1. INTRODUCÃO 1.1 INFECÇÕES DO TRATO URINARIO (ITU) A infecção do trato urinário (ITU) consiste na colonização microbiana da urina com a invasão tecidual de qualquer estrutura do aparelho urinário que geralmente está associada à bacteriúria e à piúria. (POLETTO & REIS, 2005). O termo “bacteriúria” se define como a presença de bactérias na urina, em quantidade maior ou igual a 105 unidades formadoras de colônias por mL (UFC/mL); e a “piuria” é definida como a presença de células brancas da defesa imunitária na urina. A presença destes dois parâmetros laboratoriais na análise de urina de um paciente com uma historia clínica de disúria, polaciúria, urgência miccional, dor abdominal e/ou lombar associada ou não à resposta inflamatória sistémica, deve indicar a possibilidade de ITU. Temos também o conceito de “bacteriúria assintomática”, que é a presença de bactérias na urina com contagem maior ou igual a 105 UFC/mL (cultura positiva) em pacientes sem sintomas associados à ITU, sendo este padrão clinico característico de algumas doenças, grupos etários e de certas condições fisiológicas, como a gravidez (ALVAREZ, 2007; CHUNG et al., 2010) 1.1.1 Epidemiologia A infecção do trato urinário é a terceira infecção mais comum nos humanos ficando atrás somente das infecções respiratórias e gastrointestinais (NAJAR et al., 2009). No mundo, são descritos aproximadamente 150 milhões de casos por ano, com uma maior incidência em mulheres jovens e sexualmente ativas. Nos Estados Unidos as ITU são a causa de cerca de 8 milhões de consultas médicas por ano, dando como resultado um gasto de mais de 6 milhões de dólares anuais em atenção médica (STAMM & NORRBY, 2001; FOSTER, 2008). Esta incidência permite entender o enorme impacto que tem este grupo de infecções bacterianas em termos de morbidade e de custo econômico (WEICHHART et al., 2008). No Brasil, um total de 80% das consultas clínicas está relacionada com infecção do trato urinário, com maior numero de casos de cistites nas mulheres (POLETTO & REIS, 2005). As ITU ocorrem em todas as faixas etárias, da neonatologia à geriatria. Na infância, cerca de 5% das crianças de dois meses a dois anos de idade que apresentam febre sem causa conhecida podem apresentar infecção urinária. As ITU são mais frequentes em crianças com idade de zero até seis meses no sexo masculino e acima de seis meses no sexo feminino 1 (BIASSONI & CHIPPINGTON, 2008; GUIDONI et al., 2008). É importante indicar que uma das complicações das ITU na faixa neonatal é a meningite, que ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes bacteriémicos (BONACORSI et al., 2006). Estima-se que pelo menos um 8% das meninas e 2% dos meninos desenvolvem ao menos um episódio de infecção urinária durante a infância, fato de grande importância clínica, já que pode produzir “cicatrizes” nos rins, o que pode levar ao longo do tempo a uma insuficiência renal crônica com hipertensão (MOHKAM et al., 2008; FARSHAD et al, 2011). Em geral, a incidência da ITU na infância varia de acordo a idade e o sexo, tendo uma incidência acumulativa de 1,8% em meninos e 6,6% em meninas até os cinco anos, ressaltando que, durante os primeiros meses de vida, a incidência em meninos e meninas é igual a 4,2%, diminuindo até 0,8% nos meninos e permanecendo nessa faixa durante os anos seguintes. As ITU voltam a se apresentar na adolescência, com o início da atividade sexual, com maior incidência nas mulheres (SOLIS, 2000).Na idade adulta, portanto, as ITU são importantes por sua alta prevalência na mulher sexualmente ativa, que tem 50 vezes mais chance de adquirir a doença do que os homens (JARBAS, 2010). Aproximadamente 50-70% das mulheres apresentam pelo menos um episodio de ITU em suas vidas, sendo que 25 a 30% delas apresentam episódios recorrentes não relacionados com nenhuma anomalia funcional ou anatômica do trato urinário (HOOTON, 2000; WEICHHART et al, 2008) e 5% desenvolvem uma infecção crônica, recorrente (ZHANG & FOXMAN, 2003). Durante o período gestacional, aproximadamente 2-7% das mulheres apresentam ITU em alguma etapa da gravidez ou ITU recorrentes durante todo o período gestacional. Além disso, até 17-20% das mulheres grávidas apresentam bacteriúria assintomática que, se não tratada, pode resultar em infecção urinaria acometendo as vias superiores. Este quadro ocorre com maior frequência no segundo trimestre da gravidez, sendo o mais frequente a pielonefrite aguda, aumentando a morbidade na gestante e o risco de parto prematuro com ruptura prematura das membranas (MAC LEAN, 2001; VALLEJOS et al., 2010). Os pacientes com doenças metabólicas como diabetes mellitus apresentam uma alta prevalência e incidência de bacteriúria assintomática e infecção de trato urinário, com predomínio no sexo feminino. Isto faz com que estes pacientes tenham um foco para infecções sistêmicas, com aumento da morbidade e mortalidade (GEERLINGS et al., 2008; LUDWIG E, 2008). 2 Considerando-se as infecções hospitalares em Unidades de Tratamento Intensivo, as ITU correspondem a 20 a 50% do total e estão associadas à presença de cateteres urinários. Neste contexto as ITUs hospitalares, em alguns hospitais, são mais frequentes que a pneumonia nosocomial e a bacteremia associada aos dispositivos intravasculares (LOPES & CORTES, 2012) Em geral, na população idosa, a ITU é a segunda maior causa de infecção e constitui cerca de 25% de todas as infecções identificadas nesta idade. Da mesma forma, a bacteriúria assintomática afeta cerca de 50% das mulheres idosas e 30% dos homens nesta faixa etária (FOXMAN, 2002). Na população de idade avançada, as ITU são consideradas, por vezes, como ITU complicadas, em um trato urinário que já não tem um funcionamento fisiológico normal. Nas mulheres idosas, as cirurgias prévias do trato urinário e as anomalias tais como a cistocele têm sido associadas à infecção urinária. Nos homens idosos, a hipertrofia prostática é um importante fator de risco para a infecção urinária. Em ambos os sexos, fatores neurológicos como a bexiga neurogênica contribuem para a infecção urinária (NICOLLE, 2001; MAGLIANO et al, 2012). 1.1.2 Patogênese A interação entre a bactéria infectante e as características do epitélio do trato urinário são a base da patogênese das ITU. Diversos fatores relacionados às bactérias são predisponentes para o desenvolvimento e recorrência das ITU, incluindo a colonização bacteriana periuretral e a virulência dos agentes patogênicos. Fatores de risco relacionados ao comportamento do hospedeiro incluem disfunção de esvaziamento vesical, frequência de relações sexuais, uso de anticoncepcional oral e uso de espermicidas (HOOTON et al, 1999). Há também a possibilidade de uma predisposição genética por aumento da quantidade de receptores para o agente etiológico, especialmente para Escherichia coli, na vagina e nas células do epitélio bucal (SCHAEFFER et al, 1981). A colonização do introito vaginal por agentes patogênicos é o passo inicial na patogênese da ITU. Estes agentes etiológicos originam-se da flora fecal e entram na bexiga pela uretra, passando por uma fase de colonização periuretral e da uretra distal (HOOTON, 2001). Ressalta-se que o tamanho curto da uretra feminina é um fator importante para o maior número de casos de ITU nas mulheres (CHUNG et al, 2010). Ademais, o próprio ato sexual favorece o ingresso das bactérias no introito vaginal, pelo relaxamento da uretra durante a cópula (WURGAFT, 2010). 3 1.1.2.1 Fatores do hospedeiro: A obstrução ao fluxo urinário é um fator chave para o aumento da susceptibilidade à ITU. A estase urinária resultante compromete os mecanismos de defesa renais e contribui para o aumento da concentração de bactérias na urina, facilitando a aderência destas às células uroepiteliais (SCHAEFFER, 2001). A maior incidência é no gênero feminino, especialmente em mulheres jovens, nas quais, além das causas anatômicas, temos outros fatores que aumentam o risco como: relações sexuais mais frequentes, promiscuidade sexual, uso de diafragmas com espermicidas, uso de antibióticos que alteram a flora vaginal e historia de ITU na infância. Nas mulheres pósmenopáusicas os fatores fisiológicos e mecânicos que afetam o esvaziamento da bexiga também são fatores de risco, incluindo incontinência urinária, cistocele com volume residual de urina na bexiga, vaginite atrófica, má higiene perineal e história de ITUs recorrentes antes da menopausa. Outros fatores são: gravidez, urolitíase, refluxo vésico-ureteral, transplante renal, imunossupressão, manipulação da via urinária, malformações congênitas e doenças metabólicas como diabetes mellitus. Um aspecto muito importante relacionado a ITU reside na genética, relacionada à secreção dos antígenos do grupo sanguíneo ABO, que é um fator hereditário autossômico dominante. As mulheres “secretoras” do grupo sanguíneo ABO são mais resistentes à infecção por uropatógenos. Estudos demostram que as mulheres “não secretoras” são mais susceptíveis às ITUs recorrentes. Nas mulheres “não secretoras” do grupo sanguíneo ABO, o epitélio vaginal expressa dois receptores glico-esfingolipídeos que têm afinidade para os uropatógenos, facilitando deste jeito a colonização do trato urinário pelas bactérias patogênicas (SCHAEFFER, 2001; FOXMAN 2002; VALDEVENITO, 2008; CHUNG et al, 2010). No gênero masculino, a ITU não é uma doença comum, devido à presença de alguns fatores protetores, incluindo a distancia entre o ânus e o meato urinário e, o meio seco em torno da uretra masculina. O maior comprimento da uretra (12 até 15 cm) e a atividade antibacteriana do fluido prostático também contribuem para que o sexo masculino tenha uma menor frequência de ITU. Algumas condições de risco aumentam a chance de homens adquirirem ITU, estes fatores são: relações sexuais com mulheres com ITU, homossexualidade e falta de circuncisão. Entretanto, nenhum destes fatores parece aumentar o risco de ITU em jovens saudáveis (BACHELLER & BERNSTEIN, 1997; HOOTON, 2000; 4 WURGAFT, 2010). Na Tabela 1.1 temos os fatores de risco para o desenvolvimento das ITU. Tabela 1.1 Fatores de risco para o desenvolvimento de ITU Alterações no fluxo de urina Corpos estranhos Sonda urinária Tubo de nefrostomia Stent ureteral / uretral Instrumentação e manipulação da via urinária Obstrutivas Hipertrofia prostática Câncer de próstata, tumores compressivos Estenoses uretrais Litíases vesical, pielocalicial e ureteral Divertículos Cistos renais Funcionais Gravidez Disfunção vesical: bexiga neurogênica, incontinência Refluxo vésico-ureteral Estruturais Malformações: estenoses uretral, ureter ectópico Pós-operatório das vias urinárias: derivações, fistulas Obstruções iatrogênicas Fatores agravantes Diabetes mellitus Idade avançada Insuficiência renal crônica Espongiose medular renal História de >2 ITU em menos de um ano Pré-menopáusica sem tratamento Imunossupressão: HIV, neoplasias, medicamentos, transplantes Idiopática. Genética: condição secretora dos antígenos ABO. Tratamento antibiótico recente Fatores sociais/condutivos Alta atividade sexual (mulheres) Uso de diafragmas com espermicidas, tampões vaginais. Sexo anal em associação ao vaginal no mesmo ato Promiscuidade com pessoas infectadas e sem proteção Homossexualidade Falta de circuncisão Fuente: Modificado de ECHEVARRÍA et al, 2006; NICOLLE, 2001 5 O hospedeiro também apresenta mecanismos de defesa na presença de patógenos urinários. O trato urinário é normalmente um meio estéril, com exceção do segmento distal da uretra. É mantido livre de microorganismos pelo fluxo da urina, que é um dos mais importantes mecanismos de defesa contra a proliferação das bactérias que invadem a bexiga, pois estas são eliminadas pela micção. Ademais, a urina normal possui propriedades antibacterianas tais como a alta osmolaridade, a elevada concentração de uréia e de ácidos orgânicos, e o pH ácido. A urina tem também inibidores da aderência bacteriana, entre os quais destacam-se a proteína de Tamm-Horsfall, que é uma glicoproteína uromucoide produzida pelas células tubulares da alça de Henle ascendente, e secretada na urina em altas concentrações (> 30 g/mL). Esta proteína inibe a aderência bacteriana por ser capaz de se ligar à fímbria tipo 1 impedindo-a interação com os receptores de uroplaquina. O epitélio urinário produz também peptídeos com ação antimicrobiana, como as defensinas, a catelicidina e as lactoferrinas, que competem com os sideróforos do microrganismo pelo ferro, que é um nutriente essencial para o desenvolvimento das bactérias uropatogênicas. A presença da imunoglobulina do tipo IgA nos fluidos vaginais é também um fator protetor, já que esta imunoglobulina se liga às fímbrias tipo1, inibendo a aderência da bactéria ao tecido uroepitelial. Outro mecanismo de defesa na mulher reside na flora vaginal, constituída por Lactobacilus, que forma uma barreira que impede a colonização dos microorganismos uropatogênicos (SOBEL 1997; PAK et al, 2001; SCHAEFFER, 2001; CHUNG et al, 2010; CRUZ et al, 2010). 1.1.2.2 Fatores bacterianos Rotas de entrada das bactérias uropatogênicas: Rota ascendente. É a principal via responsável pela invasão do trato urinário, ocorrendo em mais do 95% dos casos. A maioria das bactérias que entra no trato urinário pertence à microbiota fecal que coloniza a uretra. Os microorganismos ascendem até a bexiga, podendo atingir os ureteres e ascender até aos rins. Como já mencionado, o comprimento da uretra feminina é de 5 cm e a uretra masculina é de 12–15 cm, isto faz as mulheres mais suscetíveis à ITU. Nesta migração, as bactérias podem invadir o epitélio urinário causando resposta inflamatória em qualquer nível, o que resulta em diferentes tipos de ITU, de acordo com o sítio de localização anatômica. Esta infecção ascendente do trato urinário é um processo complexo, associado à adesão e outras propriedades de virulência da bactéria, à estrutura 6 anatômica, à resposta humoral e aos fatores genéticos do hospedeiro (BACHELLER & BERNSTEIN, 1997; CHUNG et al, 2010). Rota hemática ou descendente. Trata-se de uma via menos frequente de invasão bacteriana do trato urinário, ocorrendo em 5% dos casos. Está mais relacionada às infecções causadas por Staphylococcus aureus, Candida spp., Salmonella spp. e Mycobacterium tuberculosis, que causam infecções primárias em outras partes do corpo, podendo resultar em abscessos focais renais. Candida albicans pode causar ITU também pela rota ascendente (BACHELLER, & BERNSTEIN, 1997; GRABE et al, 2008). Rota linfática. Atualmente não apresenta tanta importância, sendo mais aceitável uma via linfoemática, na qual as bactérias podem ser transportadas pelos vasos linfáticos regionais a partir do foco séptico para o conduto torácico, podendo alcançar os rins pela corrente sanguínea (GRABE et al, 2008). Mecanismo de ação dos uropatógenos A interação entre as cepas infectantes e as células do epitélio urinário é facilitada pelos fatores de aderência denominados pili ou fímbrias, das quais existem dois tipos, o pili tipo I (manose sensível) e o pili P (manose resistente). Modelos in vitro demostram a interação de uma adesina situada na extremidade do pili tipo I (denominada Fim H) com receptores da superfície luminal do epitélio vesical conhecidos como uroplaquina. O pili P se apresenta na maioria das cepas bacterianas patogênicas que produzem pielonefrite aguda e reconhece receptores glicolipídicos renais. Os patógenos urinários como Escherichia coli, durante a invasão do tecido, ativam vários fenômenos que ajudam a bactéria a adentrar à célula epitelial. Uma vez dentro da célula hospedeira, as bactérias multiplicam-se rapidamente formando grupos bacterianos chamados “comunidades bacterianas intracelulares” (CBI) que avançam por várias etapas de desenvolvimento e terminam formando os biofilmes bacterianos, que são grupos de bactérias unidas a superfície do epitélio urinário ou entre si. No biofilme, as bactérias desenvolvem um comportamento comunitário que permite a evasão da resposta imune do hospedeiro e da ação dos antibióticos. Assim, as bactérias podem permanecer meses no tato urinário caracterizando os casos de infecções crônicas ou recorrentes. E. coli também pode formar biofilmes em meios inertes como são as sondas urinárias. Em alguns casos, as bactérias se soltam dos biofilmes e atravessam a membrana celular podendo se ligar novamente ao epitélio urinário e iniciar uma nova formação de CBI. Durante o processo de patogênese, as bactérias expressam outros mecanismos de virulência 7 como os sideróforos, que são sistemas de captação de ferro, as toxinas como a alfa-hemolisina e o fator necrotizante tipo I (CNF-1). Estes fatores ajudam os patógenos urinários a ter êxito na invasão do tecido, provocando uma resposta inflamatória urinária, causando ITU ou bacteriúria assintomática (ISLAND et al, 1998; VALDEVENITO, 2008; WEICHHART et al, 2008; TIBA et al, 2009, CHIBEU et al, 2012). Gráfico 1.1 Figura 1.1 Mecanismos de invasão das bactérias uropatogênicas, Weichhart et al. 2008. 1.1.3 Classificação das Infecções do Trato Urinário A infecção urinária é classificada tradicionalmente de acordo o sítio de infecção e nível de gravidade. De acordo com o sítio de infecção se classifica em infecção do trato urinário inferior, envolvendo bexiga (cistite), uretra (uretrite) ou próstata (prostatite) e infecções do trato urinário superior, acometendo os ureteres ou o parênquima renal, causando pielonefrite. De acordo com o grau de severidade, podem ser divididas em ITUs complicadas ou não complicadas. 8 A ITU não complicada ocorre em pacientes saudáveis cujo trato urinário apresenta estrutura e função normais. A maioria destes pacientes são mulheres e os patógenos geralmente são susceptíveis aos antimicrobianos e erradicados por uma terapia de baixo custo. Este tipo de infecção urinária pode ser encontrada nas seguintes situações: mulher não gravida, ausência de alterações anatômicas do trato urinário, ausência de alterações funcionais do trato urinário, ausência de cateteres urinários, ausência de alterações na imunidade. Em geral são infecções adquiridas na comunidade (SCHAEFFER, 2001; VIEIRA, 2003; CHANG & SHORTLIFFE, 2006) A ITU complicada está associada a anormalidades anatômicas, funcionais ou metabólicas do trato urinário que dificultam as defesas naturais. Estas anormalidades podem ser intrínsecas, dentre elas a hiperplasia prostática benigna (anormalidade intrínseca obstrutiva), as anormalidades congênitas como bexiga neurogênica e fistulas, ou extrínsecas, associadas ao uso de cateteres ou corpos estranhos. As infecções associadas à obstrução por litíase renal são resolvidas apos a correção da anormalidade (remoção do cálculo). Uma característica da ITU complicada é a grande variedade de organismos causadores, que são multirresistentes geralmente de origem hospitalar (NICOLLE, 2001, SCHAEFFER, 2001; VIEIRA, 2003; CHANG & SHORTLIFFE, 2006; TABIBIAN et al, 2008 ). As infecções do trato urinário podem ser também classificadas em mais duas categorias. ITUs recorrentes, que são reinfecções (bactérias diferentes, de fora do trato urinário; sendo cada infecçãoum novo evento) definidas como três episódios nos últimos doze meses ou dois episódios nos últimos seis meses e, ITUs redicivantes, resultantes da persistência do mesmo agente etiológico no trato urinário, que volta a aparecer antes de duas semanas do término do tratamento com antibióticos, o que sugere falha do tratamento (ROLO et al, 2006). As ITUs recorrentes ou redicivantes ocorrem em aproximadamente 10 a 40% das mulheres, sendo relacionadas à inadequada duração do tratamento, e a doses e/ou antimicrobianos inadequados (VIEIRA, 2003; VALDEVENITO, 2008; WURGAFT 2010). 1.1.4 Etiologia e Diagnóstico da ITU As infecções clinicamente mais importantes são produzidas por bactérias, entretanto fungos, vírus e parasitos também podem causar ITU. Infecções urinárias não associadas às bactérias incluem a cistite hemorrágica causada pelos adenovírus e a infecção por Candida nos pacientes com deficiência do sistema imunitário (ZORC, 2005). 9 Os patógenos bacterianos mais comumente causadores das ITUs pertencem à família das Enterobacteriaceae. Os membros dessa família incluem Escherichia coli, Klebsiella spp, Proteus spp, Enterobacter spp, Serratia spp, Proteus mirabilis e Gram-negativos como a Pseudomonas aeruginosa. Entre os agentes causadores da ITU temos também as bactérias Gram-positivas como Enterococcus spp, Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus aureus e Streptococcus do grupo B. De todos estes, estima-se que a Escherichia coli–extra intestinal (UPEC) é responsável por 85% a 90% dos casos de ITU comunitários e por 50% dos casos de ITU hospitalares (ZORC 2005, LINDSAY 2001-2006, ECHEVARRÍA 2006). Nas Tabelas 1.2 e 1.3 temos os agentes causadores das infecções urinárias comunitárias e hospitalares. Para o diagnóstico da ITU, consideram-se os seguintes parâmetros: presença de fatores de risco, história clínica, exame físico e testes laboratoriais onde a análise da urina e a urocultura são considerados o “padrão ouro” para o diagnóstico (ZORC 2005; FOSTER, 2008; WURGAFT 2010). Tabela 1.2 Percentual de agentes causadores das ITU complicadas Espécie bacteriana Gram Negativos Escherichia coli Klebsiella pneumoniae Enterobacter species Citrobacter species Proteus mirabilis Providencia species Pseudomonas aeruginosa Outros Gram Positivos Enterococcus sp Streptococos do grupo B Staphylococos coagulase negativo Staphylococcus aureus Fungos Candida species Fonte: Nicolle, 2001 10 Percentual 21-50 1,9-17 1,9-9,6 4,7-6,1 0,9-9,6 18 2-19 6,1-20 6,1-23 1,2-3,5 1,4-3,7 0,9-2,0 0-5,0 Tabela 1.3 Percentual de agentes Gram-negativos causadores da ITU não complicada Especie bacteriana Percentual Escherichia coli 91,80 Klebsiella sp 3,0 Enterobacter sp 0,90 Proteus mirabilis 2 Citrobacter sp 0,70 Pseudomona aeroginosa 0,30 Outros 0,50 Fonte: Nicolle et al., 2006. 1.2 Escherichia coli Escherichia coli pertence ao reino Bacteria, filo Proteobacteria, classe Proteobacteria, subclasse Gammaproteobacteria, ordem Enterobacteriales, família Enterobacteriaceae. É um bacilo Gram-negativo, anaeróbio facultativo, não esporulado, com 0,5 µm de diâmetro e 1-3 µm de largura, apresenta flagelos peritríquios, sendo comumente móvel em líquidos. As amostras desta espécie são indol-positivas, não utilizam citrato como fonte de carbono, não apresentam a enzima urease, possuem a enzima lisina descarboxilase, podem ou não possuir arginina e/ou ornitina descarboxilase, são fermentadoras de glicose e outros açucares, produzem gás, são catalase positivas, oxidase negativas e reduzem nitrato a nitrito. No meio eosina-azul de metileno (EMB), as colônias de E. coli apresentam-se com coloração negroesverdeadas com brilho metálico (KONEMAN et al., 2008). E. coli é um habitante do trato gastrointestinal nos seres humanos e animais. Forma uma relação simbiótica muito benéfica para o hospedeiro e tem um papel muito importante, mantendo a estabilidade homeostática da flora bacteriana no lúmen intestinal normal. Como uma bactéria comensal, E. coli permanece sem causar dano ao lúmen intestinal e somente em casos especiais pode causar alguma enfermidade. Sem dúvida, em hospedeiros com déficit imunológico ou quando as barreiras gastrointestinais são danificadas, as cepas comensais de E. coli não patogênicas podem se tornar patogênicas e causar infeções (BIEN et al, 2012). Embora 90% das cepas de E. coli sejam comensais e não patogênicas, 10% podem adquirir características de patogenicidade que as tornam capazes de causar uma variedade de doenças em humanos e animais. A patogenicidade pode se dar pela aquisição de genes que codificam fatores de virulência que propiciam a colonização e a ocorrência de diversos 11 eventos que alteram a fisiologia hospedeira, ocasionando o aparecimento de sinais e sintomas que irão, finalmente, definir a doença. A aquisição destes genes de virulência é feita através da transferência horizontal por três mecanismos conhecidos: conjugação, transformação e transdução (SANTOS et al, 2009; MIDOLLI, 2009). 1.2.1 Classificação de Escherichia coli. E. coli é uma espécie extremamente diversa de bactérias capazes de colonizar a persistir em vários nichos, tanto no ambiente, quanto em hospedeiros animais e humanos. Baseando-se nos critérios genéticos e clínicos, as cepas de E. coli podem ser classificadas em três grupos principais: cepas comensais, cepas patogênicas intestinais ou diarreiogênicas e cepas patogênicas extra-intestinais denominadas ExPEC “extraintestinal pathogenic E. coli” (RUSSO & JOHNSON, 2000; BEKAL et al, 2003; PITOUT, 2012) As cepas comensais são parte da flora fecal nos humanos saudáveis, outros mamíferos e pássaros. As cepas de E. coli comensais não albergam em seu genoma genes codificadores de fatores de virulência. Estas cepas estão também adaptadas à coexistência com a flora intestinal do hospedeiro e não causam doenças no trato gastrointestinal e geralmente tampouco causam patologias fora do trato intestinal exceto em casos onde o hospedeiro tenha comprometimento do sistema imune (RUSSO & JOHNSON, 2000). Cepas patogênicas intestinais, ao contrario das comensais, são raramente encontradas na flora fecal de indivíduos sadios. São genericamente denominadas de DEC (“Diarrheagenic Escherichia coli” – E. coli diarreiogênica) e podem ser divididas em patotipos, os quais são geralmente definidos por uma variedade de características como modo de transmissão, características do hospedeiro afetado, sorotipos e sorogrupos, fenótipos de interação com as células epiteliais intestinais, mecanismos de patogenicidade e determinantes genéticos de virulência. Os patotipos de E. coli diarreiogênica causam gastroenterite, mas raramente são o agente etiológico de alguma doença fora do trato intestinal. Tendo por base estas características, atualmente são reconhecidos os seguintes patotipos de DEC: E. coli enterotoxigênica (ETEC), associada a diarreia dos viajantes, E. coli produtora de toxina Shiga (STEC), associada a diarreia, colite hemorrágica e síndrome urêmico-hemolítica, E. coli enteroinvasora (EIEC), associada com infecções intestinais que envolvem a invasão dos enterócitos, diarreia aquosa e disenteria, E. coli enteroagregativa (EAEC), associada a diarreia persistente em humanos; E. coli que adere difusamente (DAEC) e E. coli enteropatogênica 12 (EPEC), que causa diarreia em crianças (RUSSO & JOHNSON, 2000; BEKAL et al, 2003; SANTOS et al, 2009; KONEMAN et al., 2008). As cepas patogênicas extra-intestinais (ExPEC) são divididas em dois patotipos principais: E. coli causadora da meningite neonatal (NMEC) e E. coli uropatogênica (UPEC) (BIEN et al, 2012). As ExPEC têm a capacidade de colonizar o intestino sem causar doença, porém são capazes de se disseminar e colonizar outros nichos no hospedeiro (WILES et al, 2008). São epidemiologicamente e filogeneticamente distintas das cepas comensais e intestinais, causando infecções em qualquer lugar do corpo, devido à aquisição de genes que codificam fatores de virulência. São capazes de produzir infecções do trato urinário, meningite (principalmente nos neonatos), infecções intra-abdominais, pneumonia (especialmente nos pacientes hospitalizados), infecções em pacientes com dispositivos intravasculares, osteomielite, infecções dos tecidos moles (pele) e bacteremias. Desta forma, E. coli permanece como uma das causas mais frequentes de infecções comunitárias e nosocomiais, incluindo as infecções do trato urinário, as infecções entéricas, e as infecções sistêmicas em humanos (RUSSO & JOHNSON, 2000; PITOUT, 2012). Cada uma das distintas estirpes de E. coli apresenta diversos fatores de virulência, com uma característica multifatorial. Estas estirpes podem ser distinguidas pela presença de marcadores de virulência específicos que são expressos de acordo com o lugar onde se encontram (DONNENBERG & WHITTAM, 2001; BEKAL et al 2003). 1.2.2 Filogenia em populações bacterianas de Escherichia coli. Estudos filogenéticos baseados em uma coleção de referência de E. coli (ECOR), constituída por um grupo de 72 cepas isoladas de uma variedade de hospedeiros animais e de origem geográfica diversa mostram que as populações bacterianas de E. coli pertencem a quatro grupos filogenéticos principais designados como: A, B1, B2 e D (HERZER et al, 1990). Estudos posteriores têm revelado que isolados de E. coli extraintestinais (ExPEC) pertencem em sua maioria ao grupo B2 e, em menor escala, ao grupo D; as cepas comensais (sem potencial patogênico) em sua maioria são agrupadas nos grupos filogenéticos A e B1, enquanto que as amostras patogênicas intestinais agrupam-se igualmente nos grupos filogenéticos A, B1 e D (CLERMONT et al, 2000; YAMAMOTO, 2007; KARISIK et al, 2008; SANTOS et al, 2009). Na Figura 1.2 temos a relação entre os patotipos e os grupos filogenéticos. 13 As cepas de E. coli extraintestinais causadoras de infecções do trato urinário pertencem em sua maioria aos grupos filogenéticos B2 e D, e expressam mais fatores de virulência do que aquelas do grupo filogenético A e B1 (YAMAMOTO, 2007; KARISIK et al, 2008). Os grupos B2 e D compreendem várias linhagens evolutivas que, devido a sua associação com distintos tipos de infecções extra-intestinais, têm sido consideradas como “clones virulentos”, tradicionalmente definidos com base nos sorotipos O: K: H (JOHNSON & STELL, 2000). Figura 1.2 Patotipos de E coli e grupos filogenéticos. Fonte: Ferreira, 2010 O estudo filogenético de populações bacterianas vem sendo realizado através de métodos moleculares clássicos como a eletroforese de isoenzimas e a ribotipagem e, mais recentemente, a partir de técnicas de sequenciamento genético. Entretanto, essas metodologias são complexas, custosas e requerem tempo para ser executadas. Um método alternativo para a investigação da relação filogenética em populações de E coli foi desenvolvido com base na amplificação simultânea de sequências genéticas especificas com três genes que são: chuA (outer membrane hemin receptor), yjaA (uncharacterized protein yjaA genome of E. coli K12) e um fragmento de DNA denominado TSPE4.C2 (anonymus DNA fragmente), como marcadores específicos desses grupos filogenéticos (CLERMONT et al, 2000; SANTOS et al, 2009). Na figura 1.3 temos o esquema de como e feita a classificação filogenética por amplificação de sequências genéticas especificas. 14 Figura 1.3: Arvore da classificação dos grupos filogenéticos de E coli na presença e ausência dos genes chuA, yjaA e do fragmento TspE4.C2. Fonte: Clermont, et al., 2000 O gene chuA está presente nos grupos B2 ou D e ausente nos grupos A e B1, permitindo o distinção entre estes pares de grupos filogenéticos. O gene yja possibilita a separação entre os grupos B2 e D sendo detectado apenas no grupo B2. A presença do fragmento TspE4.C2 caracteriza a amostra como pertencendo ao grupo filogenético B1, enquanto a sua ausência está associada ao grupo filogenético A (CLERMONT, BONARCORSI, BINGEN, 2000). 1.2.3 Escherichia coli uropatogenica (UPEC). Entre as ExPEC, as cepas de E. coli uropatogênica (UPEC) são mais comumente associadas à doenças em humanos. As UPEC são a principal causa de infecções do trato urinário adquiridas na comunidade (ITU), aproximadamente 80-90% dos casos e das infecções urinárias hospitalares, cerca de 50% dos casos (LINDSAY, 2006; WILES et al, 2008). É importante indicar também que a disseminação dos grupos clonais de cepas UPEC dentro da comunidade pode ser feita através de alimentos contaminados e de outros meios de consumo (MANGES et al, 2001; MANGES & JOHNSON 2012). A via sexual pode ser outra forma de transmissão das UPEC (FOXMAN, 2002; WILES et al, 2008). 15 1.2.3.1 Fatores de virulência de Escherichia coli uropatogênica Os genes de virulência estão localizados em elementos móveis como cassetes gênicos, integrons, transposons, sequencias de inserção, plasmídeos ou em ilhas de patogenicidade localizadas no cromossomo bacteriano (GALMOR & FINLAY, 2006; MIDOLLI 2009; NORMAN et al, 2009). No cromossomo, os atributos associados à virulência geralmente são codificados em ilhas de patogenicidade (PAIs). Sua aquisição provem da transferência horizontal de genes entre linhagens e mesmo entre espécies (DONNENBERG & WHITTAM, 2001; BEKAL et al, 2003; LLOYD et al, 2009). As ilhas de patogenicidade consistem em extensos segmentos de DNA cromossomal variando de 5 a 200 Kb, contendo um conjunto de genes associados a virulência que estão inseridos dentro ou próximo aos genes de RNAt. PAIs são instáveis e apresentam um conteúdo de C-G que difere do resto do genoma (BLUM et al, 1994; SCHMIDT & HENSEL, 2004; GAL-MOR & FINLAY, 2006 GAL-MOR & FINLAY, 2006; MIDOLLI 2009). O termo PAI foi usado por Hacker et al. no ano de 1990 para descrever duas grandes regiões instáveis no cromossomo de E. coli uropatogênica (GAL-MOR & FINLAY, 2006). A presença de PAIs é uma característica de estirpes de UPEC associadas com formas clinicamente graves da infecção (GAL-MOR & FINLAY, 2006). Os fatores de virulência nas UPEC podem ser divididos em dois grupos: (i) fatores de virulência associados com a superfície da célula bacteriana e (ii) fatores de virulência que são secretados no sitio de ação (BIEN et al, 2012). No grupo dos fatores de virulência associados à superfície da célula bacteriana, temos as estruturas que promovem a união da bactéria aos tecidos no trato urinário. Neste grupo estão às fímbrias e as adesinas: fímbria tipo 1, associada às ITU baixas, fimbria P, associada às ITU altas (pielonefrite), fímbria S, as adesinas da família Dr. como as adesinas fimbriais e as adesinas afimbrais (AFA I-II-III-IV) e o flagelo, que é responsável pela motilidade da bactéria. As fímbrias e adesinas possuem um papel muito importante na patogênese da ITU, contribuindo para a união das bactérias às células uroepiteliais na iniciação da infecção urinaria. Neste grupo também se incluem os antígenos capsulares tipo K1, K5, K12 e os lipopolissacarídeos (LPS) (MIDDENDORF et al, 2001; YAMAMOTO, 2007; ESPARIS et al 2009; OLIVEIRA et al, 2011; BIEN et al, 2012; PITOUT, 2012). E. coli uropatogênica tem sido encontrada formando biofilme bacteriano, que confere importantes vantagens aos 16 microrganismos, como resistência à desidratação e à oxidação e maior tolerância a detergentes e antibióticos (JUSTICE et al, 2004; TIBA et al, 2009). No grupo dos fatores de virulência que são secretados no sítio de ação, temos as toxinas, que são úteis na colonização do tecido uroepitelial, causando resposta inflamatória e aparecimento de sintomas. Entre as toxinas temos a alfa-hemolisina, o fator necrotizante citotóxico tipo I, a toxina secretora auto transportadora (SAT), o antígeno O, os sistemas de consumo de ferro, como a aerobactina, a yersiniabactin e fatores que aumentam sua resistência no soro (MIDDENDORF et al, 2001; SILVEIRA et al 2001; YAMAMOTO, 2007; WILES et al, 2008; OLIVEIRA et al 2011; BIEN et al, 2012; PITOUT, 2012). Na Figura 1.4 temos fatores de virulência das UPEC no tecido uroepitelial. Figura 1.4: Fatores de virulência da UPEC na superfície do tecido uroepitelial. OM: membrana externa; CM: membrana citoplasmática, LPS: lipopolisacarídeos. Fonte: Johnson, 1991. 1.2.3.2 Sorotipos de Escherichia coli uropatogênica Tradicionalmente, a classificação dos sorotipos de E. coli está baseada na presença de alguns antígenos como: antígeno somático “O”, polissacarídeo capsular “K” e antígeno flagelar “H”, o que gera uma grande variedade de diferentes combinações de sorotipo O:K:H (NIMMICH et al, 1997; WILES et al, 2008). A associação entre a expressão do antígeno 17 capsular específico e os patotipos de E. coli esta documentada embora ainda não seja compreendido seu impacto patogênico. O antígeno somático “O” define mais de 176 sorogrupos, dos quais os mais comuns são O1, O2, O4, O6, O7, O8, O16, O18, O22, O25 e O75. Entre as UPEC os antígenos específicos “K” e “H” têm um padrão menos definido (BLANCO et al, 1995; WILES et al, 2008; EMAMGHORHI et al, 2011). O antígeno capsular “K” esta associado com as ExPEC que causam meningite neonatal, já que melhora a sobrevivência da bactéria dentro do endotélio microvascular do cérebro evitando a fagocitose; entretanto, ainda não está definido um papel importante nas UPEC. O antígeno flagelar “H” têm uma função definida nas cepas de E. coli uropatogênicas, já que facilita a ascensão das UPEC da bexiga até os rins (WILES et al, 2008). 1.3 TRATAMENTO DA ITU. Na terapêutica antimicrobiana da ITU deve-se ter em conta diferentes fatores, como o tipo de ITU e o conhecimento do agente etiológico que provavelmente está na origem da infecção. Igualmente importante é o conhecimento do perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos desse mesmo agente etiológico. No entanto, para um mesmo agente o perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos pode variar amplamente entre as regiões geográficas de em um mesmo país ou em países diferentes, o que torna difícil fazer generalizações (ROLO et al, 2006; AYPAK et al, 2009). É importante selecionar um medicamento apropriado, inicialmente em forma empírica, até se ter os resultados de urocultivo e antibiograma, procurando-se sempre um antibiótico com alta eficácia sobre o agente suspeito, de alta concentração na via urinaria e baixa toxicidade. Deve-se também procurar uma resposta rápida e eficaz e a prevenção da recorrência e evitar a aparição de resistência ao antibiótico. Na ITU é importante também procurar um antibiótico que apresente alta concentração no parênquima renal, na camada mais profunda da parede da bexiga e da próstata (ECHEVARRÍA 2006). Outro fator que concerne à terapêutica é a sua duração, devendo ter-se em conta que regimes de curta duração são mais fáceis de seguir, têm menos elevado e as reações adversas surgem menos frequentemente. Salvo algumas exceções, a terapia antimicrobiana em dose única da ITU não complicada é menos eficaz que tratamentos mais longos com trimetoprimSulfametoxazol (TMP/SMX), trimetoprim, norfloxacina, ciprofloxacina, e -lactâmicos. No entanto, todos estes antimicrobianos, à exceção dos-lactâmicos, quando em regime de três 18 dias são tão eficazes quanto regimes de duração mais longa, que levam também a uma maior frequencia de reações adversas (NICOLLE et al, 2006; GRABE et al, 2008). Embora na ITU não complicada tenha se utilizado, na rotina de tratamento, o trimetroprim/sulfametoxazol, estudos recentes demonstram uma baixa susceptibilidade. Podem-se também usar outros medicamentos como cefalosporinas de primeira e segunda geração, amoxicilina/ácido clavulânico e em alguns casos, as quinolonas (ECHEVARRIA, 2006, NICOLLE et al, 2006). É importante salientar a importância de se fazer o antibiograma para se conhecer o perfil de susceptibilidade aos antibacterianos nas diferentes áreas geográficas. Caso a taxa de resistência para TMP/SMX seja maior que 20% em uma região específica, deve-se deixar de usar estes antibióticos como primeira opção para o tratamento empírico (GUAJARDO-LARA et al, 2009; NICOLLE et al, 2006). Na ITU alta, como na pielonefrite não complicada, a terapia oral deve ser considerada nos pacientes com sintomas leves a moderados e que possam tolerar esta via. Devido à resistência atual para ampicilina, amoxicilina e cefalosporinas de primeira e segunda geração, estes agentes não devem ser utilizados como tratamento empírico nesta patologia. Nestes casos, o tratamento empírico deve ser feito com fluoroquinolonas, as quais são úteis tanto na ITU complicada como na não complicada, sendo a ciprofloxacina e a norfloxacina os antibióticos mais usados (ECHEVARRIA, 2006, NICOLLE et al, 2006; GRABE et al, 2008). Podem também ser usados antibióticos aminoglicosídeos, como a gentamicina, nos casos de infecções urinárias altas complicadas (ALOS et al, 2005). A Tabela 1.4 demonstra os esquemas de tratamento das ITUs no adulto. 19 Tabela 1.4 Tratamento da Infecção do trato urinário no adulto. Categoria Cistite aguda não complicada Patógenos principais Escherichia coli Staphylococcus saprophyticus Proteus mirabilis Klebsiella pneumoniae Outros Cistite recorrente na mulher jovem Escherichia coli Staphylococcus saprophyticus Proteus mirabilis Klebsiella pneumoniae Outros Escherichia coli Staphylococcus saprophyticus Proteus mirabilis Klebsiella pneumoniae Outros Cistite aguda no homen joven Pielonefrite aguda não complicada ITU complicada Escherichia coli Staphylococcus saprophyticus Proteus mirabilis Klebsiella pneumoniae Outros Escherichia coli K. pneumoniae P. mirabilis Enterococcus sp. Pseudomonas aeruginosa Outros Bacteriuria assintomática na gravidez Escherichia coli Staphylococcus saprophyticus Proteus mirabilis Klebsiella pneumoniae ITU associada ao cateter Depende do tempo de permanência do cateter Terapia de primeira línea Nitrofurantoína Cefalosporinas de 1a geração TMP-SMX Ciprofloxacina Norfloxacina Amoxicilina/ácido clavulánico Ciprofloxacina Norfloxacina Nitrofurantoína Cefalexina Cefadroxilo TMP-SMX Ciprofloxacina Norfloxacina Para Gram-negativos: fluoroquinolonas. Para Gram-positivos: amoxicilina Se necessário a via parenteral: Cefalosporinas ou fluoroquinolonas Gentamicina, amicacina No caso de Enterococcus sp: amoxicilina com/ sem gentamicina. Se é resistente usar linezolid Para Gram-negativos: fluoroquinolonas Se necessário a via parenteral: Cefalosporinas antipesudomonas e/ou una fluoroquinolonas e/ou gentamicina, amicacina En caso de Enterococcus sp: amoxicilina com/sem gentamicina. Si es resistente usar linezolid Amoxicilina Nitrofurantoína Cefalexina Aztreonam Evitar tetraciclinas y fluoroquinolonas Para Gram-negativos: fluoroquinolonas Para Gram-positivos: usar amoxicilina más gentamicina Comentários Três dias de terapia. Quinolonas podem ser usada nas área onde não têm resistência Repetir a terapia, por 7 a 10 dias, baseada no resultado do cultivo. Usar profilaxia. Terapia por 7 a 10 dias Iniciar com iv, depois trocar à vo. Terapia de 14 dias a 1 mês. Terapia por 10 a 14 dias Terapia por 3 a 7 dias Se possível remover o cateter ou trocar. Tratamento por 10 dias. TMP-SMX = trimetoprim-sulfametoxazol; UFC= unidade formadora de colônias; iv= intravenoso vo= via oral. Modificado de Fonte: Echevarría et al., 2006 20 1.4 ANTIBIÓTICOS LACTÂMICOS Após setenta anos em uso na medicina clínica, que teve início com a utilização em um paciente com sepse estafilocóccica na década de 40, os betalactâmicos são os antimicrobianos mais administrados tanto na atenção primária como nos hospitais (MARÍN & GUDIOL, 2003). O primeiro antibiótico lactâmico usado foi a penicilina, no ano de 1940. Desde então, uma grande variedade de lactâmicos tem sido desenvolvida na indústria farmacêutica, sendo todos estruturalmente relacionados, com a presença de um anel lactâmico (WILLANS, 1990). Os lactâmicos são parte dos esquemas de tratamento para as diferentes formas clínicas de ITU, pois apresentam baixa toxicidade, larga diversidade de compostos e boa eficácia terapêutica (WILKE et al, 2005). Entretanto, nos esquemas curtos de tratamento de ITU não complicada por três dias não dão resultados satisfatórios, de modo que se devem usar em tratamentos que duram entre 7 e 10 dias (GRABE et al, 2008). Os lactâmicos, incluindo as cefalosporinas orais, são utilizados para o tratamento das infecções urinárias, especialmente em áreas com maior resistência às quinolonas, na gravidez e em pediatria (HORCAJADA & FARIÑAS, 2005). 1.4.1 Classificação e estrutura química A presença do anel lactâmico define quimicamente esta família de antibióticos. Entre eles encontram-se as penicilinas, as cefalosporinas de primeira, segunda, terceira e quarta geração, os monobactâmicos e os carbapenêmicos. Os lactâmicos compreendem o maior grupo de antimicrobianos, geralmente com ação bactericida. O anel lactâmico é chave para o mecanismo de ação na parede celular, através da ligação às enzimas, inativando o conjunto de transpeptidases que catalisam ligações cruzadas na fase final da síntese do peptideoglicano (WILLANS, 1999; MARÍN & GUDIOL, 2003). Na tabela 1.5 temos a classificação dos antibióticos lactâmicos. 21 Tabela N. 1.5 Classificação dos antibióticos lactâmicos. Penicilinas I. Penicilinas Naturais Penicilina G (im, iv) Penicilina V (vo) Feneticilina (vo) II. Penicilinas resistentes às penicilinases Meticilina (im, iv) Oxacilina (im, iv) Cloxacilina (vo, im, iv) III. Aminopenicilinas Amoxicilina (vo,im,iv) Ampicilina (vo) Bacampicilina (vo) Ampicilina/sulbactam (vo,im,iv) Amoxicilina/ácido clavulânico (vo, im,iv) IV. Carboxipenicilinas Carbenicilina (iv) Ticarcilina (im,iv) Ticarcilina/ácido clavulánico (iv) V. Ureidopenicilinas Azlocilina (iv) Mezlocilina (im,iv) Piperacilina (im,iv) Piperacilina/tazobactam (iv) Cefalosporinas Primeira geração Cefalotina (im,iv) Cefalexina (vo) Cefazolina (im,iv) Cefradina (Cefemas) (vo,im,iv) Cefapirina (im,iv) Cefadroxilo (vo) Segunda geração Cefaclor (vo) Cefamandol (im,iv) Cefuroxima (im,iv) Cefonicid (im,iv) Cefuromima-axetil (vo) Terceira geração Cefixima (vo) Ceftibuteno (vo) Cefotaxima (im,iv) Ceftizoxima (im,iv) Ceftriaxona (im,iv) Ceftazidima (im,iv) Moxalactam (im,iv) Cefepima (im,iv) Cefpiroma Quarta geração (im,iv) Cefamicinas Cefoxitina (im,iv) Cefmetazol (im,iv) Cefminox (im,iv) Carbapenemas Imipenem (im,iv) Meropenem (im,iv) Faropenem (vo) Ertapenem (iv) Monobactâmicos Aztreonam (im,iv) vo=via oral; im=intramuscular; iv=intravenoso Fonte: Calvo et al., 2009. 22 A estrutura química do grupo das penicilinas é composta por um anel betalactâmico e um anel de tiazolidina, formando o ácido 6-aminopenicilânico, que deriva da condensação de uma molécula de valina e uma de cisteína, para dar lugar ao duplo anel característico. Ademais, têm uma cadeia lateral, que varia na posição 6 do anel lactâmico, o qual define as propriedades dos diferentes tipos de penicilinas (MARÍN & GUDIOL, 2003). As cefalosporinas são fármacos com estrutura similar às penicilinas, nos quais a estrutura básica está constituída pelo núcleo cefem, que consiste na fusão de um anel dihidrotiacínico (em lugar do anel tiazolidínico característico das penicilinas) e um anel lactâmico. A modificação nas cadeias laterais origina os diferentes tipos de cefalosporinas (MARÍN & GUDIOL, 2003). A estrutura dos carbapenêmicos consiste em um anel lactâmico ligado a um anel pirrolidínico compartilhando um átomo de nitrogênio. Estas modificações e as cadeias laterais condicionam a maior afinidade pelas proteínas fixadoras de penicilinas (PBP) alvo, incrementando o espectro antibacteriano e de resistência às betalactamases. Este grupo de lactâmicos são os de maior espectro e atividade antibacteriana (MARÍN & GUDIOL, 2003). Os monobactâmicos são derivados do ácido 3-aminomonobactâmico (3-AMA). Têm uma estrutura monocíclica simples, em que o anel lactâmico não está ligado a outro anel secundário (MARÍN & GUDIOL, 2003). Na figura 1.5 temos a estrutura química dos quatro grupos de antibióticos lactâmicos. Figura 1.5. Estrutura química dos antibióticos lactâmicos Fonte: Bush & Fisher, 2011. 23 1.4.2 Mecanismos de ação dos lactâmicos Os antibióticos lactâmicos são agentes que inibem a síntese da parede celular bacteriana e induzem um efeito autolítico. A destruição da parede bacteriana ocorre como consequência da inibição da última etapa da síntese do peptideoglicano. A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromolecular denominada peptideoglicano, que está presente isoladamente ou em combinação com outras substâncias. A peptideoglicana consiste em um dissacarídeo repetitivo unido por polipeptídeos para formar uma rede que circunda e protege a célula. Na maioria das bactérias Gram-positivas há uma membrana celular com uma camada espessa e rígida de peptideoglicano. Em contraste, as bactérias Gram-negativas apresentam uma camada fina de peptideoglicano entre a membrana plasmática interna e a membrana celular lipoproteica externa (MARÍN & GUDIOL, 2003; KONEMAN et al., 2006) Nas bactérias Gram-positivas, os lactâmicos não precisam atravessar a membrana plasmática para exercer sua atividade, passando pela camada de peptideoglicano e agindo nas transpeptidases, na formação da parede celular. Nas bactérias Gram-negativas as duas membranas servem de barreira para os antimicrobianos lactâmicos, já que seu alvo de ação fica no interior da célula, após a membrana externa e o espaço periplasmático. Mesmo substâncias altamente lipofílicas têm dificuldade de se difundir para o interior da célula, devido à natureza polarizada e assimétrica da membrana celular externa. Os compostos lactâmicos são transportados para o interior da célula Gram-negativa através, principalmente, de proteínas denominadas porinas. O tamanho,carga e hidrofobicidade das moléculas que tentam entrar na célula influenciam a velocidade e efetividade deste transporte (MARÍN & GUDIOL, 2003; KONEMAN et al., 2006) O peptideoglicano está constituído por longas cadeias de glucido (glicano), formadas pela repetição de moléculas de ácido N-acetilmurâmico e N-acetilglucosamina. O ácido murâmico fixa as cadeias de tetrapeptideos (peptídeo) que são unidas para formar uma rede, bem diretamente (Gram-negativos) ou por um pentapeptideo de glicina (Gram-positivos). Os lactâmicos inibem esta união, ou transpeptidação, que é a ultima etapa da síntese da parede celular. Assim a parede formada fica débil, e pode ser quebrada com o aumento da pressão osmótica intracelular. Para a ação dos lactâmicos é necessário que as bactérias se encontrem na fase de multiplicação, na qual a parede está sendo sintetizada (MARÍN & GUDIOL, 2003; MARTÍNEZ & SÁNCHEZ, 2007) 24 Os componentes de peptideoglicano são sintetizados no citoplasma e transportados através da membrana citoplasmática até o espaço periplasmático. Neste espaço periplasmático existem proteínas (transpeptidases e carboxipeptidases) que são encarregadas de formar os tetrapeptidos. Estas enzimas se fixam às penicilinas e aos outros betalactâmicos, sendo chamadas PBPs (penicillin-binding proteins). Os anéis dos lactâmicos possuem uma estrutura similar aos dois últimos aminoácidos do pentapeptido (D-alanina-D-alanina), o que permite uma união covalente no sítio ativo da transpeptidase. As PBPs são diferentes em microorganismos Gram-negativos e Gram-positivos e em espécies anaeróbias, o que explica os diferentes espectros de atividade dos lactâmicos em diferentes tipos bacterianos (MARÍN & GUDIOL, 2003; MARTÍNEZ & SÁNCHEZ, 2007). A Figura 1.6, apresenta a estrutura da parede das bactérias. Figura 1.6 Estrutura da parede das bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Fonte: Sánchez, 2006 1.5 RESISTÊNCIA BACTERIANA A resistência aos antimicrobianos faz parte da história das bactérias, mas só se tornou uma ameaça aos tratamentos a partir do momento em que o homem começou a utilizar os ßlactâmicos clinicamente. Estas drogas rapidamente promoveram uma seleção natural, eliminando as bactérias susceptíveis, mas deixando as resistentes sobreviver. Pode-se considerar o aparecimento da resistência bacteriana como uma ação de causa efeito. Após a 25 utilização da penicilina no tratamento de infecções por Staphylococcus aureus, surgiram os primeiros isolados com resistência, devido à produção de penicilinases plasmídicas, que rapidamente se estenderam entre a mesma espécie, bem como a outras espécies de Staphylococcus. Esta resistência levou à necessidade de desenvolvimento de novos fármacos estáveis à ação destas enzimas. No entanto, as bactérias são versáteis e rapidamente desenvolveram novos meios de resistir (JUNIOR et al., 2004; HORCAJADA & FARIÑAS, 2005). As bactérias podem ter resistência intrínseca a um ou mais agentes antimicrobianos, mas podem também adquirir a resistência por mutações de novo ou por genes de resistência de outros micro-organismos, e ainda por adaptações metabólicas aos fármacos (BECERRA et al., 2009; MARTINEZ & CALVO, 2010). Os genes que codificam fatores de resistência bacteriana variam de acordo com sua localização, tipo de transferência e expressão. Os genes de resistência estão localizados no cromossomo bacteriano, o que confere certa estabilidade genética ao microorganismo, ou nos plasmídeos extra-cromossomiais (GAL-MOR & FINLAY, 2006; MIDOLLI 2009; NORMAN et al., 2009). Sob certas condições, os plasmídeos são uma vantagem para as células. Os plasmídeos, além das funções essenciais, podem transportar genes para atividades de resistência aos antibióticos, tolerância a metais tóxicos, produção de toxinas e síntese de enzimas (MARTÍNEZ, 2006; NORMAN et al., 2009; CARATTOLI, 2009) Elementos genéticos móveis, como plasmídeos podem ser transmitidos para bactérias da mesma espécie e também entre espécies distintas, através de mecanismos específicos de recombinação e troca, denominados de transferência horizontal (NORMAN et al., 2009) Entre os elementos móveis temos cassetes gênicos, integrons, transposons, sequências de inserção, plasmídeos ou ilhas de patogenicidades localizadas no cromossomo bacteriano (GONZALES et al., 2004; GAL-MOR & FINLAY, 2006; MIDOLLI 2009 – NORMAN et al., 2009). Os integrons são elementos dinâmicos que contêm os determinantes genéticos dos componentes de um sistema de recombinação especifica de sítio que reconhece e captura genes em cassetes móveis (DI CONZA & GUTKIND, 2010). A estrutura mínima de um integron é: i) o gene da integrase (intl); ii) um sítio de recombinação (attl) e; iii) um promotor (Pc-P2) com direção para a expressão dos genes capturados. Atualmente, os integrons são divididos em dois grandes grupos (i) os integrons de resistência antibiótica ou chamados 26 “integrons móveis”, que são de classe 1, 2 e 3 e ii) os integrons presentes no cromossoma bacteriano, chamados “superintegrons” (GONZALES et al, 2004; DI CONZA & GUTKIND, 2010). Os integrons de classe 1 são os mais comuns e de maior interesse, por sua relação com a resistência antibiótica, já que transportam cassetes gênicos contendo genes de resistência a vários grupos de antibióticos, especialmente aos lactâmicos (WILKE et al, 2005). Os integrons podem passar de uma bactéria a outra formando parte de transposons ou plasmídeos (MARTÍNEZ, 2006; DI CONZA & GUTKIND, 2010). Figura 1.7 Figura 1.7 Elementos genéticos móveis. Fonte, Norman et al., 2009. Existem alguns importantes mecanismos de transferência de material genético nas bactérias: i) conjugação, ii) transformação, iii) transdução e, iv) transposição. A conjugação é o mecanismo mais comum pelo qual os genes de resistência são transferidos e requer contato célula a célula (Figura 1.8). Para que aconteça a conjugação, é necessário o contato célula a célula através de um pilus sexual especializado, codificado por um plasmídeo denominado F. Uma vez que o contato é estabelecido, o plasmídeo F é replicado em uma das cadeias simples de DNA plasmidial e passa para a célula receptora através do pilus. A cadeia simples começa a ser replicada à medida em que entra na célula, havendo, ao final do processo, duas células contendo plasmídeos conjugativos completos. O plasmídeo pode ser incorporado ao cromossoma bacteriano (JUNIOR et al 2004; MARTÍNEZ, 2006; NORMAN et al, 2009; 27 BECERRA et al, 2009; MIDOLLI 2009; CARATTOLI, 2009). No caso da transformação, há captação de DNA solúvel no meio por células receptoras competentes. O mecanismo de transdução compreende a transferência genética com auxílio de bacteriófagos; enquanto que a transposição é a transferência de genes dentro de uma mesma célula através de transposons (DNA) (MIDOLLI 2009). Figura 1.8 Microfotografia eletrônica de duas Escherichia coli em processo de conjugação Fonte: Junior et al., 2004 A resistência bacteriana aos antibióticos lactâmicos, especificamente, é feita por quatro mecanismos: i) Alteração da permeabilidade, na qual a presença da membrana externa nos Gram-negativos dificulta a entrada de sustâncias hidrofílicas, como os lactâmicos, que precisam das porinas para atravessar a membrana; neste caso a resistência é secundaria à alteração das porinas, ii) Modificação dos alvos, onde os lactâmicos devem se ligar às PBPs para exercerem efeito bactericida; as mudanças nas PBPs implicam uma perda de afinidade aos lactâmicos, levando à diminuição na atividade do fármaco, iii) Produção de enzimas, que na atualidade constitui o principal mecanismo de resistência aos lactâmicos, principalmente nas baterias Gram-negativas. As betalactamases são enzimas catalíticas de natureza proteica e atuam rompendo o enlace amídico do anel lactâmico, prévia à união ao grupo carbóxilo, o que faz com que os antibióticos lactâmicos perdam a capacidade de união às PBPs e iv) Expressão de bombas de efluxo, mecanismos de expulsão dependentes de 28 energia que bombeiam o antibiótico para o exterior da bactéria (MARÍN & GUDIOL, 2003; CASELLAS, 2011). Figura 1.9 Figura 1.9 Mecanismos de resistência aos antibióticos nas bactérias Gram-negativas. Fonte, Peleg & Hooper, 2010 1.6 ENZIMAS ß-LACTAMASES A produção de ß-lactamases é o mais importante mecanismo de resistência aos antibióticos lactâmicos (DALMARCO et al, 2006). Uma vez expressas, as ß-lactamases são secretadas no espaço periplásmico (em bactérias Gram-negativas) e atua hidrolisando o anel ß-lactâmico por hidroxilação irreversível da ligação amida, inativando-os e impossibilitando a atividade antibacteriana (JUNIOR et al, 2004; WILKE et al, 2005, MARTINEZ, 2006). Estas enzimas apresentam afinidades distintas para os diferentes grupos de anéis ß-lactâmicos. Determinados tipos de ß-lactamases podem ser produzidos por diferentes espécies bacterianas, mas uma única espécie também pode produzir diferentes tipos de ß-lactamases (JUNIOR et al 2004). A especificidade destas enzimas aos anéis ß-lactâmicos determina a eficácia da hidrólise dos mesmos. A capacidade ou não das ß-lactamases de conferir resistência aos antimicrobianos lactâmicos de amplo espectro irá depender da quantidade de enzima produzida pelo microorganismo, da habilidade dessa enzima em 29 hidrolisar o antimicrobiano e da velocidade com que o lactâmico penetra pela membrana externa (LIVERMORE, 1991). As ß-lactamases foram originadas, provavelmente, pela pressão seletiva exercida por microorganismos naturalmente produtores de compostos ß-lactâmicos existentes no solo, (BRADFORD, 2001). A síntese desta enzima pode ser cromossômica (constitutiva) ou mediada por plasmídeos (indutiva). A mobilidade genética pode ser ampliada por meio de elementos móveis como integrons, transposons, plasmídeos (MARTINEZ, 2006; NORMAN et al, 2009; CARATTOLI, 2009). As ß-lactamases foram classificadas baseando-se em critérios do perfil de substrato da enzima e na localização dos seus genes codificadores. A primeira classificação foi feita em 1973 por Richmond e Sykes. Em 1989, Bush fez a segunda classificação das ß-lactamases, com posterior atualização no ano 1995, baseando-se na preferência pelos substratos lactâmicos e pela inibição pelo clavulanato. Atualmente, esta proposta está baseada nas propriedades bioquímicas, estrutura molecular e sequência de nucleotídeos, separando-se as enzimas em quatro grupos funcionais e subgrupos. Em 1980, Ambler propôs outra classificação baseada na estrutura molecular e na homologia das sequências de aminoácidos, dividindo as enzimas em quatro grupos (A, B, C, D) (LIVERMORE, 1995). Na atualidade, têm sido consideradas as duas classificações, propostas por Ambler e por Bush, Jacoby & Medeiros, como demonstrado na Tabela 6. No esquema da classificação de Ambler, as classes A, C e D agem através do mecanismo baseado nas “Serinas”, enquanto a classe B ou metalo-beta-lactamases necessitam de zinco (Zn) para sua ação. A maioria das ESBLs está contida na classe molecular “A” de Ambler, caracterizada pela presença do sítio ativo “serina” e pela massa molecular de aproximadamente 29.000 KDa e pela preferência (afinidade) de hidrólise sobre as penicilinas (LIVERMORE, 1995; DALMARCO et al, 2006). Entre as ß-lactamases, as ESBL (Extended-Spectrum -Lactamases) e as AmpC ßlactamases são as mais comuns (PARVEEN, et al., 2010) 30 Tabela 1.6 Classificação das ß-lactamases Bush-Jacoby group Molecular class 1 C 1e C 2a A 2b A 2be A 2br A 2ber A 2c A 2d D 2de D 2df D 2e A 2f A 3a B 3b B Defining characteristic(s) Selected enzymes Hidrolise cefalosporinas, cefamicinas penicilinas. Não são inibidas por CLA e TZB. Afinidade elevada para aztreonam Hidrolise penicilinas, cefamicinas, cefalosporinas amplo espectro e monobactâmicos. Não inibida pelo CLA e TZB Eficiente hidrólise de penicilinas. Inibida pelo CLA e TZB Hidrolise penicilinas, cefalosporinas de primeira geração (cefazolina, cefalotina, cefaloridine) . Inibida pelo CLA e TZB Hidrolise eficiente de penicilinas, cefalosporinas amplo espectro, monobactâmicos. Inibida pelo CLA e TZB Hidrolise eficiente de penicilinas e cefalosporinas de primeira geração. Inibição deficiente pelo CLA Hidrolise eficiente de penicilinas, cefalosporinas amplo espectro, monobactâmicos. Inibição deficiente pelo CLA e TZB Hidrolise eficiente de carbenicilina. Inibida pelo CLA Hidrolise eficiente de cloxacilina ou oxacilina. Levemente inibida por CLA Hidrolise de penicilinas e cefalosporinas de amplo espectro. Levemente inibida por CLA Hidrolise de carbapenêmicos e cloxacilina ou oxacilina. Levemente inibida por CLA Hidrolise eficiente de cefalosporinas. Inibida pelo CLA e TZB, mas não pelo aztreonam. Hidrolise de carbapenêmicos, cefalosporinas e penicilinas e cefamicinas. Pobre inibição pelo CLA; baixa inibição por TZB Hidrolise de todos os b-lactâmicos exceto monobactâmicos. Inibida por EDTA e agentes quelantes de iões metálicos, não inibida pelo CLA e TZB. Afinidade hidrolise para carbapenêmicos. Inibida por EDTA e agentes quelantes de iões metálicos, não inibida pelo CLA e TZB. Escherichia coli E Pseudomonas aeruginosa AmpC. CMY-2, FOX-1, MIR-1 GC1, CMY-37 PC1 e outras staphylococcal penicillinases SHV-1, TEM-1, TEM-2, TLE-1 (TEM-90) ESBLs: CTX-M-15, CTX-M-44 (Toho-1), PER-1, SFO-1, SHV-5, TEM-10, TEM-26, VEB-1 IRTs: TEM-30, TEM-76, TEM-103, SHV10, SHV-26 CMTs: TEM-50, TEM-68, TEM-89 PSE-1, CARB-3 OXA-1, OXA-10 ESBLs: OXA-11, OXA-15 OXA-23, OXA-48 CepA IMI-1, KPC-2, KPC-3, SME-1, GES-2 IMP-1, L1, NDM-1, VIM-1 CphA, Sfh-1 Observações: CLA, acido clavulânico; CMT, complexo mutante TEM; ESBL, β-lactamase de amplo espectro; IRT, resistência ao inibidor TEM; TZB, tazobactam. Modificado de Fonte: Bush & Fisher, 2011. 31 1.6.1 ß-lactamases de Espectro Estendido (ESBL) O primeiro microrganismo produtor de uma ESBL foi isolado em 1983, em Frankfurt, na Alemanha. Em 1985 e no início da década de 90 ocorreram os primeiros surtos hospitalares na França e depois nos EUA, respectivamente. Atualmente, comprovando a sua capacidade de adaptação, o número de variantes de ESBLs identificadas tem aumentado significativamente por todo o mundo (BRADFORD, 2001; PATERSON & BONOMO, 2005; DALMARCO, 2006). As ESBL estão classificadas dentro do grupo funcional 2, segundo Bush et al. (1995) e da classe A de Ambler (1980). Estas enzimas são capazes de hidrolisar e causar resistência ou sensibilidade diminuída às penicilinas, oximino-cefalosporinas (cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima, cefepime) e monobactâmicos (aztreonam), mas não às cefamicinas (cefotaxima) e aos carbapenêmicos (imipenem, meropenem, ertapenem); são inibidas por compostos como o ácido clavulânico (clavulanato), o sulbactam e o tazobactam (BRADFOR, 2001; PATERSON & BONOMO, 2005; BUSH & JACOBY, 2010; PEIRANO & PITOUT, 2010; NAVARRO et al., 2011; DHILLON & CLARK, 2012). As ESBLs, na sua maioria, originaram-se de mutações pontuais ocorridas no centro ativo das ß-lactamases clássicas TEM (TEM-1 e TEM-2) e SHV (SHV 1), que resultaram na substituição de aminoácidos, alterando assim seus substratos específicos. As ESBL diferem de suas enzimas de origem por uma a sete substituições e algumas deleções de aminoácidos que alteram a configuração e as propriedades do seu sitio de ação (BRADFORD, 2001; DALMARCO, 2006; BUSH & JACOBY, 2010; DHILLON & CLARK, 2012). Embora as enzimas ESBL possuam, geralmente, localização plasmidial, as mesmas podem ter sido originadas nos cromossomas, já que muitas enterobactérias contêm enzimas cromossômicas constitutivas. Os plasmídeos que carreiam os genes codificadores de ESBL podem conter também determinantes genéticos de resistência para outros grupos de antimicrobianos, como quinolonas, sulfonamidas, trimetroprim, cloranfenicol, tetraciclinas e aminoglicosídeos (BRADFORD, 2001; WILKE et al, 2005; CARATTOLI, 2009). Desta forma, a produção de ESBL é frequentemente acompanhada por multirresistência aos antibióticos, de forma que as opções terapêuticas ficam, muitas vezes, limitadas aos carbapenêmicos. As enzimas ESBL são classificadas e denominadas de acordo com a similaridade com outras enzimas precursoras e/ou com grupos já conhecidos. A maioria delas é derivada das 32 lactamases dos tipos TEM e SHV. Outros tipos de ESBL não relacionados com TEM e SHV e com relevância clinica são: CTX-M, OXA, PER, VEB, CMT, TLA, SFO, GES e BES (BUSH & JACOBY, 2010; MARTINEZ & CALVO, 2010; NAVARRO et al., 2011; CHONG et al., 2011; DHILLON & CLARK, 2012). As ESBLs têm sido descritas em uma variedade de Enterobacteriaceae e Pseudomonadaceae de diferentes lugares do mundo, mas são, mais frequentemente, identificadas em Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli. A importância das ESBLs deriva da sua expansão clonal, da sua localização plasmidial e de repetidos eventos mutacionais (JUNIOR et al 2004). Inicialmente, as bactérias produtoras de ESBL foram isoladas de pacientes hospitalizados, preferencialmente nos serviços de terapia intensiva. Esta bactérias podem sobreviver por longos períodos de tempo nos hospitais, ocasionando surtos. Atualmente, cepas produtoras de ESBL são encontradas também em pacientes da comunidade (MARTINEZ & CALVO, 2010; DHILLON & CLARK, 2012; PEIRANO & PITOUT, 2010). É importante destacar que foram identificadas Enterobacteriaceae produtoras de ESBL em diversas amostras ambientais,em fezes de indivíduos saudáveis, em alimentos, em fazendas de agropecuária, e em esgotos, o que sugere que a comunidade pode funcionar como reservatório de cepas produtoras destas enzimas, fato que alerta para a possibilidade de sua expansão global (MESA et al., 2006) Ao nível mundial, é difícil estimar a proporção de microorganismos produtores de ESBLs, principalmente, por diferenças entre os métodos de detecção e interpretação utilizados por cada um dos países e instituições de saúde envolvidos que também diferem muito em relação à notificação do aparecimento de tal fenômeno. Por estes motivos, a ocorrência de ESBL é mundialmente subestimada. Infecções causadas por microorganismos produtores de ESBL são associados com aumento da morbidade, da mortalidade e dos gastos em saúde publica (DALMARCO, 2006; PEIRANO & PITOUT, 2010) 1.6.1.1 TEM As ESBLs do tipo TEM (primeiramente descritas em E. coli isoladas a partir de material clínico de uma paciente chamada Temoneira) são derivadas de TEM-1 e TEM-2 (PATERSON & BONOMO, 2005). Entre as bactérias Gram-negativas, TEM-1, que confere 33 resistência às penicilinas e as cefalosporinas de primeira geração, é a ß-lactamase mais frequentemente encontrada, sendo responsável por mais de 90% da resistência, em estirpes de E. coli.. A substituição de um único aminoácido na -lactamase TEM-1 deu origem a um novo tipo, TEM-2. A modalidade TEM-3, originalmente descoberto em 1989, foi a primeira ß-lactamase que apresentou o fenótipo ESBL (BRADFORD, 2001). Após isso, muitos outros derivados de TEM foram relatados, sendo alguns resistentes aos inibidores de -lactamases e a grande maioria com fenótipos ESBL (LIVERMORE, 1995; BRADFORD, 2001). O fato de TEM-1 e outros derivados serem mediados por plasmídeos e transposons facilita a disseminação para outras espécies de bactérias. Atualmente existem mais de 100 mutações da TEM original (DHILLON & CLARK, 2012). Algumas destas novas ß-lactamases são enzimas resistentes ao inibidor (IRT) e a sua maioria são ESBLs (NAVARRO et al., 2011). As substituições de aminoácidos ocorrem entre as enzimas TEM em número limitado de posições e as combinações destas mudanças de aminoácidos resultam em várias alterações na hidrólise de oximino-cefalosporinas específicas, como cefotaxima e ceftazidima (BRADFORD, 2001). As TEM--lactamases resistentes aos inibidores, em sua maioria, surgem independentemente da ação de ESBL, sendo relativamente inativas contra oximino-cefalosporinas. Porém algumas variantes (TEM50 e TEM-68) retêm ambas as atividades (PATERSON & BONOMO, 2005) Apesar da maior frequência de ß-lactamases TEM se verificar em estirpes de E. coli e K. pneumoniae, também são encontradas, cada vez com maior frequência, em outras espécies de bactérias Gram-negativas como Enterobacter spp., Proteus spp., Salmonella spp. (BRADFORD, 2001). 1.6.1.2 SHV A SHV (sulfidrila variável) é a ß-lactamase mais frequentemente isolada em estirpes de K. pneumoniae e é responsável, nestas espécies, por mais de 20% das resistências à ampicilina mediadas por plasmídeos (BRADFORD, 2001). Em várias estirpes de K. pneumoniae, o gene blaSHV-1, encontra-se integrado no cromossoma bacteriano. Apesar de ter sido posta a hipótese de que o gene que codifica para SHV-1 pode existir fazendo parte de um transposons, isto nunca foi demonstrado (BRADFORD, 2001). Ao contrário dos tipos TEM, há relativamente poucas descendências das SHV-1 34 Além disso, as mudanças observadas no gene blaSHV ocorrem em um número menor de posições dentro do gene estrutural. A maioria das beta-lactamases SHV têm fenótipo ESBL, com exceção da SHV-4, SHV-10 e SHV-11, e são caracterizadas pela substituição de uma serina por uma glicina, na posição 238 (PATERSON & BONOMO, 2005). Por outro lado, as variantes relacionadas às ß-lactamases SHV- 5 também apresentam uma substituição da lisina por glutamato, na posição 240. O resíduo de serina na posição 238 é fundamental para a hidrólise eficaz da ceftazidima e o resíduo de lisina é vital para a hidrólise eficiente da cefotaxima (BRADFORD, 2001). As ESBLs do tipo SHV, tem sido encontradas em uma ampla variedade de Enterobacteriaceae e foram reportados surtos de SVH produzidos por Pseudomonas aeroginosa e Acinetobater spp (PATERSON & BONOMO, 2005). É importante destacar que SVH-38 tem fraca atividade carbapenemase e produz moderados aumentos na concentração mínima inibitória (CMI) de imipenem; SHV-2 em cepas de K. pneumoniae deficientes de porinas pode causar uma diminuição na sensibilidade ao imipenem (MARTINEZ & CALVO, 2010). 1.6.1.3 CTX-M Na família de ESBLs plasmídicas, CTX-M, é mais frequente entre isolados de Salmonela enterica e E. coli, sendo observada também em outras espécies de Enterobacteriaceae. Esta enzima tem como substrato preferencial a cefotaxima e a ceftriaxona. As CTX-M-lactamases apresentam cerca de 40% de similaridade com as ßlactamases TEM e SHV. Provavelmente foram originadas a partir da enzima cromossômica AmpC de Kluyvera ascorbata, uma vez que possuem alto grau de homologia entre si (BRADFORD, 2001; BONNET, 2004). Outra característica desta enzima é o fato de ser melhor inibida pelo tazobactam do que pelo sulbactam ou pelo ácido clavulânico (BONNET, 2004). As CTX-M-lactamases são codificadas por genes transportados por elementos móveis, tais como sequências de inserção ISCcp1e ISCR1 (PEIRANO & PITOUT, 2010). A primeira CTX-M-lactamase (CTX-M-1) foi isolada em Munich, na Alemanha (CefoTaXima – Munich), em1989 tendo, em seguida, ocorrido uma rápida disseminação na Europa. No continente americano, foi descrita no ano 1990 na Argentina (CTX-M-2) em cepas de Salmonella resistentes à cefotaxima; no Brasil foram descritas na cidade do Rio de 35 Janeiro, no ano 1998, as enzimas CTX-M-2 em P. mirabilis, CTX-M-9 e CTX-M-16, em E. coli e CTX-M-8 em E. cloacae, Enterobacter aerogenes e Citrobacter amalonaticus (BONNET, 2004). Estudos filogenéticos sobre a família CTX-M reportam 6 principais tipos desta enzima: i) CTX-M-1 (CTX-M-1, CTX-M-3, CTX-M-10, CTX-M-12, CTX-M-15, e FEC-1, CTX-M-22, CTX-M-23, CTX-M-28), ii) CTX-M-2 (CTX-M-2, CTX-M-4, CTX-M-4L, CTX-M-5, CTX-M-6, CTX-M-7, CTX-M-20, e TOHO-1), iii) CTX-M-8 (CTX-M-8), iv) CTX-M-9 (CTX-M-9, CTX-M- 13, CTX-M-14, CTX-M-16, CTX-M-17, CTX-M-19, CTXM-21, CTX-M-27, Toho-2, CTX-M-24), v) CTX-M-25 (CTX-M-25, CTX-M-26) e vi) CTXM-45 (BONNET 2004; ROSSOLIN et al., 2008; LIVERMORE 2012; SENNATI et al, 2012). Entre os grupos de ESBL, as CTX-M são as mais bem sucedidas em termos de disseminação e seu impacto é atualmente comparável ou mesmo superior ao impacto das ESBL tipo SHV e TEM (BONNET, 2004). Atualmente existem mais de 133 variantes de CTX-M (http://www.lahey.org/Studies/other.asp#table1) que têm sido associadas a surtos de infecções diversas, tanto nos hospitais como na comunidade, sendo particularmente isoladas em cepas de E. coli de origem urinária (DHILLON & CLARK, 2012). Na atualidade, diferentes famílias dominantes de CTX-M têm sido encontradas: CTX-M-15 (grupo 1), é predominante na maior parte da Europa, América do Norte, Oriente Médio e Índia, CTX-M14 (grupo 9) é mais comum na China, Sudoeste da Ásia, e na Espanha e CTX-M-2 (grupo 2) é predominante na Argentina, Israel e Japão (HAWKEY & JONES, 2009; LIVERMORE, 2012), como sumarizado na Figura 1.10 A CTX-M-15-lactamase tem associação com outras lactamases tais como TEM1 e OXA-1, e com enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (EMA) tipo aac(6´)-Ib-cr. O gene aac(6´)-Ib-cr tem a habilidade adicional de acetilar antibióticos do grupo das fluoroquinolonas, tais como ciprofloxacina e norfloxacina (PEIRANO & PITOUT, 2010; ROGERS et al., 2011; LIVERMORE, 2012). O clone chamado ST131 foi identificado por MLST em cepas de E. coli produtoras da enzima CTX-M-15 e, atualmente, está disseminado ao nível mundial, sendo reportado na Europa, em alguns países de Ásia, na África, na América do Norte, na América do Sul e na Austrália (PEIRANO & PITOUT, 2010; CHONG et al., 2011; LIVERMORE, 2012). Este clone pandêmico ST131, altamente virulento, tem associação com o sorotipo O25 de E. coli e pertence ao grupo filogenético B2 (PEIRANO & PITOUT, 2010). Este clone tem a 36 capacidade de causar infecções com padrões de multirresistência antibiótica aos níveis hospitalar e comunitário, estando associado a cepas de E. coli uropatogênica,s especialmente (ROGERS et al., 2011; PEIRANO & PITOUT, 2010). Figura 1.10 Distribuição mundial dos genótipos CTX-M. Fonte, Hawkey & Jones, 2009 1.6.2 AmpC Foi a primeira lactamase a conferir resistencia à penicilina, já observada nos anos de 1940, foi posteriormente chamada AmpC (JACOBY, 2009). São lactamases da clase molecular C de Ambler (grupo 1 da classificação de Bush-Jacoby-Medeiros) e são chamadas cefalosporinases. Hidrolizam cefalosporinas de primeira e segunda gerações, incluídas as cefamicinas, tem menor ação sobre cefalosprinas de terceira geração e são pouco eficazes sobre cefalosporinas de quarta geração e carbapenêmicos. A cloxacilina, o aztreonam e o ácido borônico (ácido fenil borônico) inibem as lactamases tipo AmpC, enquanto os inibidores de lactamases como o ácido clavulânico, o sulbactam e o tazobactam não as inibem (MARTINEZ, 2009; JACOBY, 2009; BUSH & JACOBY, 2010; NAVARRO et al., 2011). Certas bactérias possuem, de forma natural, lactamases tipo AmpC, como Enterobacter spp., Providencia spp., Morganella morganii, Serratia marcescens, Citrobacter freundii e Hafnia alvei, assim como bacilos Gram-negativos não fermentadores como 37 Pseudomonas aeroginosa. Estas bactérias produzem AmpC cromossômica induzível e são naturalmente resistentes às aminopenicilinas, às cefalosporinas de primeira geração, às cefamicinas (cefoxitina, cefotetan) e às aminopenicilinas combinadas com inibidores de lactamases (amoxicilina-ácido clavulânico, ampicilina-sulbactam) (MARTINEZ, 2009). E coli, Shigella spp e Acinetobacter baumannii também possuem lactamases tipo AmpC cromossômicas, que são constitutivas (não induzíveis). E. coli carece do gene regulador de expressão ampR, de modo que a expressão de AmpC é regulada por promotores e mecanismos atenuadores (JACOBY, 2009; MARTINEZ, 2009). A produção de AmpC pode ser de codificação plasmídica induzível ou não induzível e cromossômica induzível ou constitutiva (a bactéria carece dos genes ampD ou ampR, que são reguladores da expressão de AmpC). Quando o gene ampC se expressa de forma constitutiva, pode fazê-lo em níveis basais, dando uma característica fenotípica de resistência natural ou selvagem, ou pode fazê-lo em niveis muito altos (superexpressão de AmpC por mutações no sistema atenuador e/ou promotor do gen AmpC, ou aquisição de promotores fortes para a expressão do gen) o que leva a uma produção de grandes quantidades de AmpC (hiperprodução de AmpC) (NAVARRO et al., 2011). Nas bactérias que expressam o gene AmpC de forma induzível, a produção de AmpC pode estar desreprimida de forma parcial ou total (por mutações nos genes reguladores de tipo ampD e ampR), o que leva a uma produção estável de grandes quantidades de AmpC (hiperprodução total ou parcial de AmpC) (JACOBY, 2009; MARTINEZ, 2009; NAVARRO et al., 2011). As cepas desreprimidas ou hiperprodutoras de AmpC, apresentam resistência a todas as penicilinas, combinações com inibidores de lactamases, cefalosporinas de primeira, segunda e terceira gerações, cefamicinas e monobactâmicos. Apenas não são afetadas as cefalosporinas de quarta geração e os carbapenêmicos (PÉREZ & HANSON, 2002; MARTINEZ, 2009; NAVARRO et al., 2011) Diferenças nas sequências de aminoácidos deram origem às famílias de AmpC, entre os quais temos atualmente 95 variantes para CMY, 5 variantes para ACC, 19 variantes para ACT, 1 variante para CFE, 8 variantes para DHA, 10 variantes para FOX, 1 variante para LAT, 5 variantes para MIR e 8 variantes para MOX (http://www.lahey.org/Studies/other.asp#table1) (PÉREZ & HANSON, 2002; JACOBY, 2009). De todas as variantes encontradas até o momento, a variante CMY-2 é a mais prevalente e amplamente distribuída no mundo (JURE et al., 2011). 38 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Estabelecer as características moleculares e de resistência bacteriana aos antibióticos lactâmicos de estirpes de Eschericha coli uropatogênica (UPEC) isoladas de cultura de urina recuperadas na cidade de Quito – Equador. 1.2 Objetivos específicos Determinar o perfil fenotípico de resistência das UPEC aos antibióticos usados no Equador para tratamento das ITU. Pesquisar a produção fenotípica de lactamases (ESBL- AmpC) Realizar a classificação dos grupos filogenéticos das UPEC por técnicas moleculares como PCR. Pesquisar a presença dos genes codificadores das betalactamases tipo blaTEM, blaSHV, blaCTX-M, blaAMPC através de técnicas moleculares como PCR e sequenciamento genômico. Avaliar o polimorfismo genético das amostras de E. coli uropatogênica através da análise dos perfis de fragmentação do DNA cromossômico após eletroforese em campo pulsado (PFGE). 39 3. MATERIAIS E METODOS. 3.1 Coleta e transporte das amostras Foram analisadas 156 amostras de Escherichia coli uropatogênicas, obtidas no período compreendido entre 01 de julho de 2010 a 31 de dezembro de 2011, pertencentes e estocadas no Departamento de Microbiologia do Instituto Nacional de Higiene e Medicina Tropical “Leopoldo Izquieta Perez”, Regional Norte, na cidade de Quito, Equador (INHMT-LIP-RN), com autorização prévia da direção da instituição. Estas amostras de E. coli uropatogênica foram recuperadas de cultura de urina de pacientes com sexo, idade e origem diferentes (comunitária e hospitalar), provenientes de Unidades Médicas da Saúde e hospitais pertencentes ao Ministério da Saúde do Equador. Todas as amostras de urina estocadas apresentaram contagem de bactérias igual ou superior a 105 UFC/mL e foram identificadas através de testes bioquímicos convencionais, sendo realizados também testes de susceptibilidade aos antibióticos lactâmicos usados no tratamento de infecções urinárias. As 156 cepas de E. coli uropatogênicas selecionadas apresentavam resistência a dois ou mais dos antibióticos testados. Para o transporte das amostras do Laboratório do INHMT-LIP-RN em Quito, Equador até o Laboratório de Pesquisa em Infecções Hospitalar no IOC/FIOCRUZ, as cepas foram estocadas em meio de transporte de agar nutriente em microtubos, empacotadas em embalagem com isolamento triplo e rotuladas devidamente, cumprindo com as normas de transporte recomendadas pela IATA. As embalagens usadas para o transporte foram as indicadas pela CIBIO - IOC e fornecidos pelo IOC/FIOCRUZ. A obtenção das cepas de E. coli uropatogênicas, foi autorizada pela Direção Nacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical “Leopoldo Izquieta Perez” Regional Norte-Quito, mediante ofício 01732-2011-DINHMT-RN, com data 26 de agosto do ano 2011. O transporte das cepas do Equador ao Brasil foi autorizado pela Subsecretaria Nacional de Vigilância e Controle Sanitário do Ministério de Saúde Pública do Equador, mediante ofício 000228, com data de 24 de janeiro do ano 2012. 40 3.2 Identificação de Escherichia coli uropatogênica No Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC, as amostras foram semeadas em ágar EMB (Ágar Eosina Azul de Metileno), que é o meio adequado para a detecção e diferenciação de bactérias Gram-negativas. As placas foram incubadas na estufa a 37 oC por 24 horas para crescimento bacteriano. Foram analisadas a morfologia e a coloração apresentadas pelas colônias, observandose na maioria o brilho metálico característico de E coli. Figura 3.1 Morfologia das colônias de E. coli. Fonte, LAPIH Uma das colônias de cada placa foi selecionada para ser submetida às provas bioquímicas básicas de identificação para Enterobactérias, tais como: fermentação de glicose, lactose ou sacarose e produção de gás visualizadas no meio de TSI (Agar-Ferro-Triplo Açúcar) - OXOID, prova da mobilidade, produção de H2S e produção de Indol, realizadas no meio de SIM (Sulfato-Indol-Motilidade) – OXOID, prova de utilização do citrato como fonte de carbono realizada no Ágar Citrato de Simmons – OXOID, prova de produção de urease no meio de Ágar Uréia - OXOID e prova da Oxidase. Após as semeaduras nestes meios, incubou-se novamente e colocou-se na estufa a 37 oC por mais 18 a 24 horas, para serem lidas no próximo dia, confirmando-se a identificação. Para o controle de qualidade dos testes foi realizado utilizanda a cepa padrão E. coli ATCC® 25922, P. aeruginosa ATCC® 27853 e E.faecalis ATCC® 29212). 41 Figura 3.2 Testes bioquímicas de identificação de E. coli. Fonte, LAPIH 3.3 Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos. A susceptibilidade dos micro-organismos isolados foi testada através de difusão em ágar (disco-difusão), seguindo-se as recomendações do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2011). Para os testes de difusão em ágar, uma alçada das colônias do meio de TSI foi transferida para uma solução salina e a suspensão foi comparada com o padrão de turvação 0,5 da escala de Mac Farland. Em seguida, foi realizada a semeadura no meio de ágar Muller-Hinton e os discos de antibióticos (Oxoid/Basingstoke, Hampshire, England) próprios para bactérias Gram-negativas foram introduzidos. Os antimicrobianos testados foram: cefepime, cefotaxima, ceftazidima, aztreonam, cefoxitina, ampicilina, cefalotina, ertapenem, amoxicilina/ácido clavulânico, trimetoprim/sulfametoxazol, ciprofloxacina e gentamicina. Na Tabela 7, estão listados os antibióticos lactâmicos utilizados. 42 Tabela 3.1 Antibióticos lactâmicos utilizados nos teste de resistência. Antibióticos Concentração (ug) Amoxicilina/ ácido clavulânico 20/10 Ampicilina 10 Aztreonam 30 Cefalotina 30 Cefepime 30 Cefotaxima 30 Cefoxitina 30 Ceftazidima 30 Ciprofloxacina 5 Ertapenem 30 Gentamicina 10 Trimetoprim/Sulfametoxazol 1,25/23,75 As placas foram colocadas em estufa a 35 oC por 16 a 18 horas. O resultado do teste de difusão em ágar para avaliação da resistência aos antibióticos foi obtido através da medida do halo de inibição de crescimento provocado pelos discos de antibióticos colocados nas placas semeadas. De acordo com o diâmetro do halo de inibição foi possível verificar se a bactéria era sensível, apresentava resistência intermediária ou era resistente aos antibióticos lactâmicos testados. Os diâmetros da zona de inibição são particulares para cada droga e micro-organismo, sendo comparados com os diâmetros padronizados pelo CLSI 2011. É importante ressaltar que os resultados de resistência intermediária foram considerados como resistentes e foram analisados conjuntamente com as cepas que apresentaram resistência. A resistência fenotípica ao trimetoprim/sulfametoxazol (SXT), ciprofloxacina (CIP) e gentamicina (CN) também foi avaliada, já que estes antibióticos são medicamentos utilizados comumente no tratamento empírico das infecções do trato urinário não complicado. A Figura 3.3 ilustra resultados dos testes de sensibilidade realizados. 43 Figura 3.3 Antibiograma realizado pelo método de difusão em ágar. Fonte, LAPIH 3.4 Detecção fenotípica de ESBL e AmpC Para a detecção fenotípica da produção de ESBL foi empregado o teste de Jarlier (1988) e as recomendações do CLSI 2011. No teste de Jarlier, o preparo da suspensão e o inóculo em placa Agar Muller-Hinton-OXOID são realizados da mesma maneira como no teste de susceptibilidade descrito anteriormente. Foi colocado no centro da placa um disco de amoxicilina/ ácido clavulânico (AMC 20/10 µg) e ao entorno do disco de AMC foram colocados discos de ceftazidima (CAZ 30 µg), cefotaxima (CTX 30 µg), cefepime (FEP 30 µg) e aztreonam (ATM 30 µg) a uma distância de 2 cm. Foi acrescentado o disco de cefoxitina (FOX 30 µg) para as possíveis estirpes produtoras da lactamase AmpC (Figura 3.4-A) As placas foram colocadas na estufa a 35 oC por 16 a 18 horas. Após a incubação foi realizada a leitura. A suspeita de produção de ESBL foi dada pela resistência ou diminuição dos halos de inibição para cefalosporinas de amplo espectro CTX, CAZ e ATM seguindo a recomendações do CLSI 2011 (Tabela 3.2) e pelo efeito sinérgico produzido entre as cefalosporinas de amplo espectro e/ou monobactâmicos (ATM) com o disco de amoxicilina/ácido clavulânico estrategicamente colocado, (Figura 3.4-B). 44 Tabela 3.2 Halos de inibição sugestivos de ESBL para E coli (CLSI 2011). Antibiótico Concentração Interpretação convencional dos halos Halos sugestivos de dos discos de inibição (mm) ESBL R I S Aztreonam 30 ug </=15 16-21 >/=22 </=27 mm Cefotaxima 30 ug </=14 15-22 >/=23 </=27 mm Ceftazidima 30 ug </=14 15-17 >/=18 </=22 mm A produção da lactamase tipo AmpC foi suspeitada pela sensibilidade intermediaria ou resistência à cefoxitina (FOX), amoxicilina/ácido clavulânico, e/ou cefalosporinas de terceira geração, junto com sensibilidade a cefepime (FEP). O aztreonam é um inibidor da lactamase tipo AmpC, de modo que interrompe a continuidade do halo de resistência à cefoxitina, sendo este um critério de suspeita de produção desta lactamase. É importante indicar que os isolados produtores de AmpC plasmidial apresentam colônias dispersas pelos bordos dos halos de inibição do aztreonam (Figura 3.4-C). A B C Figura 3.4 Detecção fenotípica de: ESBL (B) e AmpC (C). ATM, aztreonam; FOX, cefoxitina, CTX, cefoxitina; CAZ, ceftazidima, FEP, cefepime; AMC, amoxicilina/ácido clavulânico). Fonte, LAPIH 45 3.5 Quantificação da concentração minima inibitoria (CMI) A CMI ou MIC é a concentração mínima de uma antibiótico necessária para inibir o crescimento bacteriano de 105 UFC/µL de um microorganismo após a inoculação e incubação. Para a determinação da CMI, o preparo da suspensão e o inóculo em placa de Ágar Mueller-Hinton marca OXOID são realizados da mesma maneira como no teste de susceptibilidade descrito anteriormente. Usaram-se tiras de Etest BioMérieux para o diagnóstico in vitro, contendo os antibióticos cefotaxima e ceftazidima em diferentes gradientes de concentração (0,016 – 256 µg/mL). As tiras foram colocadas juntas na mesma placa de ágar para avaliação das cepas produtoras de ESBL e incubadas na estufa a 35 oC, por 16 a 18 horas. Após a incubação foi realizada a leitura da área de inibição elíptica dos antibióticos. Para a interpretação dos resultados, usaram-se as recomendações do CLSI 2011. Figura 3.5 Avaliação do CMI para cefotaxima (CT) e ceftazidima (TZ). Fonte, LAPIH. Para a ceftazidima, foram considerados resistentes aos resultados com valores de CMI igual ou maior a 16 ug/mL, intermediaria com variações de CMI acima 4 e abaixo de 16 µg/mL e sensível os valores de CMI menores ou iguais a 4 ug/mL. Para cefotaxima foram considerados resistentes aos resultados com valor de CMI igual ou maior a 4 ug/mL, intermediários com variações acima de 1 e abaixo de 4 ug/mL, e sensíveis os valores iguais ou menores que 1 ug/mL, como demonstrado na Figura 3.5 46 3.6 Extração e quantificação de DNA A extração de DNA foi realizada pelo método do tiocianato de guanidina (CaetanoAnolles e Gresshoff, 1997). Uma colônia de cada amostra fenotipicamente caracterizada como produtora de ESBL e/ou AmpC, proveniente de ágar Muller-Hinton, foi inoculada em 3 ml de caldo BHI (Brain Heart Infusion ) com agitação “overnight” a 37oC para o crescimento bacteriano. Ao segundo dia, as bactérias em caldo BHI foram transferidas para um microtubo e centrifugadas a 10.000 RPM por 10 minutos, desprezando-se o sobrenadante. Adicionou-se 1ml de NaCl 1M no microtubo, agitando-se no vórtex para ressuspender-se o “pellet”, centrifugou-se novamente eliminou-se o sobrenadante (este processo foi repetido por duas vezes). O pellet foi ressuspendido em 100 ul de tampão TE (TRIS-HCl 10 mM pH 8.0, EDTA 0,1 mM pH 8.0), adicionou-se 500uL de solução de guanidina e homogeneizou-se por inversão (mais ou menos 20 vezes). Após este procedimento, incubou-se no freezer por 5 minutos. Adicionou-se 500 uL de solução de Clorofórmio-Álcool-Isoamílico, agitou-se no vórtex até homogeneizar e obter-se uma solução leitosa. Centrifugou-se esta solução leitosa a 13000 RPM por 10 minutos. Retirou-se 750uL da parte superior da solução centrifugada e transferiu-se a um novo eppendorf que continha 380uL de isopropanolol. Os tubos foram deixados no freezer a -20 oC “overnight”. No terceiro dia, a solução foi centrifugada a 13.000 RMP por minuto e o sobrenadante desprezado. O DNA obtido localiza-se no fundo do eppendorf como um pequeno “pellet”. Seguiu-se a adição de 150 uL de álcool 70% e centrifugação nas mesmas condições, desprezando-se o sobrenadante (repetiu-se por 2 vezes). O último sobrenadante foi desprezado, permitindo-se que o “pellet” secasse naturalmente em temperatura ambiente no eppendorf. Como último passo, o “pellet” foi dissolvido em 100 uL de TE (TRIS-HCl 10 mM pH 8.0, EDTA 0,1 mM pH 8.0) e incubado em estufa ou banho maria a 37 oC por 3 horas. O DNA extraído foi finalmente acondicionado em freezer -20 oC. Realizou-se a quantificação do DNA extraído de todas as amostras, em espectrofotômetro “GeneQuant pro”, usando a cubeta 80-2103-69 e com diluição de amostra de 1/10, calibração (pathlength 5mm; unidades, ng/uL), obtendo-se a concentração e pureza do DNA de cada amostra. Após as leitura das concentrações de DNA fez-se estoque com uma concentração de 25ng em 5 uL (25ng/5uL). Um volume de 5uL, a partir do estoque de DNA, foi utilizado em cada reação de PCR. A leitura e a diluição do DNA para o estoque de cada amostra estão apresentadas na Tabela 3.3. 47 Tabela 3.3 Concentração e pureza do DNA das 35 cepas positivas fenotipicamente como produtoras de lactamases. CEPAS CONCENTRAÇÃO DNA (ng/ul) PUREZA ADN Absorvência 260/280 9241 9246 9247 31 87 73 9252 9264 9267 9269 9271 9276 9278 9279 9286 9292 9293 9307 9308 9309 9318 9319 9323 9328 9332 9334 9338 9348 9358 9360 9365 9371 9372 9379 9386 9389 9390 9397 27 25 65 58,5 106 30 30 33 57 100 34 99 48,5 54 72 105 66 51 60,5 42,5 35,5 40 83,5 64,5 52 39 114,5 31 37 29 108,5 116,5 Diluição de ADN Volumem Concentração DNA (uL) água MiliQ (uL) Volumem STOCK (25ng/5uL) 1,203 1,5 2,147 16,1 5,7 6,8 83,9 94,3 93,2 100,0 100,0 100,0 2 1,923 1,9 2,127 1,9 2 1,906 2,539 2,111 2,041 2,06 2,157 1,902 2,25 2 2,143 2,2 2,318 1,63 2,073 2,088 2 2,114 1,897 1,094 1,529 1,59 1,348 1,947 2,32 1,709 1,607 18,5 20,0 7,7 8,5 4,7 16,7 16,7 15,2 8,8 5,0 14,7 5,1 10,3 9,3 6,9 4,8 7,6 9,8 8,3 11,8 14,1 12,5 6,0 7,8 9,6 12,8 4,4 16,1 13,5 17,2 4,6 4,3 81,5 80,0 92,3 91,5 95,3 83,3 83,3 84,8 91,2 95,0 85,3 94,9 89,7 90,7 93,1 95,2 92,4 90,2 91,7 88,2 85,9 87,5 94,0 92,2 90,4 87,2 95,6 83,9 86,5 82,8 95,4 95,7 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 48 3.7 Reações de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) 3.7.1 Reação de PCR para classificação filogenética A reação da PCR (reação em cadeia da polimerase) foi realizada em um volume final de 25uL. As reações individuais foram compostas de: 12,5uL de READYMIXES SIGMA (Buffer 10X, 25mM de MgCl2, 0,2 mM DE dNTP, 0,75 U da enzima Taq polimerase), 15 pmol de cada iniciador, 5,5uL de água milliq e 25ng (5uL) de DNA obtido pelo método do tiocianato de Guanidina. As reações de PCR foram realizadas de forma individual para cada gene, usando o BIO-RAD T100TM Thermal cycler. Os iniciadores (“primers”) utilizados na classificação filogenética das UPEC estão apresentados na tabela 3.4. Tabela 3.4 Iniciadores utilizados na classificação filogenética de E. coli. 1 Sequência do iniciador ( 5’ 3’) GACGAACCAACGGTCAGGAT 2 TGCCGCCAGTACCAAAGACA 1 TGAAGTGTCAGGAGACGCTG Genes chuA Tamanho (pb) Referência Bibliográfica 279 YjaA 211 2 ATGGAGAATGCGTTCCTCAAC 1 GAGTAATGTCGGGGCATTCA 2 CGCGCCAACAAAGTATTACG TspE4C2 CLERMONT. et al, 2002 152 As condições de PCR foram: Desnaturação inicial, 1 ciclo de 94oC por 5 minutos; 30 ciclos: desnaturação a 94oC por 30 segundos; anelamento a 55oC por 30 segundos; extensão a 72 oC por 30 segundos; seguidos de uma extensão final a 72 oC por 7 minutos. Dois produtos (amostras) positivas para cada gene, chuA, yjaA, e TspE4C2 foram purificados com GFX e sequenciados na Plataforma DNA- PDTIS do Laboratório de Sequenciamento e Bioinformática do IOC- FIOCRUZ. Foi realizado PCR para o gene chuA a todas as cepas positivas fenotipicamente para lactamases, o que permite distinguir entre os grupos B2 ou D. Nas cepas positivas para chuA, foi realizada PCR para o gene yjaA, poisa presença deste gene permite classificar as cepas positivas dentro do grupo filogenético B2 e as cepas negativas dentro do grupo filogenético D. Nas amostras negativas para chuA foi realizada PCR para o gene TspE4.C2, 49 pois a presença deste fragmento de DNA permite classificar as cepas dentro do grupo filogenético B1 e a sua ausência permite classificá-las no grupo A. (Tabela 15) 3.7.2. Detecção de blaTEM, blaSHV, blaCTX-M., blaCTX-M.-15 A reação da PCR foi realizada em um volume final de 25uL. As reações individuais foram compostas de: Tampão de reação 1X (5uL); 1,5mM de MgCl2 (1,5uL); 0,25mM de dNTP (1uL); 2,5U da enzima Taq polimerase (0,25uL); 20 pmol (1uL) de cada iniciador; 10,25uL de água MilliQ e 25ng (5uL) de DNA. As reações de PCR foram realizadas de forma individual para cada gene, usando o BIO-RAD T100TM Thermal cycler. Os iniciadores “primers” utilizados na amplificação das lactamases tipo ESBL (blaTEM, blaSHV, blaCTX-M., blaCTX-M.-15) estão apresentados na tabela 3.5; e as condições de PCR para cada gene estão indicadas na tabela 3.6 Tabela 3.5 Iniciadores utilizados nas reações de PCR para lactamases tipo ESBL - Genes lactamases Sequência do iniciador Tamanho Referência ( 5’ 3’) (pb) Bibliográfica F ATGTGCAGYAACCAGTAARGTKATGG CTX-M blaCTX-M 593 pb R TGGGTRAARTARGTSACCAGAAYCAGCGG SHV TEM CTX-M-15 blaSHV blaTEM blaCTX-M15 F TTATCTCCCTGTTAGCCACC 797 pb R GATTTGCTGATTTCGCTCGG F GCGGAACCCCTATTTG 859 pb R ACCAATGCTTAATCAGTGAG F GGAATCTGACGCTGGGTAAA R AGAATAAGGAATCCCATGGTT 50 875 pb MULVEY et al., 2003 HASMAN et al, 2005 HASMAN et al, 2005 MENDONÇA et al, 2007 Tabela 3.6 Condições de PCR para amplificação dos genes blaTEM, blaSHV, blaCTX-M,, blaCTX-M-15, Gene Condições de PCR. blaCTX-M Desnaturação inicial: 94ºC / 5 minutos. 30 ciclos: desnaturação (94ºC / 45 seg), anelamento (61ºC / 45 seg) e extensão (72ºC / 45 seg) Extensão final (72ºC / 10 min) MULVEY et al., 2003 blaCTX-M-15 Desnaturação inicial: 94ºC / 5 minutos 30 ciclos: desnaturação (94ºC / 45 seg), anelamento (50ºC / 45 seg) e extensão (72ºC / 45 seg) Extensão final (72ºC / 5 min) HASMAN et al., 2005 blaSHV Desnaturação inicial: 94ºC / 5 minutos 35 ciclos: desnaturação (94ºC / 1 min), anelamento (51ºC / 1 min) e extensão (72ºC / 1 min) Extensão final (72ºC / 10 min) HASMAN et al., 2005 blaTEM Desnaturação inicial: 94ºC / 5 minutos 35 ciclos: desnaturação (94ºC / 1 min), anelamento (53ºC / 1 min) e extensão (72ºC / 1 min) Extensão final (72ºC / 10 min) HASMAN et al., 2005 Referência Bibliográfica Os produtos positivos dos genes blaCTX-M, blaCTX-M.-15 foram purificados com Kit GFX (GE) e sequenciados na Plataforma DNA- PDTIS do Laboratório de Sequenciamento e Bioinformática do IOC- FIOCRUZ. 3.7.3 Detecção de blaAMPC A reação da PCR foi realizada em um volume final de 25uL. As reações individuais foram compostas de: 12,5uL de READYMIXES SIGMA (Buffer 10X, 25mM de MgCl2, 0,2 mM DE dNTP, 0,75 U da enzima Taq polimerase); 5,5uL de água MilliQ; 25ng (5uL) de DNA obtido pelo método do tiocianato de guanidina; 6 pmol dos primers MOXM, CITM, DHAM; 5 pmol dos primers AACM, EBCM; e 4 pmol do primer FOXM. As reações de PCR foram realizadas de forma individual para cada gene, usando o BIO-RAD T100TM Thermal cycler. Os iniciadores utilizados na amplificação da de lactamases tipo AmpC (blaAMPC) estão apresentados na tabela 3.7 51 Tabela 3.7 Iniciadores utilizados nas reações de PCR para lactamases tipo AmpC lactamase Enzima MOX-1, MOX-2, CMY-1, CMY-8 a CMY-11 LAT-1 a LAT-4, CMY-2 CMY-7 BIL-1 Primers MOXMF Sequência do iniciador Tamanho Referência ( 5’ 3’) (pb) Bibliográfica GCT GCT CAA GGA GCA CAG GAT 520 MOXMR CAC ATT GAC ATA GGT GTG GTG C CITMF TGG CCA GAA CTG ACA GGC AAA 462 CITMR TTT CTC CTG AAC GTG GCT GGC DHAMF AAC TTT CAC AGG TGT GCT GGG T DHA-1, DHA-2 405 DHAMR CCG TAC GCA TAC TGG CTT TGC ACCMF AAC AGC CTC AGC AGC CGG TTA 2002. AMPC ACC 346 ACCMR TTC GCC GCA ATC ATC CCT AGC EBCMF TCG GTA AAG CCG ATG TTG CGG MIR-1 ACT-1 FOX-1 a FOX-5b Perez & Hanson, 302 EBCMR CTT CCA CTG CGG CTG CCA GTT FOXMF AAC ATG GGG TAT CAG GGA GAT G 190 FOXMR CAA AGC GCG TAA CCG GAT TGG As condições de PCR para amplificação do gene blaAMPC foram: 1 ciclo de 94oC por 3 minutos; 25 ciclos térmicos: 94oC por 30 segundos; 64oC por 30 segundos; 72 oC por 60 segundos; 1 ciclo de 72oC por 7 minutos para a extensão final. Todos os produtos positivos dos genes blaAMPC foram purificados com Kit GFX (GE) e sequenciados na Plataforma DNA- PDTIS do Laboratório de Sequenciamento e Bioinformática do IOC- FIOCRUZ. 52 3.7.4 Eletroforese em gel de agarose. Todos os produtos de PCR foram analisados em gel de agarose. Os géis foram preparados dissolvendo-se a agarose em um tampão TBE 0,4X de modo a obter-se uma concentração de 1,5%. Foram utilizados 6uL do produto amplificado de cada gene para esta análise. A eletroforese ocorreu a 90 V por 70 minutos em tampão TBE 0,4X. Usou-se peso molecular de 100pb DNA lader (GIBCO BRL Life Technologies). Os géis foram corados em brometo de etídio (0,5ug/ml) durante 15 minutos e descorados em água por mais 15 minutos, visualizados sob luz ultravioleta e fotografados, utilizando-se o equipamento Image Quant 300-GE- Healthcare. 3.8 Análise do polimorfismo do DNA genômico. Com o objetivo de se avaliar o polimorfismo genético das amostras de E. coli uropatogênica através de eletroforese em campo pulsado (Pulsed-Field Gel Electrophoresis – PFGE), foram selecionadas todas as amostras com um padrão fenotípico de produção de lactamases tipo ESBL e AmpC. Foi processado e analisado um total de 35 amostras. Os isolados foram semeados em tubos com ágar nutriente inclinado e incubados a 37oC por 24 horas para crescimento bacteriano. Após a incubação, foi preparada uma suspensão bacteriana, adicionando 1 mL de BSC (EDTA 0,5M pH 8.0; TRIS-HCI 1M pH 8) até alcançar-se o padrão de turvação 3 da escala de Mac Farland. Em seguida, 200uL da suspensão foram transferidos para microtubos contendo 5uL de proteinase K (50mg/uL). Foram adicionados à suspensão de células 200uL de agarose 1% (0,1g de agarose low melting, 0,5 mL de SDS 1%; 9,4 mL de TE [TRIS-HCl 10 mM pH 8.0, EDTA 0,1 mM Ph 8.0]). Esta mistura é homogeneizada e distribuída em molde. Após a solidificação dos blocos de agarose contendo DNA bacteriano (insertos), os mesmos foram transferidos para tubos falcon contendo 2 ml de solução de lise (NaCl 1M, TRIS-HCl 6mM pH 7.6, EDTA 100 mM pH 8.0, BRIJ-58 0,5%, desoxicolato 0,2%, sarcosina 0,5%, lisozima 1mg/mL) e 5 uL de proteinase K (50mg/uL) e incubados em banho maria a 50oC por 2 horas. Após a incubação, os blocos foram lavados 3 vezes com 10mL de água MilliQ a 50oC por 15 minutos e uma vez com 8mL de tampão TE a 50oC por 15 minutos. Finalmente os insertos foram deixados nos tubos falcon com 2mL de TE e guardados na geladeira. 53 Os blocos foram transferidos para microtubos contendo solução de tampão da enzima XbaI (90 uL de água MilliQ e 10 uL de solução de tampão da enzima) e incubada a 4 oC por 30 minutos. Posteriormente, os insertos foram tratados com enzima de restrição XbaI (40U) (Roche / Fermentas) por 3 horas a 37oC. Os fragmentos de restrição foram separados em gel de agarose a 1,1% preparado em TBE 0,4X (TRIS 44,5 mM ácido bórico 44,5 mM, EDTA 1 mM pH 8.3), através de eletroforese de campo pulsado, utilizando-se o sistema CHEFFDRIII (Bio-Rad, Richmond, EUA). Foram utilizadas as seguintes condições para a eletroforese: tempo de pulso crescente 0,5 a 35 segundos, por 16 horas a 6V/cm, na temperatura de 14oC. Foram utilizados padrões de peso molecular Lambda DNA Leader pulse (50-1000 Kb – Sigma) em cada corrida Após as corridas, os géis foram corados com brometo de etídio, visualizados sob luz ultravioleta e fotografados, utilizando-se ferramentas de fotodocumentação Image Master VDS (Pharmacia Biotech). As análises dos géis e a confecção dos dendrogramas foram realizadas com o software GelCompar II (Applied Maths, KortrijK, Belgium). Os agrupamentos foram realizados utilizando o coeficiente de Dice (Opt:1,5%) (Tol:1,5% 1.5%). 3.9 Análise dos dados Os dados obtidos nos experimentos e nos testes realizados neste trabalho foram processados e analisados com auxilio do software Epi Info versão 3.5.1 (Center for Desease Control and Prevention, Atlanta, EUA) e Microsoft Office Excel 2007 (Microsoft). 54 4. RESULTADOS 4.1 Análise de dados dos pacientes Foram coletados os dados dos 156 pacientes, os quais estavam registrados nos informes diários do Laboratório de Microbiologia do Instituto de Higiene da cidade de Quito. Os dados coletados de cada paciente foram: sexo, idade e origem (comunitária ou hospitalar). As amostras de E. coli uropatogênicas obtidas no exame de cultura de urina destes pacientes foram estocadas no laboratório do INHMT-LIP. As amostras de origem hospitalar são provenientes de sete hospitais, todos da cidade de Quito, com um total de 23,1% (36/156) e a maioria é proveniente do Hospital Eugenio Espejo, com 58,3% (21/36). As amostras comunitárias são provenientes das Unidades de Saúde Pública, e representam 76,9% (120/156) do total da amostragem. Na Tabela 4.1 temos a origem das amostras. Tabela 4.1. Distribuição da origem das cepas de E. coli uropatogênicas 36 (23,1) Hospitais Hospital Eugenio Espejo 21 Hospital Gineco-Obstétrico Isidro Ayora 2 Hospital Gonzalo Gonzáles 3 Hospital San Lazaro 4 Hospital Regimiento Quito No1 - Policia 2 Hospital Militar 2 Hospital de Nanegalito 1 Hospital Jose Maria Velasco Ibarra 1 120 (76,9) Comunitárias TOTAL 156 As infecções urinárias afetam principalmente as mulheres, classificando-se as amostras analisadas por sexo, observou-se que 87,8% (137/156) pertenciam a mulheres, 12,2% (19/156) eram de homens. Quanto aos grupos etários, a idade compreendida entre os 15 e 49 anos foi mais representada com 52,6% (82/156). Nos homens, a ITU tem relação com a idade avançada e com alterações da fisiologia das vias urinárias. Observamos casos de ITU nos pacientes em pessoas do sexo masculino 55 acima dos 50 anos com 6,4% (10/156). Na Tabela 4.2 temos a distribuição dos casos de ITU por idade e sexo. Idade <1 1 a 14 15 a 49 > 50 Total Tabela 4.2 Distribuição da ITU por grupos etários Homens % Mulheres % Total 3 (1,9) 8 (5,1) 11 2 (1,3) 6 (3,8) 8 4 (2,6) 78 (50,0) 82 10 (6,4) 45 (28,8) 55 19 (12,2%) 137 (87,8) 156 % (7,1) (5,1) (52,6) (35,3) (100) 4.2 Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos Quanto aos testes de susceptibilidade, estes foram realizados nas 156 amostras. Os resultados possibilitaram estimar o percentual de susceptibilidade das E. coli uropatogênicas aos antibióticos lactâmicos. Estes dados contribuem para o estabelecimento de critérios para escolha do antibiótico apropriado para o tratamento empírico nas infecções do trato urinário. Os resultados sugerem, na amostra estudada, uma alta taxa de resistência para ampicilina, com 87,8% (137/156), para trimetroprim/sulfametoxazol, com 77,5% (121/156), para ciprofloxacina, 50,6% (79/156) e para cefalotina, com 48,1% (75/156), o que sugere que estes antibióticos não devam ser utilizados, na região onde foram obtidas as amostras, como tratamento empírico das ITU. As amostras com resistência intermediária foram incluídas como resistentes. Tabela 4.3 Tabela 4.3 Frequência de resistência nas 156 cepas de E. coli uropatogênica. Resistência 51 137 23 75 12 30 12 20 79 0 35 121 Antibiótico Amoxicilina/Ácido clavulânico Ampicilina Aztreonam Cefalotina Cefepime Cefotaxima Cefoxitina Ceftazidima Ciprofloxacina Ertapenem Gentamicina Trimetroprim/Sulfametoxazol 56 (%) (32,6) (87,8) (14,7) (48,1) (7,7) (19,2) (7,6) (12,8) (50,6) 0 (22,4) (77,5) Foi realizado o perfil de co-resistência entre antibióticos lactâmicos, ciprofloxacina, gentamicina e trimetroprim/sulfametoxazol, observando-se um perfil de resistência mista em várias cepas, principalmente na resistência aos antibióticos lactâmicos/SXT, com 30,8% (48/156), aos lactâmicos/SXT/CIP, com 22,4% (35/156) e aos lactâmicos/SXT/CN/CIP, com 14,7% (23/156), como demonstrado naTabela 4.4. Tabela 4.4 Perfil de co-resistência aos antibióticos nos 156 isolados de Escherichia coli No cepas Origem Perfil co-resistência antibiótica N (%) Hospital Comunitário lactâmicos 14 (9,0) 1 13 lactâmicos-CIP 9 (5,8) 3 6 lactâmicos-CN 2 (1,3) 0 2 lactâmicos -CN-CIP 4 (2,6) 2 2 lactâmicos -SXT 48 (30,8) 7 41 lactâmicos -SXT-CIP 35 (22,4) 12 23 lactâmicos -SXT-CN 5 (3,2) 1 4 23 (14,7) 9 14 CIP 3 (1,9) 0 3 SXT 7 (4,5) 0 7 SXT-CIP 5 (3,2) 1 4 SXT-CN-CIP 1 (0,6) 0 1 lactâmicos -SXT-CN-CIP 156 36 120 Total CIP, ciprofloxacina; CN, gentamicina; SXT, trimetroprim/Sulfametoxazol A resistência foi classificada pela origem das amostras, encontrando-se uma frequência maior de resistência para antibióticos lactâmicos, SXT e ciprofloxacina nas amostras provenientes amoxicilina/acido dos hospitais. clavulânico, Entretanto, cefalosporinas antibióticos de como ampicilina, primeira geração, trimetoprim/sulfametoxazol e ciprofloxacina apresentaram taxas deresistência muito altas tanto nos hospitais e quanto na comunidade. Quanto aos resultados dos testes de significância, há diferença estatística significativa entre as freqüências de resistência entre as amostras hospitalares e comunitárias, principalmente na resistência à amoxicilina/acido clavulânico, à cefalotina, à cefotaxima, à ceftazidima e à ciprofloxacina. Todas as amostras hospitalares e comunitárias foram sensíveis para o carbapenêmico testado (ertapenem). Na Tabela 4.5 temos 57 a resistência aos antibióticos testados, nos níveis hospitalar e comunitário e a significância estatística da comparação. Tabela 4.5 Frequência da resistência antibiótica nos hospitais e na comunidade Hospital (n=36) Resistencia (%) 20 (55,6) Comunidade (n-=120) Resistencia (%) 31 (25,8) Ampicilina 34 (94,4) Aztreonam Total Valor de p 51 0.000855 103 (85,5) 137 0.2734 10 (27,8) 13 (10,8) 23 0.0119 Cefalotina 25 (69,4) 50 (41,7) 75 0.0034 Cefepime 6 (16,7) 6 (5,0) 12 0.0515 Cefotaxima 13 (36,1) 17 (14,2) 30 0.0034 Cefoxitina 4 (11,1) 8 (6,7) 12 0.6023 Ceftazidima 9 (25,0) 11 (9,2) 20 0.0272 Ciprofloxacina 27 (75) 52 (43,3) 79 0.000892 0 0 0 - Gentamicina 12 (33,3) 23 (19,2) 35 0.07487 Trimetroprim/Sulfametoxazol 30 (83,3) 91 (75,8) 121 0.3441 Antibiótico Amoxicilina/Ácido clavulânico Ertapenem 4.3 Deteção fenotipica de ESBL e AmpC Das 156 cepas submetidas ao teste fenotípico, 22,4% (35/156) apresentaram um perfil de resistência com possível produção de -lactamases de tipo ESBL e/ou AmpC. Na triagem fenotípica geral foram encontradas 14,7% (23/156) positivas para ESBL, 3,2% (5/156) positivas para AmpC e 4,5% (7/156) das amostras apresentaram co-resistência fenotípica para as duas -lactamases estudadas. O valor de p mostra significância estatística em relação à maior freqüência de positividade fenotípica para produção de -lactamases nas amostras hospitalares (p = 0,0249). A Tabela 4.6 indica a porcentagem de cepas produtoras de ESBL nos hospitais e na comunidade. 58 Tabela 4.6 Frequência fenotípica das -lactamases nos hospitais e na comunidade Hospitais Comunidade Total Valor de -lactamases n=36 (%) n=120 (%) n=156 (%) p ESBL 9 (25,0) 14 (11,7) 23 (14,7) 0.0478 AmpC 0 (0,0) 5 (4,2) 5 (3,2) 0.485 ESBL/AmpC 4 (11,1) 3 (2,5) 7 (4,5) 0.0836 Total 13 (36,1) 22 (18,3) 35 (22,4) 0.0249 Foi testada a resistência nas cepas fenotipicamente produtoras de ESBL, observandose os seguintes resultados: 40% (12/30) de resistência para cefepime; 100% (30/30) para cefotaxima; 66,7% (20/30) para ceftazidima; 76,7% (23/30) para aztreonam; 23,3% (7/30) para cefoxitina; 83% (25/35) para amoxicilina/ácido clavulânico; 100% (30/30) para ampicilina; 83,3% (25/30) para cefalotina; 90% (27/30) para trimetoprim/Sulfametoxazol; 43,3% (13/30) para gentamicina e 90% (27/30) para ciprofloxacina. É importante destacar que todas as cepas produtoras de ESBL foram sensíveis para o carbapenêmico testado (ertapenem). Em resumo, os maiores percentuais de resistência foram observados para ampicilina, cefalotina, cefotaxima, amoxicilina/ácido clavulânico, trimetoprim/sulfametoxazol e ciprofloxacina, como pode ser visto naFigura 4.1 Frequência de resistência e sensibilidade entre as 30 cepas produtoras de ESBL 10 SXT 90,0 CN 43,3 10 CIP Antibióticos ERT 90,0 100 0,0 16,7 CF AM 83,3 0 100,0 16,7 AMC FOX 66,7 0 100,0 FEP 40,0 0,0 Resistentes 76,7 33,3 CAZ Sensíveis 83,3 76,7 23,3 23,3 ATM CTX 56,7 20,0 40,0 60 60,0 80,0 100,0 120,0 Frequência (%) Figura 4.1 Frequência de resistência em cepas produtoras de ESBL FEP, cefepime; CTX, cefotaxima; CAZ, ceftazidima; ATM, aztreonam; FOX, cefoxitina; AM, ampicilina; CF, cefalotina; ERT, ertapenem; AMC, amoxicilina/ácido clavulânico; SXT, trimetoprim/Sulfametoxazol; CIP, ciprofloxacina; CN, gentamicina. 59 Quanto à resistência nas cepas que apresentaram produção fenotípica de AmpC temos os seguintes resultados: 8% (1/12) para cefepime; 58,3% (7/12) para cefotaxima; 50% (6/12) para ceftazidima; 58,3% (7/12) para aztreonam; 100% (12/12) para cefoxitina; 91,7% (11/12) para amoxicilina/ácido clavulânico; 100% (12/12) para ampicilina; 100% (12/12) para cefalotina; 91,7% (11/12) para trimetoprim/Sulfametoxazol, 25% (3/12) para gentamicina e, 100% (12/12) para ciprofloxacina. Todas as cepas produtoras de AmpC foram sensíveis ao carbapenêmico testado (ertapenem). Resumindo, podemos observar maior resistência para cefoxitina, ampicilina, cefalotina, amoxicilina/ácido clavulânico, trimetoprim/sulfametoxazol e ciprofloxacina, como demonstrado na Figura 4.2. Frequência de resistência e sensibilidade das 12 cepas produtoras de AmpC 8,3 SXT 91,7 Antibióticos CN 25,0 CIP 0,0 ERT 0,0 CF 0,0 AM 0,0 100,0 100,0 100,0 100,0 8,3 AMC FOX 75,0 Sensíveis 91,7 0,0 Resistentes 100,0 41,7 ATM 58,3 50,0 50,0 CAZ 41,7 CTX FEP 58,3 91,7 8,3 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 Frequência (%) Figura 4.2 Frequência de resistência nas cepas produtoras de -lactamases tipo AmpC FEP, cefepime; CTX, cefotaxima; CAZ, ceftazidima; ATM, aztreonam; FOX, cefoxitina; AM, ampicilina; CF, cefalotina; ERT, ertapenem; AMC, amoxicilina/ácido clavulânico; SXT, trimetoprim/Sulfametoxazol; CIP, ciprofloxacina; CN, gentamicina. 60 4.4 Concentração minima inibitória - CMI A CMI foi determinada para todas as cepas que apresentaram resistência à cefotaxima e à ceftazidima. Para a interpretação dos resultados usaram-se as recomendações do CLSI 2011. Os resultados da CMI confirmam a resistência às cefalosporina de amplo espectro como a cefotaxima e a ceftazidima. A CMI para ceftazidima aponta para os seguintes resultados 50% (10/20) resistentes, 40% (8/20) sensibilidade intermediária e 10% (2/20) com sensibilidade ao antibiótico. Os resultados para cefotaxima foram 86,7% (26/30) e 13,3% (4/30) para resistência e sensibilidade intermediária, respectivamente. Na Tabela 4.7 estão apresentados os resultados do CMI para os dois antibióticos. Tabela 4.7 Resultados da CMI para ceftazidima (TZ) e cefotaxima (CT) CMI Cefotaxima (CT) ug/mL n (%) 1,5 1 (3,3) Ceftazidima (TZ) ug/mL n (%) 2 1 (5) 2 2 (6,7) 3 1 (5) 3 1 (3,3) 6 3 (15) 4 3 (10,0) 8 3 (15) 8 1 (3,3) 12 2 (10) 12 3 (10,0) 16 2 (10) 32 1 (3,3) 24 4 (20) 48 1 (3,3) 32 4 (20) >256 Total 17 (56,6) 30 >256 0 20 Na análise da CMI para cefotaxima é importante destacar que 56,6% (17/30) têm resistência, com CMI >256 ug/mL e 43,4% (13/30) apresentaram sensibilidade intermediária ou resistência, com faixas de CMI que variaram entre >1 e <48 ug/mL. Nenhuma amostra foi sensível. No análise para ceftazidima, nenhuma amostra apresentou resistência com CMI >256 ug/Ml; 90% (18/20) das amostras apresentaram sensibilidade intermediária ou resistência, com faixas que variaram entre >4 e < 32 ug/mL. Observou-se ainda que 10% (2/20) das amostras apresentaram sensibilidade, com leituras de CMI entre 2 e 3 ug/mL. 61 4.5 Deteção genotipica de ESBL/AmpC e classificação filogenética 4.5.1 Caracterização dos genes de resistência A detecção dos genes de resistência em E. coli foi realizada em 35 isolados identificados através de testes fenotípicos como produtores de enzimas -lactamases tipo ESBL e/ou AmpC. A metodologia empregada foi a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) para os genes que codificam as principais enzimas (TEM, SHV, CTXM, AMPC). Os produtos amplificados correspondem aos genes blaTEM, blaSHV, blaCTX-M, blaAMPC. Os resultados da análise genética foram os seguintes: 68,6%(24/35) positivas para SHV, 37,1%(13/35) positivas para TEM, 60%(21/35) positivas para CTX-M e 11,4%(4/35) para AmpC. Na Tabela 4.8 temos a frequência das -lactamases. Tabela 4.8 Frequência dos genes produtores de -lactamases nas 35 cepas positivas fenotipicamente ESBL Cepas positivas blaCTX-M n (%) 21 (60,0) blaTEM n (%) 13 (37,1) AmpC blaSHV n (%) 24 (68,6) blaAmpC n (%) 4 (11,4) As cepas portadoras de genes de resistência tipo ESBL e/ou AmpC foram distribuídas pelo origem, observando-se que nas amostras hospitalares estão presentes maiores porcentagens de genes resistência. Os valores de p apontam diferenças estatísticas significativas nas freqüências de produção de -lactamases entre as amostras hospitalares e comunitárias (Tabela 4.9). Tabela 4.9 Distribuição genotípica das -lactamases pela origem das cepas -lactamases Hospitais (n=36) n (%) blaAmpC blaCTX-M blaSHV blaTEM Total 2 (5,6) 10 (27,8) 10 (27,8) 3 (8,3) 25 (69,4) Comunidade (n=120) n (%) 2 (1,7) 11 (9,2) 14 (11,7) 10 (8,3) 37 (30,6) 62 Total Valor de p 4 21 24 13 0.0096 0.0188 0.7310 0.000033 A caracterização de dois ou mais genes codificadores de -lactamases de amplo espectro foi observada na maioria das amostras, com maior produção concomitante das lactamases CTX-M e SHV, com freqüência de 34,3% (12/28). Foi encontrada produção concomitante de -lactamases tipo ESBL e AmpC em 4 cepas. Na Tabela 4.10 estão descritos os perfis de produção concomitante de -lactamases. Tabela 4.10 Perfis de genes de resistência nas 35 cepas produtoras de lactamases -lactamases tipo ESBL n (%) blaCTX-M 2 (5,7) blaCTX-M, blaSHV 12 (34,3) blaCTX-M, blaSHV, blaTEM 4 (11,4) blaCTX-M, blaTEM 3 (8,6) blaSHV 2 (5,7) blaSHV, blaTEM 3 (8,7) blaTEM 2 (5,7) blaAmpC, blaSHV 3 (8,6) blaAmpC, blaTEM 1 (2,9) NÃO ESBL/AMPC 3 (8,6) Total 35 Entre os 35 isolados que apresentaram positividade fenotípica para -lactamases tipo ESBL e/ou AmpC, em 91,4% (33/35) foram identificados genes codificadores de lactamases, sendo e 8,6% (3/35) negativos. Isto sugere que outros mecanismos de resistência podem estar presentes nestas três cepas que foram negativas para genes produtores de lactamases. Devido à importância mundial atual, as 21 amostras que apresentaram positividade para blaCTX-M foram submetidas à PCRusando-se primers específicos para blaCTX-M-15, obtendo-se resultados positivos em 80,9% (17/21) das cepas. 63 Todos os produtos positivos para blaCTX-M, blaCTX-M-15 e blaAMPC foram purificados com Kit GFX (GE) e enviados à Plataforma DNA-PDTIS do Laboratório de Sequenciamento e Bioinformática do IOC-FIOCRUZ. O resultado de sequênciamento para os genes blaCTX-M, blaCTX-M-15 e blaAmpC estão apresentados na Tabela 4.11 Tabela 4.11 Resultados de sequênciamento blaCTX-M, blaCTX-M-15 blaAmpC CTX-M (n=21) blaCTX-M-15 n (%) Cepas positivas 17 (80,9) AmpC (n=4) blaCTX-M-14 n (%) blaCTX-M-2 n (%) CMY-2 n (%) 3 (14,3) 1 (4,8) 4 (100) O sequênciamento para os genes blaCTX-M revelou que 80,9%(17/21) foi caracterizado como blaCTX-M-15; 14,3%(3/21) como blaCTX-M-14, e 4,8%(1/21) como blaCTX-M-2. Em relação ao blaAMPC, 100% (4/4) foi caracterizado como pertencente à classe CMY-2. 4.5.2 Classificação filogenética. A classificação filogenética de E. coli foi realizada nos 35 isolados identificados como produtores de -lactamases tipo ESBL e AmpC, através de PCR para os genes chuA, yjaA e TspE4C2. A presença ou ausência destes genes define o grupo filogenético ao qual pertence cada cepa, como foi descrito anteriormente em Matériais e Métodos. A Tabela 4.12 contém os resultados da classificação filogenética de cada uma das cepas de acordo com a presença ou ausência dos genes analisados. 64 Tabela 4.12 Classificação filogenética das 35 cepas produtoras de lactamases CEPA 9241 9246 9247 9252 9264 9267 9269 9271 9276 9278 9279 9286 9292 9293 9307 9308 9309 9318 9319 9323 9328 9332 9334 9338 9348 9358 9360 9365 9371 9372 9379 9386 9389 9390 9397 chuA + + + + + + + + + + + + + + + + + Genes yjaA TspE4.C2 + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - 65 Grupo Filogenético A A B1 A B1 B2 B2 B2 B2 A B2 A B1 A B2 B1 D B2 D B2 B2 B1 B1 A B2 B2 A B2 D D A B1 A A D Os resultados da classificação filogenética de E coli demonstra maior frequência do grupo B2 com 34,3% (12/35), seguidos do grupo A com 31,4% (11/35), do grupo B1 com 20% (7/35) e do grupo D com 14,3% (5/35). Tabela 4.13. Tabela 4.13 Distribuição dos grupos filogenéticos das 35 cepas de E coli uropatogênicas produtora de -lactamases Grupo Filogenético A n (%) B1 n (%) B2 n (%) D n (%) Total (n=35) 11 (31,4) 7 (20,0) 12 (34,3) 5 (14,3) Os grupos filogenêticos foram classificados de acordo com a origem, observando-se que os quatro grupos estão presentes tanto no ambiente hospitalar quanto no comunitário, com predominância dos grupos A na area hospitalar (46,2%) e B2 na área comunitária (40,9%). Tabela 4.14 Tabela 4.14 Distribuição dos grupos filogenéticos das 35 cepas produtoras de -lactamases na comunidade e nos hospitais Hospital Comunidade n(%) n(%) A 6 (46,2) 5 (22,7) 11 B1 2 (15,4) 5 (22,7) 7 B2 3 (23,1) 9 (40,9) 12 D 2 (15,3) 3 (13,6) 5 Total 13 22 35 Grupo filogenêtico Total A correlação entre o perfil dos determinantes genéticos de resistência blaTEM, blaSHV, blaCTX-M, blaAMPC e os grupos filogenéticos de E. coli estão apresentadas na Tabela 4.15. Observou-se que cepas com produção concomitante de -lactamases CTX-M e SHV pertencem em sua maioria aos grupos filogenêticos A (36,4% [4/11]) e B2 (41,7% [5/11]). 66 Tabela 4.15 Relação do perfil dos determinantes de resistência blaTEM, blaSHV, blaCTX-M, blaAmpC com os grupos filogenéticos. Grupos filogenêticos -lactamases Total blaCTX-M A n (%) 1 (9,1) B1 n (%) 1 (14,3) B2 n (%) - D n (%) - blaCTX-M, blaSHV 4 (36,4) 1 (14,3) 5 (41,7) 2 (40) 12 blaCTX-M, blaSHV, blaTEM 2 (18,2) 0 2 (16,7) - 4 blaCTX-M, blaTEM 1 (9,1) 1 (14,3) - 1 (20) 3 blaSHV - - 1 (8,3) 1 (20) 2 blaSHV, blaTEM - - 2 (16,7) 1 (20) 3 blaTEM - 2 (28,6) - - 2 blaAmpC, blaSHV 2 (18,2) - 1 (8,3) - 3 blaAmpC, blaTEM - - 1 (8,3) - 1 NÃO ESBL/AmpC 1 (9,1) 2 (28,6) - - 3 Total 11 7 12 5 35 2 Em relação à produção de CTX-M pelos diferentes grupos filogenéticos, temos maior produção desta enzima nos grupos B2 e A (Tabela 4.16). Tabela 4.16 Distribuição das lactamases de acordo com os grupos filogenéticos Grupo Filogenêtico CTX-M-15 n (%) CTXM14 n (%) CTX-M-2 n (%) TEM n (%) SHV n (%) CMY-2 n (%) A 6 (35,3) 2 (75,0) - 3 (23,1) 8 (33,3) 2 (50,0) B1 1 (5,9) 1 (25,0) 1 (100,0) 3 (23,1) 1 (4,2) - B2 7 (41,2) - - 5 (38,4) 11 (45,8) 2 (50,0) D 3 (17,6) - - 2 (15,4) 4 (16,7) - Total 17 3 1 13 24 4 67 4.6 Análise do polimorfismo do DNA genômico A eletroforese em campo pulsado (PFGE) é reconhecidamente uma importante ferramenta para análise de genomas bacterianos e para o estudo da diversidade entre cepas de uma mesma espécie. Foram selecionadas as 35 cepas de E. coli uropatogênica que apresentaram produção fenotípica de -lactamases, para análise de polimorfismos genéticos, procurando clones comuns. O ensaio de PFGE para estas amostras gerou perfis nítidos (Figura 5.4), o que permitiu fazer análises de possíveis similaridades genéticas. A análise do dendrograma (Figura 5.5) revela um alto grau de polimorfismos entre as cepas estudadas. A análise permite identificar claramente quatro clones predominantes. As cepas que pertencem aos mesmos grupos filogenêticos (A, B1, B2, D) formam agrupamentos clonais muito próximos. Existe também agregação dos isolados bacterianos de acordo com a origem, já que estão formando agrupamentos clonais relacionados, seja hospitalar ou comunitário. Dezessete genótipos foram caracterizados com similaridade mínima acima de 83% entre os perfis gerados no dendrograma e dois genótipos foram caracterizados com similaridade de 96.3%, sendo estas duas últimas amostras provenientes de um mesmo hospital (H3) e com um perfil de resistência similar. Quanto aos isolados produtores de ESBL é interessante observar que os genótipos produtores da enzima CTX-M-15 estão agrupados em três grandes clones, sendo um deles com grau de similaridade de 85,2%, pertencentes ao grupo filogenético B2 e de diferente origem (hospitalar ou comunitário). Este clone também apresenta co-produção com outras lactamases como SHV e TEM. Figura 4.3 Gel com perfis de eletroforese em campo pulsado (PFGE) das cepas de E. coli uropatogênica 68 C F 20 SHV TEM - - 9279 B2 C F <1 SHV - - - 9379 A H1 M 63 SHV - CTX-M14 - 9264 B1 C F 67 - TEM - 9338 A C F 29 - - 9307 B2 C F 51 SHV TEM CTX-M15 - 100 95 90 85 80 75 85.2% 9348 B2 C F 35 SHV - CTX-M15 - 9318 B2 H6 F 53 SHV - CTX-M15 - 9328 B2 H6 F 47 SHV - CTX-M15 - 85.7 % 9371 D H1 F 56 - TEM CTX-M15 - 9365 B2 H1 F 21 SHV - - CMY-2 9390 A C F 20 SHV - - CMY-2 84.8% 9308 B1 C F 39 - - - - 9309 D C F 41 SHV - - - 9319 D H1 F 60 SHV - CTX-M15 - 9267 B2 C F 61 SHV TEM - - 9247 B1 C F 73 - - - 9389 A C F 1 SHV TEM CTX-M14 - 83.8% 9269 B2 C F 26 SHV TEM CTX-M15 - 9276 B2 C F 59 SHV - 9323 B2 C F 60 - TEM - 9358 B2 C F 69 SHV - CTX-M15 - 9372 D C M 53 SHV - CTX-M15 - 9332 B1 C M 44 SHV - CTX-M15 - 9386 B1 H1 F 61 - TEM CTX-M14 - 9334 B1 C F 33 - - 9292 B1 C M 74 - TEM - 9246 A C F 23 - TEM CTX-M15 - 83.8% 9286 A H1 F 70 SHV - - 96.3% 9293 A H3 M 27 SHV - CTX-M15 - 9278 A H 3 M 21 SHV TEM CTX-M15 - 9241 A C SHV - CTX-M15 - 9252 A H1 M 63 - - - 9360 A H1 F 41 SHV - CTX-M15 - 9397 D C 74 M SHV TEM - Idade Grupo Filogen. B2 PFGE_16horas 70 65 60 55 PFGE_16horas Origem Sexo Cepa 9271 Dice (Opt:1.50%) (Tol 1.5%-1.5%) (H>0.0% S>0.0%) [0.0%-100.0%] M 83 -lactamases CTX-M15 - - CTX-M15 - CTX-M2 Figura 4.4 Dendrograma de E.coli uropatogênicas produtoras de lactamases H1, hospital Eugenio Espejo; H3, hospital Gonzalo Gonzáles; H6, hospital Militar; C, comunidade. 69 - CMY-2 CMY-2 - 5. DISCUSSÃO As ITUs se encontram entre as infecções bacterianas mais comuns na população, segundo NAJAR et al. (2009), ficam atrás apenas das infecções respiratórias e gastrointestinais, representando uma das causas principais de consulta médica nas unidades de saúde. Segundo WEICHHART et al. (2008) e FOSTER (2008), aproximadamente 150 milhões de casos de ITU ocorrem anualmente em todo o mundo e, só nos Estados Unidos, ocasionam gastos de mais de 6 milhões de dólares anuais. Isto faz entender o enorme impacto que têm as infecções do trato urinário em termos de morbidade e custo econômico. Quanto ao agente causador das infecções do trato urinário, ANDREU et al. 2005, NICOLLE et al. 2006 e ANDRADE et al. 2006 indicam que E. coli é o principal agente causador das infecções do trato urinário, causando 85 – 90% das ITUs comunitária e 50% das ITUs hospitalares.. O presente trabalho foi realizado com isolados de E. coli uropatogênica. No presente estudo, as amostras foram classificadas pela origem, observando-se que, das 156 amostras de E. coli uropatogênicas estudadas, 76,92% (120/156) foram de origem comunitária e 23,1% (36/156) de origem hospitalar. Isto reflete a grande numero de casos de ITU não complicadas que são comuns na comunidade, especialmente os casos de cistite como indica HOOTON et al. (2004) e POLETTO & REISS (2005). Quanto às amostras de origem hospitalar, estas foram provenientes de sete hospitais da cidade de Quito, sendo a maioria das amostras do Hospital Eugenio Espejo. Este hospital é de referência nacional no Equador, concentrando grande numero de pacientes. Os dados de cada paciente, obtidos dos registros de Laboratório de Microbiologia do Instituto de Higiene da cidade de Quito, não permitem conhecer o serviço de origem de cada amostra, dentro do hospital. Observando-se a distribuição dos casos de ITU por gênero e idadedos 156 isolados de E. coli estudadas, 87,8% (137/156) pertenciam a pacientes do sexo feminino, sendo apenas 12,2% (19/156) de pessoas do sexo masculino. Este fato pode ser explicado pela maior susceptibilidade das mulheres às infecções urinárias, concordando com os resultados reportados por KIFFER et al., 2007 e MAGLIANO et al., 2012. Quanto aos grupos etários, observamos predominaram as idades compreendidas entre 15 a 49 anos. Dentro deste grupo etário, o sexo feminino apresenta 50% (78/156) do total das ITU. Isto está de acordo com estudos realizados, os quais indicam que a infecção do trato urinário é uma doença comum na mulher jovem e sexualmente ativa, já que um dos mais importantes fatores de risco para o 70 desenvolvimento de ITU na mulher é a relação sexual (FOSTER R., 2008; VALDEVENITO J, 2008). Observa-se também que o grupo de mulheres acima dos 50 anos de idade também foi bem representado, o que poderia refletir a predisposição e os fatores de risco nesta faixa, como esvaziamento ineficaz da bexiga por prolapso uterino, má higiene por incontinência fecal e alterações hormonais da menopausa (NICOLLE, 2001). A maior frequência de ITU no sexo masculino ocorreu na faixa acima dos 50 anos, o que poderia estar relacionado com perda da funcionalidade do aparelho urinário e pode dever-se à hipertrofia da próstata e/ou instrumentação, como sinalam a maioria dos estudos, que indica aumento da incidência de ITU complicada em homens idosos e sujeitos à manipulação da via urinária, sondagem vesical e hipertrofia prostática (NICOLLE L, 2001). É importante mencionar que nosso estudo não pôde dispor de todos os dados dos pacientes, razão pela qual não se conhece a doença de base de cada um deles. Em relação ao tratamento das ITU, o primeiro antibiótico utilizado na era moderna foi a sulfanilamida, no ano de 1937, seguido pela nitrofurantoina no ano de 1953, que foi substituída posteriormente, antes dos anos 80s por trimetoprim/sulfametoxazol (SXT) e pelos antibióticos -lactâmicos,. O último grupo de antibióticos, as fluoroquinolonas, chegou no final da década de 1980(FOSTER, 2008). É importante salientar que o conhecimento do agente etiológico é de fundamental importância para a escolha adequada de antibióticos no tratamento das ITU, não devendo ser incluídos no tratamento os antimicrobianos que tenham taxas de resistência acima de 10 a 20% (WARRENT et al., 1999; VALDEVENITO, 2008). Em 1999 a Sociedade Americana de Infectologia (IDSA) recomendou o uso de trimetoprim/sulfametoxazol como antibiótico de primeira escolha para o tratamento de infecção urinária não complicada, com apenas três dias de tratamento (WARRENT et al., 1999). No caso de pielonefrite aguda pode se realizar o tratamento com lactâmicos e, nas infecções urinárias complicadas que requeiram hospitalização, o tratamento pode ser feito com fluoroquinolonas, aminoglicosídeos ou antibióticos lactâmicos de amplo espectro, segundo os resultados das provas de sensibilidade. Segundo HORCAJADA & FARIÑAS, 2005, os antibióticos lactâmicos, incluindo as cefalosporinas orais, são utilizados com frequência para o tratamento das infecções urinárias, especialmente em áreas com maior resistência às quinolonas, na gravidez e em pediatria. PATERSON & BOMONO em 2005, recomendaram o uso da combinação amoxicilina/ácido clavulânico como segunda alternativa para o tratamento de infecções do trato urinário 71 causadas por microorganismos produtores de betalactamases de amplo espectro. SANCHEZ. e colaboradores, no ano 2008, reportam que, na América Latina, 50% das infecções hospitalares são tratadas com antibióticos lactâmicos, especialmente cefalosporinas de terça geração e 70% das infecções extra-hospitalares (comunitárias) são tratados com cefalosporinas de primeira e segunda geração. Nosso estudo demostrou-se que a taxa de resistência ao SXT apresentada pela E. coli uropatogênica atinge 77,5% (121/156), ciprofloxacina 50,6% (79/156), gentamicina 22,4% (34/156). Para os antibióticos lactâmicos estas taxas foram: 7,7%(12/156) para cefepime; 19,2% (30/156) para cefotaxima; 12,8% (20/156) para ceftazidima; 14,7% (23/156) para aztreonam; 7,6% (12/156) para cefoxitina; 32,6% (51/156) para amoxicilina/ácido clavulânico; 87,8% (137/156) para ampicilina; 48,1% (75/156) para cefalotina; todas as amostras foram sensíveis para ertapenem. É preconizado que quando a prevalência de resistência a um medicamento for maior que 20%, este não deve ser utilizado como droga de primeira escolha para tratamento empírico de infecção urinária. Alguns dos medicamentos testados neste trabalho apresentam taxas de resistência acima de 20%, principalmente a droga SXT, que esta indicada como primeira escolha no tratamento de ITU. Isto indica que este fármaco já não deve ser utilizado no tratamento das infecções urinárias não complicadas, devendo procurar-se outros esquemas de tratamento com antibióticos que tenham menor porcentagem de resistência. Destaca-se assim a importância da realização do teste de susceptibilidade aos antimicrobianos para estirpes como E. coli, que são aptas a sobreviver em diferentes condições ambientais. A resistência aos antibióticos lactâmicos, ciprofloxacina, gentamicina e SXT, tem evoluído ao longo do tempo em vários lugares no mundo. Antes de 1990 a resistência a SXT era de 0,5% - 5% (HOOTON et al., 2004), GUPTA et al., 1999, nos Estados Unidos estudando 454 amostras de E. coli uropatogênicas coletadas entre 1989 – 1997 reportam aumento da freqüência de resistência de 7% - 18% para SXT, 29%-35% para ampicilina, 11%-7% para cefalotina, e ausência de resistência às fluoroquinolonas. Estudo realizado por KARLOWSKY et al., 2002 nos Estados Unidos, em 286.187 amostras coletadas de 1995 a 2001, de mulheres em tratamento ambulatorial, reportou aumento na resistência à SXT de 14,8% em 1995 para 16,1% em 2001; à ciprofloxacina de 0,7% em 1995 para 2,5% no 2001, e nos lactâmicos como a ampicilina de 36,% em 1995 para 37% em 2001. KAHLMETER. em 2003, no primeiro estudo internacional de vigilância da resistência aos antimicrobianos 72 usados no tratamento das ITU (Projeto ECO-SENS), abrangendo 17 países da Europa e o Canadá, com 4734 amostras, relatou resistência de E. coli à SXT de 4,9% - 21% na maioria dos países Europeus, exceto na Espanha em que a taxa foi de 25,7% e em Portugal, onde atingiu 26,7%. A resistência à ciprofloxacina variou entre 0% - 14%; à gentamicina de 0% 4,7%; à AMC de 0 – 9,3%; e à ampicilina entre 15,5 – 53,9%, considerando-se todos os países do estudo. JUNQUERA, et al., 2004 em um estudo espanhol de sensibilidade antibiótica realizado com 14.319 amostras de E. coli uropatogênicas coletadas entre 1994 a 2001, reportou sensibilidade a SXT de 67,9% em 1994 e 66,2% em 2001; gentamicina com sensibilidade de 94,6% em 1998 e 93% no 2001; AMC com 96% em 1998 e 96,9% em 2001; cefotaxima com 100% em 1994 e 98,5% em 2001; ceftazidima 99,6% em 1994 e 97,8% em 2001 e ampicilina de 42,30% em 1994 e 39,80% em 2001. SANCHES et al., 2008, em estudo realizado com amostras de E. coli coletadas da comunidade nos anos de 2002 a 2007 na Espanha, reportou aumento na resistência a SXT de 28,5% em 2002 a 32,4% em 2007; ciprofloxacina com 22,9% em 2002 a 32,5% no 2007; AMC 6,9% em 2002 a 20,6% em 2007 e ampicilina de 56% em 2002 a 62,6% em 2007. Estudos de resistência na América Latina, realizados por ANDRADE et al., 2007, como parte do SENTRY (estudo epidemiológico designado a monitorar o percentual de resistência entre os patógenos mais associados à infecções nosocomiais e da comunidade no Brasil e na América Latina), com 403 isolados de E. coli coletados em 5 países (Argentina, Chile, Brasil, México e Venezuela), reportou taxas de 40,4% de resistência a SXT; 21,6% para ciprofloxacina; 8,4% para gentamicina; 53,6% para ampicilina; 1,2% para AMC; 1,2% para cefoxitina; 1,5% para ceftazidima; 1% para cefepime; 1,7% para aztreonam. KIFFER et al., 2007, em 26693 amostras coletadas em São Paulo de 2000 – 2003 reporto resistência de 43,4% a ampicilina; 13,9% a cefalotina; 33,7% a SXT; 11,9% ciprofloxacina e 3,0% resistentes para gentamicina. Um estudo mais recente, de MOLINA-LOPEZ et al., 2011 no México, em 119 cepas de E. coli uropatogênicas coletadas entre 2004 e 2007, reporto 54,6% resistentes a SXT; 55,5% a ciprofloxacina; 23,9% a gentamicina; 83,7% ampicilina; 20,5 cefazolina; 19,6% AMC; 8,5% ceftazidima; 7,6 cefepime. MAGLIANO et al., 2012, na Itália, em 9344 amostras de E. coli uropatogênicas coletadas entre março de 2008 e dezembro de 2009, reporta 72,9% de susceptibilidade a SXT; 48% a ampicilina; 77,5% a AMC; e 84,3 para cefazolina; 76,8% para ciprofloxacina e 91,0% de susceptibilidade para gentamicina. O Equador não dispõe de muitas informações referentes ao perfil de resistência em E. coli uropatogênica. Estudo conduzido por SANTANA, no ano de 2008 em 33 uroculturas 73 positivas para E. coli obtidas de mulheres grávidas, reportou resistência antibiótica de 73% para ampicilina; 39% para AMC; 24% para amoxicilina; 15% para cefotaxima e 12% para SXT. Não é possível encontrar outras informações referentes a trabalhos de resistência antibiótica no Equador, devido possivelmente ao fato que não tenham sido publicados e estejam documentados apenas em cada instituição de saúde. Na co-resistência antibiótica é importante destacar os perfis, principalmente para lactâmicos/SXT (30,8% [48/156]), lactâmicos/SXT/CP (22,4% [35/156]) e lactâmicos/SXT/CN/CIP (14,7% [23/156]). Os resultados refletem a multirresistência antibiótica e as poucas opções terapêuticas para tratamento nestes pacientes; mas também indicam o uso irracional de antibióticos, seja por auto-medicação ou por prescripção médica. Quanto à distribuição da resistência pela origem das amostras (hospitalar e comunitária), os resultados obtidos indicam mais altos percentuais de resistência nas amostras de origem hospitalar, com diferenças estatisticamente significativas, especialmente para antibióticos como amoxicilina/ácido clavulânico, aztreonam, cefalotina, cefotaxima, ceftazidima e ciprofloxacina, aos quais há mais resistência nos hospitais, concordando com estudos realizados por PAZ et al e o grupo RESISNET no ano de 2001 no Brasil, JUNQUERA (2004) em Espanha e GOMEZ (2009) na Colômbia. Como observamos, os resultados deste trabalho demostram altos percentuais de resistência para lactâmicos, em especial para ampicilina, amoxicilina/ácido clavulânico, cefalotina (cefalosporina de primeira geração), trimetoprim/sulfametoxazol e ciprofloxacina. É recomendável testar outros grupos de antibióticos e conhecer o seu perfil de sensibilidade, de forma, a saber, qual antibiótico é mais apropriado para o tratamento. Uma possível explicação para esta grande taxa de resistência poderia ser que, no Equador, o Ministério de Saúde fornece medicamentos básicos a todas as unidades de saúde comunitárias e hospitalares de todo o país, entre os quais se encontra, destacadamente, SXT. além de outros antibióticos lactâmicos aos quais nosso trabalho identificou grande freqüência de resistência. Medicamentos como ampicilina, amoxicilina, amoxicilina/ácido clavulânico, cefalexina e SXT se encontram em todas as unidades médicas de saúde comunitária para serem usadas nos esquemas e protocolos de tratamento como AIEPI (atenção integrada das doenças evitáveis da infância) aprovados pelo Ministério de Saúde. Isto faz que este grupo importante de antibióticos sejam utilizados em pacientes de todas as idades para tratamento de várias doenças como infecções respiratórias, cutâneas, diarreicas e urinárias. Este uso empírico de 74 medicamentos pode ter levado ao aparecimento da grande freqüência de resistência em E. coli uropatogênica e outras espécies bacterianas. Em relação à detecção fenotípica de lactamases no presente estudo, das 156 cepas testadas 14,7% (23/156) foram fenotipicamente produtoras de betalactamases de amplo espectro (ESBL), 3,2% (5/156) de tipo AmpC e 4,5% (7/156) apresentaram co-resistência fenotípica para as duas lactamases. Atualmente, a resistência a antibióticos lactâmicos em E. coli é mais freqüênte, e na grande maioria é devida à produção de enzimas betalactamases, entre as que estão as ESBL, associadas à alta morbidade e mortalidade devido às reduzidas opções terapêuticas. No estudo de WINOKUR e colaboradores (2001), avaliouse a prevalência de ESBLs entre cepas da família Enterobacteriaceae oriundas de diversas regiões geográficas e, na espécie E. coli, o percentual de cepas produtoras de ESBLs foi de 8,5% na América Latina, 7,9% na Região Oeste do Pacífico, 5,3% na Europa, 3,3% nos Estados Unidos e 4,2% no Canadá. TURNER, 2005 reporto o porcentual de cepas de E. coli com perfil de ESBL em 7,5% na Norte América; 18,1% na América do Sul; 6,2% no Norte de Europa; 16,0% no Sul de Europa; 28,9% no Oeste de Europa e 14,2% na região Ásia-Pacífico. Em outro estudo multicêntrico de vigilância epidemiológica, REINERT, no ano de 2007, reporta dados de produção de ESBL em E. coli, com variações de 12,5% para a região da Ásia-Pacífico; 13,5% na América Latina; 2,2% na Norte América e 7,6% na Europa. Na América Latina, as ESBL são um problema de Saúde Pública muito sério e alarmante, razão pela qual vários estudos têm sido realizados: MARTINEZ et al., (2005) num estudo feito na Colômbia com amostras hospitalares reporta 10% de cepas de E. coli com perfil de ESBL. MORALES et al., (2005), em 137 amostras hospitalares de Peru, reportam 2,9% de cepas de E. coli produtoras de ESBL. MATTAR & MARTINEZ (2007), fazem uma revisão geral da produção de ESBL em países de América Latina e reportam que o Peru tem o maior percentual, com 63%, ao passo que a Argentina tem a menor taxa, com 5% e Brasil tem 12%. VILLEGAS et al, 2008, reportam para a América o Sul, uma produção maior de 30% de ESBL em enterobacterias, com 8,5% – 18,1% em E. coli . Num estudo multicêntrico na América Latina para Monitoramento de Resistência aos Antimicrobianos (SMART), com amostras de Venezuela, Brasil, Chile, Colômbia, República Dominicana, Guatemala, México, Panamá, Peru e Venezuela, reporta-se 26,8% de produção de ESBL em cepas de E. coli (VILEGAS et al., 2011). PAVON et al., (2011) em um estudo realizado no México com 29 amostras de E. coli hospitalares reporta 17,2% como produtoras de ESBL. 75 O Equador não dispõe de muitas informações quanto à produção fenotípica e genotípica de ESBL em E. coli, mas MATTAR & MARTINEZ (2007), em artigo de revisão, reportam que o país têm 27% de produção de ESBL tipo SHV5 e SHV-4 em cepas de E. coli. Um estudo feito no Equador por NORDBERG et al. em 2011 em 160 amostras de enterobactérias (E. coli e K. pneumoniae) provenientes de um hospital de terceiro nível da área de neonatologia, reporta 55% das amostras com resultado fenotípico positivo para ESBL, dos quais 80,3% correspondem a E. coli. Atualmente, o Equador não tem reportado outros dados de pesquisas de ESBL em E. coli. Isto reforça a importância deste estudo para aportar dados epidemiológicos e moleculares, que contribuam para futuras pesquisas a serem desenvolvidas no Equador. Conforme a revisão da literatura, nossos resultados apresentam porcentagens quase similares às reportadas em estudos de outros países da América Latina, especialmente da Colômbia e do Peru, que são países vizinhos, com populações semelhantes e com migrações permanentes entre eles. Quanto à produção fenotípica de lactamases tipo AmpC, que conferem resistência às cefalosporinas de primeira esegunda gerações (incluídas às cefamicinas) e em menor medida às de terceira geração, também têm sido realizados vários trabalhos. DING H. et al., em estudo feito entre 2005 e 2006 em um hospital de crianças na China, reporta 2,0% de produção de AmpC em cepas de E coli. SINGTOHIN et al., 2010, na Tailândia, reporta freqüência de produção de 2,5% de AmpC em E. coli, com maior produção do tipo CMY-2. Jacoby apresenta uma revisão detalhada das pesquisas realizadas sobre a produção de lactamase tipo AmpC no mundo (JACOBY, 2009). A enzima AmpC lactamase tem sido classificada de acordo com diferenças na sequência de aminoácidos, em varias famílias, das quais CMY-2 é a mais comum no mundo e pode ser encontrada entre pessoas e animais (HAWKEY & JONES, 2009; MAMMERI et al., 2010). É importante ressaltar a associação entre AmpC e perda de porinas no mesmo microorganismo, já que esta leva ao aparecimento de resistência aos antibióticos carbapenêmicos. Estudos feitos no Brasil por PAVES et al., em 2008, e MAMMERI et al., 2010, reportam esta associação. Na América Latina, JURÉ et al., 2011 reporta na Argentina a presença de CMY-2 em cepas de E. coli. Quanto à distribuição fenotípica das -lactamases pela origem das amostras temos que 36,1% (13/36) são de origem hospitalar e 18,6% (22/120) são de origem comunitária, com uma diferença estatisticamente significativa (p = 0.0249). Estes resultados mostram que as 76 cepas de E. coli uropatogênicas hospitalares têm porcentagens de resistência maiores em relação às cepas comunitárias, o que concorda com estudos feitos por MARTINEZ et al., (2005), na Colômbia, MORALES et al. 2005 no Peru e NORDBERG, et al. (2011) no Equador, que reportam maior produção de -lactamases de tipo ESBL em cepas de E. coli hospitalares. Os genes determinantes de resistência também estão presentes em amostras originárias da comunidade. Isto demonstra que genes de resistência antibiótica estão espalhados no meio ambiente, onde as bactérias estão intercambiando material genético entre si. CHAGAS et al. (2011) no Rio de Janeiro, reportam produção de ESBL em cepas de E. coli recuperadas de esgotos hospitalares, mostrando a ligação existente entre a comunidade e os hospitais, facilitando desta forma a transmissão de cepas multirresistentes clinicamente importantes entre estes dois ambientes. Observou-se também que, nas amostras produtoras de ESBL e AmpC, os níveis de resistência aos antibióticos -lactâmicos testados foram altos, especialmente para a cefotaxima 100% (30/30); ampicilina 100% (30/30); amoxicilina/ácido clavulânico 83% (25/30); cefalotina 83% (25/30); para SXT foi de 90% (27/30), e para ciprofloxacina foi de 97% (27/30). Estes resultados têm similaridade com aqueles obtidos em outros estudos publicados e indicam que não devem-se usar antibióticos -lactâmicos em cepas produtoras de ESBL. As opções de tratamento para estas cepas produtoras de ESBL são os antibióticos carbapenêmicos, fosfomicina ou tigeciclina (CASELLAS, 2011). Em relação à CMI, foram feitos ensaios em todas as amostras com perfil de resistência fenotípica para cefotaxima e ceftazidima (cefalosporinas de amplo espectro). Os resultados para cefotaxima estão em 100% (30/30) dos casos em variações entre 1,5 ug/mL e >256 ug/mL, mostrando sensibilidade intermediária e resistência. Para ceftazidima 90% (18/20) das amostras têm variações entre 6 ug/mL e > 250 ug/mL tendo os mesmo critérios da classificação. Estes resultados confirmam a resistência fenotípica encontrada e a produção de lactamase em cepas de E. coli uropatogênicas trazidas de Equador, especialmente com cepas produtoras de cefotaximasas (CTX-M). Em 2/30 (10%) das amostras temos CMI <4 ug/mL para ceftazidima, o que confere uma aparente sensibilidade a este antibiótico, entretanto, estas amostras tinham CMI maior a 256 ug/mL para cefotaxima, com produção genotípica de CTX-M, o que confirma que, contra as cepas produtoras de ESBL, não devemse usar antibióticos -lactâmicos nos tratamentos. 77 Quanto aos resultados de detecção dos determinantes genotípicos de produção de lactamase 68,6% (24/35) foram positivos para blaSHV; 60% (21/35) para blaCTX-M, 37,1% (13/35) para blaTEM e 11,4% (4/35) foram positivas para blaAmpC. Na distribuição pela origem das amostras observamos que as provenientes do meio hospitalar apresentam maior porcentagem de determinantes de resistência com 69,4% (25/36) em relação às de origem comunitária, que apresentam 30,6% (37/120) com diferença estatisticamente significativa (p = 0.000033) na presença de genes de resistência. Pelos resultados obtidos em nosso estudo, observamos que a as variantes SHV e CTX-M são mais frequentes, o que concorda com os relatos realizados por MATTAR & MARTINEZ 2007 e VILLEGAS et al., 2008, os quais indicam que as ESBL mais comumente achadas na América Sul são de tipo SHV e CTX-M. Como observamos, temos a presença de determinantes genéticos de resistência disseminados nas amostras de ambos os ambientes (hospitalar e comunitário), concordando com o estudo realizado por PARK et al., 2012, na Coréia do Sul com 139 amostras de E. coli comunitárias e hospitalares, reportando a presença de ESBL em ambos os ambientes. Pela importância mundial atual, foram purificados e sequenciados as amostras positivas para CTX-M, CTX-M-15 e AmpC, obtendo-se 80,9% (17/21) para a variante CTX-M-15; 14,3% (3/21) para a variante CTX-M-14; 4,8% (1/21) para a variante CTX-M-2. O resultado de sequenciamento para o gene AmpC resultou em 100% (4/4) para variante CMY-2. Os resultados indicam a predominância da variante CTX-M15 e de CMY-2 (AmpC), concordando com atuais estudos epidemiológicos e de resistência realizados, os quais reportam predominância da variante CTX-M-15 em cepas de E. coli uropatogênica relacionada com o clone ST131 do grupo filogenêtico B2, sorotipo O25:H4, que atualmente esta se espalhando por todo o mundo (PEIRANO & PITOUT 2010; ROGERS et al., 2011; PITOUT J, 2012). A predominância da lactamase CMY-2 (AmpC) é igualmente a mais comum no mundo (JACOBY, 2009; PITOUT J, 2012). As enzimas CTX-M têm sido classificadas em seis grupos: CTX-M-1; CTX-M-2; CTX-M-8; CTX-M-9; CTX-M-25; CTXM-45 (BONNET R, 2004; ROSSOLIN et al., 2008; SENNATI et al, 2012). No Equador, segundo os resultados achados neste trabalho, temos a predominância do grupo 1 (CTX-M-15 pertence a este grupo). Atualmente existem 133 variantes da enzima CTX-M e 95 variantes da enzima CMY (http://www.lahey.org/Studies/other.asp#table1). Com relação à produção concomitante das ESBL num mesmo microorganismo, foi identificada presença dos genes de resistência blaCTX-M, e blaSHV em 34,3% (12/35) das 78 amostras. A produção concomitante destas enzimas aumenta o perfil de resistência às cefalosporinas de amplo espectro, como cefotaxima-ceftriaxona (CTX-M) e cefotaximaceftazidima (SHV) (CASELLAS J, 2011). Em 11,4% (4/35) das amostras estudadas observamos a coprodução dos três determinantes genéticos de resistência (blaTEM, blaSHV, blaCTX-M). Da mesma forma, observamos concomitância entre AmpC e ESBL (blaAMPC, blaSHV, e blaAMPC, blaTEM), o que amplia o espectro de resistência dos microorganismos às cefamicinas e inibidores das lactamases, deixando limitada as opçõesde antibióticos para o tratamento das infecções causadas pelos microorganismos que contêm estes determinantes de resistência juntos. Uma opção de tratamento para estes casos seriam os antibióticos carbapenêmicos, embora já tenha sido documentado que, em associação com outros mecanismos de resistência, como perda de porinas, estes patógenos podem também tornar-se resistentes a este grupos de antibióticos (PAVES et al., 2008; MAMMERI et al., 2010). Também observamos que 8,6% (3/35) das amostras foram negativas para os determinantes de resistência pesquisados (não ESL/AmpC), isto demonstra que outros mecanismos de resistência como alteração ou perda de porinas, mutações das PBP ou das bombas de efluxo,poderiam estar envolvidos nestas três cepas com resistência aos lactâmicos. Em relação à classificação filogenêtica de E. coli, temos que 34,3% (12/35) pertencem ao grupo filogenêtico B2; 31,4% (11/35) pertencem ao grupo A; 20,0% (7/35) são do grupo B1 e 14,3% (5/35) pertencem ao grupo filogenêtico D. Observamos a predominância do grupos filogenêticos B2 que têm relação com maior expressão de determinantes de virulência e de resistência e são comumente achados. Tradicionalmente os grupos filogenêticos B2 e D são chamados de “patogênicos” e os grupos A e B1 são comensais sem potencial patogênico (SANTOS et al., 2009). Em nossos resultados os quatro grupos filogenéticos produzem lactamases de tipos ESBL e AmpC, predominantemente nos grupos B2 e A. Cepas pertencentes ao grupo filogenêtico A estão produzindo CTX-M15 em 35,3% (6/21), e o grupo B2 com 41,2% (7/21). Este resultado é importante, já que as cepas de E. coli pertencentes ao grupo A são conhecidas como cepas comensais “não patogênicas”, mas neste caso, estão produzindo enzimas lactamases. Isto indica a facilidade de disseminação da resistência entre as bactérias, fazendo que cepas aparentemente “sem potencial patogênico” estejam agora produzindo enzimas que vão hidrolisar antibióticos lactâmicos de amplo espectro. Estudos atuais na América do Sul respaldam nossos resultados. PEIRANO et al., 2011, no Rio de Janeiro, Brasil, em 25 amostras de E coli, reportam a predominância do grupo filogenêtico A com 52%, junto com a produção da 79 enzima CTX-M-15, SENNATI et al, (2012) na Argentina, reportam cepas de E. coli do grupo A produzindo CTX-M-15. Na correlação entre presença de determinantes de resistência e grupos filogenéticos, temos que os genes blaCTX-M, blaSHV estão nos grupos filogenéticos A (36,4% [4/11) e B2 (41,7[5/12]) principalmente. De igual forma, os quatro grupos filogenéticos estão espalhados no ambiente comunitário e hospitalar, com predomino do grupo A na área hospitalar com 46,2% (6/13), e do grupo B2 na comunidade com 40,9% (9/22). Um dado importante é a coprodução de ESBL e AmpC (blaAmpC, blaSHV) no grupo filogenêtico A (18,2%), isto aumenta o espectro de resistência para mais antibióticos como as cefamicinas e as combinações de antibiótico com inibidores de lactamases, confirmando também o aparecimento de resistência em grupos filogenéticos comensais. slactamases, especialmente de tipo ESBL, são um problema se Saúde Pública mundial com maior impacto nas ultimas dois décadas. Desde o primeiro informe de aparecimento na década de 1980, as ESBL foram evoluindo, tornando-se mais resistentes aos antibióticos usados comumente, deixando um limitado numero de antibióticos para a erradicação dos microorganismos que contêm estes determinantes de resistência. A prevalência e a produção de ESBL mudam geograficamente segundo os reportes achados, e em América Latina os estudos mostram uma elevada prevalência, isto tem muitas causas, entre as que podemos citar: i) Condições socioeconômicas deficientes; ii) administração, uso indiscriminado e sim controle de antibióticos de amplo espectro, nos hospitais e na consulta privada; iii) identificação limitada de bactérias produtoras de ESBL nos laboratórios de microbiologia devido às limitações econômicas, iv) falta de politicas estatais que impedem a venta libre dos antimicrobianos como acontece na maioria de países da América do Sul. O método de PFGE foi realizado em 35 amostras com produção fenotípica de ESBL, demonstrando considerável grau de diversidade dentro de E. coli uropatogênica. No entanto no analises de agrupamento dos perfis gerados pela PFGE demostra relação de clones entre cepas do mesmo grupo filogenêtico e das mesmas origens, já que estão formando agrupamentos clonais muito próximos entre elas. As cepas produtora de lactamases tipo CTX-M-15 principalmente, estão agrupadas de acordo com o grupo filogenêtico em sua maioria. 80 6. CONCLUSÕES Os perfis de resistência para trimetoprim/sulfametoxazol, ciprofloxacina e alguns dos antibióticos lactâmicos testados como penicilina, cefalotina e a associação de amoxicilina/ácido clavulânico, estão acima dos 20% que é a porcentagem permitida para o uso de qualquer antibiótico no tratamento das ITU. Visto estas porcentagens, os medicamentos de primeira escolha para o tratamento empírico das ITU deverá ser alvo de correção, procurando antibióticos com taxas de resistências menores. A resistência fenotípica e a detecção de genes de resistência foram maiores nas amostras de origem hospitalar, com significância estatística. As enzimas ESBL caracterizadas (CTX-M, TEM, SHV) estão presentes em amostras de ambientes hospitalares e comunitários, mostrando a fácil disseminação dos determinantes de resistência nas bactérias. Dentro das cepas produtoras de lactamases foram encontrados os genes blaTEM, blaSHV, blaCTX-M e blaAMPC, com predominância de blaSHV e blaCTX-M. No grupo das lactamases CTX-M, foram encontrados alto porcentagem das variante CTX-M-15 com 80,9%, seguido de CTX-M-14 com 14,3% e CTX-M2 com 4,8%. Foi detectado a variante CMY-2 em 100% das amostras positivas para lactamase tipo AmpC. Os grupos filogenéticos mais prevalentes foram os grupo B2 e A, seguido por B1 e D. Todos estes grupos foram produtores de lactamases, especialmente o grupo A considerado de não patogênico, produz 35% do total das enzimas CTX-M-15. Os resultados da análise do DNA genômico mostraram um grande polimorfismo de E. coli uropatogênica. 81 7. PESPECTIVAS FUTURAS. Continuação da monitorização dos perfis de resistência em cepas de E. coli uropatogênicas. Procurar novas alternativas de tratamento nas infecções do trato urinário, especialmente com o grupo de antibióticos das fluoroquinolonas e aminoglicosídeos, os quais são comumente utilizados para o tratamento das ITU no Equador, procurar os determinantes de resistência para este grupo de antibióticos. Fazer estudos de genotipagem com outras técnicas moleculares, nas cepas de E. coli uropatogênicas de Equador, para ter conhecimento da epidemiologia molecular em relação aos clones reportados em outros países. Continuar neste campo de pesquisa relacionado com a resistência antibiótica nas bactérias; procurando novos agentes causadores de doenças que são de inteires na saúde pública no Equador; aplicando os procedimentos moleculares aprendidos durante a elaboração deste Projeto. . 82 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Este é um dos primeiros trabalhos de caracterização molecular de E. coli uropatogênica realizados em amostras originarias de Equador, com um enfoque clinico e de resistência antibiótica As informações geradas neste trabalho, trazem novos conhecimentos sobre a ocorrência de ESBL e AmpC em Equador, o qual ainda não são estudados completamente, e onde pode-se observar resistência antibiótica dos microorganismos nos ambientes hospitalares e comunitários. Os resultados mostram a importância e a emergência da difusão de bactérias resistentes produtoras de lactamases, especialmente as ESBL e AmpC, as quais conferem altas taxas de resistência contra a maioria dos antibióticos lactâmicos de amplo espectro. Atualmente, a resistência antibiótica é um tema de importância na área da saúde pública, o qual tem relação com o uso incorreto dos antimicrobianos na prática clínica, levando ao consequente aumento do número de bactérias multirresistentes, especialmente nos hospitais do serviço público. A isto se suma a falta de estudos de sensibilidade antibiótica local, desconhecendo o perfil de resistência das bactérias, o que leva a tomar decisões erradas no momento de escolher o medicamento apropriado para início de tratamentos empíricos de várias doenças, não só em casos de infecções urinárias. Levando também a manter esquemas de tratamento que deveriam ser reconsiderados e elaborar novos esquemas terapêuticos na área da resistência em geral Na atualidade Equador não conta com informação relacionada à resistência antibiótica molecular, desconhecendo as causas genéticas que levam aos fracassos de tratamentos clínicos de muitas doenças nos hospitais e na comunidade. O conhecimento genético da resistência bacteriana vai ajudar a ter um melhor controle e vigilância epidemiológica, já que ajudam a entender as formas de dispersão dos determinantes de resistência, os quais são genes causadores e o perfil molecular de resistência de cada um de esses genes. A pesquisa desenvolvida contribui para difusão dos conhecimentos na área de resistência molecular, e deixa abertas novas interrogantes em relação à resistência no Equador, para que serem feitos novos estudos com novas agentes causadores de outras doenças. Igualmente a informação gerada neste trabalho fica como uma fonte de ajuda para os futuros estudos a realizar-se neste campo da pesquisa. 83 Considerando os objetivos propostos e os resultados obtidos é possível concluir que os mesmos foram atingidos neste trabalho. E que todos os procedimentos e técnicas moleculares aprendidas poderão ser aplicados no Equador para realização de futuras pesquisas na área de resistência molecular. 84 REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ BL. Urinary tract infections in the Hospital Universidad del Norte. Salud Uninorte - Colombia, 2007; Vol. 23, No 1., p. 9 -18. ANDRADE SS, SADER HS, JONES RN, PEREIRA AS, PIGNATARIA CC, GALES AC. Increased resistance to first-line agents among bacterial pathogens isolated from urinary tract infections in Latin America: time for local guidelines. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, November, 2006; Vol. 101(7): 741-748. ANDREU A, ALÓS JI, GOBERNADO M, MARCO F, DE LA ROSA ME, GARCÍARODRÍGUEZ JA. 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