1 CLASSES DE AGROTÓXICOS USADOS NAS PLANTAÇÕES DE SOJA (Glycine max (L.) Merr. – Fabaceae) CÁCERES, MATO GROSSO DAROS, W. F; RIEDER, A; RODRIGUES, F. A. C; MACEDO, P. C; LEITE, M. C; MELÃO, A. V; MORAES, V. A. RESUMO Os agrotóxicos são substâncias usadas para controlar pragas, ervas daninhas e agentes causadores de doenças, sendo importantes no processo de produção agrosilvopastoril. Mas a utilização inapropriada destes produtos pode causar problema à saúde pública e ao meio ambiente. Para limitar e gerenciar adequadamente o uso destes produtos é necessário, estudar as situações específicas demandadoras dos mesmos. Objetivou-se estudar as classes dos agrotóxicos (CUSO, CTOX, CPPA) utilizados nas plantações de soja (Glycine max (L.) Merr. – Fabaceae) em Cáceres (Mato Grosso-MT) na safra 2008/2009. As coletas de dados foram realizadas em visitas as duas fazendas cacerenses que cultivam soja utilizando-se um questionário-guia. Para conservar ocultos os nomes foram identificadas por “A” e “B”. A coleta na fazenda A foi no dia 16 de abril de 2009 e na fazenda B no dia 22 de abril de 2009, ou seja, em final de safra. A quantidade de produtos da classes de uso (CUSO) fungicidas (20%) foi utilizada em mesma proporção na fazenda A e B, mas os herbicidas (A: 40%; B: 30%) e inseticidas (A: 40%; B: 50%) em proporções distintas. A distribuição dos produtos usados nas classes toxicológicas (CTOX) mostrou que a fazenda B utiliza maior proporção de produtos mais tóxicos que a fazenda A (Classe I ou Extremamente tóxicos - A: 13,3%, B: 30,0%; Classe II ou Altamente tóxicos - A: 33,3%, B: 50,0%; Classe III ou Medianamente tóxicos - A: 33,3%, B: 20,0%; Classe IV ou Pouco tóxicos - A: 20,0%, B: 0,0%). Com relação às classes de potencial de periculosidade ambiental (CPPA) constatou-se que as proporções de enquadramento dos produtos não foram as mesmas nas duas fazendas (Classe I ou Extremamente perigoso - A: 6,6%, B: 10,0%; Classe II ou Altamente perigoso - A: 40,0%, B: 50,0%; Classe III ou Perigoso - A: 46,6%, B: 20,0%; Não esclarecidos - A: 6,6%, B: 20,0%). Há uma diferenciação nas duas fazendas com relação a todas as variáveis analisadas. A fazenda B utiliza uma proporção maior de produtos: inseticidas, mais tóxicos e mais perigosos. Sugere-se, na continuidade dos estudos, identificar razões disto, cuidados adotados e riscos decorrentes, visando dar retorno e orientações adequadas aos sojicultores. Palavras chave: Classes de uso, toxicológicas, e de potencial de periculosidade ambiental. INTRODUÇÃO Os agrotóxicos são substâncias usadas para controlar pragas (inseticidas), ervas daninhas (herbicidas) e agentes causadores de doenças (fungicidas), sendo importantes no processo de produção agrosilvopastoril. Conforme Assis (2008) a agricultura brasileira cada vez mais tem feito uso de agrotóxicos, acarretando uma série de problemas ecológicos. Há autores afirmando que a extensiva utilização de algumas dessas substâncias é um importante fator de risco para a saúde humana e ao ambiente nos países com economia baseadas no agronegócio, caso do Brasil (ARAÚJO et a.l, 2007; GONZAGA, 2006; SILVA, 2004; 2 SILVA et al., 2004; SOARES et al., 2003). No estado do Mato Grosso, estudos demonstram alguns riscos relacionados à utilização de agrotóxicos. Gonzaga (2006) estudou casos de intoxicações provocadas principalmente por produtos da classe dos inseticidas; Rodrigues (2005) mostra a extensiva utilização de produtos pertencentes à classe extremamente tóxica ao homem e ao meio ambiente (classe I); já Dores (2001) mostrou em seu trabalho a prevalência da utilização de produtos da classe dos herbicidas em lavouras no estado. A classificação do potencial de periculosidade ambiental (CPPA) baseia-se nos parâmetros de bioacumulação, persistência, transporte, toxicidade a diversos organismos, potencial mutagênico, teratogênico e carcinogênico, obedecendo a seguinte graduação: Classe I –Altamente Perigosos; Classe II- Muito Perigosos; Classe III-Perigosos; Classe IV - Pouco Perigosos conforme descrito em RIEDER (2004). Para limitar e gerenciar adequadamente o uso destes produtos é necessário, estudar as situações específicas demandadoras dos mesmos. Assim, objetivou-se estudar as classes dos agrotóxicos utilizados nas plantações de soja (Glycine max (L.) Merr. – Fabaceae) em Cáceres (Mato Grosso-MT) na safra 2008/2009. MATERIAL E MÉTODOS As coletas de dados foram realizadas em visitas à duas fazendas cacerenses (Mato Grosso – MT, Brasil ) que cultivam soja, utilizando-se aplicação de entrevistas orientadas por um questionário-guia (adaptado a partir de RIEDER, 1999). Para conservar oculto o nome das fazendas as mesmas foram identificadas por “A” e “B”. A fazenda A está localizada em região de morraria enquanto a B em área plana próximo ao pantanal. As coordenadas de ambas as fazendas foram tomadas, sendo mantidas (acesso restrito) no banco de dados do projeto, conforme acordado com os informantes. A coleta de dados na fazenda A ocorreu no dia 16 de abril de 2009 e na fazenda B no dia 22 de abril de 2009, ou seja, em final de safra. Formou-se um banco eletrônico com os dados colhidos para fins de armazenamento dos mesmos e análises estatísticas pertinentes. Os agrotóxicos foram organizados em função de suas classes de uso (Cuso) (herbicidas, fungicidas e inseticidas), classes toxicológicas - CTOX (I, II, III e IV) e de potencial de periculosidade ambiental - CPPA (I, II, III e IV). Para esta caracterização, foram utilizadas as fichas oficiais dos produtos mediante consulta ao Sistema de Informação sobre Agrotóxico (SIA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Cuso, a quantidade de produtos fungicidas (20%) foi utilizada em mesma proporção na fazenda A e B, mas os herbicidas (A: 40%; B: 30%) e inseticidas (A: 40%; B: 50%) em proporções distintas. Na fazenda A o número de herbicidas e inseticidas usados foi em mesmas proporções. Já na fazenda B predominou o número de inseticidas. Outros estudos realizados em MT (Campo Novo e Primavera do Leste), também com lavoura de soja, revelam que Cuso de produtos mais utilizados foram os herbicidas (RODRIGUES, 2005; DORES, 2001). Os herbicidas visam o controle de inços tanto de folha larga como de folhas estreitas nas duas fazendas. Os produtos inseticidas utilizados na fazenda A, tem como praga alvo lagartas, vaquinhas e percevejos. Enquanto na fazenda B, lagartas e vaquinhas. Os 3 fungicidas destinam-se principalmente para o controle de agentes causadores da ferrugem. Nas classes CUSO, os herbicidas utilizados pertencem a sete distintos grupos químicos, sendo destes, seis utilizados na fazenda A e três na fazenda B. Enquanto que os inseticidas utilizados pertencem a sete grupos químicos distintos, sendo destes, cinco utilizados na fazenda A e quatro na fazenda B. Por sua vez, os fungicidas utilizados pertencem a três distintos grupos químicos, sendo que a fazenda A utiliza todos estes e a fazenda B dois. Quanto às classes CTOX dos grupos químicos de agrotóxicos utilizados nas 2 fazendas de soja, três, sete, cinco e dois pertencem respectivamente às classe I (extremamente tóxico), II (altamente tóxico), III (medianamente tóxico) IV (pouco tóxico). Quanto as CTOX dos produtos usados, revelou-se que a fazenda B utiliza maior proporção de produtos mais tóxicos que a fazenda A (Classe I ou Extremamente tóxicos - A: 13,3%, B: 30,0%; Classe II ou Altamente tóxicos - A: 33,3%, B: 50,0%; Classe III ou Medianamente tóxicos - A: 33,3%, B: 20,0%; Classe IV ou Pouco tóxicos - A: 20,0%, B: 0,0%). Levando em consideração que o risco à saúde humana é maior nos produtos das classes I, seguido da classe II, III e IV respectivamente, presume-se que a fazenda B esteve submetida ao um risco maior que à fazenda A, por usar maior número de produtos das classes mais tóxicas. Com relação às classes CPPA, três, oito e seis grupos químicos usados pertencem, respectivamente, as classes I (extremamente perigoso), II (altamente perigoso), III (perigoso); e dois ainda não foram enquadrados nas CPPA (Registro Decreto 24.114/34). Constatou-se que o número de produtos usados, com relação a CPPA a que pertencem não estão em mesmas proporções nas duas fazendas no entanto, em ambas predominaram as classes II e III (Classe I ou Extremamente perigoso - A: 6,6%, B: 10,0%; Classe II ou Altamente perigoso - A: 40,0%, B: 50,0%; Classe III ou Perigoso - A: 46,6%, B: 20,0%; Não esclarecidos - A: 6,6%, B: 20,0%). Estes resultados, em parte são concordantes com os encontrado por RIEDER (2004), ao analisar os receituários de produtos aplicados nos municípios do Pantanal Norte no período de 1999-2000, que se distribuíram nas classes I, II e III, predominando também as classes CPPA II e III (98,4%). CONCLUSÕES 1)Nas fazendas analisadas (A e B) as classes de agrotóxicos estiveram distribuídos em: -De uso (CUSO): Herbicidas, inseticidas e fungicidas. -Toxicológicas (CTOX): I (extremamente tóxico), II (altamente tóxico), III (medianamente tóxico) e IV (pouco tóxico). -De Potencial de Periculosidade Ambiental (CPPA): I (Extremamente perigoso), II (Altamente perigoso), III (Perigoso) e alguns ainda não enquadrados. 2)Houve uma diferenciação nas duas fazendas com relação as variáveis analisadas. A fazenda B utiliza uma proporção maior de produtos: inseticidas, mais tóxicos e mais perigosos. Sugere-se, na continuidade dos estudos, identificar razões disto, cuidados adotados e riscos decorrentes, visando dar retorno e orientações adequadas aos sojicultores. REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4 1. ARAÚJO, A. J. de; LIMA J. S. de; MOREIRA, J. C; JACOB, S. do C; SOARES, M. de O; MONTEIRO, M. C. M; AMARAL, A. M. do; KUBOTA, Al; MEYER, A.; COSENZA, C. A. N; NEVES, C. das; MARKOWITZ, S. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo transversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciência & Saúde Coletiva, vol. 12, n1, 2007. 2. DORES, E. F. G. de C. Contaminação do ambiente aquático por pesticidas. Estudo de caso: águas usadas para consumo humano em Primavera do Leste, Mato Grosso – análise preliminar. Revista Química Nova vol. 24, no1, 2001. 3. GONZAGA, A. M. Perfil epidemiológico das intoxicações por agrotóxicos notificadas no estado de mato grosso no período de 2001 a 2004. Florianópolis/SC 2006. 120 f. (Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública). 4. RIEDER, A. Indicadores de riscos de contaminação e de danos ao ambiente e à saúde humana por pesticidas às bordas do Alto Pantanal. 1999. 340f. Tese (Doutorado em Saúde e Ambiente - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá (MT)). 5. RIEDER, A.; DORES, E. F. G. de C.; NUNES, V. da S.; OLIVEIRA, M. D. de; MOZETO, A. A.; MODRO, A. F. H.; SANTOS, J. L. dos; ROCHA, G. S. Classes de potencial de Periculosidade Ambiental (PPA) dos pesticidas receitados em Municípios do Pantanal Norte, Mato Grosso (MT), Brasil, no biênio 1999-2000. In: SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL, 4., 2004, Corumbá, MS. Sustentabilidade regional: anais. Corumbá: Embrapa Pantanal: UCDB: UFMS: SEBRAE-MS, 2004. (CD-ROM). Biblioteca(s): CPAP (PL CD2004.00022 UMT). 6. RODRIGUES, F. Apª C.; WEBER, O. L. dos S.; DORES, E. F. G. de C.; GUIMARÃES, M. de N. K; TIDON, R.; GRISÓLIA, C. K. Ecogenotoxicologia dos agrotóxicos: avaliação Comparativa entre ecossistema agrícola e área de Proteção ambiental. Curitiba. Pesticidas: revista ecotoxicologia e meio ambiente v. 15, 2005. 7. SILVA, C. L. da. Analise da vulnerabilidade ambiental aos principais pesticidas recomendados para os sistemas de produção de algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, citros, milho e soja. Campinas, SP. Instituição: Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Agrícola. Dissertação (mestrado). UNICAMP: Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola. 2004. 8. SILVA, E. N.; SILVA, J. M. da; SOUZA, R. A. de; RODRIGUES, F. A. L.; SILVA, G. M. E. Educação para a saúde: o conhecimento como ferramenta de redução dos riscos da exposição ocupacional a agrotóxicos. Anais do 7º Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte – 12 a 15 de setembro de 2004. 9. SOARES, W.; ALMEIDA, M. V. R.; MORO, S. Trabalho rural e fatores de risco associados ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Rio de Janeiro. Caderno de Saúde Pública. 19(4), 2003.