64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 PRIMEIROS ESTUDOS HISTOQUÍMICOS DE FOLHAS E RAÍZES DE CAPIM-ANNONI-2 (Eragrostis plana, POACEAE): A PRINCIPAL INVASORA DO BIOMA PAMPA 1, 1 1 1 Adriana Favaretto *, Jossana Santos , Simone M.Scheffer-Basso , Cercí M. Carneiro 1 Universidade de Passo Fundo; *[email protected] Introdução O capim-annoni-2 é, atualmente, a principal invasora das pastagens naturais do sul do Brasil. Estima-se que dos 15 milhões de hectares dos campos naturais do RS, três milhões já estão invadidos por essa gramínea africana, com prejuízos de mais de US$ 75 milhões anuais à pecuária do Estado [1]. O efeito alelopático do capim-annoni-2 [2] é um dos fatores que contribui para sua expansão, pois afeta negativamente o crescimento das demais espécies. Apesar das evidências da atividade alelopática terem sido comprovadas, ainda não se tem informação sobre os grupos químicos presentes nessa gramínea, responsáveis por tal ação. Grupos do metabolismo secundário como taninos, glicosídeos cianogênicos, alcaloides, flavonoides, ácidos fenólicos e saponinas são os mais comumente encontrados em plantas alelopáticas [3]. O objetivo deste estudo foi analisar histoquimicamente folhas e raízes do capim-annoni-2, a fim de subsidiar estudos ecofisiológicos e químicos dessa importante invasora. Metodologia Folhas e raízes foram coletadas de plantas de uma população espontânea de capim-annoni-2 localizada no campus da Universidade de Passo Fundo, na primavera de 2012. Foram realizados cortes manuais do material fresco, utilizando a porção mediana da última folha totalmente expandida e da raiz mais longa de cinco de plantas. Os cortes foram submetidos a reagentes específicos para determinar os grupos químicos: Sudan III foi usado para lipídios totais, cloreto férrico para fenóis, vanilina 5% para taninos, floroglucina para lignina, Dragendorff para alcaloides e lugol para detectar amido [4]. Após os testes histoquímicos, as lâminas foram analisadas em microscópio óptico Olympus CX31. Resultados e Discussão A reação para detecção de lipídios totais evidenciou sua presença na cutícula das folhas, exoderme e endoderme da raiz. A reação foi positiva em folha e raiz para fenóis e lignina e negativa para taninos. Na folha, fenóis foram observados nas células da bainha e do parênquima paliçádico, e lignina foi detectada nas fibras que envolvem os feixes vasculares e nos elementos de vaso. Na raiz houve ocorrência de fenóis, nos espaços intercelulares da medula, e de lignina, junto aos feixes vasculares. Os testes histoquímicos não revelaram a presença de taninos. Os fenóis atuam na proteção das estruturas celulares contra o excesso de radiação ultravioleta e na manutenção da integridade do protoplasto em situações de estresse hídrico [5]. Os fenóis são compostos alelopáticos e, possivelmente, sejam aqueles que conferem a essa gramínea tal característica. A lignina, que é um composto fenólico, é considerada substância resistente aos patógenos, reduzindo, também, a digestibilidade da matéria seca [6], o que afeta a qualidade da planta como forrageira. A reação para detecção de alcaloides foi positiva na folha e na raiz, evidenciando a presença destes compostos junto aos feixes vasculares de ambos os órgãos. Os alcaloides são os compostos nitrogenados mais conhecidos na função de defesa contra herbívoros, além de possuir potencial alelopático [5]. A reação para detecção de amido na folha foi negativa. No entanto, na raiz, o teste com lugol detectou esse carboidrato na região da medula. A presença de amido na raiz, além de permitir maior capacidade de rebrota das plantas, proporciona vantagens adaptativas sobre as outras espécies, tendo em vista que essa característica não é comum nas demais gramíneas em ambiente natural. Devido à variedade de atuação dos compostos com propriedades alelopáticas, como é o caso dos alcaloides e compostos fenólicos, eles são considerados como recurso para o desenvolvimento de herbicidas naturais, além de serem utilizados para controle de doenças em plantas [7]. Conclusões Folhas e raízes de capim-annoni-2 possuem lipídios totais, fenóis, lignina e alcaloides. Somente raízes possuem reserva de amido. Agradecimentos À Capes, pela concessão de bolsa de estudo. À Universidade de Passo Fundo e ao Programa de Pós Graduação em Agronomia pelo apoio financeiro e disponibilidade de espaço físico para realização do trabalho. Referências Bibliográficas [1] Brasil. 2009. Resolução CONABIO no 05, de 21 de outubro de 2009. Dispõe sobre a Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 21 de outubro de 2009. [2] Favaretto, A.; Scheffer-Basso, S.M.; Felini, V.; Neto Zoch, A.; Carneiro, C.M. 2011. Growth of white clover seedlings treated with aqueous extracts of leaf and root of tough lovegrass. Revista Brasileira de Zootecnia 40: 1168-1172. [3] King, S.R. & Ambika, R. 2002. Allelopathic plants. Chromolaena odorata (L.). Allelopathy Journal 9: 35-41. [4] Ascensão L. 2003. Técnicas histoquímicas convencionais de microscopia de fluorescência aplicadas em espécies de Cerrado. Botucatu. UNESP. [5] Taiz, L. & Zeiger, E. 2013. Fisiologia Vegetal. 5 ed. Porto Alegre. ARTMED. [6] Silva, L.M.; Alquini, Y. & Cavallet, V.J. 2005. Inter-relações entre a anatomia vegetal e a produção vegetal. Acta Botânica Brasileira 19: 183-194. [7] Bhadoria, P.B.S. 2011. Allelopathy: a natural way towards weed management. American Journal of Experimental Agriculture 1: 7-20.