A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE ACUPUNTURA EM UM GRUPO DE
ESTUDANTES DE FIOSIOTERAPIA
YAMADA, Roberto Shigueyasu – UTFPR
[email protected]
SANDER, Lucilene – UTFPR
[email protected]
YAMADA, Raquel Tieko Tanaka – UTFPR
[email protected]
BERNARDI, Gisele Alberton – FADEP
[email protected]
TEIXEIRA, Edival Sebastião – UTFPR
[email protected]
Eixo Temático: Educação e Saúde
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em uma instituição de
ensino cujo objetivo foi identificar e analisar as representações sociais de acupuntura em um
grupo de estudantes da fase inicial do curso de fisioterapia. A realização da pesquisa apoiouse no pressuposto de que, por um lado, o conhecimento das representações sociais dos
estudantes poderá fornecer subsídios aos docentes do curso para o seu planejamento de ensino
no que diz respeito aos tópicos de acupuntura e, por outro, desvelar aos próprios sujeitos da
pesquisa mais elementos para a compreensão de seu processo de formação. Os dados foram
coletados mediante a utilização de um instrumento de evocação livre, baseado na teoria do
núcleo central das representações sociais. Os sujeitos fizeram 160 evocações, utilizando 40
palavras/elementos diferentes. Essas evocações foram organizadas em categorias, dentre as
quais 16 se mostraram mais salientes, isto é, seus elementos foram evocados acima da média.
As categorias mais salientes abarcam 130 evocações, ou seja, 81,25% do total de evocações.
Por sua vez, 73% dos elementos evocados nas categorias mais salientes foram considerados
como sendo os mais importantes para os sujeitos, fato este que dá mais segurança para as
análises apresentadas. O resultado encontrado sugere que a Acupuntura está associada ao
relaxamento e ao tratamento de doenças. As categorias próximas ao núcleo central
relacionam-se com a dor e saúde em relação à prevenção e à promoção da saúde. Este
distanciamento do discurso captado através desta pesquisa pode ser utilizado para reflexão do
modelo de ensino e aprendizagem a ser utilizado em cursos da área da saúde, não
especificamente na acupuntura. A vinculação do profissional da área da saúde como ser
humano na acupuntura não está presente, embora imprescindível neste processo.
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Palavras-chave: Representação Social. Acupuntura. Acadêmicos de Fisioterapia.
Introdução
Para que a graduação em fisioterapia cumpra o seu objetivo de formar profissionais
generalistas, críticos e com uma visão global frente a todas as áreas de atuação, faz-se
necessária a compreensão dos determinantes a respeito do curso de fisioterapia na visão dos
acadêmicos. Os alunos fazem parte da construção e elaboração de novas propostas
educacionais e, sendo assim, a representação social dos acadêmicos de fisioterapia sobre as
especialidades que lhe cabem pode influenciar na adoção de uma nova postura frente ao
cotidiano educacional, de modo que permita um incremento na formação profissional.
Os alunos não estão sozinhos no meio universitário uma vez que compartilham esse
espaço com outros alunos, professores, corpo administrativo, e outros funcionários, e, é nesse
meio que eles enfrentam as situações vividas e as compreendem. É o caso dos acadêmicos do
curso de fisioterapia, que mantém uma relação direta e inevitável com o mesmo, e através de
suas relações sociais conseguem criar representações a respeito da sua formação, e
especializações, as quais podem optar em seguir. Pode-se dizer que, os objetos das
representações sociais circulam de diferentes formas e são produzidos através das relações
entre os seus integrantes. Como percepções construídas sobre a realidade, as representações
sociais afetam a dinâmica de funcionamento dos grupos sociais, e como sistemas de
acomodação e de percepção, podem ser analisadas como categorias que se comportam de
modo diferente em diferentes grupos sociais (MOSCOVICI, 2001).
Uma representação é sempre produzida coletivamente por um grupo, cuja concepção
de grupo refere-se a um conjunto de indivíduos que mantém certa relação com o objeto de
representação. Sendo os acadêmicos do curso de fisioterapia um grupo de indivíduos com
interesses afins, o conhecimento das representações sociais de estudantes de fisioterapia em
relação às possíveis especialidades a serem seguidas, poderá contribuir para o conhecimento
do processo de formação do profissional fisioterapeuta, bem como para obter subsídios para a
realização de possíveis mudanças neste processo.
A teoria das representações sociais possibilita compreender o sistema no qual os
formandos estão inseridos e, através de suas próprias representações, encontrar o significado
de terapias como a acupuntura em um curso de fisioterapia. Desta forma, estas representações
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podem ser entendidas como o produto e o processo de uma atividade mental, através da qual
um indivíduo ou um grupo reconstitui a realidade com a qual ele se confronta e para a qual ele
atribui um significado específico (ABRIC, 1998).
O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em uma
instituição de ensino superior privada, localizada na região sudoeste do Paraná, cujo objetivo
foi identificar e analisar as representações sociais de acupuntura em um grupo de estudantes
da fase inicial do curso de fisioterapia. A realização da pesquisa apoiou-se no pressuposto de
que, por um lado, o conhecimento das representações sociais dos estudantes poderá fornecer
subsídios aos docentes do curso para o seu planejamento de ensino no que diz respeito aos
tópicos de acupuntura e, por outro, desvelar aos próprios sujeitos da pesquisa mais elementos
para a compreensão de seu processo de formação.
Fisioterapia, Acupuntura e Representações Sociais
Na Antigüidade havia uma forte preocupação com as pessoas que apresentavam as
chamadas “diferenças incômodas". A utilização de recursos com o objetivo de eliminar essas
"diferenças” através de um conjunto de instrumentos, procedimentos e técnicas, dentre os
quais destacamos a ginástica. A atividade física promovida pela ginástica era empregada com
fins terapêuticos, ou seja, no tratamento de disfunções orgânicas já instaladas (MARQUES,
1994).
Na idade média, por influência da Igreja, ocorreu uma interrupção no avanço dos
estudos e da atuação na área da saúde. Assim, o exercício estava inibido em sua forma
anterior de aplicação - a curativa – e passou-se a usá-lo para outros fins: a nobreza e o clero o
utilizavam com o objetivo de aumentar a potência física, enquanto que para burgueses e
lavradores os exercícios serviam unicamente como diversão (SANCHEZ, 1984).
Já na idade contemporânea, durante a 2ª Guerra Mundial, surgem as escolas de
cinesioterapia, para tratar ou reabilitar os lesados, ou mutilados que necessitavam readquirir
um mínimo de condições para retornar a uma atividade social integrada e produtiva. Desta
forma, o corpo de conhecimentos ou as formas de trabalho que viriam a caracterizar a
Fisioterapia parecem ter seguido a mesma direção das especialidades médicas, no sentido de
compartimentalizar áreas de estudo e campos de atuação profissional. As especializações de
tratamento foram convenientes ao sistema que vinha ocorrendo desde o século XIX. Assim,
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não parecia importante discutir as causas do surgimento das patologias, ou a relevância da
remoção ou do controle de seus determinantes (MARQUES, 1994).
Segundo Botomé (1999), a Fisioterapia é uma profissão da área da saúde que utiliza
movimentos e meios físicos e naturais para a prevenção e para o tratamento das doenças e
suas respectivas conseqüências no ser humano, reabilitando-o e readaptando-o à sociedade e
ao mundo do trabalho. O fisioterapeuta deve ter um perfil e uma atuação profissional
baseados na autonomia e na responsabilidade pelos seus atos. Deve desvincular-se de entraves
burocráticos legalmente instituídos que pode conduzir esse profissional a uma atuação restrita,
priorizando uma atuação preventiva e voltada para a manutenção de um estado saudável,
característica esta muito pouco valorizada e praticada.
O conceito de saúde abrange hoje um conjunto de determinantes de vida que envolve
fatores sócio-econômicos e ambientais, tais como nutrição, lazer, educação, acesso a serviços
de saneamento básico, dentre outros. Portanto, tendo em vista essa amplitude do conceito de
saúde, soa quase absurdo imaginar que um único profissional tenha conhecimentos tão
amplos e condições de dar conta das inúmeras e diferentes temáticas relacionadas ao bemestar da população.
Entende-se, então, que o pensar e o atuar de forma interdisciplinar devem acontecer
em todo processo de formação do profissional fisioterapeuta, pois como todos os demais da
área de saúde, os mesmos necessitam ter uma visão holística, que os permita pensar e agir não
somente direcionados pela sua área de atuação, mas inter-relacionando com outras áreas
(REBELATTO, 1998).
A interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração das potencialidades de
cada ciência, da compreensão dos seus limites, mas, acima de tudo, é o princípio da
diversidade e da criatividade.
A interdisciplinaridade apresenta como características a
intensidade de trocas entre os especialistas e o grau de integração real das disciplinas no
interior de um mesmo projeto de pesquisa. Inclusive, a interdisciplinaridade se faz
necessária no processo de mediação da comunicação entre os profissionais, e, entre eles e o
mundo do senso comum (REBELATTO, 1998).
Do ponto de vista interdisciplinar, a acupuntura é uma especialidade de inúmeras áreas
da saúde. A prática da acupuntura no âmbito da fisioterapia foi acompanhada pelo Conselho
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional desde 1985, que após exaustivas provas de
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ausência de qualquer dolo social pelo fisioterapeuta, promoveu o reconhecimento de tal
especialidade, sem caráter exclusivo.
Dentro do conhecimento atual de fisiologia, a acupuntura é um método de estimulação
neurológica em receptores específicos, com efeitos de modulação da atividade neurológica em
três níveis – local, espinhal ou segmentar, e supraespinhal ou suprassegmentar. O estímulo da
agulha de acupuntura atinge áreas do encéfalo mais elevadas, como o hipotálamo e a hipófise,
promovendo o equilíbrio do funcionamento destes centros. Como a hipófise é uma glândula,
ocasionalmente chamada de glândula mãe, que coordena a função de diversas outras
glândulas do corpo, o efeito da acupuntura sobre este órgão afeta o funcionamento das
glândulas suprarrenais, da tireóide, dos ovários, dos testículos, e assim tem ação terapêutica
sobre a hipertensão arterial, dismenorréia, tensão pré-menstrual, disfunções da libido, e outras
patologias. (YAMAMURA, 2004).
As bases da avaliação, diagnose e prescrição terapêutica da acupuntura não se
confundem em qualquer espécie com as bases de diagnose, tratamento da saúde nos moldes
ocidentais. Quando se fala em diagnose em acupuntura/MTC (Medicina Tradicional Chinesa)
há que se definir que essa diagnose tem como base um sistema específico cuja origem
encontra-se na filosofia chinesa e hoje é estudada e pesquisada cientificamente pela saúde
dentro dos padrões atuais da pesquisa científica (MACIOCIA, 2007).
Segundo Maciocia (2007) a acupuntura tem bases preventivas, assim como curativas.
Hoje utilizada em nosso sistema de saúde, tem suas aplicações nas desordens e disfunções
musculoesqueléticas, urogenitais, vasculares, digestivas, neurológicas, porém vistas sob o
aspecto da dualidade do universo em constante mutação e sob a ótica do desequilíbrio da
perda da homeostase do yin/yang (polaridades/dualidades) das energias celestes como: frio,
calor, vento, umidade, secura. Partindo-se do pressuposto que se nosso organismo não se
encontra preparado, e que sofre com as intempéries das ações desses elementos da natureza,
sendo afetado por disfunções psíquicas em seu sistema biológico, adoece.
Os estudantes do curso Fisioterapia, através de sua forma de ser, simbolizar e agir, ou
seja, pela representação que se estabelece neste meio social sobre a sua graduação, podem
contribuir para mudanças sólidas e significativas no processo de profissionalização. O
processo de representação se estabelece justamente através das relações sociais que se
desenvolvem no ambiente de ensino-aprendizagem, principalmente através da organização e
estrutura curricular do curso. Para que a graduação em fisioterapia cumpra o seu objetivo de
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preparar profissionais generalistas, críticos e com uma visão global frente a todas as áreas de
atuação, faz-se necessária a compreensão dos determinantes a relativos ao curso de
fisioterapia na visão dos acadêmicos. Os alunos fazem parte da construção e elaboração de
novas propostas educacionais e, sendo assim, a representação social dos acadêmicos de
fisioterapia, referentes às especialidades que lhe cabem, podem influenciar na adoção de uma
nova postura frente ao cotidiano educacional e que levem à melhoria na qualidade da
formação profissional. É através das comunicações, interações, pensamentos e ações de um
determinado grupo social que se estabelecem as representações sociais.
Os acadêmicos não se encontram sozinhos no meio universitário uma vez que
compartilham este espaço com outros colegas, professores, corpo administrativo, e demais
funcionários; nesse meio eles enfrentam as situações, vivenciam e as compreendem.
Acadêmicos do curso de Fisioterapia, que mantém uma relação direta, inevitável, mas de
considerável importância com o meio acadêmico, conseguem, através de suas relações
sociais, criar representações a respeito de sua formação, e de possíveis especializações que
podem vir a seguir. Pode-se dizer que, os objetos das representações sociais circulam de
diferentes formas e são produzidos através das relações entre os seus integrantes. Como
percepções construídas sobre a realidade, as Representações Sociais afetam a dinâmica de
funcionamento dos grupos sociais, e como sistemas de acomodação e de percepção, as
Representações Sociais podem ser analisadas como categorias que se comportam de modo
diferente em diferentes grupos sociais. (MOSCOVICI, 2001). Assim, a percepção e as
Representações Sociais da acupuntura para um grupo formado por possíveis terapeutas,
especialistas na área, podem possibilitar a formação de um profissional melhor preparado para
atender as necessidades da população. A compreensão do modo como o grupo entende
acupuntura, apenas como uma técnica que utiliza agulhas ou de forma holística, como é a
Medicina Tradicional Chinesa, pode fazer a diferença na qualidade do tratamento.
A acupuntura como forma de tratamento oriental milenar tem sido submetida a
avaliações conforme os padrões ocidentais de eficácia desde o início do século passado. A
descoberta da liberação de encefalinas, ACTH (hormônio adenocorticotrófico) e serotonina,
substâncias que promovem a melhora da dor, da inflamação e do humor, respectivamente,
através da acupuntura. A percepção dos profissionais da saúde que utilizam este arsenal
terapêutico não tem sido encontrada com muita frequência em pesquisas e publicações, menos
frequente ainda, averiguações longitudinais, do início de sua formação, durante o processo de
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graduação e posteriormente na fase laboral. A teoria das representações sociais, que
possibilita conhecer o que a acupuntura representa no senso comum dos estudantes, pode ser
importante instrumento de avaliação deste processo de ensino e aprendizagem no transcorrer
do curso de saúde. A possibilidade de comparar com trabalhos futuros as diferentes
representações sociais em alunos de graduação de diferentes cursos da área da saúde, bem
como as transformações destas representações sociais durantes a fase acadêmica e posterior a
ela, parece ser uma forma de contribuir para maior compreensão do significado da acupuntura
durante todo o processo de aprendizagem. Conhecer as diversas metodologias utilizadas
nestes cursos de graduação da área da saúde também se mostra importantes no processo de
ensino.
A teoria das representações sociais é uma teoria sobre a construção dos saberes
sociais, que busca teorizar como esses saberes se constroem e, ao mesmo tempo, orientam
comportamentos individuais. As representações sociais preocupam-se com a construção e
transformação dos saberes sociais na medida em que eles mudam de um contexto social para
outro (JOVCHELOVITCH, 2001).
Moscovici (2001) refere-se à teoria das representações sociais como a teoria que trata
da dialética entre os pensamentos individuais e coletivos, na qual um tipo de pensamento não
se sobressai ao outro, porém se constroem e se completam mutuamente. Desta forma, as
representações sociais possibilitam explicar como o indivíduo ou um grupo compreendem o
sistema no qual estão inseridos.
Madeira (1997) refere-se à importância da linguagem na associação com a
representação social, pois através dela que se torna viável a construção do sentido de objetos
do entorno do sujeito e dos grupos. Apesar de ser pequena a parcela da população com acesso
ao meio universitário, as pessoas que conseguem ingressar neste meio têm a possibilidade de
vivenciar o seu cotidiano, desse modo, podem vivenciar com olhar crítico as suas rotinas.
Para Jodelet (2001) apesar de uma representação social ser considerada um saber de
senso comum, ou saber ingênuo, é objeto de estudo tão legítimo quanto o conhecimento
científico, devido a sua importância na vida social e na elucidação das interações sociais.
Moscovici (2001) sugeriu estudar os comportamentos e as relações sociais sem gerar
modificações; estudar a difusão dos saberes, a relação pensamento/comunicação e a
construção do senso comum. O conceito de representações sociais de Moscovici considera
que a contribuição de cada membro da sociedade é fundamental para a criação e manutenção
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de crenças e comportamentos que são compartilhados por todos. Uma representação social
realça e simboliza atos e situações que nos são ou nos tornam comuns. Para esse autor, as
representações sociais desvelam o conhecimento do senso comum, primitivo ou natural das
pessoas e dos grupos sociais.
Jodelet (2001) relata que a construção dos saberes e do conhecimento científico nas
práticas educativas, assim como a formação de representações sociais nas relações entre
sujeitos frente à significação de um objeto, colocam a educação como um excelente campo
para se estudar os mecanismos de construção, perpetuação e modificação das representações.
Desta forma, tem-se de um lado uma teoria que dá um adequado suporte teóricometodológico para as pesquisas em educação, e de outro um campo oportuno para os
progressos nos estudos dos mecanismos estruturantes que forjam as representações sociais.
Considera-se que as representações sociais como um saber prático, uma forma de
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, concorrendo para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social. Assim, estudos sobre representações sociais
possibilitam aproximações ao movimento pelo qual o homem, continuamente, se apropria do
mundo e, nele se define, age e se comunica. Expressam a realidade do modo como é
percebida, ora aceitando ora repudiando um novo conhecimento, sendo que a difusão desta
percepção pode afetar os hábitos e as ações dos sujeitos em relação a determinado objeto
(MADEIRA, 1997).
Toda representação social é mediatizada pela linguagem. Não é o aspecto formal da
linguagem que interessa, mas este seu parecer contínuo, seu movimento, sua característica de
ter a troca como caminho: é pela linguagem que o homem nasce para o mundo, ao se
apropriar da palavra e esta apropriação só se torna possível na relação com o outro. É,
portanto, pela linguagem que o sujeito atribui sentido ao que, cotidianamente, lhe chega. A
comunicação é o veículo que permite a formação das representações, com origem e
manifestações nas crenças de senso comum formadas no cotidiano.
Ao longo da vida, o homem constrói e reconstrói sua visão de mundo e de si no
mundo, organizando e hierarquizando objetos que vai apreendendo em sua vida e os
sistematiza, em sua complexidade, na linguagem e pela linguagem. O sentido atribuído a um
objeto determinado não é uniforme, nem único, nem neutro; espelha as relações dos
indivíduos entre si, com os outros, consigo próprios e com o próprio objeto, sintetizando
necessidades e demandas de diversas ordens (MADEIRA, 1997).
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Metodologia
Participaram da pesquisa voluntariamente 40 estudantes de uma instituição de ensino
superior localizada na região sudoeste do Paraná. Para a coleta dos dados foi utilizado um
instrumento de evocação livre baseado na teoria do núcleo central das representações sociais,
utilizando como termo indutor a palavra acupuntura.
A teoria do núcleo central parte do pressuposto de que toda representação tem sentido
e tem um princípio organizador dos elementos da representação a partir de um núcleo estável,
coerente e rígido (MARCONDES & SOUZA, s/d). O núcleo central, por sua vez, tem como
complemento um sistema periférico, o qual promove a interface entre o sistema central e a
realidade, sendo, portanto, mais sensível às condições do contexto e a mudanças. Essa teoria
embasou tanto a coleta de dados quanto a compilação e a análise dos mesmos.
A escolha dessa metodologia justifica-se também por ser largamente utilizada para
levantamento do conteúdo das representações. Para um levantamento inicial dos elementos
possivelmente integrantes do núcleo central das representações foi utilizada a técnica de
evocação livre. Segundo Coutinho, Gontiès, Araújo e Sá (2003), esta técnica possibilita o
acesso aos elementos implícitos ou latentes, os quais seriam mascarados e/ou perdidos em
produções discursivas. Essa técnica é utilizada no âmbito da Psicologia Social, principalmente
quando relacionada a estudos em Representação Social.
Solicitou-se para cada sujeito que escrevesse as 4 primeiras palavras que lhes vinham
à mente mediante o termo indutor acupuntura. Posteriormente, solicitou-se que escolhessem e
destacassem duas que considerassem mais importantes e, para finalizar, justificassem a
escolha de cada uma das palavras. O tratamento e a organização dos dados realizaram-se de
acordo com a metodologia prescrita por Sá (1993), Camargo, Barbará & Bertoldo (2009).
Os dados foram organizados em categorias observando-se as aproximações semânticas
entre os termos evocados e as justificativas dadas pelos sujeitos quanto aos termos evocados e
ao grau de importância atribuído aos mesmos.
A seguir foram escolhidas as categorias mais salientes, isto é, aquelas cujos elementos
foram evocados acima da média evocação. Também foi realizado o cálculo da ordem média
de evocação, ponderando-se com pesos 1, 2, 3, 4, respectivamente à primeira, segunda,
terceira e quarta posição em que os termos das categorias foram evocados. A somatória dos
resultados ponderados para cada evocação, dividida pela somatória das freqüências de cada
categoria, apontou a ordem média de evocação por categoria.
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Por sua vez, a média das ordens médias de evocação foi obtida pela divisão da
somatória das ordens médias de evocação para cada categoria pelo número de diferentes
categorias.
Os cálculos permitiram a organização de um quadro, o qual foi dividido por dois eixos
perpendiculares que deram origem a quatro quadrantes: no quadrante superior esquerdo
encontram-se os elementos que foram evocados com uma freqüência superior a da freqüência
média e cuja posição é inferior a da ordem média; o quadrante superior direito contém os
elementos que foram mais evocados do que a freqüência média, mas que não o foram tão
prontamente evocados; por sua vez, no quadrante inferior esquerdo encontram-se os
elementos que embora lembrados mais prontamente, não obtiveram um número de evocações
acima da freqüência média; finalmente, no quadrante inferior direito encontram-se os
elementos menos salientes e menos prontamente evocados.
Por fim, para a confirmação dos elementos mais suscetíveis de pertencer núcleo
central da representação foram consideradas as categorias cujos elementos foram salientados
como mais importantes em pelo menos 50% das vezes em que foram evocados.
Resultados e Discussão
Participaram da pesquisa 40 estudantes do primeiro ano do curso de fisioterapia, sendo
36 do sexo feminino e 4 do sexo masculino.
Mediante o termo indutor, os sujeitos fizeram 160 evocações, utilizando 40
palavras/elementos diferentes. Essas evocações foram organizadas em categorias, dentre as
quais 16 se mostraram mais salientes, isto é, seus elementos foram evocados acima da média.
No total, essas categorias mais salientes abarcam 130 evocações, ou seja, 81,25% do total de
evocações dos sujeitos.
Por sua vez, 73% dos elementos evocados nas categorias mais salientes foram
considerados como sendo os mais importantes para os sujeitos, fato este que dá mais
segurança para as análises que serão apresentadas adiante.
A freqüência média de evocação por categoria (Fme/c) foi de 7,65 elementos e a
ordem média de evocação por categoria (Ome) foi igual a 1,89. No quadro a seguir, esses
valores médios foram arredondados para 8 e 2, respectivamente.
Tabela 1 – Distribuição das categorias segundo a freqüência média de evocação, a freqüência e a ordem média
de evocação.
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Fme
>8
<8
Categorias
f
Ome
< 2,00
Agulhas*
Relaxamento*
Tratamento de Doenças*
Dor
33
27
19
12
0,58
1,48
1,95
1,00
Alívio
Bem estar
Qualidade de Vida
Sementes
Ciência
6
4
4
3
1
1,50
1,75
1,75
1,33
1,00
Categorias
f
Ome
> 2,00
Saúde
8
2,25
Cura
Responsabilidade
Tratamento Moderno
Prevenção
Para Depressão
Equilíbrio
5
2
2
2
1
1
2,60
2,00
3,00
3,00
3,00
2,50
Fonte: Dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
* Elementos mais suscetíveis de pertencer ao núcleo central da representação social de acupuntura.
A partir da tabela 1 é possível perceber como as categorias Agulhas, Relaxamento e
Tratamento de Doenças são as mais suscetíveis de pertencer ao núcleo central da
representação social de acupuntura dos sujeitos da pesquisa. Essas categorias foram
consideradas como sendo mais importantes, 85%, 56% e 52% das vezes em que foram
evocadas, respectivamente.
Analisando as respostas nota-se que a opção pela escolha na categoria agulhas deveuse à associação dos pesquisados com o fato de que a agulha ou as agulhas seriam o principal
instrumento utilizado no procedimento e sem o qual seria impossível a realização da
acupuntura. A utilização de sementes na auriculoterapia, uma modalidade de micro sistema
na acupuntura de origem francesa que pode ser realizado com sementes de mostarda ou
agulhas, foi citada em três questionários. A correlação entre a acupuntura e outros possíveis
instrumentos, atualmente agregados à Medicina Tradicional Chinesa e a Acupuntura, como
laser, eletro-acupuntura, moxa e frequência, não foram citados. O do-in e o shiatsu, técnicas
que utilizam pontos de acupuntura, não foram mencionados por nenhum dos estudantes.
As categorias relaxamento e tratamento tiveram citações com frequência semelhante
devido à associação aos objetivos da acupuntura, motivo pelo qual os pacientes costumam
procurar os profissionais da saúde habilitados para a realização deste procedimento.
Da mesma forma, o quadro apresenta quais são os elementos mais periféricos. Em
outras palavras, nos mostra os elementos preponderantes relativos aos possíveis conteúdos e à
organização da representação de acupuntura, indicando, ao mesmo tempo, os elementos mais
centrais mais estáveis, bem como os mais periféricos e mais próximos da prática cotidiana dos
sujeitos.
10287
Uma das repostas que poderia sintetizar esta pesquisa, quando perguntada a razão da
escolha das quatro primeiras palavras que lhes vinham em mente quanto o assunto era
Acupuntura: “porque sei que é realizada com agulha, que visa reestabelecer o equilíbrio
corporal e mental, que atua em beneficio da saúde, tratamento das doenças.”
Considerações Finais
A compreensão das representações sociais de acupuntura nos 40 acadêmicos de
fisioterapia sujeitos da pesquisa relaciona-se fortemente à noção de tratamento de doenças
para a acupuntura. Ao revisar os discursos sobre o motivo da escolha de cada palavra, essa
correlação é evidente pelo fato dos acadêmicos encontrarem-se ainda no primeiro ano de um
curso da área da saúde.
Percebe-se que a teoria do núcleo central foi eficaz para o estudo da representação
social objetivada, apesar de a especificidade da amostra não ser representativa do universo
dos acadêmicos da área da saúde, a pesquisa possibilita o levantamento de um pequeno grupo
de acadêmicos de primeiro ano de fisioterapia. Os dados, frutos de uma aplicação piloto,
permitem também destacar alguns aspectos:
Percebe-se que as categorias próximas ao núcleo central relacionam-se com a dor e
saúde, suspeitando-se, por tratar-se de sujeitos no ano inicial de curso da área da saúde, que a
representação social da acupuntura tenha raiz em tratamento de doenças e relaxamento em
relação à prevenção e à promoção da saúde. Este distanciamento do discurso captado através
desta pesquisa pode ser utilizado para reflexão do modelo de ensino e aprendizagem a ser
utilizado em cursos da área da saúde, não especificamente na acupuntura.
A vinculação do profissional da área da saúde como ser humano na acupuntura não
está presente, embora imprescindível neste processo.
Considera-se que as manifestações dos sujeitos da pesquisa permitiram compor
importantes elementos das representações sociais do grupo sobre acupuntura, apesar de ter
partido de uma amostra reduzida, não abrangente e, portanto, não passível de generalizações.
O termo “agulha”, citado, não teve nenhuma conotação simbólica e sim significado
etimológico, pois sempre esteve associado ao instrumento para a realização da acupuntura,
como um objeto. Com isso, considera-se também que a metodologia utilizada possibilita a
realização de um estudo profundo sobre as representações sociais de acadêmicos da área da
10288
saúde sobre acupuntura e, enquanto modelo de pesquisa pode fornecer importantes
informações também sobre as práticas sociais e educacionais sobre acupuntura.
As categorias “dor”, “saúde” encontram-se no sistema periférico mais próximo ao
núcleo central e como sistema periférico mais distante “equilíbrio” e “para depressão”,
portanto mais sujeitos a mudanças.
Os estudantes do curso fisioterapia, através de sua forma de ser, simbolizar e agir, ou
seja, pela representação que se estabelece neste meio social sobre a sua graduação, podem
contribuir para mudanças sólidas e significativas no processo de profissionalização. O
processo de representação se estabelece justamente através das relações sociais que se
desenvolvem no ambiente de ensino-aprendizagem, principalmente através da organização e
estrutura curricular do curso.
O resultado encontrado reflete a representação social da Acupuntura nestes sujeitos no
primeiro ano da graduação da Fisioterapia no qual as categorias agulhas, relaxamento e
tratamento de doenças caracterizam o núcleo central possibilitando comparar estes resultados
com outras instituições de ensino e diferentes áreas da saúde utilizando esta mesma
metodologia. Podendo avaliar o processo de ensino e aprendizagem no decorrer do curso de
graduação pela mudança ou não dos elementos encontrados.
Embora com as especificidades amostrais destacadas, o estudo permitiu a observação
dos significados sociais, valorativos e afetivos que apóiam a constituição da representação
social. Não obstante, os autores entendem que são necessários estudos mais aprofundados a
respeito das representações sociais de estudantes de graduação em Fisioterapia, visando
compreender melhor o que pensam esses acadêmicos sobre essa técnica, bem como para
servir de subsídio para o planejamento do ensino da Acupuntura.
REFERÊNCIAS
ABRIC, J. C. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, Antonia
Silva Paredes; OLIVEIRA, Denize Cristina de. (Orgs.). Cultura e qualidade. Goiânia:
Editora AB, 1998.
BOTOMÉ, S. P.; REBELATTO, J. R. Fisioterapia no Brasil: fundamentos para uma ação
preventiva e perspectivas profissionais. 2ª ed. São Paulo: Manole,1999.
CAMARGO, B.V., BERTOLDO, R.B., BARBARÁ, A. Representações sociais da AIDS e
alteridade. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v9n3/artigos/pdf/v9n3a11.pdf>.
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a representação social de acupuntura em um grupo de estudantes