11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO DE ÁGUAS
SUPERFICIAIS POR AGROTÓXICOS
Erlan Silva de Sousa1; Liliana Pena Naval2
1
Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental; Campus de Palmas; e-mail: [email protected]
Orientadora do Curso de Engenharia Ambiental; Campus de Palmas; e-mail: [email protected]
2
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo avaliar o potencial de contaminação de águas superficiais por
agrotóxicos aplicados no Estado do Tocantins. A análise foi realizada mediante aplicação do método
de GOSS.
A partir da análise dos resultados desse estudo conclui-se que a possibilidade de
contaminação das águas superficiais no Estado do Tocantins deve ser considerada, uma vez que 25%
dos princípios ativos utilizados na agricultura apresentam substâncias classificadas com alto potencial
de transporte associados ao sedimento, e 53,57 % apresentam alto potencial de transporte dissolvido
em água, verificou-se também que a avaliação das características de cada princípio ativo dos produtos
aplicados na região, está facilitando a previsão do comportamento desses pesticidas no ambiente.
Palavras-chave: águas superficiais, pesticidas, recursos hídricos
INTRODUÇÃO
A necessidade de aumentar a produção agrícola no planeta para suprir a crescente demanda da
população, resultou em mudanças nas técnicas de plantio associadas à larga e diversificada utilização
de fertilizantes e pesticidas, com a finalidade, entre outros, de minimizar as perdas na produção
agrícola. (CANUTO et al., 2009).
Calcula-se que apenas cerca de 0,1% dos pesticidas após sua aplicação atinge o alvo específico,
enquanto que os 99,9% restantes da aplicação têm potencial de transferência para os diferentes
compartimentos do ambiente, tais como ar, solo e águas superficiais e subterrâneas. (UETA et al.,
2004).
Conforme ONGLEY apud LIBOS (2002), a agricultura, enquanto maior usuário de água doce
em escala mundial é o principal fator de contaminação dos recursos hídricos superficiais e
subterrâneos decorrente da utilização de pesticidas e fertilizantes químicos nas diferentes práticas
agrícolas.
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A falta de conhecimento do agricultor em relação ao meio físico e aos produtos químicos
utilizados o faz muitas vezes, lançar mão de uma quantidade do produto maior que a necessária para o
controle de pragas e/ou correção do solo (VITTE e GUERRA, 2004). Quando estes pesticidas são
aplicados, as águas, sejam superficiais ou subterrâneas, são os principais destinos destes produtos
(RIBEIRO, 2007).
Diante disso o presente estudo visa realizar uma avaliação do potencial de contaminação de
águas superficiais por agrotoxicos aplicados no Estado do Tocantins.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento da atividade proposta foi realizado inicialmente o levantamento dos
principais agrotóxicos comercializados no Estado do Tocantins, em seguida realizou-se a identificação
dos princípios ativos, da classe química e das classificações toxicológica e ambiental dos produtos
utilizados em consulta ao site AGROFIT. As propriedades físico-químicas dos ingredientes ativos
foram obtidas a partir de consulta ao banco de dados FOOTPRINT.
A análise de risco de contaminação de águas superficiais foi realizada pelo método de GOSS
(1992), que propõe critérios que classifiquem cada princípio ativo em Alto, Médio e Baixo potencial
de contaminação associado ao sedimento ou dissolvido em água.
Os parâmetros que foram
considerados para Alto ou Baixo potencial de contaminação associado ao sedimento ou dissolvido em
água são expressos na tabela 01. As substâncias que não se enquadaram em nenhum dos critérios
relacionados foram consideradas como tendo médio potencial de transporte.
Tabela 01: Critérios propostos para análise de risco de contaminação de águas superficiais por
pesticidas pelo método de GOSS.
Classificação
DT50 no
KOC
Solubilidade em
água (mg/L)
>= 40
1.000
-
>= 40
>= 500
0,5
<1
-
-
≤ 40
≤ 500
≥ 0,5
≤ 40
≤ 900
≥2
solo (dias)
Alto potencial de transporte associado ao
sedimento(APTAS)
Baixo potencial de transporte associado ao
sedimento (BPTAS)
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≤2
≤ 500
-
≤4
≤ 900
≥ 0,5
Alto potencial de transporte dissolvido em
água (APTDA)
> 35
< 1.000.000
≥1
> 35
≤ 700
10 ≤ S ≤ 100
Baixo potencial de transporte dissolvido em
água (BPTDA)
-
> 1.000.000
-
≤1
≤ 100
-
< 35
-
< 0,5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em regiões de clima tropical, como o Brasil e o Estado do Tocantins, estima-se que cerca de
40% dos danos ocorridos na agricultura são causados por pragas, sendo fungos, bactérias, vírus,
nematoides, dentre outros responsáveis por 15% destes danos, tornando necessário o uso de medidas a
fim de minimizar essas perdas, na qual se destaca o uso de agroquímicos. No Estado do Tocantins,
observou-se que são utilizados 32 princípios ativos, dos quais 26% são aplicados como herbicidas
seguidos dos fungicidas (em torno de 24%), inseticidas 23%, acaricidas 19% e Formicidas 8%. A
Figura 01 mostra as principais classes de agroquímicos utilizados no Estado do Tocantins.
Figura 01 - Distribuição percentual das classes de agrotóxicos aplicados na região
Verifica-se uma grande diversidade de grupos químicos aplicados na região, sendo os triazinas
(15,6%) os mais aplicados, seguidos dos organofosforados. No entanto, dos componentes aplicados
(62%) pertence a outras classes menos usuais ou registradas recentemente. Os agrotóxicos encontrados
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a partir do levantamento pertencem a diferentes classes toxicológicas sendo: 9 (45%) da classe III
(medianamente tóxico); 6 (30%) da classe I (extremamente tóxico); 4 (20%) da classe IV (pouco
tóxico) e 1 (5%) da classe II (altamente tóxico).
A avaliação das características de cada princípio ativo dos produtos aplicados está permitindo
realizar a previsão do comportamento de cada pesticida no meio ambiente. Sendo a interpretação dos
dados das propriedades físico-químicas dos defensivos agrícolas de extrema importância para a
classificação dos pesticidas de acordo com o potencial de contaminação de águas superficiais.
A partir da avaliação realizada pelo método de GOSS, identificou-se que os agrotoxicos que
apresentaram alto potencial de transporte dissolvido em água e potencial risco para contaminar as
águas superficiais, foram: ametrina, atrazina, clorpirifós, carnendazim, difenoconazol, diurom,
glifosato, imazetapir, imidacloprid, picloran, permetrina, tebuconazol, tiabendazol e tiodicarbe.
Enquanto, bifentrina, clorpirifos, difenoconazol, glifosato, tebuconazol, trifluralina apresentaram alto
potencial de transporte associado ao sedimento e, portanto potencial risco de contaminação de água
superficial. Os pesticidas clorpirifós, difenoconazol, glifosato, tebuconazol e tiabendazol apresentaram
potencial de transporte tanto dissolvido em água quanto associado ao sedimento, indicando potencial
risco tanto para água subterrânea quanto superficial.
Inúmeros trabalhos têm relatado a presença de pesticidas e/ou seus metabólitos em solos,
atmosfera, água subterrâneas e rios de vários países, mas pouco tem sido estudado no Brasil. Nos
EUA, os herbicidas imazethapyr e imazaquin foram detectados em 71 e 32% do total de 150 amostras
de águas superficiais e 16 e 8% do total de 25 amostras de águas subsuperficiais, respectivamente.
Entre os 16 herbicidas avaliados, o imazethapyr foi detectado com maior frequência em ambos os
monitoramentos (BATTAGLIN et al., 2000).
No Brasil, um estudo desenvolvido pela SUREHMA (Superintendência dos Recursos Hídricos
de Meio Ambiente) no Estado do Paraná, no Período de 1976 a 1984, constatou que 84%, de um total
de 1825 amostras de água colhidas nos rios apresentaram resíduos de pesticida e que 78% destas
amostras encontravam-se "contaminadas" mesmo depois dos tratamentos convencionais de água (DE
LUNA; DE SALES; DA SILVA, 2007).
CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados desse estudo conclui-se que a possibilidade de contaminação
ambiental no Estado do Tocantins deve ser considerada uma vez que 25% dos princípios ativos
utilizados na agricultura apresentam substâncias classificadas com alto potencial de transporte
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associados ao sedimento e 53,57 % apresentam alto potencial de transporte dissolvido em água. Sendo
os pesticidas clorpirifós, difenoconazol, glifosato, tebuconazol e tiabendazol, os que apresentaram
maior potencial de contaminação para as águas superficiais, pois os mesmo podem ser transportados
associados ao sedimento e dissolvidos em água.
LITERATURA CITADA
BATTAGLIN, W. A. et al. Occurrence of sulfonylurea, sulphonamide, imidazolinone, and other
herbicides in rivers, reservoirs and ground water in the Midwestern United States, 1998. Science Total
Environmental, v. 248, n. 2-3, p. 123-133. 2000.
CANUTO, T. G.; GAMA, A. F.; BARRETO, F. M. S.Estimativa do potencial de contaminação do
metil-paration – modelos de “screening”- em águas superficiais e subterrâneas, no município de
Tianguá, Ceará. IV Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte e Nordeste de Educação
Tecnológica. Belém – Pará, 2009.
GOSS, D.W. Screening procedure for soils and pesticides for potential water quality impacts. Weed
Technology, Champaign, v.6, n.4, p.701-708, 1992.
LIBOS, M. I. P. C. Modelagem da Poluição Não Pontual na Bacia do Rio Cuiabá Baseada em
Geoprocessamento. 2002. 269 p. Dissertação (Mestrado em ciências em Engenharia Civil)-COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeiro ,Rio de Janeiro, 2002.
LUNA, A. J.; SALES, L.T.; SILVA, R. F. Agrotóxicos: responsabilidades de todos (uma abordagem
da questão dentro do paradigma do desenvolvimento sustentável). Jaboticabal: UNESP, 2004.
RIBEIRO, M.L; LOURENCETTI, C. Contaminação de
Águas
Subterrâneas
Por
Pesticidas:
Avaliação Preliminar. Química Nova, 2007.
UETA, J. et al. Biodegradação de herbicidas e biorremediação - microorganismos degradadores do
herbicida atrazina. Herbário - Toxicologia, 2004.
VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T. (orgs). Reflexões sobre a geografia física no Brasil. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2004. 280 p.
AGRADECIMENTOS
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
"O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT”
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