2 9 DE JANEIRO DE 2008 SEXTA-FEIRA WWW.DIARIOCOIMBRA.PT DiáriodeCoimbra COIMBRA 15 anos de transplantes hepáticos pediátricos Andrea Trindade Completam-se 15 anos sobre o primeiro transplante hepático pediátrico realizado em Portugal, mais concretamente em Coimbra, pela equipa do cirurgião Alexandre Linhares Furtado. Além das comemorações, pelas vidas de crianças salvas até aqui, a ocasião é aproveitada para um I balanço da actividade e para projectar mudanças naquele que continua a ser o único centro a realizar este tipo de intervenção, concentrando o investimento e o “know-how”, recebendo crianças de todo o país. A hepatologista pediatra Isabel Gonçalves, em nome da equipa do Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC), deseja que o ISABEL GONÇALVES considera possível e vantajosa a realização do transplante no bloco do Pediátrico 146 transplantes realizados no centro de Coimbra 23 transplantes com recurso a dador vivo 132 84 crianças transplantadas FOTOS: FIGUEIREDO Realizar o transplante no próprio hospital, ter mais técnicos e apostar na formação são desejos da equipa pediátrica NÚMEROS O HOSPITAL Pediátrico acompanha entre 15 a 17 crianças transplantadas anualmente novo ano traga finalmente a realização dos transplantes para aquela unidade infantil. Recorde-se que o cirurgião dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) Emanuel Furtado é responsável pela coordenação do Programa Nacional de Transplantação Hepática e tem sido neste hospital que as intervenções têm sido levadas a cabo. «Entendemos que era importante que todo o procedimento fosse efectuado aqui dentro, o que facilitaria o funcionamento das estruturas». De acordo com a médica do Pediátrico, não só «o hospital tem dificuldade em deslocar recursos humanos» como também «as crianças em estado grave estão expostas a maiores riscos quando são deslocadas, ainda que num trajecto pouco longo, até aos HUC». Depois, nota Isabel Gonçalves, «é possível fazer o transplante no nosso bloco actual, e melhor ainda será no novo hospital». Outro desejo de ano novo tem a ver com «o reconhecimento oficial do HPC como centro de referência na Rede de Referenciação Hospitalar de Transplantação». Na prática, «já o é, mas a oficialização traria mais autono- Que doenças determinam o transplante hepático? A atresia das vias biliares constitui a principal indicação para transplante hepático pediátrico – verifica-se em 40 por cento dos casos. Trata-se, segundo Isabel Gonçalves, de uma malformação que não permite o correcto desenvolvimento dos canais biliares para que drenem a bílis, levando a cirrose. A segunda indicação mais comum em Portugal – 25 por cento dos casos – tem a ver com o défice da proteína alfa-1 antitripsina, uma doença mais frequente no Norte do país e cuja incidência é maior do que em outros países da I mia», repara a médica, sustentando que seria, assim, mais fácil dotar a equipa de psicólogo, pedopsiquiatra, técnica de serviço social e secretária, a tempo inteiro, elementos encontrados Europa. Em terceiro, surgem as doenças agudas: «entre 15 a 20 por cento são hepatites fulminantes, provocadas, por exemplo, por intoxicações medicamentosas ou por ingestão de cogumelos», explica a médica. Os restantes casos com indicação para transplante hepático pediátrico devem-se a um grupo vasto de doenças. O que é facto é que o transplante é para estas crianças a única esperança de vida. E no centro de transplantação de Coimbra, as taxas de sobrevivência após transplante – actualmente nos 84 por cento – têm vindo progressivamente a aproximar-se das verificadas nos centros de referência internacionais, onde 95 por cento das crianças sobrevivem cinco anos após o transplante. l nas equipas de centros de referência europeus. «Se numa primeira fase são necessários inúmeros cuidados hospitalares, depois de estabilizadas, e ao longo do tempo, as percentagem de sobrevivência ao fim de cinco anos 17 média de transplantes realizados por ano 6 meses, espera média por transplante 4 crianças que actualmente aguardam transplante hepático crianças vão precisar de outros apoios: de integração social, psicológico, nas escolas, no acompanhamento para garantir a adesão ao tratamento», declara Isabel Gonçalves. «A aposta na formação contínua de técnicos e o envio de jovens cirurgiões para formação no estrangeiro» são outros objectivos que, nesta fase de “adolescência” dos transplantes em Portugal, é preciso alcançar, acrescenta a médica. Transplante e vigilância O centro de transplantação hepática pediátrica realizou até final de Dezembro do ano pas-