
restrição de uso para alguns, como de protecção de embalagem para outros.
A ingestão dos derivados de hidrocarbonetos, causa comum de intoxicação nas zonas urbanas
dos pais subdesenvolvidos,14-17 foi responsável de mais da metade do total das intoxicações
ocorridas na nossa população de estudo. Facto que podemos considerar como o reflexo da
influencia dos aspectos socio-económico e culturais na ocorrência das intoxicações e
acidentes. O uso doméstico e quotidiano dos produtos acima referidos na nossa sociedade e
em particular pelas famílias de baixa renda é a provável causa desta elevada incidência. Uma
diminuição do índice de intoxicação por produtos derivados de hidrocarbonetos resultaria a
uma redução da incidência global das intoxicações.
A analise do tipo exposição por idade e revelou para os produtos derivados de
hidrocarbonetos, uma curva cuja as exposições iniciam aos 5 mês de idade com um pico aos
12-23 meses e uma queda aos 4 anos compatível com as fases de desenvolvimentos
psicomotor da criança.
As intoxicações por lixívia e produtos caustico tem uma distribuição relativamente constante
em relação as idade provavelmente por ser inodoro e cujo aspecto confunde-se facilmente com
sal ou agua.
A ingestão de corpo estranho inicia aos 9 meses de idade e mantém-se constante ate aos 11
anos de idade. Estes factos ilustram a importante influencia da idade e do estado de
desenvolvimento psicomotor na ocorrência e tipo de exposição, de modo que devemos sempre
questionar a implicação de um adulto em todos casos de intoxicações e acidentes que ocorrem
antes dos 5 meses de idades e a integridade psíquica da criança nas intoxicações depois dos 6
anos de idade.6,7
O esvaziamento gástrico, método frequentemente usado para nossa população de estudo para
descontaminação gástrica, tanto a domicilio (auto-indução de vómitos), como na urgência
(lavagem gástrica) contribuem a aumentar os riscos de complicações atendendo que, por um
14
lado, as intoxicações neste estudo são causado em mais de 70 % de casos por produtos cujos a
remoção gástrica e contra-indicada, e por outro, todos casos chegam as urgências no mínimo 3
horas após ingestão questionando a eficiência mesmo do procedimento. 18-22 Considerando
estes aspectos, seria benéfico neste contexto promover protocolos de manuseamento e triagem
tanto a nível primário como hospitalar para dum lado minimizar o intervalo entre a exposição
e o acesso ao serviço de saúde como proporcionar um manuseamento eficiente e racional após
a intoxicação. A benignidade da maioria dos casos registados, a clara definição dos sinais de
alarme reforçam a ideia de que os centros de saúde devem constituir, em benefício do doente e
do sistema de saúde, o primeiro ponto para atendimento.
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Perfil epidemiologogico das intoxicações e accidentes no Hospital