1 EFEITO DO LODO DE ESGOTO COMO RECUPERADOR DE ÁREAS DEGRADADAS COM FINALIDADE AGRÍCOLA CASTRO, L. A. R. de; ANDREOLI, C.V.; PEGORINI, E. S.; TAMANINI, C. R. FERREIRA, A. C. Efeitos do lodo de esgoto como recuperados de áreas degradadas com finalidade agrícola. V SIMPOSIO NACIONAL SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS. Anais... jun., 2002. 1 2 Luiz Antônio Ramos de Castro, Engº Agrônomo. Cleverson V. Andreoli, Engº Agrônomo, Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), professor da UFPR, coordenador Técnico do Programa de Reciclagem Agrícola do Lodo de Esgoto, da SANEPAR. 3 Eduardo S. Pegorini, Engº Agrônomo, MSc. em Agronomia, Pesquisador bolsista da Sanepar. 4 Cristina R. Tamanini, Engª Agrônoma, Pesquisadora bolsista da Sanepar. 5 Andreia C. Ferreira, Engª Agrônoma, MSc. em Agronomia, Pesquisadora bolsista da Sanepar. Instituição: 1,2,3,4,5 Companhia de Saneamento do Paraná / GECIP Curitiba/PR Summary: The use of biosolids as agent of backup of degraded areas is a promising alternative under economic and ambient. The present work compared the effect of three levels of fertilization (sewage sludge with mineral complementation, mineral fertilization and witness) in the backup of areas with two levels of degradation soil simulation (removed of 15 and 30 cm of the soil), plus a witness. In the parcels destined to the biosolid one 40 had been used t/ha of dry silt silenced 30%. The experiment was lead to the field in the Experimental Farm of the Cangüiri - UFPR, city of Pinhais, on one inceptsol of argillaceous texture. The used delineation was entirely to perhaps involving nine referring handlings to the interaction between two factors (fertilization and degradation of the ground), with three replications. The chemical and physical features of the ground at three moments had been evaluated: in the characterization of the local ground, after the harvest of oats and after the harvest of the maize. The texts of Ca+Mg, K, V% and CTC in the parcels that had received silt had had its values magnified in 11.7%, 28,0%, 8,3% and 6,0%, respectively, when compared with the values of the witness in the end of the culture of the maize. It had significant increment in carbon texts in function of the application of biosolids. It was verified that the organic substance presented minors levels in the handlings with simulation of loss of 15 and 30 cm soil and that has a natural trend of reduction in these levels with transcorrer of the time. The production of dry substance was still evaluated, where the biggest productions had been verified in the handlings with biosolids (4.262 and 3.757 kg M.S./ha for 0 and 256 kg M.S./ha in the witness of fertilization and 2.392 and 1.250 kg SANEPAR/GECIP Rua Engº Rebouças, nº 1376, Rebouças, Curitiba/PR 80215-900 Telefone: (41) 330 3238, e-mail: [email protected] 2 M.S./ha in the mineral fertilization, respectively for oats and maize), having been little influenced for the different levels of degradation of the ground, evidencing the great capacity of the silt as backup agent. SANEPAR/GECIP Rua Engº Rebouças, nº 1376, Rebouças, Curitiba/PR 80215-900 Telefone: (41) 330 3238, e-mail: [email protected] 3 Introdução O uso agrícola do lodo de esgoto como adubo orgânico é considerado hoje como a alternativa mais promissora de disposição final deste resíduo, devido a sua sustentabilidade (ROCHA, 1998) e seu efeito pode ser potencializado, aliando-se utilização agrícola e recuperação de áreas degradadas. Devido às suas propriedades físico-químicas, o lodo de esgoto pode ser utilizado em áreas degradadas a fim de recuperar as características necessárias para o desenvolvimento da vegetação. Nos EUA, sua aplicação nessas áreas chega a atingir dosagens de até 495 t/ha (EPA, 1995). OLIVEIRA et al. (1993) verificaram que o aumento das doses de lodo de esgoto no solo promoveu uma absorção significativa de N, P, Ca e Mg em plantas de sorgo granífero. Entretanto, WISNIEWSKI et al. (1996), estudando a viabilidade do uso do lodo de esgoto na recuperação de áreas degradadas pela mineração de calcário, relataram que o lodo parece ser mais indicado para melhorar as condições físicas do solo do que para o fornecimento de nutrientes às plantas. ANDREOLI (1999) realizando experimentos a campo com aveia e milho em diferentes dosagens de lodo (6, 12 e 18 t/ha) verificou que a produtividade de milho e aveia não apresentaram diferenças estatísticas, porém, observou um aumento significativo nos teores de Ca, Mg, P e C proporcionais às dosagens utilizadas de lodo com redução da disponibilidade de N no solo em conseqüência do acúmulo do elemento em folhas e grãos. Os objetivos deste trabalho consistem em avaliar o uso agrícola do lodo como recuperador de áreas degradadas, comparando o comportamento dos nutrientes em função da aplicação do lodo e a sua relação com a produção de matéria seca em diferentes níveis de degradação do solo, utilizando as culturas de aveia e milho como indicadores com avaliação dos efeitos do lodo calado sobre o solo. Material e Métodos O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental do Cangüiri - UFPR, Município de Pinhais - PR, em convênio com a SANEPAR. O solo da área experimental, classificado como cambissolo álico de textura argilosa, apresenta uma topografia sem ondulações, com pequena declividade, sendo bem drenado. As culturas utilizadas foram milho e aveia. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado envolvendo nove tratamentos referentes a dois fatores analisados: adubação e degradação do solo, vindo a constituir um experimento fatorial. O fator adubação (A) bem como o fator degradação do solo (D) são compostos por três níveis: Adubação: A1 = testemunha (sem adubação); A2 = adubação mineral; A3 = adubação orgânica com lodo de esgoto + complementação mineral; Degradação: D1 = testemunha (solo sem retirada da camada superficial); D2 = retirada de 15 cm do perfil do solo; D3 = retirada de 30 cm do perfil do solo. O experimento ficou constituído por três repetições, totalizando 27 unidades experimentais com área de 12 m2 (4x3 m), consistindo nas coletas em cada etapa do experimento. Foram aplicados os 4 testes de análise de variância (Tukey) com níveis de probabilidade de 5% de significância e a análise química do solo e do lodo foi realizada segundo metodologia descrita por PAVAN et al. (1991). Resultados e Discussões De acordo com a interação dos fatores adubação x degradação, no tratamento sem adubação (A1) verifica-se que as condições no horizonte subsuperficial (15 cm) refletem uma melhor fertilidade do solo. Isso pode ser justificado por uma possível podzolização local (cambissolo), tendo ocorrido, portanto, carreação de nutrientes da superfície para o horizonte sub-superficial. Os teores de cálcio e magnésio apresentaram incremento, apresentando valores estatisticamente significativos após a cultura da aveia (para D1-0, D2-15cm e D3-30cm valores de 4,10, 10,93 e 10,10 cmolc.dm-³, respectivamente), porém, nas parcelas não degradadas, foram inferiores às parcelas com retirada de 15 e 30 cm da camada superior do solo, explicado em parte pela lixiviação desses nutrientes para camadas mais profundas, visto que a estrutura física das parcelas degradadas estavam mais compactas, dificultando a infiltração de água. Os aumentos verificados nos teores de K do pós-aveia (para D1-0, D2-15cm e D3-30cm valores de 0,13, 0,11 e 0,14 cmolc.dm-³, respectivamente) até o pós-milho (para D1-0, D2-15cm e D330cm valores de 0,32, 0,22 e 0,21 cmolc.dm-³, respectivamente) podem ser explicados pela mineralização da matéria orgânica. Os teores de fósforo na adubação mineral atingiram valores altos para a cultura da aveia (D1-0, D2-15cm e D3-30cm valores de 7,0, 7,33 e 6,67, respectivamente), passando a valores médios na cultura do milho (D1-0, D215cm e D3-30cm valores de 7,33, 3,67 e 4,67, respectivamente). A explicação para essa redução pode ser dada em parte pela complexação desse elemento com cálcio e alumínio do solo. Apenas o teor de fósforo na testemunha do fator degradação se manteve alto, provavelmente reflexo do maior estímulo da atividade microbiana – provocando a solubilização das formas não disponíveis de fósforo – em virtude do maior teor de carbono. Os teores de carbono sofreram acréscimos significativos (para D1-0, D2-15cm e D3-30cm com valores de 36, 20, 31,60 e 22,70 g/dm³, respectivamente para pós-aveia e para pós-milho, D1-0, D2-15cm e D3-30cm, 37,83, 27,70 e 22,40, respectivamente), em função de uma atividade biológica mais intensa que propiciou a incorporação da biomassa microbiana. Verificou-se a maior produção de matéria seca de aveia (3.019 Kg/ha) no fator degradação em que se havia retirado 15 cm do perfil do solo. Isto é condizente com a melhor fertilidade observada nessas parcelas. Entretanto, a maior produção de matéria seca do milho (1.775 Kg/ha) foi obtida na testemunha desse fator, ocasionado pelo maior teor de fósforo observado no solo. Já no tratamento adubação com lodo, verifica-se que os teores de fósforo sofreram redução, isto pode ser explicado pela complexação desse elemento principalmente com o ferro e alumínio do solo, e ainda em menor quantidade com o cálcio. A falta de produção de matéria seca de aveia na testemunha do fator adubação ficou prejudicada pelo pH do solo e pelos reduzidos teores de 5 nutrientes, principalmente o fósforo. No milho, a produção de matéria seca não ultrapassou os 442 Kg/ha, em virtude das mesmas limitações observadas na cultura da aveia. Em relação ao Carbono, verifica-se que os teores atingiram seus maiores valores no pós-aveia (para D1-0, D2-15cm e D330cm, valores de 36,57, 35,07 e 27,0 g.dm-³, respectivamente), diferindo estatisticamente dos demais tratamentos inclusive após a colheita do milho, sendo condizentes com a taxa de lodo aplicada, visto que o lodo é rico em matéria orgânica. A maior produção de matéria seca nesses tratamentos está relacionada à maior disponibilidade de fósforo para as plantas e estímulo da atividade biológica do solo pelos elevados teores de matéria orgânica. Conclusões Os resultados obtidos permitem concluir que a produção de matéria seca de aveia e de milho foram superiores nos tratamentos em que foi aplicado lodo de esgoto, tendo sido pouco influenciados pelos diferentes níveis de degradação do solo; os tratamentos com lodo de esgoto apresentaram pequenas variações em relação ao pH, tendo estas variações sido influenciadas pela interação dos fatores adubação e degradação; houve um aumento significativo dos teores de cálcio e magnésio em função da utilização do lodo calado e, como conseqüência desse aumento verificaramse diferenças no valores T e V%, tendo sido significativa no último; os teores de fósforo foram estatisticamente superiores nos tratamentos com lodo de esgoto. Verificou-se também tendência de acúmulo de fósforo nas parcelas que tiveram maior perda de solo; houve incremento significativo nos teores de carbono em função do uso do lodo de esgoto com adubo orgânico. A matéria orgânica diminuiu com o aumento da degradação do solo. Referências bibliográficas • • • • • ANDREOLI, C. V. Uso e manejo do lodo de esgoto na agricultura e sua influência em características ambientais no agrossistema. Curitiba, 1999. Dissertação (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná. ESTADOS UNIDOS. Environmental Protection Agency. Process design manual: land application of sewage sludge and domestic septage. Washington, 1995. 290p. OLIVEIRA, F.C.; MARQUES M.O.; BELLINGIERI, P.A. Efeito da aplicação de lodo de esgoto em latossolo vermelho-escuro textura média e em sorgo granífero. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO (24.: 1993: Goiânia). Anais... Goiânia: SBCS, 1993. 249-250. ROCHA, T. R. Utilização de lodo de esgoto na agricultura: um estudo de caso para as bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Piracicaba, 1998. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de São Paulo. WISNIEWSKI, C.; NETO, J.A.M.; PEREIRA, A.M.; RADOMSKI, M.I.; SESSEGOLO, G.C. Uso de lodo de esgoto da ETE - Belém na recuperação de áreas degradadas por mineração de calcário. SANARE, Revista Técnica da SANEPAR, 5: 76-85, 1996.