OS SABERES DOCENTES SOBRE A GESTÃO ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL BUSS*, Rosinete Bloemer Pickler – FURB [email protected] SILVA**, Neide de Melo Aguiar – FURB [email protected] Resumo Este estudo está sendo desenvolvido na Linha de Pesquisa Educação, Estado e Sociedade, do Grupo de Pesquisa em Educação (EduPesquisa), no Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em Educação - da Universidade Regional de Blumenau - FURB e busca, fundamentalmente, discutir concepções de Gestão Escolar. A discussão se dá pelo viés das representações sociais, com vistas a identificar e compreender, através dos saberes de um grupo de docentes, a representação social de Gestão Escolar. A Gestão Escolar apresenta-se como um conjunto de estratégias que visam enfrentar os desafios oriundos da administração da escola, buscando gerir significativamente a estrutura pedagógica, administrativa e de recursos humanos no âmbito da educação escolar. Tem como sujeitos de pesquisa trinta e oito docentes que atuam no Ensino Fundamental das redes estadual e municipal de ensino do município de Pomerode–SC. O referencial teórico metodológico centra-se em Ladislau DOWBOR, Beno SANDER, José Carlos LIBÂNEO, na discussão referente à Gestão Escolar, Serge MOSCOVICI, Sandra JOVCHELOVITCH no que diz respeito às representações sociais e Maurice TARDIF, sobre os saberes docentes. Realizou-se, inicialmente, para validação do tema, uma entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta. Neste estudo prévio, os olhares docentes apontam para uma Gestão Escolar compartilhada, democrática e com maior distribuição de responsabilidades. Da mesma forma, enfatizam o distanciamento entre o real e o imaginário desejável, ponderando as dificuldades nas práticas de Gestão Escolar vivenciadas em seus ambientes de trabalho. Mediante fragilidades no processo de realização das entrevistas e dificuldades visualizadas na análise dos dados, surgiu a necessidade de utilizar um questionário como instrumento de coleta, para auxiliar na qualificação e veracidade da pesquisa. No estágio atual o estudo acentua, através da análise, a busca de determinantes dos saberes sociais sobre Gestão Escolar, e elementos elucidativos das práticas em Gestão Escolar. Palavras-chave: Gestão Escolar 1; Saberes docentes 2; Representações sociais 3. Refletindo sobre a problemática da gestão escolar sob o olhar docente, este estudo busca desvelar representações sociais que possam refletir as formas de conhecimento dos docentes em seus saberes e fazeres no que tange á gestão de unidades escolares. * Professora do Ensino Fundamental Séries Iniciais, pesquisadora do grupo EduPesquisa e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Regional de Blumenau - FURB/SC ** Docente e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau. Doutora em Educação Matemática pela UNESP-Rio Claro/SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa EduPesquisa: Educação, Estado e Sociedade 3103 A pesquisa tem como objetivo identificar e compreender através das representações sociais os saberes e fazeres docente, quanto à gestão escolar. A Gestão Escolar apresenta-se como um conjunto de estratégias que visa enfrentar os desafios oriundos da administração da escola, buscando gerir significativamente a gestão pedagógica, gestão administrativa e a gestão de recursos humanos no âmbito da educação escolar. Este é um estudo, desenvolvido como dissertação de mestrado no Programa de Pósgraduação em Educação – Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau (FURB), na linha Educação, Estado e Sociedade, junto ao EduPesquisa, Grupo de Pesquisa em Educação. A referida linha de pesquisa centra-se nos aspectos sociais, históricos, políticos e culturais como constituintes fundamentais da educação, das instituições educativas e suas práticas. Assim, esta pesquisa se desencadeia a partir de temáticas relativas aos saberes docentes sobre o processo de gestão escolar. A fundamentação teórica se desenvolve, para melhor compreender o objeto de pesquisa que é o sentido da gestão escolar sob o olhar docente. Deste modo, o texto aborda a escola e sua função; o objeto de estudo a gestão escolar e a gestão escolar sob o olhar democrático e autônomo. Quanto ao objeto de estudo “gestão escolar”, volta-se a responsabilidade de todos os agentes de uma escola. No que se refere à gestão escolar sob o olhar democrático e autônomo, buscam-se alternativas de ação do saber descentralizar através da efetiva participação de todos. A metodologia deste estudo busca as representações sociais, pois, as representações possibilitam visualizar a interpretação dos saberes docentes quanto ao sentido da gestão escolar. Os dados foram coletados através de questionários, após aplicação de uma entrevista semi-estruturada, com o objetivo de validação do tema proposto nesta pesquisa. A entrevista prévia analisada sob o olhar das representações sociais aponta à importância de uma gestão escolar compartilhada e democrática. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A escola Segundo o Dicionário Aurélio: A escola tem origem grega SCHOLÈ, obtendo significado de ócio, lugar de “descanso de trabalho, folga”. 3104 Escola, como estabelecimento de ensino, é também um lugar onde não se espera encontrar dominação; ao contrário, dela se espera o cumprimento de sua função social na construção efetiva do indivíduo. A constituição de 1988 define em seu artigo 205 que “a educação é um direito de todos e dever do estado e da família”. A escola, como mediadora do processo educacional, possui o duplo papel “de formar não somente os indivíduos, mas também uma cultura que vem por sua vez penetrar, moldar, modificar a cultura da sociedade global”. (CHERVEL, 1990, p. 177) Nestes termos, não se credita à escola somente a responsabilidade pela preservação dos conhecimentos historicamente sistematizados, também uma ampla participação no processo de educação continuada. A educação continuada, como constituinte necessário dos princípios reguladores de uma sociedade para além do capital, é indispensável da prática significativa da autogestão. Ela é parte integral desta última, como representação no início da fase de formação na vida dos indivíduos, e, por outro lado, no sentido de permitir um efetivo feedbeck dos indivíduos educacionalmente enriquecidos, com suas necessidades mudando corretamente e redefinidas de modo eqüitativo, para a determinação global dos princípios orientadores e objetivos da sociedade. MÉSZÁROS (1981, p.75) Atribui-se à escola a responsabilidade de oportunizar um ambiente onde se divide e multiplica o processo de construção do conhecimento, buscando transformar esse ambiente num espaço especializado para o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos sujeitos que por ela passam. A escola se desenvolve quando procura valorizar a sensibilidade, responsabilidade, respeitabilidade, convivibialidade através dos aspectos cognitivo, afetivo e social dos indivíduos que compõem o universo escolar. Nessa perspectiva, conforme Ladislau Dowbor, (1998, p. 259), a escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento”. Assim, o objetivo da escola consiste em promover o pleno desenvolvimento do Ser Humano, permitindo que ele exerça sua cidadania, bem como, promover qualificação para o trabalho. A escola, em sua diversidade, trabalha para que seus alunos, sua comunidade, consigam interagir com outras pessoas respeitando a diversidade cultural da sua comunidade escolar. 3105 Neste viés, uma escola única e acabada não muda o mundo, a escola muda com o mundo, através das parcerias e trocas de experiências. Partindo deste pressuposto, os indivíduos podem ampliar seus conhecimentos e a capacidade de auxiliar para uma educação melhor, mais justa e igualitária. Gestão escolar A origem etimológica do termo gestão, segundo Cury (2002, p. 164) vem do “(verbo latino gerere, exercer, executar), chamando a atenção para a postura dialógica subjacente ao conceito de gestão como forma de governo da educação em seus distintos níveis e modalidades de ensino”. A gestão escolar apresenta-se com foco no âmbito da escola, responsável pelas ações e tarefas que dizem respeito a ela. Para melhor compreensão, a gestão escolar tem por finalidade superar os desafios oriundos à administração escolar, buscando olhares significativos à gestão pedagógica, gestão dos recursos humanos e administrativos no âmbito da educação escolar. Assim, a gestão escolar pode ser classificada em três áreas: Gestão Pedagógica; Gestão de Recursos Humanos e Gestão Administrativa. Para a gestão escolar, acredita-se que a gestão Pedagógica deva ser a mais importante, pois, institui objetivos para o ensino-aprendizagem, onde propõe metas para a concretização das propostas pedagógicas e sua avaliação. O responsável imediato pela articulação e sucesso da gestão pedagógica é o diretor da escola, hoje, mais conhecido como gestor escolar. A gestão dos recursos humanos direciona-se a gestão de pessoas, ou seja, gestão de alunos, professores, comunidade escolar em geral. Manter as pessoas desenvolvendo suas atividades contentes, satisfeitas não é tarefa fácil, pois, todos têm atribuições a cumprir, deste modo o regimento interno escolar existe para ser efetuado e cobrado pela equipe gestora de forma ética buscando não deixar lacunas para mal entendidos e/ou interpretações ambíguas. A gestão administrativa tem por finalidade zelar pela parte física da escola, da parte burocrática da instituição, dos direitos e deveres de todos os agentes da unidade, bem como no cumprimento do regimento interno escolar. Estas três áreas apresentadas, a gestão pedagógica, gestão dos recursos humanos e a gestão administrativa caminham juntas, integradas, com o objetivo de garantir o processo 3106 educativo das unidades escolares. Sendo o gestor escolar o agente responsável direto por todas as áreas. Mencionadas as principais incumbências da escola, ou seja, da gestão escolar, não se pode deixar de dialogar com a gestão escolar com a autonomia desta gestão relacionadas às peculiaridades da comunidade a qual a escola está inserida e com o processo de construção do conhecimento, aprendizagem. O exercício da gestão implica em lidar com pessoas, procurando mediar às interlocuções vindas de um sistema; visa acatar olhares de todos que dela participam de forma sistêmica, que auxilia a entender e gerenciar os processos interligados como um sistema, interagindo, observando das partes para o todo e/ou vice-versa. Segundo Régis Jolivet (1975, p.205) sistema significa “conjunto de elementos interdependentes e formando um todo organizado; conjunto de idéias ou de teses solidárias uma das outras e formando um todo lógico”. Em toda instituição existem regras, leis, normas; não é diferente na instituição escolar. Assim, a gestão escolar procura envolver todos que da escola fazem parte, buscando em conjunto oportunizar uma escola voltada ao desenvolvimento pleno de sua função social. Para Libâneo (2004, p. 101) “a gestão é a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingir os objetivos da organização, envolvimento, basicamente os aspectos gerenciais e técnico-administrativos. Neste sentido é sinônimo de administração”. A gestão de uma instituição escolar visa à prática educativa organizacional num processo compartilhado. Entende-se por gestão participativa o saber compartilhar, escrever uma história onde todos são autores do processo. A gestão escolar volta-se a responsabilidade de todos os agentes de uma escola. Neste contexto de gestão se faz necessário o trabalho em equipe, ou seja, de um grupo de pessoas que trabalham juntas, dando ênfase à formação e à aprendizagem dos alunos. Quando se escreve envolvimento ou tarefa de todos, entende-se que todos têm o seu valor no que diz respeito à escola e à gestão. Todos os trabalhadores da instituição, incluindo alunos e comunidade escolar, são essenciais para atingir uma organização permanente onde todos sejam beneficiados. Na busca da qualidade e produtividade no âmbito da gestão escolar em escolas públicas, a gestão pode se realizar plenamente através do processo mediador. Neste foco desenvolvem o trabalho através das características dialógicas as relações pedagógicas, assumindo ações democráticas para atender aos anseios da comunidade escolar. 3107 A educação diante de uma gestão escolar democrática e autônoma concebe como primordial o conhecimento, pois ele é uma construção social autônoma. Neste sentido Libâneo (2004, p. 141) coloca que: A autonomia é o fundamento da concepção democrático-participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto-curricular. Ela é definida como faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino. Autonomia de uma instituição significa ter poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. A gestão democrática sob o viés da autonomia não implica na ausência de Leis e no seu cumprimento; pelo contrário através das normas e Leis a escola tem autonomia de traçar seus objetivos, oportunizando condições de definir suas ações, pretensões, anseios da comunidade escolar buscando conformidades com os parâmetros elaborados pelos governos de quaisquer esferas. Observa-se que o objetivo de uma gestão escolar democrática, baseia-se fundamentalmente pela participação efetiva da comunidade escolar. Valorizando os anseios coletivos constituídos por alunos, pais, educadores e membros dos conselhos comunitários; atendendo desta forma, as necessidades reais da escola. A autonomia e a democratização são dois aspectos relevantes à gestão escolar, sendo considerados indissociáveis ao processo emancipador das pessoas e da humanidade. A escola no contexto da gestão escolar democrática busca ter autonomia para realizar alternativas de ação; partindo do coletivo para alcançar a excelência que a comunidade escolar almeja diante de sua realidade. O alcance da autonomia percorre pelo ato de descentralizar. Libâneo (2004, p. 141) coloca que a escola é o fundamento da concepção democrático-participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto curricular. Ela é definida como faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino. Nos meandros da gestão escolar democrática e autônoma, cabe ao gestor escolar aproveitar o potencial de todos os agentes ativos e participativos da escola, assim soma idéias e, discernir em conjunto o que for melhor para o bem da comunidade escolar. Neste movimento de novas idéias, pensamentos e sugestões vale ressaltar a importância do gestor escolar zelar pelo bom andamento e efetividade da gestão escolar democrática. Partindo do coletivo para alcançar a excelência que a comunidade escolar almeja diante de sua realidade, buscam-se alternativas de ação, numa gestão escolar democrática e autônoma. Neste contexto, a autonomia se conquista através do saber descentralizar. 3108 A gestão democrática anseia pela participação e tomada de decisão dos sujeitos envolvidos no processo; neste movimento busca-se gerar conhecimento. O conhecimento surge das opiniões, idéias ou teorias que sejam justificadas (de forma empírica) acolhidas por uma comunidade. Fundamentos Teórico Metodológicos Centrado na preocupação de compreender o conhecimento docente sobre gestão escolar, este estudo toma como foco a teoria e a metodologia das Representações Sociais. Tem como fundamentação teórica os escritos de Serge Moscovici, bem como de outros estudiosos desta vertente de investigação. A opção se faz pertinente por entender que as representações sociais oportunizam melhor compreensão da troca de idéias entre os indivíduos em seus grupos sociais. As representações sociais têm como função auxiliar na percepção das condutas e na identidade do real, propiciando justificativas relevantes às conclusões detectadas. Elas oportunizam visualizar com mais veracidade a interpretação dos saberes docentes quanto à gestão escolar. Nesta perspectiva as representações estão presentes na área do conhecimento, no campo das ações permeando as práticas sociais. Os saberes sociais, segundo Jovchelovitch, (2001, p. 24): Nas nossas sociedades dinâmicas, eles se movem, eles se deslocam, como a gente vai e vem. E quando eles se deslocam, eles deixam contextos com relações específicas e chegam em outros contextos com outras relações específicas e nesse processo eles se transformam. O saber transforma-se quando perpassa de um contexto para outro. Neste movimento, os saberes se modifica pelos caminhos que passam, auxiliando os agentes de uma comunidade na construção e ampliação na aquisição de novos saberes. Para discutir aspectos específicos de gestão escolar são tomados como referencial os autores Ladislau DOWBOR, o qual busca apresentar propostas para uma gestão descentralizadora; Beno SANDER, que orienta sobre a consolidação da gestão democrática da educação que é um desafio de grandes proporções, que implica uma filosofia política e uma estratégia de ação pedagógica; José Carlos LIBÂNEO, onde foca a gestão como uma atividade que mobiliza procedimentos para atingir os objetivos de uma organização, envolvendo aspectos gerenciais e técnico administrativo. Apresentando a gestão como sinônimo de administração. 3109 Na perspectiva de fundamentar os saberes docentes e sua formação, propomos nesta pesquisa um diálogo com os autores Maurice TARDIF e as idéias Freireanas, que servem como estímulo para o processo de formação docente, quando se refere à prática pedagógica, no que tange saber dialogar, escutar, respeito ao saber do educando, admirando a identidade cultural do outro. Tipo de pesquisa A busca da compreensão, do conhecimento referente ao processo de gestão escolar se dá, neste estudo, através de pesquisa qualitativa. As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentados por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades dos comportamentos ou das atitudes dos indivíduos. (OLIVEIRA, 2002, p. 61) A pesquisa com abordagem qualitativa possibilita ao pesquisador analisar e interpretar relações entre o mundo real, os sujeitos da investigação e as questões levantadas, realizando análise indutiva do seu objeto de estudo. A pesquisa qualitativa oferece maior objetividade acerca da compreensão da ação social dos indivíduos. Sujeitos da pesquisa A pesquisa de campo promovida através deste estudo se desenvolve em duas escolas, uma da rede estadual e outra da rede municipal de ensino de um município de pequeno porte (cerca de vinte e cinco mil habitantes) no interior do Estado de Santa Catarina. As unidades escolares foram selecionadas, utilizando critérios de localização, sendo uma localizada na região Norte da cidade e outra na região Sul. O critério de localização das escolas se justifica pela preocupação de não obter professores que lecionam em ambas as unidades escolar, o que é comum neste município pela proximidade das escolas. Podendo isto, causar danos a pesquisa sob a reflexão do objeto de estudo que é a gestão escolar. Outro fator determinante foi buscar dados de unidades pertencentes a esferas distintas, uma da rede municipal e outra da rede estadual de ensino, oportunizando enriquecimento na análise dos dados. 3110 Os sujeitos envolvidos são professores do Ensino Fundamental - séries iniciais e finais. Os determinantes para a seleção dos sujeitos da pesquisa são: - ser professor das séries iniciais, (um professor de cada série ou ano, conforme níveis desenvolvidos na escola pela implementação da nova lei da implantação do Ensino Fundamental de Nove Anos); ser professor das séries finais (um professor de cada área do conhecimento). Dadas às condições e a não obrigatoriedade de participação na pesquisa, contou-se com um número de 35 docentes divididos entre as duas escolas. Instrumentos de investigação O procedimento inicial na exploração da coleta dos dados se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas, com intuito de abrir novas questões durante a entrevista, se necessário. A entrevista é um instrumento no qual o entrevistador tem por objetivo obter informações relacionadas a um objetivo específico. A opção pela entrevista semi-estruturada se justifica porque a “... formulação da maioria das perguntas [é] prevista com antecedência e sua localização é provisoriamente determinada." (COLOGNESE E MÉLO, 1998). Na entrevista semi-estruturada o entrevistador tem uma participação ativa, apesar de observar um roteiro, ele pode fazer perguntas adicionais para esclarecer questões para melhor compreender o contexto pesquisado. De acordo com TRIVIÑOS (1987 p. 174): Entrevista semi-estruturada é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam á pesquisa e que, em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, junto de novas hipóteses que vão surgindo á medida que recebem as respostas do informante. Desta maneira o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. Durante a realização da entrevista podem ser introduzidas outras questões que surgem de acordo com o que acontece no processo em relação às informações desejadas. Para realização das entrevistas foi utilizado um gravador de voz. Conforme MARCONI E LAKATOS (2002), “o uso do gravador é ideal na entrevista para registro das respostas, desde que o entrevistado concorde com sua utilização”. As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas previamente para validação do tema proposto neste estudo. As entrevistas foram aplicadas em uma escola da rede municipal de ensino do município ora já citado. 3111 Esse procedimento contribuiu no delineamento, tanto das questões de pesquisa quanto do universo a ser investigado. Através dela foi possível legitimar a intenção do estudo, bem como refletir com mais profundidade sobre questões nucleares em relação à temática. Mediante fragilidades no processo de realização das entrevistas e dificuldades visualizadas na análise dos dados, surgiu a necessidade de utilizar um questionário como instrumento de coleta de dados, para auxiliar na qualificação e veracidade no viés das representações sociais. No estágio atual o estudo acentua, através da análise, a busca de determinantes dos saberes sociais sobre Gestão Escolar, bem como elementos elucidativos das práticas em Gestão Escolar. ANÁLISE DOS DADOS A análise de dados procura estabelecer articulações entre as informações coletadas pelo pesquisador através da entrevista e o referencial teórico do estudo, procurando desta forma responder às questões da investigação. Neste estudo, a análise dos dados coletados está sendo realizada com o intuito de buscar compreender o conhecimento empírico dos docentes, seus saberes acerca de gestão escolar. As representações sociais são tomadas como viés de interpretação para compreender os sujeitos em sua ação na prática social nos aspectos cognitivos, afetivos e ideológicos. Moscovici, (2002, p. 17) coloca que: Sujeito e objeto não são funcionalmente distintos, eles formam um conjunto indissociável. Isso quer dizer que um objeto não existe por si mesmo, mas apenas em relação a um sujeito (indivíduo ou grupo): é a relação sujeito-objeto que determina o próprio objeto. Ao formar sua representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o constitui, o reconstrói em seu sistema cognitivo, de modo a adequálo ao seu sistema de valores, o qual, por sua vez, depende de sua história e do contexto social e ideológico no qual está inserido. Nesta perspectiva, NÓBREGA (2001) no âmbito do processo representacional caracteriza as mudanças sociais em 3 níveis, sendo: a) o cognitivo - que permite acesso as instruções, esforço demonstrado através do modo de agir das pessoas; b ) formação – procura entender o lado concreto, perfazendo um movimento de tornar concreto baseado no já existente; c ) edificações das condutas - análise das posições, procedimentos e condutas dos pesquisados. 3112 Percorrendo os níveis da cognição, formação e edificações de condutas nas representações sociais o pesquisador concentra-se nas hipóteses, observação e experimentação referente ao seu objeto de estudo, para aí validar e comprovar a pesquisa em questão. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A pesquisa de campo realizada através de entrevistas semi-estruturadas apontou com maior ênfase, a preocupação dos docentes entre o saber da experiência e o saber teórico nas práticas de gestão. Dentre os entrevistados houve maior preocupação em levantar, através da experiência concreta, práticas de gestão consideradas incoerentes em detrimento da presença de concepções e elementos constitutivos da gestão escolar. Por ser esta uma discussão mais recente no contexto da escola brasileira e por vislumbrar, em termos de políticas nacionais e educacionais, diretrizes ainda pouco discutidas, os posicionamentos dos docentes em prol de gestão escolar podem estar desvelando no espaço social o seu lugar enquanto agentes da gestão. Através desta prévia os olhares dos docentes entrevistados ressaltaram para a pertinência de Gestão Escolar compartilhada, democrática e com maior distribuição de responsabilidades, apontam que na prática cotidiana isto não é percebido. Da mesma forma, enfatizam o distanciamento entre o real e o imaginário desejável, ponderando as dificuldades nas práticas de Gestão Escolar vivenciadas em seus ambientes de trabalho. Tais considerações levaram a uma redefinição do instrumento de pesquisa: a partir das entrevistas o instrumento adotado foi o questionário. O questionário como instrumento de coleta dos dados, foi aplicado no primeiro semestre do corrente ano. Os questionários aplicados estão em fase de tabulação dos dados, para posterior análise. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 20 de dezembro de 1996. CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, São Bernardo do Campo, v.18 no 2, p. 163 – 174, julho/dezembro de 2002 3113 CHERVEL, A. Histórias das Disciplinas Escolares: Reflexão sobre um campo de pesquisa. In: Teoria e Prática, no 2, p. 177 -229, 1990. COLOGNESE, S. A., MÉLO, J. L. B. de. A Técnica de Entrevista na Pesquisa Social. In: Pesquisa Social Empírica: Métodos e Técnicas. 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