12ª aula Sumário: Impulso de uma força. Choques elásticos e inelásticos. Impulso de uma força Vamos ver nesta aula o que é impulso de uma força, e qual é o seu significado físico. O assunto foi já aflorado na aula anterior mas não de uma forma explícita. Considere-se uma força constante, F , que actua numa partícula durante um certo intervalo de tempo ∆t . O impulso da força, I , é, por definição, o produto das duas grandezas físicas: I = F × ∆t . (12.1) Se a força for variável, ou seja se F = F (t ) , temos de considerar intervalos de tempo infinitesimais dt no intervalo de tempo ∆t e somar todas as contribuições F (t ) d t , desde o instante inicial, tf , até ao instante final, ti . O intervalo de tempo durante o qual a força actua é ∆t = tf − ti . Esta soma é o integral tf I = F dt. (12.1) ti Qualquer das equações anteriores dá-nos indicação directa das unidades de impulso de uma força: no SI, impulso de uma força exprime-se em “newton segundo” (N s). Uma força provoca uma alteração de velocidade que, no caso de uma partícula de massa fixa, significa também uma alteração de momento linear. É, pois, de esperar que o impulso de uma força se possa relacionar com a variação de momento linear. Vamos ver que, de facto, assim é. Usemos na expressão (12.1) a Segunda Lei na forma F = d p / d t [ver Eq. (11.3)]. Vem então tf tf ti ti I = F dt = t f dp d t = d p = p (tf ) − p (ti ) . dt ti (12.3) Ora, p(t f ) − p (ti ) = ∆p (é a variação do momento linear) e, portanto, I = ∆p . (12.4) Podemos então concluir que o impulso de uma força que se exerce sobre uma partícula é igual à variação do seu momento linear. Os primeiros membros das expressões (11.5) e (11.6), escritas na aula anterior, são variações de momentos lineares; os segundos membros são os correspondentes impulsos de forças. A expressão (12.4) mostra que o impulso se exprime na unidade de momento linear pois é uma diferença de momentos lineares. No SI pode, pois, ser expresso em “quilograma metro por segundo” (kg m s−1). 1 No caso de o movimento a uma só dimensão, se uma partícula for actuada por uma força constante, F, no intervalo de tempo ∆t , o impulso da força é simplesmente F ∆t (Fig. 12.1 a). Mas, se nesse intervalo de tempo a força variar, o impulso é o integral de F nesse intervalo de tempo, ou seja, a área representada na Fig. 12.1 b. F F (a) ∆t t (b) ∆t t Figura 12.1 Choques elásticos e inelásticos Quando duas partículas colidem, os impulsos das forças que actuam sobre cada uma delas são simétricos, como vimos já, o que leva à conservação do momento linear. Ora, há certas colisões em que, para além da conservação do momento linear, há manutenção de energia cinética. Chamam-se a estas colisões perfeitamente elásticas. Note-se bem: enquanto a conservação do momento linear é uma propriedade geral (verifica-se sempre numa colisão em que só estejam envolvidas forças interiores) a constância da energia cinética só se verifica para certas colisões! De uma maneira geral a energia cinética do conjunto de partículas intervenientes diminui após a colisão, e, neste caso, dizemos que a colisão é inelástica. Claro que a energia se conserva, e portanto, se houver diminuição de energia cinética do conjunto, terá também de haver dissipação de energia devido a trabalho de forças de atrito ou à criação de deformações permanentes (com consequente aumento de energia potencial) nos objectos que colidem. Quando na colisão de dois objectos a energia cinética final é a mínima possível compatível com a conservação do momento linear diz-se que o choque é perfeitamente inelástico. Neste caso as partículas têm a mesma velocidade depois do choque. Para choques perfeitamente elásticos de duas partículas temos m1 v1 + m2 v2 = m1 v '1 + m2 v ' 2 (12.5) 1 1 1 1 m1v12 + m2 v22 = m1v '12 + m2 v ' 22 (12.6) 2 2 2 2 No caso de uma colisão perfeitamente inelástica de duas partículas, v '1 = v ' 2 = v ' e portanto m1 v1 + m2 v2 = (m1 + m2 ) v ' 2 (12.7) Quando o choque não é frontal e ocorre a duas dimensões, é vantajoso considerar a expressão da conservação do momento linear separadamente segundo duas direcções perpendiculares: 2 m1 v1x + m2 v2 x = m1 v '1 x + m2 v' 2 x (12.8) m1 v1 y + m2 v 2 y = m1 v'1 y + m2 v ' 2 y Consideremos que uma partícula de 100g e animada da velocidade 10 m/s colide com outra de massa dupla inicialmente em repouso. Depois do choque esta desloca-se segundo uma direcção que faz um ângulo de 60º com a direcção inicial e os momentos das duas partículas depois do choque fazem um ângulo recto entre si. A situação antes e depois do choque está representada na Fig. 12.2. y v '1 1' 1 2 60º x 30º v1 2' v '2 Figura 12.2 A aplicação da expressão (12.8) permite-nos calcular o valor das duas velocidades depois do choque. m1 v1 = m1 v '1 cos 60º+ m2 v ' 2 cos 30º m1 v1 = 12 m1 v '1 + 0 = m1 v '1 sin 60º− m2 v ' 2 sin 30º 0= Da segunda das equações obtém-se v' 2 = 3 m1 v '1 m2 3 2 3 2 m2 v ' 2 m1 v '1 − 12 m2 v ' 2 (12.9) (12.10) que, inserida na primeira das equações do sistema leva a m1 v1 = 12 m1 v '1 + 23 m1 v '1 (12.11) donde v '1 = v1 . 2 (12.12) 3 Substituindo agora em (12.10) encontra-se o valor da velocidade da segunda partícula depois do choque: 3 m1 v' 2 = v1 (12.13) 2 m2 Substituindo valores, m1 = 0,1 kg , m2 = 0,2 kg , v1 = 10 m/s , obtemos v '1 = 5 m/s e v' 2 = m/s . Analisemos agora o que à (in)elasticidade diz respeito. Antes da colisão a energia cinética era 5 3 2 E cantes = 1 1 m1v12 = × 0,1 × 10 2 = 5 J. 2 2 (12.14) Depois da colisão a energia cinética é E cdepois = 1 1 1 1 52 × 3 m1v '12 + m2 v ' 22 = × 0,1 × 52 + × 0,2 × 2 = 3,125 J. 2 2 2 2 2 (12.15) A colisão foi inelástica. 4